Acessibilidade / Reportar erro

Validação de escala de autoconfiança para assistência de enfermagem na retenção urinária

Resumos

Objetivo:

validar instrumento para mensurar a autoconfiança na assistência de enfermagem na retenção urinária.

Métodos:

estudo de investigação metodológica, realizado após autorização ética. Foi aplicada a estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem uma escala tipo Likert, de 32 itens, referentes à assistência de enfermagem na retenção urinária. Para a validação do instrumento, foi realizada análise da adequação amostral e dos componentes principais, rotação ortogonal Varimax e consistência interna.

Resultados:

numa amostra de 305 estudantes, houve elevada correlação de todos os itens com o total da escala, alpha de Cronbach 0,949. Os itens da escala foram divididos em: cinco fatores, com consistência interna de: Fator 1 (0,890), Fator 2 (0,874), Fator 3 (0,868), Fator 4 (0,814) e Fator 5 (0,773), respectivamente.

Conclusão:

a escala cumpre os requisitos de validade, demonstrando potencial para uso em avaliação e investigação.

Retenção Urinária; Enfermagem; Confiança; Cateterismo Urinário


Objective:

to validate an instrument to measure self-confidence of nursing care in urinary retention.

Methods:

methodological research study, carried out after ethical approval. A Likert-like scale of 32 items related to nursing care in urinary retention was applied to students of the graduate nursing course. For instrument validation, analysis of the sample adequacy and main components, Varimax orthogonal rotation and internal consistency analyses were developed.

Results:

in a sample of 305 students, there was high correlation of all items with the total scale and Cronbach's alpha of 0.949. The scale items were divided into five factors with internal consistency: Factor 1 (0.890), Factor 2 (0.874), Factor 3 (0.868), Factor 4 (0.814) and Factor 5 (0.773), respectively.

Conclusion:

the scale meets the validity requirements, demonstrating potential for use in evaluation and research.

Urinary Retention; Nursing; Trust; Urinary Catheterization


Objetivo:

validar un instrumento para medir la autoconfianza en la asistencia de enfermería en la retención urinaria.

Métodos:

estudio de investigación metodológica, realizado después de recibir autorización ética. Fue aplicado a estudiantes del Curso de Graduación en Enfermería una escala tipo Likert, de 32 ítems, referentes a la asistencia de enfermería en la retención urinaria. Para la validación del instrumento, fue realizado: análisis de la adecuación del muestreo y de los componentes principales, rotación ortogonal Varimax y verificación de consistencia interna.

Resultados:

en una muestra de 305 estudiantes, hubo elevada correlación de todos los ítems con el total de la escala, Alpha de Cronbach 0,949. Los ítems de la escala fueron divididos en cinco factores, con consistencia interna de: Factor 1 (0,890), Factor 2 (0,874), Factor 3 (0,868), Factor 4 (0,814) y Factor 5 (0,773).

Conclusión:

la escala cumple los requisitos de validez, demostrando potencial para ser usada en evaluación e investigación.

Retención Urinaria; Enfermería; Confianza; Cateterismo Urinario


Introdução

A Retenção Urinária (RU) é definida como o acúmulo de urina na bexiga que se dá pela incapacidade de o órgão se esvaziar. Os fatores desencadeantes desse problema podem estar relacionados à obstrução da uretra, alterações motoras e sensoriais, ansiedade, efeitos medicamentosos entre outros, que levam, muitas vezes, ao aparecimento de sensações de desconforto, aumento da sensibilidade sobre a sínfise púbica e inquietação. Nos casos mais graves de RU, o paciente chega a acumular mais de 2.000ml de urina na bexiga, pela perda do tônus vesical secundário ou estiramento excessivo das fibras do músculo detrusor, o que pode levar à hipotonicidade vesical, Infecções do Trato Urinário (ITU) e até mesmo à formação de cálculos renais( 1. Peng CW, Chen JJ, Cheng CL, Grill WM. Improved bladder emptying in urinary retention by electrical stimulation of pudendal afferents. J Neural Eng. 2008 Jun;5(2):144-54. - 2. Fernandes MCBC, Costa VV, Saraiva RA. Postoperative urinary retention: evaluation of patients using opioids analgesic. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2007 Apr; 15(2):318-22. ).

