Acessibilidade / Reportar erro

Validação de conteúdo do instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escadas em indivíduos com hemiparesia

Resumos

Contextualização:

Dentre os instrumentos existentes que avaliam a subida e descida de escadas, não foi encontrado nenhum específico sobre a qualidade de movimento e as estratégias biomecânicas adotadas por indivíduos com hemiparesia devido ao Acidente Vascular Encefálico (AVE).

Objetivo:

Avaliar a validade de conteúdo do instrumento de avaliação das características cinemáticas qualitativas e das estratégias adotadas na subida e descida de escadas por indivíduos com hemiparesia devido ao AVE.

Metódo:

A primeira versão do instrumento foi desenvolvida com um total de 80 itens e foi submetida a um comitê constituído por oito especialistas nacionais e internacionais para validação de conteúdo. A análise estatística foi realizada por meio do Índice de Validade de Conteúdo (IVC) e do Coeficiente Kappa Modificado, sendo considerados válidos os itens que apresentaram IVC≥0,80 e Kappa≥0,75.

Resultados:

Foram realizadas três etapas de validação de conteúdo, e a versão final do instrumento apresenta 38 itens divididos em Itens Descritivos (oito itens), Domínio de Características Gerais da Subida e Descida de Escadas (16 itens) e Domínio de Estratégias Adotadas para Subida e Descida de Escadas (14 itens). O escore total para a subida de escada pode variar entre 0 e 70 pontos e, para a descida, entre 0 e 74 pontos. A pontuação mínima corresponde ao melhor desempenho, e a máxima, ao pior desempenho no teste.

Conclusão:

Apesar dos resultados satisfatórios obtidos no processo de validação de conteúdo, as demais propriedades psicométricas devem e serão mensuradas futuramente.

fisioterapia; acidente vascular encefálico; avaliação; biomecânica


Background:

Among the current instruments used to assess stair ambulation, none were observed that specifically evaluated the quality of movement or biomechanical strategies adopted by stroke patients.

Objective:

To evaluate the content validity of a clinical instrument designed to identify the qualitative and kinematic characteristics and strategies adopted by stroke patients during stair ascent and descent.

Method:

The first developed version, which comprised 80 items, had its content evaluated by an expert panel, which was composed of 9 well-known national and international professionals who are involved in stroke rehabilitation. The content validity index (CVI) and modified Kappa coefficients were employed for the statistical analyses. The items that demonstrated a CVI≥0.80 and Kappa≥0.75 were considered valid.

Results:

The content validation was performed in three stages. The final version of the instrument consisted of 38 items, which were divided into descriptive (8 items), a General Characteristics Domain (16 items) and adopted strategies (14 items) during stair ascent and descent. The total scores ranged from zero to 70 and zero to 74 for ascent and descent, respectively. Lower scores corresponded with better performance.

Conclusion:

Despite the satisfactory results obtained during the process of content validation, other psychometric properties of the instrument are necessary and must be evaluated.

physical therapy; stroke; evaluation; biomechanics


Introdução

A habilidade de subir e descer escadas é considerada como um indicador chave da independência funcional11. Verghese J, Wang C, Xue X, Holtzer R. Self-Reported Difficulty in Climbing Up or Down Stairs in Nondisabled Elderly. Arch Phys Med Rehabil. 2008;89:100-4. PMid:18164338 PMCid:PMC2671033. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2007.08.129
http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2007.08...

2. Amaral-Natalio M, Nunes GS, Herber V, Michaelsen SM. Relação entre cadência da subida e descida de escada, recuperação motora e equilíbrio em indivíduos com hemiparesia. Acta Fisiátr. 2011;18(3):146-50.

3. Flansbjer U-B, Holmback AM, Downham D, Patten C, Lexell J. Reliability of gait performance tests in men and women with hemiparesis after stroke. J Rehabil Med. 2005;37:75-82. PMid:15788341. http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017215
http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017...

4. Roorda LD, Roebroeck ME, Van Tilburg T, Lankhorst GJ, Bouter LM. Measuring Mobility Study Group. Measuring activity limitations in climbing stairs: development of a hierarchical scale for patients with lower-extremity disorders living at home. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:967-71. PMid:15179652. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11...

5. Teixeira-Salmela LF, Silva PC, Lima RCM, Augusto ACC, Souza AC, Goulart F. Musculação e condicionamento aeróbio na performance funcional de hemiplégicos crônicos. Acta Fisiatr. 2003;10(2):54-60.

6. Teixeira-Salmela LF, Olney SJ, Nadeau S, Brouwer B. Muscle strengthening and physical conditioning to reduce impairment and disability in chronic stroke survivors. Arch Phys Med Rehabil. 1999;80:1211-8. http://dx.doi.org/10.1016/S0003-9993(99)90018-7
http://dx.doi.org/10.1016/S0003-9993(99)...
- 77. Olney S, Elkin N, Lowe P. An ambulation profile for clinical gait evaluation. Physiother Can. 1979;31:85-90.. Os indivíduos com hemiparesia devido ao Acidente Vascular Encefálico (AVE) relatam dificuldade em desempenhar essa atividade mesmo após um ano do episódio88. Carod-Artal FJ, Gonzalez-Gutierrez JL, Herrero JAE, Horan T, Seijas EV. Functional recovery and instrumental activities of daily living: follow-up 1-year after treatment in a stroke unit. Brain Injury. 2002;16(3):207-16. PMid:11874614. http://dx.doi.org/10.1080/02699050110103337
http://dx.doi.org/10.1080/02699050110103...

