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ABORDAGEM TERMINOLÓGICO-DISCURSIVA: PELO RESGATE DA TERMINOLOGIA E DA TERMINOGRAFIA NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS PARA FINS ESPECÍFICOS NO CONTEXTO BRASILEIRO

TERMINOLOGICAL-DISCURSIVE APPROACH: FOR THE RESCUE OF TERMINOLOGY AND TERMINOGRAPHY IN THE TEACHING AND LEARNING OF LANGUAGES FOR SPECIFIC PURPOSES IN THE BRAZILIAN CONTEXT

RESUMO

O objetivo do presente texto é apresentar algumas reflexões sobre uma proposta de abordagem para o Ensino e a Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, a fim de resgatar o relevante papel da Terminologia e da Terminografia para o aprendiz dessa modalidade de ensino. A Terminologia tem como marco inicial os anos 30 do século XX, sobretudo a partir da tese de doutoramento do engenheiro austríaco Eugen Wüster. O Ensino de Línguas para Fins Específicos, por sua vez, surge três décadas depois juntamente da Abordagem Comunicativa e se firma na segunda metade do século XX no movimento denominado English for Specific Purpose. Nessa primeira fase, a relação entre as duas áreas era bastante explícita, pois essa modalidade de ensino centrava-se no registro léxico e gramatical próprios da área do aprendiz. Apresentamos breve revisão bibliográfica, a exemplo de Cabré (1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria., 1993CABRÉ, M. T. (1993). La terminología. Teoría, metodología, aplicaciones. Tradução de Carles Tebé. Barcelona: Editorial Antártida/ Empúries.), Barros (2004)BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, Gómez de Enterría (2009)GÓMEZ DE ENTERRÍA, J. G. (2009). El español lengua de especialidad: enseñanza y aprendizaje. Manual de formación de profesores de español 2/L. Madrid: Arco/Libros, S.L., Hutchison e Waters (1987)HUTCHISON, T.; WATERS, A. (1987). English for Specific Purpose: A learning Centered Approach. New York: Cambridge University Press.; Aguirre Beltrán (2012)AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL., Ramos (2019)RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41., Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004DOLZ, J. NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. (2004). Sequência didática para o oral e a escrita: apresentação de procedimento. In: Schneuwly, B.; Dolz, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, p. 95-128.), SWALES, (2009)SWALES, J. M. (2009). Repensando gêneros: uma nova abordagem ao conceito de comunidade discursiva. In: Bezerra, B. G.; Biasi-Rodrigues, B.; Cavalcante, M. M. (orgs.). Gêneros e Sequências Textuais. Recife: EDUPE, p. 197-220., a proposta que ora apresentamos, denominada “Abordagem Terminológico-Discursiva (ATD)”, que possui caráter interdisciplinar, e parte da análise do perfil de dado aprendiz, com necessidades e usos da língua em contextos específicos, nos quais circulam gêneros textuais também específicos. Assim, trazemos alguns princípios da ATD alicerçados em conceitos como “uso das línguas em contextos especializados”; “gêneros textuais especializados” e “competência comunicativo-especializada”. Desse modo, esperamos contribuir para o reavivamento da Terminologia e da Terminografia como ciências que podem contribuir de forma produtiva ao Ensino e à Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos (EALFE).

Palavras-chave:
terminologia; terminografia; uso das línguas em contextos especializados; gêneros textuais especializados; competência comunicativo-especializada; ensino e aprendizagem de línguas para fins específicos

ABSTRACT

The aim of this text is to present some reflections on a proposal for an approach to Language Teaching and Learning for Specific Purposes, in order to rescue the relevant role of Terminology and Terminography for the learner of this type of teaching. The terminology has as its initial point the 1930s of the 20th century, especially from the doctoral thesis of the Austrian engineer Eugen Wüster. The Teaching of Languages for Specific Purposes, in turn, emerged three decades later together with the Communicative Approach and is established itself in the second half of the 20th century in the movement called English for Specific Purpose. In this first phase, the relationship between the two areas was quite explicit, because this teaching modality was centered on the lexical and grammatical record specific to the learner’s area. Through a literature review, such as Cabré (1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria., 1993CABRÉ, M. T. (1993). La terminología. Teoría, metodología, aplicaciones. Tradução de Carles Tebé. Barcelona: Editorial Antártida/ Empúries.), Barros (2004)BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, Gómez de Enterría (2009)GÓMEZ DE ENTERRÍA, J. G. (2009). El español lengua de especialidad: enseñanza y aprendizaje. Manual de formación de profesores de español 2/L. Madrid: Arco/Libros, S.L., Hutchison and Waters (1987)HUTCHISON, T.; WATERS, A. (1987). English for Specific Purpose: A learning Centered Approach. New York: Cambridge University Press.; Aguirre Beltrán (2012)AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL., Ramos (2019)RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41., Dolz; Noverraz and Schneuwly (2004)DOLZ, J. NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. (2004). Sequência didática para o oral e a escrita: apresentação de procedimento. In: Schneuwly, B.; Dolz, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, p. 95-128., we present a proposal, called “Terminological-Discursive Approach (ATD)”, of interdisciplinary character, which starts from the analysis of the learner profile, with needs and uses of the language in specific contexts, in which textual genres that are also specific circulate. Thus, we present some principles of ATD based on concepts such as “use of languages in specialized contexts”; “specialized textual genres” and “communicative-specialized competence”. In this way, we hope to contribute to the “revival” of Terminology and Terminography as sciences that can contribute productively to the Teaching and Learning of Languages for Specific Purposes (EALFE).

Keywords:
terminology; terminography; use of languages in specialized contexts; specialized textual genres; communicativespecialized competence; language teaching and learning for specific purposes

Aos amigos queridos e competentes que revisaram o presente texto e contribuíram, sobremaneira, para essa primeira aproximação à nossa Abordagem Terminológico-Discursiva...1 1 Profa. Dra. Viviane Cristina Poletto Lugli, Profa. Dra. Andréia C. Roder Carmona-Ramirez, Prof. Dr. Renato Rodrigues-Pereira e Prof. Ms. Jean Carlos da Silva Roveri.

INTRODUÇÃO

A Terminologia e a Terminografia, bem como o Ensino e a Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos (doravante EALFE2 2 O termo Ensino é utilizado por vários autores no exterior (ROBINSON, 1980, 1991; DUDLEY-EVANS; ST JOHN, 1998; BASTURKEMEN, 2010; entre outros) e mesmo mais recentemente no Brasil, é empregado como Ensino de Línguas para Fins Específicos (ELFE) (RAMOS, 2019, p. 34). A autora, no entanto, utiliza o termo Línguas para Fins Específicos (LinFE). Neste texto propomos o uso do termo EALFE - Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, que justificaremos mais adiante. ), passaram por transformações tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico ao longo de suas histórias, o que é natural em qualquer área do saber dadas as evoluções do conhecimento e/ou o surgimento de novas áreas. Desse modo, cada momento histórico e seu desenvolvimento científico influenciam as práticas sociais que levam o homem a repensar, entre muitas outras questões, as teorias e respectivas metodologias de ensino.

