Acessibilidade / Reportar erro

Oficinas com professores: educação em saúde para o manejo com adolescentes

Resumos

OBJETIVO: Descrever a experiência vivida durante a execução de um projeto de extensão, que utilizou o cenário de uma escola municipal de Uberaba-MG. MÉTODOS: Relato de experiência, utilizando estratégias de educação em saúde, focadas na realização de oficinas com professores do Ensino Fundamental. RESULTADOS: Realizaram-se sete encontros com 30 professores dos três turnos escolares, buscando no primeiro momento o vínculo e o diagnóstico da situação. Em outras cinco sessões, foram trabalhadas as temáticas consideradas como necessárias aos docentes e, no último encontro, foi apresentado um estudo de caso, o que possibilitou a verificação do aprendizado. CONCLUSÃO: Apesar das dificuldades técnicas, estruturais e humanas apresentadas, a riqueza das discussões suscitadas e o relato dos professores, comprovaram o sucesso do projeto, alcançando um valor de caráter social e intervencionista.

Docentes; Adolescente; Sexualidade; Educação em saúde


OBJECTIVE: To describe the experience during the execution of an extension project, which used a municipal school setting in Uberaba-MG. METHODS: Experience report using health education strategies, focused on workshops with teachers ofElementary School. RESULTS: We conducted seven meetings with 30 teachers from the three school shifts, initially seeking connection and situational diagnosis. In five other sessions we worked with the themes teachers considered to be the necessities, and in the last encounter we presented a case study that allowed verification of learning. CONCLUSION: Despite technical, structural and human difficulties, the richness of the discussions raised and the reports from teachers, confirmed the success of the project, reaching the value of a social and interventionist character.

Faculty; Adolescents; Sexuality; Health Education


OBJETIVO: Describir la experiencia vivida durante la ejecución de un proyecto de extensión, en el que se utilizó el escenario de una escuela municipal de Uberaba-MG. MÉTODOS: Relato de experiencia, utilizando estrategias de educación en salud, centralizadas en la realización de talleres con profesores de Enseñanza Fundamental. RESULTADOS: Se realizaron siete encuentros con 30 profesores de los tres turnos escolares, buscando en el primer momento el vínculo y el diagnóstico de la situación. En otras cinco sesiones, fueron trabajadas las temáticas consideradas como necesarias para los docentes y, en el último encuentro, se presentó un estudio de caso, el que posibilitó la verificación del aprendizaje. CONCLUSIÓN: A pesar de las dificultades técnicas, estructurales y humanas presentadas, la riqueza de las discusiones suscitadas y el relato de los profesores, comprobaron el éxito del proyecto, alcanzando un valor de carácter social e intervencionista.

Docentes; Adolescente; Sexualidad; Educación en salud


ARTIGOS DE EXPERIÊNCIA

Oficinas com professores: educação em saúde para o manejo com adolescentes

IPós-graduando (Mestrado) em Ciências da Saúde pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo – IAMSPE – São Paulo (SP), Brasil; Professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, Minas Gerais, Brasil

IIEnfermeira da UNIMED – Uberaba (MG) Brasil

IIIPós-Doutorado em Serviço Social. Professor do Curso de Graduação em Enfermagem e do Programa de Mestrado em Atenção à Saúde, Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. – Uberaba (MG), Brasil

IVPós-graduando (Mestrado) em Ciências da Saúde pelo pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo – IAMSPE – São Paulo (SP), Brasil; . Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba (MG), Brasil

VDoutora em Enfermagem. Coordenadora de Publicações da Rede de Hospitais São Camilo – São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência

RESUMO

OBJETIVO: Descrever a experiência vivida durante a execução de um projeto de extensão, que utilizou o cenário de uma escola municipal de Uberaba-MG.

MÉTODOS: Relato de experiência, utilizando estratégias de educação em saúde, focadas na realização de oficinas com professores do Ensino Fundamental.

RESULTADOS: Realizaram-se sete encontros com 30 professores dos três turnos escolares, buscando no primeiro momento o vínculo e o diagnóstico da situação. Em outras cinco sessões, foram trabalhadas as temáticas consideradas como necessárias aos docentes e, no último encontro, foi apresentado um estudo de caso, o que possibilitou a verificação do aprendizado.