9. Riberto M, Miyazaki MH, Jucá SSH, Lourenço C, Battistella LR. Independência funcional em pessoas com lesões encefálicas adquiridas sob reabilitação ambulatorial. Acta Fisiatr. 2007;14(2):87-94.

10. Alzahrani MA, Dean CM, Ada L. Ability to negotiate stairs predicts free-living physical activity in community-dwelling people with stroke: an observational study. Aust J Physiother. 2009;55(4):277-81. http://dx.doi.org/10.1016/S0004-9514(09)70008-X
http://dx.doi.org/10.1016/S0004-9514(09)...
- 1111. Monteiro RBC, Laurentino GEC, Melo PG, Cabral D, Corrêa JCF, Teixeira-Salmela LF. Medo de cair e sua relação com a medida da independência funcional e a qualidade de vida em indivíduos após Acidente Vascular Encefálico. Cienc Saúde Coletiva. 2013;18(7):2017-27. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000700017
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013...
. E apesar das características cinemáticas da marcha de indivíduos com hemiparesia ser bastante descrita na literatura1212. Doyle PJ. Measuring health outcomes in stroke survivors. Arch Phys Med Rehabil. 2002;83(12):539-43.

13. Nadeau S, Gravel D, Arsenault AB, Bourbonnais D. Plantarflexor weakness as a limiting factor of gait speed in stroke subjects and the compensating role of hip flexors. Clin Biomech. 1999;14:125-35. http://dx.doi.org/10.1016/S0268-0033(98)00062-X
http://dx.doi.org/10.1016/S0268-0033(98)...

14. Bujanda E, Nadeau S, Bourbonnais D, Dickstein R. Associations between lower limb impairments, locomotor capacities and kinematic variables in the frontal plane during walking in adults with chronic stroke. J Rehabil Med. 2003;35:259-64. PMid:14664315. http://dx.doi.org/10.1080/16501970310012428
http://dx.doi.org/10.1080/16501970310012...
- 1515. Chen G, Patten C, Kothari DH, Zajac FE. Gait differences between individuals with post-stroke hemiparesis and non-disabled controls at matched speeds. Gait Posture. 2005;22:51-6. PMid:15996592. http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2004.06.009
http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.200...
, não foi encontrado um instrumento completo e abrangente de avaliação da subida/descida de escadas para essa população.

A avaliação da atividade de subir/descer escadas na população com hemiparesia é abordada de forma isolada em diversos instrumentos que mensuram, separadamente, itens como o tempo total para subir/descer33. Flansbjer U-B, Holmback AM, Downham D, Patten C, Lexell J. Reliability of gait performance tests in men and women with hemiparesis after stroke. J Rehabil Med. 2005;37:75-82. PMid:15788341. http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017215
http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017...
, 1616. Conte ANF, Ferrari PP, Carvalho TB, Relvas PCA, Neves RCM, Rosa SF. Reliability, comprehension and acceptability of the Portuguese version of the Motor Assessment Scale in stroke patients. Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):405-11. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009005000056
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009...
, a cadência77. Olney S, Elkin N, Lowe P. An ambulation profile for clinical gait evaluation. Physiother Can. 1979;31:85-90., o uso do corrimão1717. Bohannon RW, Walsh S. Association of paretic lower extremity muscle strength and standing balance with stair-climbing ability in patients with stroke. J Stroke Cerebrovas Dis. 1991;1(3):129-33. http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)80004-7
http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)...

18. Lin JH, Hsu MJ, Hsu HW, Wu HC, Hsieh CL. Psychometric Comparisons of 3 Functional Ambulation Measures for Patients With Stroke. Stroke. 2010;41:2021-25. PMid:20671244. http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110.589739
http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110....
- 1919. De Castro SM, Perracini MR, Ganança FF. Versão brasileira do Dynamic Gait Índex. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(6):817-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006000600014
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006...
, o tipo de passo1717. Bohannon RW, Walsh S. Association of paretic lower extremity muscle strength and standing balance with stair-climbing ability in patients with stroke. J Stroke Cerebrovas Dis. 1991;1(3):129-33. http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)80004-7
http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)...

18. Lin JH, Hsu MJ, Hsu HW, Wu HC, Hsieh CL. Psychometric Comparisons of 3 Functional Ambulation Measures for Patients With Stroke. Stroke. 2010;41:2021-25. PMid:20671244. http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110.589739
http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110....
- 1919. De Castro SM, Perracini MR, Ganança FF. Versão brasileira do Dynamic Gait Índex. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(6):817-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006000600014
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006...
, a necessidade ou não de auxílio externo44. Roorda LD, Roebroeck ME, Van Tilburg T, Lankhorst GJ, Bouter LM. Measuring Mobility Study Group. Measuring activity limitations in climbing stairs: development of a hierarchical scale for patients with lower-extremity disorders living at home. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:967-71. PMid:15179652. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11...
, 1717. Bohannon RW, Walsh S. Association of paretic lower extremity muscle strength and standing balance with stair-climbing ability in patients with stroke. J Stroke Cerebrovas Dis. 1991;1(3):129-33. http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)80004-7
http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)...

18. Lin JH, Hsu MJ, Hsu HW, Wu HC, Hsieh CL. Psychometric Comparisons of 3 Functional Ambulation Measures for Patients With Stroke. Stroke. 2010;41:2021-25. PMid:20671244. http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110.589739
http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110....

19. De Castro SM, Perracini MR, Ganança FF. Versão brasileira do Dynamic Gait Índex. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(6):817-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006000600014
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006...

