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DA REINVENÇÃO À REPRODUÇÃO DO ATIVISMO CÍVICO: OS MOVIMENTOS SOCIAIS ANTIAUSTERIDADE EM PORTUGAL NO FACEBOOK

FROM REINVENTION TO REPRODUCTION OF CIVIC ACTIVISM: PORTUGAL’S ANTI-AUSTERITY SOCIAL MOVEMENTS ON FACEBOOK

Resumo

Esta presente pesquisa tem como objetivo o estudo de como o Facebook foi apropriado entre os movimentos sociais antiausteridade em Portugal ao longo da Grande Recessão, num contexto marcado pela emergência das redes sociais digitais. Desta forma, podemos contribuir para o vasto debate em torno do papel das redes sociais digitais na participação política e cívica. Para a prossecução deste objetivo, realizamos uma análise do conteúdo de páginas do Facebook de oito movimentos sociais que se destacaram neste período e entrevistas semiestruturadas com ativistas destes. A principal descoberta feita pelo estudo consiste numa considerável desigualdade de recursos mobilizados nas práticas cívicas no Facebook entre ativistas e cidadãos utilizadores. Isso nos permite perceber que existem fatores que estão a montante, como a condição socioeconômica, educacional e até sofisticação política que impactam na apropriação das ferramentas digitais como o Facebook.

Palavras-chave:
Movimentos Sociais; Facebook; Participação Cívica; Conflito Social; Desigualdades Sociais

Abstract

This research aims to study how Facebook was appropriated among anti-austerity social movements in Portugal during the Great Recession, in a context marked by the emergence of digital social networks. In this way, we can contribute to the vast debate around the role of digital social networks in political and civic participation. To pursue this objective, we carried out content analysis on the Facebook pages of eight social movements that stood out in these period and semi-structured interviews with activists from these. The main finding consists in a considerable inequality of resources mobilised in civic practices on Facebook between activists and citizen users. This allows us to see that there are upstream factors such as socio-economic status, education and even political sophistication that impact on the appropriation of digital tools such as Facebook.

Keywords:
Social Movements; Facebook; Civic Participation; Social Conflict; Anti-Austerity

Introdução

O início da década de 2010 foi marcado pelos ecos da crise financeira iniciada em 2008 nos Estados Unidos da América, mas também pela intensa disseminação das redes sociais digitais como o Facebook. Após um complexo processo político1 1 O processo político que desencadeou o pedido de resgate teve o seu epicentro no chumbo, na Assembleia da República, do quarto Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC-4), apresentado pelo governo liderado por José Sócrates, levando à demissão deste e à marcação de novas eleições. Nestas, saiu vencedora a coligação pós-eleitoral entre o Partido Social-Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP), liderados, respetivamente, por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. , foi solicitada ajuda externa2 2 A opção pelo termo “troika” em detrimento de “troica” justifica-se sobretudo pelo fato de ter sido esta a opção nas mais diversas instâncias, nomeadamente no espaço mediático, pelos meios de comunicação, mas também pelos próprios movimentos sociais. Este termo designa o organismo informal que emergiu do BCE (Banco Central Europeu), Comissão Europeia e FMI (Fundo Monetário Internacional) e que era o principal interlocutor com o Governo português. . De um ponto de vista político e cívico, assumiu-se esse como um período de inaudita mobilização, sem paralelo em Portugal (Accornero, 2015ACCORNERO, Guya; PINTO, Pedro Ramos. 2015. “Brandos costumes?”: protesto e mobilização em Portugal sob a austeridade, 2010-2013. Estudos Ibero-Americanos, v. 41, n. 2, pp. 393-421.; Accornero e Pinto, 2015ACCORNERO, Guya. 2015. “Mild mannered”? Protest and mobilisation in Portugal under austerity, 2010-2013. West European Politics, v. 38, n. 3, pp. 491-515.), como é ilustrado na manifestação de 15 setembro 20123 3 Sobre a cobertura noticiosa deste conjunto de manifestações, ver: https://bit.ly/3KNWpmq. Acesso em: 11 abr. 2023. . Na linha de movimentos internacionais, como Os Indignados (Espanha) e os Occupy, nos EUA (Chomsky, 2013CHOMSKY, Noam. 2013. Occupy. Lisboa: Antigona.; García, 2017GARCÍA, Rubén Díez. 2017. The “Indignados” in space and time: transnational networks and historical roots. Global Society, v. 31, n. 1, pp. 43-64.), também em Portugal, primeiro com Geração à Rasca, depois, por um diverso conjunto de movimentos, como o Que se Lixe a Troika, viveu-se um forte período de conflito social. A mobilização cívica contestava sobretudo as sucessivas medidas de austeridade (Accornero, 2019ACCORNERO, Guya. 2019. “I wanted to carry out the revolution”: activists’ trajectories in Portugal from dictatorship to democracy. Social Movement Studies, v. 18, n. 3, pp. 305-323.; Baumgarten, 2013BAUMGARTEN, Britta. 2013. Geração à rasca and beyond: mobilizations in Portugal after 12 March 2011. Current Sociology, v. 61, n. 4, pp. 457-473.).

Com a generalização do acesso à internet em Portugal4 4 Em relação à utilização de internet em 2010, contabilizava-se 55,1%. Em 2012, eram já 60,3% e, em 2020, cifra-se em 78,3% da população, numa clara tendência de convergência com os congêneres da União Europeia. Tendência similar verifica-se no crescente número de famílias com acesso à internet que, em 2010, se cifrava nos 53,1%, em 2012, em 61%, e, em 2020, 84,5%. Disponível em: https://bit.ly/41m7ctx. Acesso em: 11 abr. 2023. , assistiu-se também à rápida disseminação das redes sociais digitais. Em Portugal, em 2017, o número de utilizadores cifrava-se em 76,7% para o Facebook e 23,7% para o YouTube (Cardoso, Paisana e Pinto-Martinho, 2017). Deste modo, o período de 2010 a 2013 foi marcante na expansão da internet, dos seus utilizadores e da apropriação das redes sociais digitais e, em particular, do Facebook. De um ponto de vista instrumental, as redes sociais digitais estão longe de se circunscreverem a uma função de entretenimento e de ocupação dos tempos livres. Elas são em muito um mecanismo de disseminação e consumo de informação. Dados atualizados de 2021 permitem saber que 73% dos portugueses dizem utilizar Facebook, e 47,7% o fazem para consumir notícias; o YouTube segue na segunda posição, com respetivamente 65,6% e 19,9%, e o WhatsApp com 63,8%, dos quais 20,9% o fazem para consultar notícias (Cardoso, Paisana & Pinto-Martinho, 2021CARDOSO, Gustavo; PAISANA, Miguel; PINTO-MARTINHO, Ana. 2021. Digital News Report 2021. Relatórios OberCom, Lisboa.). É patente a relevância destas plataformas digitais no acesso à informação e no estabelecimento de diálogo entre atores ao longo da última década, ainda que em alguns casos enfermando de forte polarização (Klein, 2020KLEIN, Ezra. 2020. Why we’re polarized. London: Profile Books.).