CONCLUSÃO: Apesar das dificuldades técnicas, estruturais e humanas apresentadas, a riqueza das discussões suscitadas e o relato dos professores, comprovaram o sucesso do projeto, alcançando um valor de caráter social e intervencionista.

Descritores: Docentes; Adolescente; Sexualidade; Educação em saúde

INTRODUÇÃO

A adolescência é um dos estágios mais marcantes do desenvolvimento humano, perpetrada por uma fase de indefinição e transição, manifestada por crescimento e desenvolvimento físico intenso, acompanhada de alterações fisiológicas, psicológicas e sociais(1). No percurso destas mudanças, a ausência de orientação adequada, seja da família, escola e sociedade pode oferecer riscos físicos psíquicos e sociais ao adolescente(2).

É, neste contexto, que a instituição escolar adquire fundamental importância nesta fase da vida do jovem, auxiliando na formação de seu caráter e na construção de sua personalidade. Ademais, a escola é considerada, o segundo principal núcleo da vida humana, no qual o indivíduo passa a maior parte do tempo vivenciando uma série de relações interpessoais. Ainda na escola, o jovem entra em contato com outro referencial de adulto, além de seus pais- o professor. Assumindo o papel principal no canal de comunicação entre conhecimento e aluno e também como profissional envolvido com a formação do senso crítico e a construção da cidadania(3).

Entretanto, o professor no Brasil, em especial aquele trabalhador do ensino público, enfrenta diversas dificuldades, dentre elas: acúmulo de funções como construção de hábitos de saúde, assessoramento psicológico dos alunos e tarefas burocráticas que associadas à falta de autonomia, infraestrutura e baixa remuneração configuram-se em uma situação de vulnerabilidade social, psicológica e biológica desse profissional(4,5). Tais fatores contribuem para a desmotivação profissional, para o desinteresse em buscar novas estratégias de ensino e capacitação pedagógica, agravados pela indisciplina dos alunos e falta de reconhecimento e valorização perante a sociedade (6).

Na perspectiva de constituir um espaço de reflexão-ação, fundamentado em saberes técnico-científicos e populares(7), a educação em saúde apresenta-se como uma estratégia fundamentada no processo de transformação de comportamento(8), mediada por práticas educativas que exaltem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida. A prática atribuída ao profissional enfermeiro pretende favorecer a promoção, prevenção e a manutenção da saúde, sendo capaz de provocar mudanças individuais e prontidão para atuar na família e na comunidade, alinhada à implementação de políticas públicas, contribuindo para a transformação social(7,8).

Como facilitadora do processo de educação em saúde, por intermédio da articulação entre a Universidade e a comunidade como um todo, a extensão universitária pretende alinhar as atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas no âmbito acadêmico às reais demandas da sociedade, colaborando, sobretudo, no desenvolvimento de hábitos saudáveis e no fortalecimento da cidadania(9).

Consonante a estas perspectivas, o presente estudo teve como objetivo descrever a experiência da inserção de estratégias de educação em saúde operacionalizadas, em especial, pelo profissional enfermeiro no cenário escolar, com base na execução de um projeto de extensão, com vistas a compartilhar a experiência do trabalho da enfermagem na realização de oficinas com professores do Ensino Fundamental.

MÉTODOS

Este relato de experiência reflete os resultados e as percepções dos integrantes do projeto de extensão "Protagonismo juvenil como estratégia de intervenção familiar e comunitária no Residencial 2000", realizado com fomento da Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (FUNEPU) e da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). A iniciativa teve como propósito aproximar as fronteiras da universidade para a educação em saúde no âmbito escolar.

O referido projeto foi realizado no período de agosto de 2010 e março de 2011, subdividido em duas fases de atuação; a primeira considerando os professores e a segunda contemplando os alunos das sétimas e oitavas séries dos três turnos da Escola Municipal Esther Limirio Brigagão, localizada no Bairro Residencial 2000, em Uberaba, Minas Gerais.

Este trabalho refere-se à primeira fase do projeto- a experiência com os professores, e a segunda fase, com os alunos, a vivência foi descrita em outro trabalho.

A vivência fundamentou-se na descrição das estratégias de educação em saúde, mediadas pela realização de oficinas direcionadas aos professores do Ensino Fundamental com a finalidade de oferecer o melhor e mais adequado manejo didático a adolescentes do Ensino Fundamental, abordando temáticas relacionadas à adolescência.