20. Mahoney FI, Barthel D. Functional evaluation: the Barthel Index. Maryland St Med J. 1965;14:56-61.

21. Riberto M, Miyazaki MH, Juçá SSH, Sakamoto H, Pinto PPN, Battistella LP. Validação da versão brasileira da medida de independência funcional. Acta Fisiatr. 2004;11(2):72-6.
- 2222. Collen FM, Wade DT, Robb GF, Bradshan CM. The Rivermead Mobility Index: a further development. Riverm Motor Asses Inter Durabil Stud. 1991;13:50-4., a dificuldade44. Roorda LD, Roebroeck ME, Van Tilburg T, Lankhorst GJ, Bouter LM. Measuring Mobility Study Group. Measuring activity limitations in climbing stairs: development of a hierarchical scale for patients with lower-extremity disorders living at home. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:967-71. PMid:15179652. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11...
, 2323. Williams LS, Weinberger M, Harris LE, Clark DO, Biller J. Development of a stroke-specific quality of life scale. Stroke. 1999;30(7):1362-9. PMid:10390308. http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.30.7.1362
http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.30.7.13...
, 2424. Lima RCM, Teixeira-Salmela LF, Magalhaes LC, Gomes-Neto M. Psychometric properties of the Brazilian version of the Stroke Specifi c Quality of Life Scale: application of the Rasch model. Rev Bras Fisioter. 2008;12(2):149-56., o uso de dispositivo auxiliar44. Roorda LD, Roebroeck ME, Van Tilburg T, Lankhorst GJ, Bouter LM. Measuring Mobility Study Group. Measuring activity limitations in climbing stairs: development of a hierarchical scale for patients with lower-extremity disorders living at home. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:967-71. PMid:15179652. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11...
, entre outros. Contudo, essas características não eram avaliadas conjuntamente por nenhum outro instrumento ainda. Embora existam instrumentos que avaliem as características cinemáticas qualitativas da marcha2525. Lord SE, Halligan PW, Wade DT. Visual gait analysis: the development of a clinical assessment and scale. Clin. Rehabil. 1998;12:107-19. http://dx.doi.org/10.1191/026921598666182531
http://dx.doi.org/10.1191/02692159866618...
e de testes como o TUG (Timed Up and Go)2626. Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Development and validation of an innovative tool for the assessment of the biomechanical strategies: The TUG-ABS for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45(3):232-40. PMid:23389698. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107
http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107...
, 2727. Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Clinical testing of an innovative tool for the assessment of biomechanical strategies: The Timed a Up and Go Assessment of Biomechanical Strategies (TUG-ABS) for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45:241-7. PMid:23462895. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106
http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106...
, nenhum instrumento disponível avalia as estratégias utilizadas para subida/descida de escadas. Assim, por meio do instrumento desenvolvido2828. Natalio MA, Michaelsen SM, Nunes GS, Virtuoso JF, Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF. Etapas de desenvolvimento de um instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada em indivíduos com hemiparesia. Ter Man. 2011;9(44):334-42., será possível identificar, além dos itens descritivos (como cadência, necessidade de auxílio) e características gerais (como uso de dispositivo auxiliar, corrimão), as estratégias adotadas por indivíduos com hemiparesia que conseguem subir/descer escadas com/sem auxílio externo (órteses e/ou ajuda de outra pessoa). A análise do desempenho da atividade será feita através de vídeo e trará subsídios mais consistentes para identificar os principais déficits nessa tarefa e guiar as melhores estratégias para a reabilitação motora do AVE.

A primeira versão do instrumento totalizou 80 itens descritos em três domínios: características gerais, desempenho funcional, estratégias adotadas na subida e na descida de escadas. Cada item foi desenvolvido a partir de uma extensa pesquisa bibliográfica, da opinião de especialistas da área e da análise cinemática qualitativa da subida/descida de escadas2828. Natalio MA, Michaelsen SM, Nunes GS, Virtuoso JF, Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF. Etapas de desenvolvimento de um instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada em indivíduos com hemiparesia. Ter Man. 2011;9(44):334-42.. Entretanto, para serem passíveis de aplicação, todos os itens e o instrumento como um todo foram avaliados e validados por um comitê de especialistas2929. Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
, 3030. Berk RA. Importance of expert judgement in content-related validity evidence. West J Nurs Res. 1990;2(5):659-71. http://dx.doi.org/10.1177/019394599001200507
http://dx.doi.org/10.1177/01939459900120...
.

A validação de conteúdo permite certificar se o instrumento mede o que propõe, verificando se os itens construídos refletem adequadamente o domínio de conteúdo de interesse, se as dimensões de escala estão de acordo com cada item proposto e se condizem com o índice de objetivos específicos traçados2929. Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
, 3131. Davis AE. Instrument development: Getting Started. J Neurosc Nurs. 1996;28(3):204-7. http://dx.doi.org/10.1097/01376517-199606000-00009
http://dx.doi.org/10.1097/01376517-19960...
. Os aspectos de validade de conteúdo incluem propriedade, clareza e abrangência de itens, que são classificados mediante a avaliação dos itens do instrumento por um grupo de especialistas com experiência anterior ou reconhecida competência atual nas áreas do estudo, denominados juízes ou peritos2929. Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
, 3232. Polit DF, Beck CT. The content validity index:are you sure you know what's being reported? critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29:489-97. PMid:16977646. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147...

33. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...
- 3434. Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ. Importância e esclarecimento das propriedades de medida em reabilitação. Rev Bras Fisioter. 2006;10(2):137-46. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006000200002
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006...
. Apesar da grande importância, o processo de validação de conteúdo de instrumentos desenvolvidos originalmente é pouco descrito na literatura, sendo mais frequente o relato da tradução e da adaptação transcultural de instrumentos. Diante disso, o objetivo deste estudo foi validar o conteúdo do instrumento desenvolvido para avaliar as características cinemáticas qualitativas e as estratégias adotadas na subida e descida de escadas por indivíduos com hemiparesia.