Com relação ao ensino de línguas, houve, ao longo do tempo, diversas inovações nas abordagens e métodos. Sánchez Pérez (2009SÁNCHEZ PÉREZ, A. (2009). La enseñanza de idiomas en los últimos cien años: Métodos y Enfoques. Madrid: SGEL., p. 22. TN3 3 La historia de la enseñanza de idiomas demuestra que el nacimiento de cada método ha tenido, entre otras fuentes, una de especial importancia: la teoría lingüística vigente en cada época e imperante en los centros académicos. (SÁNCHEZ PÉREZ, 2009, p. 22). ), por exemplo, salienta que “A história do ensino de idiomas demonstra que o nascimento de cada método teve, entre outras fontes, uma de especial importância: a teoria linguística vigente em cada época e imperante nos centros acadêmicos”.

Assim ocorreu no final do século XIX quando houve o que poderíamos denominar de “a primeira grande revolução” no ensino de línguas com o surgimento do Método Direto em detrimento da até então consagrada Abordagem de Gramática e Tradução. Ainda na primeira metade do século XX, por influência do estruturalismo e das pesquisas de Skinner4 4 Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner (Susquehanna, 20 de março de 1904 - Cambridge, 18 de agosto de 1990), foi um psicólogo behaviorista, inventor e filósofo norte-americano. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner). e seu modelo condutivista de formação de hábitos, surge o Método Áudio-oral, ou Áudiolingual, bem como o Áudio-visual, no período da II Guerra Mundial.

Na segunda metade do século XX, outras vertentes teóricas da Linguística e da Psicologia se desenvolveram e mais uma vez há um movimento de renovação no ensino de línguas, influenciado, sobretudo, por teorias sociolinguísticas, interacionistas e cognitivas. É nesse contexto que se desenvolvem os conceitos de Competência Comunicativa, de Abordagem Comunicativa propriamente dita e o EALFE. Esta modalidade de ensino de línguas nasce, portanto, em meio ao movimento de renovação teórico-metodológica no ensino de línguas no qual deixavase, ao menos teoricamente, de olhar para a língua como estrutura e voltava-se o olhar para a língua como meio de comunicação, o que suscitou, também, transformações no campo do ensino para fins específicos, como podemos observação na citação abaixo:

O Ensino da língua para fins específicos surge no final dos anos 60 do século XX com o aparecimento da Abordagem Comunicativa na aprendizagem de línguas estrangeiras. [...]. A evolução em relação com os processos de ensino-aprendizagem implicados neste campo levou a estabelecer uma divisão deste ensino em dois grandes grupos: 1. O Espanhol (Ensino5 5 Tradução e adendos nossos. ) para fins profissionais (EFP) e 2. O Espanhol (Ensino) para fins acadêmicos (EFA)6 6 La enseñanza de la lengua para fines específicos surge a finales de los años 60 del siglo XX con la aparición del enfoque comunicativo en el aprendizaje de lenguas extranjeras. […]. La evolución que ha tenido lugar en las instituciones educativas españolas públicas y privadas en relación con los procesos de enseñanza-aprendizaje implicados en este campo ha llevado a establecer una división de estas enseñanzas en dos grandes grupos: 1. el Español con fines profesionales (EFP) y 2. el Español con fines académicos (EFA). (MARTÍN PERIS, 2008). . (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
).

Com a Terminologia e a Terminografia não foi diferente. Como prática, é inegável a existência dessas áreas muito antes das reflexões teóricas do século XX. Historicamente, o homem sempre teve que lidar com o uso das línguas em contextos especializados (SILVA, 2008SILVA, O. L. da. (2008). Das Ciências do Léxico ao léxico nas Ciências: uma proposta de dicionário português-espanhol de Economia Monetária. Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa. Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara.). Barros (2004BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, p. 28), por exemplo, observa que “A Terminologia é tão antiga quanto a linguagem humana7 7 Barros (2004, p. 29) observa que “A existência de dicionários temáticos monolíngues já é atestada desde 2600 a. C., feitos pelos sumérios em forma de tijolos de argila”. Evidentemente que não se trata nesses casos de dicionários propriamente ditos como os que conhecemos na atualidade. ”. Por mais rudimentares que pudessem parecer, embora não fossem, as atividades agrícolas, pecuárias, de caça, de construção, entre outras, caracterizavam-se como áreas específicas do conhecimento. Lineu (1707-1778), para citar apenas um exemplo já no século XVIII, criou “um sistema universal de nomenclatura binominal” (BARROS, 2004BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, p. 31) para a Botânica e a Zoologia. Assim, é inegável que os usos das línguas em contextos especializados estejam presentes desde o próprio surgimento das línguas, pois onde há língua viva e, evidentemente, falantes dessa língua, há contextos especializados de uso.

A Terminologia e a Terminografia, portanto, fundamentam os estudos teórico-metodológicos sobre as denominadas “línguas especializadas8 8 Sobre termos como este - língua especializada - trataremos mais adiante. ” (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria.; BARROS, 2004BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:; KRIEGER; FINATTO, 2004KRIEGER; M. da G.; FINATTO, M. J. (2004). Introdução à Terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto.) e o EALFE toma (ou deveria tomar) essas “línguas” como um dos pilares para a pesquisa, o ensino e a aprendizagem em contextos especializados. Isso não ocorre, em geral, por vários fatores: primeiramente pelo fato, já constatado em diversas pesquisas (NADIN, 2020NADIN, O. L. (2020). Léxico Especializado e Ensino de Línguas para Fins Específicos: uma intersecção produtiva. In: II CONAEL - Congresso Nacional de Ensino-Aprendizagem de Línguas, Linguística e Literatura e III Jornada de Letras do IFSP, Avaré. Disponível em: https://www.youtube.com/c/conael. Acesso: 18 out. 2021.
https://www.youtube.com/c/conael....
, 2021NADIN, O. L. (2021). Terminologia e Ensino de Línguas para Fins Específicos. In: I Colóquio de Lexicografia, Terminologia e Ensino (I COLETENS). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=w_1awUyQbEY. Acesso: 18 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=w_1awUyQ...
; SILVA JUNIOR, 2019SILVA JÚNIOR, A. F. (Org.). (2019). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores.; NADIN; DE GRANDI, 2019NADIN, O. L.; DE GRANDI, L. (2019). Enseñanza y aprendizaje de Lenguas para Fines Específicos: un puente entre Terminología y Lexicografía Didáctica. In: Moreira, G. L.; Eres Fernándes, G. (org.). Enseñanza de español con fines específicos: el caso de la carrera de Turismo. Teoría y práctica. Madrid: Secretaría General Técnica. Ministerio de Educación y Formación Profesional. Gobierno de España, p. 156-171.; FARIAS, 2013FARIAS S. A. L. S. (2013). Gêneros textuais em livros didáticos: uma análise de duas coleções do ensino médio. Dissertação de Mestrado em Língua e Cultura. Universidade Federal da Bahia, Salvador.), de que disciplinas, leituras, discussões sobre o ensino de línguas direcionados a contextos técnicos e científicos não costumam fazer parte da formação de professores.

