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Crítica da Educação Financeira na Educação Matemática

A Critique of Financial Education in Mathematics Education

Resumo

O presente artigo tem como objetivo tecer uma crítica da educação financeira na Educação Matemática, por meio de uma revisão sistemática da literatura. A partir de uma fundamentação teórica de base marxista, considera-se que realizar uma crítica da educação financeira pressupõe uma compreensão do próprio sistema capitalista e de seus aspectos ideológicos. Assim, foi realizado um levantamento bibliográfico de artigos que tratam do tema educação financeira em todos os volumes disponíveis até o ano de 2021 de 51 periódicos escolhidos. Foram encontrados 229 artigos em 37 periódicos, sendo que a primeira publicação data do ano de 2007. Para as análises, foram utilizadas categorias criadas a posteriori , isto é, a partir da leitura dos textos levantados. Os resultados evidenciam que, por um lado, cinco artigos (2,2%) apresentam críticas ao sistema capitalista, 47 (20,5%) a aspectos do sistema e 174 (76%) não fazem essa crítica e, por outro lado, um artigo (0,4%) apresenta algum tipo de proposição revolucionária, oito (3,5%) proposições reformistas, 74 (32,3%) proposições comportamentais, 106 (46,3%) proposições instrumentais e 66 artigos (28,8%) são não propositivos. O panorama das pesquisas em educação financeira aponta para a necessidade de investigações que abordem o tema pautadas em conhecimentos científicos, em especial, das ciências sociais, como economia e sociologia. A quase ausência de bases teóricas nessas áreas no corpus analisado pode indicar uma fragilidade das pesquisas da Educação Matemática, pois, apesar de se fundamentarem em pressupostos científicos próprios do campo educacional, promovem discursos ideológicos das instituições financeiras, que possuem o objetivo do lucro.

Educação Matemática; Educação Financeira; Revisão Sistemática da Literatura; Capitalismo; Marxismo

Abstract

This paper aims to present a critique of financial education in Mathematics Education, through a systematic literature review. Based on a Marxist theoretical foundation, it is considered that carrying out a critique of financial education presupposes an understanding of the capitalist system itself and its ideological aspects. Thus, a bibliographic survey of articles dealing with the subject of financial education was carried out in all available volumes of 51 journals chosen until the year 2021. 229 papers were found in 37 journals, with the first publication dating from 2007. For the analyses, we used categories created a posteriori , that is, from the reading of the texts collected. The results show that, on the one hand, five articles (2.2%) criticize the capitalist system, 47 (20.5%) aspects of the system, and 174 (76%) do not criticize it and, on the other hand, one article (0.4%) presents some kind of revolutionary proposition, eight (3.5%) reformist propositions, 74 (32.3%) behavioral propositions, 106 (46.3%) instrumental propositions, and 66 articles (28, 8%) are non-propositional. The panorama of research in financial education points to the need for investigations that address the topic based on scientific knowledge, especially the social sciences, such as economics and sociology. The near absence of theoretical bases in these areas in the analyzed corpus may indicate a fragility of Mathematics Education research, because, despite being based on scientific assumptions specific to the educational field, they promote ideological discourses of financial institutions, which have profit as their objective.

Mathematics Education; Financial Education; Systematic Review of Literature; Capitalism; Marxism

1 Introdução

Em reportagem1 1 Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2021/06/iniciativa-do-mec-e-cvm-deve-levar-educacao-financeira-a-25-milhoes-de-estudantes-brasileiros/ . Acesso em 20 ago. 2021. divulgada no dia 14 de junho de 2021, a revista Forbes menciona que a educação financeira dos brasileiros estava prestes a ganhar um reforço de grande alcance: “uma parceria entre o MEC (Ministério da Educação) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) irá capacitar 500 mil professores para levar o tema a 25 milhões de alunos das redes pública e privada de ensino do país”. Pouco tempo depois, no dia 17 de agosto do mesmo ano, o Ministério da Educação (MEC) fez uma live para o Lançamento do Programa Educação Financeira nas Escolas2 2 Live de lançamento disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H2VvppxTWuM . Acesso em 20 ago. 2021. Site oficial do governo para o Programa Educação Financeira nas Escolas está disponível em: http://www.edufinanceiranaescola.gov.br/ . Acesso em 20 ago. 2021. . Esses são apenas alguns exemplos para mostrar que, cada vez mais, a expressão “educação financeira” está presente no cotidiano brasileiro.

Podemos demarcar o ano de 2010 como central para a expansão dessa temática, pois, nesse ano, foi aprovada, por meio do Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010, a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) com a “[...] finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores” ( BRASIL, 2010BRASIL. Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010. Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, dispõe sobre a sua gestão e dá outras providências. Diário Oficial da União , Brasília, 2010, n. 245, p. 7- 8, 23 dez. 2010. , p. 7). Recentemente, tal Decreto foi revogado pelo Decreto nº 10.393, de 9 de junho de 2020, que instituiu uma nova ENEF, com “[...] a finalidade de promover a educação financeira, securitária, previdenciária e fiscal no País [...]” ( BRASIL, 2020BRASIL. Decreto nº 10.393, de 9 de junho de 2020. Institui a nova Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF e o Fórum Brasileiro de Educação Financeira – FBEF. Diário Oficial da União , Brasília, 2020, n. 110, p. 2- 3, 10 jun. 2020. , p. 2), e o Fórum Brasileiro de Educação Financeira (FBEF), que tem como um de seus representantes o MEC.

Pode-se questionar, nesse contexto, o que é educação financeira. Como afirma Duvoisin (2021)DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , a expressão educação financeira tem servido a diferentes compreensões e graus de precisão. Em uma primeira compreensão, a expressão pode ser tomada “[...] como um conjunto de conhecimentos e princípios difusos e imprecisos, de caráter científico duvidoso, ligado ao mundo dos negócios” ( DUVOISIN, 2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 193). Nessa esteira, expandem-se as produções de livros, canais na internet e perfis em redes sociais em que “[...] supostos empresários de sucesso ensinam ao público leigo métodos para se tornarem empreendedores bem-sucedidos” ( DUVOISIN, 2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 193).

