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Efeito do treinamento funcional na dor e capacidade funcional de mulheres idosas

Resumo

Introdução:

O crescimento da taxa de idosos no mundo pode tornar-se um problema de saúde pública quando estes exibem níveis insuficientes de atividade física, que têm o potencial de aumentar dores crônicas e causar incapacidade funcional.

Objetivo:

Analisar os efeitos do treinamento funcional na dor e capacidade funcional de mulheres idosas.

Métodos:

Desenvolveu-se um ensaio clínico controlado não randomizado com 32 idosas, divididas em dois grupos: treino funcional (TF: n = 17) e grupo controle (GC: n = 15). Como indicador da capacidade funcional foi utilizado o Teste de Aptidão Física para Idosos. A dor foi avaliada pelos relatos de sintomas de desconforto musculoesquelético e suas características por meio do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares de Dor e Escala visual Analógica de Dor (EVA). O programa de treinamento funcional foi aplicado por 12 semanas em uma frequên-cia de três vezes semanais.

Resultados:

Verificaram-se efeitos significativos após a intervenção no grupo TF, com redução da dor e aumento da flexibilidade e resistência para membros inferiores e capacidade cardiorrespiratória (p < 0,05).

Conclusão:

O programa de treinamento funcional em idosas foi efetivo para a melhoria das variáveis de flexibilidade de membros inferiores, percepção de dor, resistência de força de membros inferiores e capacidade cardiorrespiratória.

Palavras-chave:
Idoso; Exercícios em circuitos; Dor; Aptidão física

Abstract

Introduction:

The growing rate of elderly people in the world can became a public health problem when they exhibit insufficient levels of physical activity, which can increase chronic pain and lead to functional disability.

Objective:

To analyze the effects of functional training on pain and functional capacity in elderly women.

Methods:

A non-randomized controlled clinical trial was conducted with 32 elderly women, divided into two groups: functional training (FT: n = 17) and control group (CG: n = 15). Functional capacity was analyzed using the Physical Fitness Test for the Elderly. Pain was assessed by reports of musculoskeletal discomfort symptoms and their characteristics using the Nordic Musculoskeletal Pain Questionnaire and pain visual analog scale (VAS). The functional training program was applied for 12 weeks at a frequency of three times a week.

Results:

Significant effects after the intervention in the FT group were observed, with pain reduction, increased flexibility and resistance for lower limbs, and cardiorespiratory capacity (p < 0.05).

Conclusion:

The functional training program in elderly women was effective in improving the variables of lower limb flexibility, pain perception, lower limb strength resistance and cardiorespiratory capacity.

Keywords:
Aged; Circuit-based exercise; Pain; Physical fitness

Introdução

O envelhecimento da população mundial pode ser um grande problema de saúde pública quando ocorrem situações que deterioram o processo de envelhecimento, como falta de alimentação saudável, baixa convivência social e atividade física reduzida, aumentando a inci- dência de doenças e dores crônicas, distúrbios muscu- loesqueléticos e incapacidade funcional.11 Perna S, Alalwan TA, Al-Thawadi S, Negro M, Parimbelli M, Cerullo G, et al. Evidence-based role of nutrients and an-tioxidants for crronic pain management in musculoesqueletal fragile and sarcopenia in aging. Geriatrics (Basel). 2020;5(1):16. DOI33 World Health Organization. World health statistics 2017: monitoring health for the SDGs, sustainable development goals. Genebra: World Health Organization; 2017. 103 p. Full text link Estas situa-ções podem contribuir para diminuir a função física e consequentemente aumentar os gastos relacionados com saúde, dependência e fragilidade desta população.44 Physical Activity Guidelines Advisory Committee. 2018 Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report. Washington, DC: US Department of Health and Human Services; 2018. Full text link

Além disso, existe uma alta prevalência de dor crônica em idosos, devido à baixa capacidade inibitória e maior sensibilidade à dor quando comparados aos mais jovens.55 Lautenbacher S. Experimental approaches in the study of pain in the elderly. Pain Med. 2012;13(Suppl 2):S44-50. DOI Não está totalmente claro na literatura se essa percepção aumenta ou diminui na velhice, mas sabe-se que o sedentarismo e a dor são grandes vilões para a autonomia e capacidade funcional dessa população.66 Ghazaleh T, Sedigheh RD, Zahra M. The effectiveness of positive psychotherapy on pain perception and death anxiety in the elderly. Aging Psychol. 2020;5(4):321-32. Full text link O aumento da dor associado à restrição de mobilidade promove uma deterioração da capacidade funcional do idoso, apresentando muitas vezes uma acentuada perda de força e agilidade.77 Lin YP, Yang YH, Hsiao SF. Physical activity, muscle strength, and functional fitness comparing older adults with and without alzheimer dementia. Top Geriatr Rehabil. 2019;35(4):280-8. DOI Esse processo pode se tornar um ciclo vicioso, no qual quanto maior a dor, menor a capacidade funcional. Esse ciclo deve ser interrompido ou até mesmo prevenido através da prática de exercício físico.88 Abdulla A, Adams N, Bone M, Elliott AM, Gaffin J, Jones D, et al. Guidance on the management of pain in older people. Age Ageing. 2013;42(Suppl 1):i1-57. DOI,99 Meisner BA, Linton V, Séguin A, Spassiani NA. Examining chronic disease, pain-related impairment, and physical activity among middle-aged and older adults in Canada implications for current and future aging populations. Top Geriatr Rehabil. 2017;33(3):182-92. DOI

