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“Sua Majestade, o perverso”: domínio e onipotência nas perversões

“His Majesty the perverse”: domination and omnipotence in perversions

"Su Majestad, el perverso": dominio y omnipotencia en las perversiones

“Sa Majesté, le pervers” : domination et omnipotence dans les perversions

Resumo

Este artigo pretende explorar as bases narcísicas da perversão para mostrar que a problemática perversa tem em seu fundamento um ego narcisicamente ferido, que precisa manter-se ilusoriamente unificado, afirmando-se em sua onipotência infantil. Na base do funcionamento narcísico dos sujeitos perversos, reside um objeto interno “indomável”, de modo que toda manobra do perverso se configura como movimento extremo para dominá-lo e exercer o controle onipotente sobre ele. Diante da impossibilidade de se dominar internamente este objeto “encravado”, o sujeito acaba por tentar exercer o domínio ativo do objeto externo, tornado sua presa, seu cúmplice.

Palavras-chave:
teoria psicanalítica; perversão; narcisismo

Abstract

This article explores the narcissistic bases of perversion to show that the perverse problematic has at its foundation a narcissistically wounded ego that needs to remain illusorily unified, asserting itself in its infantile omnipotence. At the basis of the narcissistic functioning of perverse subjects lies an “indomitable” internal object, so that every maneuver of the perverse is configured as an extreme movement to dominate him, to exercise omnipotent control over him. Faced with the impossibility of mastering this “embedded” object internally, the subject ends up trying to exercise the active domain of the external object, which becomes its prey, its accomplice.

Keywords:
psychoanalytic theory; perversion; narcissism

Resumen

Este artículo objetiva explorar las bases narcísicas de la perversión para mostrar que la problemática perversa se fundamenta en un ego narcísicamente herido, que necesita mantenerse ilusoriamente unificado, afirmándose en su omnipotencia infantil. En la base del funcionamiento narcísico de los sujetos perversos, reside un objeto interno “indomable”, de modo que toda maniobra del perverso se configura como movimiento extremo para dominarlo y ejercer el control omnipotente sobre él. Ante la imposibilidad de dominar internamente este objeto “enclavado”, el sujeto acaba por intentar ejercer el dominio activo del objeto externo, que se convierte en su presa, su cómplice.

Palabras clave:
teoría psicoanalítica; perversión; narcisismo

Résumé

Le but de cet article est d’explorer les bases narcissiques de la perversion afin de montrer que la problématique perverse se fonde sur un égo narcissique blessé, qui doit rester illusoirement unifié, en s’affirmant dans son omnipotence infantile. À la base du fonctionnement narcissique des sujets pervers réside un objet interne « indomptable », faisant que la moindre manœuvre de l’individu se présente comme mouvement extrême pour le dominer, pour exercer sur lui un pouvoir tout-puissant. Face à l’impossibilité de dominer internement cet objet « enclavé », le sujet finit par essayer d’exercer la domination active de l’objet externe, devenue sa proie, son complice.

Mots-clés :
théorie psychanalytique; perversion; narcissisme

Não se encontra em Freud uma teorização unificada dos processos psicopatológicos envolvidos na perversão. Ao longo do desenvolvimento e dos remanejamentos da metapsicologia, esses processos se organizaram a partir de diferentes modelos sucessivos - mas não necessariamente inter-relacionados -, que conferem à perversão um caráter instável, evidenciando uma dificuldade de unificação conceitual a seu respeito. Mais do que construí-la como uma categoria psicopatológica bem delimitada, tais modelos sucessivos acabaram tornando polimorfa a própria teoria da perversão, de forma análoga a seu objeto (Neau, 2015Neau, F. (2015). Du ciel - à travers le monde - jusqu’à l’enfer. In J. André, C. Chabert, & P. Guyomard (Orgs.). La perversion, encore (pp. 77-97). Paris: Presses Universitaires France.). Se, no início da obra freudiana, o contraponto estabelecido com a perversão se dava a partir das psiconeuroses, caracterizando-a como seu negativo, em seu final, é com a psicose que ela está mais proximamente imbricada, em especial a partir da postulação do mecanismo da Verleugnung.

Durante muitos anos, contudo, o que se viu delinear nas produções pós-freudianas acerca das perversões foi um centramento - em nosso entender, injustificado até certo ponto - na conceituação teórica baseada no modelo do fetichismo, na recusa da castração e na clivagem egoica, de certa forma negligenciando toda a complexidade das sucessivas e significativas transformações que o tema sofreu no pensamento de Freud. O privilégio concedido ao registro edípico na etiologia das organizações perversas acabou representando, em certa medida, uma desconsideração de toda uma série de importantes reflexões teórico-clínicas que antecederam o modelo do fetichismo e que a ele deveriam ser articuladas.

Apesar do modelo do fetichismo e da recusa da castração ser incontestavelmente imprescindível na consideração das organizações psíquicas perversas, restringi-las a ele seria recusar toda uma série de questões deixadas em aberto: será que a lei que o perverso tão incessantemente transgride é exclusivamente a interdição do incesto? Não haveria uma lei mais arcaica, em uma dimensão mais primária do psiquismo, que convocaria nossa atenção nesses casos? A castração e seus avatares não poderiam ser compreendidos como processos psíquicos que vêm recobrir um nível muito mais violento e traumático que estaria na base do psiquismo?

Os autores contemporâneos que têm se debruçado sobre o estudo das perversões apontam para uma via de análise que não foi extensivamente desenvolvida por Freud - apesar de encontrarmos em sua obra multifacetada indícios que sustentem tal ampliação - e que consideramos fundamental para a organização defensiva das respostas perversas: a dimensão narcísica. Ao deslocar o foco para o narcisismo, não temos como objetivo recusar a importância da passagem pelo Édipo nas perversões, mas tão somente chamar atenção para o terreno narcísico, logicamente anterior, que constitui a base fundamental sobre a qual se edifica o complexo edípico. Com isto, pretendemos conferir o devido peso metapsicológico às bases narcísicas das perversões, as quais permaneceram por muito tempo em segundo plano nas produções psicanalíticas a respeito do tema.

Nossa meta, portanto, consiste em explorar as bases narcísicas da perversão para mostrar que a problemática perversa tem em seu fundamento um ego narcisicamente ferido, que precisa manter-se ilusoriamente unificado, afirmando-se em sua onipotência infantil. Na base do funcionamento narcísico dos sujeitos perversos, reside um objeto interno “indomável”, de modo que toda manobra do perverso se configura como movimento extremo para dominá-lo, para exercer o controle onipotente sobre ele. Diante da impossibilidade de se dominar internamente este objeto “encravado”, o sujeito acaba por tentar exercer o domínio ativo do objeto externo, tornado sua presa, seu cúmplice.