Uma segunda compreensão é aquela que entende a educação financeira como uma área da educação que se pretende interdisciplinar e que, nesse sentido, vem sendo cada vez mais formalizada como algo a ser abordado nas escolas. Essa educação financeira nas escolas “[...] se dedicaria a esclarecer as pessoas sobre o funcionamento do universo das finanças, educando-as para planejar racionalmente seus gastos, aprender a lidar com o dinheiro, cultivar espírito empreendedor e práticas de consumo responsável” ( DUVOISIN, 2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 193). Não à toa, a educação financeira foi, recentemente, incorporada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como tema transversal. Por fim, Duvoisin (2021)DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. fala de uma educação financeira como ideologia, que possui duas funções principais: “[...] naturalizar a centralidade das finanças na vida econômica da sociedade” ( DUVOISIN, 2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 193) e “[...] induzir uma determinada ética e padrão de conduta condizente com a lógica financeira à vida individual e familiar” ( DUVOISIN, 2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 194).

Na prática, é possível perceber como as ideias do mundo dos negócios, divulgadas por meio dos supostos empresários bem-sucedidos, estão sendo trazidas para dentro das escolas e formalizadas enquanto uma política pública para a Educação. Citamos o exemplo do Estado do Paraná que, por meio do Ofício Circular nº 009/2021, emitido pela Diretoria de Educação, da Secretaria do Estado da Educação e do Esporte, oferece informações e orientações a respeito da componente curricular de Educação Financeira que passou a compor a Matriz Curricular dos três anos do Ensino Médio. Uma análise desse ofício permite-nos ter uma ideia da perspectiva adotada pelo Estado quando faz uso da chamada literatura de “autoajuda financeira” ( BRITTO, 2012BRITTO, R. Educação financeira: uma pesquisa documental crítica. 2012. 262 p. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. ) para fundamentar a proposta educacional.

Neste sentido, destacam-se obras como a de Robert Kiyosaki, em especial, de seu livro: “Pai Rico, Pai Pobre”. Neste livro, o autor apresenta, a partir de uma perspectiva biográfica e de experiências familiares, como as escolhas relacionadas à esfera financeira impactam na trajetória de vida dos indivíduos, demonstrando como uma atitude positiva em relação ao dinheiro associada a uma formação financeira adequada são fundamentais para que o indivíduo usufrua de todo seu potencial ao longo de sua vida ( PARANÁ, 2021PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. Diretoria de Educação. Ofício Circular nº 009, de 8 de fevereiro de 2021 . Curitiba: Secretaria de Estado da Educação e do Esporte, 2021. , p. 11).

Diante desse cenário em que a educação financeira (com suas perspectivas difusas, mas com uma função clara de naturalizar as lógicas do capitalismo) vem sendo incutida no ideário brasileiro, faz-se necessário investigar de que maneira a Educação Matemática, enquanto área do conhecimento, está tratando essa temática. Por mais que se considere a educação financeira como tema transversal, é na área de Matemática que a BNCC mais a evidencia.

Por isso, neste artigo, temos como objetivo fazer uma crítica da educação financeira na Educação Matemática, por meio de uma revisão sistemática da literatura. Para tanto, realizamos um levantamento bibliográfico em 51 periódicos com escopo nos campos da Educação Matemática, do Ensino de Ciências e Matemática e da Educação de artigos que tratem do tema educação financeira, em todos os volumes disponíveis dos periódicos escolhidos até o ano de 2021.

Este texto apresenta, após a introdução, uma fundamentação teórica de base marxista, os procedimentos metodológicos adotados, os resultados e, por fim, as considerações finais referentes à crítica da educação financeira na Educação Matemática, a partir dessa revisão sistemática da literatura.

2 Fundamentação teórica

A educação financeira tem promovido um intenso processo de inculcação ideológica, reforçando a ideologia neoliberal e se constituindo como parte orgânica da vida social, conformando-se como um dos instrumentos de internalização da lógica capitalista. Nesse sentido, Duvoisin (2021DUVOISIN, L. A. A. Educação financeira, imperialismo e financeirização. Revista Estudos do Sul Global , São Paulo, v. 1, n. 1, p. 191-200, 2021. , p. 190) afirma que ela “[...] cumpre o papel ideológico de disseminar valores, crenças, símbolos e códigos de conduta que contribuem para o reforço do consentimento dos povos do sul global”.

A internalização constitui-se como um processo subjetivo generalizado, condicionado por elementos estruturais, que conduz os indivíduos à produção e à reprodução das relações sociais existentes, limitando as possibilidades de questionarem e confrontarem o sistema político e econômico vigente. Segundo Mészáros (2008MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , p. 44),

Enquanto a internalização consegue fazer seu bom trabalho, assegurando os parâmetros reprodutivos gerais do sistema do capital, a brutalidade e a violência podem ser relegadas a um segundo plano (embora de modo nenhum sejam permanentemente abandonadas) posto que são modalidades dispendiosas da imposição de valores.

Os sistemas de ensino são, por excelência, um dos principais instrumentos de internalização, de modo que a educação financeira, ao ser instituída como parte do currículo obrigatório nas escolas, representa um grande avanço nesse processo de inculcação ideológica.

As instituições formais de educação certamente são uma parte importante do sistema global de internalização. Mas apenas uma parte. Quer os indivíduos participem ou não – por mais ou menos tempo, mas sempre em um número de anos bastante limitado – das instituições formais de educação, eles devem ser induzidos a uma aceitação ativa (ou mais ou menos resignada) dos princípios reprodutivos orientadores dominantes na própria sociedade, adequados a sua posição na ordem social, e de acordo com as tarefas reprodutivas que lhes foram atribuídas ( MÉSZÁROS, 2008MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , p. 44).

Para fazer uma crítica da educação financeira enquanto instrumento de inculcação ideológica é necessário olhar não apenas para as questões mais aparentes trazidas à tona pelos seus elaboradores. Temas geralmente tratados, como o endividamento, a dificuldade de planejamento, o desconhecimento sobre o sistema financeiro, entre outros, são apenas sintomas de problemas estruturais. Essas particularidades não podem ser entendidas como desconectadas das estruturas político-econômicas do mundo capitalista, mas como constituintes de forças sociais que conduzem a formação das subjetividades e impõem limites para as ações, vinculando-as à lógica do capital.

