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O trabalho invisível e perigoso dos profissionais de manutenção: reflexões sobre a atividade em uma indústria automobilística

The invisible, dangerous work of maintenance professionals: reflections on activity in the automotive industry

Resumos

O presente artigo tem como objetivo identificar, a partir da Análise Ergonômica do Trabalho, os aspectos interferentes sobre a gestão da variabilidade efetuada por mecânicos e eletricistas de manutenção de uma área de estamparia, revelando suas relações conflitantes com as áreas de produção, segurança e engenharia. Baseada nas aproximações vigentes do sistema de gerenciamento da manutenção, dos riscos e projetos de máquinas sob a luz da facilidade para manutenção, é retomada a discussão sobre a importância da atividade viva dos profissionais, frequentemente desconsiderada por essas áreas. A partir dos resultados da análise do trabalho realizado, é proposto um novo reposicionamento das abordagens, levando em conta a perspectiva do manutentor no curso da ação, privilegiando, considerando a importância dos "meios" e não mais somente dos "fins", propiciando melhorias tanto para a empresa, aumentando os índices de confiabilidade das instalações, quanto para os profissionais, preservando sua saúde e segurança.

Atividade de manutenção; Profissionais de manutenção; Análise Ergonômica do Trabalho (AET); Manutenção; Indústria automobilística


This paper uses ergonomic work analysis to identify the interfering aspects of variability management affected by mechanical and electrical maintenance workers in a press shop area, revealing these workers' conflicting relationships with a company's production, security and engineering areas. Approximations based on the company's existing system of maintenance management, risks and project engineering, with attention given to ease of maintenance, focus the discussion on the importance of professionals' real activity, an aspect often disregarded in these areas. The results of this analysis suggest that the point of view should be changed to account for the maintainer's perspective in the course of action to prioritize, to consider the importance of operations and not just results and to provide improvements to both the company, by increasing reliability facilities, and to professionals, by preserving their health and safety.

Maintenance activities; Maintenance professionals; Ergonomic Work Analysis (EWA); Maintenance; Automotive industry


1. Introdução

A função manutenção é definida como uma função estratégica que busca a maior disponibilidade e confiabilidade das instalações através da diminuição de quebras e falhas nos equipamentos e sistemas, otimizando o uso dos recursos disponíveis. O objetivo básico da manutenção é garantir a continuidade operacional da planta, maximizando a disponibilidade e a confiabilidade dos equipamentos e das instalações industriais ao menor custo possível e preservando a integridade do homem e do meio ambiente (Cavalcante & Fleury, 1999Cavalcante, C. A. M. T., & Fleury, A. C. C. (1999). O conceito de evento na análise organizacional das atividades de manutenção corretiva. São Paulo: Departamento de Engenharia de Produção, USP. 26 p. Boletim Técnico.).

A manutenção é a "medicina dos equipamentos" (Monchy, 1989Monchy, F. (1989). A Função Manutenção: formação para a gerência da manutenção industrial. São Paulo: Ebras/Durban., p. 02) e pode-se definir a missão do serviço de manutenção como "[...] a gestão otimizada do parque de equipamentos das instalações de produção." Esse mesmo autor afirma que essa otimização só pode ser alcançada em função de objetivos, que devem ser claramente definidos a partir do conhecimento de três fatores: fator econômico (menores custos de falhas e de produção e economia de energia); fator humano (condições de trabalho, segurança e fatores ambientais); e fator técnico (disponibilidade e durabilidade dos equipamentos).

Mais recentemente, a missão da manutenção foi definida por Kardec & Nascif (2001Kardec, A., & Nascif, J. (2001). Manutenção: função estratégica. Rio de Janeiro: Qualitymark., p. 22) como

[...] garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção ou de serviço com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente a custos adequados.

Nesse novo contexto, a área de manutenção dos ativos de produção passou a desempenhar um papel estratégico nas empresas industriais. Segundo dados da ABRAMAN (Associação Brasileira de Manutenção, 2009Associação Brasileira de Manutenção - ABRAMAN. (2009). Documento Nacional 2009: A situação da manutenção no Brasil (resumo). São Paulo. 31 p.), o percentual de custo total da manutenção em relação ao faturamento bruto brasileiro, em 2009, foi de 4,14%. Como consequência, houve uma grande mudança no conceito e na consciência gerencial acerca dos custos e da necessidade de inovações das políticas e procedimentos de manutenção. A manutenção, antes vista como um "mal necessário", passou a ser considerada uma atividade estratégica indispensável à produção, além de ser uma das bases de toda atividade industrial (Santos et al., 2007Santos, W. B., Motta, S. B., & Colosimo, E. A. (2007). Tempo ótimo entre manutenções preventivas para sistemas sujeitos a mais de um tipo de evento aleatório. Gestão & Produção, 14(1), 193-202. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2007000100016
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).

Tal necessidade e importância econômica produziram muitas investigações e aproximações com diferentes abordagens e perspectivas, com vistas a melhorar o desempenho da função manutenção.

No que tange às políticas e modelos de gestão e otimização da manutenção, a literatura apresenta um conjunto significativo de pesquisas, por exemplo: modelos de controle de custos de manutenção (Peres & Lima, 2008Peres, C. R. C., & Lima, G. B. A. (2008). Proposta de um modelo para controle de custos de manutenção com enfoque na aplicação de indicadores balanceados. Gestão & Produção, 15(1), 149-158. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2008000100013
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); modelo financeiro para melhoria do desempenho e orientação dos investimentos em manutenção na indústria de manufatura (Salonen & Deleryd, 2011Salonen, A., & Deleryd, M. (2011). Cost of poor maintenance: A concept for maintenance performance improvement. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 17(1), 63-73. http://dx.doi.org/10.1108/13552511111116259
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); políticas de gerenciamento da manutenção (Murthy et al., 2002Murthy, D. N. P., Atrens, A., & Eccleston, J. A. (2002). Strategic maintenance management. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 8(4), 287-305. http://dx.doi.org/10.1108/13552510210448504
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; Alves & Falsarella, 2009Alves, R. P., & Falsarella, O. M. (2009). Modelo conceitual de inteligência organizacional aplicada à função manutenção. Gestão & Produção, 2, 313-324. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2009000200013
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); modelos de manutenção para sistemas sujeitos a mais de um evento aleatório, para determinação de uma política ótima de manutenção preventiva (Santos et al., 2007Santos, W. B., Motta, S. B., & Colosimo, E. A. (2007). Tempo ótimo entre manutenções preventivas para sistemas sujeitos a mais de um tipo de evento aleatório. Gestão & Produção, 14(1), 193-202. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2007000100016
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); modelos matemáticos baseados na teoria multicritério de apoio à decisão e sistemas especialistas para tomada de decisões (Cavalcante & Almeida, 2005Cavalcante, C. A. V., & Almeida, A. T. (2005). Modelo multicritério de apoio a decisão para o planejamento de manutenção preventiva utilizando promethee II em situações de incerteza. Pesquisa Operacional, 25(2), 279-296.; Helmann & Marçal, 2007Helmann, K. S., & Marçal, R. F. M. (2007). Método multicritério de apoio à decisão na gestão da manutenção: aplicação do método electre I na seleção de equipamentos críticos para processo. Gestão Industrial, 3(1), 123-134.); modelos de predição, utilizando lógica Fuzzy e redes neurais (Cheung et al., 2005Cheung, A., Ip, W. H., & Lu, D. (2005). Expert system for aircraft maintenance services industry. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 11(4), 348-358. http://dx.doi.org/10.1108/13552510510626972
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; Raza & Liyanage, 2009Raza, J., & Liyanage, J. P. (2009). Application of intelligent technique to identify hidden abnormalities in a system: A case study from oil export pumps from an offshore oil production facility. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 15(2), 221-235. http://dx.doi.org/10.1108/13552510910961156
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; Hennequin et al., 2009Hennequin, S., Arango, G., & Rezg, N. (2009). Optimization of imperfect maintenance based on fuzzy logic for a single-stage single-product production system. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 15(4), 412-429. http://dx.doi.org/10.1108/13552510910997779
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); modelos de manutenção centrada em confiabilidade (RCM) e manutenção produtiva total (TPM) como base das estratégias de manutenção, objetivando a máxima disponibilidade operacional a um custo ótimo (Sellitto, 2005Sellitto, M. A. (2005). Formulação estratégica da manutenção industrial com base na confiabilidade dos equipamentos. Produção, 15(1), 44-59. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65132005000100005
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; Hipkin & De Cock, 2000Hipkin, I. B., & De Cock, C. (2000). TQM and BPR: lessons for maintenance management. International Journal of Management Science, 28(3), 277-292.; Li & Gao, 2010Li, D., & Gao, J. (2010). Study and application of Reliability-centered Maintenance considering Radical Maintenance. Journal of Loss Prevention in the Process Industries, 23, 622-629. http://dx.doi.org/10.1016/j.jlp.2010.06.008
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; Ahuja & Khamba, 2008Ahuja, I. P. S., & Khamba, J. S. (2008). Total productive maintenance: literature review and directions. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 25(7), 709-756.), além de estudos que abordam a implantação de softwares específicos para o controle e gerenciamento da manutenção (Nicolopoulos et al., 2003Nicolopoulos, K., Metaxiotis, K., Lekatis, N., & Assimakopoulos, V. (2003). Integrating industrial maintenance strategy into ERP. Industrial Management & Data Systems, 103(3), 184-191. http://dx.doi.org/10.1108/02635570310465661
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; Kans, 2009Kans, M. (2009). The advancement of maintenance information technology. Journal of Quality in Maintenance Engineering, 15(1), 5-16. http://dx.doi.org/10.1108/13552510910943859
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).