Método

As etapas para o desenvolvimento e a validação de um instrumento englobam quatro fases distintas: planejamento, construção, análise quantitativa, validação2929. Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
. As fases de planejamento e construção do instrumento, descritas no estudo de Natalio et al.2828. Natalio MA, Michaelsen SM, Nunes GS, Virtuoso JF, Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF. Etapas de desenvolvimento de um instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada em indivíduos com hemiparesia. Ter Man. 2011;9(44):334-42., foram constituídas de uma extensa revisão bibliográfica, da opinião de especialistas e da análise cinemática qualitativa da subida/descida de escadas por indivíduos com hemiparesia devido ao AVE. Neste trabalho será descrita a validação de conteúdo. Este projeto foi aprovado segundo parecer número 42/2008 do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, SC, Brasil.

Participantes

Seguindo o protocolo de Polit et al.3333. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...
, foram convidados a participar oito pesquisadores, brasileiros e canadenses, com reconhecido histórico científico na área de reabilitação motora de indivíduos com hemiparesia e com conhecimento da biomecânica da subida e descida de escadas. O tempo de experiência dos participantes variou entre 8 e 25 anos, sendo que, dos sete pesquisadores que aceitaram participar, dois eram mestres e cinco doutores na área de domínio do estudo. Os especialistas consideraram ter conhecimento muito bom ou excelente acerca da hemiparesia, da reabilitação motora e da biomecânica da subida e descida de escadas. Na primeira fase de validação de conteúdo sete especialistas responderam no prazo determinado, sendo quatro brasileiros e três canadenses. Na segunda e na terceira fases participaram cinco especialistas, sendo dois brasileiros e três canadenses.

Procedimentos

Foram realizadas três fases de validação de conteúdo, nas quais a primeira versão e a versão modificada do instrumento foram submetidas à avaliação de validade de conteúdo por um comitê de sete especialistas com representatividade e reconhecimento na área de interesse desta pesquisa. Para tanto, foi elaborado, nas línguas portuguesa e inglesa, o questionário de validação de conteúdo, que avaliou a consistência, a representatividade, a relevância e a clareza de cada item desenvolvido2626. Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Development and validation of an innovative tool for the assessment of the biomechanical strategies: The TUG-ABS for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45(3):232-40. PMid:23389698. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107
http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107...
, 2727. Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Clinical testing of an innovative tool for the assessment of biomechanical strategies: The Timed a Up and Go Assessment of Biomechanical Strategies (TUG-ABS) for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45:241-7. PMid:23462895. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106
http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106...
, 3232. Polit DF, Beck CT. The content validity index:are you sure you know what's being reported? critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29:489-97. PMid:16977646. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147...

33. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...

34. Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ. Importância e esclarecimento das propriedades de medida em reabilitação. Rev Bras Fisioter. 2006;10(2):137-46. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006000200002
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006...
- 3535. Grant JS, Davis LL. Selection and use of content experts for instrument development. Res Nurs Health. 1997;20:269-74. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240X(199706)20:3<269::AID-NUR9>3.0.CO;2-G
http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240...
.

Análise estatística

A validade de conteúdo do instrumento desenvolvido foi analisada estatisticamente pelo Índice de Validade de Conteúdo (IVC). Para o cálculo do IVC cada item foi classificado em uma escala de quatro pontos (1=não relevante, 2=pouco relevante, 3=bastante relevante, 4=altamente relevante). Para cada item, o IVC foi calculado como o número de especialistas que forneceram a classificação de 3 ou 4 dividido pelo número total de especialistas. O Coeficiente Kappa Modificado foi utilizado para verificar o grau de concordância de relevância do IVC e foi calculado a partir das instruções de Polit et al.3333. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...
.

Considerando que, na primeira fase de validação de conteúdo, participaram sete especialistas, o valor aceitável do IVC para cada item variou entre 1,00 e 0,71, e o valor do Kappa Modificado, entre 1,00 e 0,65. Na segunda e na terceira fases, foram considerados aceitáveis os itens que apresentaram IVC entre 1,00 e 0,80 e Kappa Modificado entre 1,00 e 0,76, visto que, nessa etapa, participaram cinco especialistas3131. Davis AE. Instrument development: Getting Started. J Neurosc Nurs. 1996;28(3):204-7. http://dx.doi.org/10.1097/01376517-199606000-00009
http://dx.doi.org/10.1097/01376517-19960...
. Como o IVC considera o número de especialistas consultados para cada etapa, a diferença no número de especialistas nas diferentes fases de validação de conteúdo deste presente estudo não influenciou no resultado estatístico obtido.

Resultados

A primeira versão do instrumento foi desenvolvida com um total de 80 itens divididos em três domínios: características gerais (seis itens), desempenho funcional (23 itens), estratégias adotadas para a subida (25 itens) e descida (26 itens). O domínio de desempenho funcional apresenta 18 itens comuns para a subida e a descida de escadas, além de dois itens referentes à subida e três itens referentes à descida de escadas. No domínio de estratégias adotadas, 25 itens foram idênticos para a subida e descida, mas foram avaliados separadamente nas diferentes fases de validação de conteúdo2828. Natalio MA, Michaelsen SM, Nunes GS, Virtuoso JF, Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF. Etapas de desenvolvimento de um instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada em indivíduos com hemiparesia. Ter Man. 2011;9(44):334-42..