As distintas vertentes que envolvem a assistência de enfermagem na RU fazem parte do quotidiano clínico do enfermeiro e do paciente. Nesse assunto, são diversas as possibilidades de intervenções, entre as quais podemos destacar como as mais habituais, porém, nem sempre realizadas com as melhores evidências científicas, recursos humanos e materiais; as medidas de avaliação clínica, conforto, higiene e realização do cateterismo urinário( 3. Mazzo A, Gaspar AACS, Mendes IAC, Trevizan MA, Godoy S, Martins JCA. Urinary catheter: Myths and rituals present in preparation of patients. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):889-94. - 4. Mazzo A, Godoy S, Alves LM, Mendes IAC, Trevizan MA, Rangel EML. Urinary catheterization: facilities and difficulties related to its standardization. Texto Contexto Enferm. 2011Jun; 20(2):333-9. ).

Nos procedimentos relacionados à avaliação clínica do paciente em RU, enfatizam-se a coleta de dados da história clínica e o exame físico da bexiga do paciente.

O exame físico da bexiga baseia-se na inspeção, palpação e percussão que pretendem identificar modificações de textura, espessura, consistência, sensibilidade, volume e dureza do órgão( 5. Bickley LS, Szilagyi PG. Bates' Guide to Physical Examination and History Taking. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2012. ). Não é um procedimento simples, podendo até mesmo ser caracterizado como extremamente complexo, uma vez que envolve a subjetividade do examinador, as alterações das condições operacionais e clínicas do paciente (como, por exemplo, alterações pelo uso de fármacos e idade do paciente)( 6. Palese A, Buchini S, Deroma L, Barbone F. The effectiveness of the ultrasound bladder scanner in reducing urinary tract infections: a meta- analysis. J Clin Nurs. 2010;19(21-22):2970-9. ), e, por isso, para que seja realizado com maior segurança e precisão necessita do auxílio do ultrassom portátil de bexiga.

O ultrassom portátil de bexiga é um método não invasivo que permite ao profissional, com segurança e bom nível de confiança, diagnosticar a RU, avaliar o volume de urina na bexiga (pré e/ou pós-miccional) e decidir ou não pela realização do cateterismo urinário( 7. Gould CV, Umscheid CA, Agarwal RK, Kuntz G, Pegues DA; Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for prevention of catheter-associated urinary tract infections 2009. Infect Control Hosp Epidemiol. 2010 Apr;31(4):319-26. - 8. Balderi T, Mistraletti G, D'Angelo E, Carli F. Incidence of postoperative urinary retention (POUR) after joint arthroplasty and management using ultrasound-guided bladder catheterization. Minerva Anestesiol. 2011;77(11):1050-7. ). No entanto, o equipamento ainda não é muito utilizado na prática clínica.

O cateterismo urinário é um dos procedimentos mais comuns na assistência de enfermagem à Retenção Urinária. Deve ser realizado pelo enfermeiro, com rigor e conhecimento científico, transpondo mitos e rituais práticos. Quando realizado de forma inadequada e por se tratar de uma intervenção invasiva, pode levar a diversas complicações, dentre as quais se sobressaem a Infecção do Trato Urinário (ITU), o traumatismo uretral, a dor e o falso trajeto( 3. Mazzo A, Gaspar AACS, Mendes IAC, Trevizan MA, Godoy S, Martins JCA. Urinary catheter: Myths and rituals present in preparation of patients. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):889-94. - 4. Mazzo A, Godoy S, Alves LM, Mendes IAC, Trevizan MA, Rangel EML. Urinary catheterization: facilities and difficulties related to its standardization. Texto Contexto Enferm. 2011Jun; 20(2):333-9. , 9. Ministério da Saúde (BR). Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n.450, de 11 de dezembro de 2013. Normatiza o procedimento de Sondagem Vesical no âmbito do Sistema Cofen / Conselhos Regionais de Enfermagem. Diário Oficial da União, Brasília (DF); 27 dez 2013; Seção 1:305. ).

Nesse contexto complexo, assim como em muitas outras vertentes da assistência de enfermagem ao paciente, para que o cuidado de enfermagem na RU seja desempenhado com qualidade e segurança ao paciente, necessita-se de profissionais capacitados e autoconfiantes.