São raros, portanto, os cursos de formação de professores no Brasil que contemplam a temática das especificidades dos discursos especializados, menos ainda são as reflexões que articulam tais especificidades ao EALFE e às Ciências do Léxico, em especial com a Terminologia e com a Terminografia. Ante essa constatação, vimos a necessidade de buscar subsídios teóricos e metodológicos que sustentem uma articulação entre as duas Ciências do Léxico em questão e o EALFE (VIVANCO CERVERO, 2006VIVANCO CERVERO, V. (2006). El Español de ciencia y la tecnología. Madrid: Arco/Libros, S.L.; GÓMEZ DE ENTERRÍA, 2009GÓMEZ DE ENTERRÍA, J. G. (2009). El español lengua de especialidad: enseñanza y aprendizaje. Manual de formación de profesores de español 2/L. Madrid: Arco/Libros, S.L.; AGUIRRE BELTRÁN, 2012AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL.; NADIN; DE GRANDI, 2019NADIN, O. L.; DE GRANDI, L. (2019). Enseñanza y aprendizaje de Lenguas para Fines Específicos: un puente entre Terminología y Lexicografía Didáctica. In: Moreira, G. L.; Eres Fernándes, G. (org.). Enseñanza de español con fines específicos: el caso de la carrera de Turismo. Teoría y práctica. Madrid: Secretaría General Técnica. Ministerio de Educación y Formación Profesional. Gobierno de España, p. 156-171.).

Embora reconheçamos que houve diferentes e relevantes tecnologias e usos das línguas em contextos especializados durante todo o período histórico da humanidade, centramo-nos no século XX, fase em que tanto a Terminologia e a Terminografia, quanto o EALFE, passaram por diversas e acentuadas transformações. Na Terminologia, os anos 30 do século XX foram anos de grande efervescência dessa área (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria.; KRIEGER; FINATTO, 2004KRIEGER; M. da G.; FINATTO, M. J. (2004). Introdução à Terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto.; SILVA, 2008SILVA, O. L. da. (2008). Das Ciências do Léxico ao léxico nas Ciências: uma proposta de dicionário português-espanhol de Economia Monetária. Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa. Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara.). Um dos nomes mais representativos desse momento é, indubitavelmente, o do engenheiro austríaco Eugen Wüster (1898-19779 9 Wüster, então estudante na Universidade Técnica de Berlim (Charlottemburg), formou-se em engenharia elétrica e participou do movimento. Defendeu sua tese de doutorado em 1930 na Universidade de Stuttgart (Technische Hochschule), intitulada Internationale Sprachnormung in der Tecknik, que tratava da normalização da linguagem técnica. (BARROS, 2004, p. 53). ), que propôs os princípios do que se conhece por Teoria Geral da Terminologia (TGT10 10 Outro nome importante dessa fase é o de D. S. Lotte (1889-1950), fundador da escola soviética de terminologia. (CABRÉ, 1993). ).

Um dos objetos de descrição e de análises teórica e aplicada da Terminologia e da Terminografia são as unidades léxicas de valor especializado (SILVA, 2008SILVA, O. L. da. (2008). Das Ciências do Léxico ao léxico nas Ciências: uma proposta de dicionário português-espanhol de Economia Monetária. Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa. Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara.) ou, mais comumente conhecidas como “unidades terminológicas” ou “termos técnicos”. Essas unidades são elementos linguísticos que se ativam como elementos próprios das produções orais e escritas dos profissionais das diferentes áreas do conhecimento humano em seus contextos de atuação e/ou formação profissional. Dito de outro modo, as unidades terminológicas são elementos linguístico-discursivos sine qua non dos gêneros textuais/discursivos11 11 Não discutiremos neste texto a existência ou não de diferenças conceituais entre os termos “gêneros textuais” e “gêneros do discurso”. Optamos, neste momento, pelo primeiro. Para mais detalhes sobre esta temática indicamos, por exemplo, Rojo (2005); Lugli (2006) e Farias (2013). (AGUIRRE BELTRÁN, 2012AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL.; LÓPEZ FERRERO; MARTÍN PERÍS, 2013LÓPEZ FERRERO, C.; MARTÍN PERIS, E. (2013). Textos y Aprendizaje de Lenguas. Madrid: SGEL.; entre outros) por meio dos quais profissionais de todas as áreas veiculam seus saberes, como podemos constatar na citação abaixo, referindo-se ao contexto europeu.

Denominamos gêneros a formas de discurso estereotipadas, isto é, fixadas pelo uso e que repetem com relativa estabilidade nas mesmas situações comunicativas. [...]. Na aplicação docente, a aprendizagem de uma L2 a partir dos gêneros discursivos tem já uma tradição no campo do ensino de línguas para fins específicos. (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
. Tradução e grifos nossos12 12 Denominamos géneros a formas de discurso estereotipadas, es decir, que se han fijado por el uso y se repiten con relativa estabilidad en las mismas situaciones comunicativas. Por ello, son formas reconocibles y compartidas por los hablantes, quienes identifican los géneros sobre todo por su formato externo y por el contexto en que se suelen producir; cada género discursivo responde a la necesidad de conseguir de forma satisfactoria una intención comunicativa determinada. [...]. En la aplicación docente, el aprendizaje de una L2 a partir de los géneros discursivos tiene ya una tradición en el campo de la enseñanza de la lengua para fines específicos. Se han llevado a cabo propuestas de programas concretos relacionados con actividades sociales y profesionales determinadas, como la actividad comercial, científica o económica. (MARTÍN PERIS, 2008). ).

Assim, buscamos, no presente texto, articular a Terminologia e a Terminografia ao EALFE com o fito de promover o resgate dessas áreas na sala de aula por meio do que denominamos Abordagem Terminológico-Discursiva (ATD) fundamentada nos conceitos de usos das línguas naturais em contextos especializados; de gêneros textuais especializados; de competência comunicativo-especializada e competência léxico-terminológica. Na primeira seção, traçamos um breve percurso sobre as transformações pelas quais passaram a Terminologia, a Terminografia e o EALFE; na seção seguinte, discutimos o conceito de Fins Específicos para, na terceira seção apresentar nossa proposta de Abordagem para essa modalidade de ensino.

