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Preferência alimentar de Sthenaridea carmelitana (Carvalho) (Heteroptera: Miridae) em sorgo e milho

Feeding preference of Sthenaridea carmelitana (Carvalho) (Heteroptera: Miridae) to sorghum and corn

Resumo

A high incidence of the bug Sthenaridea carmelitana (Carvalho) on sorghum, Sorghum bicolor, and on corn, Zea mays, was observed in the field, in Sete Lagoas, MG. In laboratory, using a free choice test, the bugs preferred to feed on sorghum grain (from milk to hard stage) than on other plant parts like panicle (without grain) or leaf. S. carmelitana preferred to feed on sorghum than on corn.

Insecta; host plant; head bug; Sorghum bicolor; behavior


Insecta; host plant; head bug; Sorghum bicolor; behavior

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Preferência alimentar de Sthenaridea carmelitana (Carvalho) (Heteroptera: Miridae) em sorgo e milho

Feeding preference of Sthenaridea carmelitana (Carvalho) (Heteroptera: Miridae) to sorghum and corn

Luiz F. A. Montesso; Walter J. R. Matrângolo; José M. Waquil

CNPMS-Embrapa, Caixa postal 151, 35.701-970, Sete Lagoas, MG

ABSTRACT

A high incidence of the bug Sthenaridea carmelitana (Carvalho) on sorghum, Sorghum bicolor, and on corn, Zea mays, was observed in the field, in Sete Lagoas, MG. In laboratory, using a free choice test, the bugs preferred to feed on sorghum grain (from milk to hard stage) than on other plant parts like panicle (without grain) or leaf. S. carmelitana preferred to feed on sorghum than on corn.

Key words: Insecta, host plant, head bug, Sorghum bicolor, behavior.

Em geral, os mirídeos alimentam-se de sucos vegetais podendo causar danos consideráveis às plantas cultivadas. Manglitz & Ratcliffe (1988) ressaltaram que as injúrias causadas por estes percevejos ocorrem essencialmente nas partes em florescimento, nas sementes e grãos. Esses percevejos atacam o sorgo, Sorghum bicolor, durante o seu período vegetativo, porém, não se constituem em pragas de importância econômica (Sneiling 1940). Nessa cultura, existem quatro grupos de percevejos que infestam as panículas (Teetes et al. 1983). No 1° grupo está incluído o mirídeo Calocoris angustatus (Lethiery) que, na Índia, ataca as panículas logo após a sua emergência, sugando a seiva dos grãos em desenvolvimento, tornando-os murchos e reduzindo a produção. Além disso, grãos mais maduros revelam marcas das picadas, depreciando o produto. No 2° grupo estão os percevejos das espécies Dolycoris indicus (Stal) (Pentatomidae) e Spilostethus sp. (Lygaeidae) na África e Ásia, que sugam os grãos em formação, causando sua murcha. No 3° grupo estão as espécies do Novo Mundo, Nysius raphanus (Howard) (Lygaeidae), Leptoglossus phyllopus (L.) (Coreidae), e os pentatomideos Nezara viridula (L.), Oebaius pugnax (F.), Chiorochroa ligata (Say) e Thyanta perditor (F.) que causam danos pela sucção da seiva dos ramos, do eixo da inflorescência e dos grãos em desenvolvimento. Associadas aos danos diretos, estão as freqüentes infecções por fungos que promovem um escurecimento da semente e a conseqüente deteriora ção da qualidade do grão. Finalmente, estão os percevejos que sugam o conteúdo dos grãos leitosos, resultando na murcha dos mesmos e destacam-se pelo fato de seus excrementos aparecerem com manchas brancas nas folhas como no caso de Calidea dregii (Germar) (Pentatomidae) em diferentes regiões da África.

Waquil et al. (1986) citam ainda que os danos causados por Oebalus sp. e N. viridula em sorgo dependem da época em que ocorre a infestação, sendo maiores logo após o florescimento e durante a fase de enchimento de grãos. Dependendo da população de insetos no campo, podem causar danos econômicos. Em Sathel, Índia, Gahukar et al. (1989) registraram uma abundante população do mirídeo Eurystyius marginatus Odh. nas panículas de sorgo, sugando seiva dos grãos em maturação, provocando pontos pardacentos nos grãos não cobertos pelas glumas. Em ataques mais severos, provoca a murcha dos grãos além de deteriorar sua qualidade. Apesar de ser o primeiro registro deste percevejo no sorgo comercial, ele poderá se tomar um problema sério devido a sua rápida dispersão nas áreas de ocorrência.