No que tange às pesquisas relacionadas ao trabalho dos profissionais de manutenção, a literatura apresenta um número escasso de estudos envolvendo a atividade dos profissionais de manutenção. Estudos sobre capacitação e treinamento dos profissionais (Kraus & Gramopadhye, 2001Kraus, D. C., & Gramopadhye, A. K. (2001). Effect of team training on aircraft maintenance techinicians: computer-based training versus instructor-based training. International Journal of Industrial Ergonomics, 27, 141-157. http://dx.doi.org/10.1016/S0169-8141(00)00044-5
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; Liang et al., 2010Liang, G. F., Lin, J.-T., Hwang, S.-L., Wang, E. M., & Patterson, P. (2010). Preventing human errors in aviation maintenance using an on-line maintenance assistance platform. International Journal of Industrial Ergonomics, 40, 356-367. http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2010.01.001
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); modelos para melhoria da qualidade de comunicação entre os profissionais (Kim et al., 2010Kim, S., Park, J., Han, S., & Kim, H. (2010). Development of extended speech act coding scheme to observe communication characteristics of human operators of nuclear power plants under abnormal conditions. Journal of Loss Prevention in the Process Industries, 23, 539-548. http://dx.doi.org/10.1016/j.jlp.2010.04.005
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); as fontes de risco e causas de acidentes envolvendo os profissionais (Tavares & Echternacht, 2006Tavares, V. E., & Echternacht, E. H. O. (2006). A gestão do risco na terceirização de atividades de manutenção mecânica e a dicotomia entre o real e o prescrito: Um estudo de caso em uma siderúrgica de grande porte. In Anais do Encontro Nacional De Engenharia de Produção, 26, Fortaleza.; Lind, 2008Lind, S. (2008). Types and sources o fatal and severe nofatal accidents in industrial maintenance. International Journal of Industrial Ergonomics, 38, 927-933. http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2008.03.002
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); bem como estudos sobre as condições e aspectos físicos, ambientais e organizacionais (Joode et al., 1997Wendel De Joode, B., Burdorf, A., & Verspuy, C. (1997). Physical load in ship maintenance: Hazard evaluation by means of a workplace survey. Applied Ergonomics, 28(3), 213-219. http://dx.doi.org/10.1016/S0003-6870(96)00051-8
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; Marques et al., 2007Marques, A., Marçal, R. F. M., Barreto Neto, A. A., & Xavier, A. A. P. (2007). Aspectos ergonômicos envolvidos na manutenção em uma empresa de beneficiamento de mármore e granito. Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, 2, 13-17.; Garrigou et al., 1998Garrigou, A., Carballeda, G., & Daniellou, F. (1998). The role of "know-how" in maintenance activities and reliability in high-risk process control plant. Applied Ergonomics, 29(2), 127-131. http://dx.doi.org/10.1016/S0003-6870(96)00060-9
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; Carballeda, 1997Carballeda, G. (1997). La contribution des ergonomes à l'analyse et à la transformation de l'organisation du travail: I exemple d'une intervention relative à la maintenance dans une industrie de process continu (These doctorat) e Conservatoire national des Arts et Métiers, Paris. 178 p.) ilustram as diferentes abordagens relacionando o trabalho dos profissionais de manutenção.

Diante de tais pesquisas, percebe-se que a grande maioria dos estudos sobre o gerenciamento da manutenção e atividade dos profissionais tem um caráter sistêmico, previsível e pontual, privilegiando as ferramentas e modelos de gestão em detrimento da atividade real dos profissionais. Segundo Lind (2008)Lind, S. (2008). Types and sources o fatal and severe nofatal accidents in industrial maintenance. International Journal of Industrial Ergonomics, 38, 927-933. http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2008.03.002
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, a maioria dos estudos relacionados à segurança nas atividades de manutenção examina o desempenho humano como causa de acidente. Conclusões de Reason & Hobbs (2003)Reason, J., & Hobbs, A. (2003). Managing Maintenance Error - A Practical Guide. Burlington: Ashgate Publishing Company. mostrando que uma significante proporção de falhas de equipamento ocorrem logo após uma operação de manutenção suportam esse ponto de vista. A abordagem é baseada sobre o aumento dos riscos de erro humano durante as desmontagens e montagens. Essas aproximações acompanham e sustentam o desenvolvimento de uma gestão na qual as dificuldades do trabalho real, do trabalho cotidiano são subestimadas, minimizadas ou até mesmo apagadas ou categoricamente negadas (Llory, 2002Llory, M. (2002). O homem como agente de confiabilidade e segurança: a dimensão coletiva do trabalho. In F. Duarte (Ed.), Ergonomia e Projeto na indústria de processo contínuo (pp. 244-267). Rio de Janeiro: Ed. Lucerna.).

Assim, observando-se esse cenário, nota-se uma lacuna referente a estudos que privilegiem a importância da atividade real desempenhada pelos profissionais de manutenção, situações que sempre passaram desapercebidas, não reconhecendo-se nem considerando-se as dificuldades e imprevistos enfrentados durante os trabalhos de planejamento e execução. O que nos parece um contrassenso, uma vez que é justamente o caráter de imprevisibilidade e variabilidade das avarias e disfuncionamentos dos equipamentos, fatores inerentes à e determinantes da função manutenção. Outro fator, independente do processo ou tecnologia, é a impossibilidade de redução substancial do contato direto entre o operador e a máquina nas atividades de manutenção. A manutenção é, e provavelmente sempre será, a área que lida com a tecnologia onde humanos estarão em contato direto com o processo (Reason, 1997 apud Lind, 2008Lind, S. (2008). Types and sources o fatal and severe nofatal accidents in industrial maintenance. International Journal of Industrial Ergonomics, 38, 927-933. http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2008.03.002
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). Com isso, a garantia da manutenção da operação desses sistemas faz com que o fator humano tenha um papel muitas vezes decisivo, devido à características que o sistema técnico não apresenta, como bom senso, antecipação, percepção, entre outras (Borges & Menegon, 2009Borges, F. M., & Menegon, N. L. (2009). Fator humano: confiabilidade às instabilidades do sistema de produção. Gepros, 4(4), 37-48.). Nesse sentido, o fator humano é considerado como fonte de confiabilidade dos sistemas de produção, colocando-se como mantenedor ativo da confiabilidade do sistema e não como um simples vigilante das instalações, evidenciando que o trabalho humano continua necessário para fazer face ao acontecimento (Zarifian, 1995Zarifian, P. (1995). Le Travail et l'événement. Paris: L, Harmattan.).