1. POR QUE TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS PARA FINS ESPECÍFICOS?

A pergunta com a qual iniciamos a presente seção tem nos motivado a pensar, nos últimos anos, o porquê de a Terminologia e a Terminografia não serem temas recorrentes no processo de formação de professores de línguas e nas aulas para fins específicos no contexto brasileiro. Esta pergunta nos parece pertinente à medida que observamos que em uma primeira fase do EALFE o foco era justamente no que se denominavam “línguas de especialidade” e, devido ao desenvolvimento das áreas, este olhar para os discursos técnicos e científicos parece ter se perdido ou, ao menos, deixou de ser o foco nos cursos de EALFE. Aguirre Beltrán (2012AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL., p. 1013 13 [...] el concepto de enseñanza-aprendizaje de lenguas con fines específicos adquiere pleno sentido en la segunda mitad del siglo XX, cuando se inició un movimiento pedagógico en el campo de la enseñanza de la lengua inglesa como lengua extranjera que se denominó English for Specific Purposes (ESP). (AGUIRRE BELTRÁN, 2012, p. 10). )esclarece que “o conceito de ensino-aprendizagem de línguas para fins específicos se firma na segunda metade do século XX” e que isso se deu no âmbito do surgimento de um “movimento pedagógico no campo do ensino da língua inglesa como língua estrangeira denominado English for Specific Purposes (ESP)”.

As causas do surgimento do citado movimento, ainda segundo a autora, foi a necessidade do pós-guerra de transmitir conhecimentos relativos ao comércio, à economia, ao fazer científico e técnico de/em diferentes áreas. Constata-se, assim, que o EALFE nasce em seios terminológicos, ou seja, nasce da necessidade de comunicação em contextos profissionais imposta pela realidade mundial do pós-guerra. Isso justifica o fato de que na primeira fase do ensino para fins específicos havia uma relação explícita entre o EALFE e a Terminologia, conforme demonstramos a seguir na Figura 1.

Figura 1
Relação entre Terminologia e Ensino de Línguas para Fins Específicos - 1ª Fase

Nessa primeira fase havia certa convergência entre os interesses do EALFE e a Terminologia. Embora os primeiros trabalhos sobre terminologias já contassem com três décadas de existência, não havia ainda um olhar linguístico para as denominadas “línguas técnicas”, “linguagens especializadas”, “línguas especializadas” etc. Assim, a primeira fase do EALFE focava-se no ensino do léxico entendido como termo técnico.

Partia-se, tanto em uma área quanto na outra, do conceito, com vimos na Figura 1, de “língua especializada (ou de especialidade). Defendia-se que essas “línguas especializadas” não pertenciam a dada língua natural. Isso provocava a falsa ideia de que um falante de inglês, por exemplo, quando investido de profissional, passava a usar em seu ambiente de trabalho “uma espécie de outra língua”, uma língua padronizada, sem variação, sem polissemia, sem qualquer ruído que pudesse causar algum tipo de dificuldade no entendimento. A “língua de especialidade” estaria à parte da língua natural, constituída por termos e conceitos, considerada monorreferencial, ou seja, para cada conceito havia somente um termo que o denominava.

A compreensão de que essas “línguas” são, na verdade, usos especializados das línguas naturais surge, de forma sistematizada, a partir do final dos anos 80 e, sobretudo, nos anos 90 (GAUDIN, 1993GAUDIN, F. (1993). Socioterminologie: des problèmes semantiques aux pratiques institutionnelles. Rouen, Publications de l’Université de Rouen.; CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria.). Talvez por isso, o EALFE tenha se distanciado, no Brasil e em dados aspectos, dos princípios teórico-metodológicos da Terminologia e da Terminografia que estavam se desenvolvendo por meio de uma visão mais linguística fundamentados, por exemplo, em teorias sociolinguísticas, comunicativas e cognitivas.

Nos anos 90 do século XX, portanto, desenvolvem-se novos paradigmas de estudos terminológicos de orientações de cunho linguístico social, comunicativo, variacionista, textual, cultural, cognitivo etc. dos estudos terminológicos que, no nosso entendimento, poderiam ter contribuído ao desenvolvimento do EALFE. Entretanto, no contexto brasileiro, nota-se que as áreas seguem caminhos diferentes: uma focada na descrição, e não somente na prescrição, das “línguas especializadas”, a fim de compreender o funcionamento dessas “línguas” em contextos de usos das línguas naturais, como parte destas e, a outra, centra-se no aprendiz, voltando-se para a análise da situação meta, para as habilidades e correspondentes estratégias e, conforme Hutchinson e Waters (1987), para uma abordagem centrada na aprendizagem. Na Figura 2, ilustramos como as áreas em questão foram se distanciando no decorrer da segunda metade do século XX.

Figura 2
A Terminologia15 15 Com relação aos novos paradigmas teórico-metodológicos da pesquisa em Terminologia e Terminografia surgidos a partir dos anos 90 do século XX e mencionados nesta figura, citamos, a título de exemplo, a Socioterminologia (GAUDIN, 1993, 2003; FAULSTICH, 1995); a Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1999) e a Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TEMMERMAN, 2000). , a Terminografia e o Ensino e a Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos: diferentes fases, diferentes caminhos

Frente ao exposto e a par da pergunta que nos serve de título desta seção -Por que Terminologia e Terminografia no Ensino e na Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos?- entendemos que as respostas devem considerar os seguintes aspectos:

  • somos falantes de uma ou mais línguas naturais e nos adequamos segundo nossas necessidades de comunicação;

  • o falante não se “veste de profissional” e fala outra língua, mas adequa seu registro para a comunicação em seu ambiente de trabalho;

  • as “línguas especializadas” são, na verdade, usos das línguas naturais em contextos especializados.

Isso nos faz compreender que não existem “línguas especializadas”, mas sim “usos em contextos especializados”. Assim, o conceito de “línguas de especialidade” cede lugar a um conceito mais abrangente, o de “usos das línguas naturais em contextos especializados”, ou seja, não é a língua que é especializada, mas sim os contextos acadêmicos, técnicos, científicos, artesanais, culturais etc., nos quais o falante está inserido como profissional em formação ou em atuação. A partir desse entendimento, que não é novo haja vista todas as reflexões desenvolvidas no âmbito da Terminologia nos anos 90 do século XX, retomamos (ou realinhamos) a relação que havia entre a Terminologia e o EALFE. Dessa forma, restituímos à Terminologia e à Terminografia um papel de maior protagonismo nos processos de ensino e de aprendizagem em/para contextos especializados por meio de diferentes visões linguísticas para o uso das línguas em contextos especializados e o ensino desses usos em língua materna e/ou estrangeiras.

Se a “língua de especialidade” não é uma língua à parte, se são usos das línguas naturais em contextos especializados, há uma inquestionável relação direta entre o EALFE e as ciências Terminologia e Terminografia, pois o EALFE é o ensino de línguas de/para contextos acadêmicos, técnicos e científicos segundo as necessidades de comunicação dos aprendizes, futuros profissionais ou profissionais atuantes, “vestidos de suas profissões”. Assim, é possível repensar o lugar da Terminologia e da Terminografia no EALFE, cujos aprendizes possuem necessidades específicas para se comunicar em situações e contextos também específicos.

