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Conversando sobre sexualidade, IST e AIDS com adolescentes pobres

Resumos

O presente estudo objetivou relatar a experiência de uma ação educativa sobre sexualidade/IST/Aids junto a um grupo de adolescentes em contexto de pobreza. O local do estudo foi uma Unidade de Saúde da Família localizada em um município do interior paulista. A ação educativa contou com a participação de seis adolescentes do sexo feminino, e cada um dos cinco encontros teve duração média de 70 minutos. A ação educativa possibilitou um saber/fazer a partir de uma rede de gestos, palavras e afetos que se entrelaçaram, permeando novas construções. Assim, nasceram novos sentidos, não apenas para as adolescentes, que descobriram a força de ser/estar no grupo, mas também para os pesquisadores que conseguiram visualizar horizontes outros para o trabalho em comunidades de alta vulnerabilidade social.

estrutura de grupo; educação em saúde; programa saúde da família; adolescente; pobreza


This study aimed to report an educative action experience on sexuality/STI/Aids in an adolescent group living in a poor context. The study site was a Family Health Unit located in a city in the interior of São Paulo, Brazil. Six female adolescents participated in the educative actions, and each of the five meetings took 70 minutes on the average. The educative action allowed for knowledge/action based on a network of interlaced gestures, words and affections, permeating new constructions. Thus, new meanings emerged, not only for the adolescents, who discovered the power of being in the group, but also for the researchers, who managed to visualize other horizons for the work with highly vulnerable groups in society.

group structure; health education; family health program; adolescent; poverty


La finalidad de este estudio fue relatar la experiencia de una acción educativa sobre sexualidad/IST/Sida en un grupo de adolescentes en contexto de pobreza. El sitio del estudio fue una Unidad de Salud de la Familia ubicada en un municipio del interior del estado de São Paulo, Brasil. La acción educativa les involucró a seis adolescentes del sexo femenino, y cada uno de los cinco encuentros tuvo duración promedia de 70 minutos. La acción educativa posibilitó un saber/hacer a partir de una red de gestos, palabras y afectos que se entrelazaron, permeando nuevas construcciones. Así, nacieron nuevos sentidos, no sólo para las adolescentes, que descubrieron la fuerza de ser/estar en el grupo, pero también para los investigadores que lograron visualizar otros horizontes para el trabajo en comunidades de alta vulnerabilidad social.

estructura de grupo; educación en salud; programa salud de la familia; adolescente; pobreza


COMUNICAÇÕES BREVES / RELATOS DE CASOS

IAluna do Curso de Graduação em Enfermagem

IIOrientador, Enfermeiro do trabalho, Mestre em Enfermagem Psiquiátrica, Docente. Universidade Federal de São Carlos, Brasil, e-mail: jfpetrilli@uol.com.br

IIIEnfermeiro, Doutor em Enfermagem Fundamental, Docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil

RESUMO

O presente estudo objetivou relatar a experiência de uma ação educativa sobre sexualidade/IST/Aids junto a um grupo de adolescentes em contexto de pobreza. O local do estudo foi uma Unidade de Saúde da Família localizada em um município do interior paulista. A ação educativa contou com a participação de seis adolescentes do sexo feminino, e cada um dos cinco encontros teve duração média de 70 minutos. A ação educativa possibilitou um saber/fazer a partir de uma rede de gestos, palavras e afetos que se entrelaçaram, permeando novas construções. Assim, nasceram novos sentidos, não apenas para as adolescentes, que descobriram a força de ser/estar no grupo, mas também para os pesquisadores que conseguiram visualizar horizontes outros para o trabalho em comunidades de alta vulnerabilidade social.

Descritores: estrutura de grupo; educação em saúde; programa saúde da família; adolescente; pobreza

INTRODUÇÃO

No Brasil, nesses mais de 20 anos de epidemia de Aids, verificaram-se profundas mudanças no que diz respeito à dinâmica de transmissão do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV). Atualmente, a epidemia apresenta incremento de casos entre heterossexuais, mulheres, jovens, pessoas com baixa escolaridade e renda. Tal panorama assinala não mais em direção a grupos ou comportamentos específicos, mas a um emaranhado de variáveis, certamente mais complexo e intrincado do que se pensava no início da epidemia(1).

