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Desenvolvimento de imaturos de Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) e Homalodisca ignorata Melichar (Hemiptera: Cicadellidae) em citros

Development of Immature Stages of Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) and Homalodisca ignorata Melichar (Hemiptera: Cicadellidae) on citrus

Resumo

The development of immature stages on citrus seedlings was studied for the sharpshooter leafhoppers Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) and Homalodisca ignorata Melichar. The former two species are vectors of Xylella fastidiosa to citrus. Eggs of the three species are laid underneath the epidermis in the abaxial leaf surface. The Proconiini species (O. facialis and H. ignorata) coat their eggs with a whitish powder. Mean egg incubation periods at 25±2(0)C were 11.8 and 9.5 days for D. costalimai and O. facialis, respectively. Nymphal development was observed under fluctuating temperatures in a greenhouse after confining newly hatched first-instar leafhoppers on seedling stems inside leaf cages (54x42x12 mm). Five instars were observed and the mean durations of the nymphal stage were 64.7, 76.2 and 53.1 days for D. costalimai, O. facialis and H. ignorata, respectively.

Insecta; Auchenorrhyncha; Cicadellinae; leafhopper vectors; Citrus sinensis


Insecta; Auchenorrhyncha; Cicadellinae; leafhopper vectors; Citrus sinensis

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Desenvolvimento de imaturos de Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) e Homalodisca ignorata Melichar (Hemiptera: Cicadellidae) em citros

Development of Immature Stages of Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) and Homalodisca ignorata Melichar (Hemiptera: Cicadellidae) on citrus

Rodrigo P.P. Almeida; João R.S. Lopes

Departamento de Entomologia, ESALQ/USP, Caixa postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP

ABSTRACT

The development of immature stages on citrus seedlings was studied for the sharpshooter leafhoppers Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) and Homalodisca ignorata Melichar. The former two species are vectors of Xylella fastidiosa to citrus. Eggs of the three species are laid underneath the epidermis in the abaxial leaf surface. The Proconiini species (O. facialis and H. ignorata) coat their eggs with a whitish powder. Mean egg incubation periods at 25±20C were 11.8 and 9.5 days for D. costalimai and O. facialis, respectively. Nymphal development was observed under fluctuating temperatures in a greenhouse after confining newly hatched first-instar leafhoppers on seedling stems inside leaf cages (54x42x12 mm). Five instars were observed and the mean durations of the nymphal stage were 64.7, 76.2 and 53.1 days for D. costalimai, O. facialis and H. ignorata, respectively.

Palavras-chave: Insecta, Auchenorrhyncha, Cicadellinae, leafhopper vectors, Citrus sinensis.

As cigarrinhas Dilobopterus costalimai Young, Oncometopia facialis (Signoret) e Homalodisca ignorata Melichar (Hemiptera, Cicadellidae, Cicadellinae) são insetos sugadores de seiva do xilema de plantas cítricas, de ocorrência comum em pomares de laranja no Estado de São Paulo (Paiva et al. 1996). Recentemente, as duas primeiras espécies foram apontadas como vetoras da bactéria endofítica Xylella fastidiosa em citros (Lopes et al. 1996, Roberto et al. 1996). Esta bactéria é o agente causal da clorose variegada dos citros (CVC), doença que tem limitado a expansão e produtividade da citricultura paulista. Pelo fato de a detecção da CVC ser recente, 1987 (Rossetti et al. 1990), pouco se sabe sobre a biologia das cigarrinhas vetoras. Por essa razão, realizou-se este estudo para determinar a duração dos períodos embrionário e ninfal dos vetores D. costalimai e O. facialis, além de H. ignorata que é vetor potencial.