O fechamento no amor de si mesmo

Ao ser retomado por Freud para nomear a condição fundamental de “amor por si mesmo”, o mito de Narciso e suas raízes etimológicas nos convocam a pensar no caráter inebriante e entorpecente envolvido no fechamento no amor de si - em que não há lugar para o outro - até o extremo de sua própria morte. No que concerne ao estudo da relação entre a constituição narcísica e as organizações defensivas perversas, tal fechamento no amor de si mesmo - que, em seu extremo, aponta para um autocentramento que não reconhece a diferença - constitui importante eixo de análise.

Esta articulação mais próxima entre as perversões e o narcisismo, no entanto, não foi desenvolvida por Freud nem por seus seguidores durante muitos anos, só recebendo sua devida atenção recentemente. Sistematizada entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980, uma configuração clínica em particular nos chamou a atenção, seja por sua oportuna nomenclatura, seja pela descrição de sua dinâmica intrapsíquica e, sobretudo, intersubjetiva. Trata-se do quadro nomeado como “perversão narcísica”, cujo funcionamento foi descrito primeiramente por P.-C. Racamier (1986Racamier, P.-C. (1986). Entre agonie psychique, déni psychotique et perversion narcissique. Revue Française de Psychanalyse , 50(5), 1299-1309. Recuperado de https://bit.ly/2yZAOFo
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, 1987-1992/2012Racamier, P.-C. (2012). Les perversions narcissiques. Paris: Payot & Rivages. (Trabalho original publicado entre 1987 e 1992).), conhecendo desenvolvimentos importantes nas décadas subsequentes, especialmente aqueles feitos por A. Eiguer (1980Eiguer, A. (1980). Croyance et narcissisme dans la relation perverse: le problème narcissique des perversions et la perversion narcissique. Études Psychothérapiques, 42(4), 271-278., 1989/2003aEiguer, A. (2003a). Le pervers narcissique et son complice (3a ed.). Paris: Dunod. (Trabalho original publicado em 1989), 1997Eiguer, A. (1997). Petit traité des perversions morales. Paris: Bayard., 2003bEiguer, A. (2003b). Outrage à l’intimité. Revue Française de Psychanalyse, 67(3), 857-871. doi: 10.3917/rfp.673.0857, 2008Eiguer, A. (2008). La perversion narcissique, un concept en évolution. L’Information Psychiatrique, 84(3), 193-199. doi: 10.3917/inpsy.8403.0193).

De acordo com a descrição clássica feita por Racamier, a perversão narcísica “se caracteriza, para um indivíduo, pela necessidade e pelo prazer prevalentes de se fazer valer a si mesmo a expensas de outrem” (1987-1992/2012Racamier, P.-C. (2012). Les perversions narcissiques. Paris: Payot & Rivages. (Trabalho original publicado entre 1987 e 1992)., p. 22). São sujeitos profundamente feridos em seu narcisismo, marcados pela necessidade imperativa de assujeitar o outro, para que só possa haver lugar para o si mesmo do perverso. Através de suas manobras e condutas, o perverso narcísico está em busca de um prazer específico, somente obtido ao destituir o outro de seu valor subjetivo.

Destaca-se o caráter de predação existente na perversão narcísica, que assume a forma de um exercício de poder sobre o outro que visa destruí-lo identitária e narcisicamente por meio de sua intimidação, produzindo perplexidade, paralisia, desvalorização e culpabilidade em suas vítimas. A dominação se faz de tal modo que os traços narcísicos de suas vítimas, ligados à construção da estima de si, ficam comprometidos em detrimento do seu domínio.

É assim que a conduta narcisicamente perversa será sempre uma predação moral: um ataque ao ego do outro em proveito do narcisismo do sujeito. Uma desqualificação ativa (mais ou menos hábil e sutil) do ego do outro e de seu narcisismo legítimo. (Racamier, 1987-1992/2012Racamier, P.-C. (2012). Les perversions narcissiques. Paris: Payot & Rivages. (Trabalho original publicado entre 1987 e 1992)., p. 34)

É o outro que sofre as consequências da inflação narcísica do perverso em questão, de modo que é necessário interpretar a perversão narcísica a partir da particularidade da relação de objeto que se estabelece entre o perverso e seu “cúmplice”, segundo a nomenclatura dada por Eiguer (1989/2003a)Eiguer, A. (2003a). Le pervers narcissique et son complice (3a ed.). Paris: Dunod. (Trabalho original publicado em 1989). No que concerne ao papel do cúmplice na relação perverso-narcísica, as estratégias do perverso têm como objetivo invadir seu espaço mental, desvalorizando-o, denegrindo-o e desqualificando-o. A principal arma utilizada por ele - muito mais do que violências físicas - é o discurso: trata-se de argumentações intermináveis e implacáveis, que não deixam escolha ao outro além da submissão à sua persuasão. Esvaziado de sua substância, de seu pensamento, o objeto do perverso narcísico se apresenta como um morto-vivo, aniquilado psiquicamente. Coisificado e desumanizado, destituído de valor próprio, resta a ele ser apenas um utensílio para o gozo do perverso narcísico (Korff-Sausse, 2003Korff-Sausse, S. (2003). La femme du pervers narcissique. Revue Française de Psychanalyse , 67(3), 925-942. doi: 10.3917/rfp.673.0925; Racamier, 1986Racamier, P.-C. (1986). Entre agonie psychique, déni psychotique et perversion narcissique. Revue Française de Psychanalyse , 50(5), 1299-1309. Recuperado de https://bit.ly/2yZAOFo
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).

Este objeto da perversão narcísica é intercambiável: nada mais, nada menos que uma marionete. É um utensílio . . . . O objeto do perverso narcísico não será, então, recusado em sua existência, mas em sua importância; ele só é suportável se for dominado, maltratado . . . (Racamier, 1987-1992/2012Racamier, P.-C. (2012). Les perversions narcissiques. Paris: Payot & Rivages. (Trabalho original publicado entre 1987 e 1992)., p. 36)

O estatuto da relação objetal é, deste modo, bastante singular: não se trata de aniquilar o objeto - ainda que se possa ultrapassar certo limite e se chegar a isso -, nem a ele dedicar uma indiferença mais ou menos velada; trata-se, sobretudo, de uma relação de objeto extremamente desumanizada, fetichizada, na qual o objeto é fundamental em sua função de ser reduzido a um equivalente de fetiche, um ente coisificado que serve para ser utilizado, manipulado e, quando se tiver dele feito uso, descartado, rejeitado. Privado de sensibilidade, empatia, compaixão, o outro é considerado um objeto material, sem alma nem vida.

Tudo se passa de tal modo que a relação entre o perverso narcísico e seu cúmplice torna-se um “espelho negativo”, em que a imagem narcísica do outro é distorcida e desqualificada pelo perverso, que dela se alimenta para sustentar o próprio narcisismo fraturado. Está em questão a tentativa de manutenção de uma relação de domínio, na qual as manobras do perverso narcísico parecem buscar desesperadamente afastar o perigo da perda de sua integridade narcísica, de cuja ameaça ele não consegue se livrar completamente. “Ele deve então perpetuar seu jogo com o outro para reassegurar a si mesmo sobre sua potência, a grandiosidade de seu self e sua capacidade de realimentar sem cessar suas ‘baterias’” (Eiguer, 1989/2003aEiguer, A. (2003a). Le pervers narcissique et son complice (3a ed.). Paris: Dunod. (Trabalho original publicado em 1989), p. 10).