2. O QUE SIGNIFICARIA, ENTÃO, O ADJETIVO “ESPECÍFICO” NO CONTEXTO DE ENSINO DE LÍNGUAS?

Existe, na literatura da área, muitas terminologias para denominar o tipo de curso de língua que busca atender às necessidades do aprendiz em contextos técnico e/ou científico. Essa diversidade terminológica provoca, de certo modo, alguns equívocos e determinados “mitos”, usando aqui o termo “mito” conforme Ramos (2019)RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41.. No quadro 1, apresentamos algumas dessas possibilidades de denominação que, no nosso entendimento, possuem relações semânticas, sobretudo, de sinonímia, antonímia e hiperonímia/hiponímia.

Podemos supor, por exemplo, que os termos Inglês (Línguas16 16 Adendos nossos. ) para Fins Acadêmicos Gerais e Inglês (Línguas) para Fins Acadêmicos Específicos denominam modalidades de cursos que, no primeiro caso, abrange uma grande área do conhecimento como o Inglês para os Negócios, por exemplo, que incluem diferentes áreas do saber como Economia, Administração, Direito etc. e, no segundo, foca-se em uma área específica, como a Economia. Do mesmo modo, podemos entender em determinados contextos Inglês (Línguas) para Fins Acadêmicos em relação de sinonímia com Inglês (Línguas) para Fins Educacionais.

Quadro 1
Algumas terminologias empregadas para denominar o Ensino de Línguas para Fins Específicos17 17 Em todos os casos onde se lê “English for.../Inglês para”, pode se ler “Language for.../Línguas para...” ou, ainda, substituir “English/Inglês” pela língua objeto de estudo.

Independente da terminologia utilizada, o fato é que cursos como estes se diferem dos cursos gerais de línguas, tais como os oferecidos na educação básica, em escolas de idiomas etc., fundamentalmente por partir das necessidades impostas pelos contextos técnico e/ou científico no(s) qual/quais o aprendiz está inserido, seja como estudante, seja como profissional. Ditos contextos possuem usos característicos da(s) área(s) em questão que se materializam por meio de gêneros textuais específicos. Dessa forma, entende-se que os discursos especializados são concretizados por meio de gêneros textuais, com textos de diferentes níveis de especialidade, cujo uso da língua se atualiza como especializado. Ramos (2019RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41., p. 38) observa que os profissionais de LinFE defendem que o termo “específico”,

[...] frente às novas demandas, precisa ser pensado à luz da(s) seguinte(s) indagação (ções18 18 Adendos nossos. ): Que específico queremos/precisamos? Baseado em pessoas específicas? Áreas? Habilidades Comunicativas? Tarefas? Discursos? Registros? Gêneros? O segundo é: Queremos um curso de natureza geral ou aquele que possa atender às necessidades de nossos alunos, a de profissionais e às exigências que despontam em sociedade?

Como dito anteriormente, o perfil do aprendiz e suas necessidades são a primeira peça da engrenagem a partir da qual verificar-se-ão a área do conhecimento para a qual o curso será pensado, o nível de conhecimento do aprendiz na língua objeto de estudo (materna e/ou estrangeira), os gêneros textuais característicos de dita área etc.

Nesse cenário, destacamos os estudos sobre gêneros textuais e a Linguística de Corpus que contribuem, sobremaneira, a essa modalidade de ensino. A partir de um olhar sobre o uso especializado da língua natural, consolidado nos gêneros textuais de diferentes níveis de especialidade, a Terminologia e a Terminografia cumprem papel imprescindível para o desenvolvimento das habilidades comunicativas do aprendiz, o que denominamos competência léxico-terminológica e competência comunicativo-especializada.

Assim, propomos um ensino na modalidade para fins específicos, que parte das necessidades dos aprendizes como já se estabelece em outras propostas como o LinFe, por exemplo, mas restituindo o vínculo com a Terminologia e a Terminografia em suas diferentes vertentes (Terminodidática, BARBOSA, 2009BARBOSA, M. A. (2009). Terminodidática: recortes epistemológicos e funções pedagógicas. Acta Semiótica et Lingvistica. v. 14, nº 1. Sociedade Brasileira de Professores de Linguística. p. 58-71. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/actas/article/view/14618. Acesso em: 10 set. 2021.
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.ph...
); Terminologia Pedagógica (MONZÓN, 2017MONZÓN, A. J. B. (2017). Terminologia do inglês da Ciência da Computação e seus desdobramentos em cursos técnicos e tecnológicos de Informática dos Institutos Federais. Doutorado em Letras. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.; FRIEDRICH, 2019FRIEDRICH, M. A. (2019). Glossário em Libras: uma Proposta de Terminologia Pedagógica (Português-Libras) no Curso de Administração da UFPel. Dissertação de Mestrado em Letras Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.); Terminografia Pedagógica (FROM, 2020FROMM, G. (2020). Por uma Terminografia Pedagógica. Estudos Linguísticos, no. 49 (2). São Paulo, p. 761-776.); entre outras possibilidades).

Nossa proposta parte do conceito de “usos das línguas naturais em contextos especializados” e pode fundamentar-se em qualquer uma das teorias de vertente linguística da Terminologia. Na seção seguinte, apresentamos nossa primeira aproximação à ATD para o EALFE considerando os processos de ensino e de aprendizagem do uso das línguas em/para contextos especializados. Isso justifica as terminologias que propomos: Abordagem TerminológicoDiscursiva (ATD) e Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos (EALFE).

3. PROPOSTA DE ABORDAGEM TERMINOLÓGICO-DISCURSIVA (ATD) PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS PARA FINS ESPECÍFICOS (EALFE)

Com base no apresentado nas seções anteriores, por meio de visões linguística, comunicativa e social dos estudos terminológicos, buscamos promover uma interação entre os gêneros textuais especializados, o EALFE e áreas técnicas ou científicas. Essa interação poderá contribuir, sobremaneira, tanto para atender mais efetivamente as necessidades dos aprendizes, quanto para resgatar a importância da Terminologia e da Terminografia no contexto de ensino, pois, como se afirma no Diccionario de términos clave de ELE (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
, s/p19 19 Al ser la competencia comunicativa el objetivo de aprendizaje, el estudio de la lengua para fines específicos se plantea a partir de los géneros discursivos (orales o escritos) propios de cada campo profesional o académico abordado; el trabajo con textos auténticos facilita el conocimiento de los usos lingüísticos reales que caracterizan cada situación de comunicación especializada. La descripción global (función comunicativa, relación entre los interlocutores, partes del discurso, etc.) y local (sintaxis, morfología, fraseología, terminología, etc.) del uso de la lengua se enmarca en cada clase de texto particular (informe económico, negociación comercial, entrevista laboral, currículum vitae, monografía académica, etc.). Se considera además objeto de aprendizaje la « cultura profesional» a la que pertenece la lengua de estudio. Cuestiones como el comportamiento y la actitud de los profesionales ante diversas situaciones cotidianas (saludos, invitaciones, desacuerdos, turnos de habla en una negociación, código gestual, etc.) se aprenden en cada contexto de especialidad, con unas normas de interacción y mediación propias. (MARTÍN PERIS, 2008, sp). ):