No Brasil, Waquil & Matrângolo (1990) chamaram a atenção para a abundância do percevejo Sthenaridea carmelitana (Carvalho) em sorgo, em Sete Lagoas, MG, onde a população é baixa em dezembro, mas chega a mais de 10 adultos/panícula, em média, em março. A espécie S. carmelitana foi descrita por Carvalho (1948) no Brasil, incluindo-a no gênero Rhinacloa e mais tarde incluída por Carvalho (1955) no gênero Orthotylellus. Schuh (1974) incluiu a espécie carmelitana no gênero Paramixia que Schuh & Schwartz (1988) consideraram sinonímea de Sthenaridea. Segundo Matrângolo & Waquil (1990), as fêmeas ovipositam geralmente debaixo das glumas e o período de incubação é de 7 a 8 dias. As ninfas desenvolvem-se em 11 dias e as fêmeas iniciam sua atividade reprodutiva 3 dias após a última ecdise. O ciclo de ovo a ovo completa-se a cada 21 dias. Em média, cada fêmea vive 30 dias e coloca 74 ovos.O objetivo desse estudo foi observar a preferência alimentar de S. carmelitana em laboratório, para diferentes partes da planta de sorgo e grãos leitosos de milho, Zea mays. Adultos de S. carmelitana foram coletados no campo em Sete Lagoas, MG e trazidos ao laboratório. Para o teste (livre escolha), utilizaram-se placas de Petri (14 cm de diâmetro) com papel de filtro umedecido com água destilada. Distribuídos em círculo e ao acaso, oito substratos foram oferecidos aos insetos: cinco tipos de espiguetas de sorgo (antes do florescimento, em florescimento, com grão leitoso, com grão pastoso e com grão duro), ramilho da partícula sem grãos, pedaço de folha de sorgo e pedaço de espiga de milho verde (grão leitoso). Em cada placa, foram liberados 10 insetos adultos utilizando-se um total de 10 repetições num delineamento em blocos ao acaso. Evitou-se a influência da luz sobre a resposta dos insetos, colocando-se as placas em local igualmente iluminado. Considerando-se que os insetos que não se encontravam em nenhum dos substratos oferecidos estariam rejeitando aquelas fontes alimentares, para efeito de análise estatística, computou-se esses insetos como um nono grupo/tratamento. Foram realizadas quatro anotações diárias, contando-se o número de percevejos/tratamento. Diariamente, os insetos mortos foram substituídos e os substratos para a alimentação renovados. Limpezas do recipiente e trocas do papel de filtro foram realizadas a cada três dias e o ensaio foi conduzido por 10 dias. Calculou-se a percentagem de indivíduos/tratamento. Estes dados foram transformados em arco seno (raiz quadrada de x) para análise de variância. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0.05).

Não se observou diferença significativa na freqüência de percevejos alimentando-se em grãos (pastosos ou duros). Os grãos foram significativamente mais preferidos que pedaços de espigas de milho, ramilho de sorgo sem grãos e pedaços de folhas de sorgo (Tabela 1). Observou-se resposta intermediária com o tratamento com ramilhos de sorgo antes da antese. A percentagem de insetos não se alimentando e ou mortos foi baixa (9,1 %) (Tabela 1). Quando se acumulou as percentagens de insetos nas espiguetas em florescimento, grãos leitosos, pastosos e duros, foi verificado que estes constituem o tipo de substrato preferido por S. carmelitana (74,3% da população). Portanto, esta espécie de percevejo prefere se alimentar nas flores e grãos de sorgo do que em outras partes da planta e ainda prefere os grãos de sorgo em comparação aos de milho.

Literatura Citada

Recebido em 22/09/95. Aceito em 29/01/97.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 1997

Histórico

  • Recebido
    22 Set 1995
  • Aceito
    29 Jan 1997
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