Desse modo, é importante ter clareza sobre o que é o dinheiro no sistema capitalista. Embora a moeda exista antes mesmo do capitalismo, como intermediária e facilitadora das trocas, na comercialização, sobretudo com outras comunidades, do excedente produzido com o estabelecimento da propriedade privada dos meios de produção, é no modo de produção capitalista que o dinheiro passa a ser muito mais do que um meio de troca.

O desenvolvimento da produção e a ampliação do comércio deram origem ao dinheiro enquanto mercadoria, um equivalente-universal perante o qual todas as demais mercadorias podem ser comparadas. Ocorre que, de simples facilitador dos processos de troca, de mediador na circulação de mercadorias, o dinheiro transforma-se em elemento principal e ascende a um novo patamar junto com uma classe que o controla, a classe de comerciantes.

Com a expansão do comércio, com a ascensão do dinheiro e da burguesia à classe dominante, ocorre a transformação do dinheiro em capital. A dinâmica da circulação de mercadorias passa de M-D-M (mercadoria – dinheiro – mercadoria) para D-M-D (dinheiro – mercadoria – dinheiro), ou melhor, para D-M-D’. Se em M-D-M as mercadorias são produzidas objetivando um valor de uso (ainda que não do próprio produtor), em D-M-D a produção está orientada para promover a circulação do dinheiro, e em D-M-D’ o objetivo é fazer esse dinheiro circular sempre retornando para o possuidor com um valor a mais, denominado D’. A esta última forma de circulação, na qual o dinheiro deve ser colocado em movimento e retornar para seu possuidor como mais-dinheiro, dá-se o nome de fórmula geral ou lógica do capital ( MARX, 2013MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. ).

Marx (2013)MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. explicou como ocorre esse processo de circulação de dinheiro e demonstrou que o dinheiro a mais (mais-dinheiro) que retorna para as mãos do possuidor é sempre retirado na esfera da produção, como valor não pago ao trabalhador, chamado também de mais-valor ou mais-valia. Com a expansão do comércio e a ascensão da burguesia, o dinheiro passa a ser o dinamizador do processo produtivo.

De fato, para o capital, o dinheiro é a expressão do trabalho abstrato extraído do trabalho vivo dos trabalhadores e apropriado na forma de mais-valia para a própria reprodução do capital. É justamente através do controle da circulação do dinheiro, em especial controlando o processo produtivo, desde os insumos básicos até o pagamento da força de trabalho, que a classe capitalista consegue extrair enormes massas de dinheiro de um conjunto de trabalhadores.

O dinheiro, nesse sentido, divide-se entre aquele que os trabalhadores detêm (temporariamente), para manter a reprodução social da classe, e aquele que vai para o controle da burguesia, alimentando a reprodução do capital. Em Marx (2013)MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. , o dinheiro já está pressuposto no processo de produção de mercadorias e de valores, sendo, então, a expressão abstrata do valor.

Em uma análise histórico-dialética, o modo de produção capitalista – estabelecido na contradição entre as forças produtivas (combinação entre as forças de trabalho e os meios de produção) e as relações de produção (determinadas pela organização social e técnica do trabalho) – a partir de um determinado estágio de maturidade (GODELIER, 1982 apud AQUINO, 2007AQUINO, D. C. Os desdobramentos das contradições do processo de reprodução do capital: elementos para o entendimento das crises. 2007. 128 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. ), produz crises, que, como afirma Marx (2017MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro III: o processo global da produção capitalista. Edição de Friedrich Engels. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017. , p. 362), “[...] são sempre apenas violentas soluções momentâneas das contradições existentes [...]”.

Uma dessas crises, a da superprodução, é consequência da lógica intrínseca do capital, a qual está sempre em busca de manter ou ampliar suas taxas de lucro. Na medida em que as taxas de lucro decrescem, agudiza-se a contradição entre capital e trabalho. A burguesia busca formas de aumentar a produção e reduzir os custos – é quando, sem oposição organizada ao capital, a classe trabalhadora amarga maiores taxas de desemprego e menores salários. As inovações tecnológicas, por exemplo, sob o controle da burguesia, servem como motor para ampliação da produtividade. Isso significa que um trabalhador pode produzir mais em um mesmo período de tempo. Há mais mercadorias produzidas com menos trabalhadores; os menores custos significam menores salários e menos pessoas empregadas. Como demonstrou Marx (2013)MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. , o aumento da produtividade implica que a quantidade de trabalho vivo constituinte do valor da mercadoria diminui, o que leva a uma queda tendencial das taxas de lucro.

Crises de superprodução renovam a produção da miséria, pelo desemprego, pela destruição de bens de uso que não se converteram em mercadorias. A concorrência desenfreada entre capitais exacerba a tendência à redução dos lucros; a introdução de tecnologias tenta freá-la, através de massas ainda maiores de mercadorias produzidas com menor número proporcional de trabalhadores. O desemprego é crescentemente constitutivo dessa dinâmica social e vem sendo convertido em forma de exploração do trabalho sem a mediação contratual, sem direitos, sem limites de jornada de trabalho ( FONTES, 2017FONTES, V. Capitalismo, crises e conjuntura. Serviço Social & Sociedade , São Paulo, n. 130, p. 409-425, set./dez. 2017. , p. 411).

Nesse contexto, são organizações ligadas à burguesia que dão as diretrizes políticas e econômicas e que conduzem um processo de financeirização da economia, com a criação e controle de um capital fictício. Uma das marcas mais evidentes desse processo apresenta-se para a classe trabalhadora com a expansão do crédito, garantindo a venda da mercadoria excedente produzida. Assim, toma forma o endividamento da população e dos estados, sobretudo aqueles da periferia do sistema capitalista.

Realizar uma crítica da educação financeira, portanto, pressupõe uma compreensão do próprio sistema capitalista e de seus aspectos ideológicos, difundidos sobremaneira nos meios de comunicação e na educação escolar. Assumimos a perspectiva marxiana de que “[...] a crítica do conhecimento acumulado consiste em trazer ao exame racional [...] os seus fundamentos , os seus condicionamentos e os seus limites – ao mesmo tempo em que se faz a verificação dos conteúdos desse conhecimento a partir dos processos históricos reais” ( NETTO, 2011NETTO, J. P. Introdução ao estudo do método de Marx . São Paulo: Expressão Popular, 2011. , p. 18, grifos do autor).