Sendo assim, atividade física não sistematizada e exercício físico melhoram a qualidade de vida, fun-cionalidade, independência e bem-estar psicológico, reduzem as doenças crônicas não transmissíveis e a mortalidade para todos os idosos, aptos ou frágeis, sendo mais úteis do que intervenções farmacológicas que visam sistemas únicos para controlar a fragilidade. Ao considerar a evidência acumulada dos benefícios do exercício em idosos, é injustificável não prescrever exercícios físicos, e um dos principais desafios é integrar programas de exercícios como parte obrigatória do cuidado de pacientes idosos frágeis em todos os hospitais, ambulatórios e ambientes de cuidados a idosos.1010 Izquierdo M, Merchant RA, Morley JE, Anker SD, Aprahamian I, Arai H, et al. International exercise recommendations in older adults (ICFSR): expert consensus guidelines. J Nutr Health Aging. 2021;25(7):824-53. DOI

Além disso, as quedas são a principal causa de internação e lesões fatais entre os idosos.44 Physical Activity Guidelines Advisory Committee. 2018 Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report. Washington, DC: US Department of Health and Human Services; 2018. Full text link Programas de atividade física como o treinamento funcional, que enfatizam combinações de equilíbrio, força, resistência, marcha e treinamento de função física, demonstram-se mais eficazes em reduzir o risco de lesões e fraturas relacionadas a quedas em idosos.44 Physical Activity Guidelines Advisory Committee. 2018 Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report. Washington, DC: US Department of Health and Human Services; 2018. Full text link

Por essas questões, o treinamento funcional tornou-se uma tendência mundial para esse público, sendo um recurso promissor na melhoraria da capacidade funcional, diminuição da percepção da dor e promoção da aptidão física.1111 Ćwirlej-Sozańska A, Wiśniowska-Szurlej A, Wilmowska-Pietruszyńska A, Drużbicki M, Sozański B, Wołoszyn N, et al. Evaluation of the effect of 16 weeks of multifactorial exercises on the functional fitness and postural stability of a lowincome elderly population. Top Geriatr Rehabil. 2018;34(4):251-61. DOI,1212 Thompson WR. Worldwide survey of fitness trends for 2020. ACSMs Health Fit J. 2019;23(6):10-8. DOI Sendo assim, o objetivo desse estudo foi verificar o efeito de doze semanas de trei-namento funcional na percepção de dor e capacidade funcional em mulheres idosas.

Métodos

Trata-se de um ensaio clínico controlado não rando-mizado, com idosas que frequentaram duas paróquias no município de Ourinhos, em São Paulo, no ano de 2018. Após a aprovação do Comitê de Ética pela Universidade do Sagrado Coração, Bauru, SP (número: 2.285.538), o projeto foi submetido na plataforma de Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (registro ReBEC: RBR-9kr2jb).

Amostra

O processo de amostragem foi realizado por julgamento não probabilístico. O cálculo do tamanho amostral foi realizado no programa G*Power 3.1.9.2. Utilizou-se como parâmetro os valores encontrados no estudo de Miranda et al.1313 Miranda LV, Silva GCB, Meneses YPSF, Cortez ACL, Araújo DG, Gayoso Neto JCA. Efeitos de 9 semanas de treinamento funcional sobre índices de aptidão muscular de idosas. Rev Bras Prescr Fisiol Exerc. 2016;10(59):386-94. Full text link para a resistência de força dos membros inferiores (teste de sentar e levantar). Para o poder do teste de 0,95, tamanho do efeito de 1,60 e alfa de 5%, sugeriu-se uma amostra de 16 idosas em cada grupo: treino funcional (TF) e grupo controle (GC). Considerando uma possível perda amostral de 40%, foram recrutadas 41 mulheres (TF = 19; GC = 22).

Como critérios de inclusão as voluntárias deveriam ser do sexo feminino, com idade entre 60 e 69 anos (atendendo os critérios do Senior Fitness Test - SFT), apresentar encaminhamento médico para a prática de exercícios físicos e não estar praticando atividade física sistematizada nos últimos três meses. Foram excluídas idosas com perda de força e afasia ocasionada por acidente vascular encefálico (AVE) prévio; com marcha comprometida, com uso de aparatos para deambulação (bengalas, muletas e cadeira de rodas) e que faziam uso de órteses e próteses ortopédicas; com mais de três ausências consecutivas no protocolo proposto; com déficit cognitivo como problemas de memória, atenção, comunicação, orientações temporais e espaciais preju-dicadas e dificuldades na comunicação por déficit de audição e visão.