O presente artigo tem como objetivo identificar a partir da análise ergonômica do trabalho os aspectos técnicos e organizacionais interferentes sobre a gestão da variabilidade efetuada por mecânicos e eletricistas de manutenção em situações reais de intervenção corretiva e preventiva de uma área de estamparia de uma grande indústria automobilística, revelando suas relações conflitantes com as áreas de produção, segurança e engenharia.

Baseada nas aproximações vigentes do sistema de gerenciamento da manutenção, das regulamentações de segurança na manutenção, comumente pautadas por procedimentos e normas prescritas e projetos de máquinas sob a luz da facilidade para manutenção, é retomada a discussão sobre a importância da atividade viva dos profissionais, frequentemente desconsiderada por essas áreas.

A opção pelo tema também diz respeito ao pesquisador. Trabalhando nela por mais de 20 anos, 18 como mecânico de manutenção, sempre nos deparamos com as variabilidades e imprevistos que são inerentes à nossa função, bem como a não reflexão sobre as dificuldades encontradas por nós, interventores. Assim, uniu-se o interesse particular do pesquisador, interessado num primeiro momento em verificar, validar se as prescrições elaboradas com a participação ativa dos profissionais de manutenção contribuem "de fato" para a realização da atividade. Entretanto, no decorrer da pesquisa, emergiu a questão da invisibilidade da atividade dos profissionais de manutenção. Assim, a partir de uma demanda inicial, elaborou-se como norteador da pesquisa a reflexão acerca das origens da invisibilidade e das implicações dela sobre a atividade dos profissionais de manutenção. Não se trata de uma hipótese de pesquisa, porém é uma questão que se pretende elucidar neste artigo.

Nesse sentido, a partir dos resultados da análise do trabalho realizado é proposta a construção de uma nova interpretação, reposicionando o olhar sobre a necessidade de iluminar-se o que está na "caixa negra", bem como o reconhecimento da atividade viva dos profissionais de manutenção, frequentemente invisível e não reconhecida pela organização.

2. A abordagem da atividade dos profissionais de manutenção pela prática da AET

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) tornou-se uma metodologia essencial e têm como característica fundamental ser um método destinado a examinar a complexidade sem colocar em prova um modelo escolhido a priori. Segundo Wisner (1987Wisner, A. (1987). Por dentro do trabalho. São Paulo: Editora FTD. PMid:2442741., p. 4),

[...] o princípio da análise ergonômica do trabalho, e do trabalho de campo, é em si revolucionário, pois nos leva a pensar que os intelectuais e cientistas têm algo a aprender a partir do comportamento e do discurso dos trabalhadores.

Assim, a exigência científica principal da ergonomia está no conhecimento, pela observação das situações reais de trabalho, objetivando desenvolver conhecimentos sobre a forma como o homem efetivamente se comporta ao desempenhar o seu trabalho e não como ele deveria se comportar. É importante considerar que os comportamentos tratados pela AET não estão somente ligados a aspectos perceptivo-motores mas sim às comunicações e, em particular, à palavra. Essa última é considerada como um comportamento, porque é um comportamento carregado de sentido (Wisner, 2004Wisner, A. (2004). Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In F. Daniellou (Ed.), A ergonomia em busca de seus princípios – debates epistemológicos (pp. 29-55). São Paulo: Ed. Edgard Blücher.). A análise da atividade é aprofundada em uma segunda e fundamental etapa, a partir de dados obtidos por meio da autoconfrontação dos trabalhadores com registros e descrições dos comportamentos observados pelo ergonomista (Guérin et al., 2001Guérin, F., Laville, A., Danielou, F., Durafourg, J., & Kerguelen, A. (2001). Compreender o trabalho para transformá-lo: A prática da ergonomia. São Paulo: Editora Edgard Blücher.). A autoconfrontação é uma estratégia que busca na palavra livre do trabalhador compreender os sentidos que ele próprio imprime aos resultados obtidos pelo pesquisador. Essa é justificada, pois não é possível explicar o sentido da ação "de fora", sendo portanto necessário explicitar os motivos e razões dos indivíduos, o que não pode ser feito sem recorrer à fala dos próprios atores, em última instância, aqueles que podem validar as interpretações propostas (Lima, 1998Lima, F. P. A. (1998). Fundamentos teóricos da metodologia e prática de análise ergonômica do trabalho (AET). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Texto Separado.).

À luz desses princípios ergonômicos que nortearam a pesquisa e este artigo, foi realizada uma investigação com os profissionais de manutenção (mecânicos e eletricistas) efetivos da área de estamparia de uma grande indústria automobilística em duas situações de intervenção, uma corretiva e outra preventiva, no período de maio de 2009 até julho de 2010.

A escolha da área pesquisada justifica-se por ser considerada dentro das empresas do setor metal-mecânico e automobilístico como a mais perigosa em função da gravidade dos acidentes, envolvendo mutilações, esmagamentos e até mortes, contendo muitos riscos insalubres e periculosos, como a própria matéria-prima, que possui formas geométricas complexas, pontiagudas, altamente cortantes, o que exige muito cuidado e atenção no manuseio. No que tange às situações observadas, foram escolhidas as que continham um procedimento formalizado pelo departamento, contemplando uma tarefa rotineira dos profissionais, fosse ela relacionada à elétrica ou à mecânica, assim como a perspectiva da observação de como os profissionais respondem/reagem aos constrangimentos, eventos influenciados pelas restrições de tempo/urgência, fator determinante entre as duas situações de intervenção.

Para demonstrar a atividade viva dos profissionais de manutenção, objetivando compreender as estratégias e modos operatórios mobilizados durante as situações reais de intervenção, adotaram-se os seguintes procedimentos: coleta de dados em documentos da empresa, com o objetivo de constituir e analisar a demanda e para descrever o trabalho prescrito; observação do trabalho real e registro dos modos operatórios por fotografias e filmagens. Essa etapa teve início em abril de 2009, formalizada com um documento solicitando tal autorização às gerências das áreas Estamparia, Segurança Corporativa e Patrimonial. No entanto, por conta da política de sigilosidade da empresa, essas autorizações foram vetadas no período de maio a outubro de 2009, em função do lançamento de um novo veículo. Após esse período, foi permitida a entrada com os equipamentos de gravação e acompanhadas na íntegra duas intervenções, sendo uma corretiva e outra preventiva, que continham ITIs (Instrução de Trabalho Interna) elaboradas, totalizando 9 e 17 horas, respectivamente. Procurou-se acompanhar o curso da ação dos trabalhadores filmando e interagindo ao longo da ação, hora individualmente, hora coletivamente, objetivando identificar os gestos de ação (modos operatórios para desmontagem dos componentes), gestos de comunicação (expressões verbais e corporais). Tais registros foram sistematizados em ordem cronológica e as verbalizações espontâneas e consecutivas foram transcritas e analisadas, além das observações do próprio pesquisador (que também é um ator do processo), dando origem às fichas de descrição da atividade (Carvalho, 2011Carvalho, A. L. (2011). Manutenção prescrita e manutenção real: Uma abordagem baseada na atividade dos profissionais: O caso de uma indústria automobilística (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 190 p.). Essas permitiram reconstruir as etapas e os comportamentos observados dos profissionais em atividade e compará-los com as etapas prescritas contidas nas instruções de trabalho (ITI); autoconfrontação das cenas do filme com os profissionais envolvidos nas duas intervenções e questionamentos do autor sobre alguns pontos chave evidenciados nas observações e anotações anteriores. Esse procedimento buscou obter com os profissionais o significado dos gestos e estratégias mobilizadas durante as intervenções explicitando "o que se faz", "com que finalidade" e "por que"; entrevistas semiestruturadas também foram realizadas com gestores, mecânicos e eletricistas de manutenção experientes não envolvidos nas intervenções analisadas. As entrevistas gravadas, posteriormente transcritas e analisadas, tiveram por propósito avaliar/validar a pertinência das prescrições no que tange à sua utilização prática e ao cumprimento das regras de segurança.