3 Procedimentos metodológicos

Considerando o objetivo deste artigo, de fazer uma crítica da educação financeira na Educação Matemática, por meio de uma revisão sistemática da literatura, realizamos um levantamento bibliográfico em 51 periódicos brasileiros, em busca de artigos cuja temática envolvesse educação financeira (incluídos aí aqueles cuja temática envolvesse mais especificamente a matemática financeira).

Os periódicos selecionados possuem escopo nos campos da Educação Matemática, do Ensino de Ciências e Matemática e da Educação. Foram considerados periódicos com classificação no Qualis Periódicos vigente (2013-2016) A1, A2, B1, B2, B3 e B4, nas áreas de Ensino e Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sem contemplar a totalidade de periódicos, e, também, três periódicos sem classificação, como consta no Quadro 1 .

Quadro 1
– Periódicos consultados

O levantamento bibliográfico foi feito por meio da busca pelas palavras “financeiro”, “financeira” e “finança” nos títulos dos artigos publicados em língua portuguesa (ou suas traduções para outras línguas: “ financial ”, em inglês; e “ financiera ”, em espanhol) em todos os volumes disponíveis dos periódicos escolhidos até o ano de 2021. As edições mais antigas datam de 1977 (dos periódicos Educar em Revista e Boletim Gepem). No Quadro 1 , consta, entre parênteses, o ano do primeiro volume disponível de cada periódico. Também, a grafia em itálico do nome do periódico indica que ao menos um artigo foi encontrado na busca.

As categorias utilizadas para classificação dos artigos selecionados foram criadas a posteriori , isto é, a partir da leitura desses textos. O movimento de criação dessas categorias foi coletivo, envolvendo todos os autores. Após a realização do levantamento bibliográfico, foi selecionada uma amostra não representativa de dez artigos, que foram apresentados e discutidos por nós, ficando cada um responsável por dois textos. Com isso, foi possível conhecer perspectivas comuns ou distintas entre eles. A partir dessas percepções iniciais e tomando como base os referenciais teóricos adotados, as diferenças entre abordagens nos artigos foram aparecendo e, assim, as categorias sendo criadas.

Com uma nova amostra, buscamos classificar os artigos em propositivos ou não, com críticas ao sistema capitalista ou não. Na discussão sobre essa classificação, notamos que alguns artigos apresentavam proposições mais instrumentais, outros, proposições mais comportamentais; também foi constatado que, dentre os artigos que faziam críticas ao sistema capitalista, havia aqueles que faziam críticas a alguns aspectos do sistema, mas não criticavam o próprio sistema capitalista. A partir dessas percepções, as categorias foram sendo refinadas.

Esse movimento se repetiu algumas vezes até que concluíssemos que as categorias eram suficientes para classificar a totalidade dos artigos. Podemos dizer, portanto, que a criação das categorias, descritas na sequência, foi feita coletivamente, durante as discussões sobre os artigos levantados e com base no referencial teórico adotado.

Desse modo, diferenciam-se dois conjuntos de categorias. O primeiro conjunto refere-se à crítica apresentada com relação ao sistema de produção capitalista, sendo três categorias: sem crítica ; críticas a aspectos do sistema ; e críticas ao sistema . Nesse caso, as categorias são mutuamente excludentes, visto que entendemos não ser possível que um artigo se enquadre em mais de uma opção. Já o segundo conjunto refere-se às proposições apresentadas (ou não) pelo artigo, não sendo as opções mutuamente excludentes. São elas: não propositivo ; proposições instrumentais ; proposições comportamentais ; proposições reformistas ; e proposições revolucionárias .

Sobre o conjunto de categorias referentes à crítica, diferenciamos os artigos que realizam críticas a aspectos do sistema de produção capitalista – como condições de trabalho e remuneração, taxas de juros, acesso a crédito, desigualdade social e econômica e incentivo ao consumo – daqueles que criticam o sistema em si. Estes últimos, por sua vez, podem até realizar críticas a aspectos do sistema, mas indicam que a origem desses problemas está no próprio capitalismo.

Os artigos podem ou não apresentar proposições, sejam elas referentes a educação, políticas públicas ou atitudes individuais. Assim, o segundo conjunto de categorias diferencia os artigos que não apresentam proposições ( não propositivos ) daqueles que apresentam proposições ( propositivos ) – havendo quatro tipos possíveis de proposições. Ressaltamos que o fato de ser propositiva não qualifica a produção, visto que isso depende dos objetivos da pesquisa realizada.

Caso o artigo apresentasse proposições, elas poderiam ter características distintas e, assim, determinamos quatro categorias: proposições instrumentais , que tratam da utilização prática de um instrumento (por exemplo, a matemática financeira), podendo abordar metodologias de ensino, aspectos da aprendizagem ou materiais didáticos relacionados; proposições comportamentais , que se referem a comportamentos dos indivíduos, que devem ser alterados como uma forma de educação financeira (por exemplo, o comportamento consumista ou pouco atento a juros ou outras taxas aplicadas); proposições reformistas , que se referem a reformas sociais, econômicas, políticas, educacionais ou outras, como meios para resolver problemas relacionados ao capitalismo ou especificamente à educação financeira; e, finalmente, proposições revolucionárias , que apresentam a superação do capitalismo como o único modo de resolução dos problemas e das contradições inerentes a ele.

Como apresentado anteriormente, as categorias referentes às proposições não são excludentes entre si, já que é possível que os artigos indiquem proposições diversas. Apenas a categoria não propositivo não pode ser concomitante a outra, por motivos óbvios. Destacamos a possibilidade simultânea de proposições reformistas e revolucionárias, no sentido de Rosa Luxemburgo: “Entre a reforma social e a revolução, a social-democracia vê um elo indissolúvel: a luta pela reforma social é o meio, a revolução social o fim” (LUXEMBURGO, 2004, p. 7).

Os dois conjuntos de categorias, apesar de distintos (um referente a críticas e outro referente a proposições) apresentam algumas possibilidades mais ou menos fortes de relação. Por exemplo, artigos com proposições revolucionárias necessariamente apresentam críticas ao sistema de produção capitalista, não sendo possível esse tipo de proposição sem que críticas ao sistema sejam feitas. Mais adiante, quando apresentamos a distribuição dos artigos nas categorias, destacamos as relações mais presentes no material analisado.

