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Tradução e Adaptação Cultural de Instrumentos para Avaliar a Predisposição do Uso de Tecnologia Assistiva que Constitui o Modelo Matching, Person & Technology2 2 Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio financeiro para desenvolver esta pesquisa - Processo No 2016/16470-4.

RESUMO:

O modelo conceitual Matching, Person & Technology (MPT) propõe uma abordagem centrada no usuário e no ambiente para prescrição de tecnologia assistiva, por meio de instrumentos padronizados, para facilitar o processo de correspondência entre usuário e tecnologia. O estudo teve como objetivo traduzir e adaptar culturalmente para o Português do Brasil os instrumentos Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process; History of Support e Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA que compõem o modelo MPT. O estudo contou com a participação de dois tradutores juramentados, três pesquisadores cujo idioma nativo era o português e tinham fluência em inglês com domínio na área de tecnologia assistiva, um tradutor cujo idioma nativo era o inglês e tinha fluência em português, o coordenador do projeto, a autora do instrumento original, cinco juízes com experiência na área de tecnologia assistiva e Mestrado ou Doutorado em Educação com ênfase em Educação Especial e seis profissionais da educação e saúde com experiência no fornecimento de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência. A pesquisa foi dividida em 5 etapas, sendo elas: 1) tradução do instrumento; 2) tradução conciliada; 3) retrotradução; 4) análise de equivalência dos itens e adequação do instrumento; e 5) pré-teste. Os resultados indicaram um alto índice de concordância entre os participantes e uma boa equivalência cultural dos instrumentos. Conclui-se que as versões em português do Brasil dos instrumentos têm uma boa aceitabilidade e são adequados para serem utilizados para a prescrição de tecnologia para usuários brasileiros.

PALAVRAS-CHAVE:
Educação Especial; Escala de avaliação; Acesso à tecnologia; Tecnologia Assistiva

ABSTRACT:

The Matching, Person & Technology (MPT) conceptual model proposes a user-centered, environment-oriented approach for prescription of Assistive Technology, by means of standardized instruments, in order to facilitate the process of correspondence between user and technology. The aim of the study was to translate and adapt culturally to the Portuguese of Brazil the Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process; History of Support and Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA that make up the MPT model. The study was attended by two sworn translators, three researchers whose native language was Portuguese and had fluency in English with an area of Assistive Technology, a translator whose native language was English and had fluency in Portuguese and the coordinator of the project, the author of the original instrument, five judges with experience in the area of Assistive Technology and Master’s or PhD in Education with an emphasis on Special Education and six health and education professionals with experience in dispensing Assistive Technology for people with disabilities. The research was divided into 5 stages: 1) translation of the instrument, 2) reconciled translation, 3) back translation, 4) equivalence of item analysis and adequacy of the instrument, and 5) pre-test. The results indicated a high index of agreement among the participants and a good cultural equivalence of the instruments. It is concluded that the Portuguese of Brazil versions of the instruments have a good acceptability and are suitable to be used for the prescription of technology for Brazilian users.

KEYWORDS:
Special Education; Scale of evaluation; Access to technology; Assistive Technology

1 Introdução

Os países signatários da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência ratificaram que adotariam medidas apropriadas para facilitar o acesso às soluções de tecnologia assistiva (TA) para aqueles que as necessitam para melhorar a independência na vida diária e a participação na sociedade em igualdade de condições. Nessa Convenção, os países comprometeram-se em estabelecer leis e políticas de forma a garantir o direito de acesso a serviços e recursos de TA, a todas as pessoas com deficiência que as necessitem (Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência e seu protocolo facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm
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).

No contexto brasileiro, houve um movimento no âmbito do governo a fim de cumprir o que foi estabelecido e facilitar o acesso a recursos e serviços de TA. A Portaria Interministerial nº 362, de 24 de outubro de 2012, dispõe sobre o limite de renda mensal para operações de crédito para aquisição de bens e serviços de Tecnologia Assistiva e descreve o rol dos bens e dos serviços financiados. Em 2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julhoLei no 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20152018/2015/lei/l13146.htm
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) foi aprovada e prevê que a pessoa com deficiência tem direito ao acesso a produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, sua mobilidade e sua qualidade de vida.