3. Evidenciando o trabalho vivo dos profissionais de manutenção

3.1. Objeto de estudo: Departamento de manutenção de máquinas da área de estamparia

Subordinada à gerência da produção, é responsável pela manutenção e conservação das máquinas e equipamentos de toda a área; atende aos setores de central de corte, prensas manuais e prensas robotizadas, tendo como principais atividades: Manutenção corretiva/preventiva, robotizações, otimizações de processos robotizados, melhorias no processo, reforma e atualização técnica de máquinas e equipamentos, além de integrar TPM (Manutenção Produtiva Total), Sistema de Produção da Empresa e VDA (Verband der Automobilindustrie).

Atende a 201 máquinas/equipamentos, dentre eles prensas de simples e dupla ação, de 500 à 1.800 toneladas, desbobinadeiras, tesouras, mesas elevatórias, prensas enfardadeiras de sucata, esteiras de sucata, pontes rolantes de 20 a 70 toneladas, talhas, alimentadores, oleadoras de platinas e robôs, sendo que a média de idade do parque de máquinas é 33 anos.

O departamento (Figura 1) possui um efetivo de 41 mecânicos, 29 eletricistas, seis encarregados, divididos em três turnos de trabalho, um supervisor, dois analistas, além do suporte técnico (planejamento e compras da manutenção), distribuídos em dois plantões avançados (central de corte e prensas robotizadas) e um plantão central (prensas manuais), onde o tempo de trabalho médio dos profissionais na área de estamparia é de aproximadamente 12 anos.

Figura 1
Organograma do Departamento de Manutenção de Máquinas – Estamparia.

3.2. Organização do trabalho dos profissionais de manutenção

Os profissionais são divididos em três turnos de trabalho, tendo a turma A horário das 06:00 às 13:34 h, com 40 minutos de refeição de segunda a sexta-feira, e, aos sábados. das 06:00 às 11:30 h, sem horário de refeição; turma B, o turno vai das 13:34 às 22:12 h e, para turma C, das 22:12 às 06:00 h, ambos com 40 minutos de refeição, de segunda a sexta-feira.

A gestão da manutenção no chão de fábrica é exercida pelos encarregados, dois para cada turno, coordenando os trabalhos em torno das demandas e necessidades da produção, alocação das pessoas nos plantões, bem como da indicação de funções e responsabilidades predefinidas (p. ex., dos profissionais responsáveis pela manutenção preventiva de um determinado número de equipamentos/linhas, profissionais que efetuam o acompanhamento in situ em linhas críticas etc.).

Diariamente, no início de cada turno, os encarregados recebem as informações dos gestores da turma anterior sobre o andamento dos serviços, bem como se há alguma máquina/linha interrompida. Com base nessas informações, os encarregados efetuam a distribuição das tarefas e determinam o número de pessoas (plantão nos setores, manutenção corretiva não planejada em andamento, manutenção preventiva etc.) para a execução dos trabalhos.

A Figura 2 mostra uma representação simplificada das principais rotinas de manutenção de cada turno de trabalho, bem como o fluxo de informações entre as turmas anteriores, posteriores, encarregados, mecânicos e eletricistas de manutenção.

Figura 2
Representação do fluxo diário das principais rotinas da manutenção.

No tocante à distribuição das tarefas, formalmente há uma divisão do trabalho conforme o nível de qualificação profissional (Mecânico/Eletricista de Manutenção I, II e III e Carta de Versatilidade). No entanto, ela também é feita de forma subjetiva, com base na experiência e conhecimento que o gestor tem dos profissionais – os mais novos acompanham os mais experientes. É importante ressaltar que a cooperação entre os colegas é um fato presente no cotidiano dos profissionais. Em nenhuma atividade (principalmente a da mecânica), o profissional tem de agir sozinho, tampouco é delimitada formalmente uma quantidade predeterminada de profissionais para cada tarefa. A alocação das pessoas é feita baseada na experiência acumulada dos gestores. Além disso, o departamento e os profissionais se adequam em função do contexto (no caso de uma pane inesperada) presente na intervenção corretiva ou da própria disponibilidade do colega que se presta a ajudar o outro, presente na intervenção preventiva.

3.3. O trabalho prescrito dos profissionais de manutenção – As ITIs (Instrução de Trabalho Interna)

As instruções de trabalho de uma maneira geral sempre integraram o cotidiano da equipe de manutenção, porém sob a forma de "receitas". São escritas de forma informal pelos gestores e profissionais experientes que conheciam a área, sendo um instrumento de orientação técnica para um determinado procedimento, sem o aprofundamento quanto a detalhes específicos de como fazer a tarefa e regras de segurança, implícitas, consideradas como pré-requisito, fazendo parte do conhecimento e competência dos profissionais.

No entanto, em resposta a uma nova demanda da empresa para a implantação de um novo projeto, bem como a novas exigências quanto aos critérios de eficiência produtiva e aumento de volume, foram criadas entre meados de 1998 até 2001 as Instruções de Trabalho Interna (ITIs). Esse projeto nasceu como uma nova concepção de veículos, nos quais novas tecnologias seriam empregadas, com previsão de produção em larga escala, onde não seria admissível que ocorressem paradas para manutenção corretiva, entre outras ações que causassem perdas de produção ou produtividade. Têm como objetivos:

  • Criar uma rotina de trabalho padronizada;

  • Minimizar o tempo de máquinas paradas;

  • Evitar montagens erradas;

  • Intensificar o treinamento on-the-job, pois as ITIs foram elaboradas por um grupo de profissionais, sendo esse grupo composto por mecânicos/eletricistas experientes e mecânicos/eletricistas inexperientes, pelo encarregado de manutenção e pelo mestre de manutenção (analista).

Cada encarregado, junto com o analista, tinha um assunto (tarefa) para transformar em ITI. Reunia seu grupo em reuniões semanais para discutir e concluir essa ITI.

Cada ação era discutida, ocasião em que os funcionários mais experientes explicam aos mais novos qual a melhor forma de executar cada tarefa. Cada passo era listado, dizendo como e porque fazer cada um. Posteriormente, os encarregados das outras turmas analisavam e sugeriam melhorias.

Atualmente existe um grande número de instruções de trabalho sendo elaboradas para as tarefas referentes à manutenção elétrica, bem como a permanência das "receitas", que ainda são muito utilizadas devido às constantes atualizações tecnológicas e ao atendimento às normas regulamentadoras (p. ex., diversos modelos e marcas de PLCs, Programadores Lógico Controláveis, inversores de frequência, sistemas de segurança, sensores, transdutores etc.). A Figura 3 mostra um modelo de ITI.

Figura 3
Exemplo de Instrução de Trabalho Interna (ITI).

De uma forma geral, tanto para os mecânicos e eletricistas quanto para os gestores participantes, as ITIs foram elaboradas com base na normalidade das situações, desconsiderando-se os imprevistos e situações atípicas reconhecidas pelos profissionais cientes das próprias limitações, principalmente quanto à impossibilidade de se prever tudo o que pode acontecer no curso da ação. Nesse sentido, as ITIs mostram que as informações inscritas relatam o que deve ser feito objetivando o cumprimento da tarefa (substituir motor, desmontar a fricção etc.) e não como foi feito ou o que eles tiveram que fazer para cumpri-la. É importante salientar que as ITIs são objeto de diálogo de segurança entre os profissionais, ocasião em que ocorre a assinatura de um termo de ciência das mesmas. As ITIs ficam expostas em um local de acesso público e ficam disponíveis para consulta ou para sanar dúvidas. Do ponto de vista prático, as instruções raramente são utilizadas pelos profissionais no curso da ação, principalmente durante os trabalhos de manutenção corretiva, nos quais o diagnóstico das falhas se dá pela competência, conhecimento e experiência de cada profissional sobre o processo.

