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PRAZER, SOFRIMENTO E COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL NO TRABALHO DE ENFERMEIROS NO AMBIENTE HOSPITALAR

RESUMO

Objetivo:

correlacionar o prazer e o sofrimento no trabalho com a comunicação interpessoal de enfermeiros no ambiente hospitalar.

Método:

estudo transversal, exploratório, descritivo e correlacional, com abordagem quantitativa, realizado de outubro a novembro de 2017, com 152 enfermeiros atuantes em Hospital Universitário no Nordeste do Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, mediante utilização de instrumento com variáveis sociodemográficas e relacionadas ao trabalho, da Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho e da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal, sendo analisados pela estatística descritiva e inferencial.

Resultados:

observou-se que a vivência de prazer foi satisfatória, enquanto os fatores de sofrimento obtiveram avaliação crítica. Os enfermeiros pesquisados apresentaram médias elevadas em todos os domínios da competência em comunicação interpessoal. A análise da correlação entre a comunicação interpessoal e os indicadores de prazer e sofrimento apresentou valores significativos, sendo o nível de comunicação proporcional à vivência de prazer. Em contrapartida, a comunicação diminuiu, à medida que se elevava o sofrimento no trabalho.

Conclusão:

as vivências positivas e negativas no trabalho influenciam de forma significativa a comunicação interpessoal de enfermeiros e profissionais de saúde/equipe multiprofissional.

DESCRITORES
Enfermagem; Ambiente de trabalho; Recursos humanos de enfermagem no hospital; Saúde do trabalhador; Comunicação em saúde

ABSTRACT

Objective:

to correlate pleasure and suffering at work with nurses' interpersonal communication in the hospital environment.

Method:

a cross-sectional, exploratory, descriptive and correlational study, with a quantitative approach, conducted from October to November 2017, with 152 nurses working at a University Hospital in Northeast Brazil. The data were collected through interviews, using an instrument with sociodemographic and work-related variables, the Pleasure and Suffering Indicators at Work Scale and the Interpersonal Communication Competence Scale, being analyzed by descriptive and inferential statistics.

Results:

it was observed that the experience of pleasure was satisfactory, while the factors of suffering obtained a critical assessment. The nurses surveyed had high means in all the domains of competence in interpersonal communication. The analysis of the correlation between interpersonal communication and the indicators of pleasure and suffering showed significant values, with the level of communication proportional to the experience of pleasure. On the other hand, communication decreased, as suffering at work increased.

Conclusion:

the positive and negative experiences at work significantly influence the interpersonal communication of nurses and of the health professionals/multidisciplinary team.

DESCRIPTORS
Nursing; Work environment; Nursing human resources in the hospital; Worker's health; Communication in health

RESUMEN

Objetivo:

correlacionar el placer y el sufrimiento en el trabajo con la comunicación interpersonal de profesionales de Enfermería en el ámbito hospitalario.

Método:

estudio transversal, exploratorio, descriptivo y correlacional, de enfoque cuantitativo, realizado entre octubre y noviembre de 2017 con 152 profesionales de Enfermería que se desempeñan en un Hospital Universitario del noreste de Brasil. Los datos se recolectaron por medio de entrevistas, mediante el uso de un instrumento con variables sociodemográficas y relacionadas con el trabajo, de la Escala de Indicadores de Placer y Sufrimiento en el Trabajo y de la Escala de Competencia en Comunicación Interpersonal, siendo analizados por medio de estadística descriptiva e inferencial.

Resultados:

se observó que la experiencia de placer fue satisfactoria, mientras que los factores de sufrimiento obtuvieron una evaluación crítica. Los profesionales de Enfermería que participaron de la investigación presentaron valores medios elevados en todos los dominios de la competencia en comunicación interpersonal. El análisis de la correlación entre la comunicación interpersonal y los indicadores de placer y sufrimiento presentó valores significativos, descubriéndose que el nivel de comunicación resultó proporcional a la experiencia de placer. En contrapartida, la comunicación disminuyó a medida que aumentaba el sufrimiento en el trabajo.

Conclusión:

las experiencias positivas y negativas en el trabajo ejercen una significativa influencia sobre la comunicación interpersonal de los profesionales de Enfermería y de Salud y/o del equipo multiprofesional.

DESCRIPTORES
Enfermería; Ambiente de trabajo; Recursos Humanos de Enfermería en el hospital; Salud del trabajador; Comunicación en salud

INTRODUÇÃO

O trabalho de enfermagem e as interações estabelecidas nesse ambiente exercem potencial influência sobre o processo saúde-doença de trabalhadores, especialmente no contexto hospitalar, devido à complexidade das atividades desempenhadas.11. Baptista PCP, Pustiglione M, Almeida MCS, Felli VEA, Garzin ACA, Melleiro MM. Nursing workers health and patient safety: the look of nurse managers. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 11];49(Spe 2):122-8. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000800017
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As relações entre a organização e os sentidos atribuídos pelos profissionais para realidade laboral, resultam em manifestações de prazer e sofrimento que ocasionam saúde ou adoecimento.22. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo, SP(BR): Casa do Psicólogo; 2007.