Apesar do esforço mundial para facilitar o acesso aos recursos e aos serviços de TA, observa-se que a taxa de abandono ou de não-uso continua alta. Estudos internacionais continuam indicando que 30% dos recursos prescritos são abandonados no primeiro ano após aquisição (Federici, Meloni, & Borsci, 2016Federici, S., Meloni, F., & Borsci, S. (2016). The abandonment of assistive technology in Italy: a survey of National Health Service users. European journal of physical and rehabilitation medicine, 52(4), 516-526.). Estudos brasileiros encontraram uma taxa menor de abandono, em torno de 20% (Sugawara, Ramos, Alfieri, & Battistella, 2018Sugawara, A. T.; Ramos, V. D.; Alfieri, F. M.; Battistella, L. (2018). Abandonment of assistive products: assessing abandonment levels and factors that impact on it. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 13(7), 716-723. DOI: 10.1080/17483107.2018.1473895
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; Braccialli, Deliberato, Braccialli, & Araújo, 2016Braccialli, L. M. P. (2016). Tecnologia Assistiva e produção do conhecimento no Brasil. Journal of Research in Special Educational Needs, 16 (s1), 1014-1017. DOI: https://doi.org/10.1111/1471-3802.12355
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; Cruz & Emmel, 2015Cruz, D. M. C. da, & Emmel, M. L. G. (2015). Políticas Públicas de Tecnologia Assistiva no Brasil: Um Estudo Sobre a Usabilidade e abandono por Pessoas com Deficiência Física. Revista Faculdade Santo Agostinho, 12(1), 79-106.). Deve-se considerar que, nos países mais pobres, o acesso a TA é menor, entre 5 e 15% das pessoas que necessitam têm acesso (Matter, Harniss, Oderud, Borg, & Eide, 2017Matter, R., Harniss, M., Oderud, T., Borg, J., & Eide, A. H. (2017). Assistive technology in resource-limited environments: a scoping review. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 105-114. DOI: 10.1080/17483107.2016.1188170
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).

O abandono pode estar relacionado a uma falha no processo de avaliação, devido a uma incompatibilidade entre as necessidades do usuário, o ambiente de utilização e a TA fornecida. Assim, existe a necessidade de implementação de serviços de TA que acompanhem todo o processo de fornecimento, desde o momento da avaliação do usuário até o acompanhamento de uso da tecnologia assistiva (Federici & Borsci, 2016Federici, S., Meloni, F., & Borsci, S. (2016). The abandonment of assistive technology in Italy: a survey of National Health Service users. European journal of physical and rehabilitation medicine, 52(4), 516-526.).

Um elemento-chave no fornecimento de TA é a qualidade da prestação de serviços, que é o processo pelo qual um indivíduo vai passar até obter uma solução que atenda às suas necessidades. Além do serviço, devem ser considerados outros aspectos: (a) boa qualidade dos produtos com preços acessíveis; (b) os usuários finais e os profissionais envolvidos precisam conhecer as soluções existentes; (c) tem de haver profissionais que avaliem, façam aconselhamento e deem apoio; (d) tem de haver políticas e procedimentos para decidir sobre a elegibilidade de certas soluções e mecanismos de financiamento; (e) tem de haver treinamento em uso; (f) tem de haver serviços de acompanhamento; e (g) tem de haver uma infraestrutura para manutenção e reparos dos equipamentos adquiridos. Para a efetivação dessas medidas, tem sido proposto a criação de um modelo internacional padrão para o fornecimento TA. Pesquisadores de diferentes países propuseram a adoção de um modelo que assegure que: o usuário permaneça no centro de todas as atividades; possibilite a interação interdisciplinar; seja aplicável a qualquer tipo ou nível de deficiência; e aborde os fatores que influenciaram a satisfação do usuário ou o abandono da TA (De Witte, Steel, Gupta, Ramos, & Roentgen, 2018De Witte, L., Steel, E., Gupta, S., Ramos, V. D., & Roentgen, U. (2018). Assistive technology provision: towards an international framework for assuring availability and accessibility of affordable high-quality assistive technology. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 13(5), 467-472. DOI: 10.1080/17483107.2018.1470264
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).

Em um serviço de fornecimento de produtos de tecnologia assistiva, deve-se incluir um processo de avaliação das necessidades do usuário com instrumentos de avaliação apropriados e padronizados, além de pessoal treinado para trabalhar com pessoas com deficiência e com suas famílias para realizar essas avaliações. Os produtos não podem ser efetivamente distribuídos sem um plano de substituição e empréstimo. Vários produtos de TA precisam ser testados por um curto período de tempo antes de se decidir sobre sua adequação para um usuário específico. Embora esse processo esteja comumente disponível em países de alta renda, ele representa um obstáculo em países de média e baixa renda, especialmente quando se considera o longo período de tempo necessário para solicitar e adquirir um produto de TA (Smith et al., 2018Smith, R. O., Scherer, M. J., Cooper, R., Bell, D., Hobbs, D. A., Pettersson, C., … Bauer, S. (2018). Assistive technology products: a position paper from the first global research, innovation, and education on assistive technology (GREAT) summit. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 13(5), 473-485. DOI: 10.1080/17483107.2018.1473895
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).