A convergência destas duas circunstâncias, por um lado o despoletar de um inusitado surto de mobilização política e cívica coincidente com a intensificação e disseminação das redes sociais digitais levou a um quadro político e social particular em Portugal. Este contexto requer uma abordagem em que convirjam conhecimentos distintos, como são os casos de dados das interações ocorridas no Facebook, devidamente articulados com as percepções dos próprios ativistas, contribuindo o melhor conhecimento do sucedido no Sul da Europa, nomeadamente em Espanha, Itália e Portugal (Baumgarten e Díez, 2017BAUMGARTEN, Britta; GARCÍA, Rubén Díez. 2017. More than a copy paste: the spread of Spanish frames and events to Portugal. Journal of Civil Society, v. 13, n. 3, pp. 247-266.; Della Porta, 2017DELLA PORTA, Donatella. 2017. Political economy and social movement studies: the class basis of anti-austerity protests. Anthropological Theory, v. 17, n. 4, pp. 453-473.; Della Porta et al., 2018DELLA PORTA, Donatella et al. 2018. Legacies and memories in movements. Oxford: Oxford University Press.; Fishman, 2011FISHMAN, Robert M. 2011. Democratic practice after the revolution: the case of Portugal and beyond. Politics & Society, v. 39, n. 2, pp. 233-267.; 2019FISHMAN, Robert M. 2019. Democratic practice: origins of the Iberian divide in political inclusion. Oxford: Oxford University Press .; Nunes, 2019NUNES, Cristina. 2019. Portugal and Spain in the international protest cycles: from global justice movement to anti-austerity protests. In: PINTO, António Costa; TEIXEIRA, Conceição Pequito (ed.). Political institutions and democracy in Portugal. Assessing the impact of the eurocrisis. Cham: Palgrave Macmillan . pp. 195-213.; Portos e Carvalho, 2019PORTOS, Martín; CARVALHO, Tiago. 2019. Alliance building and eventful protests: comparing Spanish and Portuguese trajectories under the great recession. Social Movement Studies , v. 1, n. 1, pp. 1-20.). Desta forma, temos como objetivo contribuir para o debate em torno do papel das redes sociais digitais na estruturação da esfera pública, isto é, verificando que potenciais impactos, positivos ou negativos, terão no acesso à participação cívica e política. Desta forma, almejamos contribuir para o debate que se centra na articulação do papel dos movimentos sociais com a esfera estatal e do processo político decisório (cf. Abers, Silva e Tatagiba, 2018ABERS, Rebeca Neaera; SILVA, Marcelo Kunrath; TATAGIBA, Luciana. 2018. Movimentos sociais e políticas públicas: repensando atores e oportunidades políticas. Lua Nova, n. 105, pp. 15-46.), permitindo compreender como estes atores coletivos podem contribuir para debate público e influenciar a esfera institucional.

Caraterização e distinção do ativismo cívico e político antiausteridade em Portugal

Num dos Estados europeus em que a sociedade civil é mais inócua (Baumgarten, 2013BAUMGARTEN, Britta. 2013. Geração à rasca and beyond: mobilizations in Portugal after 12 March 2011. Current Sociology, v. 61, n. 4, pp. 457-473.), a insatisfação para com a Democracia e a classe política é normalmente expressa no chamado voto de protesto ou mesmo através da abstenção (Freire e Magalhães, 2009FREIRE, André; MAGALHÃES, Pedro. 2009. A abstenção eleitoral em Portugal. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.). O panorama associativo e cívico português é nas quatro décadas e meia de democracia pautado por duas tendências (Barreto, 2004BARRETO, António. 2004. Tempo de incerteza. Lisboa: Relógio d’Água.; Morais e Sousa, 2012MORAIS, Ricardo; SOUSA, João. 2012. Do envolvimento associativo à mobilização cívica: o potencial das redes sociais. In: CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA, 7., 2012, Porto. Porto: Universidade do Porto.): por um lado, uma substantiva intensificação da atividade partidária e sindical, por outro, a progressiva diminuição da vida associativa, onde incluímos o voluntariado, acentuando o déficit de espontaneidade na mobilização cívica e política dos portugueses (Amaral, 2020AMARAL, Inês. 2020. Citizens beyond Troika: media and anti-austerity protests in Portugal. International Journal of Communication, v. 14, pp. 309-329.). A opção tem recaído invariavelmente pela participação por canais institucionalizados, quando existe uma grande diversidade de possibilidade e com diferentes níveis de formalidade (Lüchmann, 2020LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. 2020. Interfaces socioestatais e instituições participativas: dimensões analíticas. Lua Nova , n. 109, pp. 13-49.). Desse ponto de vista, existem, no Brasil, experiências mais variadas e relativamente sedimentadas (Fontes, 2020FONTES, Leonardo de Oliveira. 2020. Da formação cultural à mobilização social: espaços de formação e mobilização ao longo de três gerações nas periferias de São Paulo. Lua Nova , n. 109, pp. 51-101.). Deste modo, a participação que vá para lá dos partidos políticos é normalmente fraca e bastante volátil (David, 2018DAVID, Isabel. 2018. Portuguese democracy under austerity: politics in exceptional times. In: PARKER, Owen; TSAROUHAS, Dimitris (ed.). Crisis in the Eurozone periphery. The political economies of Greece, Spain, Ireland and Portugal. Cham: Palgrave Macmillan. pp. 161-180.). Com efeito, é lícito postular que os portugueses priorizam mecanismos institucionais de participação na esfera pública, como o voto ou os próprios partidos políticos e sindicatos.

A emergência dos movimentos sociais antiausteridade tem indubitavelmente uma forte ancoragem aos fatos ocorridos noutras latitudes, como em Espanha, Grécia ou, ainda, nos Estados Unidos da América (Tejerina et al., 2013TEJERINA, Benjamín et al. 2013. From indignation to occupation: a new wave of global mobilization. Current Sociology , v. 61, n. 4, pp. 377-392.), mas também não deixam de estar intrincados com a crescente multiplicação das plataformas de comunicação como o Facebook (Amaral, 2020AMARAL, Inês. 2020. Citizens beyond Troika: media and anti-austerity protests in Portugal. International Journal of Communication, v. 14, pp. 309-329.; Nunes, 2019NUNES, Cristina. 2019. Portugal and Spain in the international protest cycles: from global justice movement to anti-austerity protests. In: PINTO, António Costa; TEIXEIRA, Conceição Pequito (ed.). Political institutions and democracy in Portugal. Assessing the impact of the eurocrisis. Cham: Palgrave Macmillan . pp. 195-213.).

Ainda que tenham emergido num contexto social e político antiausteridade, os movimentos sociais em Portugal apresentam alguma diversidade interna, nomeadamente em termos de atores envolvidos, além da organização interna (Baumgarten, 2013BAUMGARTEN, Britta. 2013. Geração à rasca and beyond: mobilizations in Portugal after 12 March 2011. Current Sociology, v. 61, n. 4, pp. 457-473.), por esta razão, distinguem-se do restante movimento associativo. Uma dessas particularidades é o fato de a maioria ter emergido de iniciativas e eventos realizados em copresença em plena apropriação do espaço público (Sousa e Morais, 2021SOUSA, João Carlos; MORAIS, Ricardo. 2021. A mobilização cívica e política na era das redes sociais: uma análise da ação de movimentos sociais no Facebook. Opinião Pública, v. 27, n. 1, pp. 51-89.). Um outro elemento de distinção passa por estes movimentos centrarem as suas reivindicações em questões estritamente nacionais, em contraste com os seus homólogos espanhóis (Silva, 2019SILVA, Célia Taborda. 2019. Civic participation and demonstrations in Portugal (2011-2012). European Journal of Multidisciplinary Studies, v. 4, n. 3, pp. 49-55.).