Sendo assim, foram estabelecidas as seguintes etapas: (a) problematização inicial, com base no conhecimento prévio e nas experiências pedagógicas/dificuldades dos participantes; (b) escolha dos temas (pelos professores) a serem tratados nos encontros; (c) apresentação do conteúdo por meio de oficinas; (d) reflexão crítica, discussões e relatos dos participantes, e (e) socialização e avaliação das atividades realizadas.

Nesta pesquisa, as estratégias utilizadas foram de capacitação participativa, alinhadas ao conceito de educação para a saúde, com o uso de oficinas. Para respaldar estas atividades foram citados Carvalho, Rodrigues e Medrado(10), que entendem oficina como "um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros, focado em torno de uma questão central, proposta pelo grupo, em um contexto social. A elaboração que se busca na oficina não se restringe a uma reflexão racional, mas envolve os sujeitos de maneira integral, com formas de pensar, sentir e agir".

Os temas selecionados para as oficinas foram: violência; bullying; sexualidade; gravidez na adolescência; DST/AIDS; álcool e drogas. Além dos professores, participaram da escolha dos temas, a diretoria e o serviço de orientação/supervisão pedagógica da escola, embora estes tenham apoiado apenas na logística do trabalho e também com sugestões, não sendo objetos de intervenção.

A fim de contemplar os três turnos de trabalho, foram realizadas reuniões semanais em dois horários alternativos, entre o intervalo matutino-vespertino e vespertino-noturno, com duração média de 2 horas cada uma. Assim, foram realizadas sete oficinas com cada grupo.

Relatando a Experiência

A região onde está localizada a referida escola possui elevados índices de criminalidade e vulnerabilidade social, refletindo altos índices de gravidez na adolescência, bem como o exagerado consumo de álcool e drogas pela população jovem(1). No sentido de promover estratégias educativas direcionadas aos adolescentes em âmbito escolar, diversos estudos vêm sendo realizados, abordando, especialmente, as temáticas relacionadas à sexualidade(1,9) e ao uso indevido de drogas(11).

Vale ressaltar que ainda são escassas as realizações de oficinas direcionadas aos docentes, particularmente, no Brasil. Em âmbito internacional, investigações e capacitações com educadores de creches familiares foram realizadas para promover o bem-estar social e emocional da criança em Melbourne(12); grupos focais com pais e professores para atuarem na abordagem de dimensões e causas dos comportamentos de risco em crianças e jovens na Jamaica(13); o "transtorno do desenvolvimento da coordenação" foi abordado por terapeutas ocupacionais em oficinas com educadores e pais de crianças e adolescentes no Canadá(14); e estratégias de capacitação para professores, visando a melhorar a prática de educação física nos Estados Unidos da América(15).

Nesta pesquisa, para ambos os turnos, as temáticas e atividades propostas para cada oficina foram as mesmas, seguindo um cronograma que definia quais seriam praticadas nos encontros subsequentes, com base na definição das necessidades levantadas na primeira reunião pelos professores.

As oficinas eram ministradas pelos alunos extensionistas e professores envolvidos no projeto. Contava ainda com o apoio logístico de profissionais da equipe de saúde da família do bairro em questão, da diretoria e coordenação pedagógica da escola.

Para mobilizar o grupo em torno da proposta, foram aplicadas algumas dinâmicas que contribuíram sobremaneira para a formação do vínculo entre os sujeitos, oferecendo também uma perspectiva de suas aspirações em face da realidade apresentada. Neste sentido, a primeira oficina pretendeu apenas apresentar as pessoas que se envolveriam no projeto; fazer um levantamento de necessidades por parte dos professores no manejo com adolescentes escolares; além de elaborar um plano de intervenção educativo para atendimento destas carências.

A segunda oficina pretendeu avaliar na ótica dos professores, os aspectos psicossociais positivos e o autoconhecimento de suas condições, por meio de uma dinâmica simples, como a da bandeira (autoconhecimento). O grupo deveria fazer sua bandeira individual, em forma de desenho ou escrita, utilizando papel branco, caneta e lápis de cor, respondendo a seis perguntas, a saber:

– Qual seu maior sucesso individual?

– O que gostaria de mudar em você, como profissional?

– Quais as suas maiores qualidades como professor?

