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Uso de solução bucal com sistema enzimático em pacientes totalmente dependentes de cuidados em unidade de terapia intensiva

Resumos

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI), na maioria das vezes, não possuem higienização oral adequada. Esta condição de deficiência de higiene oral em pacientes graves desencadeia freqüentemente periodontites, gengivites e outras complicações sistêmicas e orais. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência da ação antimicrobiana da solução bucal com sistema enzimático associada à higiene oral, em pacientes totalmente dependentes de cuidados internados em UTI. MÉTODO: Estudo piloto prospectivo duplamente encoberto, realizado com 20 pacientes internados em UTI, divididos em 2 grupos com protocolos de higienização bucal com a mesma técnica, mas utilizando-se soluções diferentes, sendo o grupo de estudo (n = 10) utilizando solução bucal com sistema enzimático e o grupo controle (n = 10) utilizando solução bucal à base de cetilpiridínio. RESULTADOS: Os resultados microbiológicos das culturas coletadas nos grupos de estudo e controle, antes e após o uso da solução enzimática, mostraram que não houve diferença significativa entre os grupos (p = 0,41). Na avaliação clínica do Índice de Higiene Oral Simplificada (IHOS) houve significância estatística pelo teste Exato de Fisher (p = 0,01), quando comparados os grupos de estudo e controle. O valor de significância estatística foi estabelecido em 5%, ou p < 0,05. CONCLUSÔES: O uso de solução enzimática à base de lactoperoxidase, mostrou ser eficiente na avaliação clínica para higiene oral de pacientes totalmente dependentes de cuidados em ambiente hospitalar. Este estudo reflete a importância de se desenvolverem mais pesquisas quanto aos cuidados bucais com este grupo de pacientes.

manifestações orais; programa de controle de infecção hospitalar; UTI


BACKGROUND AND OBJECTIVES: Patients admitted to an intensive care unit (ICU), in most cases do not have a proper oral hygiene. This deficient condition of oral hygiene in critical patients often triggers periodontitis, gingivitis and other systemic and oral complications. This research aimed to evaluate the efficiency of the antimicrobial action of a solution with bioactive enzymatic system for oral hygiene, in totally care-dependent patients admitted to ICU. METHODS: A prospective, double blind pilot study was conducted with 20 patients admitted to an ICU, divided into 2 groups with the same technique of oral hygiene, protocols but using different solutions: the study group (n = 10) using an oral solution with enzymatic system and the control group (n = 10) using an oral solution based on cetylpyridinium. RESULTS: Results of microbiological cultures collected in the study group and control group, before and after the use of enzymatic solution, showed no significant difference between groups (p = 0.41). In clinical evaluation of the Simplified Oral Hygiene Index (SOHI) statistical significance was found by the Fisher Exact test (p = 0.01) when comparing the study group and control group. The value of statistical significance was set at 5%, or p < 0.05. CONCLUSIONS: The use of oral rinse with the lactoperoxidase enzyme was effective in the clinical evaluation of the oral hygiene of patients totally care-dependent in the hospital. This study stresses the importance of developing more research on the oral care of these patients.

hospital infection control program; ICU; oral manifestations


ARTIGO ORIGINAL

Uso de solução bucal com sistema enzimático em pacientes totalmente dependentes de cuidados em unidade de terapia intensiva* * Recebido da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP

Paulo Sérgio da Silva SantosI; Walmyr Ribeiro de MelloII; Rosana Cláudia Scramin WakimIII; Maria Ângela Gonçalves PaschoalIV

IMestre e Doutorando em Patologia Bucal - FOUSP; Membro da Equipe de Odontologia Hospitalar do Hospital Santa Isabel

IICirurgião Dentista - Membro da Equipe de Odontologia Hospitalar do Hospital Santa Isabel

IIIEspecialista em Ortodontia e Ortopedia Facial; Membro da Equipe de Odontologia Hospitalar do Hospital Santa Isabel

IVChefe de Enfermagem do Serviço de Terapia Intensiva da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Paulo Sérgio da Silva Santos Rua Aureliano Coutinho, 278/21 - Higienópolis 01224-020 São Paulo, SP Fones: (11) 3666-9683 - 9622-5539 E-mail: paulosergiosilvasantos@gmail.com

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI), na maioria das vezes, não possuem higienização oral adequada. Esta condição de deficiência de higiene oral em pacientes graves desencadeia freqüentemente periodontites, gengivites e outras complicações sistêmicas e orais. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência da ação antimicrobiana da solução bucal com sistema enzimático associada à higiene oral, em pacientes totalmente dependentes de cuidados internados em UTI.