O prazer constitui fonte de saúde para o profissional, quando há fatores interpessoais e estruturais que proporcionam experiências gratificantes no trabalho.33. Borges JL, Bezerra ALQ, Tobias GC. Nurses professional satisfaction of a public hospital. J Nurs UFPE [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov 07];10(8):2974-82. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i8a11367p2974-2982-2016
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Em contrapartida, o sofrimento está associado à presença de vivências negativas decorrentes da prática laboral, as quais podem provocar o adoecimento do trabalhador, resultando em prejuízos para vida pessoal e profissional.44. Dalmolin GL, Lunardi VL, Lunardi GL, Barlem ELD, Silveira RS. Nurses, nursing technicians and assistants: who experiences more moral distress? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 08];48(3):521-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000300019
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Dentre os elementos que podem ser geradores de prazer ou sofrimento no trabalho de enfermagem, a comunicação se destaca como importante indicador, haja vista que, em virtude do cuidado ser realizado em equipe, os profissionais estão em constante interação e utilizam cotidianamente ferramentas do processo comunicativo.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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A comunicação interpessoal é definida como a habilidade para relacionar-se de forma adequada e eficaz com outras pessoas, segundo as necessidades de cada sujeito e as exigências envolvidas na situação, podendo ocorrer de forma verbal ou não verbal.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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A comunicação verbal está associada à exteriorização de palavras, mediante a utilização da escrita ou fala como mecanismo para transmissão da mensagem pretendida.77. Schimidt TCG, Duarte YAO. Replication of the training program in nonverbal communication in gerontology. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 May 29];68(6):1042-9. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680607i
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A não verbal compreende toda informação que pode ser obtida por meio de gestos, posturas, expressões faciais e corporais, silêncio, maneirismos, volume e ritmo da voz, nível de energia física, orientações do corpo, presença e características do toque, distância interpessoal, meneios de cabeça, distribuição dos objetos no ambiente e paraverbal.88. Amorim RKFCC, Silva MJP. Nursing faculty’s opinion on effectiveness of non-verbal communication in the classroom. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 09];27(3):194-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400034
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A comunicação é uma das competências previstas para formação de enfermeiros, sendo considerada instrumento fundamental para o cuidado, principalmente na interação entre os profissionais de saúde, favorecendo a construção de inter-relação entre a equipe e maior motivação para o trabalho.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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Estudo realizado com enfermeiros que atuavam em Serviço de Oncologia em Portugal, evidenciou que um dos principais fatores para satisfação no trabalho foi o bom relacionamento entre a equipe.99. Bordignon M, Monteiro MI, Mai S, Martins MFSV, Rech CRA, Trindade LL. Oncology nursing professionals’ job satisfaction and dissatisfaction in Brazil and Portugal. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 02];24(4):925-33. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-0707201500004650014
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Nesse sentido, a ausência de prazer e a presença de sofrimento podem influenciar na comunicação interpessoal entre os trabalhadores, gerando danos para saúde dos profissionais, como o adoecimento psíquico e a ocorrência de acidentes ocupacionais, além de contribuir para realização de atos prejudiciais ao paciente durante a prestação do cuidado.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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,99. Bordignon M, Monteiro MI, Mai S, Martins MFSV, Rech CRA, Trindade LL. Oncology nursing professionals’ job satisfaction and dissatisfaction in Brazil and Portugal. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 02];24(4):925-33. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-0707201500004650014
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Embora seja referida na literatura a relevância do prazer e da comunicação para o trabalho dos profissionais de enfermagem, ainda são incipientes os estudos sobre a temática no país, sobretudo em relação à avaliação do processo comunicativo, em virtude do número reduzido de instrumentos adaptados e validados para cultura brasileira.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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Desse modo, investigar o prazer, o sofrimento e a comunicação no trabalho de enfermeiros pode proporcionar a compreensão de aspectos que influenciam as práticas dos membros da equipe, promovendo assistência de qualidade e maior segurança do paciente no contexto hospitalar.1010. Felli VEA, Costa TF, Baptista PCP, Guimarães ALO, Aginoni BM. Exposure of nursing workers to workloads and their consequences. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 03];49(Spe 2):98-105. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000800014
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A questão que norteou o estudo foi: existe relação entre os indicadores de prazer e o sofrimento no trabalho e a comunicação interpessoal de enfermeiros? Assim, objetivou-se correlacionar o prazer e o sofrimento no trabalho com a comunicação interpessoal de enfermeiros no ambiente hospitalar.

MÉTODO

Estudo transversal, exploratório, descritivo e correlacional, com abordagem quantitativa, realizado em hospital universitário, no município de João Pessoa, PB, Brasil. A população foi composta pelos enfermeiros atuantes no referido hospital. O cálculo amostral foi baseado no quantitativo de profissionais com diploma de graduação em Enfermagem, registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Sistema Único de Saúde, referente ao quadro de servidores da instituição, totalizando 252 enfermeiros.

O tamanho da amostra foi definido utilizando-se do cálculo para populações finitas com proporções conhecidas, com base na margem de erro de 5% (Erro=0,05), no grau de confiabilidade de 95% (α=0,05, que fornece Z0,05/2=1,96) e considerando-se a proporção igual de sujeitos que vivenciavam prazer e sofrimento no trabalho (p=50%), o que totalizou 152 enfermeiros. Foram definidos como critérios de inclusão: possuir vínculo empregatício ativo com o hospital e estar exercendo atividade profissional de enfermeiro no referido serviço há pelo menos seis meses, e como critério de exclusão: apresentar-se em período de férias, afastamento ou licença maternidade durante o período de coleta de dados.

A coleta de dados foi realizada entre outubro e novembro de 2017. Inicialmente, ocorreu o contato com os enfermeiros no hospital, durante os períodos de intervalo dos plantões ou na entrada e saída dos profissionais, a fim prestar orientações sobre os objetivos da pesquisa, solicitar a participação no estudo e agendar o melhor horário e local para o encontro, respeitando a disponibilidade de cada um. No dia agendado, solicitou-se a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e realizou-se a distribuição dos instrumentos autoaplicáveis para os enfermeiros, sendo estabelecido prazo máximo de até sete dias para devolução destes.