– Em que atividade você se considera muito bom?

– O que mais valoriza na vida?

– Quais as dificuldades ou facilidades que você encontra em sua profissão?

A atividade pretendia estimular a criatividade dos participantes, proporcionando um ambiente de troca de experiências, além de observar a percepção que eles tinham de si mesmos, alertando-os para suas reais condições de trabalho face às perspectivas almejadas.

Na terceira reunião, com base na dinâmica do semáforo – que utilizava um cartaz contendo as cores tradicionais deste. Consistia em atribuir estas cores para questões relativas aos temas a serem trabalhados, de acordo com a dificuldade de abordagem de cada tema, sendo: (verde: fácil; amarelo: intermediário; e vermelho: impraticável). Foram trabalhadas temáticas como violência, intra e extradomiciliar e o bullying, nas quais os docentes deveriam suscitar às questões que os participantes vivenciaram em sala de aula ou ainda aquelas perguntas que na eminência de serem feitas, eles teriam dificuldades para responder.

Posteriormente, foi realizado um júri simulado sobre a realidade já vivenciada na escola e suas implicações, o que revelou profundas lacunas no conhecimento dos professores, especialmente no tocante ao enfrentamento das ocorrências de maus-tratos entre alunos nas dependências da escola.

O quarto encontro compreendeu a discussão sobre álcool e drogas, aptidão/orientação vocacional e ensino x aprendizagem. Os docentes foram divididos em três grupos para debater, apoiando-se em publicações de revistas, jornais e livros, focando nas melhores estratégias para proceder nestes casos, enfatizando o papel da escola diante desses problemas, por meio de simulações, nas quais os docentes deveriam "dramatizar" as situações que lhes trouxessem dúvidas ou dificuldades, apontando ainda, a melhor forma de lidar com estes fatos.

A quinta reunião denominou-se: "desenvolvendo o trajeto e selecionando as estratégias", na qual foram estudadas as possibilidades de intervenção, confrontando a análise com o suporte teórico para a ação, ou seja, avaliando quais seriam as ferramentas que contribuiriam para a solução dos problemas identificados e abordados até então nas oficinas anteriores.

A segunda atividade realizada na quinta oficina utilizou a dinâmica do boneco, que consistia em dividir os professores em seis grupos. Foram feitas imagens impressas com as partes do corpo de um boneco (cabeça, tronco, braços, mãos, pernas e pés). Cada grupo ficou responsável por uma parte, que continha uma pergunta relacionada ao cotidiano dos participantes. Os integrantes do grupo deveriam em conjunto elaborar uma resposta que demonstrasse, como eles costumavam reagir mediante aquela situação e como poderiam contribuir em sua função em relação à escola e seus alunos. Na sequência, foi feito um fórum de discussão, seguido de apresentação da reflexão dos variados grupos, compartilhando suas observações e perspectivas para melhorar sua atuação profissional dentro das temáticas abordadas. À medida que as questões iam sendo debatidas, procedia-se a montagem do boneco até sua finalização.

As questões norteadoras da "dinâmica do boneco" foram: cabeça – Como você vê o cumprimento do papel social da escola quanto ao ensino e aprendizagem do aluno?

Tronco – Como o grupo enxerga a violência no contexto dos estudantes e suas famílias? Braços – Você enxerga sua escola contribuindo com a proposta de formação profissional do aluno (adolescente) e a construção de um novo cidadão? Mãos – Em seu ponto de vista, como estão as questões relativas à vida saudável (higiene, alimentação adequada, atividade física, lazer e outros) dos estudantes e de suas famílias? Pernas – Qual a realidade das crianças e jovens da escola quanto ao gênero e à sexualidade? Pés – Qual a percepção do grupo sobre o uso de drogas e álcool por crianças e adolescentes da escola e no contexto familiar?

No próximo passo que se chamou "seguindo e agindo", realizou-se a intervenção desenvolvendo estratégias planejadas para a situação diagnosticada. No decorrer do trabalho, verificou-se que os assuntos mais difíceis para os educadores eram: sexualidade, gravidez na adolescência e DST/AIDS. Assim, foi preparada uma atividade de educação em saúde, contando com apoio logístico dos profissionais da Unidade Saúde da Família do bairro, além de outros profissionais convidados, incluindo uma psicoterapeuta que, por meio de uma estratégia informativa e dialogada, os professores puderam retirar suas dúvidas, aprender sobre a temática, além de conhecer novas perspectivas e metodologias para a abordagem dos temas.