MÉTODO: Estudo piloto prospectivo duplamente encoberto, realizado com 20 pacientes internados em UTI, divididos em 2 grupos com protocolos de higienização bucal com a mesma técnica, mas utilizando-se soluções diferentes, sendo o grupo de estudo (n = 10) utilizando solução bucal com sistema enzimático e o grupo controle (n = 10) utilizando solução bucal à base de cetilpiridínio.

RESULTADOS: Os resultados microbiológicos das culturas coletadas nos grupos de estudo e controle, antes e após o uso da solução enzimática, mostraram que não houve diferença significativa entre os grupos (p = 0,41). Na avaliação clínica do Índice de Higiene Oral Simplificada (IHOS) houve significância estatística pelo teste Exato de Fisher (p = 0,01), quando comparados os grupos de estudo e controle. O valor de significância estatística foi estabelecido em 5%, ou p < 0,05.

CONCLUSÔES: O uso de solução enzimática à base de lactoperoxidase, mostrou ser eficiente na avaliação clínica para higiene oral de pacientes totalmente dependentes de cuidados em ambiente hospitalar. Este estudo reflete a importância de se desenvolverem mais pesquisas quanto aos cuidados bucais com este grupo de pacientes.

Unitermos: manifestações orais, programa de controle de infecção hospitalar, UTI

INTRODUÇÃO

A infecção é uma complicação freqüente e de elevada mortalidade nos pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI).

Podem-se dividir as infecções em exógenas, quando o patógeno infectante é adquirido diretamente no meio externo ou endógenas quando esse pertence à flora microbiana do hospedeiro (paciente). O paciente na UTI é colonizado precocemente por agentes potencialmente patógenos adquiridos no meio externo, esses modificam a flora microbiana residente, de tal maneira que as infecções endógenas podem ser subdivididas em primárias (infecções produzidas pela flora microbiana residente) e secundárias, (infecções produzidas pela flora microbiana adquirida em UTI)1-3.

Assim, estima-se que nos pacientes de uma UTI as infecções endógenas correspondam a 80% do total das infecções, variando a proporção entre endógenas primárias e secundárias, segundo as características de cada UTI4.

Pacientes internados nas UTI, na maioria das vezes, não possuem higienização oral adequada, possivelmente pelo desconhecimento de técnicas adequadas pelas equipes de terapia intensiva, e pela ausência do relacionamento interprofissional odontologia/enfermagem. Esta condição de deficiência de higiene oral em pacientes críticos desencadeia freqüentemente periodontites, gengivites, otites, rinofaringite crônicas, xerostomia potencializando focos de infecções propícias à pneumonia nosocomial5,6.

Os pacientes de terapia intensiva com freqüência permanecem com a boca aberta, devido à intubação traqueal, permitindo a desidratação da mucosa oral. A diminuição do fluxo salivar permite aumento da saburra ou biofilme lingual (matriz orgânica estagnada) no dorso da língua, o que favorece a produção de componentes voláteis de enxofre, tais como mercaptanas (CH SH) e sulfidretos (SH) que têm odor desagradável e colonização bacteriana7,8.

Nestes pacientes o conforto deve ser sempre considerado. As alterações bucais têm alta representatividade em pacientes críticos hospitalizados, além do forte odor bucal tornando-se uma dificuldade de abordagem para a equipe multiprofissional. Um outro ponto a ser considerado é o impacto do fraco estado nutricional repercutindo na cavidade oral, pois estes pacientes recebem nutrição enteral ou parenteral, o que reduz a capacidade de reparação tecidual e reduz a imunidade a infecções devido a inadequada nutrição. A dor bucal e o desconforto sentidas pelo paciente pode desencorajar a ingesta alimentar, assim como a comunicação verbal uma vez que o paciente esteja extubado9.

Lindhe relatou que a placa bacteriana produz substâncias irritantes (ácidos endotoxinas e antígenos) que com o passar do tempo invariavelmente destroem dentes e tecidos de suporte10.

Diante dos riscos bacterianos oriundos da boca, preconiza-se a completa limpeza nos tecidos da cavidade bucal, incluindo: dentes, gengivas e língua; removendo restos alimentares e placa bacteriana, tem-se o intuito de promover um ambiente bucal "imune" às afecções orais. Pacientes com inadequada higiene oral e más condições dentárias apresentam maior risco de complicações locais e sistêmicas6.

