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Carolina Bori

CAROLINA BORI

Luiz Edmundo de Magalhães

Instituto de Estudos Avançados - USP

Antes de mais nada, desejo expressar os meus mais sinceros agradecimentos à Prof. Maria Ignez Rocha e Silva pelo convite para participar dessa homenagem à Prof. Carolina Bori, que o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo houve por bem organizar.

Tendo sido colega da Carolina por vários anos na Diretoria da SBPC e tido a sua colaboração ao tempo em que fui Reitor da Universidade Federal de São Carlos, quando ela trabalhou na organização da Pós-Graduação em Educação naquela instituição, sinto-me muito honrado em dar este depoimento, juntando-me assim a vários outros colegas que a homenageiam nesse momento.

A Carolina Bori, posso adiantar e certamente não serei o único a dizer isso, é um exemplo de dedicação, seriedade e honestidade. Tem uma enorme capacidade de trabalho, enfrentando múltiplas tarefas que desempenha sempre com igual zelo e denodo.

Fomos colegas pela primeira vez na Diretoria da SBPC, ela como Primeira Secretária e eu como Secretário Geral, por dois mandatos, de 1973 a 1977. Deixei então a diretoria, mas ela continuou, por mais dois mandatos, no cargo de Secretária Geral. Voltamos a trabalhar juntos em 1985, quando ela ocupou o caro de Vice-Presidente e eu o de Secretário Geral.

Ao assumirmos pela primeira vez a Diretoria, sob a Presidência do Prof. Oscar Sala, vale a pena recordar, a SBPC passava por graves dificuldades financeiras e vivia um momento difícil face aos acontecimentos políticos da época. Em contraposição, talvez nunca tivesse gozado de tamanho prestígio, não só entre seus associados, mas também entre grande parte da sociedade brasileira pois, certamente, constituía uma das poucas tribunas livres e independentes onde se podia falar com autoridade, criticar o regime político-militar e reivindicar posições mais democráticas do governo, principalmente defendendo os direitos humanos e combatendo as perseguições políticas e as torturas. Toda essa situação, em geral muito tensa, contribuía para uma união muito forte entre os membros da Diretoria, que contavam com grande solidariedade dos associados.

O ponto alto das atividades da SBPC naquela época era a realização das Reuniões Anuais, quando se fazia ouvida em todo o Brasil. Havia uma fantástica mobilização da mídia para a divulgação dessas reuniões. Eram acontecimentos nacionais que, certamente, preocupavam muito o governo, chegando-se, em 1977, a proibir sua realização, marcada para Fortaleza. Mas a reunião foi feita em São Paulo, na PUC, já que a USP não concordou em sediá-la.

Todo esse clima de tensão e incerteza e a responsabilidade que criava para os membros da Diretoria exigiam sempre uma grande dedicação e muito trabalho, além de maturidade e equilíbrio. A Carolina se entregou, desde logo, de corpo e alma à SBPC. Tinha uma ligação muito forte com toda a comunidade, com os sócios, a quem atendia com desvelo. Ficou muito amiga de todo o nosso pessoal da Secretaria, em especial do Marco Antônio e da Eliana, ambos precocemente falecidos, da Wanda Marta, da Helenice, da Eunice que ocupou o lugar do Marco Antônio como chefe da Secretaria. Todos adoravam a Carolina, estima que permanece até hoje. Tinham para com ela o maior respeito e, na sua ausência, chamavam-na carinhosamente de Cacá.

Participei pouco da época em que a Carolina ocupou a Presidência, mas sei perfeitamente da dignidade com que desempenhou sua espinhosa missão, suas enormes preocupações, sua presença constante e sua altivez. Sempre me impressionou o fato de, a despeito de toda a sua dedicação à SBPC, a Carolina nunca ter abandonado o Instituto de Psicologia, suas aulas, seus alunos, seu laboratório de Psicologia Experimental, a pós-graduação, além de participar da Diretoria do IBECC onde, novamente, fomos colegas. Fez tudo isso sempre se desdobrando e trabalhando intensamente.

Em todos esses anos de convivência e estreita colaboração muito cordial e amiga, a Carolina sempre teve uma capacidade, uma habilidade incrível, de nunca falar de si mesma. Sua preocupação era exclusivamente com os outros, com a Sociedade e os sócios, com os problemas todos, com o Brasil. Nunca se queixava de problemas pessoais, não falava de si, não permitia nunca, a ninguém, a mínima intromissão em sua vida pessoal, no seu próprio mundo íntimo. Tinha uma discrição absoluta. Estava sempre pronta para o trabalho e assumia todas as missões sem questionamento. Com tudo isso conquistou um número enorme de amigos e admiradores e, por todas essas qualidades que certamente são mais ricas do que posso descrever, acho esta homenagem muito justa e me sinto extremamente contente em poder dela participar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    1998
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