3.4. A atividade real dos profissionais de manutenção (como é o trabalho?)

Nessa seção serão evidenciados os resultados dos estudos de campo, bem como a restituição dos resultados por meio das entrevistas semiestruturadas e das autoconfrontações com os profissionais envolvidos. Para esta pesquisa foram escolhidas duas atividades: uma corretiva e outra preventiva, sendo a primeira a substituição e teste de um motor de corrente contínua e a segunda, a desmontagem do conjunto freio e embreagem de uma prensa.

As seções a seguir apresentam uma narrativa contextualizando o curso da ação dessas duas intervenções, bem como aspectos da variabilidade, constrangimentos e imprevistos manifestos durante o curso da ação, além dos modos operatórios e das estratégias utilizadas para se dar conta da tarefa.

3.4.1. O curso da ação de uma intervenção corretiva

No Tabela 1 são descritos os tempos e as atividades desenvolvidas durante a observação da atividade de substituição de um motor.

Tabela 1
Curso da ação durante a atividade de manutenção corretiva.

3.4.2 O curso da ação de uma intervenção preventiva

No Tabela 2 são descritos os tempos e as atividades desenvolvidas durante a observação da atividade de desmontagem da embreagem e freio da prensa.

Tabela 2
Curso da ação durante a atividade de manutenção preventiva.

3.4.3 Análise da crônica: uma reflexão entre as duas intervenções

As análises das duas intervenções permitiram evidenciar as diversas fontes de variabilidades e constrangimentos, revelando de que forma os profissionais responderam às exigências das tarefas em função dos diferentes contextos, tipos de manutenção, impactando diretamente na forma de se trabalhar.

O senso de urgência na intervenção corretiva, as diversas situações imprevistas evidenciadas, tais como a dificuldade de fixação do motor principal reserva, a necessidade de se substituir um acoplamento (engrenagem) de transmissão do taco gerador, a falha de partida do motor principal, após a substituição e teste, mobilizaram várias estratégias e modos operatórios dos profissionais para o rápido restabelecimento do equipamento. Enquanto que na intervenção preventiva o caráter de urgência não ficou evidente, pois não houve uma interrupção inesperada da produção. No entanto, os imprevistos, tais como a dificuldade de desmontagem do êmbolo da embreagem, os constrangimentos físicos manifestos pela dificuldade de iluminação, acesso aos componentes, esforços físicos demasiados e as variabilidades organizacionais evidenciadas pelas diversas interrupções dos trabalhos com a ponte rolante para o atendimento à produção foram dominantes em toda a intervenção, mobilizando diversas estratégias e modos operatórios para a garantia da sua qualidade.

Dados esses exemplos, fica claro que os fatores de constrangimento (temporais e físicos) e de variabilidade organizacional têm maior ou menor influência de acordo com o tipo de manutenção. O senso de urgência (A característica de trabalhar sob pressão, bem como o senso de urgência, segundo o relato do gestor de manutenção, é algo que deve fazer parte das competências profissionais de mecânicos e eletricistas: "Quando acontece o evento, cada evento é único, e é o que você tem que 'tá' pensando naquele momento, entendeu? É aquilo lá!; É, esquece o resto, é naquilo que você tem que viver, tem que se preocupar com as regras de segurança, com as pessoas que estão do seu lado, 'pra' não machucar e fazer com rapidez e por 'pra' rodar. Você é pago 'pra' isso, né? 'Pra' fazer a manutenção rápida e eficiente.") para a liberação do equipamento observado na intervenção corretiva, bem como a prioridade para a produção na intervenção preventiva refletem-se diretamente nas ações dos profissionais, mobilizando estratégias, modos operatórios de formas e consequências distintas.

3.5. O gerenciamento dos imprevistos, as estratégias e modos operatórios: um compromisso eficaz entre produção e segurança

A todo instante, os mecanismos cognitivos dos trabalhadores são colocados em ação de forma a garantir os objetivos da produção e os seus próprios objetivos. A situação é mantida sob controle através de um esforço ativo dos trabalhadores, que através de regulações e microrregulações corrigem os desvios e disfunções que inevitavelmente acontecem em qualquer processo produtivo. Eles agem mobilizando os seus recursos cognitivos para analisar a situação, constituir uma representação do risco de acidente no procedimento em curso, verificar o nível de exigência do resultado desejado e ainda considerar o seu estado de fadiga e a sua capacidade, de forma a elaborar uma ação apropriada. Esse processo denomina-se compromisso cognitivo. Os mecanismos cognitivos são aqueles que possibilitam ao trabalhador estabelecer um compromisso quase sempre eficaz, constituído de três objetivos, às vezes contraditórios: a sua segurança e a do sistema; o bom desempenho; a minimização de suas consequências fisiológicas e mentais. (Amalberti, 1996, p. 43 apud Diniz, 2003Diniz, E. P. H. (2003). Entre as Exigências de tempo e os Constrangimentos do Espaço: As condições acidentogênicas e as estratégias de regulamentação dos motociclistas profissionais (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Mina Gerais, Belo Horizonte. 124 p., p. 94).

Em função da própria natureza da atividade do profissional e da resposta aos constrangimentos, variabilidades e imprevistos aos quais estão submetidos não serem reconhecidos pela organização formal, os profissionais de manutenção implementaram diversas estratégias e modos operatórios, evidenciando os mecanismos cognitivos colocados em ação para garantir a fluidez e a eficiência das intervenções, bem como evitando acidentes.

3.5.1. As estratégias de antecipação para diminuir o tempo de manutenção

Na intervenção corretiva houve um caráter de urgência, onde a queima inesperada do motor principal da prensa mobilizou toda a equipe de manutenção para a rápida solução do problema. Um grande número de profissionais e gestores permaneceu durante todo o tempo na máquina, relatando por meio de rádio a situação do problema para os superiores hierárquicos, bem como informações sobre a previsão de entrega do equipamento. A necessidade de se restabelecer o equipamento o quanto antes possível foi dominante, pois o nível de cobrança tanto para os profissionais quanto para os gestores foi alto. Tal constrangimento levou os profissionais a aproveitarem alguns componentes pertencentes ao motor danificado, tais como a caixa de passagem do motor, sistema de refrigeração, gerador, preservando a ligação original do circuito (sentido de rotação, aferição do conversor), com vistas a ganharem tempo para a sua substituição, diminuindo o tempo de parada do equipamento. A Figura 4 ilustra o curso da ação e a estratégia adotada pelos profissionais.

Figura 4
Representação do curso da ação e estratégia adotada para o reaproveitamento dos componentes do motor usado.

Já na intervenção preventiva, as estratégias de antecipação se manifestaram por conta das restrições com a ponte rolante e das dificuldades de seleção e transporte das ferramentas e dispositivos necessários para a desmontagem do conjunto.

No que tange às restrições com a ponte rolante, o caráter dominante foi o atendimento prioritário à produção. O abastecimento das linhas, as trocas de ferramentas e movimentações foram constantes durante todo o tempo. Durante o curso da ação, foi observado que os profissionais interromperam os trabalhos por seis vezes, totalizando 170 minutos de espera (Figura 5).

Figura 5
Quantidade de interrupções dos trabalhos durante a intervenção preventiva.

Além disso, do total das interrupções, em três ocasiões foi observado que os profissionais tiveram que remontar o componente que já estava içado e pronto para ser retirado para liberar a ponte para a produção. A Figura 6 ilustra o curso da ação de tal restrição.

Figura 6
Representação do curso da ação e restrição quanto à disponibilidade da ponte rolante.

Em resposta, foi observado que os profissionais adotaram estratégias para aproveitar ao máximo a disponibilidade da ponte rolante, soltando o maior número de componentes possível, deixando-os prontos para o rápido içamento e retirada da máquina. Como exemplo, foi decidido pelos profissionais não concluírem a desmontagem/retirada da carcaça do freio (deixando apontados dois parafusos em posições de fácil acesso) e sim fazê-la na desmontagem do porta-elementos.