Autoconfiança é a possibilidade que um indivíduo possui de, num determinado contexto, demonstrar crença no sucesso, nos poderes, nas habilidades( 1010 . Perry P. Concept analysis: confidence/self- confidence. Nurs Forum. 2011 Oct-Dec;46(4):218-30. ). Deve ser atingida com sabedoria, experiência, sucesso, suporte e preparo, e para que possa ser cultivada invoca persistência, autoconsciência e pensamento positivo. Em decorrência, leva à estabilidade de autonomia e resultados positivos( 1111 . White KA. Self-confidence: A concept analysis. Nurs Forum. 2009 Apr-Jun;44(2):103-14. ).

A autoconfiança está relacionada com a autoeficácia. Consiste no grau de convicção e êxito para obtenção de um resultado, funcionando como um determinante no modo de ação, comportamento, organização, padrões de pensamento e reações emocionais( 1212 . Bandura A. Perceived self-efficacy in cognitive development and functioning. Educ Psychol. 1993;28(2):117-48. - 1313 . Bandura A. Self-efficacy in changing societies. New York: Cambridge University Press; 1995. ). É uma medida de autopercepção, de crença nas próprias habilidades( 1414 . Bandura A. Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs (NJ): Prentice Hall; 1986. ).

Na assistência de enfermagem na RU, os enfermeiros devem se sentir seguros e tranquilos em relação às suas atividades, gerando um nível de autoconfiança para o paciente e equipe de saúde, o que compromete de forma positiva o atendimento( 1515 . Kröner S, Biermann A. The relationship between confidence and self- concept- Towards a model of response confidence. Intelligence. 2007 Nov-Dec;35(6):580-90. ). Nesse sentido, é imprescindível formatar programas de aperfeiçoamento pessoal que desenvolvam atributos necessários, investindo nos pontos frágeis do conhecimento e do preparo profissional para o assunto. Para tanto, é necessário o uso de instrumentos que subsidiem os processos de avaliação e que proporcionem direcionamento dessas ações.

Nesse contexto, este estudo tem como objetivo validar uma escala de autoconfiança para assistência de enfermagem na retenção urinária.

Método

Este é um estudo de investigação metodológica, realizado com estudantes do 4º e último ano do Curso de Graduação em Enfermagem, de uma escola pública de Portugal.

O estudo foi autorizado pela Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde-Enfermagem, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (P 129-12/2012) e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Brasil (CONEP 505.722/2013). Os estudantes foram convidados a participarem do estudo. Foi mantido o anonimato e o voluntariado da participação. Foi utilizado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Todos os 305 estudantes convidados fizeram parte da amostra, estabelecendo uma relação de 9,5 participantes por item da escala a ser analisado( 1616 . Hair JF Jr, Anderson RE, Tatham RL, Black WC. Análise multivariada de dados. 5ed. Bookman: Porto Alegre; 2005. ).

Para o desenvolvimento do instrumento, foram utilizados estudos anteriores onde se discute a assistência de enfermagem nas eliminações urinárias(3-4,17)e referencial teórico que trata sobre a autoconfiança( 1010 . Perry P. Concept analysis: confidence/self- confidence. Nurs Forum. 2011 Oct-Dec;46(4):218-30.

11 . White KA. Self-confidence: A concept analysis. Nurs Forum. 2009 Apr-Jun;44(2):103-14.

12 . Bandura A. Perceived self-efficacy in cognitive development and functioning. Educ Psychol. 1993;28(2):117-48.

13 . Bandura A. Self-efficacy in changing societies. New York: Cambridge University Press; 1995.

14 . Bandura A. Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs (NJ): Prentice Hall; 1986.
- 1515 . Kröner S, Biermann A. The relationship between confidence and self- concept- Towards a model of response confidence. Intelligence. 2007 Nov-Dec;35(6):580-90. ). Com base nesse material, foi construída uma lista de itens denominada Escala de Autoconfiança na Assistência de Enfermagem na Retenção Urinária (EAAERU).