Considerando como critério a tipologia de eventos e iniciativas realizadas, podem-se distinguir algumas estratégias de mobilização. De acordo com Baumgarten (2013BAUMGARTEN, Britta. 2013. Geração à rasca and beyond: mobilizations in Portugal after 12 March 2011. Current Sociology, v. 61, n. 4, pp. 457-473.), em primeiro lugar, grupos de ativistas reúnem-se em torno de causas particulares, como a contestação às medidas de austeridade, tendendo a utilizar como recurso as redes sociais, como o Facebook, realizando manifestações; uma segunda tipologia consiste naqueles movimentos que, fazendo uso da via pública, apropriam-se desta e realizam ações de protesto relativamente espontâneas.

Tradicionalmente, são consideradas dimensões de análise dos movimentos sociais as questões identitárias, a orientação programática e o possível ideário ideológico (Nunes, 2019NUNES, Cristina. 2019. Portugal and Spain in the international protest cycles: from global justice movement to anti-austerity protests. In: PINTO, António Costa; TEIXEIRA, Conceição Pequito (ed.). Political institutions and democracy in Portugal. Assessing the impact of the eurocrisis. Cham: Palgrave Macmillan . pp. 195-213.). Por conseguinte, a geração de movimentos sociais antiausteridade (Della Porta, 2017DELLA PORTA, Donatella. 2017. Political economy and social movement studies: the class basis of anti-austerity protests. Anthropological Theory, v. 17, n. 4, pp. 453-473.) distingue-se dos demais na medida em que conseguem mobilizar atores com limitada participação cívica e política até aqui. Esta asserção nos remete à análise das condições materiais e sociais de existência, em que operam tanto os ativistas como os cidadãos mobilizados (Tejerina et al., 2013TEJERINA, Benjamín et al. 2013. From indignation to occupation: a new wave of global mobilization. Current Sociology , v. 61, n. 4, pp. 377-392.).

Com efeito, é lícito distinguir os movimentos sociais tradicionais que assentavam num forte caráter profissionalizante e institucional, ao contrário dos movimentos antiausteridade que têm na espontaneidade e na horizontalidade da sua organização princípios basilares fundamentais. Estes últimos também se distinguem pela apropriação e uso das redes sociais digitais, tanto na sua organização interna como na comunicação e interação com a comunidade envolvente.

Mobilização e participação cívica e política no Facebook: continuidades e disrupções

A efetiva compreensão das novas formas de mobilização cívica passa pela abordagem ao complexo papel das mídias sociais em geral e das redes sociais digitais em concreto. O papel das novas mídias sociais é incontornável na abordagem do contemporâneo ecossistema mediático e da articulação destes com a esfera pública (Dahlgren, 2014DAHLGREN, Peter. 2014. Social media and political participation: discourse and deflection. In: FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol (ed.). Routledge studies in science, technology and society: critique, social media and the information society. London: Routlegde. pp. 191-202.). De forma genérica, pode-se considerar que este tipo de ferramentas tecnológicas apresentam um forte pendor comunicacional ao potenciar a interação, comunicação, bem como a circulação de informação.

Sociologicamente, podemos considerar que redes sociais vão muito além da concepção comumente utilizada para se referirem a ferramentas digitais, como o Facebook ou Twitter. Na verdade, redes sociais envolve complexas relações e interações entre um conjunto relativamente extenso de atores, isto é, a existência de uma estrutura social com papéis e estatutos socialmente distribuídos (Boyd e Ellison, 2007BOYD, Danah M.; ELLISON, Nicole B. 2007. Social network sites: definition, history and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, v. 13, n. 1, pp. 210-230.). Por seu lado, as redes sociais digitais são sobretudo infraestruturas tecnológicas que permitem a comunicação entre atores, potenciando o estabelecimento de interações e sobretudo atribuindo visibilidade a estas (Recuero, 2017RECUERO, Raquel. 2017. Introdução à análise de redes sociais online. Salvador: Edufba.). O estudo do modo como estas são diversamente apropriadas pelos utilizadores é um desafio para a pesquisa em movimentos sociais.

Tanto a concepção como a apropriação das redes sociais digitais estão enredadas de recursos de poder. Considerando as circunstâncias de apropriação destas, pode-se observar que são fontes de iniquidades cívicas e políticas entre os integrantes de uma comunidade (Simões, 2005SIMÕES, Maria João. 2005. Política e Tecnologia Tecnologias da Informação e da Comunicação e Participação Política em Portugal. Oeiras: Celta Editora .; Sousa, 2013SOUSA, João Carlos Lopes de. 2013. Participação política no Facebook: continuidades e reconfigurações. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Covilhã: Universidade da Beira Interior.). Uma efetiva apropriação se consumará naquilo a que Bruns (2008BRUNS, Axel. 2008. Blogs, Wikipedia, Second Life, and beyond: from production to produsage. New York: Peter Lang.) designa por “produser” e que enfatiza a capacidade produtora de conteúdos, mas também de consumidor por parte dos utilizadores de redes sociais digitais.

Do ponto de vista da arquitetura das redes sociais digitais, em particular, deve-se considerar que estas são produtos da ação humana e que por isso não são política e ideologicamente neutras (Correia, 2016CORREIA, João Carlos. 2016. Social media and political participation: the Portuguese “indignados” case. In: FIGUEIRAS, Rita; ESPÍRITO SANTO, Paula do (ed.). Beyond the internet: unplugging the protest movement wave. New York: Routledge. pp. 99-135.; Simões, 2005SIMÕES, Maria João. 2005. Política e Tecnologia Tecnologias da Informação e da Comunicação e Participação Política em Portugal. Oeiras: Celta Editora .). Existem duas correntes que têm dominado debate em torno da mobilização cívica e política online: por um lado, os “otimistas tecnológicos”, e, por outro, os “distópicos tecnológicos” (Correia, 2014CORREIA, João Carlos. 2014. O papel das redes digitais na configuração epistemológica dos debates de sociedade. Estudos em Comunicação, v. 15, pp. 77-92.).

Deste ponto de vista, Olsson (2014OLSSON, Tobias. 2014. “The architecture of participation”: for citizens or consumers? In: FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol (ed.). Routledge studies in science, technology and society: critique, social media and the information society. London: Routlegde . pp. 203-215.) vai mais longe e considera que todo o espaço digital e a arquitetura em que sua estrutura são estabelecidos mediante interesses de grupos e categorias sociais particulares, acabando por se constituir como uma extensão de instituições sociais que legitimam a distribuição de poder e das desigualdades.