Para auxiliar o critério de exclusão foi aplicado o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), considerando para a participação: pontuação inferior a 17 para os analfabetos; 22 para idosos com escolaridade entre um e quatro anos; 24 para os com escolaridade entre cinco e oito anos; 26 para os que tinham nove anos ou mais de escolaridade.1414 Ferruci L, Guralnik JM, Studenski S, Fried LP, Cutler Jr GB, Walston JD. Designing randomized, controlled trials aimed at preventing or delaying functional decline and disability in frail, older persons: A consensus report. J Am Geriatr Soc. 2004;52(4):625-34. DOI,1515 Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a pheno-type. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. DOI

De acordo com os critérios de inclusão e exclusão foram selecionadas para ambos os grupos idosas independentes, sem a presença de incapacidades funcionais ou alguma condição crônica associada à maior vulnerabilidade; ou seja, as idosas encontravam-se em plena condição de realizar suas atividades, com saúde mental e motora adequadas, o que caracteriza a condição de um idoso robusto.1616 Moraes EN. Atenção à saúde do idoso: aspectos conceituais. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2012. 98 p. Full text link

A divisão dos grupos foi feita por conveniência de acordo com a disponibilidade para a prática de exercícios físicos. Deste modo, o GC foi composto por idosas que não realizaram nenhum tipo de treinamento.

Procedimentos

As idosas foram informadas sobre o caráter voluntário da participação do estudo, a possibilidade de abandonar a pesquisa a qualquer momento e o direito ao sigilo dos dados individuais. As que aceitaram participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Anteriormente à intervenção foram aplicados ques- tionários de anamnese com informações sociodemo-gráficas para todas as idosas em ambos os grupos, em forma de entrevista pelos mesmos avaliadores, os quais foram previamente treinados para tais procedimentos. Além disso, foram avaliadas as variáveis de capacidade funcional e dor nos momentos pré e pós-intervenção para ambos os grupos.

Instrumentos

Caracterizações dos sujeitos

Os aspectos demográficos foram avaliados por questões fechadas que abrangiam a idade (em anos completos), arranjo familiar (casada ou em união consensual, solteira, separada, viúva e não respondeu), cor da pele (branca, preta, parda, amarela e indígena).

Os aspectos socioeconômicos foram investigados pela escolaridade (em anos de estudo) e renda, definida a partir do Critério de Classificação Econômica Brasil (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa), que estima o poder de compra das pessoas e famílias urbanas.1717 ABEP. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. 2016. Full text link

Capacidade funcional

Como indicador da capacidade funcional, utilizou-se a bateria de testes STF ou Teste de Aptidão Física para Idosos (TAFI), proposto por Rikli e Jones1818 Rikli RE, Jones CJ. Functional fitness normative scores for community residing older adults, age 60–94. J Aging Phys Act. 1999;7(2):162-81. DOI para idosos americanos de 60 a 94 anos e validado no Brasil por Marzo et al.1919 Mazo GZ, Petreça DR, Sandreschi PF, Benedetti TRB. Valores normativos da aptidão física para idosas brasileiras de 60 a 69 anos de idade. Rev Bras Med Esporte. 2015;21(4):318-22. DOI para o público idoso de 60 a 69 anos.

Composta por seis testes motores, a bateria STF avalia o nível de aptidão física que representa o nível de capacidade funcional dos idosos, em que cada item apresenta escores acima, na média, abaixo da média e risco de perda de mobilidade.

A STF avalia o nível de resistência de força dos mem-bros inferiores por meio do teste “sentar e levantar”, no qual utiliza-se uma cadeira sem apoios para os braços, encostada na parede, e o avaliado se mantém na posição sentada, levantando-se totalmente e sentando-se, o máximo de vezes que conseguir, durante 30 segundos. Para o nível de resistência de força dos membros su-periores, o avaliado permanece sentado, com o braço de sua preferência em extensão na lateral do corpo, segurando um halter de 2 kg, indicado para mulheres. Logo em seguida, realiza-se total flexão e extensão do cotovelo durante 30 segundos.

Para avaliar o nível de flexibilidade dos membros inferiores, usou-se o teste de “sentado e alcançar”, que utiliza uma cadeira para que o avaliado se sente com uma perna flexionada e outra em extensão e com o pé fletido. Em seguida, com a coluna ereta, solicita-se flexão de tronco, com as mãos em direção aos pés, sendo utilizada uma régua de 45 cm para medição. Deste modo, quanto maior for a distância alcançada com a ponta dos dedos médios em relação aos pés, maior é o nível de flexibilidade.

Para a flexibilidade dos membros superiores, a literatura aponta a utilização do teste “alcançar atrás das costas”,1919 Mazo GZ, Petreça DR, Sandreschi PF, Benedetti TRB. Valores normativos da aptidão física para idosas brasileiras de 60 a 69 anos de idade. Rev Bras Med Esporte. 2015;21(4):318-22. DOI no qual, na posição em pé, o avaliado posiciona o braço de sua preferência por cima do ombro homolateral, levando a mão em direção às costas. O outro braço deve ser direcionado para a parte posterior do tronco, com a mão em direção à outra posicionada anteriormente. A medição é semelhante ao teste dos membros inferiores, ou seja: quanto maior a distância, pior o nível de flexibilidade, e quanto maior a aproximação, melhor o nível.