Por ser a competência comunicativa o objetivo da aprendizagem, o estudo da língua para fins específicos se propõe a partir dos gêneros discursivos (orais ou escritos20 20 Denominamos géneros a formas de discurso estereotipadas, es decir, que se han fijado por el uso y se repiten con relativa estabilidad en las mismas situaciones comunicativas. Por ello, son formas reconocibles y compartidas por los hablantes, quienes identifican los géneros sobre todo por su formato externo y por el contexto en que se suelen producir; cada género discursivo responde a la necesidad de conseguir de forma satisfactoria una intención comunicativa determinada. Son los géneros discursivos los que distinguen una carta comercial, de un sermón, una noticia periodística, una receta, una conferencia, un brindis, un contrato o una entrevista radiofónica, por ejemplo. (MARTÍN PERIS, 2008). ) próprios de cada campo profissional ou acadêmico abordado; o trabalho com textos autênticos promove o conhecimento dos usos linguísticos reais que caracterizam cada situação de comunicação especializada. A descrição global (função comunicativa, relação entre os interlocutores, partes do discurso etc.) e local (sintaxe, morfologia, fraseologia, terminologia etc.) do uso da língua se faz presente em cada aula por meio de texto particular (informe econômico, negociação comercial, entrevista de trabalho, currículum vitae, monografia acadêmica etc.). Considera-se, ademais, a “cultura profissional” à qual pertence a língua de estudo. Questões como o comportamento e a atitude dos profissionais diante de situações diversas, cotidianas (saudações, convites, desacordos, pedir/ter a palavra em uma negociação, código gestual etc.) se aprendem em cada contexto de especialidade, com normas de interação e mediação próprias. [...].

Pensando nesse “resgate” e na interação entre a Terminologia, a Terminografia e o EALFE, com base na definição que nos proporciona o Diccionario de términos clave de ELE (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
), propomos a ATD, cuja definição apresentamos no Quadro 3 a seguir:

Quadro 2
Definição de Abordagem Terminológico-Discursiva

Nota-se, pela definição apresentada, que a ATD se caracteriza por ser uma Abordagem interdisciplinar, por partir do conceito de gêneros textuais característicos da área de conhecimento à qual pertence o aluno como profissional ou como aprendiz. Isso tem implicações na prática docente, pois se o grupo de alunos é formado por advogados atuantes, por exemplo, ter-se-á um grupo que já possui os conceitos da disciplina em língua materna e necessitam aprender os conceitos na língua estrangeira. Este tipo de aprendiz já possui as competências léxicoterminológica e comunicativo-especializada na língua materna. É diferente de um grupo de alunos do curso de Direito, da Administração, da Economia etc., que, em geral, ao mesmo tempo necessita aprender os conceitos de sua futura área de atuação na língua materna e em língua estrangeira, não raras vezes simultaneamente ao aprendizado da própria língua estrangeira.

Entendemos a ATD, metaforicamente, como uma engrenagem na qual se parte de um perfil do aprendiz, considerando, sobretudo:

  • suas necessidades de comunicação no contexto especializado;

  • a área de conhecimento na qual o aprendiz está inserido em sua atuação e/ou formação;

  • o contexto de ensino - escola técnica, empresa, faculdade, cursos particulares etc.;

  • a língua materna do aprendiz e o nível de conhecimento léxico-terminológico e comunicativo-especializado que possui em língua materna.

No primeiro caso, o das necessidades, contribui para se definir, por exemplo, qual/quais habilidade(s) (compreensão leitora, compreensão auditiva, produção oral e produção escrita21 21 Esclarecemos, no entanto, que nossa proposta de Abordagem, embora parta das necessidades do aprendiz, é bastante flexível para dar prioridade à habilidades indicadas por eles, ou para criar situações nas quais se promovam o desenvolvimento de duas ou de todas elas se isso não for um dos indicativos das necessidades dos aprendizes. )o aprendiz precisa desenvolver como prioridade; no segundo, a área de conhecimento, determinam-se os gêneros textuais característicos a partir dos quais esse aprendiz irá interagir em seu ambiente profissional (atual ou futuro); o contexto de ensino, terceiro aspecto, é fundamental para determinar tanto a questão anterior referente aos gêneros textuais, quanto o quarto item que diz respeito ao nível (ou níveis) de competência comunicativo-especializada dos aprendizes.

Desse modo, a compreensão do conceito de “usos das línguas em contextos especializados” é determinante para se identificar as necessidades dos aprendizes e os possíveis gêneros textuais com os quais eles lidam/lidarão em seu cotidiano profissional. Isso promoverá a interação entre a Terminologia, a Terminografia e o EALFE.

Defendemos, portanto, que a Terminologia e a Terminografia, aliadas à abordagem dos gêneros textuais e às contribuições das demais Ciências do Léxico22 22 Como a Lexicologia, a Lexicografia, a Fraseologia, a Fraseografia, entre outras, sobretudo em suas vertentes didático-pedagógicas como a Lexicografia Pedagógica, a Terminografia Didática ou a Fraseodidática, por exemplo. , constituem um frutífero caminho para o EALFE. Assim, os elementos básicos que constituem a ATD são:

  1. o foco nas necessidades do aprendiz;

  2. a área de formação e/ou atuação do aprendiz;

  3. o contexto de ensino - escola técnica, tecnológica, cursos de bacharelado, aulas particulares, alunos em formação, profissionais já atuantes na área de conhecimento em questão etc.;

  4. as teorias e as práticas de ensino e de aprendizagem de línguas, aliadas às epistemologias da Terminologia e da Terminografia e;

  5. e conceito de gêneros textuais especializados e as abordagens de ensino por meio de gêneros.

Na Figura 6, ilustramos como poderia funcionar essa engrenagem e, considerando que, como qualquer engrenagem, não há primazia de um elemento sobre o outro. Os diferentes conhecimentos devem girar em sintonia, contribuindo, desse modo, para que o aprendiz possa avançar em seu conhecimento linguístico, técnico e/ou científico de forma mais efetiva.