A escolha de um produto enzimático como método auxiliar na redução da placa bacteriana bucal, se dá pela ausência em sua composição de substância abrasiva (álcool, detergente, corante) que prejudica ainda mais a mucosa bucal já comprometida7. Também importante, que o produto enzimático contém a lactoferrina, que através de sua ação e suas interações na saliva reduz a incidência de Cândida albicans e Cândida krusei na mucosa oral11,12.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência da ação antimicrobiana da solução bucal com sistema enzimático associada à higiene oral, em pacientes totalmente dependentes de cuidados internados em UTI.

MÉTODO

Após aprovação pelo Comitê de Ética da instituição, foi realizado um estudo com pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI), Hospital Central da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (HCISCMSP), totalmente dependentes de cuidados, sem possibilidade de realizar sozinhos sua higiene oral, necessitando de auxílio.

Foram analisados 20 pacientes distribuídos em 2 grupos: 10 pacientes em uso do protocolo proposto, denominado grupo de estudo; e 10 pacientes no grupo controle. Os pacientes do grupo de estudo foram submetidos ao protocolo de higienização bucal utilizando solução bucal com sistema enzimático (Bioténe Mouthwash® - MS 2.2561.0003.001-6) e bastonetes de espuma próprios de higiene oral. Os pacientes foram selecionados aleatoriamente para cada grupo, seguindo os critérios de inclusão e exclusão.

Os critérios de inclusão e exclusão utilizados foram: pacientes totalmente dependentes de cuidados, que não estejam em isolamento por doenças infecto-contagiosas, dentados, ou em uso de prótese parcial. Foram excluídos os pacientes parcialmente dependentes de cuidados e edêntulos.

O grupo controle foi avaliado da mesma forma que o grupo de estudo. Porém, neste grupo os cuidados de higiene oral foram realizados conforme a rotina do serviço, pela equipe de enfermagem. Esta rotina compreendeu o uso de bastonetes de espuma com anti-séptico bucal á base de cetilpiridínio e álcool.

Todos os familiares dos pacientes participantes do estudo foram informados por escrito e verbalmente e todos preencheram o documento de consentimento, conforme Resolução n° 196 do Conselho Nacional de Saúde.

Para todos os pacientes foi preenchida uma ficha clínica no momento do exame bucal contendo informações sobre idade, sexo, diagnóstico médico, diagnóstico odontológico, data da avaliação odontológica, medicação em uso, nível de consciência, condição das vias aéreas: intubado ou não, cavidade oral - presença ou não de lesão, consistência salivar, motricidade oral, lábio, língua, uso de prótese removível: sim-não, superior-inferior-ambas, deglutição: adequada-inadequada, via de suporte nutricional, produto utilizado para higiene oral e freqüência. Avaliação bucal após o uso do produto.

Para avaliar a condição de saúde bucal foi utilizado o critério de índice de placa bacteriana de Greene e Vermillion13, que avalia as superfícies recobertas por placa bacteriana por vestibular e lingual dos segundos molares e dos incisivos centrais superiores e inferiores. O índice de higiene oral simplificado (IHOS) é a combinação dos índices de indutos - placa bacteriana. Os escores para indutos variam de zero a três, de acordo com os seguintes critérios:

• Grau zero (0) - ausência de induto ou mancha intrínseca;

• Grau um (1) - presença de induto cobrindo não mais de 1/3 da superfície examinada ou ausência de induto, mas com presença de mancha intrínseca;

• Grau dois (2) - presença de induto cobrindo mais de 1/3, mas não mais de 2/3 da superfície examinada; poderá haver ou não presença de mancha intrínseca;

• Grau três (3) - presença de induto cobrindo mais de 2/3 da superfície examinada.

Foi coletada amostra de biofilme bucal da região vestibular de 1º molar inferior, ou do dente mais próximo na ausência deste, encaminhando à cultura para avaliação de flora pré e pós-higiene oral tanto no grupo de estudo quanto no grupo controle. A coleta foi realizada por swab das regiões cervicais dos dentes descritos, e, colocados em meio de Stuart, em seguida encaminhados para o laboratório central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O período de avaliação e aplicação dos cuidados de higiene oral foi de 5 dias, a partir da coleta do material para cultura.