Para avaliar a velocidade, agilidade e equilíbrio dinâmico, utilizou-se o teste “sentado, caminhar 2,44 m e voltar e sentar”. Para sua realização, o avaliado senta-se em uma cadeira e, ao comando verbal, sai caminhando rápido (sem correr) e percorre a distância demarcada por um cone (2,44 m), contorna-o, retorna e senta-se novamente. O tempo para este percurso é marcado com um cronômetro. Para avaliar a resistência aeróbia, utilizou-se o “teste de 6 minutos”, demarcando uma distância de 46 m, sendo que a cada 4,57 m é colocado um cone para facilitar a aferição da distância percorrida rapidamente, porém sem correr, durante seis minutos.

Os testes de aptidão física em idosos apresentam uma integração direta com as tarefas do cotidiano, pois quanto pior a aptidão física, maior o grau de depen-dência dos idosos para a realização das atividades da vida diária.2020 Gonçalves LHT, Silva AH, Mazo GZ, Benedetti TRB, Santos SMA, Marques S, et al. O idoso institucionalizado: avaliação da capacidade funcional e aptidão física. Cad Saude Publica. 2010;26(9):1738-46. DOI

Dor

A dor foi verificada pelos relatos de sintomas de desconforto musculoesquelético e suas características (frequência, duração e severidade) por meio do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares de Dor2121 Pinheiro FA, Tróccoli BT, Carvalho CV. Validação do ques-tionário nórdico de sintomas osteomusculares como medida de morbidade. Rev Saude Publica. 2002;36(3):307-12. DOI e da Escala Visual Analógica de Dor (EVA).2222 Ciena AP, Gatto R, Pacini VC, Picanço VV, Magno IMN, Loth EA. Influência da intensidade da dor sobre as respostas nas escalas unidimensionais de mensuração da dor em uma população de idosos e de adultos jovens. Semina Cienc Biol Saude. 2008;29(2):201-12. DOI

A intensidade da dor também foi avaliada pela EVA, que gradua a intensidade da dor em intervalos de zero a dez, em que zero indica ausência de dor e dez indica a pior dor possível. Se a dor for moderada, seu nível de referência é cinco; se for intensa, é dez.

Programa de Treinamento funcional (TF)

O TF foi aplicado por 12 semanas, em 36 aulas, com duração de 50 minutos, três vezes por semana. Cada aula foi estruturada seguindo a seguinte sequência: aquecimento, parte específica e volta calma. A estratégia de aplicação selecionada foi em circuito, que permite uma aula dinâmica e com poucas pausas entres as trocas de estações (cada exercício).

Aquecimento: foi realizado por meio de danças com coreografias de intensidade leve à moderada e duração máxima de 15 minutos.

Parte específica: foram aplicadas 8 estações de exercícios funcionais com duração de 1 minuto em cada estação e descanso de aproximadamente 30 segundos, o suficiente para a troca de estação e posicionamento adequado para iniciar o próximo exercício. Cada participante realizou duas passagens completas nas oito estações do circuito, com intervalo de 2 a 3 minutos entre cada passagem completa. Os exercícios detalhados com suas variações, objetivos e intensidades são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1
Descrição do treinamento funcional

Volta calma: foram realizados 10 minutos de alon-gamento priorizando as musculaturas trabalhadas, como quadríceps, isquiotibiais, deltoides, dorsais, entre outros.

Análises de dados

Todas as variáveis numéricas foram submetidas à testagem de distribuição dos dados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Para estatística descritiva, os dados categóricos foram apresentados em frequência absoluta e relativa e os dados numéricos foram expres-sos por média e desvio padrão. Para as comparações da capacidade funcional e da dor entre os grupos pré e pós-intervenção, aplicou-se análise de variância (ANOVA mista). Para identificar a magnitude dos efeitos, calculou-se o delta percentual das diferenças por meio da equação: [(medida pós – medida pré)/medida pré] *100. Além disso, para verificar a correlação das mudanças positivas e negativas nas variáveis de capacidade física nas alterações de dor, utilizou-se a correlação de Spearman entre as diferenças pós-pré das variáveis da capacidade funcional e de dor. As análises foram realizadas no programa SPSS 26.0 e considerou-se significância de 5%.

Resultados

Foram abordadas 128 mulheres que frequentavam as Paróquias Santo Antônio e São João Batista do município de Ourinhos/SP no período de maio a outubro de 2018. Destas, 78 foram consideradas idosas, segundo a literatura, porém 37 não foram incluídas no estudo (oito tinham mais de 69 anos e 29 participavam de programas de treinamento). Portanto, para este estudo, a amostra foi composta por 41 idosas alocadas nos grupos TF (n = 19) e GC (= 22). No decorrer da pesquisa duas idosas do GE foram excluídas por não comparecerem para a coleta de dados referente à avaliação física (aplicação dos testes), totalizando 17 idosas. Das 22 idosas do GC, sete foram excluídas (uma por utilizar prótese endógena, uma por realizar exercícios estruturados e cinco por não terem disponibilidades de tempo), totalizando 15 idosas (Figura 1).