Figura 3
Engrenagem da Abordagem Terminológico-Discursiva (ATD)

Outro aspecto primordial desta modalidade de ensino é a formação de professores de línguas nas Ciências do Léxico para que estes possam ter maior consciência dos usos especializados das línguas naturais, o que pode contribuir para que tenham maior flexibilidade para trabalhar de forma interdisciplinar com os professores das áreas especializadas. Por essa razão, é urgente a inclusão de disciplinas relativas às Ciências do Léxico nos cursos de formação inicial e/ou continuada de professores de línguas, contemplando, evidentemente, os professores de língua materna. Este, no entanto, é tema para outro trabalho.

Na seguinte e última seção destas primeiras ponderações sobre a ATD, tecemos algumas reflexões a modo de conclusão.

ALGUMAS REFLEXÕES A MODO DE CONCLUSÃO

Considerando os objetivos deste texto, assim como a pergunta que nos serviu de título à seção 2 - Por que Terminologia e Terminografia no Ensino e na Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos? -, a resposta pode parecer óbvia. No entanto, parece-nos que a crença de que os discursos especializados eram línguas à parte da língua natural, sem as intempéries normais de qualquer língua, afastou estas duas áreas que tanto se complementam. Uma primeira resposta poderia ser o fato de que o EALFE nada mais é que o ensino do “uso” da língua em contextos especializados e, por essa razão, não pode prescindir das reflexões teórico-metodológicas da Terminologia e da Terminografia.

Ademais, trata-se de um ensino direcionado a um aprendiz específico, com necessidades específicas e uso(s) da(s) língua(s) em contextos também específicos. Partimos, para estas afirmações, do princípio já consagrado na literatura da Terminologia e da Terminografia de vertentes linguística, comunicativa, variacionista, cultural, cognitiva etc. de que não existem línguas de especialidade, mas usos das línguas em contextos especializados. Isso nos leva ao fato de que a princípio não existem termos propriamente ditos, mas sim unidades léxicas da língua natural que podem se realizar como palavras em contextos de uso comum da língua ou como termos de uma determinada área do conhecimento, ou seja, em contextos de uso especializado. Os discursos, materializados pelos diferentes gêneros textuais orais e escritos de diferentes níveis de especialidade são, portanto, o habitat natural das terminologias (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria.).

Cada área do conhecimento apropria-se de (e às vezes compartilham) gêneros textuais e um conjunto de unidades léxicas, fraseológicas, estruturas sintáticas etc. da língua para expressar seus saberes. A terminologia de dada área do conhecimento, portanto, é o reflexo da (e reflete a) organização conceitual dessa área e é por meio dessa terminologia que se comunicam e se propagam os conhecimentos ou, nas palavras de Almeida (2000ALMEIDA, G. M. de B. (2000). Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT). Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa). Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara., p. 25):

a função precípua do sistema lexical de uma língua natural é nomear o mundo, e o mundo inclui as ciências e as técnicas. Portanto, expressar o mundo sem Terminologia não é expressar o mundo completo”. E, evidentemente, “o mundo completo” inclui a sala de aula de EALFE.