A questão também tá agilizando o serviço. Pra você não ficar perdendo tempo, sabe que vai ficar aguardando a ponte aí chegar e desmontar tudo ali. Aí deixa tudo preparado.

No que tange à dificuldade de seleção, transporte das ferramentas e dispositivos necessários para desmontagem do conjunto freio e embreagem, a distância do setor de manutenção central até o cabeçote (parte superior) da máquina, fez com que os profissionais adotassem estratégias de antecipação aos imprevistos, buscando uma gama maior de dispositivos e ferramentas de uma só vez, para uma possível utilização. Tal estratégia evidenciou-se durante a desmontagem do porta-elementos do freio, na qual os profissionais desceram a pé aproximadamente 300 metros (por dentro da ala, descendo escadas) até o setor de manutenção central para providenciar ferramentas (dois tirantes, porcas, macaco hidráulico etc.). Colocadas as ferramentas em um carrinho manual e levadas pelos mecânicos até a base da máquina, foi percorrida uma distância aproximada de 500 metros (pela rua principal, por fora da ala).

A distância é relativamente grande pra quem vai fazer o percurso a pé. Então você desce aqui pra buscar dois tirantes, depois desce de novo pra pegar um macaco. No mínimo, é 30, 40 minutos aí, ó, que você perde aí, ó, vindo lá de cima aqui pegar alguma coisa, depois voltar.

3.5.2 As estratégias e modos operatórios mobilizados para evitar acidentes em manutenção de prensas pesadas

As estratégias de comunicação entre os profissionais

A comunicação entre os profissionais, seja para a solicitação dos serviços com a ponte rolante, seja para a retirada de componentes em uma área com elevados níveis de ruído e constantes movimentações de cargas pesadas, tem uma grande importância, especialmente quanto à fluência da intervenção, e, principalmente, quanto à segurança. Nas duas intervenções foi observado que a comunicação entre os profissionais, sejam eles da manutenção e/ou produção, na hora de içar, retirar algum componente, tem uma grande importância na prevenção de acidentes, evidenciando as estratégias mobilizadas pelos profissionais para assegurar a segurança durante os trabalhos com pontes rolantes. Devido ao espaço reduzido e à necessidade de o profissional ter de ficar em frente à peça, fica evidenciada a extrema importância da comunicação e concentração entre mecânico e ponteiro na hora de executar uma manobra com ponte rolante, devido ao alto risco de esmagamento. A comunicação entre os profissionais foi feita via sinais e gestos, entre duas pessoas somente, afim de evitarem-s manobras erradas. Nessas comunicações, o profissional sinalizou para o ponteiro (que, nesse caso, era um dos mecânicos) o que ele devia fazer (para cima, apra baixo, mais devagar, para lá, para cá etc.). Como exemplo, a Figura 7 ilustra a comunicação entre os mecânicos durante a retirada da carcaça da embreagem.

Figura 7
Profissionais içando componente da embreagem e verbalizando a estratégia adotada.

As estratégias de desmontagem de componentes em prensas pesadas

As atividades de desmontagem em prensas pesadas demandam um grande esforço físico e atenção dos profissionais, por conta das dimensões dos seus componentes, sendo necessária, em parte dos seus conjuntos, a utilização da ponte rolante, ferramentas e dispositivos de grande porte para montagem e desmontagem, tais como alavancas, chaves allen e de impacto, martelos de grandes dimensões, canos etc. Em função dos riscos intrínsecos, a experiência, o saber acumulado, permite aos profissionais elaborarem estratégias que dão sustentação ao compromisso eficaz entre a produção e a segurança. Como situação observada, a decisão tomada pelos profissionais da turma anterior de não desmontar a proteção do volante (Figura 8), por conta do elevado tempo de trabalho necessário, fez com que os profissionais do turno seguinte, cientes do risco, adotassem estratégias para a retirada do êmbolo da embreagem mesmo sabendo que a carga estava desalinhada:

Figura 8
Proteção do volante e verbalização da estratégia adotada pelo profissional.

Em outra situação, durante a desmontagem da carcaça da embreagem, foi observado que os profissionais, ao soltarem os parafusos localizados na posição superior, principalmente, além de terem de fazer um esforço para soltá-los, ao mesmo tempo tinham de observar se a chave não iria escapar/pular do parafuso e cair em cima deles ou no chão, podendo causar um acidente, já que não havia nenhum apoio so ela. Para tanto, o esforço deve ser controlado sem movimentos bruscos. A Figura 9 ilustra tal estratégia.

Figura 9
Profissionais soltando parafusos de fixação da embreagem da prensa e verbalizando a estratégia adotada.

3.5.3 As estratégias e modos operatórios frente aos constrangimentos físicos e dificuldade de acesso

Diante dos constrangimentos relacionados às dificuldades de iluminação, esforços muito intensos e acesso difícil aos componentes para a desmontagem evidenciados nas duas intervenções, os profissionais de manutenção implementaram inúmeras estratégias e modos operatórios para garantir a qualidade da intervenção.

A primeira trata das condições de luminosidade evidenciadas na intervenção corretiva. Foram observadas as condições inadequadas de iluminação, principalmente quando a ponte rolante estava sobre a máquina, impedindo a iluminação do prédio e dificultando os trabalhos. Como exemplo, foi observado que os profissionais, durante a fixação da caixa de passagem, ligação dos cabos e posicionamento do motor para fixação, tiraram as luvas para ver se os furos estavam corretamente localizados. A Figura 10 ilustra tal estratégia.

Figura 10
Profissional iluminando a caixa de passagem do motor para efetuar fixação e ligação elétrica, verbalizando estratégia de retirar a luva durante a montagem dos parafusos.

Outra situação foi em relação à dificuldade de soltar os parafusos. Na manutenção em prensas de grande porte, o alto torque, as grandes dimensões e quantidades demandam grandes esforços dos profissionais para a montagem e a desmontagem dos componentes. Foi observada e evidenciada pelos profissionais a necessidade de se ter um equipamento que os ajude a não fazer tanto esforço físico, como uma chave de torque pneumática, por exemplo.

Se tivesse uma ferramenta mais apropriada, no caso, seria uma parafusadeira, entendeu? Facilitaria o serviço, ganhava tempo, desgastava menos a pessoa. Mas nós fizemos com o que a gente tinha em mãos, mais prático 'pra' gente executar o serviço.

No que tange ao acesso aos componentes, embora essa prensa tenha um projeto/construção mais atual (fabricada em 1996), foi observada uma grande dificuldade de acesso aos componentes da embreagem e, principalmente, do freio, limitados pela distância e altura da proteção guarda corpo localizada no cabeçote da prensa. Por conta das restrições de espaço e acesso, os profissionais por diversas vezes tiveram que executar as operações sozinhos, além de terem que subir na proteção do guarda corpo para a desmontagem. A Figura 11 ilustra tais restrições.

Figura 11
Restrições de espaço e altura dos componentes do freio da prensa.

Caracterizadas essas situações, fica clara a distância entre a organização formal e a atividade real. A atividade de manutenção de máquinas, seja qual for o tipo, demanda dos profissionais mobilizações tanto no campo físico quanto mental. Os profissionais devem dar conta dos padrões de rapidez e eficiência sob severas restrições de tempo, constrangimentos e variabilidades organizacionais para o cumprimento dos objetivos estabelecidos. Em particular, ressalta-se que a demanda no campo cognitivo, pautada pelas restrições de tempo evidenciadas na intervenção corretiva, é altamente relevante, pois durante o curso da ação os profissionais devem constantemente dar conta dos imprevistos por meio de processos de decisão e criação baseados no contexto e na experiência acumulada. Já na intervenção preventiva, os modos operatórios, as estratégias de antecipação, conjugadas com a experiência, são mecanismos de regulação utilizados pelos profissionais a fim de assegurarem o compromisso eficaz entre produção e segurança.