Os dados foram coletados por meio de instrumento com variáveis sociodemográficas e relacionadas ao trabalho, bem como da Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST) e da Escala de Competência em Comunicação Interpessoal (ECCI). A EIPST faz parte do Inventário sobre o Trabalho e Riscos de Adoecimento, instrumento autoaplicável validado no Brasil, composto por outros três instrumentos.22. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo, SP(BR): Casa do Psicólogo; 2007.Possui 32 itens com respostas do tipo Likert, variando de 0 (nenhuma vez) até 6 (seis ou mais vezes), que avaliam a ocorrência de indicadores de prazer e sofrimento no ambiente de trabalho nos últimos seis meses. Os fatores que compõem esse instrumento são: liberdade de expressão, realização profissional, esgotamento profissional e falta de reconhecimento, dentre os quais os dois primeiros avaliam as experiências de prazer no trabalho e os dois últimos, as experiências de sofrimento.22. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo, SP(BR): Casa do Psicólogo; 2007.

A análise foi realizada a partir da média entre os itens, sendo classificada em três níveis diferentes. Para os fatores que avaliam o prazer no trabalho (itens 1 ao 17), os indicadores foram classificados em nível positivo, satisfatório (escore ≥ 4,0); moderado ou crítico (escores entre 3,9 e 2,1); raramente, grave (escore ≤ 2,0). Para os fatores que avaliam o sofrimento no trabalho (itens 18 a 32), os indicadores foram classificados em: avaliação mais negativa, grave ≥ 4; avaliação moderada ou crítica, entre 3,9 e 2,1; avaliação menos negativa, satisfatória ≤ 2,0.22. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo, SP(BR): Casa do Psicólogo; 2007.

A ECCI é um instrumento adaptado e validado para o Brasil, contém 17 itens e cinco domínios: controle do ambiente, autorrevelação, assertividade, manejo das interações e disponibilidade. A avaliação é realizada mediante a análise do participante quanto ao próprio comportamento de comunicação com os outros, utilizando questões com respostas do tipo Likert, que variam entre 5 (sempre que interage da forma citada) e 1 (quase nunca se comporta de tal maneira), em que os itens 8 e 17 possuem código reverso.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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O escore total varia de 17 a 85, de forma que quanto maior a pontuação, mais elevada a habilidade em comunicação interpessoal.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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Além disso, em decorrência dos domínios da escala apresentarem amplitudes diferentes, não podem ser comparados entre si.

Em virtude de a escala não apresentar classificação específica para competência em comunicação interpessoal, neste estudo, foram utilizados os valores mínimo e máximo do instrumento (17 e 85 pontos, respectivamente), distribuídos em forma de quartis. Nesse tipo de cálculo, os valores são divididos em quatro partes iguais de 25%, em que o quartil 1 (Q1 - 56,00) corresponde aos 25% menores valores, o quartil 2 (Q2 - 61,00) delimita os 50% dos valores e o quartil 3 (Q3 - 66,00) abrange os 25% maiores valores. Assim, as médias foram classificadas em baixa (Q1), moderada (Q2) e alta (Q3).

A análise dos dados ocorreu por meio da estatística descritiva e inferencial. A variável dependente incluída no estudo foi a comunicação interpessoal e as variáveis independentes foram o prazer e o sofrimento no trabalho de enfermagem. Para verificação da normalidade/simetria dos dados numéricos, utilizou-se do teste de Kolmogorov-Smirnov. Foram utilizados os Testes Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para associar as variáveis e a correlação entre as escalas foi realizada através do Coeficiente Correlação de Spearman. O nível de significância utilizado para as análises estatísticas foi 5% (p≤0,05). A confiabilidade dos fatores foi avaliada, estimando-se a consistência interna mediante o Coeficiente Alfa de Cronbach, no qual valores entre 0,70 e 0,99 indicam que o instrumento é fidedigno.1111. Oviedo HC, Campo-Arias A. Aproximación al uso del coeficiente alfa de Cronbach. Rev Colom Psiquiatr [Internet]. 2005 [cited 2018 Sept 17];34(4):572-80. Available from: http://www.scielo.org.co/pdf/rcp/v34n4/v34n4a09.pdf
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RESULTADOS

Participaram deste estudo 152 enfermeiros, dos quais a maioria era do sexo feminino (91,4%), com idades entre 30 e 39 anos (48,0%), lotados no serviço de ambulatório (17,8%), setores administrativos (17,1%) e clínica médica (15,8%), não possuía outro vínculo empregatício (54,6%) e desempenhava as atividades em turno diurno (56,6%), com escala de trabalho de seis horas diárias (36,2%).

Ao avaliar a atividade laboral dos enfermeiros pesquisados, observou-se que, no indicador de prazer, os fatores Realização profissional e Liberdade de expressão foram classificados como satisfatórios. Em contrapartida, os indicadores de sofrimento, representados pelos fatores Esgotamento profissional e Falta de reconhecimento, obtiveram avaliação crítica, evidenciando que, embora os enfermeiros apresentassem níveis adequados de prazer, também exibiram médias elevadas de sofrimento na prática laboral. A escala apresentou boa confiabilidade interna, com a maioria dos valores do Alfa de Cronbach superiores a 0,80 (Tabela 1).