Finalmente, na última oficina, a título de avaliação foi apresentado um estudo de caso que continha todas as situações de vulnerabilidade apresentadas nas oficinas anteriores. Nesta etapa, os participantes deveriam orientar possíveis soluções para os problemas, realizando os encaminhamentos que fossem necessários e as condutas adequadas para o caso. Ainda, realizou-se uma dinâmica para a descontração entre os docentes, favorecendo o contato entre todos, aproximando pessoas que sequer se conheciam dentro da instituição. Os encontros foram finalizados com a etapa: "acompanhando a trajetória", realizando a avaliação dos encontros por meio do relato de seus participantes.

A experiência realizada mostrou que há um distanciamento entre os serviços de saúde, de assistência social e de educação. Além disso, nas próprias instituições que dão suporte ao adolescente, há falta de recursos materiais técnicos e humanos, fatores estes que limitam a qualidade do serviço prestado. Também possibilitou identificar alguns professores, com destaque das disciplinas distantes do conhecimento biológico, que demonstraram desconhecimento do desenrolar da adolescência e sua relação com a escola.

No âmbito escolar, para que ocorra uma relação estudante-professor com características positivas, é necessário que os docentes tenham conhecimento das transformações inerentes à adolescência e aos riscos e vicissitudes atreladas a esta fase do desenvolvimento humano. Sob esta ótica, deve-se reforçar a importância da capacitação sobre a temática adolescer e do diálogo em sala de aula, com o intuito de prevenir agravos à vida dos jovens em situações de risco(10,16).

É de conhecimento comum que a escola é o ambiente social no qual o indivíduo passa grande parte de sua vida, que se constitui como um dos principais elementos para contatos interpessoais, além de ser considerado o segundo núcleo mais importante da vida do ser humano, em que se trabalha a construção do caráter, da responsabilização social e fundamentação da cidadania, além de alicerçar o indivíduo para a vida adulta por meio do conhecimento(17).

As dificuldades experimentadas na realidade apresentada remetem-se também às condições de vida e trabalho dos professores. Em pesquisa realizada, considerando a qualidade de vida dos docentes, os aspectos mais prejudicados foram vitalidade (60%), e saúde mental (69,2%). Ademais, tais profissionais estão expostos a fatores estressantes atrelados aos contextos sociais e econômicos daquela comunidade, que vão desde a dificuldade de transporte e acesso ao bairro, até aos problemas de saúde de um modo geral(3).

Com relação à iniciativa, diversos autores corroboram a visão de que a maior estratégia para a prevenção de agravos é incentivar o autocuidado, por meio de capacitação e orientações adequadas, nas quais está inserida a educação em saúde. Estudo realizado com gestantes chilenas sobre o conhecimento e as práticas associados às doenças sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS, reforça a importância da criação de grupos de diálogo e outras estratégias que favoreçam a promoção da saúde e práticas seguras para o autocuidado, buscando maior aproximação de instituições de alcance social, como a escola, instituições de saúde e de assistência social(17).

Outro estudo realizado em Buenos Aires, considerando a opinião de diretores escolares com relação à toxicodependência de alunos, demonstrou a necessidade de melhorar abordagem deste problema na escola, com a colaboração de outras instituições e especialistas, propiciando a capacitação de seus funcionários em educação em saúde, psicologia e dinâmicas de grupo, bem como o desenvolvimento das condições de empatia, calor humano e ampliação da visão nos vínculos com a população escolar(18).

Ademais, cabe citar o relato de pais face à orientação sexual de seus filhos, como investigado por Almeida e Centa(19), no qual foi ressaltada a importância do diálogo e da conversa franca entre pais e filhos, dificuldade na comunicação entre eles, além das dificuldades paternas relacionadas à educação que receberam. Os autores frisam ainda a importância da educação compartilhada com a escola, entendida como a principal aliada na educação sexual de seus filhos, explicando que muitas das informações que possuem foram repassadas por esta instituição.

Quanto à realização das oficinas, mediante as percepções de cada encontro, foram necessárias abordagens diferentes frente aos dois grupos (matutino e noturno), embora fossem mantidas à priori, a mesma estrutura e o conteúdo dos encontros.