Diante da angústia da perda de sua integridade, o ego do perverso narcísico defende-se expulsando projetivamente seus rejeitos psíquicos mais tóxicos sobre o outro. Esta montagem defensiva caracteriza-se, portanto, pela impossibilidade de integrar a conflitualidade própria à dinâmica psíquica, de modo que ao ego do perverso narcísico resta a clivagem de determinados conteúdos e a posterior projeção deles sobre o outro. Uma vez que tais conteúdos não puderam se integrar psiquicamente à interioridade, o sujeito perverso permanecerá não só completamente ignorante de seu sofrimento - em uma espécie de formação defensiva apática e paradepressiva -, mas também fará com que o outro sofra aquilo que ele não pôde integrar (Racamier, 1987-1992/2012Racamier, P.-C. (2012). Les perversions narcissiques. Paris: Payot & Rivages. (Trabalho original publicado entre 1987 e 1992).; Wagner, 2012Wagner, C. (2012). Relation d’objet dans la perversion narcissique. Se soutenir: déconstruire l’autre. L’Information Psychiatrique , 88(1), 21-28. doi: 10.3917/inpsy.8801.0021).

Este mecanismo de expulsão do perverso narcísico se configura como uma espécie de “injeção projetiva”, segundo a expressão de Wagner (2012Wagner, C. (2012). Relation d’objet dans la perversion narcissique. Se soutenir: déconstruire l’autre. L’Information Psychiatrique , 88(1), 21-28. doi: 10.3917/inpsy.8801.0021), cuja ênfase é toda posta no movimento de expulsão do dentro para fora da projeção. A ação deletéria do perverso narcísico sobre o objeto visa, sobretudo, penetrá-lo para controlá-lo a partir de seu interior. Nesta montagem, o objeto desempenha um papel essencial de receptor da exportação projetiva da conflitualidade do perverso narcísico, sem o qual não é possível exercer a dominação, tão cara ao perverso.

O domínio ativo do objeto se faz necessário diante da passividade submissa veiculada pela insegurança egoica do perverso narcísico. Há, na base de seu funcionamento narcísico, um objeto interno que falta, de modo que toda manobra do perverso narcísico se configura como movimento desesperado para preencher o irredutível sentimento de vazio. O que prevalece no quadro é a necessidade adesiva, vital e imperiosa de um objeto coisificado, imprescindível para o psiquismo do sujeito, para a conservação do sentimento de existência de si próprio, de tal medo que a possibilidade da perda do outro implica o temor da perda de si mesmo.

O campo de operação de todo perverso - e do perverso narcísico em particular - é a relação com o outro, a intersubjetividade. Daí a prioridade das passagens ao ato sobre defesas interiorizadas, tornando o perverso uma espécie de mestre de marionetes, cujas manipulações servem para manter seu objeto sob domínio, seduzido e siderado. Como pontua Ribas (1992Ribas, D. (1992). La mort d’un pervers. Desidentification primaire, adhésivité et pulsion de mort dans les perversions. Revue Française de Psychanalyse , 56(5), 1665-1671.), “Bem entendido, o trágico da perversão, aí onde ela abre para a morte, é o isolamento em que ela limita o sujeito. Ela se organiza para evitar o objeto total, ela interdita o enlaçamento das relações autênticas” (p. 1669). Aprisionado em uma relação de domínio com o outro, em que ambos permanecem petrificados nas posições de mestre e de escravo, sem possibilidade de troca, as relações objetais findam por ser desvitalizadas em função da necessidade de afirmação narcísica do perverso.

Desejamos sublinhar aqui que a importância da perversão narcísica para nossa argumentação se consolida a partir do momento em que ela põe diretamente o foco sobre a dimensão narcísica existente na perversão, a qual acabara ficando subsumida à problemática do complexo edípico e da recusa da castração na tradição psicanalítica. Consideramos, no entanto, que seria muito mais rico para nossa reflexão se pudéssemos ampliar o entendimento deste constructo, sustentando que a perversão narcísica aponta para características que, de acordo com a nossa leitura, não estariam restritas a uma entidade clínica específica dentro do espectro das perversões, mas seriam próprias de todas as respostas perversas.

Ao defender esta ampliação, estamos destacando que, seja qual for o plano em que se manifestam as condutas perversas, está presente na base da organização psíquica do sujeito uma articulação incontornável ao seu processo de constituição narcísica e à dinâmica pulsional-objetal nele implicada. O que viemos defender aqui é que o narcisismo, mais do que nunca, se apresenta para nós como elemento constitutivo e indissociável das perversões, de tal modo que a análise metapsicológica do narcisismo não pode ser descartada na apreensão teórico-clínica das perversões.

A face onipotente do narcisismo no ego ideal

Ao ser introduzido formalmente na metapsicologia, em 1914, o conceito de narcisismo provocou uma série de reviravoltas teóricas fundamentais para a compreensão de determinadas psicopatologias e do funcionamento psíquico como um todo. No que concerne às perversões, este artigo deixa aberta uma importante via de análise pouco explorada, mas de especial interesse para nós: trata-se da face onipotente do narcisismo que se apresenta nas perversões.

Entendida como um traço de megalomania próprio à constituição egoica, a onipotência narcísica diria respeito a um superinvestimento libidinal do ego, que estaria na base do funcionamento psíquico infantil, dando forma à figura de “sua majestade, o bebê”, depositária das projeções das fantasias onipotentes dos pais, de tal modo que a transmissão destas dá forma ao projeto de um narcisismo revivido de maneira idealizada, somente a partir do qual o próprio narcisismo da criança poderá constituir-se. Ao final da segunda parte de Introdução ao narcisismo, acerca da atitude de alguns pais em relação a seus filhos, Freud diz que temos que reconhecê-la como uma revivescência de seu próprio narcisismo, de tal modo que “os pais são levados a atribuir à criança todas as perfeições - que um observador neutro nelas não encontraria - e a ocultar e esquecer todos os defeitos . . .” (Freud, 1914/2010aFreud, S. (2010a). Introdução ao narcisismo. In S. Freud, Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916) (P. C. Souza, trad., Obras completas, Vol. 12, pp. 13-50). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1914), p. 36).

A medida do valor da criança, a superestimação conferida por seus pais, não remete a valores externos, mas tão somente ao que ela é, de modo que ela mesma torna-se o modelo a partir do qual fica definida a perfeição: seu rosto, seu sorriso, seus gestos, seus sons - até mesmo seus excrementos - são valorizados como “proporção áurea” da perfeição. Estamos aqui no campo discursivo do ego ideal, em que se consolida a imagem de “sua majestade, o bebê”, estado onipotente do ego infantil que Freud atribui à revivência do narcisismo primário dos pais.