É importante considerar que muitas vezes a utilização desses mecanismos identificados torna-se reduzida e limitada, podendo causar riscos tanto para a saúde e segurança dos profissionais quanto para a confiabilidade das instalações, por conta das pressões organizacionais para a rápida liberação do equipamento, restrições de ferramentas, dispositivos, bem como do próprio projeto da prensa, que não contempla (nos pontos analisados) a facilidade para a manutenção. Com isso, torna-se muito importante a compreensão, o reconhecimento de tais mecanismos por parte da organização, a fim de atuar nos pontos passíveis de melhoria, resguardando assim a capacidade de trabalho dos profissionais frente às dificuldades e imprevistos.

4. Discussão: um novo olhar para a manutenção – reflexões para o reconhecimento da atividade dos profissionais de manutenção

O percurso até então percorrido neste artigo objetivou compreender e verificar quais os aspectos físicos e organizacionais que se opõem à tarefa dos profissionais de manutenção. O distanciamento da organização formal, pautada em normas e prescrições, frente à atividade viva de mecânicos e eletricistas, permeada por imprevistos, variabilidades e constrangimentos e suportada pelas considerações e pesquisas baseadas na ergonomia da atividade, bem como os achados dos estudos de campo, mostrando a dificuldade para o cumprimento da tarefa, além das motivações do autor sobre a dificuldade de reflexão pós-manutenção, nos levam a uma constatação: O quão invisível e perigosa é a sua atividade.

Tal constatação nos remete a algumas considerações acerca do gerenciamento da manutenção e segurança vigente, bem como sobre os projetos de equipamentos.

4.1. O gerenciamento da manutenção

As aproximações descritas nos tópicos anteriores evidenciam o caráter sistêmico e normativo das abordagens de gerenciamento da manutenção. É discutida normalmente em função dos seus resultados (indicadores de disponibilidade operacional, confiabilidade, custos etc.), orientados aos objetivos pretendidos pela produção (Carballeda et al., 1994Carballeda, G., Garrigou, A., & Daniellou, F. (1994). Operators' knowledge of industrial variability in the maintenance of hazardous industries: what if formal organisation does not acknowledge it? In Proceedings IEA Congress, Toronto.). Por ser uma área suporte, na qual os supervisores de manutenção respondem ao gerente de produção, configura-se uma situação de subordinação da manutenção aos interesses da produção, evidenciando em muitos casos a prioridade da produção sobre a manutenção.

Dentre elas, as estratégias e ações mobilizadas pelos profissionais para o rápido restabelecimento do equipamento em função de uma pane inesperada, a utilização da ponte rolante para os trabalhos de manutenção desde que não se atrapalhe o fluxo produtivo (observada principalmente nos trabalhos de manutenção preventiva) demonstram uma lógica organizacional que prioriza as ações voltadas à produção, prejudicando o desempenho da manutenção.

É importante ressaltar que em função da alta demanda e crescimento no setor automobilístico, nos últimos quatro anos, houve um acréscimo de 60% na produção de veículos/dia na planta, impactando em uma necessidade de elevados índices de disponibilidade operacional e confiabilidade dos equipamentos. No que se refere à área de estamparia, nos últimos anos, observa-se que a maior parte desses equipamentos são encaminhados a reformas e que há ampliação do parque de máquinas para o atendimento das demandas da produção, reduzindo-se os investimentos em infraestrutura para o departamento de manutenção. As restrições para compra, reposição de ferramentas, dispositivos e equipamentos para facilitar o trabalho e a locomoção dos profissionais são exemplos de contenção de gastos e restrição de investimentos.

Tais fatores, pautados pela relação de prioridade, somados à restrição de investimentos para o departamento, apontam sua invisibilidade perante a organização.

A nossa atividade é invisível quando tudo corre bem e é visível quando algo vai mal. O que importa 'pra' eles é o carro montado no final da linha.

4.2. O gerenciamento dos riscos

A área de estamparia da empresa pesquisada é classificada como "pesada", nela todos os equipamentos e dispositivos, como prensas, pontes rolantes, ferramentas, são de grande porte e extremamente perigosos. Os altos custos de aquisição, a elevada durabilidade e robustez desses equipamentos e máquinas diminuem as possibilidades de modernização/substituição de seus processos a curto prazo. Quanto à atividade dos profissionais, exposições a altas tensões, pressões hidráulicas, pneumáticas, trabalhos em locais altos, movimentações de cargas pesadas, bem como posturas extremas e aplicação intensa de força são características que fazem parte do cotidiano de mecânicos e eletricistas de manutenção.

Historicamente, o gerenciamento da segurança ou o estudo da gestão dos riscos nas situações de trabalho por muito tempo foram sustentados pelos mesmos modelos compartilhados por todos, simplistas (suprimir os erros e os riscos). Embora atualmente existam movimentos internacionais que questionam o modelo de segurança e gerenciamento de riscos vigentes, propondo rever as teorias e redesenhar um novo campo de estudos para a segurança (Amalberti, 2007Amalberti, R. (2007). Da gestão dos erros à gestão dos riscos. In P. Falzon (Org.), Ergonomia (pp. 235-247). São Paulo: Edgard Blücher.), as abordagens ainda continuam normativas, desconsiderando as situações reais. Com muita frequência, os diferentes estados nos quais se podem encontrar um sistema são definidos no quadro de situações nominais, bastando os operadores seguirem ao pé da letra as instruções para garantir as condições de segurança, confiabilidade e eficácia. No entanto, tal definição se traduz numa importante subestimação das situações incidentais e degradadas, quando são elas que estão na origem de condutas arriscadas!; As regulamentações de segurança nem sempre são utilizáveis, sobretudo quando as situações de trabalho são objeto de consideráveis variabilidades (Garrigou et al., 2007Garrigou, A., Peeters, S., Jackson, M., Sagory, P., & Carballeda, G. (2007). Contribuições da ergonomia à prevenção dos riscos profissionais. In P. Falzon (Org.), Ergonomia (pp. 423-439). São Paulo: Edgard Blücher.).

Nas intervenções observadas, os limites das regulamentações de segurança emergem durante o trabalho vivo, evidenciando que o profissional, para a garantia da qualidade da intervenção, prefere não fazer uso das luvas para uma melhor localização dos furos de fixação do motor principal, ou subir em uma altura acima do permitido, sem auxílio de escada, para desmontar algum componente. Tais ações evidenciam que, na realidade, o cumprimento das normas de segurança se torna difícil quando fatores de baixa iluminação e dificuldade de acesso estão presentes.

Outro exemplo interessante, caracterizado nas entrevistas com os profissionais fora das situações analisadas mas dentro da realidade cotidiana, foi em relação ao uso do cinto de segurança. Durante as entrevistas com os profissionais, em determinadas situações, foi evidenciada a dificuldade de se utilizar o cinto de segurança, pois o seu uso compromete a mobilidade, dificultando o trabalho, bem como constata-se a ausência de pontos para amarração. Os trabalhos no interior do martelo de uma prensa demonstram tal dificuldade.

É assim, né? Você não pode fazer um documento e falar que sobe numa altura dessas sem usar cinto, certo? Mas às vezes atrapalha, porque você não tem tanta mobilidade, não tem onde amarrar o cinto, né? Você tá com o cinto amarrado em lugar nenhum, tá só enrolado no seu corpo.

As posições dos autores acima, bem como os achados da pesquisa corroboram os limites da abordagem da gestão do risco vigente, que vislumbra o cumprimento e atendimento das normas de segurança sem reconhecer e compreender a atividade viva executada pelos profissionais de manutenção. Subir a uma altura acima do permitido, não utilizar as luvas ou não usar o cinto de segurança diante de tais restrições, esbarra na classificação de ato inseguro e de imprudência do trabalhador, quando na verdade deveria-se procurar as causas objetivas e as circunstâncias que o levaram a se comportar de tal forma (Assunção & Lima, 2003Assunção, A. A., & Lima, F. P. A. (2003). A nocividade do trabalho: contribuição da ergonomia. In R. Mendes (Org.), Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu. PMid:12700837 PMCid:PMC3301035.).