Figura 1
Consort 2010 – Fluxograma: Sequência experimental.

Na Tabela 1 são apresentadas as características da amostra, onde observam-se semelhanças entre idade, renda familiar, raça, tempo de estudo e estado civil entre os grupos. Na Tabela 2 são apresentados os efeitos da inter-venção. Observam-se efeitos significativos após a intervenção no TF, com redução da dor, aumento da flexibilidade inferior, resistência inferior e melhoria da capacidade cardiorrespiratória. Esses resultados positivos podem ser observados tanto pela significância estatística da interação (p < 0,05) quanto evidenciados pelos deltas percentuais (Figura 2).

Tabela 1
Distribuição das idosas quanto aos aspectos sociodemográficos
Tabela 2
Média (desvio padrão) da dor e capacidade funcional de idosas de ambos os grupos, pré e pós-intervenção
Figura 2
Delta percentual das modificações dos grupos treinamento e controle após o programa de treinamento funcional.

Ao analisar a magnitude das diferenças por meio do delta percentual, que é um excelente indicador clínico, pode-se observar que a flexibilidade inferior, resistência inferior e capacidade cardiorrespiratória apresentaram valores relevantes, acima de 10% e chegando até 140% de melhoria. Lembrando que a dor, que teve redução superior a 60%, apresenta benefícios quando reduzida.

Na Tabela 3, observa-se entre as correlações das mudanças da dor e da capacidade funcional um comportamento padronizado. Todas as capacidades, independentemente de sua significância, apresentaram correlação negativa com a dor; no entanto, somente a flexibilidade superior, agilidade e capacidade car-diorrespiratória apresentaram efetivamente resultados significantes.

Tabela 3
Correlação entre as mudanças do status de dor e das capacidades funcionais investigadas

Discussão

Como principais resultados, observou-se que o trei-namento funcional em idosas proporcionou melhoria de alguns indicadores da capacidade funcional, como a flexibilidade superior, agilidade e capacidade cardior-respiratória, os quais se correlacionaram com a redu-ção da dor. Além disso, também foram observadas melhoras na resistência de força e flexibilidade dos membros inferiores. Esses achados corroboram a literatura, demonstrando que programas de exercícios multicomponentes para idosos, como o treinamento funcional, são capazes de proporcionar melhorias no desempenho físico, retardar a fragilidade e diminuir a inflamação, inclusive em idosos frágeis.2323 Sadjapong U, Yodkeeree S, Sungkarat S, Siviroj P. Multicomponent exercise program reduces frailty and inflammatory biomarkers and improves physical performance in community-dwelling older adults: A randomized controlled trial. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(11):3760. DOI Essas evidências ajudam a explicar a redução da dor e sua associação com a melhora da capacidade física observada no presente estudo.

Segundo Gallagher et al.2424 Gallagher D, Heymsfield SB, Heo M, Jebb SA, Murgatroyd PR, Sakamoto Y. Healthy percentage body fat ranges: an approach for developing guidelines based on body mass index. Am J Clin Nutr. 2000;72(3):694-701. DOI e Morcelli et al.,2525 Morcelli MH, Faganello FR, Navega MT. Avaliação da flexibilidade e dor de idosos fisicamente ativos e sedentários. Ter Man. 2010;8(38)298-304. Full text link após 65 anos de idade, 80% dos idosos apresentarão dor devido à diminuição das capacidades funcionais. Além disso, as mulheres são mais suscetíveis à dor, principalmente articulares, em decorrência de alguns fatores intrínsecos como a perda de massa muscular e óssea e diminuição hormonal, caracterizada pela menopausa.2424 Gallagher D, Heymsfield SB, Heo M, Jebb SA, Murgatroyd PR, Sakamoto Y. Healthy percentage body fat ranges: an approach for developing guidelines based on body mass index. Am J Clin Nutr. 2000;72(3):694-701. DOI,2525 Morcelli MH, Faganello FR, Navega MT. Avaliação da flexibilidade e dor de idosos fisicamente ativos e sedentários. Ter Man. 2010;8(38)298-304. Full text link No pre-sente estudo foi possível observar que o grupo TF apresentou uma redução de 60% da dor em relação ao GC. Além disso, nas análises de correlação, fica evidente que essa variável está correlacionada de forma moderada no comportamento de algumas capacidades como cardiorrespiratória, flexibilidade e agilidade.

A dor é algo subjetivo, sendo que somente o indivíduo pode avaliar sua intensidade. O fato é que exercícios físicos e interação social são responsáveis por diminuir essa sensação.2626 Souza JB. Poderia a atividade física induzir analgesia em pacientes com dor crônica? Rev Bras Med Esporte. 2009;15(2): 145-50. DOI Modalidades como alonga-mento e fortalecimento reduzem o quadro álgico, no entanto, a literatura propõe exercícios aeróbicos como os mais indicados para a população que sente dor.2626 Souza JB. Poderia a atividade física induzir analgesia em pacientes com dor crônica? Rev Bras Med Esporte. 2009;15(2): 145-50. DOI No presente estudo, optou-se pela estratégia de aula em circuito para o TF, apresentando um perfil mais aeróbico, o que levou à redução da percepção da dor nas idosas. Laredo-Aguilera et al.,2727 Laredo-Aguilera JA, Carmona-Torres JM, García-Pinillos F, Latorre-Román PA. Effects of a 10-week functional training programme on pain, mood state, depression, and sleep in healthy older adults. Psychogeriatrics. 2018;18(4):292-8. DOI no entanto, observaram que idosas saudáveis que realizaram TF não obtiveram melhorias significativas na dor, enquanto GC piorou.