Nessa perspectiva, o Assistive Technology Assessment Process (ATA) tem sido apontado como uma proposta de modelo de serviço para fornecimento de recursos de TA, no qual o processo é orientado e centrado no usuário (L. M. P. Braccialli, A. C. Braccialli, & Silva, 2018Braccialli, L. M. P., Braccialli, A. C., & Silva, F. C. T. da. (2018). Modelos conceituais e instrumentos para prescrição e acompanhamento de uso de Tecnologia Assistiva: análise teórica. Bauru: Canal 6.; Federici et al., 2015Federici, S., Corradi, F., Meloni, F., Borsci, S., Mele, M. L., Dandini De Sylva, S., & Scherer, M. J. (2015). Successful assistive technology service delivery outcomes from applying a person-centered systematic assessment process: a case study. Life Span and Disability XVIII, 1, 41-74. Recuperado de http://www.lifespan.it/client/abstract/ENG290_2. Federici.pdf
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; Federici & Borsci, 2016Federici, S., & Borsci, S. (2016). Providing assistive technology in Italy: The perceived delivery process quality as affecting abandonment. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 11(1), 22-31. DOI: 10.3109/17483107.2014.930191
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). O ATA fundamenta-se em 4 pilares: (a) no modelo biopsicossocial da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), principalmente nas dimensões que interferem na funcionalidade do usuário; (b) incorpora o conceito Matching, Person & Technology (MPT) e faz uso dos instrumentos desse modelo durante o processo; (c) considera que a superação de uma incapacidade transcende a entrega de uma TA, em consonância com o modelo MPT enfatiza a necessidade de combinar o recurso ao usuário, e que o ambiente de uso deve ser considerado; (d) necessidade de uma equipe multidisciplinar para acompanhar todo o processo (L. M. P. Braccialli et al., 2018Braccialli, L. M. P., Braccialli, A. C., & Silva, F. C. T. da. (2018). Modelos conceituais e instrumentos para prescrição e acompanhamento de uso de Tecnologia Assistiva: análise teórica. Bauru: Canal 6.).

O modelo MPT e os seus instrumentos têm sido os mais citados na literatura internacional e utilizados com a finalidade de verificar a predisposição de uso de TA durante a prescrição e fornecimento (Alves, Matsukura, & Scherer, 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
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; A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.; L. M. P. Braccialli et al., 2018Braccialli, L. M. P., Braccialli, A. C., & Silva, F. C. T. da. (2018). Modelos conceituais e instrumentos para prescrição e acompanhamento de uso de Tecnologia Assistiva: análise teórica. Bauru: Canal 6.). Trata-se de uma abordagem colaborativa em que o usuário de TA e o profissional que irá prescrever trabalham em conjunto para selecionar a tecnologia mais apropriada para o uso de uma determinada pessoa. O modelo destaca três áreas que influenciam o uso de TA: (a) os fatores ambientais; (b) as necessidades, as características pessoais e psicossociais e preferências dos consumidores; (c) e se as funções e características da TA desejável é apropriada, se ela pode ser usada sem desconforto ou estresse, o custo, a facilidade de uso e transportabilidade (Alves, 2013Alves, A. C. de J. (2013). Tecnologia Assistiva: identificação de modelos e proposição de um método de implementação de recursos (Tese de Doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.).

Para auxiliar no processo de avaliação, baseado no modelo MPT, foi desenvolvida uma série de instrumentos padronizados que, por meio de uma abordagem individualizada e centrada no usuário, se propõe a realizar a combinação mais adequada entre indivíduo e tecnologia (Scherer & Federici, 2015Scherer, M. J., & Federici, S. (2015). Why people use and don’t use technologies: Introduction to the special issue on assistive technologies for cognition/cognitive support technologies. NeuroRehabilitation, 37(3), 315-319. DOI: 10.3233/NRE-151264
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). O modelo MPT é composto pelos seguintes instrumentos: Survey of Technology Use - SOTU, Assistive Technology Device Presdiposition Assessment - ATD-PA, Educational Technology Device Predisposition Assessment - ET PA, Workplace Technology Device Predisposition Assessment - WT PA, Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA, além de duas planilhas Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process e History of Support Use.

A autora do modelo MPT propõe um fluxograma para auxiliar a equipe multidisciplinar no processo de escolha do melhor instrumento para a avaliação e prescrição de recursos de TA para os diferentes contextos (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de utilização de instrumentos no modelo MPT.

Para a utilização dos instrumentos do modelo MPT, o primeiro passo consiste em usuário e profissionais estabelecerem em conjunto objetivos e metas a serem alcançados. Em seguida, o modelo propõe o preenchimento das planilhas Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process e do History of Support Use.

O Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process tem como proposta determinar quais as tecnologias são potencialmente úteis para aquele usuário. O preenchimento do History of Support Use permite identificar quais tecnologias já foram utilizadas, quais são desejadas e quais são necessárias para aquele usuário (Alves, 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
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).

No próximo passo do processo de prescrição de tecnologia, o profissional terá de optar por um instrumento específico para combinar tecnologia, usuário e ambiente conforme apresentado na Figura 1. Para a prescrição de uma tecnologia para: educação - será utilizado o Educational Technology Device Predisposition Assessment - ET PA, traduzido para o português por Braccialli (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.); saúde - será utilizado o Healthcare Technology Device Predisposition Assessment; trabalho - Workplace Technology Device Predisposition Assessment - WT PA; e para a predisposição de uso tecnologia assistiva no geral - o instrumento Assistive Technology Device Presdiposition Assessment - ATD-PA, traduzido por Alves (Alves, 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
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; Alves et al., 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
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).

A fim de favorecer o uso do modelo conceitual MPT no Brasil, o estudo teve como objetivo traduzir e adaptar culturalmente para o Português do Brasil os instrumentos Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process e History of Support e Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA.

2 Método

Trata-se de uma pesquisa metodológica, que visa o desenvolvimento, a validação e a avaliação de métodos ou instrumentos. Para a realização do estudo, previamente foi solicitada a permissão para a autora do instrumento para a tradução e a adaptação cultural. Após autorização, o projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP - Marília e aprovado com CAAE 52363815300005406.