4 Resultados

Como resultado do levantamento bibliográfico em 51 periódicos brasileiros, em todos os volumes disponíveis até o ano de 2021, em busca de artigos cuja temática envolvesse educação financeira, foram encontrados 229 textos em 37 periódicos. A primeira publicação data de 2007, no periódico Vidya, de modo que não houve artigos encontrados nos anos anteriores e em 2008, 2009 e 2011. Nota-se que, a partir de 2012, a temática passa a ser abordada nas publicações com crescente recorrência, com destaque para o ano de 2021, em que se concentram 22,7% de todas as publicações. Essas informações estão disponíveis na Tabela 1 e na Figura 1 .

Tabela 1
– Distribuição dos artigos por ano

Figura 1
– Gráfico de distribuição temporal

Os artigos publicados nos anos de 2007, 2010 e 2012 tratam, em sua totalidade, sobre a matemática financeira, de modo que, a partir de 2013, inicia uma mudança na temática para educação financeira, propriamente dita, podendo isso ser justificado como um efeito do Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010 ( BRASIL, 2010BRASIL. Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010. Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, dispõe sobre a sua gestão e dá outras providências. Diário Oficial da União , Brasília, 2010, n. 245, p. 7- 8, 23 dez. 2010. ), que instituiu a ENEF.

Alguns periódicos realizaram edições temáticas, incrementando a publicação sobre educação financeira. Foram elas: “Educação Financeira Escolar”, pelo Boletim Gepem, em 2015, com nove artigos; “Educação Financeira e Educação Matemática”, pelo BOEM: Boletim Online de Educação Matemática, em 2016, com 12 artigos; “Educação Financeira: diálogos e perspectivas”, pela Revista de Educação, Ciências e Matemática, em 2016, com dez artigos; “Pesquisas em Educação Financeira e Educação Matemática”, pela Tangram – Revista de Educação Matemática, em 2018, com seis artigos; “Pesquisas em Educação Financeira e Educação Estatística”, pela ReBECEM: Revista Brasileira de Educação em Ciências e Educação Matemática, em 2019, com dez artigos; “As diferentes perspectivas da Educação Financeira”, pela Tangram – Revista de Educação Matemática, em 2019, com nove artigos; e “Educação Financeira Escolar”, pela Em Teia – Revista de Educação Matemática e Tecnológica Iberoamericana, em 2021, com 32 artigos.

A categorização dos artigos no primeiro conjunto de categorias, isto é, com relação às críticas que realizam (ou não), resultou nos seguintes quantitativos3 3 Importante notar que os valores totais em cada uma das categorias do primeiro conjunto não são obtidos pela soma dos valores parciais do segundo conjunto de categorias, visto que o segundo conjunto não é mutuamente excludente. : 174 artigos sem críticas (76%); 47 artigos com críticas a aspectos do sistema (20,5%); e cinco artigos com críticas ao sistema (2,2%)4 4 A soma das porcentagens não resulta em 100%, visto que dois artigos se encontram indisponíveis nos sites dos periódicos e, por isso, não puderam ser categorizados. .

A categorização dos artigos no segundo conjunto de categorias, isto é, com relação às proposições que fazem (ou não), resultou nos seguintes quantitativos: 66 artigos são não propositivos (28,8%); 106 artigos apresentam proposições instrumentais (46,3%); 74 artigos apresentam proposições comportamentais (32,3%); oito artigos apresentam proposições reformistas (3,5%); e um artigo apresenta proposições revolucionárias (0,4%).

O detalhamento da distribuição dos artigos por categoria, tanto no primeiro quanto no segundo conjunto de categorias, consta na Tabela 2 .

Tabela 2
– Distribuição dos artigos por categoria

Nota-se uma prevalência de artigos sem crítica ao sistema de produção capitalista ou a aspectos dele (76%) e baixíssima recorrência de artigos com críticas diretamente ao sistema (2,2%). Também, são mais comuns artigos que apresentam proposições instrumentais (46,3%), comportamentais (32,3%) ou que não sejam propositivos (28,8%), e apenas um artigo apresenta proposta revolucionária, no sentido de propor uma superação do sistema de produção capitalista.

Dentro os periódicos específicos da área de Educação (Educação & Sociedade; Educação em Revista; Educar em Revista; Pró-Posições; e Instrumento: Revista de Estudo e Pesquisa em Educação), os resultados são distintos: diminui a quantidade de artigos sem crítica (50%) e aumenta a quantidade de artigos com críticas ao sistema (20%) e a aspectos dele (30%); e, ainda, aumenta a quantidade de artigos não propositivos (50%) e com proposições reformistas (20%) e diminui de proposições instrumentais (10%) e comportamentais (20%).

Destacam-se algumas correlações entre os dois conjuntos de categorias, sem que possamos estabelecer relações de causalidade. O único artigo com proposição revolucionária apresenta críticas ao sistema; nesse caso, isso era esperado, visto que a proposta de superação de um sistema produtivo, no caso, capitalista, pressupõe discordâncias a ele. Os artigos com proposições reformistas realizam, em sua maioria, críticas a aspectos do sistema. Quando propositivos, os artigos sem crítica ao sistema apresentam proposições instrumentais (em maior proporção) e comportamentais (em menor proporção); nesses casos, a abordagem principal está em apresentar metodologias de ensino e materiais didáticos ou tecnológicos para a abordagem da educação financeira na educação escolar. Quando propositivos, os artigos que realizam críticas a aspectos do sistema fazem proposições, em sua maioria, comportamentais; nesses casos, a solução para os problemas apontados está no indivíduo e em sua forma de agir, relacionada ao consumo, a investimentos, a poupar e a planejar as finanças.

Como modo de exemplificação, apresentamos a seguir alguns artigos e as categorias a eles relacionadas.

Diversas pesquisas têm como objetivo mapear ou analisar produções bibliográficas sobre educação financeira – livros ou outros materiais didáticos, dissertações e teses, artigos científicos, ementas de disciplinas etc. Muitos artigos que tratam dessas pesquisas não apresentam críticas ao sistema e não são propositivos.