Bleichmar (1981Bleichmar, H. (1981). El narcisismo: estudio sobre la enunciación y la gramática inconsciente. Buenos Aires: Nueva Visión.) defende que o ego ideal é caracterizado pela incondicionalidade da admiração do outro, posto que sua perfeição esteja fora de qualquer discussão, e cujo único critério a ser reconhecido é “ser meu filho”. Esta incondicionalidade que constrói o ego ideal refere-se ao deslocamento da valoração de um atributo idealizado até a totalidade da representação do sujeito, de modo que o juízo e a reação afetiva que merece determinado atributo passam a ser patrimônio do sujeito como um todo. Para que se consolide o ego ideal, é preciso passar do exame do traço à pessoa total, de maneira tal que se entenda o ego ideal como uma representação unificada, considerada modelo de perfeição.

O ego ideal é, portanto, constituído por este conjunto de representações dotadas, a priori, de um juízo de valor que se estende de um atributo parcial para o todo. Trata-se de um discurso autossustentado, em que tudo está decidido de antemão: um discurso totalizante, que corrobora e mantém a existência de um ideal de perfeição encarnado no próprio ego. O ego ideal fala de uma idealização em que domina maciçamente a fantasia inconsciente de onipotência, enquanto no ideal do ego - o qual vai se constituir diante da impossibilidade de sustentação do ego ideal, funcionando como um substituto do narcisismo perdido da infância - tal idealização se localiza e se adapta à realidade.

O ideal do ego resultaria de critérios valorativos externos a cada pessoa, referindo-se sempre a um aspecto parcial, a um traço do todo. Neste sentido, não estamos diante de um discurso totalizante - que atribui o valor do traço ao todo -, porém de um discurso discriminante - em que não se trata mais da incondicionalidade da admiração do outro, mas de sua inserção no mundo de valores compartilhados -, em que o juízo sobre cada aspecto não deriva para o todo, permanecendo relacionado ao critério exterior segundo o qual foi avaliado.

Bleichmar (1981Bleichmar, H. (1981). El narcisismo: estudio sobre la enunciación y la gramática inconsciente. Buenos Aires: Nueva Visión.) aponta que, enquanto o ego ideal representaria uma unidade total sem fendas, o ideal do ego nunca poderia fazê-lo, pois, diferentemente do primeiro, que atribui a máxima perfeição a um sujeito, o ideal do ego não admite que alguém ocupe esse lugar de completude, que seja a soma de todas as perfeições. Se no discurso que sustenta o ego ideal os valores são dados sempre a priori, o discurso do ideal do ego é sempre aberto, imprevisível, de valores mutáveis e não determinados, podendo o sujeito se adaptar ou não, se identificar ou não.

No que concerne à relação destas duas instâncias ideais com as perversões, no artigo de 1914, Freud entende a etiologia da perversão como estando marcada por um ponto de fixação no desenvolvimento do ideal do ego. A questão da perversão está relacionada a uma impossibilidade de consolidação do ideal do ego, impossibilidade de deslocamento do investimento narcísico outrora destinado ao ego ideal. A perversão se consolidaria, portanto, quando o ideal do ego não se desenvolveu - permanecendo o indivíduo fixado no funcionamento onipotente do ego ideal - e não fez recusar pela instância de censura o que a satisfação libidinal objetal poderia ter de inconciliável com as representações do ego.

A fixação ao amor narcísico nas perversões seria resultado de entraves importantes ao deslocamento do investimento libidinal narcísico para os objetos. Importante pontuar que este entendimento deriva daquele defendido nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905/1996aFreud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 7, pp. 117-231). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1905)), segundo o qual a perversão é sempre uma regressão e uma fixação: se em 1905 trata-se de uma fixação à pré-genitalidade que perpetuaria determinados elementos da sexualidade infantil na vida adulta, em 1914 trata-se de uma fixação ao amor narcísico que põe dificuldades à consolidação do ideal do ego, permanecendo o indivíduo fixado, no que concerne às tendências sexuais, a seu próprio ideal infantil onipotente. Trata-se de ser novamente como na infância, e igualmente no que concerne às tendências sexuais, seu próprio ideal, em uma espécie de subversão do ideal do ego em nome de um ego ideal onipotente.

Trata-se de uma organização defensiva destinada a preservar uma representação de si megalomaníaca, invulnerável e sem falha, que consiste em expulsar para fora de si e “extraditar” em uma ou várias pessoas do entorno imediato toda ferida ou afeto suscetível de alterar esta autorrepresentação onipotente. (Bouchet-Kervella, 2016Bouchet-Kervella, D. (2016). Pluralité des organisations mentales dites “perverses”. Revue Française de Psychanalyse , 80(3), 700-721. doi: 10.3917/rfp.803.0700, p. 701)

Fundamentalmente, a autorrepresentação onipotente do ego do perverso implica um “esvaziamento” narcísico do outro, deixando-o reduzido a um mero utensílio descartável, a fim de engrandecer a crença na grandiosidade de seu próprio ego ideal (Eiguer, 1980Eiguer, A. (1980). Croyance et narcissisme dans la relation perverse: le problème narcissique des perversions et la perversion narcissique. Études Psychothérapiques, 42(4), 271-278.).

A face destrutiva do narcisismo

Para além de seus aspectos libidinais evidentes, a dimensão destrutiva presente no narcisismo e sua relação com a pulsão de morte põem em jogo sua face mais perigosa, que conduz à autodestruição: “a face mais nefasta do narcisismo, aquela que conduz do fechamento do amor de si por si mesmo até a idealização, a sua própria destruição, a sua extinção” (André, 2014André, J. (2014). Les destructions de Narcisse. Revue Française de Psychanalyse, 78(1), 61-67. doi: 10.3917/rfp.781.0061, p. 61). Jacques André mostra que o narcisismo também implica uma resposta destrutiva e absolutamente perigosa, pois, em seu limite, conduz o sujeito a um fechamento no amor de si mesmo - em que não há lugar para o outro - até o extremo de sua própria destruição.

O autor ainda pontua que, apesar dessa evidente face autodestrutiva do narcisismo, a tradição psicanalítica manteve-se centrada em seus aspectos libidinais e somente com a posteridade de Freud a relação do narcisismo com a pulsão de morte pôde ser vista de forma mais clara no conjunto dos textos metapsicológicos. Autores como Herbert Rosenfeld e André Green foram os primeiros a “dualizar” o próprio narcisismo, sublinhando a necessidade de se distinguir um narcisismo libidinal, de vida, e um narcisismo destrutivo, de morte.

