EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA
Qual a importância dos análogos da insulina no manejo do paciente diabético na emergência?
Paulo Roberto Corrêa Hernandes
Por que foi necessária a síntese de análogos da insulina?
Para permitir a reposição fisiológica da insulina por via subcutânea, no estado de jejum, assim como durante as mudanças dinâmicas das suas necessidades após as refeições.
Uma barreira para tal reposição tem sido a farmacologia das insulinas regular e NPH administradas por via subcutânea. Por exemplo, fisiologicamente após uma refeição, o pico de insulina ocorre em 30 minutos com retorno ao basal em 2 horas. Com a insulina regular o pico é em 2 a 4 horas e duração de 6 a 8 horas (ou até mais com doses maiores).
Quais são os análogos de ação rápida?
Insulina Lispro ( Humalog - Lilly), sintetizada pela troca dos aminoácidos prolina e lisina nas posições B28 e B29 para lisina e prolina. Tem início de ação em 15 minutos, pico em 1 hora e duração de 3 a 5 horas. É, portanto, duas vezes mais rápida no início de ação, produz o dobro de pico de concentração de insulina e tem metade da duração da insulina regular, sendo eficaz em reduzir as elevações da glicemia pós-prandial. Outra opção com características semelhantes é a insulina Aspart (NovoRapid - Novo Nordisk) feita pela substituição da prolina da posição B28 por ácido aspártico, o que gera meia-vida um pouco mais longa que a Lispro.
Quais as principais vantagens dos análogos rápidos?
Ideais para as refeições, particularmente ricas em carboidratos e pobre em gorduras. Similar a regular, são absorvidas mais lentamente no deltóide e área femoral, resultando maior duração de ação. O início de ação entretanto não é alterado pelos diferentes sítios anatômicos de injeção, como ocorre com a regular e, devido sua curta duração, resulta em menor variabilidade na concentração sérica da insulina do que com a regular.
Por que sintetizar análogos de longa ação?
A homeostase da glicose nos períodos interprandial e noturno é finamente regulada por uma secreção lenta e contínua de insulina, situação que até agora só poderia ser mimetizada pela infusão contínua de insulina, já que as insulinas NPH, Lenta e Ultralenta apresentam picos. Tal feito é conseguido com a insulina Glargina ( Lantus - Aventis ) produzida por tecnologia de DNA recombinante através de duas modificações: troca da asparagina por glicina na posição A21 e adição de duas moléculas de arginina na porção amino terminal da cadeia B. Tem início de ação em 2 a 4 horas, não produz pico e dura pelo menos 24 horas. Hipóteses preliminares de que com o seu uso haveria mais retinopatia e mitogenicidade não foram confirmadas. Comparando com a NPH, gerou glicemias de jejum menores, menos episódios de hipoglicemia e menor ganho de peso.
O uso otimizado seria Glargina na hora de dormir e Lispro às refeições.
Qual o papel dos análogos de insulina nos quadros emergências?
Na cetoacidose diabética e na descompensação hiperosmolar deve-se continuar usando insulina regular intravenosa ou intramuscular, e somente após a compensação inicial, quando o paciente estiver se alimentando, pode-se optar por Lispro ou Aspart para cobrir as refeições (o que habitualmente é feito pela regular) e Glargina para manter a insulinemia basal (o que habitualmente é feito pela NPH ou Lenta), sempre por via subcutânea.
Leituras recomendadas
1. Buse BB. Insulin analogues. Curr Opini Endocrinol Diabetes 2001;8:95-100.
2. Bolli GB, Owens DR. Insulin glargine. Lancet 2000; 356:443-5.
3. Hirsch IB, Farkas-Hirsch R. Intensive treatment of type 1 diabetes. Med Clin North Am 1998; 82:689-719.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Jul 2003 -
Data do Fascículo
Jun 2003