Primeira fase de validação de conteúdo

Na primeira fase de validação de conteúdo, os domínios desenvolvidos foram considerados satisfatórios (IVC entre 0,71 e 1,00)3333. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...
para a avaliação da subida e descida de escadas, sendo que o Domínio de Estratégias Adotadas, tanto para a subida como para a descida, demonstrou necessidade de correções mais importantes.

A maioria dos itens do Domínio de Características Gerais obteve escores satisfatórios (Tabela 1). Todos os itens desse domínio foram mantidos na segunda versão do instrumento, sendo que os dois primeiros itens que avaliavam, respectivamente, o número de degraus e o uso de órteses foram transferidos para um domínio descritivo, sem pontuação específica. Já os itens que avaliam o nível de confiança e a graduação funcional tiveram sua redação alterada para melhor compreensão.

Tabela 1
Resultado da primeira fase de validação de conteúdo dos itens do domínio de características gerais.

A Tabela 2 apresenta os escores dos itens comuns do Domínio de Desempenho Funcional para subida e descida de escadas. Os dois primeiros itens, que avaliam a cadência de subida e descida de escadas, foram transferidos para o domínio descritivo (sem pontuação), e o item 9, que avalia o membro inferior que inicia o movimento, foi alterado para o domínio que avalia separadamente a subida e a descida. Os itens 2 e 8 foram mantidos sem necessidade de correção, e os itens 4, 6, 7 e 16 foram excluídos.

Tabela 2
Resultado da primeira fase de validação de conteúdo dos itens do Domínio de Desempenho Funcional - Itens comuns para subida e descida de escada.

No Domínio de Desempenho Funcional - itens referentes à subida de escada, o item 1, que avalia a necessidade de auxílio na transição chão-escada, foi excluído, apesar de apresentar valores de IVC e Kappa próximos dos aceitáveis para características como relevância e clareza (IVC=0,71 e Kappa=0,65), visto que, segundo os especialistas, esse item avalia aspectos não relacionados exclusivamente ao desempenho na escada, como no caso da marcha em nível plano. No mesmo domínio, o item 2, que avalia a colisão do pé com o degrau, não alcançou escores aceitáveis para as características de consistência (IVC=0,57 e Kappa=0,56) e de clareza (IVC=0,28 e Kappa=0,26), necessitando de modificações.

No Domínio de Desempenho Funcional - itens referentes à descida de escada, foi excluído o item 1, que avalia a necessidade de auxílio na transição patamar-degrau devido aos baixos valores de IVC e Kappa para a maioria das características analisadas. O item 2, que avalia a necessidade de auxílio na transição último degrau-chão teve sua escrita alterada, a fim de melhor adequá-lo à avaliação da descida de escada, visto que apresentou valores baixos de IVC e Kappa para consistência e representatividade (IVC=0,57 e Kappa=0,56). O item 3 referente à descida, que avalia a segurança no alcance do degrau inferior com o pé, não obteve escore satisfatório para a característica de representatividade (IVC=0,57 e Kappa=0,56) e teve sua redação corrigida. Além disso, foi realizada a alteração na ordem dos itens 2 e 3 desse domínio.

Em relação aos domínios desenvolvidos na primeira versão, de acordo com a sugestão de um dos especialistas, os itens do Domínio de Desempenho Funcional foram incluídos no Domínio de Características Gerais. Assim, a segunda versão do instrumento foi subdividida em Domínio de Características Gerais e Domínio de Estratégias Adotadas.

Os itens do Domínio de Estratégias Adotadas para subida e descida de escadas foram avaliados como pouco suficientes por dois dos sete especialistas. Como esse domínio foi avaliado de forma semelhante por todos os especialistas tanto para a subida como para a descida de escadas, e pelo fato de ser um domínio longo, optou-se pela união dos dois (subida e descida) no que tange ao layout do instrumento.

Os itens que não alcançaram níveis aceitáveis em todas as características analisadas (consistência, representatividade, relevância e clareza) pelo IVC e pelo Coeficiente Kappa Modificado foram excluídos:

  • Tronco: rotação de tronco e pelve na fase de transição (0,57≤IVC≤0,71);

  • Quadril: adução (0,43≤IVC≤0,57);

  • Joelho: rotação interna (0,43≤IVC≤0,57); rotação externa (0,28≤IVC≤0,57); varismo (IVC=0,43); valgismo (IVC=0,43);

  • Estabilidade articular: foram excluídos todos os itens tanto para subida como para descida (IVC=0,43).

Em relação à pontuação desse domínio, verificou-se a necessidade de padronização da pontuação para todos os segmentos avaliados, sendo mantida apenas uma descrição de pontuação: (0) não apresenta desvio ou esse desvio é muito leve; (1) desvio moderado; (2) desvio severo, dificultando consideravelmente a realização da tarefa.

Segunda fase de validação de conteúdo

A segunda versão do instrumento foi submetida novamente à avaliação do comitê de especialistas com um total de 39 itens, sendo que, desses, apenas quatro não necessitaram de avaliação sobre a validade de conteúdo, porque já haviam alcançado valores aceitáveis de IVC e Kappa na primeira fase de validação. Assim, na segunda fase de validação de conteúdo, foram reavaliados 35 itens.

Como pode ser observado na Tabela 3, que descreve a segunda etapa de validação dos itens do Domínio de Características Gerais, a maioria dos itens alcançou valores satisfatórios para IVC e Kappa, exceto os itens 5, 6 e 9 para a característica de relevância e os itens 4, 6, e 12 para a característica de clareza. Esses itens foram corrigidos e submetidos à terceira etapa de validação de conteúdo.