As formas mais virulentas dos processos destrutivos dirigidos contra os objetos encontram-se no que Rosenfeld (1988Rosenfeld, H. (1988). Narcisismo destrutivo e a pulsão de morte. In H. Rosenfeld, Impasse e interpretação: fatores terapêuticos e antiterapêuticos no tratamento psicanalítico de pacientes neuróticos, psicóticos e fronteiriços (pp. 139-166). Rio de Janeiro, RJ: Imago.) chamou de “organizações de personalidade narcisistas”. Esta noção de organização patológica se refere à ideia de que as defesas utilizadas pelo ego operam de maneira fixa e cristalizada, criando um sistema rígido de funcionamento com grande resistência à mudança. Importante salientar que tanto a fixação no narcisismo libidinal quanto no narcisismo destrutivo implicam enormes prejuízos para o funcionamento psíquico do sujeito, marcado pelos frequentes ataques aos elementos de ligação intersubjetivos e intrapsíquicos (Barros, 1988Barros, E. M. R. (1988). Prefácio à edição brasileira. In H. Rosenfeld, Impasse e interpretação: fatores terapêuticos e antiterapêuticos no tratamento psicanalítico de pacientes neuróticos, psicóticos e fronteiriços (pp. 9-30). Rio de Janeiro, RJ: Imago.).

Rosenfeld (1976Rosenfeld, H. (1976). Les aspects agressifs du narcissisme: un abord clinique de la théorie des instincts de vie et de mort. Nouvelle Revue de Psychanalyse , (13), 205-221.) retoma a afirmação feita por Freud em 1915 a respeito da anterioridade lógica do ódio ao amor no que diz respeito à relação de objeto. No artigo que trata das pulsões e seus destinos, Freud (1915/2010b)Freud, S. (2010b). Os instintos e seus destinos. In S. Freud, Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916) (P. C. Souza, trad., Obras completas, Vol. 12, pp. 51-81). São Paulo, SP: Companhia das Letras . (Trabalho original publicado em 1915) pontua que o ódio surge da rejeição do mundo externo por parte do ego. Ora, com isto ele afirma que o mundo externo é inicialmente visto como fonte de estímulos perturbadores - “antinarcísicos”, pode-se dizer, já que vão contra a tentativa de homeostase egoica. O ódio aparece, portanto, como forma primeira de preservação narcísica, anterior ao amor, diante dessa perturbação. Aqui, o retraimento narcísico - o desinvestimento do objeto externo em direção ao próprio ego - tem a ver com um “antitrabalho”, no sentido de que, se a pulsão de vida é ligação, trabalho, tentativa de simbolização, a pulsão de morte estaria relacionada à inação, ao “antitrabalho”, ao desligamento. Esse retraimento narcísico seria a fonte do narcisismo destrutivo - ponto também trabalhado, ainda que de maneira diferente, por Green em seu conceito de narcisismo de morte, como veremos adiante.

Nas personalidades narcisistas, a identificação (incorporação) funciona como defesa contra todo reconhecimento de separação entre o ego e os objetos, uma vez que a tomada de consciência da separação conduz imediatamente a sentimentos de dependência insustentável do objeto e a inevitáveis frustrações. Onipotência e dependência encontram-se, portanto, intrincadas: “. . . a onipotência narcísica do Baby é inversamente proporcional à ‘onidependência’ do recém-nascido” (André, 2014André, J. (2014). Les destructions de Narcisse. Revue Française de Psychanalyse, 78(1), 61-67. doi: 10.3917/rfp.781.0061, p. 64). Seguindo ao extremo tal proposição, a resposta onipotente visaria radicalmente o retorno ao ventre materno, à unidade perfeita do ventre grávido, ao momento antes da “ex-(s)istência”, isto é, fora, e não “in-”, dentro.

É a partir da concepção da função objetalizante das pulsões de vida e da função desobjetalizante da pulsão de morte que Green (1982/1988Green, A. (1988). O narcisismo e a psicanálise: ontem e hoje. In A. Green, Narcisismo de vida, narcisismo de morte (pp. 11-29). São Paulo, SP: Escuta. (Trabalho original publicado em 1982), 1972/2008Green, A. (2008). De locuras privadas (2a ed.). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1972)) vai propor recuperar a teoria do narcisismo articulada ao segundo dualismo pulsional, postulando a existência de um narcisismo positivo ou de vida e de um narcisismo negativo ou de morte. “Há, portanto, uma articulação necessária a ser encontrada entre o narcisismo e a pulsão de morte, da qual Freud não se ocupou e que ele nos deixou para descobrir” (Green, 1982/1988Green, A. (1988). O narcisismo e a psicanálise: ontem e hoje. In A. Green, Narcisismo de vida, narcisismo de morte (pp. 11-29). São Paulo, SP: Escuta. (Trabalho original publicado em 1982), p. 12).

No que concerne ao narcisismo positivo ou de vida, estaríamos diante de um movimento pulsional unificador procedente do ego, segundo o qual sua libido procura alcançar a coesão egoica, de modo que se trata de um narcisismo que tende à unidade, ao Um, em que predominam Eros e as ligações eróticas consigo mesmo. Se o contato com o objeto é algo que provoca perturbações à homeostase egoica e exacerba o sentimento de descentramento do sujeito - uma vez que o objeto nunca é encontrado plenamente, uma vez que sempre falha -, o narcisismo de vida fala de como o sujeito se defende, neutralizando o objeto, ao voltar-se para o investimento no próprio ego.

As realizações do narcisismo de vida nunca são totalmente bem-sucedidas, de modo que há momentos em que a crise vai longe demais e, ao invés de o ego se proteger através do retorno ao um, paradoxalmente vai se defender mediante uma tentativa de retornar ao zero, ao nada, à morte psíquica, porque mesmo o um é campo de sofrimento, dor e ressentimento. Estamos no campo do narcisismo de morte, a rota de fuga desesperada do ego que opera não somente o desligamento de suas relações objetais, a desobjetalização do outro, mas, em um passo a mais, a desobjetalização das ligações internas, de seus próprios objetos, de si mesmo.

Assim como Rosenfeld, quanto às perversões, Green (1979/2004)Green, A. (2004). O silêncio do psicanalista. Psychê, 8(14), 13-38. (Trabalho original publicado em 1979). Recuperado de https://bit.ly/2AxzwSD
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irá sustentar que o ego do perverso conseguiu manter sua unidade narcísica por meio da erotização da pulsão de morte: “Ameaçado pelas pulsões de destruição, teria conseguido ligá-las por meio da libido erótica (o que origina o sadomasoquismo), instaurando a primazia do falo (narcisista) contra a primazia da genitalidade (objetal)” (pp. 31-32). Nas perversões, a função objetalizante das pulsões de vida seria mantida atuante, de tal modo que a força destrutiva da pulsão de morte seria ligada, impedindo a desobjetalização das ligações internas, num movimento defensivo de sobrevivência narcísica.