Um caso é o artigo Educação Financeira na Educação de Jovens e Adultos: um olhar em pesquisas acadêmicas desenvolvidas nas últimas duas décadas , publicado em 2021, na REnCiMa: Revista de Ensino de Ciências e Matemática. Nesse caso, trata-se de um recorte de uma pesquisa maior (dissertação de mestrado), com a finalidade de investigar como dissertações e teses abordam a educação financeira na Educação de Jovens e Adultos para subsidiar a elaboração de um material didático. O artigo limita-se a apresentar a revisão sistemática dessas produções. Outro exemplo é o artigo A Educação Financeira Escolar em Portugal , publicado em 2015, no Boletim Gepem, cujo objetivo foi descrever como a educação financeira é implementada em Portugal.

Outras pesquisas também se configuram como sem críticas ao sistema e não propositivas. É o caso do artigo Encontros polissêmicos entre a educação financeira e a etnomatemática: um ensaio teórico , publicado em 2016, no Boletim Online de Educação Matemática. Os autores propõem uma aproximação entre a etnomatemática e a educação financeira, argumentando que ambas se preocupam com conteúdos matemáticos utilizados no cotidiano e visam a formação para a cidadania. Não há questionamentos ou críticas sobre o modo de produção capitalista, mas uma indicação de que os estudantes devem educar-se no que se refere às taxas de juros praticadas no mercado e preparar-se para lidar com uma sociedade consumista.

O que se percebe, também, é o uso massivo da matemática como instrumento, o que reproduz a lógica do capital. Como exemplo, pode-se citar o primeiro artigo que aborda a temática investigada, publicado em 2007. No próprio título – Uso do Excel no ensino de matemática financeira –, nota-se que o artigo não apresenta crítica sobre o atual sistema capitalista, mas insere a lógica capitalista na aprendizagem da matemática financeira por meio do uso de planilhas do Excel.

Marx (2013)MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. disserta que a própria lógica capitalista foi criada a partir do conceito de taxas de juros, que se retroalimenta através de lucros, ou seja, nesse caso, a matemática serve como instrumento para criar conceitos que reproduzem desigualdades. O fato de não criticar o sistema e, além disso, propor que se aprenda matemática por meio da lógica do capital é o que ocorre com a maioria dos artigos analisados, como mostra a Tabela 2 , em que 97 artigos estão categorizados como sem crítica e com proposições instrumentais, sendo essas proposições relacionadas à aprendizagem de porcentagem, juros, lucro e tudo aquilo que diz respeito à matemática financeira, considerada base para o funcionamento do sistema capitalista.

Dentre os artigos sem críticas ao sistema e com proposições instrumentais, citamos mais dois. Um deles tem como título Educação Financeira e Matemática Financeira – uma possibilidade pela Educação Matemática e foi publicado em 2019, no periódico Perspectivas da Educação Matemática. Seu objetivo era a elaboração de problemas envolvendo a matemática financeira com vistas a atingir uma educação financeira, promovendo reflexões de ordem financeira pelos estudantes do Ensino Médio. O outro artigo foi publicado em 2021, na Revista Paranaense de Educação Matemática, com o título Ensinando matemática financeira com tecnologias: uma experiência utilizando Laboratório Rotacional em tempos de ensino remoto . Trata-se de um relato de experiência realizada na Educação Básica para o ensino de porcentagem, juros simples e juros compostos, utilizando tecnologias no ensino remoto durante a pandemia de Covid-19. Nos dois casos, são apresentadas proposições instrumentais ou utilitárias de ensino, ou seja, como ensinar um determinado assunto (em ambos os casos, a matemática financeira).

Em relação aos artigos que realizam proposições instrumentais, há também aqueles que, ainda que se apropriem do artefato da matemática financeira para a aprendizagem de matemática, realizam críticas a aspectos do sistema, como é o caso do artigo O estudo de matrizes na perspectiva da educação do campo: problematizando o controle financeiro de cooperativas agrícolas , publicado em 2016 na Revista de Educação, Ciências e Matemática. A autora analisa como estudantes de Licenciatura em Matemática utilizam tópicos de matrizes como ferramenta para o controle financeiro de cooperativas agrícolas, na perspectiva da Educação do Campo. Assim, apresenta as cooperativas como uma reação de agricultores familiares à exploração do agronegócio, caracterizando-se como um artigo crítico a aspectos do sistema, pois trata, de alguma forma, a luta de classes. Ainda que haja essa tentativa, Mészáros (2008MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , p. 25-26, grifos do autor) pontua que “podem-se ajustar as formas pelas quais uma multiplicidade de interesses particulares conflitantes se deve conformar com a regra geral preestabelecida da produção da sociedade, mas de forma alguma pode-se alterar a própria regra geral ”. Em outras palavras, a regra geral do capital continua em funcionamento.

São 48 artigos que se caracterizam como sem críticas e com proposições comportamentais, ou seja, que sugerem mudanças de comportamentos do sujeito e, assim, muitos deles reproduzem a lógica capitalista com o respaldo da matemática. O artigo Uma experiência didática em Educação Financeira Crítica , publicado na REMAT: Revista Eletrônica da Matemática, em 2016, considera hipoteticamente uma família endividada e aponta soluções para isso por meio de empréstimo pessoal ao invés da utilização de cartão de crédito, se não for possível utilizá-lo de modo consciente. A proposição de uma mudança de comportamento frente às finanças alegando que é necessário o consumo consciente é uma máxima frequente nos artigos dessa forma categorizados.

Nessa perspectiva, a consciência do consumo está relacionada ao desejo de consumir versus a realidade financeira do sujeito. No entanto, não se questiona que a realidade do sujeito decorre de um sistema desigual que não permite que ele possa consumir e desejar coisas da mesma forma que um sujeito de alto poder aquisitivo. Em vez disso, o sujeito é culpabilizado pela sua situação e levado a se resolver financeiramente por meio de empréstimos ou horas extras de trabalho para complementar renda, fato que dá continuidade ao ciclo vicioso que favorece ainda mais pessoas e instituições que já são favorecidas no capitalismo. Para Mészáros (2008)MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , é inconcebível que se introduza esse controle consciente, sem ativar os recursos da educação no sentido mais amplo do termo.

Há artigos que apresentam mais do que um tipo de proposição, como é o caso do texto Educação Financeira no Ensino Médio: uma análise de atividades didáticas relacionadas a séries periódicas uniformes sob o ponto de vista da Educação Matemática Crítica , publicado no Bolema: Boletim de Educação Matemática, em 2021. Ele não apresenta críticas e tem proposições tanto instrumentais, relacionadas a como ensinar temas da educação financeira, como comportamentais, em que sugere que sejam realizadas reflexões sobre a tomada de decisão com base em argumentos não matemáticos, entre eles, comportamentais.