O estudo foi desenvolvido em 5 etapas: tradução inicial; tradução conciliada; retrotradução; análise de equivalência de itens; e pré-teste.

2.1 Participantes

Cada etapa do estudo teve participantes específicos:

  • tradução inicial - participaram dois tradutores juramentados cujo idioma nativo era o português e tinham fluência em inglês (T1, T2);

  • tradução conciliada - três pesquisadores cujo idioma nativo era o português e tinham fluência em inglês com domínio na área de tecnologia assistiva;

  • retrotradução - um tradutor cujo idioma nativo era o inglês e tinha fluência em português e o coordenador do projeto;

  • análise da retrotradução - autora do instrumento original;

  • análise de itens - cinco juízes com experiência na área de tecnologia assistiva e Mestrado ou Doutorado em Educação com ênfase em Educação Especial (denominados J1, J2, J3, J4, J5);

  • pré-teste - seis profissionais da saúde e da educação com experiência em prescrição e fornecimento de recursos de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência em centros de reabilitação ou em Centro Escola (denominados P1, P2, P3, P4, P5, P6).

2.2 Instrumentos

A planilha Initial Worksheet for the Matching Person é organizada por áreas nas quais as pessoas podem ter perda de função ou ter pontos fortes. Ela foi projetada para ser usada por profissionais, da educação e da saúde, que trabalham com usuários de tecnologia assistiva com a finalidade de identificar as áreas a serem fortalecidas por meio do uso de tecnologia ou outro tipo de suporte/estratégia, ou por acomodação ambiental. Com a planilha, são identificados e anotados os pontos fortes, as dificuldades, as metas e as estratégias iniciais para atingir os objetivos. Pode envolver a prescrição de uma tecnologia, uma modificação no ambiente, ou ambos. Para prescrever uma nova tecnologia para um indivíduo, é melhor ter como foco uma área com pontos fortes.

Cada item deve ser considerado independentemente de o profissional acreditar que seja relevante para esse indivíduo ou não. Para as crianças, idealmente, a planilha é preenchida em colaboração dos pais. A planilha é composta por 12 domínios ou áreas: (1) fala/comunicação; (2) mobilidade; (3) destreza/uso das mãos; (4) visão; (5) audição; (6) leitura e escrita; (7) atividades domésticas; (8) manutenção da saúde; (9) recreação e lazer; (10) autocuidado; (11) trabalho; (12) pensar, compreender e lembrar. Para cada domínio, será preenchido, na planilha, os pontos fortes e as limitações do usuário, as metas a serem alcançadas e as intervenções necessárias para alcançá-las. Em primeiro lugar, deve ser anotada na respectiva coluna as metas iniciais que profissional e o consumidor estabeleceram juntos, incluindo possíveis metas alternativas. Em segundo, deve-se determinar quais as intervenções necessárias para atingir essas metas e escrevê-las no espaço fornecido na planilha. Em terceiro, determina-se quaisquer tecnologias necessárias para apoiar a realização dessas metas.

O History of Support investiga quais tecnologias foram utilizadas no passado e por que um novo tipo de tecnologia seria a melhor alternativa. É organizado de acordo com os mesmos 12 domínios/áreas que compõem o Initial Worksheet for the Matching Person. Para cada domínio, deverá ser preenchido: (a) na primeira coluna, devem ser listadas as três tecnologias ou suportes/estratégias que já foram utilizadas por aquele indivíduo; (b) na segunda coluna, devem ser descritas quais tecnologias usadas atualmente e determinar o tempo de uso em meses, porcentagem de tempo de uso diário e o nível de satisfação; (c) na terceira coluna, listar os apoios/tecnologias usados no passado com as mesmas informações da coluna anterior; (d) na quarta coluna, listar os apoios/tecnologias necessários e a predisposição de uso.

O objetivo do uso das planilhas é conduzir uma avaliação abrangente que considere o indivíduo como um todo, os ambientes de uso da tecnologia e assim por diante. No entanto, para conseguir isso, devem ser consideradas as muitas partes que compõem o todo e sua relação.

O instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA é utilizado para auxiliar os profissionais da saúde na identificação de fatores que possam inibir a aceitação ou uso adequado de uma tecnologia de saúde no ambiente domiciliar. O instrumento é um checklist composto de 43 itens, organizados em cinco sessões, que avaliam o impacto de uso ou não uso de uma tecnologia: (1) características do problema de saúde específico; (2) consequências do uso da tecnologia de cuidados de saúde; (3) características da tecnologia; (4) questões pessoais que influenciam deliberações sobre o uso de uma tecnologia; (5) atitudes do usuário em relação ao tratamento. O HCT PA não deve ser usado para determinar se um usuário deve ou não receber uma tecnologia; em vez disso, deve ser usado para determinar as preocupações do usuário em relação à tecnologia específica que está sendo fornecida. Isso é para que o melhor ajuste possível seja alcançado entre a tecnologia e as necessidades e preferências do usuário. Para esse fim, o instrumento é preenchido por meio de uma entrevista. Não há registro de escores; ele é usado como um guia para organizar as informações obtidas sobre o impacto da tecnologia para o usuário.