O protocolo de higiene oral intensiva foi transmitido a toda equipe da UTI (médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e enfermeiros) por meio de texto e/ou treinamento prático, realizado por cirurgiões dentistas à equipe de enfermagem.

As instruções de realização da higiene oral utilizando as soluções bucais seguiram a seguinte seqüência:

1) Calçar luvas de procedimento;

2) Separar a solução bucal Bioténe;

3) Colocar no copo um dosador de 10 mL;

4) Embeber o bastonete na solução;

• Passar raspando na língua no sentido póstero-anterior;

• Passar nos vestíbulos e bochechas sentido póstero-anterior;

•· Passar no palato no sentido póstero-anterior;

• Aplicar nas superfícies vestibulares, linguais e oclusais dos dentes.

5) Aspirar a orofaringe durante o procedimento.

Para análise estatística dos dados coletados de micro-organismos encontrados e do IHOS foram utilizado os testes de Qui-Quadrado e o Exato de Fisher.

RESULTADOS

Para este estudo foram avaliados 23 pacientes, mas três foram excluídos devido ao não preenchimento dos critérios de inclusão.

Os pacientes avaliados eram totalmente dependentes de cuidados, pois 90% dos pacientes estavam em coma ou sob sedação contínua, e somente 10% estavam conscientes, mas tetraplégicos. Cem por cento dos pacientes estavam sob ventilação mecânica através de intubação traqueal ou por traqueostomia. Com relação ao suporte nutricional, observou-se que 85% dos pacientes recebiam dieta enteral e os demais (15%) recebiam dieta via oral, ou estavam em jejum. Observou-se que somente 10% dos pacientes apresentavam alguma lesão bucal, sendo que todas com características traumáticas estão apresentadas na tabela 1.

A análise microbiológica revelou a presença de vários grupos de bactérias e fungos. Os resultados totais das culturas positivas, de acordo com o tipo de microorganismo, por coleta, estão demonstrados em ordem decrescente a seguir: Acinetobacter baumanii (17), S. aureus (11), S. coagulase negativa (9), Enterobacter (9), P. aeruginosa (8), S. viridans (7), Corinebacterium sp (4), Enterococcus sp (4), Klebisiella sp (3), Serratia sp (2), Pseudomonas sp (2), M. morganii (2), Streptococcus do grupo D (1) e Cândida sp (1). A descrição de acordo com os grupos estudados e o tipo de flora avaliadas, antes e depois da higienização estão descritos na tabela 2.

Para análise estatística das culturas microbiológicas foi utilizado o teste de Qui-quadrado, com valor de significância estatística estabelecido em 5%, ou p < 0,05. Foram feitas culturas para todos os pacientes e para todas as bactérias em estudo, foi calculado o número de culturas negativas subtraindo-se o valor de positivas do valor total de culturas. Os resultados no grupo de estudo, antes e após o uso da solução enzimática, mostraram que não houve diferença significativa entre os grupos (χ2 = 0,69; gL= 1; p = 0,41); e no grupo controle também não houve diferença significativa entre os grupos (χ2 = 3,19; gL = 1; p = 0,074) (Tabela 3).

Em uma somatória pode-se observar que antes da higienização os pacientes do grupo de estudo apresentavam 24 culturas positivas e após o período de higienização passaram a ser somente 19 culturas positivas. No grupo controle, antes da higienização, foram encontradas 13 culturas positivas e após o período de higienização 23 culturas positivas (Figura 1).


Na avaliação clínica onde se observou o índice de placa bacteriana dental, seguindo os critérios de Greene e Vermillon13 e o índice de higiene oral simplificado (IHOS), foram obtidos os resultados a seguir: grupo de estudo antes da higienização - IHOS 0 (2), IHOS 1 (2), IHOS 2 (3), IHOS 3 (3); após 5 dias de higienização - IHOS 0 (4), IHOS 1 (6), IHOS 2 (3) e IHOS 3 (0); No Grupo controle antes da higienização - IHOS 0 (1), IHOS 1 (2), IHOS 2 (6), IHOS 3 (1); após 5 dias de higienização - IHOS 0 (1), IHOS 1 (2), IHOS 2 (6) e IHOS 3 (1).

A análise estatística da avaliação do IHOS mostrou significância estatística pelo teste Exato de Fisher (p = 0,01), quando foram comparados os dois grupos (Tabela 4).