Tabela 3
Resultado da segunda fase de validação de conteúdo dos itens do domínio de características gerais da subida e descida.

A Tabela 4 apresenta o resultado da avaliação da validade de conteúdo das características analisadas para cada um dos itens do Domínio de Características Gerais, itens referentes à subida de escadas. Os dois itens foram avaliados com adequados índices de validade de conteúdo, sendo que apenas o item 2, que avalia a colisão do pé com o degrau, foi considerado com déficits de clareza/possibilidade de compreensão (redação), necessitando de correção. Da mesma forma, é possível verificar que os itens do Domínio de Características Gerais - itens referentes à descida de escada, alcançaram índices adequados de validade de conteúdo, sendo que apenas o item 2, que analisa a segurança no alcance do degrau inferior com o pé durante a descida de escada, foi avaliado com baixos valores de IVC e Kappa para as características de relevância para a interpretação clínica, que pode ser feita com base na medida, e de clareza/possibilidade de compreensão (redação).

Tabela 4
Resultado da segunda fase de validação de conteúdo dos itens independentes para subida e descida.

No Domínio de Estratégias Adotadas, todos os itens desenvolvidos para tronco/pelve, quadril, joelho, tornozelo alcançaram índices adequados de validade de conteúdo para todas as quatro características analisadas, com valores de IVC entre 0,80 e 1,00 e Kappa entre 0,76 e 1,00. O único item avaliado com escores inferiores foi o item que avalia a anteversão/retroversão de pelve, conforme Tabela 4. Ele foi, então, excluído da versão final do instrumento.

Terceira fase de validação de conteúdo

Ao todo, foram analisados, na terceira etapa de validação de conteúdo, dez itens do Domínio de Características Gerais: itens comuns à subida e descida de escadas, itens referentes à subida e à descida de escada. Conforme a Tabela 5, todos os itens submetidos a essa etapa foram validados com as devidas correções.

Tabela 5
Resultado da terceira fase de validação de conteúdo.

Discussão

A validade de conteúdo está relacionada à solidez da interpretação dos escores de um instrumento e indica em que grau esses escores medem o que pretendem medir3535. Grant JS, Davis LL. Selection and use of content experts for instrument development. Res Nurs Health. 1997;20:269-74. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240X(199706)20:3<269::AID-NUR9>3.0.CO;2-G
http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240...
, 3636. Wynd CA, Schmidt B, Schaefer MA. Two quantitative approaches for estimating content validity. Western J Nurs Res. 2003;25(5):508-18. http://dx.doi.org/10.1177/0193945903252998
http://dx.doi.org/10.1177/01939459032529...
. No presente estudo foram realizadas três etapas de validação de conteúdo para que o conjunto final de itens obtivesse consenso entre os especialistas consultados. Segundo Benson e Clark2929. Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789...
, quando o acordo absoluto não é alcançado para um item, ele deve ser revisado até que um consenso seja obtido. Entretanto, alguns itens nunca alcançarão esse padrão apesar de diversas revisões e devem, consequentemente, ser excluídos do instrumento. Nesse contexto, a primeira fase de validação de conteúdo deste estudo possibilitou uma redução significativa no tamanho do instrumento, com a exclusão de 41 itens, sendo que, desses, 15 foram excluídos e outros 26 foram unidos no Domínio de Estratégias Adotadas da subida e descida de escadas. Dos 15 itens excluídos, seis pertenciam ao Domínio de Características Gerais e nove ao Domínio de Estratégias Adotadas. Os itens do Domínio de Características Gerais que não alcançaram índices satisfatórios de validade de conteúdo foram considerados insubsistentes com o Domínio de Conteúdo do Instrumento. Os nove itens excluídos do Domínio de Estratégias Adotadas avaliavam amplitudes de movimento e compensações consideradas como incompatíveis com a análise cinemática qualitativa. Nessa primeira etapa também foram realizadas alterações importantes em relação à redação dos itens para melhor compreensão e, por isso, o instrumento foi submetido à reavaliação de sua validade de conteúdo.

Os resultados do processo de validação de conteúdo foram determinados pelos IVC e Coeficiente Kappa Modificado. Segundo Polit et al.3333. Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199...
, podem ser considerados bons e excelentes os itens que apresentarem valores de IVC e Kappa Modificado superiores a 0,70. Assim, considerando a versão final do instrumento, verifica-se que, do total de 38 itens, seis foram validados na primeira etapa de validação de conteúdo, 22 na segunda e dez na terceira e última fase. Apesar disso, na primeira fase de validação, 57,5% dos itens alcançaram índices aceitáveis (acima de 0,70) de validade de conteúdo e do Coeficiente Kappa Modificado para a característica de consistência; 56,2% para representatividade; 50% para relevância e 32,5% para clareza, mas correções foram sugeridas pelos especialistas, justificando uma nova avaliação para eles. Na segunda fase de validação 81,6% dos itens alcançaram índices aceitáveis (acima de 0,70) para as características de consistência e representatividade; 65,8% para relevância e 71% para clareza. Todos os últimos dez itens submetidos à terceira avaliação alcançaram índices aceitáveis e foram considerados validados nos aspectos avaliados.

A versão final do instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada para indivíduos com hemiparesia apresenta um total de 38 itens divididos em oito itens descritivos, 16 itens do Domínio de Características Gerais da subida e descida de escadas e 14 itens do Domínio de Estratégias Adotadas para subida e descida de escadas (Anexo 1). Cada item é avaliado por meio de uma escala categórica ordinal, que varia de zero a dois pontos, correspondendo, respectivamente, ao melhor desempenho e ao pior desempenho. O escore total do instrumento deverá ser calculado separadamente para subida (0 a 70 pontos) e descida (0 a 74 pontos) de escadas. Devido ao formato extenso do instrumento, os principais itens de cada domínio estão apresentados no Anexo 1 deste artigo, sendo que o instrumento como um todo poderá ser obtido por meio de contato com as autoras.