2.3 Procedimentos

Inicialmente, foi realizado contato com a autora dos instrumentos e solicitada e obtida a autorização para tradução e adaptação cultural para a língua portuguesa do Brasil. Em seguida, conforme recomendações de diferentes pesquisadores, estruturou-se o estudo em cinco etapas (L. M. P. Braccialli, 2016Braccialli, L. M. P. (2016). Tecnologia Assistiva e produção do conhecimento no Brasil. Journal of Research in Special Educational Needs, 16 (s1), 1014-1017. DOI: https://doi.org/10.1111/1471-3802.12355
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; Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
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; Guillemin, Bombardier, & Beaton, 1993Guillemin, F., Bombardier, C., & Beaton, D. (1993). Cross-cultural adaptation of health-related quality of life measures: Literature review and proposed guidelines. Journal of Clinical Epidemiology, 46(12), 1417-1432.).

2.3.1 Primeira Etapa - Tradução Inicial

Para a tradução inicial, foi necessário adotar as seguintes recomendações: (a) ser realizada por dois tradutores que trabalhem de forma independente (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
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; Reichenheim & Moraes, 2007Reichenheim, M. E., & Moraes, C. L. (2007). Operacionalização de adaptação transcultural de instrumentos de aferição usados em epidemiologia. Revista de Saúde Pública, 41(4), 665-673. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
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); (b) o idioma nativo do tradutor deve ser o idioma para o qual o instrumento foi traduzido (Beaton, Bombardier, Guillemin, & Ferraz, 2000Beaton, D. E., Bombardier, C., Guillemin, F., & Ferraz, M. B. (2000). Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine, 25(24), 3186-3191.); (c) não haver comunicação entre os tradutores durante o processo; (d) haver um coordenador com fluência no idioma estrangeiro durante o desenvolvimento da tradução independente (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
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); (e) pelo menos um tradutor ter familiaridade com a temática do instrumento para facilitar a tradução de termos específicos da área (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.; Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Dessa forma, a tradução dos instrumentos foi realizada por dois tradutores juramentados que tinham como língua nativa o português do Brasil e eram fluentes em inglês, e acompanhada pela coordenadora do projeto que tinha como língua nativa o português do Brasil, fluente na língua inglês, com domínio na área de Tecnologia Assistiva e com conhecimento prévio dos instrumentos e do modelo conceitual. A coordenadora teve como função oferecer assessoria aos tradutores em caso de qualquer dúvida em relação aos termos específicos da área de conhecimento. Os instrumentos foram encaminhados por e-mail para os tradutores, acompanhados das seguintes orientações: 1) usar linguagem natural e aceitável para as pessoas no geral; 2) a tradução deve ser clara, simples e compreensível; 3) evitar períodos longos; 4) ter como foco a equivalência conceitual, e não a tradução literal; 5) considerar a idade do público respondente do questionário, bem como a forma que irão compreender os itens; 6) não utilizar gírias ou termos de difícil compreensão; 7) evitar duplo negativo conforme recomenda Braccialli (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.).

2.3.2 Segunda Etapa - Tradução Conciliada

Na tradução conciliada, busca-se a melhor tradução para cada item do instrumento. Nessa fase do processo, a participação de profissionais especialistas na área de conhecimento e com domínio na língua da versão original do instrumento proporciona uma análise mais precisa e menos dificuldades nos processos seguintes, equivalência de itens e pré-teste (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.).

Seguindo as recomendações de Braccialli, a comparação entre as duas versões traduzidas para o português foi realizada por três pesquisadores cujo idioma nativo era o português e tinham fluência em inglês com domínio na área de tecnologia assistiva (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.). Os pesquisadores em conjunto realizaram a leitura de item a item com objetivo de verificar os pontos em que havia diferenças, decidir qual a melhor tradução, sugerir nova tradução, caso necessário.

2.3.3 Terceira Etapa - Retrotradução

Na etapa de retrotradução, preconiza-se considerar: (a) o tradutor ter como primeiro idioma aquele no qual foi construído o instrumento original e ser fluente no idioma para qual o instrumento foi traduzido (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
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); (b) o coordenador do processo de tradução e o tradutor-reverso podem discutir as diferenças e, a partir das discussões, chegar a um acordo sobre a melhor tradução (Reichenheim & Moraes, 2007Reichenheim, M. E., & Moraes, C. L. (2007). Operacionalização de adaptação transcultural de instrumentos de aferição usados em epidemiologia. Revista de Saúde Pública, 41(4), 665-673. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
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); (c) a versão retrotraduzida deve ser encaminhada ao autor do instrumento original para que faça uma revisão, para garantir que a tradução esteja precisa e que ela mantenha as características mais importantes do instrumento (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
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).

Com base nessas recomendações, a retrotradução foi realizada por um tradutor juramentado que tinha como língua nativa o inglês e era fluente no português, e as dúvidas foram discutidas e solucionadas em conjunto ao coordenador da pesquisa. Em seguida, a versão retrotraduzida foi encaminhada via e-mail para a autora do instrumento original para análise.