Contudo, uma postura mais otimista acerca do incremento tecnológico e das redes sociais digitais argumenta que estas possibilitam a emergência de novas formas de comunicação e interação, promovendo a mobilização cívica e política no âmbito da web 2.0. É compreensível a apropriação de algumas redes sociais digitais por parte de diversos movimentos sociais em diferentes latitudes, uma vez que facilitam o acesso às instituições políticas, intensificam o volume e ritmo da informação, diversificam escolhas eleitorais, promovem a transparência e a crescente responsabilização de decisores políticos (Tatagiba, Paterniani e Trindade, 2012TATAGIBA, Luciana; PATERNIANI, Stella Zagatto; TRINDADE, Thiago Aparecido. 2012. Ocupar, reivindicar, participar: sobre o repertório de ação do movimento de moradia de São Paulo. Opinião Pública, v. 18, n. 2, pp. 399-426.).

Há, deste ponto de vista, um impulso à crescente descentralização da comunicação e, de certa forma, da quebra do monopólio de produção e disseminação de conteúdos informativos por parte das mídias tradicionais. Ainda que estejamos distantes de um espaço digital totalmente democrático no seu acesso, existem autores (cf. Figueiras, 2017FIGUEIRAS, Rita. 2017. A mediatização da política na era das redes sociais. Lisboa: Alêtheia Editores.) que veem, no atual espectro mediático, condições de autonomia para os atores assumirem-se não só como consumidores, mas também como produtores, dando guarida à ideia de autocomunicação de massas (Castells, 2007CASTELLS, Manuel. 2007. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.), na qual haveria lugar à autoexpressão e autorrepresentação individual (Coleman, 2017COLEMAN, Stephen. 2017. Can the internet strengthen democracy? Democratic futures. Cambridge: Polity Press.), contribuindo para a mitigação do papel mediador, desempenhado historicamente pelas mídias tradicionais.

O exacerbar do conflito social num quadro sociopolítico antiausteridade converge também com o incremento da digitalização do ecossistema mediático (Dahlgren, 2005DAHLGREN, Peter. 2005. The internet, public spheres, and political communication: dispersion and deliberation. Political Communication, Abingdon-on-Thames, v. 22, n. 2, pp. 147-162.). Para Coleman (2017COLEMAN, Stephen. 2017. Can the internet strengthen democracy? Democratic futures. Cambridge: Polity Press.), a convergência de fatores sociopolíticos, associados à emergência das redes sociais digitais, torna o momento politicamente idiossincrático, na medida em que a multiplicação de meios digitais permite aos atores se mobilizarem em rede e conceberem ações coletivas de contestação às medidas de austeridade.

Por conseguinte, diversos cidadãos se mobilizam em torno de causas muito particulares e de contestação às medidas de austeridade. Neste período, experienciou-se uma crescente demarcação e perda de protagonismo de formas de representação institucionalizas, como são as forças partidárias, dando lugar a formas de mobilização mais fluídas e espontâneas (Teixeira, 2018TEIXEIRA, Conceição Pequito. 2018. Qualidade da democracia em Portugal. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.). Não obstante a relevância das redes sociais digitais, nos contextos mais concretos do Occupy nos EUA, ou os Indignados na Espanha, não podemos cair em explicações do tipo causais em que estes eventos se ficariam a dever exclusivamente a este tipo de plataformas (Fuchs, 2012FUCHS, Christian. 2012. Behind the news: social media, riots, and revolutions. Capital & Class, v. 36, n. 3, pp. 383-391., 2014aFUCHS, Christian. 2014a. Critique of the political economy of informational capitalism and social media. In: FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol (ed.). Routledge studies in science, technology and society: critique, social media and the information society. London: Routlegde . pp. 63-77., 2014bFUCHS, Christian. 2014b. Occupy Media! The Occupy Movement and social media in crisis capitalism. Winchester: Zero Books.; Fuchs e Sandoval, 2014FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol. 2014. Critique, social media and the information society in the age of capitalist crisis. In: FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol (ed.). Routledge studies in science, technology and society: critique, social media and the information society. London: Routledge. pp. 1-47.). Ao enveredar por essa abordagem, estaríamos no campo do determinismo tecnológico. Há também ainda fatores sociopsicológicos que impactam positiva ou negativamente na predisposição dos atores e na sua capacidade de mobilização cívica e política (Dahlgren, 2014DAHLGREN, Peter. 2014. Social media and political participation: discourse and deflection. In: FUCHS, Christian; SANDOVAL, Marisol (ed.). Routledge studies in science, technology and society: critique, social media and the information society. London: Routlegde. pp. 191-202.).

Percebendo esta conexão Castells (2013CASTELLS, Manuel. 2013. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.)5 5 No total, são 12 dimensões. No contexto desta pesquisa, apenas mencionamos explicitamente duas, que são aquelas que servem de eixos analíticos e que pretendemos operacionalizar. incluiu entre as dimensões constitutivas dos novos movimentos sociais duas dimensões estruturantes: (1) existência de comunicação em rede multimodal, concretizada, por exemplo, na apropriação de dispositivos de comunicação móvel entre os ativistas; (2) incremento de uma cultura deliberativa, de intensificação da democracia, quer internamente, através da comunicação e interação entre os diversos integrantes, quer através da monitorização da comunicação e interação externa, com atores que não sendo integrantes do movimento o seguem, por exemplo, no Facebook. Estes dois eixos caraterizadores dos movimentos sociais contemporâneos reportam-se às condições em que se estrutura a ação dos movimentos na esfera pública. Uma vez que estes se integram na sociedade em rede, interessa-nos enfatizar as dimensões comunicacionais, informacionais e interacionais dos movimentos estudados, servindo de eixos da análise que se pretende realizar. Pelo percurso teórico construído, cabe formular as seguintes hipóteses de pesquisa:

  • H1 - Os ativistas no seio do movimento social que integram, têm práticas deliberativas e de natureza essencialmente horizontal e informal na interação e comunicação com os seguidores no Facebook.

  • H2 - Os seguidores dos movimentos no Facebook participam de forma informal e espontânea seguindo uma lógica comunicativa e interacional tendencialmente horizontal com os ativistas.

Metodologia

A secção seguinte tem como objetivo descrever toda a estratégia metodológica que implementámos de forma a operacionalizar a pesquisa. Desta forma, numa primeira fase procuramos explicar como procedemos à seleção dos movimentos sociais. De seguida, apresentamos e discutimos detalhadamente as dimensões e respetivos indicadores que medem a utilização do Facebook. Finalmente, apresentam-se as entrevistas e os respetivos entrevistados.

