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Regimes de atmosfera controlada para o armazenamento de caqui ‘Kyoto’

Controlled atmosphere conditions for ‘Kyoto’ persimmon storage

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de regimes de atmosfera controlada associados ou não com o uso de baixa umidade relativa e com a aplicação pós-colheita de fungicida sobre a conservação da qualidade de caqui ‘Kyoto’. Após o período de dois meses de armazenamento refrigerado a -0,5°C mais cinco dias a 20ºC, a firmeza de polpa manteve-se mais elevada nos frutos submetidos a 0,5kPa de O2 e 5kPa de CO2. A maior incidência de podridões ocorreu nos frutos armazenados a 2kPa de O2 + 10kPa de CO2. Baixa umidade relativa (90%) ou pressões parciais elevadas de CO2 (10 a 15kPa) aumentaram o escurecimento da epiderme.

Diospyrus kaki L.; qualidade pós-colheita; Alternaria alternata


This work aimed to evaluate the effect of different partial pressures of O2 and CO2, combined or not with the use of low relative humidity (RH) and the postharvest fungicide application, on the quality of ‘Kyoto’ persimmons during controlled atmosphere (CA) storage. After two months of storage at -0.5°C plus five days at 20ºC, the highest flesh firmness was obtained in fruits stored in CA conditions of 0.5kPa of O2 and 5kPa of CO2. The highest rot incidence was observed in fruits stored at 2kPa O2 + 10kPa CO2. Low RH (90%) or high CO2 levels (10 to 15kPa) led to increased skin blackening.

Diospyrus kaki L.; postharvest quality; Alternaria alternata


NOTA

FITOTECNIA

Regimes de atmosfera controlada para o armazenamento de caqui ‘Kyoto’

Controlled atmosphere conditions for ‘Kyoto’ persimmon storage

Auri BrackmannI,1 1 Autor para correspondência. ; Sérgio Tonetto de FreitasII; Ricardo Fabiano Hettwer GiehlIII; Anderson Machado de MelloIV; Marlova BenedettiV; Viviani Ruffo de OliveiraVI; Affonso José Wietzke GuarientiII

IEngenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS. E-mail: brackman@ccr.ufsm.br

IIAcadêmico do curso de Agronomia, UFSM. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)/ Conselho Naional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

IIIAcadêmico do curso de Agronomia, UFSM. Bolsista Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul

IVEngenheiro Agrônomo, mestrando do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGA), UFSM. Bolsista do CNPq

VEngenheiro Agrônomo, mestrando do PPGA, UFSM. Bolsista do CNPq

VINutricionista, mestrando do PPGA, UFSM. Bolsista do CNPq

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de regimes de atmosfera controlada associados ou não com o uso de baixa umidade relativa e com a aplicação pós-colheita de fungicida sobre a conservação da qualidade de caqui ‘Kyoto’. Após o período de dois meses de armazenamento refrigerado a –0,5°C mais cinco dias a 20ºC, a firmeza de polpa manteve-se mais elevada nos frutos submetidos a 0,5kPa de O2 e 5kPa de CO2. A maior incidência de podridões ocorreu nos frutos armazenados a 2kPa de O2 + 10kPa de CO2. Baixa umidade relativa (90%) ou pressões parciais elevadas de CO2 (10 a 15kPa) aumentaram o escurecimento da epiderme.

Palavras-chave:Diospyrus kaki L., qualidade pós-colheita, Alternaria alternata.

ABSTRACT

This work aimed to evaluate the effect of different partial pressures of O2 and CO2, combined or not with the use of low relative humidity (RH) and the postharvest fungicide application, on the quality of ‘Kyoto’ persimmons during controlled atmosphere (CA) storage. After two months of storage at –0.5°C plus five days at 20ºC, the highest flesh firmness was obtained in fruits stored in CA conditions of 0.5kPa of O2 and 5kPa of CO2. The highest rot incidence was observed in fruits stored at 2kPa O2 + 10kPa CO2. Low RH (90%) or high CO2 levels (10 to 15kPa) led to increased skin blackening.

Key words:Diospyrus kaki L., postharvest quality, Alternaria alternata.

O armazenamento de caquis em atmosfera controlada é uma prática cada vez mais freqüente. Segundo BRACKMANN & SAQUET (1995), pressões parciais de 2kPa de O2 e 8kPa de CO2 são adequadas para o armazenamento de caquis ‘Taubaté’, ‘Fuyu’ e ‘Bauru’. PRUSKY et al. (1997) observaram que a porcentagem de infecção de Alternaria alternata em frutos inoculados caiu de 90 para 1%, quando o CO2 aumentou de 0 para 12kPa no interior de embalagens de polietileno. O uso do fungicida Iprodione em pré-colheita também reduziu significativamente o número de caquis cv. Triumph atacados por A. alternata (PEREZ et al., 1995). Além disso, a infecção de A. alternata em caquis é extremamente dependente de altos níveis de umidade relativa (PEREZ et al., 1995). Dados precisos em relação às melhores condições de armazenamento de caquis ‘Kyoto’ são escassos na literatura. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de regimes de atmosfera controlada, associados ou não com o uso de baixa umidade relativa e com a aplicação pós-colheita de fungicida, sobre a qualidade de caquis ‘Kyoto’ após o armazenamento.