Para obtenção de ovos, adultos (machos e fêmeas) das três espécies de cigarrinhas, coletados em citros no município de Cordeirópolis (SP), foram confinados sobre mudas envasadas de laranja doce (Citrus sinensis, L. Osbeck) através de cilindros de plástico transparente de 10 cm de diâmetro, contendo aberturas nas laterais e no topo cobertas com tecido vaporoso voil para ventilação. As plantas foram inspecionadas diariamente quanto à presença de ovos. As folhas contendo posturas foram retiradas das plantas e colocadas em placa de Petri, com o pecíolo envolvido em um chumaço de algodão umedecido para manutenção da turgescência da folha. As placas de Petri eram imediatamente levadas para uma incubadora do tipo B.O.D., com temperatura de 25±2ºC, sendo diariamente avaliadas quanto à eclosão de ninfas, para determinação da duração do período embrionário. Esta determinação não foi realizada para H. ignorata.

Ninfas recém-eclodidas de D. costalimai (n = 110), O. facialis (n = 130) e H. ignorata (n = 16) foram retiradas das placas de Petri e confinadas na haste do terço superior (brotações novas) de mudas de laranja envasadas, com 40-60 cm de altura. Para o confinamento foram usadas caixas plásticas retangulares (54x42x12 mm) e transparentes (Gary Plastics Packaging Corp., New York), providas de aberturas circulares cobertas com tecido voil para ventilação. A tampa e a base da caixa se fechavam sobre a haste da planta através de dobradiças, havendo espuma de borracha na região de contato com o tecido vegetal para vedação. As mudas foram mantidas em casa de vegetação, registrando-se continuamente a temperatura com um termo-higrógrafo. Para determinação da duração de cada ínstar, as ninfas eram avaliadas diariamente quanto à ocorrência de ecdise e deposição de exúvias, até a emergência dos adultos.

Os ovos de D. costalimai foram colocados de forma endofítica, preferencialmente ao longo da nervura principal, na face abaxial de folhas maduras e, eventualmente, ao lado de nervuras secundárias. A oviposição de O. facialis também ocorreu na face abaxial das folhas maduras e de forma endofítica, porém os ovos foram colocados em grupos de 4 a 21, dispostos lado a lado em uma fileira levemente arqueada, sendo cobertos totalmente por fina camada de epiderme. As posturas de O. facialis e H. ignorata estiveram sempre recobertas por material pulverulento de cor clara. Observações em microscopia eletrônica de varredura (dados não publicados) mostraram que as partículas constituintes deste material em O. facialis têm estrutura semelhante a de "brocossomos", que são produtos de excreção dos túbulos de Malpighi comumente observados em Cicadellidae (May & Briggs 1958). Material semelhante foi observado sobre posturas de outras espécies da tribo Proconiini, nos gêneros Oncometopia e Homalodisca (Turner & Pollard 1959, Nielson et al. 1975). Segundo Turner & Pollard (1959), o material origina-se de um fluído coletado do ânus pelas tíbias posteriores das fêmeas, que é então esparramado sobre as posturas onde se solidifica; freqüentemente o líquido é também depositado sobre o dorso das asas formando uma mancha branca.

As durações médias dos períodos embrionários de D. costalimai e O. facialis, a 25±2ºC, foram 11,8±0,12 (n=73) e 9,6±0,16 (n=35) dias, respectivamente. Para as três espécies foram observados cinco ínstares na fase ninfal, com durações médias superiores a 10 dias, excetuando-se o 3º ínstar de H. ignorata que foi de nove dias (Tabela 1). H. ignorata foi a espécie que se desenvolveu mais rapidamente na fase ninfal, com média de 57,1 dias. Somando-se as durações médias das fases de ovo e de ninfa, estima-se o ciclo total (ovo-adulto) de, aproximadamente, 77 e 86 dias para D. costalimai e O. facialis, respectivamente, nas condições deste estudo. Os valores são semelhantes ao observado para o ciclo de Oncometopia alpha Fowler (73-87 dias) por Nielson et al. (1975). Por outro lado, o período ninfal estimado para D. costalimai (64,7 dias) é consideravelmente mais longo que o determinado para outra espécie de Cicadellini, Graphocephala versuta (Say) (36,1 - 44,3 dias) (Turner & Pollard 1959). Entretanto, deve-se salientar que parte do desenvolvimento das ninfas neste estudo ocorreu no inverno, e que a temperatura na casa de vegetação esteve relativamente baixa (<25ºC) na maior parte (73%) do período. Além disso, o confinamento das ninfas em um único ponto do ramo durante todo o período de avaliação pode ter contribuído para o alongamento do ciclo, especialmente nos últimos ínstares, devido ao envelhecimento da brotação e possível queda na qualidade do hospedeiro.