Diversas situações foram observadas, como: o descompromisso de alguns docentes com o horário firmado; descontrole emocional de alguns professores; diversas interrupções de funcionários e alunos na sala onde se realizavam as oficinas; falta de suporte técnico e equipamentos adequados para a realização de todas as tarefas propostas, dentre outras que apesar de atrapalharem o desenvolvimento de algumas oficinas, não ofuscaram os resultados finais.

Cabe ainda ressaltar, a receptividade e o incentivo da coordenação da escola para a realização do projeto, face à carência de iniciativas desta ordem, além da anuência da maioria dos profissionais e docentes que se empenharam em refletir sobre seus cotidianos. Como foi proposto neste projeto, as atividades e técnicas desenvolvidas nas oficinas auxiliaram no despertar das habilidades pessoais dos professores, em suas aspirações e reflexões sobre o manejo com os escolares, além de auxiliá-los na compreensão da responsabilidade diante das questões de saúde com adolescentes em situação de risco, ampliando sua visão profissional e sua vivência na sociedade como educador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do preconceito existente em relação aos adolescentes, denominada por alguns como uma "geração perdida, descompromissada e alienada", trabalhos sociais importantes vêm sendo realizados com o intuito de desvelar a real situação de vulnerabilidade desta faixa etária, objetivando traçar estratégias eficazes no combate aos problemas comumente vivenciados por esses jovens.

Muitas vezes, a orientação sexual ocorre de modo segmentado. Sendo assim, muitos jovens constroem sua sexualidade e outros aspectos do caráter nas relações que experimentam com amigos e no meio digital, criando desvios de conduta e construção de valores questionáveis. Portanto, faz-se necessário uma interação mais profunda entre escola, família e comunidade, além do respaldo de profissionais habilitados em saúde e assistência social, para atender às carências e necessidades da construção de um jovem cidadão.

Assim, na construção e implementação deste trabalho, o cuidado na escolha e desenvolvimento das atividades propostas em cada oficina e atividade em grupo foi perpetrado com objetivo de promover a interação e a participação de toda instituição escolar, em especial, os professores, que lidam direta e diariamente com os adolescentes, a fim de que estes possam expressar suas dúvidas, necessidades e experiências, construindo uma parceria de troca com os condutores, ampliando e replicando os conhecimentos apresentados.

A execução de um projeto desta natureza é um modo de cooperar na conscientização dos adolescentes e na tomada de decisões sobre suas vidas, caráter e constituição de cidadania, na compreensão da sexualidade, do uso de drogas, no conhecimento de diferentes carreiras e aptidão vocacional, dentre outras, para que estes jovens possam obter ferramentas que lhes assegurem comportamentos que não comprometam suas relações, tampouco sua saúde. A atuação do professor na abordagem destas temáticas é importante, mas exige ao mesmo tempo um preparo adicional que propostas de extensão na interface de educação em saúde podem acrescentar, sobretudo, como contribuição social da universidade.

A riqueza das discussões suscitadas pelos professores pôde comprovar o alcance dos objetivos do projeto, de caráter social e intervencionista, utilizando recursos sociais e estruturais do sistema público de ensino para a construção de uma nova realidade educacional local, que pode e deve ser replicada. Ademais, ressalta-se o crescimento e desenvolvimento profissional da equipe que desenvolveu o projeto, respaldando a criação de um espaço para problematização de questões relativas à adolescência e sua responsabilidade social, como enfermeiros e educadores em saúde.

A importante relação de uma universidade pública e uma escola de Ensino Fundamental foi importante no sentido da mutualidade de contribuições, como: aprendizado, parcerias de intervenções, aproximação da instituição formadora de professores e educadores em saúde.

Este trabalho aponta como recomendação que esta experiência possa ser aplicada em outros espaços escolares, com professores que lidam com adolescentes, como já referido, este profissional exerce importante papel na construção da cidadania do indivíduo neste ciclo de vida, carregado de vulnerabilidades, podendo ser compreendidas e melhor enfrentadas, se o professor estiver apto a apoiar e orientar seus alunos.