A EAAERU é composta por uma lista com 32 afirmações perante a qual o inquerido manifesta sua opinião, num questionário tipo Likert de 5 postos, onde (1) representa nada confiante, (2) pouco confiante, (3) confiante, (4) muito confiante e (5) completamente confiante. A lista foi construída e validada em aparência e conteúdo por pesquisadores do Brasil e de Portugal, dentro do acordo da nova ortografia. Considerou-se como índice de concordância entre os juízes 70,0%. Não houve discordância dos participantes em nenhum item do instrumento nesse processo.

Após a obtenção dos dados, elaborou-se uma base de dados no SPSS, versão 22.

Para determinar a validade e a confiabilidade do construto, foi utilizada estatística descritiva com medidas de tendência central e de dispersão (média, moda, mediana, percentis, variância, desvio-padrão), para caracterizar a amostra e a inferência estatística (análise fatorial e estimativa da consistência interna). Para a avaliação dos resultados obtidos, foi assumido o valor de p<0,05 como estatisticamente significante.

Resultados

Dentre os 305 entrevistados 268 (87,9%) iniciaram o curso de graduação em 2009. A média de idade foi 22,1 anos, sendo a menor idade encontrada de 21 anos e a maior de 40 anos. A maior parte dos estudantes (77,7%) possuía entre 21 e 22 anos, com desvio-padrão de 2,40. Quanto ao gênero, 42 (13,8%) eram homens e 263 (86,2%) mulheres.

No que diz respeito a experiências anteriores dos alunos com o assunto abordado, 270 (88,5%) informaram já ter realizado avaliação do paciente em retenção urinária, 34 (11,1%) nunca realizaram e um (0,3%) não respondeu. Quanto à realização do cateterismo urinário, 301 (98,7%) informaram que já haviam realizado o procedimento, três (1,0%) que nunca realizaram e um (0,3%) não respondeu.

A escala EAAERU

A escala apresentou boa adequabilidade da base de dados, com uma proporção de 9,5:1, no que diz respeito ao número de casos e a sua relação com a quantidade de variáveis.

Observou-se, pela matriz de correlações, boa associação linear entre as variáveis, (68,0% das correlações superiores a 0,30).

O teste da adequação amostral de Keiser-Meyer-Olkin apresentou boa adequação da amostra para análise( 1818 . Pestana MH, Gageiro JN. Análise de Dados para Ciências Sociais: A complementaridade do SPSS. 3ed. Lisboa: Sílabo; 2005. ), com um valor de 0,936. Através do teste de esfericidade de Bartlett, foram obtidos valores estatisticamente significantes com X2=5690,762 com p<0,001, o que indicou a existência de relação entre as variáveis que se espera incluir.

A matriz anti-imagem corrobora a adequação amostral de cada variável para o uso da análise fatorial, apresentando valores elevados na diagonal de 0,884 ("estimar por palpação o volume de urina na bexiga") a 0,967 ("fixar o cateter quando necessário"), o que sugere a inclusão de todas as variáveis para a análise fatorial.

Para a obtenção dos fatores da EAAERU, realizou-se uma análise fatorial dos componentes principais entre os 32 itens do instrumento, através do método de componentes principais e rotação ortogonal Varimax.

Após análise e observação do Scree Plot, foi possível identificar a divisão proposta dos itens em quatro ou cinco fatores. Considerando o construto, o tamanho da amostra, a análise fatorial, convergência do Scree Plot e que a divisão da escala em cinco fatores explicava 61,0% da variância, foi mantido na análise final a divisão da escala em cinco fatores.

Conforme demonstrado na Tabela 1, após definidos os cinco fatores, realizou-se a verificação da proporção da variância de cada variável, explicadas pelos componentes extraídos (comunalidades) e cargas fatoriais para cada item. Em decorrência do tamanho amostral optou-se por manter os itens com carga fatorial superior a 0,40( 1919 . Hair Jr JF, Black WC, Babin BJ, Anderson RE. Multivariate Data Analysis. 7th ed. Upper Saddle River: Prentice Hall; 2010. ).