2.3.4 Quarta Etapa - Análise de Equivalência de Itens

Na etapa de equivalência de itens, recomenda-se a realização da: 1) equivalência conceitual; 2) equivalência semântica; 3) equivalência operacional (Reichenheim & Moraes, 2007Reichenheim, M. E., & Moraes, C. L. (2007). Operacionalização de adaptação transcultural de instrumentos de aferição usados em epidemiologia. Revista de Saúde Pública, 41(4), 665-673. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006...
); e 4) equivalência experiencial.

Para essa etapa, foi desenvolvido um Protocolo de orientação para os cinco juízes sobre as tarefas que deveriam executar e um formulário padronizado que deveriam preencher para cada item dos questionários. Esse protocolo continha orientações sobre: 1) equivalência conceitual - os participantes foram orientados a avaliar se um determinado termo ou expressão, mesmo se traduzido adequadamente, avaliava o mesmo aspecto na nova cultura; 2) equivalência semântica - cada participante avaliou se as palavras tinham o mesmo significado, se o item apresentava mais de um significado e se existiam erros gramaticais na tradução; 3) equivalência operacional - foram orientados a avaliar a pertinência e a adequação do veículo e o formato das questões/instruções (por exemplo, se em papel impresso ou em forma eletrônica); local de administração (por exemplo, se no ambiente escolar ou domiciliar); e o modo de aplicação (por exemplo, se via entrevista face-a-face ou por autopreenchimento; 4) equivalência experiencial - deveriam observar se os itens do instrumento eram aplicáveis na nova cultura e, em caso negativo, substituí-los por um item equivalente.

Foram orientados, também, a preencher seus dados de identificação no Protocolo de avaliação de equivalência; a ler atentamente a versão do instrumento traduzido para o português, item a item; imediatamente após a leitura de um item do instrumento responder no Protocolo correspondente à alternativa que considerasse a mais adequada em relação à equivalência semântica, experiencial, conceitual e operacional. Caso não concordasse com o item, eram solicitadas sugestões de modificações.

2.3.5 Quinta Etapa- Pré-Teste

A última etapa consistiu em realizar o pré-teste com seis profissionais da saúde e da educação com experiência em prescrição e fornecimento de recursos de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência em Centros de Reabilitação ou em Centro Escola. Foi realizado o contato com os participantes do estudo e, após o aceite, foram orientados sobre o objetivo do estudo e sobre os instrumentos em questão, bem como sobre o modelo conceitual MPT. O objetivo dessa etapa foi verificar a clareza do instrumento e se havia termos que soavam estranhos ou não familiares (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
). Para um instrumento ter equivalência cultural, na fase de pré-teste, todos os itens devem ser compreendidos por 90% dos participantes (Soárez, Kowalski, Ferraz, & Ciconelli, 2007Soárez, P. C. de, Kowalski, C. C. G., Ferraz, M. B., & Ciconelli, R. M. (2007). Tradução para português brasileiro e validação de um questionário de avaliação de produtividade. Revista Panamericana de Salud Pública, 22(1), 21-28.). Solicitou-se aos participantes que testassem os instrumentos com uma pessoa com deficiência física, e, após cada item, preenchessem uma planilha informando se o item estava claro, se havia necessidade de alteração e que fizessem sugestões.

3 Análise dos dados

A análise da etapa de tradução conciliada foi realizada por meio de frequência absoluta e relativa da análise de cada item e apresentada em forma de tabela. Para as etapas de equivalência de itens e pré-teste, foi realizada a análise por meio do índice de concordância, conforme proposto por Fagundes (2015)Fagundes, A. J. F. M. (2015). Descrição, definição, e registro de comportamento (17a ed.). São Paulo: Edicon..

Valores de Índice de Concordância maiores que 90% têm uma fidedignidade muito alta; entre 80% e 89% considerada alta, entre 66% e 79% é aceitável e valores inferiores a 66% indicam que as questões são difíceis de compreender e necessitam ser revistas (Bauer & Gaskell, 2002Bauer, M. W., & Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som: um manual prático. Rio de Janeiro: Vozes.).

4 Resultados

Os resultados foram apresentados na seguinte sequência: 1) tradução conciliada; 2) retrotradução; 3) equivalência dos itens; 4) pré-teste.

• Tradução conciliada

A análise de frequência relativa e absoluta em relação à opção de tradução dos itens dos instrumentos para elaboração da primeira versão em língua portuguesa está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1
Frequência absoluta e relativa em relação à opção de tradução dos instrumentos.

• Retrotradução

A autora do instrumento considerou que todos os itens dos instrumentos estavam adequados, não havendo necessidade de nenhuma modificação.

• Equivalência de itens

Na análise de equivalência semântica do instrumento Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process, um item teve 50% de concordância, havendo necessidade de modificação (Quadro 1). Em relação à análise realizada da equivalência experiencial, conceitual, operacional, todos os itens tiveram 100% de concordância entre juízes, assim não houve necessidade de modificação.

Quadro 1
Item que necessitou modificação na equivalência semântica do instrumento Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process.

Em relação ao instrumento History of Support Use: Technologies, Special Purpose Devices, and Personal Assistance, um item teve equivalência semântica de 20%, assim foi necessária a modificação apresentada no Quadro 2. Para todas as demais equivalências, o índice de concordância foi superior a 75%, não sendo necessárias modificações.

