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Será Que Eu Contei Tudo?

SERÁ QUE EU TE CONTEI TUDO?

Maria Julieta Sebastiani Ormastroni

Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciência da UNESCO

É difícil elaborar um programa e incluir no mesmo todas as pessoas que dele participarão. Fazemos um plano mas não sabemos com quem contaremos realmente. Com o tempo, no seu devido tempo, aparecem aqueles que, não só ajudarão mas, também, darão o caráter definitivo pois se farão presentes.

Assim foi com o Concurso "Cientistas de Amanhã" que, neste ano, fará 40 anos de realizações. Desde o início, como era um concurso, o esquema necessário era de contar com um grupo para ler os trabalhos e selecioná-los e, ainda, contar com uma Comissão de Julgamento para avaliação final.

Como é um Concurso onde os concorrentes têm a liberdade de escolher o campo de suas pesquisas e/ou experimentos, sabíamos que tínhamos de contar com especialistas nas mais diversas áreas da ciência. Precisávamos uma gama de professores e pesquisadores que só poderíamos encontrar nas universidades e/ou instituições de pesquisa. Falando com o Dr. Reis demonstrei a necessidade de contarmos também com o auxílio de psicólogos, com o que ele concordou.

A Professora Carolina Bori prontificou-se a nos auxiliar; nem sempre isto era possível devido a seus inúmeros afazeres porém, prontamente, indicava alguém para substituí-la. Com o passar do tempo ela se tornou figura marcante nas sessões de apresentação dos trabalhos e Comissão de Julgamento. Sua presença não era só na fase final do Concurso. Auxiliava na preparação da programação, na leitura do projeto, no auxílio e na verificação do comportamento dos jovens classificados, mas não parava aí.

Tentávamos, há muito, de várias formas, envolver pesquisadores e professores brasileiros na realização do Concurso "Cientistas de Amanhã", mas não tínhamos sido felizes. A Professora Carolina Bori sugeriu então que as Secretarias Regionais da SBPC fossem envolvidas no projeto. Vejam!

Encarregando-se os Secretários Regionais da divulgação quer para escolas, quer nas Secretarias de Educação, quer nas notícias de jornais e rádios locais estávamos, por fim, cobrindo todo o território brasileiro. Como também devem receber as inscrições e distribuir os trabalhos recebidos entre especialistas para serem lidos e classificados e, só então, enviar ao IBECC os melhores para uma escolha final, estão se envolvendo e fazendo com que a elite pensante, cultural e científica do país esteja ligada ao Concurso "Cientistas de Amanhã". Lendo os trabalhos, toda esta legião de professores e cientistas quer nas áreas de Ciência Físicas e Naturais, quer na de Humanas, fica conhecendo como anda o ensino e a educação e a orientação dos estudantes de sua região.

Muitos dos senhores secretários regionais tomam tal interesse por este programa que estão presentes na sessão de apresentação dos jovens classificados na Reunião Anual da SBPC, sendo tradicional fazerem parte da Comissão de Julgamento, o que muito nos envaidece.

Carolina Bori, há anos, lá está, sempre presente. Seu conhecimento da pessoa humana muito nos auxilia.

Houve um tempo que tivemos trabalhos de Psicologia Experimental e Psicologia Animal e foi ela, com conhecimento de causa, que entusiasmou e orientou os jovens estudantes secundaristas a prosseguirem no projeto. As primeiras apresentações deles foram no Congresso "Jovens Cientistas", que era realizado com o apoio da FAPESP e que, como o Concurso "Cientistas do Amanhã", destinava-se a estudantes de todo território nacional. Em cada apresentação, durante dois ou três anos, os jovens foram recebendo orientação de Carolina Bori e foram modificando seus experimentos, seu modo de registrar os fatos observados e até sua linguagem; por fim tiveram seus trabalhos selecionados para o Concurso "Cientistas de Amanhã" e chegaram a ser premiados o que é, no final, o almejado por todos os concorrentes.

De repente um avião pousou em Brasília, bateu e partiu-se, e a Professora Carolina Bori estava no mesmo. Mais tarde sofreu um acidente de carro, saiu ferida, foi operada e ficou certo tempo no hospital. Foi então que nós acordamos para o fato de quanto a queríamos e como ela era necessária a todos nós no dia a dia. Quando há dores físicas ou morais, o que podemos fazer é ficar perto, acompanhando. "Ufa! melhorou, sarou e está aí continuando seu trabalho".

Carolina está presente não só no Concurso "Cientistas de Amanhã" mas em todos os trabalhos desenvolvidos pelo IBECC, que ela sempre valorizou, estimou e para o qual contribuiu. Interessa-se muito por trabalhos realizados para crianças, e também pelos cursos e treinamentos de professores que militam com estudantes do nível primário, secundário e também do terceiro grau. Está sempre auxiliando, com seu vasto conhecimento, onde esteja. Seja no Departamento de Psicologia Experimental da USP, na SBPC, na Estação Ciência, no NUPES, no IBECC, no MEC, na UNB, no CNPQ, em São Carlos, em Ribeirão Preto, em Brasília ou no Nordeste.

Está sempre disposta a fazer uma pausa para atender os que a procuram. Os que estão necessitados de um ouvido amigo, naquela hora. Debate com veemência nas reuniões que participa, quer com palavras, quer com argumentos e com exemplos que acabam fazendo o grupo às vezes rever suas opiniões, mas também aceita a opinião de outros quando esta é balizada e constata sua validade.

Vejo que Carolina Bori não é só isto, é algo mais, que cada um de nós a sente como dentro de si. Em princípio podemos ter uma impressão dela diferente mas, à medida que vamos convivendo verificamos que é uma grande amiga. Isto é demonstrado nas horas de amargura, de problemas infindáveis e no sofrimento. Que podemos querer mais?

Todos a vemos dividir-se e estar presente na hora de problemas árduos e nas horas difíceis que todos nós temos durante este tempo de viver na terra.

Depois que escrevi e de reler o que foi escrito achei que estamos precisando de umas quatro ou cinco Carolinas Bori no Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    1998
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