Seleção dos movimentos sociais

Num período de recrudescimento do conflito social e político em Portugal, a atividade cívica extravasou os meros circuitos da política institucional. Também se observou uma substancial disseminação do Facebook entre a população portuguesa, de acordo com a Marktest6 6 Documento consultável em: https://bit.ly/3miVLUF. . Em pesquisas anteriores (cf. Figueiras e Espírito Santo, 2016FIGUEIRAS, Rita; ESPÍRITO SANTO, Paulo (org.). 2016. Beyond the internet: unplugging the protest movement wave. New York: Taylor and Francis.; Figueiras, Espírito Santo e Cunha, 2015FIGUEIRAS, Rita; ESPÍRITO SANTO, Paulo; CUNHA, Isabel Ferin (ed.). 2015. Democracy at work: pressure and propaganda in Portugal and Brazil. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.), alguns dos movimentos, como o Que se Lixe a Troika ou o Indignados Lisboa, foram objeto de estudo pelo papel desempenhado. Por estas duas circunstância, definiu-se como critério de seleção dos oito movimentos a analisar: aqueles em que neste período adquiriram notoriedade mediática e noticiosa, como são os casos do Indignados Lisboa e do Que se Lixe a Troika; mas também se optou por integrar movimentos que adotassem diferentes posturas e temáticas nas suas ações e publicações, como são os casos do RiseUp Portugal, com questões relacionadas ao ambiente e à sustentabilidade, o Democracia e Dívida, por se tratar de um tema central na então crise da dívida, questão premente num país à beira da rotura financeira. O movimento Artigo 21º, que visa a luta pela revisão da lei de bases do sistema educativo nacional, também foi incluído. Neste lote, há ainda o FLAN Colectivo, que se destaca por realizar ações com forte pendor imagético e permanente recurso à caricatura da realidade. Os restantes movimentos foram selecionados face a critérios de número de seguidores no Facebook, como é o caso O Povo é Quem mais Ordena e o 15 Outubro, que se formaram como resultado de manifestações e ações realizadas (Pereira, 2012PEREIRA, Marcus Abílio. 2012. Movimentos sociais e democracia: a tensão necessária. Opinião Pública, Campinas, v. 18, n. 1, pp. 68-87.).

Deste modo, obteve-se um conjunto de oito movimentos que integrando o círculo, ainda que restrito do ativismo social e político português, inscrevem-se em diferentes linhas programáticas e âmbitos de ação. Os oito movimentos têm a particularidade de terem “nascido” no Facebook, numa amplitude temporal que vai pouco além de um ano e meio, mais concretamente entre julho 2011 e abril 2013, o que de certo modo pode ser lido como um indício da “efervescência” social e política deste período. As respectivas páginas de Facebook dos oito movimentos detêm as seguintes caraterísticas:

Tabela 1
Páginas de Facebook dos oito movimentos

Todos eles têm pelo menos mil seguidores, chegando mesmo, no caso do RiseUp Portugal, a ir além 100 mil.

Modelo da análise conteúdo das páginas de Facebook

A análise de conteúdo realizada às páginas de Facebook (cf. Dader e Cheng, 2011DADER, José Luis; CHENG, Lifen. 2011. Análisis cuantitativo y cualitativo de las web de partidos”. In: BLANCO, Víctor F. Sampedro. (coord.). Cauces y diques para la participación: las elecciones generales de 2008 y su proyección tecnopolítica. Madrid: Editorial Complutense S.A. pp. 129-143.) articula duas dimensões: dinamização do debate; iniciativa e pró-atividade dos seguidores, compreendendo o período de uma semana entre 5 e 13 junho 2013. Cada uma visa objetivos próprios. Em dinamização do debate, pretende-se perceber e medir como os ativistas e membros dos oito movimentos em estudo definem estratégias comunicacionais e de interação com os restantes participantes. Por outro lado, a dimensão iniciativa e pró-atividade dos seguidores têm como finalidade medir o nível de participação dos seguidores de cada movimento nas respetivas páginas de Facebook, através da aferição de diversas práticas e mobilização de diferentes recursos. Ambas as dimensões são operacionalizadas por cinco indicadores.

A ordem com que são apresentados os cinco indicadores em cada uma das duas dimensões tem como critério a sua menor ou maior complexidade de execução, compreendendo níveis distintos de seletividade. O modelo (cf. Tabela 2) tem implícita a existência de diferentes práticas no Facebook e o modo como estas ao serem realizadas mobilizam diferentes recursos sejam cognitivos, sociais, tecnológicos ou até mesmo recursos políticos.

Tabela 2
Síntese da grelha de análise de conteúdo

Decorrente deste pressuposto, incluiu-se um ponderador em cada um dos indicadores, que multiplicam diretamente a pontuação absoluta obtida por parte de cada movimento social. De modo esquemático, diríamos que a ponderação no modelo de análise de conteúdo funciona da seguinte forma: a pontuação absoluta, obtida em cada indicador, será multiplicada no mínimo por um (no primeiro indicador), até cinco (no quinto indicador) de cada dimensão.

Neste caso, o movimento obteria a pontuação máxima nos cinco indicadores, o que se traduziria em 30 em termos absolutos e 90 com as ponderações. No computo das duas dimensões, seriam 180 pontos caso se mantivesse a mesma tendência. Por consequência, obtém-se a hierarquização dos cinco indicadores de cada dimensão, conferindo-lhes pesos distintos, em face dos diferentes níveis de complexidade que cada um operacionaliza.

Deste modo, será possível obter registos totais e parciais e assim possibilitar a comparação entre dimensões, mas sobretudo confrontar resultados de diferentes movimentos, bem como obter valores médios também por dimensão e por cada um dos movimentos estudados. Finalmente, referir que a codificação e tratamento dos dados foi realizada exclusivamente pelo investigador, garantindo a confiabilidade dos dados e dispensando a realização do teste do alfa Krippendorff (Krippendorff, 1980KRIPPENDORF, Klaus. 1980. Content analysis: an introduction to its methodology. London: Sage .).

Dinamização do debate

O debate, e mesmo a mais elementar troca de argumentos, requer não só a existência dos papéis de emissor e receptor, mas que estes concordem relativamente às regras do debate. Nesta dimensão, pretende-se caracterizar o modo como os diversos movimentos e, em particular, os seus respectivos ativistas comunicam e interagem com os seguidos do movimento no Facebook e a sua abertura à interação ao responder às questões levantas pelos cidadãos que seguem o movimento. A dimensão dinamização do debate está construída de forma a incluir e medir o maior número de ferramentas que o Facebook dispõe e que permitem a interação e comunicação entre utilizadores. Os cinco indicadores que constituem esta dimensão estão ordenados mediante critérios de complexidade na sua execução.

  • 1.1 - Possibilidade de correspondência via postal e/ou outras plataformas: começamos por perceber que meios alternativos ao Facebook o movimento disponibiliza aos seus seguidores de forma a se comunicarem e interagirem. Para tal, serão considerados os três seguintes aspectos, sendo eles a existência de e-mail, o endereço postal e a existência de um site ou plataforma do movimento.

  • 1.2 - Bloco de notas: é uma funcionalidade do Facebook só acessível aos seguidores e que tem um pendor de discussão programática do movimento. Os aspectos alvo da avaliação são a funcionalidade ativada, o bloco de notas atualizado até uma semana e a existência de troca de ideias entre ativistas.

  • 1.3 - Complexidade do enquadramento dos posts do movimento: as qualidades substantivas da exposição e argumentação contidas nos posts do movimento são avaliadas considerando posts com ligação externa e enquadramento, existência de argumentos no enquadramento dos posts e originalidade dos posts publicados.

  • 1.4 - Existência de comentários da própria página aos seus posts e dos seguidores: a existência de comentários dos ativistas em representação do movimento é um elemento relevante da interatividade e debate. Desta forma, serão procurados comentários dos ativistas nos próprios posts, comentários nos posts dos seguidores e comentários nas publicações do bloco de notas.

