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VIRILIO, Paul. A inércia polar. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993. 128 p.

VIRILIO, Paul. . A inércia polar . Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993. 128 p.

O autor é arquiteto, desenvolve seu trabalho como urbanista, teórico da Dromologia, (do grego dromos = velocidade). Esteve sempre preocupado com o crescimento das cidades. Iniciou seus escritos na década de 70, enfocando as questões ligadas à tecnologia. Depois de ter publicado numerosos trabalhos voltados para a divulgação do conceito de velocidade o autor, nessa obra, analisa a velocidade e o espaço a partir da experiência das guerras. A velocidade é vista por Virilio como a alavanca do mundo moderno. Por outro lado, o controle do tempo é remetido a uma análise sobre o poder. Associa as distâncias-espaço às distâncias-tempo e, assim, abre um importante campo de reflexões, denominado Dromologia.

Para a compreensão do mundo faz-se necessário ver a sociedade não mais vivida de dentro, mas, de modo a sobrevoá-la, como se fosse um espetáculo. Na atual velocidade, o mundo, que não é finito, está chegando a um ponto de instantaneidade nos nossos deslocamentos. Passamos do tempo extensivo da história ao tempo intensivo de uma instantaneidade sem história. Para o autor, se o tempo é história, a velocidade é apenas sua alucinação, uma alucinação perspectiva que destrói toda a extensão da cronologia. Nesse sentido os acontecimentos desvanecem-se, perdem-se pois já não há idéias em luta com os fatos. Aparece então a negação do fato real. Os acontecimentos não são aprendidos uma vez que as imagens não se fixam, escapam pela fluidez da velocidade.

A popularização da velocidade retira das forças militares, dos políticos, o poder, assim como a velocidade-riqueza não é mais obtida apenas pelos banqueiros ou por alguns poucos que tomam decisões. Há, nesse sentido, uma desconstrução como fruto do recente primado do tempo sobre o espaço. Criou-se um novo espaço-tempo. Depois da desintegração nuclear do espaço, da matéria, ocorre a desintegração do tempo da luz. O fato provocará uma mutação cultural onde a profundidade temporal superará a profundidade espacial da perspectiva renascentista.

Os nexos estabelecidos, no livro acima mencionado, embasam-se na mutabilidade constante de suas reflexões. Os conceitos trabalhados, com essa plasticidade, ganharam uma expansão a partir das relações estabelecidas com os exemplos citados. Nesse sentido, a inércia torna-se um segundo conceito usado para avaliar a capacidade humana, capacidade essa, que é identificada pela imponderabilidade. A possibilidade de análise do imponderável permite apresentar uma outra história do Estado que não se confunde com a reprodução do espaço militar e mesmo civil. Nesse sentido vê a política como energia e o poder como o elemento movido por essa energia. Assim, a ciência política estaria ligada à passagem e à possessão.

Para Virilio, vivemos a inércia comportamental devido à velocidade, o declínio das atividades no espaço, e a esclerose dos reflexos ocasionados pelo envelhecimento do inundo. A velocidade é a velhice do mundo. A ecologia comete a incompreensão do caráter relativista das atividades do homem. Não interroga o diálogo homem-máquina sobre o meio ambiente. A ecologia não poderá desenvolver-se sem apreender a economia do espaço-tempo das atividades humanas e suas rápidas mutações. A verdade dos fenômenos é sempre limitada pela sua velocidade. A economia já é gerida à distância, é a desnaturação do presente-vivo convertido em Tele-Presente­Vivo. A lei que um determina que um corpo não pode estar presente no espaço onde há outro corpo, já está defasada. A tele-presença não só permite isso quanto traz a questão da Propriopercepção: e a presença onde se situa? Onde estou eu se eu estou em toda parte? A questão não será mais quem sou eu mas onde estou eu? O ser torna-se incerto quanto à sua posição no espaço e indeterminado quanto ao seu verdadeiro regime de tempo. Eis a inércia da natureza relativista.

O autor, com uma erudição extraordinária, contribui para uma análise que associa as distâncias-espaço às distâncias-tempo, abrindo, assim, um importante campo de questões filosóficas. Nos mostra ainda as categorias de velocidade, com as quais faz os vetores do poder.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 1997
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