Tabela 1 -
Avaliação dos Indicadores de Prazer e Sofrimento no trabalho dos enfermeiros. João Pessoa, PB, Brasil, 2017. (n=152)

Os enfermeiros investigados apresentaram médias próximas da amplitude máxima para os domínios da ECCI e do escore total (61,50 ± 7,31), em que todos os valores foram classificados no quartil 2. A análise da consistência interna foi avaliada por meio do Alfa de Cronbach para cada domínio, obtendo valores entre 0,71 e 0,78, os quais são considerados aceitáveis (Tabela 2).

Tabela 2 -
Escala de Competência em Comunicação Interpessoal no trabalho dos enfermeiros. João Pessoa, PB, Brasil, 2017. (n=152)

A correlação entre os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho e a comunicação interpessoal apresentou valores positivos e significativos (p≤0,05), revelando que quanto maior as vivências de prazer no ambiente laboral, maiores são as médias da comunicação total e dos domínios. Todavia, os fatores de sofrimento no trabalho e a comunicação interpessoal evidenciaram valores negativos e significativos (p≤0,05), indicando que à medida que o sofrimento no trabalho se eleva, diminuem os níveis de comunicação entre os profissionais, tanto na comunicação total, quanto nos domínios disponibilidade, controle do ambiente, assertividades e manejo das interações (Tabela 3).

Tabela 3 -
Correlação entre as competências em comunicação interpessoal e os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho dos enfermeiros. João Pessoa, PB, Brasil, 2017. (n=152)

DISCUSSÃO

A avaliação dos indicadores prazer e sofrimento no trabalho da enfermagem evidenciou que os fatores de prazer foram satisfatórios. Contudo, foram observados níveis críticos de sofrimento. Resultados semelhantes foram encontrados em estudo realizado com profissionais de saúde da atenção básica, no qual os trabalhadores apresentaram prazer no trabalho, sendo a realização profissional, a liberdade de expressão e o reconhecimento, os fatores que mais influenciaram para esse resultado.1212. Maissiat GS, Lautert L, Pai DD, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 15];36(2):42-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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As situações vivenciadas no ambiente de trabalho podem ser percebidas de maneira diferente por cada profissional, repercutindo sobre as atividades por eles executadas.1313. Goulart BF, Camelo SHS, Simões ALA, Chaves LDP. Teamwork in a Coronary Care Unit: facilitating and hindering aspects. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 02];50(3):482-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420160000400015
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Alguns elementos são referidos na literatura como importantes indicadores de prazer na prática laboral, destacando-se a comunicação efetiva entre os membros da equipe, o reconhecimento, a valorização, a liberdade de negociação com a chefia e a remuneração adequada para função desempenhada.99. Bordignon M, Monteiro MI, Mai S, Martins MFSV, Rech CRA, Trindade LL. Oncology nursing professionals’ job satisfaction and dissatisfaction in Brazil and Portugal. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 02];24(4):925-33. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-0707201500004650014
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O prazer no fator Realização Profissional apresentou nível satisfatório entre os enfermeiros investigados, o que pode estar associado ao fato de os profissionais deste estudo serem concursados e possuírem salários elevados, incentivo para qualificação profissional e possibilidade de ascensão na carreira, o que favorece a vivência de sentimentos de gratificação, orgulho e identificação com a atividade desempenhada.