Após realizada a rotação e perante uma solução fatorial satisfatória, foram atribuídos significados aos fatores( 2020 . Field A. Discovering Statistics Using SPSS. 3rd ed. Londres: Sage; 2009. - 2121 . Laros JA. O uso da análise fatorial: algumas diretrizes para pesquisadores. In: Pasquali L, editor. Análise fatorial para pesquisadores. Brasília: LabPAM; 2005. p. 163-84. ). Dessa forma, a EAAERU ficou dividida em cinco fatores, sendo ofator 1 (composto pelos 8 itens: 18, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 29), denominado "Intervenções realizadas durante o cateterismo urinário e/ou em situações iatrogênicas", o fator 2 (composto por sete itens: 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16) e denominado "Intervenções prévias à realização do cateterismo urinário", o fator 3 (composto por sete itens: 24, 26, 27, 28, 30, 31, 32) e denominado "Intervenções realizadas pelo cateterismo urinário", o fator 4 (composto por seis itens: 1, 6, 7, 8, 9 e 17) e denominado "Comunicação, consentimento e preparo dos materiais para realização do cateterismo urinário" e o fator 5 (composto por quatro itens: 2, 3, 4 e 5) e denominado "Avaliação objetiva da RU".

Com relação à análise do conjunto de itens que compõem a EAAERU e sua relação com o construto, através do teste alpha de Cronbach (Tabela 2), testando assim os itens propostos e sua correlação entre os mesmos, obteve-se elevada correlação de todos os itens com o total da escala, o que resultou num elevado valor de alpha (0,949). Pode-se, ainda, constatar que todos os itens contribuíram para o bom valor de alpha, saindo a escala prejudicada se qualquer um deles for eliminado.

Após análise do coeficiente global, os coeficientes da EAAERU com cada uma das dimensões mantiveram-se elevados, indicando boa consistência. Os valores alpha de Cronbach obtidos foram: Fator 1 (0,890), Fator 2 (0,874), Fator 3 (0,868), Fator 4 (0,814) e Fator 5 (0,773).

Pela impossibilidade de aplicar a EAAERU em uma amostra inteiramente nova, considerou-se dividir a amostra em duas subamostras (amostra A e amostra B), obtidas pelo recurso de randomização de amostras, fornecido pelo SPSS(r). Nas subamostras analisadas foram replicados os testes realizados na amostra original e encontrados resultados semelhantes no que diz respeito à confiabilidade da escala (alpha de Cronbach subamostra A 0,944 e subamostra B 0,951), boa correlação e divisão da escala em 5 fatores.

Os resultados descritivos da EAAERU estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 1
- Matriz rodada de correlação dos itens nos fatores rotacionados por Varimax com normalização de Keiser para cinco fatores (N=305). Coimbra, Portugal, 2014

Tabela 2
- Estatísticas de homogeneidade dos itens e coeficientes de consistência interna de Cronbach da EAAERU na sua globalidade (N=305). Coimbra, Portugal, 2014

Tabela 3
- Estatísticas descritivas de cada dimensão e do total da escala. Coimbra, Portugal, 2014

Discussão

A eliminação urinária é uma das necessidades básicas dos indivíduos( 2222 . Mundy AR, Andrich DE. Urethral trauma. Part I: Introduction, history, anatomy, pathology, assessment and emergency management. BJU Int. 2011 Aug;108(3):310-27. ), frequentemente afetadas nos processos de saúde/doença, o que a torna num dos focos das intervenções de enfermagem. Nos processos de eliminação urinária afetada, um dos diagnósticos de enfermagem comumente encontrado é o de Retenção Urinária.

Nos diversos contextos de trabalho do enfermeiro( 2323 . Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo (SP): EPU; 1979. ), o que inclui a assistência de enfermagem na Retenção Urinária, as intervenções devem ser exercidas com qualidade, segurança e conforto, tanto ao paciente como ao profissional, incorporando atualizado conhecimento científico e técnico e as melhores evidências científicas à prática clínica, o que leva à constante necessidade de capacitação dos profissionais, assim como de atualização científica das instituições de ensino voltadas à sua formação.

Profissionais mais capacitados serão mais autoconfiantes e autoeficazes, desempenhando melhor suas funções, com menor estresse, maior motivação, persistência e expectativa de êxito( 2424 . Bandura A. Human agency in social cognitive theory. Am Psychol. 1989;44(9):1175-84. ). O insucesso pode ocasionar o desânimo e o obstáculo ao alcance dos objetivos. Nesse sentido, é necessário conhecer as possibilidades e os limites para o desenvolvimento de novas habilidades e novas conquistas( 2525 . Barreira DD, Nakamura AP. Resiliência e a auto-eficácia percebida: articulação entre conceitos. Aletheia. 2006 Jun;(23):75-80. ).