4.3. O projeto de máquinas considerando o ponto de vista da manutenção

Os aspectos de manutebilidade tais como a facilidade de acesso, facilidade para montagens e desmontagens dos subconjuntos, apontam para a influência que os projetos construtivos das máquinas têm sobre as ações dos profissionais.

Para Altman (1991 apud Lind, 2008Lind, S. (2008). Types and sources o fatal and severe nofatal accidents in industrial maintenance. International Journal of Industrial Ergonomics, 38, 927-933. http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2008.03.002
http://dx.doi.org/10.1016/j.ergon.2008.0...
), a pobre manutebilidade tem vários efeitos sobre o trabalho de manutenção, prejudicando/comprometendo a segurança durante o trabalho, prolongando a tarefa e tornando o trabalho mais complicado, o que pode aumentar o risco de erro humano durante as operações.

Nas situações observadas, durante a intervenção preventiva foi possível evidenciar a influência que o projeto das máquinas tem sobre as ações dos profissionais. A necessidade de se trabalhar sozinho durante a desmontagem dos componentes de grande porte, por conta das restrições de espaço, a não desmontagem da proteção do volante e proteção guarda corpo, por conta do elevado tempo necessário e grau de dificuldade, evidenciam que os reparos de um determinado componente podem ser muito mais difíceis, perigosos e demorados do que se imagina. Nos pontos analisados, o projeto da prensa não contempla a facilidade para a atividade de manutenção.

Portanto, em função dos achados da pesquisa, bem como das críticas dos autores sobre as abordagens vigentes, os aspectos do gerenciamento da manutenção, dos riscos e projeto de máquinas apontam para o quanto a atividade dos profissionais de manutenção não é levada em conta. O desconhecimento da atividade efetivamente realizada, a supremacia de uma lógica em detrimento da outra, bem como as dificuldades de ação podem colocar em risco a saúde e a segurança dos trabalhadores e a confiabilidade do processo. Tais considerações nos remetem a uma discussão sobre a necessidade de reconhecimento e compreensão da atividade viva por parte das organizações e dos próprios profissionais, bem como sobre a importância dessa reflexão sobre os eventos vividos no cotidiano.

5. Considerações finais: o necessário reconhecimento das situações cotidianas

Propondo expor uma possível contribuição para o campo da manutenção, reposicionando o olhar sobre a atividade normalmente invisível dos profissionais, seguem algumas considerações.

A reflexão sobre as situações cotidianas, normalmente subestimadas pelas aproximações de gerenciamento citadas anteriormente, bem como pelos próprios profissionais, é de grande valia, pois permite evidenciar os mecanismos de regulação, antecipando-se a eventos catastróficos que se anunciam já no modo normal de funcionamento dos sistemas de produção (Assunção & Lima, 2003Assunção, A. A., & Lima, F. P. A. (2003). A nocividade do trabalho: contribuição da ergonomia. In R. Mendes (Org.), Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu. PMid:12700837 PMCid:PMC3301035.).

No tocante às operações de manutenção, Daniellou (2002)Daniellou, F. (2002). As paradas programadas de manutenção. In F. Duarte, Ergonomia e Projeto na indústria de processo contínuo (pp. 298-301). Rio de Janeiro: Ed. Lucerna. faz uma importante caracterização das atividades, mostrando que grande parte delas se passa numa zona normal situada entre duas normas:

  • O desenvolvimento nominal, teórico, onde tudo ocorre como o planejado, que jamais é verdadeiramente constatado;

  • Um nível de desvio da normalidade, que se torna francamente incidental (uma pane inesperada, um acidente) e que será objeto de notificação e de análise.

Nessa zona intermediária, as operações de manutenção compreendem um grande número de dificuldades previsíveis: acesso difícil, peças enferrujadas ou emperradas, ambiente quente ou úmido, ferramentas não adaptadas etc. Essas dificuldades são fonte de custos humanos, em termos de postura, esforço, fadiga, exposição prolongada a riscos químicos e físicos, riscos de acidentes. É também nessa zona pouco conhecida que podem surgir riscos para a confiabilidade das instalações. Segundo o autor, é provável que as dificuldades aí encontradas pelos interventores de manutenção se reproduzam no futuro, pois se elas não forem analisadas, a experiência não dará retorno: oficialmente tudo terá corrido bem (Daniellou, 2002Daniellou, F. (2002). As paradas programadas de manutenção. In F. Duarte, Ergonomia e Projeto na indústria de processo contínuo (pp. 298-301). Rio de Janeiro: Ed. Lucerna.).

Nesse sentido, as considerações sobre as situações cotidianas ou normais, bem como as atividades dos profissionais de manutenção caracterizadas dentro de uma zona normal evidenciam a sua pertinência e apontam para a necessidade de reposicionarmos o olhar para as situações reais de intervenção, na tentativa de iluminar a "caixa preta", com todos os seus imprevistos, constrangimentos e variabilidades inerentes ao processo produtivo. As dificuldades, as falhas, o que não deu certo e que não correu bem tem agora um outro significado e importância. As considerações de Zarifian & Aubé (1992Zarifian, P., & Aubé, N. (1992). Cahier des Charges de l'Organization Qualificante et Flexible. Paris: LATTS-CERTES, Ecole Nationale des Ponts et Chaussées., p. 63) sobre a importância dos eventos na organização do trabalho suportam o nosso ponto de vista.

Tomemos o exemplo de uma pane. Se a pane é percebida como um puro azar, que deve ser suprimido o mais rápido possível, seu caráter positivo e de evento é abafado. A pane é definida negativamente como a interrupção súbita de operações mecânicas. Permanece dentro de uma lógica antiga. Ao contrário, se a pane for definida positivamente como uma ocasião de aprendizagem dos processos pelos trabalhadores diretamente envolvidos e ocasião de troca com os especialistas da manutenção, ela se torna um evento. Ela se torna um momento privilegiado ao qual uma comunidade de indivíduos poderá dar um sentido positivo que poderá fazer evoluirem: Os conhecimentos técnicos; As trocas sociais entre as diferentes categorias profissionais; O desempenho dos processos; Graças à reconstituição das causas da pane.

A realidade do comportamento no trabalho mostra que a regra não é o cumprimento estrito de regras, mas recriação permanente, quase sempre de forma clandestina. Trata-se, portanto, de reconhecer essa realidade e criar novas relações sociais para que essa realidade em germe possa se desenvolver plenamente e à luz do dia (Lima, 1994Lima, F. P. A. (1994). Medida e desmedida: padronização do trabalho ou livre organização do trabalho vivo?. Produção, (número especial), 3-17.).

Infelizmente, pouquíssimos estudos abordam o processo de manutenção no sentido de tentar "iluminar o que está na caixapreta". Nesse sentido, acreditamos que a exposição dos reais determinantes evidenciados pela atividade real dos profissionais no curso da ação contribua para o reconhecimento das atividades de manutenção industrial, privilegiando, considerando a importância dos "meios" e não mais somente dos "fins". Ações efetivas que possibilitem a consideração do ponto de vista do manutentor, participando dos processos de elaboração e discussão das regras de segurança, considerando-se as especificidades dos contextos produtivos, dos projetos de reforma e aquisição de máquinas junto às áreas de Engenharia, investimentos para melhoria da infraestrutura do departamento, para facilitar o seu trabalho, assim como a disponibilização, pela organização, de um espaço formal em que os profissionais possam refletir, trocar experiências, adquirir conhecimento por meio das dificuldades vividas no cotidiano, discussão das falhas e defeitos não habituais, bem como sobre a identificação de problemas crônicos e riscos potenciais são sugestões que podem contribuir para o aumento da confiabilidade do processo, qualidade da intervenção, diminuição do tempo de reparo, bem como para a preservação da saúde e segurança dos mecânicos e eletricistas de manutenção da empresa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Mar 2014
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    02 Fev 2012
  • Aceito
    04 Maio 2013
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