REFERÊNCIAS

  • 1. Silveira RE, Reis NA, Santos AS, Borges MR, Soares SM. Oficinas com adolescentes na escola: uma estratégia de educação em saúde. Nursing (São Paulo). 2011; 14 (157):334-8.
  • 2. Jardim DP, Brêtas JR. [Sexual orientation in school: conception of the teachers from Jandira SP]. Rev Bras Enferm. 2006; 59(2): 157-62. Portuguese.
  • 3. Silveira RE, Reis NA, Santos AS, Borges MR. [Quality of life of elementary school teachers in a Brazilian municipality. Rev Enferm Ref. 2011; 3(4):115-23. Portuguese
  • 4. Linhares C, organizador. Os professores e reinvenção da escola: Brasil e Espanha. São Paulo: Cortez; 2001.
  • 5. Jardim R, Barreto SM, Assunção AA. [Work conditions, quality of life, and voice disorders in teachers]. Cad Saúde Pública. 2007; 23(10): 2439-61. Portuguese
  • 6. Vedovato TG, Monteiro MI. [Socio-demographic profile and health and working conditions of teachers of nine state of São Paulo public schools]. Rev Esc Enferm USP. 2008; 42(2): 290-7. Portuguese
  • 7. Machado MF, Monteiro EM, Queiroz DT, Vieira NF, Barroso MG. [Integrality, health professional education, health education and sus proposals a conceptual review]. Ciênc Saúde Coletiva. 2007; 12(2):335-42. Portuguese.
  • 8. Cervera DP, Parreira BD, Goulart BF. [Health education: perception of primary health care nurses in Uberaba, Minas Gerais State]. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16 supl 1: 1547-54. Portuguese.
  • 9. Brêtas JR, Silva CV. [Sexual orientation for adolescents: report of experience]. Acta Paul Enferm. 2005; 18(3): 326-33. Portuguese.
  • 10. Carvalho AM, Rodrigues CS, Medrado KS. [Workshop in human sexuality with adolescents]. Estud Psicol (Natal). 2005; 10(3): 377-84. Portuguese.
  • 11. Corradi-Webster CM, Esper LH, Pillon SC. Nursing student participation in a community project to prevent drug abuse among teenagers. Acta Paul Enferm. 2009; 22(3): 331-4.
  • 12. Davis E, Williamson L, Mackinnon A, Cook K, Waters E, Herrman H, et al. Building the capacity of family day care educators to promote children's social and emotional wellbeing: an exploratory cluster randomised controlled trial. BMC Public Health. 2011; 11(1): 842.
  • 13. Baker-Henningham H. Transporting evidence-based interventions across cultures: using focus groups with teachers and parents of pre-school children to inform the implementation of the Incredible Years Teacher Training Programme in Jamaica. Child Care Health Dev. 2011;37(5):649-61.
  • 14. Missiuna CA, Pollock NA, Levac DE, Campbell WN, Whalen SD, Bennett SM, et al. Partnering for change: an innovative school-based occupational therapy service delivery model for children with developmental coordination disorder. Can J Occup Ther 2012;79(1): 41-50.
  • 15. Kulinna PH, McCaughtry N, Martin J, Cothran D. Effects of continuing professional development on urban elementary students' knowledge. Res Q Exerc Sport. 2011 Sep;82(3):580-4.
  • 16. Villegas N, Ferrer L, Cianelli N, Miner S, Lara L, Peragallo N. Conocimientos y autoeficacia asociados a la prevención del VIH y SIDA en mujeres chilenas. Invest Educ Enferm. 2011; 29(2): 222-9.
  • 17. Maio Braga ER, Alcaide Spirito C. Una investigación sobre la importancia de la educación afectivo-sexual en las escuelas. Rev Ibero-Am Estud Educ. 2010; 1(1):18-36.
  • 18. Segovia NS, Gonçalves MF. Los espacios escolares para la prevención de la drogodependencia: concepción de directivas de escuelas secundarias. Rev Latinoam. Enferm. 2011;19 (No Espec):782-8.
  • 19. Almeida AC, Centa ML. Parents experience with de sexual education of their children: implications for nursing care. Acta Paul Enferm. 2009; 22(1): 71-6.
  • *
    Rodrigo Eurípedes da SilveiraI; Nayara Araújo dos ReisII; Álvaro da Silva SantosIII; Maritza Rodrigues BorgesIV; Ariadne da Silva FonsecaV
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Mar 2013
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      25 Fev 2012
    • Aceito
      23 Jun 2012
    Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actapaulista@unifesp.br