A sensação de prazer é algo subjetivo e que depende de múltiplos e complexos fatores que estão inter-relacionados aos aspectos do cotidiano do indivíduo.33. Borges JL, Bezerra ALQ, Tobias GC. Nurses professional satisfaction of a public hospital. J Nurs UFPE [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov 07];10(8):2974-82. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i8a11367p2974-2982-2016
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Quando a vivência de prazer está associada ao trabalho, pode ser resultado da proporcionalidade entre o que o profissional almeja e a resposta que ele recebe, tanto dos gestores e da instituição, quanto do próprio alvo do cuidado, o que permite ao trabalhador acreditar na importância da atividade por ele realizada e na relevância desta para si e a sociedade.1414. Rodrigues JO, Silva EAL. The pleasure and distress of men working in health services. J Nurs UFPE on line [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 11];10(7):2544-54. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i7a11313p2544-2554-2016
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No entanto, isso difere de alguns cenários da prática de enfermagem no Brasil e em outras realidades. Estudo realizado com enfermeiras que atuavam em hospitais de ensino no Irã identificou a insatisfação laboral e a intenção de abandonar a profissão, resultantes de cargas excessivas, baixos salários, ambiente hostil, falta de oportunidades de progresso na carreira, desvalorização e experiências constantes de humilhação e frustação.1515. Alilu L, Zamanzadeh V, Fooladi MM, Valizadeh L, Habibzadeh H. Towards an understanding of clinical nurses challenges that leads intentions to leave. Acta Paul Enferm [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 11]; 29(5):534-41. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201600074
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O fator Liberdade de Expressão exibiu médias elevadas, sendo avaliado como satisfatório. Este fator exerce potencial influência sobre o sentimento de prazer, refletindo a autonomia que o profissional apresenta para expor opiniões no ambiente de trabalho e a interação existente entre a equipe. Resultado similar foi evidenciado por estudo realizado com enfermeiros intensivistas de hospital privado do Rio de Janeiro, Brasil, o qual identificou que os profissionais apresentaram as maiores médias no referido fator, as quais estavam associadas à cooperação entre os colegas.1616. Campos JF, David HMCL, Souza NMVO. Pleasure and suffering: assessment of intensive nurses in the perspective of work psychodynamics. Esc Anna Nery [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 21];18(1):90-5. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20140013
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Diante disso, observa-se que a liberdade de expressão apresenta significativa relação com a satisfação do enfermeiro acerca das atividades realizadas e o apoio social ofertado nesse ambiente, sobretudo pela equipe de trabalho.1717. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Sep 11];26(1):e3940015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
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A percepção do apoio social e da solidariedade no trabalho, representado, em maioria, pela cooperação entre os colegas, torna o espaço mais agradável, permite que os indivíduos se expressem e sejam ouvidos, o que favorece o diálogo e a participação de todos nas decisões.33. Borges JL, Bezerra ALQ, Tobias GC. Nurses professional satisfaction of a public hospital. J Nurs UFPE [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov 07];10(8):2974-82. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i8a11367p2974-2982-2016
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,1212. Maissiat GS, Lautert L, Pai DD, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 15];36(2):42-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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O fator Esgotamento Profissional foi avaliado crítico no presente estudo. A instituição hospitalar é comumente referida como local insalubre, em virtude de alguns aspectos, como a assistência direta a pacientes graves que necessitam de cuidado contínuo, o manejo de produtos químicos, equipamentos e máquinas de alta complexidade, além do estabelecimento de relações entre profissionais, pacientes, familiares e acompanhantes, que podem gerar sofrimento e, consequentemente, prejuízos para saúde.1818. Berni LB, Beck CLC, Prestes FC, Silva RM, Bublitz S, Lamb F. Indicators of pleasure/pain in hygiene and cleaning outsourced workers of a university hospital. Rev Rene [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 01]; 17(2):155-64. Available from: https://doi.org/10.15253/2175-6783.2016000200002
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Em pesquisa com trabalhadores da saúde, identificou-se percentual significativo de trabalhadores afastados por motivos de doença nos últimos 12 meses (20,7%), em que o adoecimento do profissional poderia ser resultante do sofrimento decorrente das exigências laborais.1212. Maissiat GS, Lautert L, Pai DD, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 15];36(2):42-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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Neste sentido, a organização do trabalho em saúde, principalmente em âmbito hospitalar, tem influenciado negativamente a saúde de enfermeiros, em decorrência do excesso de ações desempenhadas, do número reduzido de profissionais, das altas taxas de absenteísmo, do desenvolvimento de funções burocráticas e da realização de atividades que não são de competência legal destes profissionais, mas que estão sob responsabilidade destes.1919. Maciel MPGS, Santana FL, Martins CMA, Costa WT, Fernandes LS, Lima JS. Use of psychoactive medication between health professionals. J Nurs UFPE on line [Internet]. 2017 [cited 2018 Jun 07];11(Suppl 7):2881-7. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v11i7a23468p2881-2887-2017
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O fator Falta de Reconhecimento apresentou níveis críticos entre os profissionais, o que representa importante aspecto para desencadear o sofrimento no trabalho. Este achado não se restringe apenas à atenção hospitalar no país, pois está presente na atenção básica1212. Maissiat GS, Lautert L, Pai DD, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 15];36(2):42-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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e em estudos internacionais.1515. Alilu L, Zamanzadeh V, Fooladi MM, Valizadeh L, Habibzadeh H. Towards an understanding of clinical nurses challenges that leads intentions to leave. Acta Paul Enferm [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 11]; 29(5):534-41. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201600074
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,2020. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A Grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino-Am Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 09];25:e2894. Available from: https://doi.org/10.1590/1518-8345.1638.2894
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O reconhecimento do papel social da enfermagem constitui desafio no mundo globalizado, sobretudo, em decorrência da hegemonia do modelo biomédico, ainda bastante presente na sociedade contemporânea, o que provoca a desvalorização do profissional e das ações desempenhadas.33. Borges JL, Bezerra ALQ, Tobias GC. Nurses professional satisfaction of a public hospital. J Nurs UFPE [Internet]. 2016 [cited 2018 Nov 07];10(8):2974-82. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v10i8a11367p2974-2982-2016
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Outro fator que ocasiona a ausência de reconhecimento de enfermeiros é a dificuldade acerca da definição das competências específicas da enfermagem, as quais, em muitos casos, são confundidas com as atividades desempenhadas pelos demais profissionais da saúde, o que resulta na desvalorização e despersonalização desses indivíduos.1616. Campos JF, David HMCL, Souza NMVO. Pleasure and suffering: assessment of intensive nurses in the perspective of work psychodynamics. Esc Anna Nery [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 21];18(1):90-5. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20140013
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Além disso, a própria divisão do trabalho em categorias profissionais, com diferentes níveis de formação (enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares em alguns hospitais e parteiras), e a atuação por meio de atividades essencialmente manuais, acarreta diminuição do valor atribuído à assistência prestada e aumento do sofrimento do trabalhador.1212. Maissiat GS, Lautert L, Pai DD, Tavares JP. Work context, job satisfaction and suffering in primary health care. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 15];36(2):42-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.51128
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,1616. Campos JF, David HMCL, Souza NMVO. Pleasure and suffering: assessment of intensive nurses in the perspective of work psychodynamics. Esc Anna Nery [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 21];18(1):90-5. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20140013