O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita (NPP) do Departamento de Fitotecnia da UFSM com frutos da cultivar Kyoto, provenientes de um pomar comercial da Serra Gaúcha RS. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições e unidade experimental composta por 20 frutos. Os frutos foram armazenados a –0,5°C, sendo que os tratamentos avaliados foram: regimes de atmosfera controlada (AC) com 2kPa de O2 + 15kPa de CO2; 2kPa de O2 + 10kPa de CO2; 1kPa de O2 + 8kPa de CO2; 0,5kPa de O2 + 5kPa de CO2; e 1kPa de O2 + 5kPa de CO2, sendo esta última condição associada com baixa umidade relativa (90%) e com o uso de fungicida Iprodione (Rovral® - 150g 100L-1, com imersão dos frutos por três minutos). Nos demais regimes de AC, foi utilizada umidade relativa de 96%. Após dois meses de armazenamento e mais cinco dias de exposição a 20°C, foram realizadas as análises físico-químicas, quando se avaliou a firmeza de polpa, sólidos solúveis totais (SST) e incidência de podridões, conforme descrito por BRACKMANN et al. (1997); escurecimento da epiderme, em uma escala de 0 a 3, onde 0 = sem escurecimento, 1 = até 20% da epiderme escurecida, 2 = de 21 a 50% da epiderme escurecida e 3 = mais de 50% da epiderme escurecida; cor da epiderme, obtida por um colorímetro eletrônico, da marca Minolta, modelo CR-310, sendo os resultados expressos através dos valores de L* (brilho), C* (croma) e h° (ângulo hue). Os dados, expressos em porcentagem, foram transformados para arco cosseno da raiz quadrada de x/100 e submetidos à análise da variância. As médias foram comparadas entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.

O armazenamento em AC com 0,5kPa de O2 e 5kPa de CO2 manteve a firmeza de polpa mais elevada (Tabela 1). No entanto, esta diferença foi pouco expressiva em relação aos demais tratamentos. Os sólidos solúveis totais (SST) apresentaram-se mais elevados no tratamento com baixa umidade relativa (Tabela1), o que ocorreu, provavelmente, devido à perda de água e ao aumento da concentração de açúcares nos frutos. Os tratamentos com 1kPa de O2 e 5kPa de CO2 mais aplicação de fungicida Iprodione ou baixa umidade relativa (90%) apresentaram os menores valores absolutos de incidências de frutos podres (Tabela 1). Este resultado está de acordo com PEREZ et al. (1995), que obtiveram menor incidência de podridão em caquis tratados com Iprodione. O escurecimento da epiderme foi menor nos tratamentos com 1kPa de O2 combinado com 5 ou 8kPa de CO2 (Tabela 1). De acordo com BEN-ARIE & OR (1986), baixas pressões de O2 parecem estar envolvidas com a inibição da atividade da enzima polifenol oxidase (PPO), responsável pela formação de pigmentos escuros na epiderme. Em relação à cor da epiderme, não se observou diferença significativa nos valores de L* (Tabela 1). No entanto, os frutos submetidos a 2kPa de O2 + 10kPa de CO2 apresentavam-se com os menores valores de C* e com coloração da epiderme mais vermelha.

O regime de atmosfera controlada com 1kPa de O2 e 5kPa de CO2, associado ou não com a aplicação de fungicida (Iprodione) em pós-colheita, foi o mais adequado para a manutenção da qualidade pós-colheita de caqui ‘Kyoto’. O uso de pressões parciais de CO2 elevadas (10 a 15kPa) e de baixa umidade relativa promoveram um aumento do escurecimento da epiderme.

Recebido para publicação 03.10.03

Aprovado em 05.05.04

  • BEN-ARIE, R.; OR, E. The development and control of husk scald on Wonderful pomegranate fruit during storage. Journal of American Society for Horticultural Science, Alexandria, v.11, p.395-399, 1986.
  • BRACKMANN, A.; MAZARO, S.M.; SAQUET, A.A. Frigoconservação de caquis (Diospyrus kaki, L.) das cultivares Fuyu e Rama Forte. Ciência Rural, Santa Maria, v.27, n.4, p.561-565, 1997.
  • BRACKMANN, A.; SAQUET, A.A. Efeito da temperatura e condições de atmosfera controlada sobre a conservação de caqui (Diospyrus kaki L.). Ciência Rural, Santa Maria, v.25, n.2, p.215-218, 1995.
  • PEREZ, A.; BEN-ARIE, R.; DINOOR, A. Prevention of black spot disease in persimmon fruit by gibberellic acid and iprodione treatments. Phytopathology, Palo Alto, v.85, n.2, p.221-225, 1995.
  • PRUSKY, D.; PEREZ, A.; ZUTKHI, Y. Effect of modified atmosphere for control of black spot, caused by Alternaria alternata, on stored persimmon fruits. Phytopathology, Palo Alto, v.87, n.2, p.203-208, 1997.
  • 1
    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Set 2004
    • Data do Fascículo
      Out 2004

    Histórico

    • Recebido
      03 Out 2003
    • Aceito
      05 Maio 2004
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