Atualmente, um incremento considerável na contaminação de heterossexuais (em especial mulheres), acompanhado pela expansão da epidemia entre indivíduos com baixa escolaridade e em municípios de médio e pequeno porte, propicia a emergência do conceito de vulnerabilidade.

Tal conceito é, ao mesmo tempo, constructo e construtor de uma percepção ampliada e reflexiva, a qual identifica as razões últimas da epidemia bem como seus impactos, que vão das suscetibilidades orgânicas à maneira como são estruturados os programas de saúde, passando por aspectos comportamentais, culturais, econômicos e políticos(2).

Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) sinalizam que cerca de 50% das novas infecções pelo HIV no mundo estão ocorrendo na adolescência(3).

Nessa fase, aspectos relacionados à sexualidade assumem posição de destaque. É imprescindível que pais, professores e profissionais da equipe de saúde, que fazem parte do universo das relações dos referidos sujeitos, contribuam para o desenvolvimento saudável da pessoa(4).

A infecção pelo HIV tem uma complexa relação com a pobreza, apesar de afetar tanto ricos como pobres(5).

A relevância de programas educativos junto a adolescentes em contexto de pobreza tem sido apontada, uma vez que eles parecem estar mais susceptíveis a comportamentos que favorecem a transmissão das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)(6).

Frente ao quadro delimitado, o presente trabalho objetivou relatar a experiência de uma ação educativa sobre sexualidade/IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis)/Aids junto a um grupo de adolescentes em contexto de pobreza.

O LOCAL DO ESTUDO E A OPERACIONALIZAÇÃO DE UM CONCEITO DE POBREZA

O local do estudo foi uma Unidade de Saúde da Família (USF) localizada em um município do interior paulista. Tal serviço encontra-se em uma área de alta vulnerabilidade social, segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS).

O IPVS surgiu no ano de 2000, a partir de solicitação da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo à Fundação Seade, e correlaciona características individuais e familiares, como o ciclo de vida, tipo de arranjo familiar, escolaridade, renda corrente, formas de inserção no mercado de trabalho, condições de saúde, e suas possibilidades de desfrute dos bens e serviços ofertados pelo Estado, sociedade e mercado, classificando-os em grupos de vulnerabilidade social (1-nenhuma vulnerabilidade, 2-vulnerabilidade muito baixa, 3-vulnerabilidade baixa, 4-vulnerabilidade média, 5-vulnerabilidade alta e 6-vulnerabilidade muito alta)(7).

A AÇÃO EDUCATIVA E O CONTEXTO DE POBREZA: A BUSCA POR POSSIBILIDADES

Como Referencial Teórico e Metodológico, adotamos o Pensamento Sistêmico e o Grupo Operativo.

A ação educativa contou com a participação de seis adolescentes do sexo feminino, e cada um dos cinco encontros teve duração média de 70 minutos. Participaram da atividade um Enfermeiro Especialista em Grupos Operativos, uma aluna de Graduação em Enfermagem e a Enfermeira da Unidade de Saúde da Família (USF) (em dois dos encontros).

Nesse contexto, buscamos uma articulação entre a Universidade Federal de São Carlos e a USF, com vistas a retroalimentar os processos de produção, consumo e utilização do conhecimento.

Assim, buscamos a parceria entre Enfermeiros docentes, assistenciais e Instituições de saúde em todas as etapas da pesquisa, a fim de não apenas produzir ou comunicar ou utilizar, mas produzir, comunicar e utilizar a pesquisa em enfermagem(8).

Frente a tal cenário, destacamos, ainda, a ação educativa, a qual possibilitou um saber/fazer a partir de uma rede de gestos, palavras e afetos que se entrelaçaram e permearam novas construções.