  • 1
    Profa. Dra. Viviane Cristina Poletto Lugli, Profa. Dra. Andréia C. Roder Carmona-Ramirez, Prof. Dr. Renato Rodrigues-Pereira e Prof. Ms. Jean Carlos da Silva Roveri.
  • 2
    O termo Ensino é utilizado por vários autores no exterior (ROBINSON, 1980, 1991ROBINSON, P. (1991). ESP Today: a practitioner’s guide. UK. Prentice Hall International.; DUDLEY-EVANS; ST JOHN, 1998DUDLEY-EVANS; ST JOHN (1998). Developments in English for Specific Purposes. A multidisciplinary approach. Cambridge: Cambridge University Press.; BASTURKEMEN, 2010BASTURKEMEN, H. (2010). Developing Courses in English for Specific Purposes. Reino Unido: PalgraveMacmillan.; entre outros) e mesmo mais recentemente no Brasil, é empregado como Ensino de Línguas para Fins Específicos (ELFE) (RAMOS, 2019RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41., p. 34). A autora, no entanto, utiliza o termo Línguas para Fins Específicos (LinFE). Neste texto propomos o uso do termo EALFE - Ensino e Aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, que justificaremos mais adiante.
  • 3
    La historia de la enseñanza de idiomas demuestra que el nacimiento de cada método ha tenido, entre otras fuentes, una de especial importancia: la teoría lingüística vigente en cada época e imperante en los centros académicos. (SÁNCHEZ PÉREZ, 2009SÁNCHEZ PÉREZ, A. (2009). La enseñanza de idiomas en los últimos cien años: Métodos y Enfoques. Madrid: SGEL., p. 22).
  • 4
    Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner (Susquehanna, 20 de março de 1904 - Cambridge, 18 de agosto de 1990), foi um psicólogo behaviorista, inventor e filósofo norte-americano. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Burrhus_Frederic_Skinner).
  • 5
    Tradução e adendos nossos.
  • 6
    La enseñanza de la lengua para fines específicos surge a finales de los años 60 del siglo XX con la aparición del enfoque comunicativo en el aprendizaje de lenguas extranjeras. […]. La evolución que ha tenido lugar en las instituciones educativas españolas públicas y privadas en relación con los procesos de enseñanza-aprendizaje implicados en este campo ha llevado a establecer una división de estas enseñanzas en dos grandes grupos: 1. el Español con fines profesionales (EFP) y 2. el Español con fines académicos (EFA). (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
    https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
    ).
  • 7
    Barros (2004BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, p. 29) observa que “A existência de dicionários temáticos monolíngues já é atestada desde 2600 a. C., feitos pelos sumérios em forma de tijolos de argila”. Evidentemente que não se trata nesses casos de dicionários propriamente ditos como os que conhecemos na atualidade.
  • 8
    Sobre termos como este - língua especializada - trataremos mais adiante.
  • 9
    Wüster, então estudante na Universidade Técnica de Berlim (Charlottemburg), formou-se em engenharia elétrica e participou do movimento. Defendeu sua tese de doutorado em 1930 na Universidade de Stuttgart (Technische Hochschule), intitulada Internationale Sprachnormung in der Tecknik, que tratava da normalização da linguagem técnica. (BARROS, 2004BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia. Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:, p. 53).
  • 10
    Outro nome importante dessa fase é o de D. S. Lotte (1889-1950), fundador da escola soviética de terminologia. (CABRÉ, 1993CABRÉ, M. T. (1993). La terminología. Teoría, metodología, aplicaciones. Tradução de Carles Tebé. Barcelona: Editorial Antártida/ Empúries.).
  • 11
    Não discutiremos neste texto a existência ou não de diferenças conceituais entre os termos “gêneros textuais” e “gêneros do discurso”. Optamos, neste momento, pelo primeiro. Para mais detalhes sobre esta temática indicamos, por exemplo, Rojo (2005)ROJO, R. H. R. (2005). Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: Meurer, J. L.; Bonini, A.; Motta-Roth, D. (org.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola1, p. 184-207.; Lugli (2006)LUGLI, V. C. P. (2006). Os gêneros textuais no ensino de espanhol: análise de uma coleção de livros didáticos de E/LE. Dissertação de Mestrado em Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Londrina, Londrina. e Farias (2013)FARIAS S. A. L. S. (2013). Gêneros textuais em livros didáticos: uma análise de duas coleções do ensino médio. Dissertação de Mestrado em Língua e Cultura. Universidade Federal da Bahia, Salvador..
  • 12
    Denominamos géneros a formas de discurso estereotipadas, es decir, que se han fijado por el uso y se repiten con relativa estabilidad en las mismas situaciones comunicativas. Por ello, son formas reconocibles y compartidas por los hablantes, quienes identifican los géneros sobre todo por su formato externo y por el contexto en que se suelen producir; cada género discursivo responde a la necesidad de conseguir de forma satisfactoria una intención comunicativa determinada. [...]. En la aplicación docente, el aprendizaje de una L2 a partir de los géneros discursivos tiene ya una tradición en el campo de la enseñanza de la lengua para fines específicos. Se han llevado a cabo propuestas de programas concretos relacionados con actividades sociales y profesionales determinadas, como la actividad comercial, científica o económica. (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
    https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
    ).
  • 13
    [...] el concepto de enseñanza-aprendizaje de lenguas con fines específicos adquiere pleno sentido en la segunda mitad del siglo XX, cuando se inició un movimiento pedagógico en el campo de la enseñanza de la lengua inglesa como lengua extranjera que se denominó English for Specific Purposes (ESP). (AGUIRRE BELTRÁN, 2012AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos. Madrid: SGEL., p. 10).
  • 14
    No Brasil, o Ensino de Línguas para Fins Específicos teve início nos anos 70 do século XX por meio do Projeto Nacional Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras (RAMOS, 2019RAMOS, R. de C. G. (2019). De Instrumental a LinFE: percursos equívocos da área no Brasil. In: Silva Júnior, A. F. (org.). Línguas para Fins Específicos: revisitando conceitos e práticas. Campinas: Pontes Editores, p. 23-41., p. 29).
  • 15
    Com relação aos novos paradigmas teórico-metodológicos da pesquisa em Terminologia e Terminografia surgidos a partir dos anos 90 do século XX e mencionados nesta figura, citamos, a título de exemplo, a Socioterminologia (GAUDIN, 1993GAUDIN, F. (1993). Socioterminologie: des problèmes semantiques aux pratiques institutionnelles. Rouen, Publications de l’Université de Rouen., 2003GAUDIN, F. (2003). Socioterminologie: une approche sociolinguistique de la terminologia. Bruxelas: De Boeck & Larcier S.A.; FAULSTICH, 1995FAULSTICH, E. (1995). Base metodológica para pesquisa em socioterminologia. Termo e variação. Brasília, Universidade de Brasília / LIV.); a Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1999CABRÉ, M. T. (1999). La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Girona: Documenta Universitaria.) e a Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TEMMERMAN, 2000TEMMERMAN, R. (2000). Towards New Ways of Terminology Description: the sociocognitive approach. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins.).
  • 16
    Adendos nossos.
  • 17
    Em todos os casos onde se lê “English for.../Inglês para”, pode se ler “Language for.../Línguas para...” ou, ainda, substituir “English/Inglês” pela língua objeto de estudo.
  • 18
    Adendos nossos.
  • 19
    Al ser la competencia comunicativa el objetivo de aprendizaje, el estudio de la lengua para fines específicos se plantea a partir de los géneros discursivos (orales o escritos) propios de cada campo profesional o académico abordado; el trabajo con textos auténticos facilita el conocimiento de los usos lingüísticos reales que caracterizan cada situación de comunicación especializada. La descripción global (función comunicativa, relación entre los interlocutores, partes del discurso, etc.) y local (sintaxis, morfología, fraseología, terminología, etc.) del uso de la lengua se enmarca en cada clase de texto particular (informe económico, negociación comercial, entrevista laboral, currículum vitae, monografía académica, etc.). Se considera además objeto de aprendizaje la « cultura profesional» a la que pertenece la lengua de estudio. Cuestiones como el comportamiento y la actitud de los profesionales ante diversas situaciones cotidianas (saludos, invitaciones, desacuerdos, turnos de habla en una negociación, código gestual, etc.) se aprenden en cada contexto de especialidad, con unas normas de interacción y mediación propias. (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
    https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
    , sp).
  • 20
    Denominamos géneros a formas de discurso estereotipadas, es decir, que se han fijado por el uso y se repiten con relativa estabilidad en las mismas situaciones comunicativas. Por ello, son formas reconocibles y compartidas por los hablantes, quienes identifican los géneros sobre todo por su formato externo y por el contexto en que se suelen producir; cada género discursivo responde a la necesidad de conseguir de forma satisfactoria una intención comunicativa determinada. Son los géneros discursivos los que distinguen una carta comercial, de un sermón, una noticia periodística, una receta, una conferencia, un brindis, un contrato o una entrevista radiofónica, por ejemplo. (MARTÍN PERIS, 2008MARTÍN PERÍS, E. et. al. (2008). Diccionario de términos clave de ELE. Centro Virtual Cervantes. Disponível https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/default.htm. Acesso em: 10 set. 2021.
    https://cvc.cervantes.es/ensenanza...
    ).
  • 21
    Esclarecemos, no entanto, que nossa proposta de Abordagem, embora parta das necessidades do aprendiz, é bastante flexível para dar prioridade à habilidades indicadas por eles, ou para criar situações nas quais se promovam o desenvolvimento de duas ou de todas elas se isso não for um dos indicativos das necessidades dos aprendizes.
  • 22
    Como a Lexicologia, a Lexicografia, a Fraseologia, a Fraseografia, entre outras, sobretudo em suas vertentes didático-pedagógicas como a Lexicografia Pedagógica, a Terminografia Didática ou a Fraseodidática, por exemplo.

REFERÊNCIAS

  • AGUIRRE BELTRÁN, B. (2012) Aprendizaje y Enseñanza de Español con Fines Específicos Madrid: SGEL.
  • ALMEIDA, G. M. de B. (2000). Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT) Tese de Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa). Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara.
  • BARBOSA, M. A. (2009). Terminodidática: recortes epistemológicos e funções pedagógicas. Acta Semiótica et Lingvistica v. 14, nº 1. Sociedade Brasileira de Professores de Linguística. p. 58-71. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/actas/article/view/14618 Acesso em: 10 set. 2021.
    » https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/actas/article/view/14618/14618
  • BARROS, L. A. (2004). Curso Básico de Terminologia Acadêmica 54. São Paulo: EdUSP:
  • BASTURKEMEN, H. (2010). Developing Courses in English for Specific Purposes Reino Unido: PalgraveMacmillan.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2022

Histórico

  • Recebido
    24 Nov 2021
  • Aceito
    19 Jan 2022
  • Publicado
    11 Fev 2022
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