Os 38 itens que constituem a versão final do instrumento apresentaram adequada validade de conteúdo para a avaliação das características cinemáticas qualitativas e das estratégias adotadas na subida e descida de escadas por indivíduos com hemiparesia. Entretanto, novos estudos de análise das demais propriedades psicométricas, como confiabilidade inter e intraexaminadores, consistência interna, validade de critério e de construto, são necessários e serão realizados futuramente.

References

  • 1
    Verghese J, Wang C, Xue X, Holtzer R. Self-Reported Difficulty in Climbing Up or Down Stairs in Nondisabled Elderly. Arch Phys Med Rehabil. 2008;89:100-4. PMid:18164338 PMCid:PMC2671033. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2007.08.129
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2007.08.129
  • 2
    Amaral-Natalio M, Nunes GS, Herber V, Michaelsen SM. Relação entre cadência da subida e descida de escada, recuperação motora e equilíbrio em indivíduos com hemiparesia. Acta Fisiátr. 2011;18(3):146-50.
  • 3
    Flansbjer U-B, Holmback AM, Downham D, Patten C, Lexell J. Reliability of gait performance tests in men and women with hemiparesis after stroke. J Rehabil Med. 2005;37:75-82. PMid:15788341. http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017215
    » http://dx.doi.org/10.1080/16501970410017215
  • 4
    Roorda LD, Roebroeck ME, Van Tilburg T, Lankhorst GJ, Bouter LM. Measuring Mobility Study Group. Measuring activity limitations in climbing stairs: development of a hierarchical scale for patients with lower-extremity disorders living at home. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:967-71. PMid:15179652. http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.apmr.2003.11.018
  • 5
    Teixeira-Salmela LF, Silva PC, Lima RCM, Augusto ACC, Souza AC, Goulart F. Musculação e condicionamento aeróbio na performance funcional de hemiplégicos crônicos. Acta Fisiatr. 2003;10(2):54-60.
  • 6
    Teixeira-Salmela LF, Olney SJ, Nadeau S, Brouwer B. Muscle strengthening and physical conditioning to reduce impairment and disability in chronic stroke survivors. Arch Phys Med Rehabil. 1999;80:1211-8. http://dx.doi.org/10.1016/S0003-9993(99)90018-7
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0003-9993(99)90018-7
  • 7
    Olney S, Elkin N, Lowe P. An ambulation profile for clinical gait evaluation. Physiother Can. 1979;31:85-90.
  • 8
    Carod-Artal FJ, Gonzalez-Gutierrez JL, Herrero JAE, Horan T, Seijas EV. Functional recovery and instrumental activities of daily living: follow-up 1-year after treatment in a stroke unit. Brain Injury. 2002;16(3):207-16. PMid:11874614. http://dx.doi.org/10.1080/02699050110103337
    » http://dx.doi.org/10.1080/02699050110103337
  • 9
    Riberto M, Miyazaki MH, Jucá SSH, Lourenço C, Battistella LR. Independência funcional em pessoas com lesões encefálicas adquiridas sob reabilitação ambulatorial. Acta Fisiatr. 2007;14(2):87-94.
  • 10
    Alzahrani MA, Dean CM, Ada L. Ability to negotiate stairs predicts free-living physical activity in community-dwelling people with stroke: an observational study. Aust J Physiother. 2009;55(4):277-81. http://dx.doi.org/10.1016/S0004-9514(09)70008-X
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0004-9514(09)70008-X
  • 11
    Monteiro RBC, Laurentino GEC, Melo PG, Cabral D, Corrêa JCF, Teixeira-Salmela LF. Medo de cair e sua relação com a medida da independência funcional e a qualidade de vida em indivíduos após Acidente Vascular Encefálico. Cienc Saúde Coletiva. 2013;18(7):2017-27. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000700017
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000700017
  • 12
    Doyle PJ. Measuring health outcomes in stroke survivors. Arch Phys Med Rehabil. 2002;83(12):539-43.
  • 13
    Nadeau S, Gravel D, Arsenault AB, Bourbonnais D. Plantarflexor weakness as a limiting factor of gait speed in stroke subjects and the compensating role of hip flexors. Clin Biomech. 1999;14:125-35. http://dx.doi.org/10.1016/S0268-0033(98)00062-X
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0268-0033(98)00062-X
  • 14
    Bujanda E, Nadeau S, Bourbonnais D, Dickstein R. Associations between lower limb impairments, locomotor capacities and kinematic variables in the frontal plane during walking in adults with chronic stroke. J Rehabil Med. 2003;35:259-64. PMid:14664315. http://dx.doi.org/10.1080/16501970310012428
    » http://dx.doi.org/10.1080/16501970310012428
  • 15
    Chen G, Patten C, Kothari DH, Zajac FE. Gait differences between individuals with post-stroke hemiparesis and non-disabled controls at matched speeds. Gait Posture. 2005;22:51-6. PMid:15996592. http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2004.06.009
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2004.06.009
  • 16
    Conte ANF, Ferrari PP, Carvalho TB, Relvas PCA, Neves RCM, Rosa SF. Reliability, comprehension and acceptability of the Portuguese version of the Motor Assessment Scale in stroke patients. Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):405-11. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009005000056
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552009005000056
  • 17
    Bohannon RW, Walsh S. Association of paretic lower extremity muscle strength and standing balance with stair-climbing ability in patients with stroke. J Stroke Cerebrovas Dis. 1991;1(3):129-33. http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)80004-7
    » http://dx.doi.org/10.1016/S1052-3057(10)80004-7