Surpreendemo-nos ao descobrir quantas possibilidades podem nascer de uma pergunta. Quantas palavras podem estar numa palavra(9). Quanta riqueza pode estar em contexto de pobreza.

A cada encontro, uma descoberta, uma nova história que brotava em meio a sorrisos tímidos e olhares esperançosos das adolescentes. As conversas que convidavam a uma outra forma de pensar, sentir e agir também falavam de uma outra maneira de aprender, na qual se pode ser protagonista.

A cada enquadre, o corpo, o prazer e as IST/Aids eram explorados pelo grupo a partir de histórias e idéias que as adolescentes traziam. A vergonha ao falar, aos poucos, foi cedendo lugar à noção de grupo como espaço continente, onde escuta, vínculo e acolhimento têm papel fundamental no aprender a aprender.

Para os pesquisadores, a descoberta do grupo como espaço de construção sistêmica e circular explicitou como ele pode ser inspirador e revelador para o trabalho do enfermeiro, uma vez que permitiu a emergência de uma prática convergente com o contexto sociocultural em questão.

Assim, nasceram novos sentidos, não apenas para as adolescentes, que descobriram a força de ser/estar no grupo, mas também para os pesquisadores, que conseguiram visualizar horizontes outros para o trabalho em comunidades de alta vulnerabilidade social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificamos que o IPVS redimensiona e operacionaliza um novo conceito de pobre e de pobreza, possibilitando a emergência de arcabouço conceitual para práticas inovadoras, contextualizadas e empoderadoras em contextos de vulnerabilidade social.

Destacamos, ainda, nosso desejo de que por meio de relatos de experiência como esse apresentado, o Enfermeiro se sinta convidado a superar modelos meramente instrutivos e avançar em direção a uma prática afetiva e dialógica em seu contexto de trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Recebido em: 10.4.2007

Aprovado em: 2.8.2007

  • 1. Petrilli JF Filho, Bueno SMV. Vulnerabilidade às IST/Aids entre atiradores do serviço militar obrigatório: uma apreciação sociocomportamental. Cogitare Enfermagem 2006 setembro; 11(3):218-25.
  • 2. Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti HC Filho. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro (RJ): Fiocruz; 2003. p.117-39.
  • 3. Jeolás LS, Ferrari RAP. Oficina de prevenção em um serviço de saúde para adolescentes: espaço de reflexão e de conhecimento compartilhado. Rev Ci Saúde Coletiva 2003 janeiro; 8(2):611-20.
  • 4. Medeiros M, Ferriani MGC, Munari DB, Gomes R. A sexualidade para o adolescente em situação de rua em Goiânia. Rev Latino-am. Enfermagem 2001 março; 9(2):35-41.
  • 5. Muniyandi M, Ramachandran R, Balasubramanian R. An economic commentary on the occurrence and control of HIV/AIDS in developing countries: special reference to India. Expert Opin Pharmacother 2006 December; 7(18):2447-54.
  • 6. Silva PDB, Oliveira MDS, Matos MA, Tavares VR, Medeiros M, Brunini S, Teles SA. Comportamentos de risco para as doenças sexualmente transmissíveis em adolescentes escolares de baixa renda. Rev Eletrônica Enfermagem 2005; 7(2):185-9.
  • 7
    SEADE. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. [on line] [citado 2006 july 30]. Disponível em: URL: http://www.seade.gov.br/produtos/ipvs/apresentacao.php
  • 8. Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem: impacto na prática. São Paulo (SP): Sarvier; 1991.
  • 9. Andersen T. Processos Reflexivos. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ): Instituto NOOS; 2002.
  • Conversando sobre sexualidade, IST e AIDS com adolescentes pobres

    Juliana Kelli MurakamiI; José Fernando Petrilli FilhoII; Paulo Celso Prado Telles FilhoIII
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Out 2007

    Histórico

    • Recebido
      10 Abr 2007
    • Aceito
      02 Ago 2007
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