  • 1.5 - Correspondência por mensagem privada: tem-se como objetivo testar a comunicação entre seguidores e os movimentos analisados. Consiste no envio de uma mensagem privada com pedido de informação sobre alguma iniciativa a desenvolver no âmbito das celebrações do Dia de Portugal - 10 Junho. Ter-se-á em consideração respostas redigidas exclusivamente para o caso, o tempo de resposta até uma semana e respostas elaborada sobre os aspectos levantados na mensagem inicial. Por se tratar de um meio de maior privacidade e que mensura o interesse dos ativistas na interação com os seguidores, foi-lhe atribuída maior ponderação.

Iniciativa e proatividade dos seguidores

Esta dimensão tem como objetivo caracterizar o uso e interação dos seguidores de cada movimento na respetiva página de Facebook. Procura-se perceber em que moldes se dá a interação entre ativistas e seguidores dos movimentos, podendo oscilar entre a postura de seguidor passivo, até aquele mais interventivo, com posts ou comentários e partilha de outros conteúdos. Deste modo, será possível classificar a participação dos seguidores ao longo de uma medição gradativa de maior simplicidade até maior complexidade. Os cinco indicadores estão precisamente ordenados mediante a complexidade e os recursos mobilizados na sua realização.

  • 2.1 - Número de seguidores - considera-se as seguintes categorias: 1º <1000 seguidores; 2º ]1000-5000]; 3º >5000.

  • 2.2 - Existência de posts e comentários dos seguidores - considera-se os seguintes indicadores: 1º existência de posts; 2º publicações dos seguidores no bloco de notas; 3º comentários dos seguidores aos posts do movimento.

  • 2.3 - Recursos a elementos visuais como fotos/vídeos/gráficos nos posts dos seguidores. Para tal, será valorizada a presença de: 1º de comentários; 2º uso de vídeos nos comentários; 3º partilha de outras ligações.

  • 2.4 - Tom dominante dos posts e dos comentários dos seguidores - serão considerados: 1º os comentários são de apoio às publicações do movimento; 2º surgem como apoio espontâneo ao movimento; 3º de apoio no bloco de notas.

  • 2.5 - Complexidade argumentativa dos posts dos seguidores - pretende-se observar as competências expositivas e de argumentação dos seguidores. A sua operacionalização passará por: 1º sem enquadramento; 2º enquadramento descritivo; 3º enquadramento argumentativo.

Entrevistas

A realização das entrevistas presenciais semiestruturadas (Berger, 2016BERGER, Arthur Asa. 2016. Media and communication research methods: an introduction to qualitative and quantitative approaches. 4. ed. London: Sage.) teve como finalidade central apreender como os próprios atores, envolvidos no processo político e comunicativo em estudo, percebem a sua ação e a dos seguidores das páginas do Facebook do respectivo movimento. A opção pelas entrevistas presenciais permitiu mitigar obstáculos e potenciais objeções dos ativistas em expor e relatar as atividades experiências ocorridas no interior do movimento. Um exemplo deste tipo de questões sensíveis passava pela abordagem de conflitos e mal-entendidos entre os ativistas. Desta forma pudemos abordar um diversificado conjunto de questões respeitando as disposições individuais de cada ativista entrevistado (Ghiglione & Matalon, 2001GHIGLIONE, Rodolphe; MATALON, Benjamin. 2001. O inquérito. 4. ed. Oeiras: Celta Editora.). Na presente pesquisa procura-se não só descreve, mas também interpretar as opiniões e perceções dos ativistas dispensando-se qualquer procedimento de quantificação. O guião de entrevista conta com um total de vinte questões.

Relativamente às circunstâncias de realização das entrevistas (cf. Tabela 3), todas as seis se desenrolaram na cidade de Lisboa, em locais de acesso público. Os locais concretos de entrevista foram negociados entre investigador e entrevistado considerando sobretudo a disponibilidade e à-vontade destes últimos.

Tabela 3
Realização das entrevistas presenciais

Os entrevistados foram representantes dos respectivos movimentos, sob condição de anonimato. As entrevistas foram integralmente transcritas e, desta forma, tentou-se mitigar ao máximo qualquer enviesamento das potenciais interpretações das palavras dos ativistas. O agendamento das entrevistas foi desencadeado através de um contato inicial por parte do investigador responsável, via mensagem privada para as páginas de Facebook a cada um dos oito movimentos estudados. Em seguida, o investigador foi ora contatado via página do movimento, ora encaminhado para um ativista em particular. A duração das entrevistas oscilou entre aproximadamente 29 minutos até um máximo de 1h53. A duração média das seis entrevistas é de 59 minutos. A realização das seis entrevistas mediou entre 29 julho e 6 de setembro, pouco mais de um mês. No computo das seis entrevistas, obtiveram-se aproximadamente seis horas de registo áudio, totalmente transcritos. Ao cabo de diversas tentativas não foi possível estabelecer contato nem agendar entrevista com FLAN Colectivo e Artigo 21º.

A articulação entre entrevistas e análise de conteúdo assenta no princípio da complementaridade (Croucher e Cronn-Mills, 2015CROUCHER, Stephen M.; CRONN-MILLS, Daniel. 2015. Understanding communication research methods: a theoretical and practical approach. New York: Routledge .), na abordagem a fenômenos complexos e multidimensionais, não se observado nenhuma ordem de prioridade.

As opiniões e percepções dos ativistas permitem perceber como estes entendem o papel do seu movimento, além das estratégias de comunicação e promoção do debate. Por outro lado, possibilitam apreender como é percebida a participação e o debate com os seguidores do movimento. As entrevistas também permitem acesso a informações sobre o número regular de ativistas. Por seu lado, a análise de conteúdo permite fazer um retrato quantitativo e quantificar práticas digitais concretas que estruturam o debate realizado no Facebook, tanto do lado dos ativistas como dos respectivos seguidores. Estamos perante peças distintas de um mesmo puzzle, o puzzle do debate no Facebook no âmbito dos oito movimentos sociais antiausteridade.

Resultados

Das oito entrevistas inicialmente planejadas, foi possível realizar seis. Este déficit se deu pela ausência de resposta por parte dos movimentos FLAN Colectivo e Artigo 21º. Entre os sete entrevistados, encontramos três do sexo feminino e quatro masculino. A idade média dos entrevistados cifra-se nos 41 anos, sendo a ativista mais nova com 29 anos, e o mais velho com 66.

Na Tabela 4, pode se verificar que a maioria (cinco casos) têm diploma do ensino superior, ao passo que dois têm o ensino secundário. Para concluir a caraterização dos sete entrevistados, quatro destes encontravam-se desempregados aquando da realização das entrevistas, o que também não deixa de ser sintomático de um país que acaba de experienciar uma intensa crise económica e financeira. Entre os ativistas entrevistados, contam-se também uma jornalista, um gestor e um reformado. Adicionalmente, pode se dizer que todos eles viviam na Área Metropolitana de Lisboa, quer no núcleo mais restrito da cidade, quer nos municípios contíguos a este. Apenas num dos movimentos há alusão, em entrevista, à existência de membros ativistas de outras partes do país, nomeadamente Porto, o que também não deixa de ser revelador da centralidade da capital portuguesa no pulsar da atividade política e cívica em Portugal.