A articulação proposta por Rosenfeld e por Green entre dependência, onipotência e perversão será aprofundada por Roussillon (1999Roussillon, R. (1999). Traumatisme primaire, clivage et liaison primaires non-symboliques. In R. Roussillon, Agonie, clivage et symbolisation (pp. 9-34). Paris: Presses Universitaires France ., 2004Roussillon, R. (2004). Narcissisme et “logiques” de la perversion. In N. Jeammet, F. Neau, & R. Roussillon (Orgs.), Narcissisme et perversion (pp. 115-166). Paris: Dunod.), que analisa o lugar da perversão e das “soluções perversas” na economia narcísica do sujeito. Sua proposição é que as respostas perversas devem ser compreendidas como uma “solução secundária”, que se organiza diante de certos traumatismos primários que afetaram as bases da constituição narcísica do sujeito.

Para dar conta das configurações psicopatológicas em que é a dimensão narcísica, bem como os entraves em sua constituição que põem em dificuldade a função subjetivante do ego, Roussillon (1999Roussillon, R. (1999). Traumatisme primaire, clivage et liaison primaires non-symboliques. In R. Roussillon, Agonie, clivage et symbolisation (pp. 9-34). Paris: Presses Universitaires France .) vai denominá-las de “sofrimentos narcísico-identitários”. Segundo ele, tais sofrimentos são definidos como uma organização defensiva radical contra os efeitos de um traumatismo primário, pondo acento sobre o processo de clivagem que o acompanha e que afeta diretamente a constituição narcísica do sujeito. Os elementos clivados - irrepresentáveis por definição - configurariam ameaça ao psiquismo, uma vez que, submetidos à compulsão à repetição, pretenderiam retornar e exercer seus efeitos mortíferos à organização do psiquismo.

O traumatismo primário remete a experiências traumáticas muito precoces que provocaram no sujeito um transbordamento pelo desamparo, resultando em um desespero essencial capaz de ameaçar a existência da subjetividade e da organização psíquica como um todo. Ante essa configuração de base, as respostas perversas podem ser acionadas pelo ego como possível forma de sobrevivência psíquica, apesar da dimensão mortífera nelas implicada. Diante desses estados traumáticos, o que ganha destaque é o mecanismo de “clivagem ao ego” (Roussillon, 1999Roussillon, R. (1999). Traumatisme primaire, clivage et liaison primaires non-symboliques. In R. Roussillon, Agonie, clivage et symbolisation (pp. 9-34). Paris: Presses Universitaires France .).

A clivagem ao ego será um processo dissociativo ancorado na “clivagem do ego” (Freud, 1940/1996bFreud, S. (1996b). A divisão do ego no processo de defesa. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 23, pp. 289-296). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1940)), mas diferente dele. A clivagem do ego divide-o entre duas cadeias representativas incompatíveis entre si - um lado que reconhece a realidade, perante a qual deve renunciar à satisfação pulsional, e outro lado que recusa a realidade, de modo a poder conservar a satisfação. Já a clivagem ao ego divide o psiquismo entre uma parte representada e uma parte não representável, processo paradoxal pelo qual o ego, para sobreviver à morte traumática, acaba por cortar de si próprio uma parte da experiência subjetiva, dando origem a uma zona traumática irrepresentável clivada, alheia ao ego, no interior do psiquismo. Ante a ameaça de aniquilamento traumático, de desintegração, o ego se extirpa de uma parte de si para salvaguardar-se como um todo (Borges & Cardoso, 2011Borges, G. M., & Cardoso, M. R. (2011). Clivagem mortífera e guardiã de Eros. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 14(4), 599-610. doi: 10.1590/S1415-47142011000400002).

Contudo, mesmo com a clivagem, a experiência traumática não desaparece; ao contrário, retorna a partir da reativação de traços perceptivos, submetidos à compulsão à repetição. Esses traços perceptivos, que seriam da ordem das marcas, serão reativados diante do menor índice de percepção que se assemelhe à experiência traumática sofrida, de modo que o ego ver-se-á novamente ameaçado ante o retorno da experiência traumática, a qual foi tão extrema a princípio que o fez clivar-se de uma parte de si próprio. O clivado ao ego tende a retornar em forma de ato.

A clivagem do ego é um mecanismo de defesa precário, sendo necessárias outras defesas complementares, contra o retorno do clivado, para tentar dominar esse retorno. Nas perversões, a ideia central é que as experiências traumáticas primárias não elaboradas tentariam reintegrar-se ao ego, utilizando as possibilidades de ligação conferidas pela excitação sexual (“secundária”), para vir a se inscrever sob a dominação do princípio do prazer-desprazer.

A experiência traumática seria dominada e retornaria como uma experiência produtora de prazer. Ante o retorno compulsivo da experiência traumática anterior, vivida passivamente, o ego se comporta como agente daquilo que o fez sofrer, como se pusesse nesse mal estar a fonte de seu bem. A salvaguarda narcísica é obtida pela “mistura” dos registros do prazer e do desprazer, em que “bom” e “mau” se confundem e se invertem, de modo que o ego, mesmo culpado, “prefere” sentir-se “responsável”, ativo, mestre, do que retornar à impotência e ao desamparo do vivido agonístico.

As respostas perversas podem, portanto, ser compreendidas como defesas psíquicas extremas contra o retorno do traumatismo primário clivado, de uma alteridade interna inassimilável, que põe em dificuldade a função subjetivante do ego, perturbando as bases da constituição narcísica. Ao resgatarmos a face destrutiva do narcisismo nas perversões, sublinhamos como a afirmação narcísica de onipotência, a qual se exerce no campo intersubjetivo como domínio do objeto via desqualificação e manipulação, parece caracterizar um modo perverso de funcionar, cuja base é de ordem narcísica.

Aprisionado em uma relação de domínio com o outro, em que ambos permanecem petrificados nas posições de mestre e de escravo, sem possibilidade de troca, as relações objetais são desvitalizadas em função da necessidade de afirmação narcísica do perverso. O que prevalece no quadro é a necessidade adesiva, vital e imperiosa de dominar um objeto coisificado, imprescindível para o psiquismo do sujeito, para a conservação do sentimento de existência de si próprio.

Supomos haver, na base de funcionamento narcísico dos sujeitos perversos, um objeto interno “indomável”, de modo que toda manobra do perverso se configura como movimento desesperado para dominá-lo, para exercer o controle onipotente sobre ele. No entanto, diante da impossibilidade de se dominar internamente este objeto “encravado”, o perverso acaba por tentar exercer o domínio ativo sobre o objeto externo, sua presa, seu cúmplice.

Domínio do “objeto indomável”

A história dos sujeitos perversos encontra-se marcada por mensagens particularmente violentas e traumáticas, “intraduzíveis”. Nestes casos, a intrusão do outro excede o fracasso parcial de tradução, constitutivo do recalcado, remetendo-nos a um fracasso radical. Tais mensagens, impossibilitadas de entrar no processo tradutivo, veiculam aspectos desligados que permanecem encravados na tópica psíquica, diante dos quais o ego se encontra incapacitado de promover sua integração, bem como de recalcar tal dimensão “estrangeira” interna.