Nesse contexto, pela necessidade e inexistência de um instrumento que verificasse e avaliasse a autoconfiança dos profissionais de enfermagem na assistência de enfermagem na Retenção Urinária, a EAAERU foi proposta. Após a validação de construto, verificou-se elevada correlação de todos os itens com o total da escala, com um bom índice de confiabilidade (alfa=0,949), o que nos indica que a escala mensura a autoconfiança na assistência de enfermagem na retenção urinária

Através do apoio estatístico e análise fatorial, foi possível identificar a divisão da escala em cinco fatores, representados pelas 1) "Intervenções realizadas durante o cateterismo urinário e/ou em situações iatrogênicas", 2) "Intervenções prévias à realização do cateterismo urinário", 3) "Intervenções realizadas após o cateterismo urinário"; 4) "Comunicação, consentimento e preparo dos materiais para realização do cateterismo urinário" e 5) "Avaliação objetiva da RU", os quais apresentaram bons índices de confiabilidade, contribuindo para a consistência interna. O fator que apresentou menor índice de confiabilidade comporta o menor número de itens (2, 3, 4 e 5) e foi o de avaliação objetiva da RU (alpha de Cronbach de 0,773).

Os valores descritivos da amostra demonstraram que os estudantes apresentam-se mais autoconfiantes no desempenho das medidas relacionadas à comunicação, consentimento, preparo do material, paciente e profissional (fator 2, fator 4) e após a retirada do cateter (fator 3) e menos autoconfiantes com relação às medidas a serem tomadas em situações iatrogênicas e na avaliação objetiva da RU (fator 1 e fator 5). Esses resultados corroboram os estudos de diversos autores que apontam as dificuldades da avaliação objetiva da RU e os fatores iatrogênicos relacionados ao trauma na inserção do cateter durante o cateterismo urinário de demora, como as maiores dificuldades apresentadas pelos profissionais( 2222 . Mundy AR, Andrich DE. Urethral trauma. Part I: Introduction, history, anatomy, pathology, assessment and emergency management. BJU Int. 2011 Aug;108(3):310-27. ) , o que estimula a incorporação de evidências científicas na prática clínica e o uso de recursos tecnológicos existentes e pouco disseminados como o ultrassom portátil de bexiga.

Podem ser considerados fatores limitantes deste estudo o fato de que a validação da EAAERU inicialmente tenha se concretizado num único país de língua portuguesa, embora ela tenha sido construída dentro do acordo da nova ortografia por profissionais de países portugueses. Considera-se que o instrumento construído pode ser aplicado a profissionais, todavia, recomenda-se que, nesse processo, sejam replicados os testes estatísticos, visto que, o processo de validação se deu junto a estudantes do último ano do curso de graduação de enfermagem, majoritariamente experientes no assunto.

Conclusão

O uso de instrumentos consistentes que possibilitem a avaliação dos profissionais de enfermagem, objetivando o melhor direcionamento dos processos de formação são de extrema importância na prática clínica dos enfermeiros, uma vez que estimulam e incorporam evidências científicas ao processo de trabalho da profissão, proporcionando maior segurança, qualidade e conforto aos pacientes e profissionais.

O processo de cuidar do paciente em retenção urinária faz parte do quotidiano clínico. Nesse sentido, foi proposta e validade para a língua portuguesa dentro do acordo da nova ortografia, uma escala, EAAERU, para avaliar a autoconfiança no assunto. Na população do estudo, a EAAERU apresentou boas propriedades psicométricas, o que indica seu uso tanto para as atividades de ensino como para a formação ao longo da vida e investigação.