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Diante disso, faz-se necessário que as instituições reconheçam a importância do enfermeiro para saúde da população, invistam de forma contínua no conhecimento e na formação profissional, fortaleçam a liderança, ofertem condições de trabalho adequadas e criem incentivos para valorização desse profissional, destacando-se, especialmente, a presença de salário adequado para o nível de complexidade exigido para função.2121. Mendes IAC. Challenges of Nursing in the context of the development agenda post-2015. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015 [cited 2018 Sept 17];49(6):876-7. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000600001
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Na análise da competência em comunicação interpessoal, evidenciou-se que os enfermeiros apresentaram médias moderadas, tanto no escore total, quanto em todos os domínios da escala. Este resultado difere do encontrado em pesquisa que observou a carência da comunicação e a fragilidade na relação interpessoal entre os profissionais, o que gerou insatisfação e competição entre os membros da equipe, dificultando o processo de trabalho e a prestação de cuidados.2222. Araújo MPS, Medeiros SM, Quental LLC. Interpersonal relations among nursing staff: fragilities and strengths. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 02];24(5):e7657. Available from: https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.76
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A comunicação interpessoal representa a base para as habilidades do profissional e a prática diária deste.2323. Puggina ACG, Trovo MM, Biondo CA, Barbosa IA, Santos M, Silva MJP. Nursing diagnosis impaired verbal communication in clinical practice: an integrative review. REFACS [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 19];4(2):135-44. Available from: https://doi.org/10.18554/refacs.v4i2.1644
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Entre os enfermeiros, esse processo pode ser beneficiado pelo trabalho em equipe, uma vez que os colegas podem ofertar apoio social, auxiliar na superação de obstáculos e promover a valorização e o reconhecimento pelas atividades desempenhadas, resultando em maior satisfação e motivação para o trabalho.1717. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Sep 11];26(1):e3940015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
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Os benefícios da comunicação eficaz entre os profissionais de saúde não se restringem apenas ao relacionamento interpessoal da equipe, repercutindo, também, na qualidade e segurança da assistência prestada.2424. Müller M, Jürgens J, Redaèlli M, Klingberg K, Hautz WE, Stock S. Impact of the communication and patient hand-off tool SBAR on patient safety: a systematic review. BMJ Open [Internet]. 2018 [cited 2019 Aug 20];8(8):e022202. Available from: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-022202
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A comunicação representa importante elemento para atenção à saúde da população, sendo estabelecida como uma das metas internacionais para promoção da segurança do paciente em ambiente hospitalar.2525. The Joint Commission. Hospital National Patient Safety Goals Effective [Internet]. 2019 [cited 2019 Aug 20]. Available from: https://www.jointcommission.org/assets/1/6/npsg_chapter_hap_jan2019.pdf
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Dos cinco domínios avaliados pela ECCI que apresentaram médias moderadas, o primeiro, Controle do Ambiente, representa a influência gerada pelo espaço e ambiente sobre a expressão, percepção e persuasão.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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Este resultado poderia estar relacionado às características do trabalho na instituição de saúde, haja vista que, por ser hospital universitário, os profissionais apresentam maior autonomia para expressar opiniões e discutir acerca dos problemas que podem influenciar de forma negativa sobre as atividades, o que favorece boa interação entre os colegas.2626. Guimarães ALO, Felli VEA. Notification of health problems among nursing workers in university hospitals. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 11];69(3):507-14. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2016690313i
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Todavia, esse contexto não condiz com a maioria dos cenários de atuação dos enfermeiros no Brasil, sendo frequente o excesso de tarefas a serem cumpridas em curto prazo de tempo, a presença de problemas para negociação dos conflitos, a insuficiência de recursos materiais e humanos para realização de assistência de qualidade, o que promove a vivência de contexto desfavorável à comunicação e às boas interações entre a equipe.2727. Broca PV, Ferreira MA. Nursing team communication in a medical ward. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11];71(3):951-8. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0208
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A atuação em setores fechados e complexos, como a unidade de terapia intensiva, também pode prejudicar o processo comunicativo, por ser ambiente com grande aparato tecnológico que gera ruídos constantes e elevada carga de responsabilidade inerente ao cuidado aos pacientes críticos e com risco iminente de morte, o que faz com que o profissional de enfermagem destine a maior parte do tempo para realização de procedimentos e negligencie, mesmo que de maneira inconsciente, a comunicação com a equipe.2828. Martins CCF, Dantas MSP, Marinho FP, Almeida LA, Santos VEP. Stressors agents in intensive care: vision of nursing professionals. J Nurs UFPE [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 12];8(10):3386-91. Available from: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v8i10a10070p3386-3392-2014
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O domínio Autorrevelação expõe a capacidade e a habilidade que o indivíduo apresenta para demonstrar pensamentos, ideias e sentimentos, através da comunicação, obtendo média elevada entre os enfermeiros investigados.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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O diálogo caracteriza-se como forma de o indivíduo expor pontos de vista, com objetivo de transmitir informações.1717. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Sep 11];26(1):e3940015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
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Trata-se de reunir aquilo que se pensa da melhor forma possível e conduzir a uma reflexão sobre o que está sendo discutido, de modo a alcançar processo de comunicação efetivo.2727. Broca PV, Ferreira MA. Nursing team communication in a medical ward. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11];71(3):951-8. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0208
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Em estudo realizado com a equipe de enfermagem de hospital universitário no município do Rio de Janeiro, Brasil, os enfermeiros consideraram o diálogo como o melhor método para consolidar a comunicação e a relação interpessoal, referindo que quando esse processo não ocorre adequadamente, resulta em problemas que interferem no cuidado prestado e que podem desencadear falhas e eventos adversos graves ou letais.2525. The Joint Commission. Hospital National Patient Safety Goals Effective [Internet]. 2019 [cited 2019 Aug 20]. Available from: https://www.jointcommission.org/assets/1/6/npsg_chapter_hap_jan2019.pdf
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O domínio Assertividade relaciona-se à habilidade proativa da defesa dos direitos, sem infringir os direitos do outro, demonstrando segurança, decisão e firmeza nas atitudes.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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O valor moderado, apresentado nesse domínio, poderia ser decorrente da capacidade de negociação e do reconhecimento do papel de liderança na equipe, principalmente na proteção da autonomia enquanto profissional de saúde.1717. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Sep 11];26(1):e3940015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
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A assertividade no trabalho de enfermagem proporciona maior reflexão acerca da necessidade de defesa dos direitos durante a discussão de problemas relacionados à prática, o que previne a existência de relações de poder que possam prejudicar a integridade moral do indivíduo e repercutir negativamente sobre a comunicação entre a equipe.44. Dalmolin GL, Lunardi VL, Lunardi GL, Barlem ELD, Silveira RS. Nurses, nursing technicians and assistants: who experiences more moral distress? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 08];48(3):521-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000300019
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O domínio Disponibilidade representa a capacidade do indivíduo em demonstrar aos outros que está acessível para comunicação interpessoal,66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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apresentando, neste estudo, médias elevadas. A disponibilidade para comunicação interpessoal com os colegas de trabalho representa importante competência para o profissional de enfermagem, haja vista que a formação deste é embasada na atuação em equipe, sendo necessário o desenvolvimento, ainda na graduação, da habilidade de atuar em conjunto com outros indivíduos, promovendo a corresponsabilização de todos no cuidado.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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Estudo realizado com profissionais de enfermagem de instituições hospitalares no Rio Grande do Sul, Brasil, evidenciou que o interesse e a participação desses trabalhadores nas reuniões da equipe, por meio da discussão de questões conflituosas e da manifestação das dificuldades vivenciadas, proporcionaram maior interação entre a equipe, tornando o ambiente de trabalho mais agradável.44. Dalmolin GL, Lunardi VL, Lunardi GL, Barlem ELD, Silveira RS. Nurses, nursing technicians and assistants: who experiences more moral distress? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 08];48(3):521-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000300019