O fracasso radical na tradução das mensagens enigmáticas encontra-se indissociavelmente ligado ao que Laplanche (1988Laplanche, J. (1988). Teoria da sedução generalizada e outros ensaios. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.) considerou como “intromissão do outro”, processo pelo qual a dimensão “estrangeira” interna, advinda do outro, torna-se impossível de metabolizar. Isto se deve ao caráter singular do conteúdo de certas mensagens, bem como a uma eventual precariedade das condições de ligação dessas mensagens veiculadas pelo outro. O que aparece nessas mensagens “intraduzíveis” é a dimensão de excesso pulsional indomável, correlata à precariedade egoica em lidar com tal excesso.

É possível, no entanto, buscar pistas de investigação do funcionamento egoico diante destas mensagens que veiculam um excesso a traduzir mediante certas respostas psicopatológicas que fazem uso de mecanismos arcaicos para procurar dominar, ainda que precariamente, esse excesso. Tal é o caso de determinadas respostas perversas, em que o ego, cristalizado na posição de domínio, procura transformar no contrário uma situação de passividade absoluta diante do outro em atividade. Nestes casos, a cena traumática de sedução será constante e compulsivamente reatualizada, mas com uma inversão nas posições daqueles que a compõem.

Afirma Dorey (1981Dorey, R. (1981). La relation d’emprise. Nouvelle Revue de Psychanalyse, (24), 117-139. doi: 10.3917/dunod.chagn.2012.02.0139), apoiando sua hipótese nos fundamentos da contribuição de Laplanche, que, na história infantil de sujeitos perversos, poderia haver um “dado” que recorrentemente se encontra, podendo-se até mesmo dizer que nunca está ausente: o autor chama a atenção para a “existência de condutas sedutoras sofridas pela criança por parte da mãe ou de seu substituto privilegiado. Isto não deve ser banalizado; trata-se, na realidade, de uma sedução efetiva, geralmente muito cedo, massiva, intensa, repetitiva e polimorfa” (p. 122). O caráter intrusivo da relação objetal primária nestes casos parece apontar para o estabelecimento de um laço de prazer erótico entre a mãe e a criança, desenvolvido a partir de uma cumplicidade arcaica e primária em um nível carnal.

A relação de domínio de caráter perverso tem lugar quando os elementos intraduzíveis do próprio adulto são transmitidos de maneira atuada por ele em relação à criança. Se a sedução pode ser considerada como protótipo de toda relação de domínio, sua dimensão perversa aparece quando há um abuso do poder sobre outrem, que implica o caráter unilateral do exercício do domínio. Sobretudo, é quando a mãe procura “eternizar” esta relação de poder através da sedução que a violência do domínio aparece em sua face perversa, quando ela pretende, em última instância, não somente que o filho dependa exclusivamente dela, mas que permaneça parte integrante dela mesma.

Baseando-se igualmente nas proposições de Laplanche a respeito da teoria da sedução generalizada, Bonnet (2008Bonnet, G. (2008). La perversion: se venger pour survivre. Paris: Presses Universitaires de France.) irá sustentar que o funcionamento perverso seria, em seu arcabouço, animado por um desejo de vingança como forma de sobrevivência. Diz ele que o que o perverso põe em causa não é a sedução enquanto tal - em sua dimensão constitutiva, implantada -, mas uma “sedução de morte”, caracterizada pela fixação que ela implica. Trata-se de uma sedução “que permaneceu atravessada em sua garganta” (Bonnet, 2008Bonnet, G. (2008). La perversion: se venger pour survivre. Paris: Presses Universitaires de France., p. 38), e da qual o sujeito crê poder se liberar ao colocar o outro na posição que ele ocupara. Tudo se passa como se, ao dominar os objetos externos, ele pudesse suprimir os objetos internos encravados; mas, como isso não acontece, como o domínio do outro externo não dá conta do “estrangeiro” que está dentro de si, o sujeito fica condenado a recomeçar o mesmo processo repetidamente.

Muito se fala sobre a “frieza” do perverso, como se a ele não fosse creditada a possibilidade do afeto, tendo em vista o efeito que ele causa em suas vítimas. Na contramão deste discurso, Bonnet (1999Bonnet, G. (1999). Perversion affective et perversion sexuelle: les quatre états de l’affect. Revue Française de Psychanalyse , 63(1), 27-41.) defende que em nenhum lugar o afeto aparece de maneira tão evidente quanto na perversão, só que de maneira pervertida, isto é, utilizado e investido de maneira exclusiva, por ele próprio, para a satisfação particular que ele adquire ao pôr em ato seu roteiro. O afeto está inserido na lógica de domínio que o perverso estabelece com o mundo - seja ele interno, seja ele externo.

Quando o perverso inverte o sofrimento que ele próprio sentiu em sofrimento infligido ao outro, tornando-o condição para o seu próprio gozo, ele estaria reconstituindo o cenário da sedução originária, fazendo o outro sentir o mal que ele próprio experimentou, na tentativa extrema de se livrar da intromissão do outro primário. Neste jogo de inversão de posições subjetivas, é a dimensão identificatória que parece estar a ele subjacente. A questão da identificação com o agressor vem se articular estreitamente a estas hipóteses, uma vez que a cena que se estabelece nas passagens ao ato de caráter perverso, desempenhada sempre entre um dominador e um dominado, fala de um jogo identificatório marcado pela inversão passivo-ativo, em que a posição do sujeito outrora dominado passivamente se fixou em uma de domínio ativo.

Identificação com o sedutor

O aprisionamento em uma relação de manipulação e coisificação nos leva a sublinhar aqui o mecanismo de identificação com o agressor presente na perversão e, ademais, poderíamos aqui desdobrá-la e falar de “identificação com o sedutor” (Vale & Cardoso, 2015Vale, A. L. A., & Cardoso, M. R. (2015). Identificação com o “sedutor” nos atos de violência sexual. SIG: Revista de Psicanálise, 4(7), 27-38. Recuperado de https://bit.ly/301LXAN
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) - no caso, com a figura materna. O surgimento do outro reativa a matriz traumática forjada originalmente no encontro intrusivo mãe-bebê, no qual a dimensão de passividade, em sua dimensão radical, ocupou lugar determinante. Contra a reatualização dessa posição extrema, o sujeito erige formações defensivas cuja função essencial é reverter a passividade em atividade.

Ao assumir o lugar de instância identificatória idealizada, a mãe é alçada pelo infans à posição de onipotência, expressão da relação especular na qual ambos estão intrincados. No que concerne ao perverso, a assunção da mãe a este lugar idealizado não poderá ser descartada, uma vez que sua idealização é o que vai salvaguardar o mito da onipotência que o constitui. Tudo se passa aqui como se o sujeito preservasse a figura materna como instância suprema cujo objeto de desejo é única e inequivocamente ele mesmo.