Os resultados do presente estudo podem ser justificados pela melhoria das outras variáveis, gerando um impacto na diminuição da dor. Román et al.2828 Román PAL, Santos e Campos MA, García-Pinillos F. Effects of functional training on pain, leg strength, and balance in women with fibromyalgia. Mod Rheumatol. 2015;25(6):943-7. DOI demonstraram que mulheres com fibromialgia que realizaram TF obtiveram um aumento na qualidade de vida geral devido à melhora do funcionamento físico, fazendo com que o impacto da doença e a dor fossem diminuídos em comparação a mulheres sedentárias, podendo reduzir o tratamento farmacológico ou mesmo eliminá-lo completamente.

Outro item que influencia a capacidade funcional do idoso é a saúde cardiorrespiratória, pois condições intrínsecas não são o suficiente para justificar os problemas de saúde que acarretam o envelhecimento, mas múltiplos domínios da aptidão física como força e capacidade aeróbia são responsáveis pela manutenção dessa função. O VO2máx diminui no público idoso e o sedentarismo agrava essa condição.2929 Forman DE, Arena R, Boxer R, Dolansky MA, Eng JJ, Fleg JL, et al. Prioritizing functional capacity as a principal end point for therapies oriented to older adults with cardiovascular disease: a scientific statement for healthcare professionals from the American Heart Association. Circulation. 2017;135(16):e894-918. DOI Neste estudo, ambos os grupos apresentaram um aumento da capacidade cardiorrespiratória, porém o grupo TF apresentou maior magnitude de melhora (10%) em relação ao GC.

Uma revisão sistemática mostrou que o treinamento funcional pode induzir efeitos benéficos em idosos na aptidão cardiorrespiratória, sendo recomendado para idosos para este fim.3030 Bouaziz W, Lang PO, Schmitt E, Kaltenbach G, Geny B, Vogel T. Health benefits of multicomponent training programmes in seniors: a systematic review. Int J Clin Pract. 2016;70(7):520-36. DOI Outra revisão sistemática, no entanto, apontou que não é possível afirmar que o treinamento funcional seja uma alternativa melhor do que outras intervenções para aumentar a aptidão cardiorrespiratória e enfatiza a importância de novas pesquisas com maior rigor metodológico.3131 Barbosa MPCR, Oliveira VC, Silva AKF, Pérez-Riera AR, Vanderlei LC. Effectiveness of functional training on cardiorespiratory parameters: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Clin Physiol Funct Imaging. 2018;38(4):539-46. DOI

Em relação à resistência de força, o grupo TF melho-rou acima de 60% em relação ao GC. Corroborando os resultados do presente estudo, Aragão-Santos et al.3232 Aragão-Santos JC, Resende-Neto AG, Nogueira AC, Feitosa-Neta ML, Brandão LH, Chaves LM, et al. The effects of functional and traditional strength training on different strength parameters of elderly women: a randomized and controlled trial. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(3):380-6. DOI verificaram que o treinamento funcional, quando comparado ao treino tradicional de força, possui eficácia na melhora da força dinâmica máxima, potência muscular, resistência muscular e força isométrica em idosos. Dessa forma, ambos os métodos podem ser utilizados de forma segura e eficaz nessa população, porém, por apresentar uma série de benefícios relacionados à independência e autonomia em idosos devido à especificidade de suas tarefas, o treinamento funcional tende a ser mais transferível para atividades da vida diária, podendo ser associado ao treinamento de resistência tradicional em longo prazo.3232 Aragão-Santos JC, Resende-Neto AG, Nogueira AC, Feitosa-Neta ML, Brandão LH, Chaves LM, et al. The effects of functional and traditional strength training on different strength parameters of elderly women: a randomized and controlled trial. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(3):380-6. DOI Além disso, em um treino multicomponente como o treinamento funcional, observaram-se melhorias no funcionamento físico em mulheres idosas com dinapenia.3333 Romero-García M, López-Rodríguez G, Henao-Morán S, González-Unzaga M, Galván M. Effect of a multicomponent exercise program (VIVIFRAIL) on functional capacity in elderly ambulatory: a non-randomized clinical trial in Mexican women with dynapenia. J Nutr Health Aging. 2021;25(2):148-54. DOI Os resul-tados do estudo de Romero-García et al.3333 Romero-García M, López-Rodríguez G, Henao-Morán S, González-Unzaga M, Galván M. Effect of a multicomponent exercise program (VIVIFRAIL) on functional capacity in elderly ambulatory: a non-randomized clinical trial in Mexican women with dynapenia. J Nutr Health Aging. 2021;25(2):148-54. DOI relataram uma diminuição significativa no risco de quedas, o que leva à consideração de que este tipo de intervenção pode ter um efeito preventivo para o desenvolvimento de fragilidade nos idosos.