Um exemplo de artigo com críticas a aspectos do sistema e não propositivo é o texto intitulado Educação doméstica e educação financeira na escola: diferenças a partir do gênero , publicado na Tangram – Revista de Educação Matemática, em 2018. O artigo inspira-se em uma análise documental de caráter histórico-bibliográfico, com o objetivo de encontrar disciplinas escolares relacionadas ao tema das finanças, buscando compreender sua inserção na educação escolar em diferentes épocas. O texto apresenta uma visão crítica (com foco em questões de gênero) nas disciplinas de economia doméstica e educação financeira e não há proposições com relação à educação financeira.

O artigo Temáticas de educação financeira escolar nos anos iniciais do ensino fundamental: como são apresentadas em livros didáticos de matemática? , publicado em 2020, na Alexandria – Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, apresenta uma análise de atividades que envolvam a educação financeira em uma coleção de livros didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nessas análises, são feitas críticas a aspectos do sistema (venda de produtos bancários, consumismo etc.) e as autoras defendem que os livros abordem maior diversidade de temáticas, caracterizando proposições instrumentais.

Um artigo caracterizado com críticas a aspectos do sistema e proposições comportamentais é Resolução de Problemas na Matemática Financeira para Tratamento de Questões da Educação Financeira no Ensino Médio , publicado no Bolema: Boletim de Educação Matemática, em 2017. Dentre as críticas que faz, está o incentivo ao consumo na sociedade capitalista; nesse sentido, propõe que a escola prepare o indivíduo para viver nesse meio.

As proposições comportamentais associadas às críticas a aspectos do sistema são problemáticas. Propor mudanças comportamentais e ampliá-la para uma visão crítica daquilo que está posto não deixa de sustentar uma ordem social já estabelecida. Por exemplo, no artigo Cenários sobre Educação Financeira Escolar: entrelaçamentos entre a pesquisa, o currículo e a sala de aula de Matemática , publicado em 2018 na Em Teia – Revista de Educação Matemática e Tecnológica Iberoamericana, os autores propõem possíveis cenários de investigação para serem trabalhados em sala de aula, de modo que influenciem o comportamento e as tomadas de decisão de estudantes sob os pilares da conscientização e consumo, mas reconhecem que questões que envolvem consumo e sustentabilidade precisam estar constantemente em pauta. Porém, o que está em jogo não é a deficiência de recursos naturais e econômicos disponíveis no planeta, mas sim “[...] a inevitável deficiência estrutural de um sistema que opera através de seus ciclos viciosos de desperdícios e de escassez ” ( MÉSZÁROS, 2008MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , p. 74, grifos do autor).

Os artigos identificados com proposições reformistas, apresentando críticas a aspectos do sistema ou ao sistema capitalista como um todo, propõem mudanças na educação financeira, de modo a romper com a matemática mercadológica e efetivar uma educação que promova a inclusão e justiça social, ou mudanças no próprio capitalismo, amenizando seus efeitos destrutivos de geração de desigualdades, sem alterar sua estrutura. Para Mészáros (2008)MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , a prática do reformismo omite a base na qual o sistema é estabelecido:

O inevitável fracasso em revelar a verdadeira preocupação do reformismo decorre da incapacidade de sustentar a validade atemporal da ordem política e socioeconômica estabelecida. É na realidade, totalmente inconcebível sustentar a validade atemporal da ordem política socioeconomicamente estabelecida. Na realidade, é completamente inconcebível sustentar a validade atemporal e a permanência de qualquer coisa criada historicamente . É isso que torna inevitável, em todas as variedades sociopolíticas do reformismo, tentar desviar a atenção das determinações sistêmicas – que no final das contas definem o caráter de todas as questões vitais – para discussões mais ou menos aleatórias sobre efeitos específicos enquanto deixa a sua incorrigível base causal não só incontestavelmente permanente como também omissa ( MÉSZÁROS, 2008MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , p. 63-64, grifos do autor).

Como um exemplo de artigo que apresenta críticas a aspectos do sistema e proposições reformistas, citamos o texto O elemento financeiro e a educação para o consumo responsável , publicado no periódico Educação em Revista, em 2013. Os autores realizam uma crítica à Estratégia Nacional de Educação Financeira, que é apresentada como uma estratégia para lidar com os problemas decorrentes da crise financeira de 2008 e do acesso ao crédito, que pode levar ao endividamento das pessoas. O texto possui passagens que indicam que a solução dos problemas financeiros e econômicos estão no próprio mercado (concorrência entre bancos, aumento de opções disponíveis nos supermercados, portabilidade de telefonia fixa e móvel) e propõe a educação para o consumo responsável como estratégia educacional.

O artigo Modelagem Matemática e Educação Financeira: uma integração possível no desenvolvimento da criticidade dos estudantes , publicado em 2020, na Educação Matemática Debate, foi categorizado como crítico a aspectos do sistema e com proposições instrumentais e reformistas. Por um lado, apresenta proposições voltadas ao modo de ensinar alguns temas da educação financeira, dando destaque à modelagem matemática; e, por outro lado, indica a necessidade de reformas na sociedade para garantia de qualidade de vida para a população de baixa renda.

Dentro os cinco artigos categorizados como críticos ao sistema capitalista, dois deles são não propositivos. Um exemplo é o texto O mercado financeiro chega à sala de aula: Educação Financeira como política pública no Brasil , publicado no periódico Educação & Sociedade, em 2020. Ele analisa, de maneira crítica, a implementação da Estratégia Nacional de Educação Financeira no Brasil, associando-a a um projeto de sociedade, que, na visão da autora, é pouco nítido e não tem sido discutido pelos atores sociais interessados.