References

  • 1
    Peng CW, Chen JJ, Cheng CL, Grill WM. Improved bladder emptying in urinary retention by electrical stimulation of pudendal afferents. J Neural Eng. 2008 Jun;5(2):144-54.
  • 2
    Fernandes MCBC, Costa VV, Saraiva RA. Postoperative urinary retention: evaluation of patients using opioids analgesic. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2007 Apr; 15(2):318-22.
  • 3
    Mazzo A, Gaspar AACS, Mendes IAC, Trevizan MA, Godoy S, Martins JCA. Urinary catheter: Myths and rituals present in preparation of patients. Acta Paul Enferm. 2012;25(6):889-94.
  • 4
    Mazzo A, Godoy S, Alves LM, Mendes IAC, Trevizan MA, Rangel EML. Urinary catheterization: facilities and difficulties related to its standardization. Texto Contexto Enferm. 2011Jun; 20(2):333-9.
  • 5
    Bickley LS, Szilagyi PG. Bates' Guide to Physical Examination and History Taking. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2012.
  • 6
    Palese A, Buchini S, Deroma L, Barbone F. The effectiveness of the ultrasound bladder scanner in reducing urinary tract infections: a meta- analysis. J Clin Nurs. 2010;19(21-22):2970-9.
  • 7
    Gould CV, Umscheid CA, Agarwal RK, Kuntz G, Pegues DA; Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for prevention of catheter-associated urinary tract infections 2009. Infect Control Hosp Epidemiol. 2010 Apr;31(4):319-26.
  • 8
    Balderi T, Mistraletti G, D'Angelo E, Carli F. Incidence of postoperative urinary retention (POUR) after joint arthroplasty and management using ultrasound-guided bladder catheterization. Minerva Anestesiol. 2011;77(11):1050-7.
  • 9
    Ministério da Saúde (BR). Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n.450, de 11 de dezembro de 2013. Normatiza o procedimento de Sondagem Vesical no âmbito do Sistema Cofen / Conselhos Regionais de Enfermagem. Diário Oficial da União, Brasília (DF); 27 dez 2013; Seção 1:305.
  • 10
    Perry P. Concept analysis: confidence/self- confidence. Nurs Forum. 2011 Oct-Dec;46(4):218-30.
  • 11
    White KA. Self-confidence: A concept analysis. Nurs Forum. 2009 Apr-Jun;44(2):103-14.
  • 12
    Bandura A. Perceived self-efficacy in cognitive development and functioning. Educ Psychol. 1993;28(2):117-48.
  • 13
    Bandura A. Self-efficacy in changing societies. New York: Cambridge University Press; 1995.
  • 14
    Bandura A. Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs (NJ): Prentice Hall; 1986.
  • 15
    Kröner S, Biermann A. The relationship between confidence and self- concept- Towards a model of response confidence. Intelligence. 2007 Nov-Dec;35(6):580-90.
  • 16
    Hair JF Jr, Anderson RE, Tatham RL, Black WC. Análise multivariada de dados. 5ed. Bookman: Porto Alegre; 2005.
  • 17
    Mazzo A, Beltreschi CB, Jorge BM, Souza VD Jr, Fumincelli L, Mendes IAC. Cateterismo urinário permanente: práctica clínica. Enferm Global. Forthcoming. 2015.
  • 18
    Pestana MH, Gageiro JN. Análise de Dados para Ciências Sociais: A complementaridade do SPSS. 3ed. Lisboa: Sílabo; 2005.
  • 19
    Hair Jr JF, Black WC, Babin BJ, Anderson RE. Multivariate Data Analysis. 7th ed. Upper Saddle River: Prentice Hall; 2010.
  • 20
    Field A. Discovering Statistics Using SPSS. 3rd ed. Londres: Sage; 2009.
  • 21
    Laros JA. O uso da análise fatorial: algumas diretrizes para pesquisadores. In: Pasquali L, editor. Análise fatorial para pesquisadores. Brasília: LabPAM; 2005. p. 163-84.
  • 22
    Mundy AR, Andrich DE. Urethral trauma. Part I: Introduction, history, anatomy, pathology, assessment and emergency management. BJU Int. 2011 Aug;108(3):310-27.
  • 23
    Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo (SP): EPU; 1979.
  • 24
    Bandura A. Human agency in social cognitive theory. Am Psychol. 1989;44(9):1175-84.
  • 25
    Barreira DD, Nakamura AP. Resiliência e a auto-eficácia percebida: articulação entre conceitos. Aletheia. 2006 Jun;(23):75-80.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2015

Histórico

  • Recebido
    03 Jul 2014
  • Aceito
    05 Mar 2015
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br