Sugere-se que o treinamento de força deva ser considerado para aumentar a função muscular e equilíbrio dinâmico em mulheres mais velhas, enquanto o treinamento funcional deve ser considerado para aumentar a capacidade funcional e habilidade de marcha, que são variáveis fortemente relacionadas ao risco de quedas.3434 Wolf R, Locks RR, Lopes PB, Bento PCB, Rodacki ALF, Carraro AN, et al. Multicomponent exercise training improves gait ability of older women rather than strength training: a randomized controlled trial. J Aging Res. 2020;2020:6345753. DOI

Em relação à flexibilidade de membros inferiores, observou-se uma melhora acima de 140% no TF em relação ao GC. Corroborando essas descobertas, Matos et al.,3535 Matos DG, Mazini Filho ML, Moreira OC, Oliveira CE, Venturini GRO, Silva-Grigoletto ME, et al. Effects of eight weeks of functional training in the functional autonomy of elderly women: a pilot study. J Sports Med Phys Fitness. 2017;57(3):272-7. DOI verificaram que o treinamento funcional foi suficiente para produzir melhorias na autonomia de idosas e que com apenas 10 sessões foi possível observar melhorias na potência dos membros inferiores, velocidade em levantar da posição deitada, agilidade, força e mobilidade dos membros superiores. Assim, o desenvolvimento dos membros inferiores pode ser explicado pelas melhorias da funcionalidade geral. Além disso, um treino de instabilidade central de força, que também foi realizado no presente estudo, foi capaz de promover aumento significativo na mobilidade funcional durante o período de treinamento, enquanto os participantes do GC não apresentaram mudanças significativas.3636 Granacher U, Lacroix A, Muehlbauer T, Roettger K, Gollhofer A. Effects of core instability strength training on trunk muscle strength, spinal mobility, dynamic balance and functional mobility in older adults. Gerontology. 2013;59(2):105-13. DOI Segundo Resende-Neto et al.,3737 Resende-Neto AG, Nascimento MA, Sá CA, Ribeiro AS, Desantana JM, Silva-Grigoletto ME. Comparison between functional and traditional resistance training on joint mobility, determinants of walking and muscle strength in older women. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(10):1659-68. DOI o treino tradicional e o treinamento funcional são igual-mente eficazes na melhoria da mobilidade articular e componentes de força nas mulheres mais velhas, com manutenção dessas adaptações mesmo após destreinamento.

Por outro lado, no presente estudo, alguns compo-nentes da aptidão física não apresentaram melhorias em decorrência da intervenção proposta; são eles: flexibilidade de membros superiores, resistência de membros superiores e agilidade. O principal motivo para isso seria que os exercícios não foram suficientes e específicos para essas capacidades.

Em relação à flexibilidade da parte superior do corpo, Kang et al.3838 Kang S, Hwang S, Klein AB, Kim SH. Multicomponent exercise for physical fitness of community-dwelling elderly women. J Phys Ther Sci. 2015;27(3):911-5. DOI também não observaram mudanças significativas entre um treino multicomponente seme-lhante ao TF em relação ao GC, com mudanças somente na parte inferior. Em relação aos exercícios propostos no presente estudo, acredita-se que os mesmos não foram tão específicos para essas variáveis quando com-parados aos exercícios proposto por Nogueira et al.,3939 Nogueira AC, Resende Neto AG, Santos JCA, Chaves LMS, Azevêdo LM, Teixeira CVLS, et al. Effects of a multicomponent training protocol on functional fitness and quality of life of physically active older women. Motricidade. 2017;13(S1):86-93. Full text link que fizeram exercícios próprios para flexibilidade dentro da parte específica do treinamento funcional.

Em relação à força/resistência, esperavam-se melho-rias efetivas tanto para membros superiores quanto inferiores, pois o treinamento funcional promove me-lhorias dessas capacidades, igualando-se inclusive ao treinamento de força para essa população.3737 Resende-Neto AG, Nascimento MA, Sá CA, Ribeiro AS, Desantana JM, Silva-Grigoletto ME. Comparison between functional and traditional resistance training on joint mobility, determinants of walking and muscle strength in older women. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(10):1659-68. DOI,3939 Nogueira AC, Resende Neto AG, Santos JCA, Chaves LMS, Azevêdo LM, Teixeira CVLS, et al. Effects of a multicomponent training protocol on functional fitness and quality of life of physically active older women. Motricidade. 2017;13(S1):86-93. Full text link,4040 Resende-Neto AG, Feitosa Neta ML, Santos MS, Teixeira CVLS, Sá CA, Silva-Grigoletto ME. Treinamento funcional versus treinamento de força tradicional: efeitos sobre indicadores da aptidão física em idosas pré-frageis. Motricidade. 2016;12(S2):44-53. Full text link Isto sugere que o protocolo utilizado nesse estudo não foi o suficiente para causar adaptações também nas forças de membros superiores, fazendo-se necessário um pro-grama com uma sessão de treinamento de força extra voltado para a massa muscular, que resulte em maiores melhorias na força dos braços.4141 González-Ravé JM, Cuéllar-Cañadilla R, García-Pastor T, Santos-García DJ. Strength improvements of different 10-week multicomponent exercise programs in elderly women. Front Public Health. 2020;8:130. DOI Outra justificativa, conforme apontado pela pesquisa de Sousa Jr et al.,4242 Souza Jr SS, Guimarães ACA, Korn S, Boing L, Machado Z. Força de membros superiores e inferiores de idosas praticantes e não praticantes de ginástica funcional. Saude (Santa Maria). 2015;41(1):255-62. DOI seria que se as idosas passarem muito tempo desenvolvendo atividades braçais, elas terão mais dificuldade para evoluir em um treinamento que não estipule carga.