Tabela 4
Caracterização social e demográfica dos entrevistados

O Facebook encerra grande relevância na generalidade dos movimentos estudados, inclusivamente há aqueles que por lá nasceram “Epá é assim, começa no Facebook. Começa no Facebook.” (RUP 1), tal como no caso do movimento 15 Outubro “Surgiu numa fase, não sei exatamente qual a fase, mas acho que surgiu já numa fase posterior, havia a mailing list, havia a página, depois surge a necessidade de o Facebook, com a cada vez mais importância do Facebook.” Mas, as vantagens vão também ao âmbito da comunicação e interação interna, enquanto facilitador: “Nós, não nos reunimos fisicamente. Surge no contexto, neste momento do estado da crise. Surgiu nesse contexto. Surgiu no contexto da nossa vontade de querer fazer alguma coisa” (PQMO). De fato, o Facebook é percebido como uma ferramenta válida, ainda que incompleta para a comunicação entre ativistas: “um problema óbvio era que os servidores não são tão rápidos (refere-se ao software N-1) como os do Facebook. Porque depois fica-se com aquela ideia, se não tem lá um “smile”, já pensa que está zangado” (QSLT).

No que respeita aos resultados da análise de conteúdos às páginas de Facebook há a salientar que no período de uma semana (5 a 11 junho) o 15 Outubro foi o movimento que mais frequentemente publicou, com um total de 22 posts em sete dias, o que dá uma média de aproximadamente três posts por dia. Com médias acima ou igual a 2 estão ainda o Indignados Lisboa, RiseUp Portugal e Democracia e Dívida.

Tabela 5
Número de posts analisados entre 5 e 11 junho 2013

Os movimentos que menos publicam são o FLAN Colectivo, O Povo é Quem Mais Ordena e Que se Lixe a Troika, todos estes com um ou menos posts diários. Entre os oito movimentos estudados os resultados apresentam tendências convergentes, mas simultaneamente indiciadoras de divergência ao nível das duas dimensões estudadas abordadas.

Em geral verificam-se pontuações totais relativamente similares tanto na dimensão da dinamização do debate (124) como da iniciativa e proatividade dos seguidores (122), o que é corroborado pelas médias das pontuações obtidas pelos oito movimentos de 15,5 e 15,25 respetivamente (cf. Tabela 6 e 7).

Tabela 6
Dinamização do debate
Tabela 7
Iniciativa e proatividade dos seguidores

Contudo, se consideradas as pontuações ponderadas verificamos que a disjunção entre a primeira e segunda dimensão se cifra nos 35 pontos, perfazendo em termos médios uma pontuação de 44,63 e apenas 40,25 respetivamente. Pelo que se pode observar que a dimensão dinamização do debate tem valores pontuais mais elevados, comparativamente à dimensão iniciativa e proatividade dos seguidores, sobretudo se considerados os valores ponderados.

A perceção que os ativistas têm da participação dos seguidores no Facebook reveste-se de alguma complexidade, uma vez que quase naturalmente e apenas questionados sobre a participação destes há quem alegue, como por exemplo os ativistas do RiseUp Portugal que ela é importante, ainda que admitindo que por vezes surgem problemas: “Nós temos meia-dúzia bloqueados. São malcriados. Não são pessoas que vão para ali a fazer um discurso coerente” (RUP 2). Ou que têm mesmo explicito na página como é o caso do Que se Lixe a Troika “Nós banimos qualquer comentário xenófobo, discriminatório”. Há quem expresse ter ficado negativamente surpreendido como a ativista do O Povo Quem Mais Ordena: “Não. Não, quer dizer que há sempre aquelas pessoas que vão a tentar destabilizar. É normal. No Facebook vês de tudo, eu pronto nem imaginava e quando entrei nisto, perguntei “o que é isto?”

As perceções dos entrevistados relativamente à eficiência e funcionalidade do Facebook norteia-se entre a frustração na mobilização concreta e a eficácia na disseminação da informação e da mensagem:

“A gente costuma rir-se com isso, que só 10% é que vão. Portanto, quando estão 60 vão 6 é como a gente costuma considerar a coisa. O evento no Facebook serve muitas vezes para divulgar, serve para saber quantas pessoas ficaram a saber que existia, mas não determinamos nada pelas pessoas que dizem que vão. Nós, temos consciência que o Facebook é um “pau de dois bicos”. Tanto funciona bem para chegar às pessoas, como também é “flop” quando se trata de obter o feedback das pessoas.” (IL)

“Eh, pois, aí está uma diferença. É uma diferença brutal. Epá é uma diferença. Quem realmente aparece é sempre muito pouca, muito pouca gente e sempre os mesmos. Eu posso-te dizer que fui a muitas, manifestações o ano passado e via sempre as mesmas caras. […] É uma discrepância muito grande”. (PQMO)

“Eu acho que é muito mais diminuta. Na movimentação social em Portugal, objetivamente. Epá eu não chamo movimentação social a manifestações que se fazem de depois “morre-se”. Isso são momentos catárticos. Mais nada, porque depois como não há nenhuma perspetiva de continuidade, como não há nenhuma perspetiva organizativa, aquilo é um “ah”. Não é outra coisa. Lembraste quando foi o 2 março, 1 milhão de pessoas, o que sobrou daquilo? Não sobrou nada.” (DD)

Contudo está subjacente a perceção de que os seguidores no Facebook são privilegiadamente simples recetores de informação: “há pessoas novas que fazem “like” e começam a receber as nossas informações” (QSLT).

Nenhum dos oito movimentos obtém os 30 potenciais pontos máximos. Os que mais se aproximam na dimensão dinamização do debate são: o Democracia e Dívida com 24, RiseUp Portugal e 15 Outubro ambos com 20. Nos antípodas encontramos o FLAN Colectivo com 8 ponto (cf. Tabela 6). Na dimensão iniciativa e proatividade dos seguidores observa-se que o registo máximo de 24 pontos é do O Povo é Quem mais Ordena, seguido do movimento RiseUp Portugal com 20 pontos. Se considerados os dados com os respectivos ponderadores, verificamos que a primeira dimensão cifra-se nos 357 pontos em contraste com os 322 da segunda dimensão, num diferencial de 35. Estes dados indicam que os movimentos, obtém em geral, melhores pontuações na primeira dimensão, comparativamente à segunda, mas sobretudo que o fator diferenciador está na menor pontuação obtida pelos movimentos nos últimos dois indicadores com maior ponderação na segunda dimensão.

Considerando resultados ponderados dos dois indicadores de maior complexidade observa-se que cinco dos oito movimentos obtém maior pontuação na primeira dimensão comparativamente à obtida na segunda dimensão, são eles: RiseUp Portugal, IL, DD, 15 Outubro e QSLT. Em contraponto, os movimentos OPQMO, Artigo 21º e FLAN Colectivo apresentam tendência inversa. Mais, diferenças entre as pontuações dos dois referidos indicadores inferiores a seis pontos apenas se observam no RiseUp Portugal, com respetivamente 38 e 36 pontos. Uma possível leitura desta evidência empírica passa por considerar um duplo critério: por um lado, os movimentos tendem a “filtrar” os comentários e outro tipo de participação dos seguidores do movimento no Facebook, por outro lado, também pode ficar a dever-se em boa parte à possibilidade destes últimos estarem menos engajados, comparativamente aos ativistas de cada movimento.