  • 18
    Lin JH, Hsu MJ, Hsu HW, Wu HC, Hsieh CL. Psychometric Comparisons of 3 Functional Ambulation Measures for Patients With Stroke. Stroke. 2010;41:2021-25. PMid:20671244. http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110.589739
    » http://dx.doi.org/10.1161/STROKEAHA.110.589739
  • 19
    De Castro SM, Perracini MR, Ganança FF. Versão brasileira do Dynamic Gait Índex. Rev Bras Otorrinolaringol. 2006;72(6):817-25. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006000600014
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992006000600014
  • 20
    Mahoney FI, Barthel D. Functional evaluation: the Barthel Index. Maryland St Med J. 1965;14:56-61.
  • 21
    Riberto M, Miyazaki MH, Juçá SSH, Sakamoto H, Pinto PPN, Battistella LP. Validação da versão brasileira da medida de independência funcional. Acta Fisiatr. 2004;11(2):72-6.
  • 22
    Collen FM, Wade DT, Robb GF, Bradshan CM. The Rivermead Mobility Index: a further development. Riverm Motor Asses Inter Durabil Stud. 1991;13:50-4.
  • 23
    Williams LS, Weinberger M, Harris LE, Clark DO, Biller J. Development of a stroke-specific quality of life scale. Stroke. 1999;30(7):1362-9. PMid:10390308. http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.30.7.1362
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.30.7.1362
  • 24
    Lima RCM, Teixeira-Salmela LF, Magalhaes LC, Gomes-Neto M. Psychometric properties of the Brazilian version of the Stroke Specifi c Quality of Life Scale: application of the Rasch model. Rev Bras Fisioter. 2008;12(2):149-56.
  • 25
    Lord SE, Halligan PW, Wade DT. Visual gait analysis: the development of a clinical assessment and scale. Clin. Rehabil. 1998;12:107-19. http://dx.doi.org/10.1191/026921598666182531
    » http://dx.doi.org/10.1191/026921598666182531
  • 26
    Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Development and validation of an innovative tool for the assessment of the biomechanical strategies: The TUG-ABS for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45(3):232-40. PMid:23389698. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107
    » http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1107
  • 27
    Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF, Nadeau S. Clinical testing of an innovative tool for the assessment of biomechanical strategies: The Timed a Up and Go Assessment of Biomechanical Strategies (TUG-ABS) for individuals with stroke. J Rehabil Med. 2013;45:241-7. PMid:23462895. http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106
    » http://dx.doi.org/10.2340/16501977-1106
  • 28
    Natalio MA, Michaelsen SM, Nunes GS, Virtuoso JF, Faria CDCM, Teixeira-Salmela LF. Etapas de desenvolvimento de um instrumento de avaliação clínica da subida e descida de escada em indivíduos com hemiparesia. Ter Man. 2011;9(44):334-42.
  • 29
    Benson J, Clark F. A guide for instrument development and validation. Am J Occup Ther. 1982;36(12):789-800. http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
    » http://dx.doi.org/10.5014/ajot.36.12.789
  • 30
    Berk RA. Importance of expert judgement in content-related validity evidence. West J Nurs Res. 1990;2(5):659-71. http://dx.doi.org/10.1177/019394599001200507
    » http://dx.doi.org/10.1177/019394599001200507
  • 31
    Davis AE. Instrument development: Getting Started. J Neurosc Nurs. 1996;28(3):204-7. http://dx.doi.org/10.1097/01376517-199606000-00009
    » http://dx.doi.org/10.1097/01376517-199606000-00009
  • 32
    Polit DF, Beck CT. The content validity index:are you sure you know what's being reported? critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29:489-97. PMid:16977646. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147
    » http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147
  • 33
    Polit DF, Beck CT, Owen ST. Focus on research methods is the cvi an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30:459-67. PMid:17654487. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
    » http://dx.doi.org/10.1002/nur.20199
  • 34
    Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ. Importância e esclarecimento das propriedades de medida em reabilitação. Rev Bras Fisioter. 2006;10(2):137-46. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006000200002
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552006000200002
  • 35
    Grant JS, Davis LL. Selection and use of content experts for instrument development. Res Nurs Health. 1997;20:269-74. http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240X(199706)20:3<269::AID-NUR9>3.0.CO;2-G
    » http://dx.doi.org/10.1002/(SICI)1098-240X(199706)20:3<269::AID-NUR9>3.0.CO;2-G
  • 36
    Wynd CA, Schmidt B, Schaefer MA. Two quantitative approaches for estimating content validity. Western J Nurs Res. 2003;25(5):508-18. http://dx.doi.org/10.1177/0193945903252998
    » http://dx.doi.org/10.1177/0193945903252998

Anexo 1. Principais itens de cada Domínio do Instrumento de Avaliação Clínica da Subida e Descida de Escadas em Indivíduos com hemiparesia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jul 2014
  • Data do Fascículo
    Ago 2014

Histórico

  • Recebido
    19 Set 2013
  • Revisado
    14 Fev 2014
  • Aceito
    27 Fev 2014
Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia Rod. Washington Luís, Km 235, Caixa Postal 676, CEP 13565-905 - São Carlos, SP - Brasil, Tel./Fax: 55 16 3351 8755 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: contato@rbf-bjpt.org.br