A criança seria vítima passiva de uma agressão perverso-narcísica, intromissão do sexual materno que atravessa seu universo psíquico, fazendo efração de seu ego em formação. Para salvaguardá-lo, advém em um primeiro tempo a identificação com aquele objeto primário que extrapola os limites da sedução, submetendo-se à sua onipotência. Já o segundo tempo se daria sob uma forma ativa em que, diante da repetição do traumatismo sofrido no a posteriori, o mecanismo da identificação com o sedutor se expressaria como forma de vingança contra o objeto materno intrusivo, utilizando-se da onipotência narcísica para dominá-lo, para triunfar narcisicamente sobre ele.

A problemática perversa aponta não apenas para uma recusa da castração em que se desempenha um conflito insustentável entre a posse e a falta do objeto fálico, mas, mais fundamentalmente, para uma dimensão mais arcaica, em que é o par de opostos ativo e passivo que assume a primazia da cena. O sujeito afirma onipotentemente a detenção de um poder absoluto sobre o outro, como se ele pudesse transgredir todas as leis universais e escapar ileso.

As manobras perversas - quaisquer que sejam seus conteúdos - pretendem sustentar a ilusão narcísica de onipotência do sujeito, em detrimento do reconhecimento da alteridade, a qual passa a ser recusada. Assim, o investimento voltado ao próprio ego do sujeito sustenta a ilusão de que ele é mestre e centro do mundo, de modo a não haver espaço para o outro em uma relação. Além disso, o perverso parece almejar destruir a própria realidade, criada a partir das diferenças, para instaurar uma autoengendrada, autocentrada, em que as diferenças seriam abolidas - assumindo, assim, o lugar do Criador, narcisicamente onipotente, desafiador das leis divinas.

Ao triunfar narcisicamente sobre o objeto, o sujeito se propõe como “profeta de uma nova lei”. “Sua majestade, o perverso” é autoproclamado senhor e mestre de um mundo criado por ele próprio no qual os outros seriam objetos descartáveis para satisfazê-lo em seu narcisismo. Não há aqui, de maneira efetiva, espaço para identificações e investimentos edípicos, pois é o tempo “auto” que predomina mediante uma recusa da alteridade, recusa narcísica de reconhecimento da diferença.

Considerações finais

Nas perversões, o domínio e uso da vítima não implicam primariamente uma busca de prazer sexual, mas a afirmação de onipotência narcísica, combatendo assim a todo custo o ressurgimento repentino de uma angústia de passivação aterrorizante vivenciada bem no início da vida com o objeto materno (Balier & Prodolliet, 2009Balier, C., & Prodolliet, B. (2009). Du sacrifice à la toute-puissance: les préalables de la relation à l’objet. Revue Française de Psychanalyse , 73(1), 69-80. doi: 10.3917/rfp.731.0069; Bouchet-Kervella, 2016Bouchet-Kervella, D. (2016). Pluralité des organisations mentales dites “perverses”. Revue Française de Psychanalyse , 80(3), 700-721. doi: 10.3917/rfp.803.0700). Isso porque, ao longo do processo de constituição narcísica, esses sujeitos parecem ter estabelecido com o objeto primário uma relação muito precária. Como pontuamos, baseando-nos, sobretudo, no pensamento de Laplanche, nesse caso, a criança teria sido vítima passiva de uma agressão perverso-narcísica, intromissão físico-psíquica da sexualidade materna, percebida, em seu universo psíquico, como objeto interno “indomável” que provoca efração de seu ego em formação, transgredindo seus limites.

Essa relação inicial implicou a transmissão intrusiva de marcas irrepresentáveis que não puderam ser inscritas psiquicamente em termos de representações, mas permaneceram como enclaves. Nessas condições, tais enclaves não foram suprimidos, mantendo-se ativos em sua dor irrepresentável e não recalcável, restando ao psiquismo utilizar-se de um mecanismo defensivo primário de clivagem - “clivagem ao ego”, como a chama Roussillon (1999Roussillon, R. (1999). Traumatisme primaire, clivage et liaison primaires non-symboliques. In R. Roussillon, Agonie, clivage et symbolisation (pp. 9-34). Paris: Presses Universitaires France .) -, com o intuito de ejetar os afetos aterrorizantes para fora do espaço intrapsíquico e, assim, dissociá-los do ego em formação. Como o que foi clivado permanece presente inconscientemente, estes objetos encravados vão ser constantemente reativados alucinatoriamente no momento do encontro com a vítima. A dominação desta resultará na “injeção projetiva” (Wagner, 2012Wagner, C. (2012). Relation d’objet dans la perversion narcissique. Se soutenir: déconstruire l’autre. L’Information Psychiatrique , 88(1), 21-28. doi: 10.3917/inpsy.8801.0021) da angústia de passivação que fora expulsa do sujeito, em proveito da afirmação narcísica do ego do perverso.

As relações com o outro são muito pobres, mal diferenciadas, antes de tudo marcadas por um terror generalizado da passividade, esta remetendo ao horror da situação de dependência absoluta do bebê. A representação identitária se agarra a um ego ideal onipotente, espécie de “fiador da existência”, destinado a negar a amplidão do desamparo infantil e a exorcizar o terror da passividade. (Bouchet-Kervella, 2016Bouchet-Kervella, D. (2016). Pluralité des organisations mentales dites “perverses”. Revue Française de Psychanalyse , 80(3), 700-721. doi: 10.3917/rfp.803.0700, p. 702)

A ideia do ego ideal como “fiador da existência” aponta para a cristalização da imagem de “Sua majestade, o perverso”, a qual precisa ser reiteradamente afirmada em sua onipotência na relação com o outro. Estabelece-se entre o perverso e o objeto um jogo de troca de posições em que, frente ao ataque interno, eminentemente pulsional, vivido passivamente, o ego do sujeito busca recobrar a atividade, passando então ao ato, dominando o objeto externo e afirmando-se onipotentemente, numa tentativa de superar a situação de passividade.

Sustentamos que o narcisismo domina o quadro de maneira tirânica nas perversões, recusando tudo que não diz respeito ao amor de si mesmo e impossibilitando o investimento do outro, tomado em sua dimensão subjetiva. Entretanto, cabe pontuar que nossas formulações não deixam de lado a importância classicamente dada ao mecanismo de recusa da castração em relação ao conflito edípico, substituindo-a pela prevalência da problemática narcísica a ela subjacente. O registro do narcisismo por si só não é suficiente para dar conta do que fundamenta a resposta da perversão - nem o registro edípico. É justamente o modo como os registros narcísico e edípico se articulam entre si que determina o funcionamento e as organizações defensivas prevalentes no psiquismo. Não se tratou, portanto, de ignorar a dimensão edípica, mas de chamar atenção para a problemática narcísica que a antecede logicamente e está intimamente ligada a ela.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    25 Jul 2018
  • Aceito
    17 Maio 2020
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