Quadro 2
Item que necessitou modificação na equivalência semântica do instrumento History of Support Use: Technologies, Special Purpose Devices, and Personal Assistance.

Para o instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment, a análise da Equivalência Operacional indicou 100% de concordância entre os participantes, para todos os itens. Em relação à equivalência experiencial, 30 itens tiveram 100% de concordância, 27 itens tiveram 75%, e um item teve 50% de concordância, havendo necessidade de rever esse item (Quadro 3). Para a versão final do instrumento, optou-se pela sugestão do participante P1.

Quadro 3
Equivalência experiencial do item para revisão do instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment.

Na análise de equivalência conceitual do instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment, 44 itens tiveram 100% de concordância; 12 itens tiveram 80%, e dois itens tiveram 50% de concordância havendo necessidade de rever esses itens (Quadro 4). Após a análise dos dois itens, decidiu-se em relação ao item “Não é um paciente obediente” realizar uma nova tradução e foi modificado para “não é um paciente colaborador”; quanto ao item “é, no geral pessimista”, foi mantida a tradução uma vez que era muito próxima a sugestão do participante J1.

Quadro 4
Sugestões em relação à equivalência conceitual do instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment.

Em relação à equivalência semântica, 29 itens tiveram 100% de concordância, 25 itens 80%, e 2 itens tiveram 50% de concordância e precisaram de revisão (Quadro 5). Para o item “surgiu recentemente”, após a análise, optou-se pela sugestão do juiz (J3). Quanto ao item “está causando uma angústia considerável à pessoa”, conforme sugestões dos juízes, foi substituído o termo angústia por desconforto.

Quadro 5
Equivalência Semântica da versão inglês/português do item que necessita de revisão.

• Pré-teste

O índice de concordância entre os participantes, no pré-teste do instrumento Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process, foi superior ou igual a 90% para todos os itens, o que sugere que o instrumento tem fácil compreensão e aplicabilidade. No entanto, um participante sugeriu melhorar as informações sobre o preenchimento do instrumento (Quadro 6).

Quadro 6
Sugestões de modificações no instrumento Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process.

A análise do índice de concordância no pré-teste foi de 100% para todos os itens do instrumento History of Support Use: Technologies, Special Purpose Devices, and Personal Assistance. No entanto, apenas um participante fez duas sugestões (Quadro 7).

Quadro 7
Sugestões de modificações no instrumento History of Support Use: Technologies, Special Purpose Devices, and Personal Assistance.

O pré-teste do instrumento Healthcare Technology Device Predisposition Assessment indicou que não havia necessidade de modificação em nenhum item, a análise indicou 100% de concordância para todos os itens e não houve nenhuma sugestão de modificação.

As explicações detalhadas de uso e a análise do instrumento são apresentadas no manual, portanto, após o pré-teste, não houve necessidade de modificação de nenhum dos instrumentos, uma vez que as sugestões se referiam a dúvidas sobre a aplicação.

5 Discussão

Uma distribuição eficaz de dispositivos de tecnologia assistiva depende de avaliações competentes e prestadores de serviços devidamente treinados e capazes de identificar as necessidades e objetivos do usuário. Para a combinação adequada entre produto de tecnologia assistiva e usuário faz-se necessário um processo de avaliação das necessidades com instrumentos de avaliação apropriados e pessoal treinado para trabalhar com pessoas com deficiência e com suas famílias (Smith et al., 2018Smith, R. O., Scherer, M. J., Cooper, R., Bell, D., Hobbs, D. A., Pettersson, C., … Bauer, S. (2018). Assistive technology products: a position paper from the first global research, innovation, and education on assistive technology (GREAT) summit. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 13(5), 473-485. DOI: 10.1080/17483107.2018.1473895
https://doi.org/10.1080/17483107.2018.14...
).

Tem sido pontuada a necessidade de se estabelecer um método internacional padrão para o fornecimento de tecnologia assistiva. A padronização com base em um modelo conceitual e em instrumentos de avaliação adequados possibilitaria comparar serviços e os resultados obtidos, bem como verificar o impacto das políticas existentes e nortear o desenvolvimento de novas políticas (De Witte et al., 2018De Witte, L., Steel, E., Gupta, S., Ramos, V. D., & Roentgen, U. (2018). Assistive technology provision: towards an international framework for assuring availability and accessibility of affordable high-quality assistive technology. Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 13(5), 467-472. DOI: 10.1080/17483107.2018.1470264
https://doi.org/10.1080/17483107.2018.14...
).

Os estudos têm pontuado a importância do modelo MPT, bem como de seus instrumentos durante o processo de fornecimento de tecnologia (Alves et al., 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
; A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.; L. M. P. Braccialli et al., 2018Braccialli, L. M. P., Braccialli, A. C., & Silva, F. C. T. da. (2018). Modelos conceituais e instrumentos para prescrição e acompanhamento de uso de Tecnologia Assistiva: análise teórica. Bauru: Canal 6.).