Esboçando um balanço, consideremos o computo das duas dimensões e as suas respetivas médias (cf. Tabela 8). O Democracia e Dívida regista a pontuação mais alta, com um total de 133 pontos, seguido ainda relativamente perto de RiseUp Portugal, com 123, para além do Indignados Lisboa, com106, e do 15 Outubro, com 104, todos com mais de 100 pontos. Por outro lado, entre os movimentos com menores pontuações, o destaque vai para FLAN Colectivo, com 36, Que se Lixe a Troika, com 47, e o Artigo 21º, com 68.

Tabela 8
Cálculo das médias do conjunto das duas dimensões

Entre os quatro movimentos com maiores pontuações, a caraterística em comum é o fato de, em termos médios, a pontuação média absoluta quadruplicar quando ponderada, ao passo que, entre os movimentos com menores pontuações, no máximo triplicam-nas. Este fato pode ser lido como um indício da consistência do modelo implementado e de este conseguir distinguir níveis distintos de complexificação no seu uso e apropriação, o que, em última instância, pode-se traduzir em novas desigualdades, desigualdades digitais.

Conclusões

A progressão do conhecimento em ciência implica a produção, mas também a demonstração empírica que o sustente. Para a prossecução deste desígnio é fundamental que este possa ser replicado, permitindo a sua corroboração ou refutação, numa permanente lógica dialética. Com esta pesquisa, pensamos ter contribuído para o debate em torno dos movimentos sociais integrando esta discussão numa perspectiva mais ampla da participação e mobilização cívica e política fora da esfera institucional.

A principal descoberta desta pesquisa passa por verificar que existem diferentes níveis de apropriação das ferramentas tecnológicas como o Facebook para fins cívicos e políticos. Por outras palavras, queremos advogar que efetivamente encontrámos fortes indícios de que existem outros fatores que condicionam a mobilização e participação cívica e política online. Entre ativistas e cidadãos seguidores dos movimentos no Facebook, é observável uma substancial disjunção, consubstanciada na mobilização de diferentes recursos e da própria sofisticação das práticas digitais de uns e de outros. A reforçar esta descoberta está também o modo como os próprios ativistas perspectivam a intervenção dos seguidores como limitada e até extemporânea e, por vezes, até disruptora de um saudável debate. O que nos permite corroborar as duas hipóteses que norteiam a presente reflexão.

Estas assimetrias nas práticas cívicas e políticas remetem a fatores que estão a montante do uso do Facebook. É provável que seguidores e ativistas partam de patamares distintos de recursos sociais, econômicos, educacionais e até de índole política. Esta constatação nos permite desde logo perceber alguns dos limites da presente investigação. A primeira passa pelo fato de abordarmos uma pequena porção das muito diversas práticas que os utilizadores de Facebook têm ao seu dispor diariamente. Uma segunda limitação diz respeito à socialização política em contexto digital e concretamente no Facebook ser muito mais diversificada. Não foram incluídos aspetos tão relevantes para a formação da opinião política, como a leitura de notícias ou de conteúdos oriundos de atores políticos e partidários, que possibilitam uma cidadania ativa e informada.

Não obstante estas limitações, contribuímos para o estudo dos movimentos sociais e o modo como é feita a apropriação das redes sociais digitais, com um modelo adaptável e replicável em circunstâncias diversas ao atual, como campanhas eleitorais ou surtos de contestação social. Com efeito, diríamos que importa continuar a estudar estes e outros movimentos fora dos episódios de triggers particulares e num contexto pós-pandêmicos de covid-19, em que é expetável uma forte precarização das condições de vida de muitas categorias sociais nos mais diversos países.

Os momentos de crise são também momentos desafiantes de se tentar fazer o que ainda não foi tentado. O voluntarismo destes movimentos sociais e seus ativistas é um traço caraterizador e distintivo, movendo-se por uma genuína vontade de agir sobre as condições políticas e sociais em que vivem. Talvez tenha sido esse o elemento propulsor da mobilização no contexto mais amplo de crise da dívida soberana em Portugal, porém, não devemos subestimar o papel das redes sociais digitais. A emergência e desempenho destes movimentos sociais representou inequivocamente um afastamento por parte dos portugueses, dos mecanismos institucionais de participação cívica e política e esse fato é só por si relevante.

O que nos foi permitido desvelar foi um forte impulso de cidadãos/ativistas que até aqui detinham uma limitada ação cívica, ao passarem de uma posição de passividade à de proatividade, com práticas deliberativas. Contudo, foi observável que os seguidores de Facebook, embora participativos, demonstrem um nível de envolvimento menos complexo e mais limitado. Em outras palavras, diríamos que os movimentos sociais antiausteridade são um bom observatório das desigualdades de participação na esfera pública digital contemporânea, ao reproduzirem lógicas tradicionais top-down em termos comunicativos e interacionais.

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  • TEJERINA, Benjamín et al. 2013. From indignation to occupation: a new wave of global mobilization. Current Sociology , v. 61, n. 4, pp. 377-392.
  • 1
    O processo político que desencadeou o pedido de resgate teve o seu epicentro no chumbo, na Assembleia da República, do quarto Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC-4), apresentado pelo governo liderado por José Sócrates, levando à demissão deste e à marcação de novas eleições. Nestas, saiu vencedora a coligação pós-eleitoral entre o Partido Social-Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP), liderados, respetivamente, por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
  • 2
    A opção pelo termo “troika” em detrimento de “troica” justifica-se sobretudo pelo fato de ter sido esta a opção nas mais diversas instâncias, nomeadamente no espaço mediático, pelos meios de comunicação, mas também pelos próprios movimentos sociais. Este termo designa o organismo informal que emergiu do BCE (Banco Central Europeu), Comissão Europeia e FMI (Fundo Monetário Internacional) e que era o principal interlocutor com o Governo português.
  • 3
    Sobre a cobertura noticiosa deste conjunto de manifestações, ver: https://bit.ly/3KNWpmq. Acesso em: 11 abr. 2023.
  • 4
    Em relação à utilização de internet em 2010, contabilizava-se 55,1%. Em 2012, eram já 60,3% e, em 2020, cifra-se em 78,3% da população, numa clara tendência de convergência com os congêneres da União Europeia. Tendência similar verifica-se no crescente número de famílias com acesso à internet que, em 2010, se cifrava nos 53,1%, em 2012, em 61%, e, em 2020, 84,5%. Disponível em: https://bit.ly/41m7ctx. Acesso em: 11 abr. 2023.
  • 5
    No total, são 12 dimensões. No contexto desta pesquisa, apenas mencionamos explicitamente duas, que são aquelas que servem de eixos analíticos e que pretendemos operacionalizar.
  • 6
    Documento consultável em: https://bit.ly/3miVLUF.
  • 7
    À data da atualização dos dados relativos às páginas de Facebook dos oito movimentos estudados, verifica-se que o movimento Artigo 21º não se encontra mais nesta rede social digital.
  • 8
    Entrevista realizada ao movimento RiseUp Portugal contou com a presença de dois ativistas do movimento refletindo-se na maior duração.
  • 9
    Não foi possível calcular o número de posts produzidos pelo movimento Artigo 21º uma vez que esta página foi desativada poucos dias após a recolha e análise dos dados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    27 Out 2021
  • Aceito
    27 Jan 2023
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