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Nesse sentido, a disponibilidade torna possível o compartilhamento e as trocas de saberes, permitindo o crescimento mútuo.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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Outro estudo realizado com profissionais de enfermagem de hospital de urgência em Natal/RN, Brasil, revelou que a presença de profissionais atenciosos, colaborativos, seguros e disponíveis a se ajudarem diante da dificuldade do outro foram os principais fatores para o estabelecimento do bom relacionamento interpessoal.2222. Araújo MPS, Medeiros SM, Quental LLC. Interpersonal relations among nursing staff: fragilities and strengths. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 02];24(5):e7657. Available from: https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.76
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O domínio Manejo das Interações refere-se ao feedback de forma bidirecional, relacionando-se à demonstração de compreensão e identificação dos sentimentos do outro por meio da linguagem não verbal.66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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Percebeu-se que os enfermeiros investigados possuíam conhecimentos sobre a comunicação não verbal, utilizando-a, cotidianamente, na prática para reconhecer as necessidades dos demais profissionais. Esse resultado difere do observado em estudo com profissionais de enfermagem de hospital universitário no Rio de Janeiro, Brasil, no qual a desvalorização da comunicação não verbal pelo enfermeiro foi identificada em alguns depoimentos.2727. Broca PV, Ferreira MA. Nursing team communication in a medical ward. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11];71(3):951-8. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0208
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A comunicação é um processo complexo, que envolve muitos canais de expressão, além da fala, os quais precisam ser considerados. Todavia, a identificação correta dos sinais não verbais requer treino e disposição, para que seja possível distinguir as nuances relativas ao outro, permitindo a compreensão fidedigna sobre a mensagem transmitida.77. Schimidt TCG, Duarte YAO. Replication of the training program in nonverbal communication in gerontology. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [cited 2018 May 29];68(6):1042-9. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680607i
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A análise da correlação entre os indicadores de prazer e sofrimento e a comunicação interpessoal apresentou valores significativos, sendo observado que as vivências de prazer geram influência positiva sobre a comunicação entre a equipe de enfermagem. Por outro lado, quanto maior o sofrimento no trabalho, menor serão os níveis de comunicação entre os profissionais. Neste sentido, percebe-se que as práticas laborais interferem sobre o processo comunicativo entre a equipe, o que repercute de maneira significativa sobre o relacionamento interpessoal e a prestação do cuidado.1010. Felli VEA, Costa TF, Baptista PCP, Guimarães ALO, Aginoni BM. Exposure of nursing workers to workloads and their consequences. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015 [cited 2018 Nov 03];49(Spe 2):98-105. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420150000800014
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A presença de ambiente de trabalho cujos profissionais vivenciam situações negativas é, frequentemente, marcada pela insatisfação, desmotivação, competitividade exacerbada e individualismo, resultando em desentendimentos entre a equipe.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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-66. Puggina AC, Silva MJP. Interpersonal communication competence scale: brazilian translations, validations and cultural adaptation. Acta Paul Enferm [Internet]. 2014 [cited 2018 Sept 16];27(2):108-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201400020
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Além disso, a atuação em serviços de saúde precários repercute diretamente sobre a satisfação profissional e a comunicação interpessoal entre os profissionais, uma vez que as tensões provocadas pelas condições inadequadas de trabalho e a incapacidade do profissional em prestar assistência qualificada podem gerar a fragilização das relações entre a equipe e comprometer o processo comunicativo.55. Broca PV, Ferreira MA. Communication process in the nursing team based on the dialogue between Berlo and King. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 May 27];19(3):467-74. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150062
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,1515. Alilu L, Zamanzadeh V, Fooladi MM, Valizadeh L, Habibzadeh H. Towards an understanding of clinical nurses challenges that leads intentions to leave. Acta Paul Enferm [Internet]. 2016 [cited 2018 Sept 11]; 29(5):534-41. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201600074
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Investigação realizada com profissionais de saúde de hospital de ensino de Uberaba/MG, Brasil, observou que a vivência de estresse, desânimo e frustação com o trabalho resultou na presença de baixa colaboração, discreta articulação e desenvolvimento de ações isoladas e fragmentadas entre os trabalhadores, o que dificultava a atuação em equipe.1313. Goulart BF, Camelo SHS, Simões ALA, Chaves LDP. Teamwork in a Coronary Care Unit: facilitating and hindering aspects. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 02];50(3):482-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420160000400015
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Pesquisa realizada no Irã identificou que a maior parte dos locais de trabalho dos enfermeiros no país era inadequado, resultando em condições precárias de atuação, altos índices de violência, sobrecarga de atividades e prejuízos na comunicação interpessoal entre os profissionais, o que repercutia diretamente na assistência prestada ao paciente.2020. Alilu L, Zamanzadeh V, Valizadeh L, Habibzadeh H, Gillespie M. A Grounded theory study of the intention of nurses to leave the profession. Rev Latino-Am Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 09];25:e2894. Available from: https://doi.org/10.1590/1518-8345.1638.2894
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Nesse sentido, as vivências positivas e negativas influenciam significativamente sobre a comunicação interpessoal entre enfermeiro e sua equipe, o que requer adoção de medidas efetivas para promoção de espaço agradável para realização das atividades desses profissionais.44. Dalmolin GL, Lunardi VL, Lunardi GL, Barlem ELD, Silveira RS. Nurses, nursing technicians and assistants: who experiences more moral distress? Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 08];48(3):521-9. Available from: https://doi.org/10.1590/S0080-623420140000300019
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Dentre as estratégias que podem ser implementadas pelas instituições para proporcionar a melhoria da saúde do trabalhador e da comunicação interpessoal entre os profissionais, destacam-se o monitoramento constante da exposição às cargas de trabalho, a oferta de acompanhamento psicológico, o incentivo para adesão a estilo de vida saudável e o desenvolvimento ou aprimoramento de programas de treinamento voltados para fortalecimento da liderança e do trabalho em equipe.2424. Müller M, Jürgens J, Redaèlli M, Klingberg K, Hautz WE, Stock S. Impact of the communication and patient hand-off tool SBAR on patient safety: a systematic review. BMJ Open [Internet]. 2018 [cited 2019 Aug 20];8(8):e022202. Available from: https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-022202
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,2929. Gan I. Alternative work arrangements: Reshaping the future of nurses’ workplace communication and relationships. Nurs Forum [Internet]. 2019 [cited 2019 Aug 19];54: 227-31. Available from: https://doi.org/10.1111/nuf.12321
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Diante disso, torna-se imprescindível que o ambiente de trabalho proporcione aos enfermeiros o desenvolvimento pleno de suas competências, seja espaço no qual estes profissionais possam exercer suas funções de forma prazerosa, o que poderá contribuir para melhor comunicação entre a equipe e favorecer a qualidade e segurança do cuidado prestado aos pacientes.1717. Azevedo BDS, Nery AA, Cardoso JP. Occupational stress and dissatisfaction with quality of work life in nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2018 Sep 11];26(1):e3940015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017003940015
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CONCLUSÃO