Com base nesses pressupostos, adaptar culturalmente e disponibilizar no idioma português os instrumentos Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process e History of Support e Healthcare Technology Device Predisposition Assessment - HCT PA, que compõem o modelo MPT, podem trazer vantagens em relação a desenvolver novos instrumentos. Uma versão adaptada culturalmente possibilita a comparação de dados entre diferentes culturas e países, e a quantificação de quanto os resultados diferem ou são similares nas diferentes regiões (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

Os instrumentos Initial Worksheet for the Matching Person & Technology Process e History of Support devem ser utilizados no início do processo de avaliação para verificar a predisposição de uso de recursos de TA, associados a outros instrumentos que já estão disponíveis no idioma português, ET PA Br (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.) e ATD PA Br (Alves, 2017Alves, A. C. de J., Matsukura, T. S., & Scherer, M. J. (2017). Cross-cultural adaptation of the assistive technology device-Predisposition assessment (ATD PA) for use in Brazil (ATD PA Br). Disability and Rehabilitation: Assistive Technology, 12(2), 160-164. DOI: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17483107.2016.1233294?journalCode=iidt20
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
).

O processo de tradução e adaptação cultural deve seguir uma rigorosa e sólida sistemática científica com a finalidade de evitar erros. Dessa forma, o processo, neste estudo, foi pautado em diretrizes internacionais e cumpriu-se rigorosamente cada etapa prevista (L. M. P. Braccialli, 2016Braccialli, L. M. P. (2016). Tecnologia Assistiva e produção do conhecimento no Brasil. Journal of Research in Special Educational Needs, 16 (s1), 1014-1017. DOI: https://doi.org/10.1111/1471-3802.12355
https://doi.org/10.1111/1471-3802.12355...
; Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
; Guillemin et al., 1993Guillemin, F., Bombardier, C., & Beaton, D. (1993). Cross-cultural adaptation of health-related quality of life measures: Literature review and proposed guidelines. Journal of Clinical Epidemiology, 46(12), 1417-1432.; Reichenheim & Moraes, 2007Reichenheim, M. E., & Moraes, C. L. (2007). Operacionalização de adaptação transcultural de instrumentos de aferição usados em epidemiologia. Revista de Saúde Pública, 41(4), 665-673. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102006...
).

Existe a preocupação de que a tradução inicial deva ser realizada por dois ou mais tradutores de forma independente, que possibilite escolhas diferentes de escrita e a comparação entre as traduções assegure uma versão final mais precisa. As recomendações foram seguidas, e os tradutores de forma independente foram auxiliados pela coordenadora do projeto, que era fluente no inglês, tinha conhecimento prévio do instrumento e domínio da área de conhecimento, que foi útil na orientação dos tradutores em relação a termos específicos da área (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recommendations for translation and cross-cultural adaptation of instruments for occupational therapy research and practice. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-7
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
).

A etapa de conciliação de itens foi realizada por uma equipe de profissionais especialistas na área de conhecimento e com domínio na língua da versão original do instrumento o que possibilitou uma análise mais precisa e menos dificuldades nos processos seguintes conforme preconizou Braccialli (A. C. Braccialli, 2017Braccialli, A. C. (2017). Tradução e Adaptação Transcultural do Instrumento Educational Technology Predisposition Assessment - ET PA (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, SP, Brasil.).

A participação da autora do instrumentos original, no processo de análise, ajudou a garantir a equivalência da nova versão com a original (Lapa et al., 2017Lapa, C. de O., Rocha, G. P., Marques, T. R., Howes, O., Smith, S., Monteiro, R. T., … Spanemberg, L. (2017). Trends in Psychiatry and Psychotherapy Translation and cross-cultural adaptation of the Sexual Function Questionnaire (SFQ) into Brazilian Portuguese Tradução e adaptação transcultural do Questionário de Função Sexual (SFQ) para o português do Brasil. APRS Trends Psychiatry Psychother. Trends Psychiatry Psychother, 3939(22), 110-115. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2237-6089-2016-0089
http://dx.doi.org/10.1590/2237-6089-2016...
).

Os cuidados rigorosos nas etapas precedentes parecem ter sido fundamentais para que, nas fases subsequentes, equivalência de itens e pré-teste, houvesse um alto índice de concordância. Ressalta-se, ainda, que a participação no pré-teste de profissionais com vasta experiência em serviços de fornecimento de TA e com usuários com deficiência possibilitou identificar as dificuldades e a compreensão dos itens dos instrumentos; realizar os ajustes finais na versão traduzida para o português e verificar a viabilidade de utilização do instrumento no contexto brasileiro.

A versão final dos instrumentos traduzidos e adaptados para o português do Brasil apresentou bom nível de aceitabilidade e de compreensão, sendo adequado para utilização por equipes multiprofissionais que fornecem recursos de tecnologia assistiva para usuários com deficiência.

Destaca-se que a disponibilização dos instrumentos no idioma português possibilitará avaliações sistematizadas para facilitar a prescrição de recursos de tecnologia assistiva de forma mais assertiva e diminuir o seu abandono após a aquisição.

  • 2
    Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio financeiro para desenvolver esta pesquisa - Processo No 2016/16470-4.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2019
  • Revisado
    06 Mar 2019
  • Aceito
    03 Abr 2019
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