Nos dois pacientes conscientes avaliados que participaram do grupo de estudo, foi relatado que após o período de uso da solução enzimática sentiram melhora do conforto bucal, redução da sensação de boca seca e que a utilização do produto não provocou ardência.

DISCUSSÃO

A preocupação com infecções bucais como foco primário de infecções sistêmicas em pacientes totalmente dependentes de cuidados internados em UTI, apesar de pouco documentada, tem sido relevante nas discussões das equipes interdisciplinares. Medidas para redução dos focos de infecção de origem bucal vão desde cuidados e técnicas locais de higienização, como a busca de produtos que auxiliem na homeostasia do ambiente bucal e na redução da flora bacteriana.

Neste estudo avaliou-se uma solução bastante utilizada pela maioria dos serviços de terapia intensiva (à base de cetilpiridínio e álcool), e comparou-se com uma substância enzimática à base de lactoperoxidase, que é uma enzima presente na saliva humana, segundo o estudo de Tenovuo7.

Os critérios utilizados neste estudo se basearam nas avaliações microbiológicas e no índice de placa bacteriana de Greene e Vermillion13, utilizando o IHOS. Os resultados deste estudo mostraram que através da análise laboratorial, no grupo de estudo ocorreu redução ou eliminação da flora bacteriana bucal quando comparados o início e o fim da higienização, com exceção dos tipos: S. viridans e A. Baumanii. No grupo controle observou-se que houve manutenção, aumento ou surgimento de nova flora bacteriana bucal (S. coagulase negativa, A. baumanii, Enterococos sp e pseudomonas). Apesar de não haver significância estatística na comparação dos grupos e os resultados obtidos, o que ocorreu pela pequena amostra de pacientes estudadas neste estudo piloto, os resultados sugerem que em amostra maior pode ser significativa a diferença de microorganismos encontrados nos dois grupos. Quanto ao IHOS houve importante relevância estatística nos resultados, o que comprova a observação clínica realizada pelos pesquisadores deste estudo.

Segundo Lehane e col. em estudo duplamente encoberto, onde foram avaliados pacientes com doença periodontal e pacientes tratados periodontalmente, utilizando solução enzimática e solução controle, não encontraram redução bacteriana de Streptococos mutans e lactobacilos estatisticamente significativos entre os grupos avaliados14. No presente estudo observou-se a redução do índice de placa bacteriana bucal entre o início e o fim dos cuidados bucais com a solução enzimática, quando comparados com o grupo controle utilizando solução de cetilpiridínio onde não houve efetividade. Estes dados mostram claramente que a associação de cuidados de higiene oral freqüente associado a veículos com ação bactericida e de manutenção de equilíbrio bucal podem melhorar de forma importante a qualidade de vida dos pacientes totalmente dependentes de cuidados.

Este estudo foi considerado pelos pesquisadores como um projeto piloto. As evidências clinicas e a experiência desta equipe dos cirurgiões dentistas participantes deste estudo, direcionaram um questionamento quanto aos protocolos e produtos utilizados para higiene oral atualmente nas UTI em pacientes totalmente dependentes de cuidados. Visto a dificuldade que seria obter a quantidade adequada de pacientes para o estudo seguindo os critérios de inclusão e exclusão propostos no método, concluiu-se que a amostra utilizada permitiria aos pesquisadores uma perspectiva para um estudo mais amplo.

No presente estudo foram observados visualmente no grupo de estudo uma melhora da aparência inflamatória das gengivas, da secura bucal, da halitose e da facilidade da remoção de debris. Estas condições favorecem a atuação da equipe de enfermagem nos cuidados de higiene oral, redução de focos primários de infecção na boca e permite aos cirurgiões dentistas a participação da equipe multidisciplinar de terapia intensiva.

O uso de solução enzimática à base de lactoperoxidase se mostrou eficiente na avaliação clínica para a higiene oral de pacientes totalmente dependentes de cuidados em ambiente hospitalar. Este estudo reflete a importância de se desenvolverem mais pesquisas quanto aos cuidados bucais com este grupo de pacientes.

Apresentado em 20 de dezembro de 2007.

Aceito para publicação em 26 de março de 2008

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  • Endereço para correspondência:
    Dr. Paulo Sérgio da Silva Santos
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    Recebido da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jul 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2008

    Histórico

    • Aceito
      26 Mar 2008
    • Recebido
      20 Dez 2007
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