Mediante os resultados do presente estudo, observou-se que os enfermeiros pesquisados apresentaram habilidades em comunicação interpessoal, níveis satisfatórios de prazer e valores críticos de sofrimento no trabalho. A análise da correlação entre as duas escalas foi significativa, sendo evidenciado que o prazer no ambiente laboral proporciona a melhoria da comunicação interpessoal, enquanto as médias elevadas de sofrimento geram a diminuição proporcional da comunicação.

Diante disso, faz-se necessário que as instituições de saúde adotem políticas que priorizem a saúde do trabalhador, mediante a realização de ações de redução de riscos ocupacionais para prevenção de acidentes, capacitações regulares sobre biossegurança, investigação das condições de saúde, monitoramento regular da exposição às cargas de trabalho e oferta de acompanhamento psicológico. Além disso, proporcione aos enfermeiros e demais profissionais condições dignas de trabalho e contexto laboral favorável aos sentimentos de satisfação, motivação, vivências de prazer e, consequentemente, boa relação interpessoal entre a equipe, o que implicará em assistência de qualidade aos pacientes.

As limitações do estudo estão relacionadas à utilização do método transversal, por não permitir a identificação da relação de causa e efeito entre os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho e as competências em comunicação interpessoal. Além disso, como a experiência humana é dinâmica e subjetiva, os aspectos relacionados ao ambiente de trabalho e as interações desenvolvidas nesse local podem sofrer modificações ao longo do tempo, o que suscita a realização de estudos longitudinais para investigar as transformações ocorridas na prática laboral e respectivas repercussões para comunicação da equipe de enfermagem.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da dissertação - Trabalho de enfermagem: prazer, sofrimento e comunicação interpessoal, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal da Paraíba, em 2018.
  • FINANCIAMENTO

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley, parecer n. 2.259.018, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 69841417.8.0000.5183.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    15 Fev 2019
  • Aceito
    04 Out 2019
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