A elevada mortalidade de ninfas de D. costalimai e O. facialis verificada no primeiro ínstar (Tabela 1) pode ter sido causada pela transferência dos indivíduos recém-eclodidos da placa de Petri para as folhas. Em condições naturais, durante as primeiras horas após a eclosão, as ninfas se desenvolvem no mesmo ramo em que ocorreu a oviposição. Assim, para novos estudos de biologia dessas cigarrinhas, sugere-se que as ninfas desenvolvam-se no mesmo ramo em que eclodiram. A partir do segundo ínstar, recomenda-se que as mudas cítricas sejam trocadas periodicamente para manter a qualidade do alimento.

Considerando-se os dados de duração de desenvolvimento obtidos, as espécies vetoras D. costalimai e O. facialis podem, teoricamente, completar de quatro a cinco gerações por ano no campo. Para a previsão mais acurada da evolução populacional destes insetos em pomares cítricos, são ainda necessários estudos detalhados de suas exigências térmicas.

Agradecimentos

Ao Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (FUNDECITRUS) pelo apoio financeiro à pesquisa, ao CNPq pela concessão de bolsa de iniciação científica a Rodrigo P.P. Almeida, e a Rosângela C. Marucci (Depto. de Entomologia ESALQ/USP) pela identificação das espécies de cigarrinhas.

Literatura Citada

Recebido em 12/08/98. Aceito em 27/01/99.

  • Lopes, J.R.S., M.J.G. Beretta, R. Harakava, R.P.P. Almeida, R. Krügner & A. Garcia Jr. 1996. Confirmação da transmissão por cigarrinhas do agente causal da clorose variegada dos citros. Fitopatol. Bras. 21(Supl.): 343.
  • May, M.F. & M. Briggs. 1958. The origin and structure of brochosomes. J. Ultrastruct. Res. 2: 239-244.
  • Nielson, M.W., C.J. May & W.M. Tingey. 1975. Developmental biology of Oncometopia alpha Ann. Ent. Soc. Am. 68: 401-403.
  • Paiva, P.E.B., J.L. Silva, S. Gravena, P.T. Yamamoto. 1996. Cigarrinhas de xilema em pomares de laranja do Estado de São Paulo. Laranja 17: 41-54.
  • Roberto, S.R., A. Coutinho, J.E.O Lima, V.S. Miranda & E.F. Carlos. 1996. Transmissão de Xylella fastidiosa pelas cigarrinhas Dilobopterus costalimai, Acrogonia terminalis e Oncometopia facialis em citros. Fitopatol. Bras. 21: 517-518.
  • Rossetti, V., M. Garnier, J.M. Bové, M.J.G. Beretta, A.R.R. Teixeira, J.A. Quaggio & J.D. DeNegri. 1990. Présence de bactéries dans le xylème d'orangers atteints de chlorose variégée, une nouvelle maladie des agrumes au Brésil. C. R. Acad. Sci. Paris 310: 345-349.
  • Turner, W.F. & H.N. Pollard. 1959. Life histories and behaviour of five insect vectors of phony peach disease. Tech. Bull. U.S. Dep. Agric. 1188.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Mar 1999

Histórico

  • Recebido
    12 Ago 1998
  • Aceito
    27 Jan 1999
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