Ainda, dois artigos apresentam proposições reformistas, entre os quais está o texto Os sujeitos endividados e a Educação Financeira , publicado no periódico Educar em Revista, em 2017. Ele tem como objetivo analisar as propostas de educação financeira dos Estados Unidos da América, da França e do Brasil. A autora apresenta críticas a aspectos do sistema capitalista, como a valorização do empreendedorismo, e finaliza com uma sugestão de que a educação financeira no Brasil seja reapropriada pelo campo educacional, desenvolvendo um senso crítico no que se refere ao funcionamento do capitalismo. Por fim, um artigo apresenta proposições revolucionárias (o único do corpus ): A educação financeira no Antropoceno , publicado na Em Teia – Revista de Educação Matemática e Tecnológica Iberoamericana, em 2021. Ele aborda os conceitos de Antropoceno e Capitaloceno e propõe que seja feita uma correção de rota da humanidade, em um embate entre o capitalismo e a preservação da vida no planeta.

A categoria que diz respeito às proposições revolucionárias indica a mudança radical do sistema capitalista como forma de superação das desigualdades geradas por ele. Para Marx e Engels (2007)MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã . São Paulo: Boitempo, 2007. , somente por meio de uma revolução é possível a fundação de uma nova sociedade. Por mais suprema que tal ideia transpareça, ela possui também seu papel transformador ante a atual conjuntura política, econômica, social, educacional e cultural na qual a sociedade se insere. Mészáros (2008)MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital . Tradução de Isa Tavares. 2. ed. ampliada. São Paulo: Boitempo, 2008. , ao propor uma educação para além do capital, defende que educadores e estudantes podem, conjuntamente, realizar uma educação que se constitua a transformação radical do atual modelo hegemônico. É nesse sentido que a categorização das proposições revolucionárias se faz presente: não propondo reformar ou reformular pedaços do sistema (mesmo que tal ação seja revolucionária), mas, sim, construir uma nova trajetória social que possibilite (re)pensar, também, a educação financeira.

Na sequência, realizamos algumas considerações referentes à crítica da educação financeira na Educação Matemática, a partir dessa revisão sistemática da literatura.

5 Considerações Finais

Diante da revisão sistemática da literatura realizada, propomos aqui uma crítica da educação financeira na Educação Matemática, que se dá em um momento histórico de aprofundamento da crise capitalista e, no que se refere à educação financeira, em um contexto de fortalecimento de políticas públicas no âmbito nacional que introduzem a lógica financeira de ideologia neoliberal nos sistemas educativos. Sem dúvida, a ENEF (assim como a nova ENEF) logra êxito ao se difundir nos currículos da Educação Básica no Brasil, materializando-se pela inserção da educação financeira na BNCC. É nesse cenário que pesquisas em Educação Matemática passam a investigar o tema da educação financeira com mais afinco, em especial a partir de 2015.

Nota-se uma migração da temática mais específica da matemática financeira, objeto de estudo das pesquisas da Educação Matemática encontradas até o ano de 2012, para a temática mais ampla da educação financeira. Existe uma substituição de termos, muitas vezes, em que se mantêm os conteúdos matemáticos, próprios da matemática financeira, mas inseridos na denominada educação financeira – o que se explica pela própria instituição da ENEF e consequentes políticas que utilizam a expressão educação financeira de um modo mais amplo, contemplando, também, a matemática financeira. Porém, não se trata apenas disso; as pesquisas passam a ter como objeto, muitas vezes, a educação financeira proveniente das instituições financeiras. Nesse sentido, há uma mistura de uma abordagem científica, especialmente relacionada a ensino, aprendizagem e comportamento, e de uma abordagem ideológica, com uma centralidade das finanças na vida dos sujeitos.

A predominância de pesquisas que, ao abordar o tema, não apresentam críticas ao sistema de produção capitalista ou a aspectos dele (76%) leva-nos a questionar de que modo a Educação Matemática, enquanto área, tem fomentado investigações com essa característica.

A educação financeira, já instalada nos sistemas educativos, é abordada, muitas vezes, de forma ingênua e utilitarista. Não são poucos os artigos analisados que se referem à educação financeira como um caminho de salvação para as pessoas que se veem endividadas e sem perspectivas de melhora nas condições de vida. Nesses casos, falta uma compreensão mais estrutural do sistema capitalista e das estratégias de expansão do capital; por isso, uma visão ingênua. Também utilitarista, já que são bastante comuns as pesquisas que propõem abordagens de ensino para a educação financeira (46,3%), em grande parte relacionada a conteúdos matemáticos.

O panorama das pesquisas em educação financeira aponta para a necessidade de investigações que abordem o tema pautadas em conhecimentos científicos, em especial, das ciências sociais, como economia e sociologia. A quase ausência de bases teóricas nessas áreas no corpus analisado pode indicar uma fragilidade das pesquisas da Educação Matemática, pois, apesar de se fundamentarem em pressupostos científicos próprios do campo educacional, promovem discursos ideológicos das instituições financeiras, que possuem o objetivo do lucro. Assim, consolida-se a educação financeira como um importante instrumento de inculcação ideológica, com espaço nas escolas, também no âmbito das pesquisas em Educação Matemática.

A crescente produção científica dentro do campo da Educação Matemática sobre a educação financeira não tem se sustentado, ao longo dos anos, em bases teóricas críticas que questionem sua função ideológica no sistema de produção capitalista. Entendemos que este é um desafio para os pesquisadores interessados no tema.

Anexo

Anexo – Quadro com artigos do corpus e categorização

Neste quadro, está a listagem dos artigos encontrados, com as seguintes informações: periódico, ano de publicação, título do artigo e categorização5 5 Considerando a limitação de espaço, não apresentamos os nomes dos autores, visto que as análises não têm como foco as pessoas que realizam pesquisa na temática da educação financeira, mas os resultados das pesquisas em si. . Para apresentação da categorização, utilizamos as iniciais das categorias dos dois conjuntos de categorias separados por uma barra (/), isto é: no primeiro conjunto, as categorias são “sem crítica” (SC), “críticas a aspectos do sistema” (CaAdS) e “críticas ao sistema” (CaS); no segundo conjunto, as categorias são “não propositivo” (NP), “proposições instrumentais” (PI), “proposições comportamentais” (PC), “proposições reformistas” (PRef) e “proposições revolucionárias” (PRev). Em caso de mais de uma categoria do segundo conjunto, que não é mutuamente excludente, as iniciais são separadas por hífen (-). A título de exemplo, um artigo classificado como pertencente à categoria sem crítica e com proposições instrumentais e proposições comportamentais está representado por “SC/PI-PC”.

Quadro 2
– Categorização de artigos

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2022
  • Aceito
    21 Nov 2022
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