No presente estudo também não houve mudanças na agilidade, no entanto, outros estudos evidenciaram diferenças significativas na agilidade/equilíbrio dinâmico do grupo TF em relação ao GC.3535 Matos DG, Mazini Filho ML, Moreira OC, Oliveira CE, Venturini GRO, Silva-Grigoletto ME, et al. Effects of eight weeks of functional training in the functional autonomy of elderly women: a pilot study. J Sports Med Phys Fitness. 2017;57(3):272-7. DOI,3838 Kang S, Hwang S, Klein AB, Kim SH. Multicomponent exercise for physical fitness of community-dwelling elderly women. J Phys Ther Sci. 2015;27(3):911-5. DOI4040 Resende-Neto AG, Feitosa Neta ML, Santos MS, Teixeira CVLS, Sá CA, Silva-Grigoletto ME. Treinamento funcional versus treinamento de força tradicional: efeitos sobre indicadores da aptidão física em idosas pré-frageis. Motricidade. 2016;12(S2):44-53. Full text link As intervenções que obtiveram melhorias nos parâmetros de agilidade tiveram exercícios de equilíbrio juntamente para sua melhora,3535 Matos DG, Mazini Filho ML, Moreira OC, Oliveira CE, Venturini GRO, Silva-Grigoletto ME, et al. Effects of eight weeks of functional training in the functional autonomy of elderly women: a pilot study. J Sports Med Phys Fitness. 2017;57(3):272-7. DOI,3838 Kang S, Hwang S, Klein AB, Kim SH. Multicomponent exercise for physical fitness of community-dwelling elderly women. J Phys Ther Sci. 2015;27(3):911-5. DOI o que pode justificar a inexistência de melhoras na agilidade do presente estudo.

É importante destacar a indicação do treinamento funcional para o público idoso, sendo este seguro, de baixo custo e fácil de aplicar em ambientes comunitários quando comparado a exercícios como o treino aeróbio e resistido. O treinamento funcional é capaz de melhorar a aptidão física relacionada à saúde, produzindo estímulos variáveis e maiores demandas da coordenação e postura, permite um aumento progressivo do volume, intensidade e densidade, melhora a composição corporal e pode ser uma alternativa de saúde pública no manejo do comprometimento da mobilidade e da pressão arterial em idosos.44 Physical Activity Guidelines Advisory Committee. 2018 Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report. Washington, DC: US Department of Health and Human Services; 2018. Full text link,3535 Matos DG, Mazini Filho ML, Moreira OC, Oliveira CE, Venturini GRO, Silva-Grigoletto ME, et al. Effects of eight weeks of functional training in the functional autonomy of elderly women: a pilot study. J Sports Med Phys Fitness. 2017;57(3):272-7. DOI3737 Resende-Neto AG, Nascimento MA, Sá CA, Ribeiro AS, Desantana JM, Silva-Grigoletto ME. Comparison between functional and traditional resistance training on joint mobility, determinants of walking and muscle strength in older women. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(10):1659-68. DOI

Como principais limitações do presente estudo destacam-se o pequeno número amostral e a presença de apenas idosas robustas. Além disso, a amostra investigada conta apenas com idosas de 61 a 69 anos e uma intervenção de 12 semanas, o que limita a aplicação prática para períodos de aproximadamente 12 semanas de treinamento e em mulheres idosas nessa faixa etária.

Como recomendação para estudos futuros, sugerem-se a utilização de uma amostra maior e a análise da relação entre idosas frágeis e robustas, pouco vista na literatura. Além disso, a utilização de novas dinâmicas e exercícios do treinamento funcional e sua comparação com outras modalidades de treinamento podem auxiliar na tomada de decisão dos profissionais que têm como objetivo o atendimento dessa população.

Conclusão

O treinamento funcional aplicado em idosas por 12 semanas foi efetivo para a melhoria das variáveis de flexibilidade de membros inferiores, percepção de dor, resistência de força e capacidade cardiorrespiratória. Em alguns aspectos da capacidade funcional não houve melhoras. A literatura ainda é escassa de estudos que utilizem o treino funcional, fazendo-se necessário que outras pesquisas comparem o treinamento funcional com outros tipos de treinamento.

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Editado por

Editora associada: Ana Paula Cunha Loureiro

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    12 Jan 2022
  • Revisado
    12 Set 2022
  • Aceito
    07 Out 2022
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