LINGUAGEM PROFISSIONAL E DOMÍNIO DA ENFERMAGEM

Quando nos deparamos com um texto técnico-científico, os termos utilizados em sua elaboração são os primeiros traços que nos chamam a atenção, pois revelam a linguagem de especialidade, ou seja, a linguagem própria da área de conhecimento em que foi escrito. Embora a linguagem de especialidade partilhe os aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos da língua geral, o que a distingue desta última é a seleção lexical, razão pela qual os termos nela inclusos se constituem em sua característica mais evidente.1

Em outras palavras, o vocabulário típico de um determinado grupo profissional equivale à terminologia da especialidade, isto é, ao conjunto de termos empregados na prática profissional e que configuram a linguagem própria daquela área de conhecimento.2 Pode-se afirmar, ainda, que o conjunto de termos empregados por uma área especializada delimita, circunscreve, indica quais são os fenômenos que estão no domínio de conhecimento dessa área específica.

Cada área aponta quais são os padrões, formas e estruturas particulares que lhe servem de guia na criação de conhecimento. Esse processo envolve a explicitação da(s) filosofia(s) que expressa(m) as crenças e valores dessa determinada área do conhecimento; e a explicitação dos conceitos representativos dos fenômenos que delimitam seu domínio de conhecimento. Os dois aspectos apontados, filosofia(s) e conceitos, se materializam na elaboração de teorias que articulam, em proposições testáveis no mundo empírico, os conceitos representativos dos fenômenos que estão no domínio de conhecimento de cada área específica.3

Com a criação do conhecimento de Enfermagem, não foi ou está sendo diferente pois, como resultado da atividade de atribuir significado ao mundo da Enfermagem, têm sido identificados e definidos conceitos relativos a fenômenos do domínio de conhecimento específico, aplicáveis aos diferentes campos de prática profissional - ensino, assistência, pesquisa e gestão/administração do cuidado de enfermagem. Especialmente, tem-se inter-relacionado esses conceitos em proposições teóricas que refletem múltiplas perspectivas a partir das quais é possível expressar as crenças e valores da área em relação a esses fenômenos, e que têm determinado inovações, evoluções e/ou revoluções no saber e no fazer da Enfermagem - as teorias de enfermagem.3

Resultantes, pois, do esforço profissional para alcançar o estatuto de ciência, as teorias de enfermagem organizam os fenômenos que estão no domínio de conhecimento da área em torno de quatro conceitos centrais, amplamente reconhecidos como os mais recorrentes na literatura - enfermagem, pessoa (ou ser humano), ambiente (físico, social e simbólico) e saúde, considerados como a matriz disciplinar, ou metaparadigma da Enfermagem.4

Os quatro conceitos centrais, assim como outros conceitos que a eles se articulam nas proposições teóricas elaboradas pelas autoras das teorias da área, participam da construção da linguagem especial da Enfermagem, ou seja, da construção do vocabulário particular utilizado pelo grupo sócio-profissional constituído pelos profissionais e ocupacionais de enfermagem, em face do interesse comum, ou do fim comum de nomear os fenômenos e as atividades pertinentes à profissão.3

Inter-relacionando os quatro conceitos centrais como organizadores de outros conceitos que estão no domínio de conhecimento da área, pode-se destacar como relevantes para a Enfermagem aqueles que dizem respeito à interação da pessoa com o ambiente e que podem ser influenciados por atos da Enfermagem que têm como meta a melhor saúde possível da pessoa de quem se está cuidando. Em síntese, os conceitos que podem ser apontados como relevantes para a Enfermagem dizem respeito às respostas das pessoas às circunstâncias de vida e saúde (diagnósticos); e aos atos que a Enfermagem executa para influenciar positivamente essas respostas (intervenções), de modo a alcançar ou manter as melhores condições possíveis de saúde e bem-estar (resultados) da pessoa.5

Como já afirmado em outra ocasião,3 se pretendemos promover a Enfermagem como ciência, precisamos tornar objetiva a linguagem que a expressa; garantir a compreensão e o reconhecimento intersubjetivo do significado dos conceitos incluídos na linguagem profissional; e situar os termos que a constituem em um universo comum de percepção e de comunicação - o universo instituído pela cultura da Enfermagem.

Garantir a compreensão e o reconhecimento intersubjetivo do significado dos conceitos incluídos na linguagem profissional é, a nosso ver, um aspecto fundamental, pois eleva seu potencial de aplicabilidade prática, seja no ensino, na pesquisa ou na assistência, assumindo um papel fundamental na criação e organização do conhecimento, na conformação do domínio de conhecimento e na visibilização da prática da Enfermagem. Imprescindível, pois, atentar para sua evolução e aplicar esse conhecimento em nossa prática cotidiana.

References

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  » https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000700017

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Jun 2019
• Data do Fascículo
  2019