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Composição físico-química e qualidade do café submetido a dois tipos de torração e com diferentes formas de processamento

Physical-chemical composition and quality of coffee submitted to two roasting procedures and to different methods of preparation

Resumos

Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de determinar as alterações na composição físico-química, química e sensorial de café cultivar Rubi, o qual foi submetido a diferentes formas de processamento e dois tipos de torração. Foram colhidos cafés de uma lavoura da UFLA com experimento de pivô central. Após o beneficiamento, as amostras foram divididas em cafés crus e torrados, sendo realizadas as seguintes análises: pH, acidez titulável total, cafeína, ácido clorogênico, polifenóis e índice de coloração. Foi realizada também análise sensorial (prova de xícara) para determinação da qualidade da bebida. Para a variável polifenol, não houve diferença significativa entre as formas de processamento, sendo que a torração clara apresentou maior teor de polifenol. O café natural apresentou um maior valor de cafeína dentro do tipo de processamento, e dentro do tipo de grão, o grão cru apresentou um maior valor de cafeína. Para a variável índice de coloração, os processamentos despolpado e descascado apresentaram os maiores valores e a torração média também apresentou um maior valor. O processamento natural apresentou um maior teor de ácido clorogênico e para o tipo de grão, a torração média também apresentou um maior valor de ácido clorogênico. Para a variável pH, não houve diferença significativa entre as formas de processamento, e dentro do tipo de grão, o grão cru apresentou um maior valor de pH. Com relação à acidez, o café natural apresentou um maior valor desta variável, e a torração média também apresentou um maior valor. Não houve diferença entre as formas de processamento e tipo de torração em relação à análise sensorial, visto que, todos os cafés foram classificados como bebida dura.

Processamento; torração; qualidade


This study was carried out to determine alterations in the physical-chemical, chemical and sensorial composition of a Rubi cultivar coffee, which was submitted to different methods of preparation and two roasting procedures. The coffees were harvested in a farm at UFLA with a central pivot design. After processing, samples were divided into raw and roasted coffees and the following parameters were evaluated: pH, total titratable acidity, caffeine, chlorogenic acid, polyphenols and color index. Sensorial analysis up test was also performed to determine beverage quality. For the variable polyphenol, there were no significant differences among the methods of preparation, though the light roast coffee showed the greatest polyphenol content. The natural coffee presented the greatest amount caffeine within the type of preparation, while the raw grain achieved the highest caffeine content when all type of grains were compared. The pulped and peeled preparations, as well as the medium roast. The greatest amount of chlorogenic acid was obtained with the natural preparation or when medium roast procedure was performed. For the variable pH, there were no significant differences among the methods of preparation, while from all types of grain, the raw one showed the highest pH value. Regarding total titratable acidity, the natural coffee showed the greatest value for such a variable, as well as the medium roast coffee. There was no difference among the methods of preparation and of roasting procedure during the sensorial analysis and all coffees were classified as hard beverage.

Preparation; roasting; quality


CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

Composição físico-química e qualidade do café submetido a dois tipos de torração e com diferentes formas de processamento

Physical-chemical composition and quality of coffee submitted to two roasting procedures and to different methods of preparation

Heloisa Helena de SiqueiraI; Celeste Maria Patto de AbreuII

IDoutoranda em Ciência dos Alimentos no Departamento de Ciências dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras/UFLA Cx. P. 3037 37200-000 Lavras, MG hh.siqueira@zipmail.com.br

IIProfessora Adjunta do Departamento de Química da Universidade Federal de Lavras/UFLA Cx. P. 3037 37200-000 Lavras, MG

RESUMO

Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de determinar as alterações na composição físico-química, química e sensorial de café cultivar Rubi, o qual foi submetido a diferentes formas de processamento e dois tipos de torração. Foram colhidos cafés de uma lavoura da UFLA com experimento de pivô central. Após o beneficiamento, as amostras foram divididas em cafés crus e torrados, sendo realizadas as seguintes análises: pH, acidez titulável total, cafeína, ácido clorogênico, polifenóis e índice de coloração. Foi realizada também análise sensorial (prova de xícara) para determinação da qualidade da bebida. Para a variável polifenol, não houve diferença significativa entre as formas de processamento, sendo que a torração clara apresentou maior teor de polifenol. O café natural apresentou um maior valor de cafeína dentro do tipo de processamento, e dentro do tipo de grão, o grão cru apresentou um maior valor de cafeína. Para a variável índice de coloração, os processamentos despolpado e descascado apresentaram os maiores valores e a torração média também apresentou um maior valor. O processamento natural apresentou um maior teor de ácido clorogênico e para o tipo de grão, a torração média também apresentou um maior valor de ácido clorogênico. Para a variável pH, não houve diferença significativa entre as formas de processamento, e dentro do tipo de grão, o grão cru apresentou um maior valor de pH. Com relação à acidez, o café natural apresentou um maior valor desta variável, e a torração média também apresentou um maior valor. Não houve diferença entre as formas de processamento e tipo de torração em relação à análise sensorial, visto que, todos os cafés foram classificados como bebida dura.

Termos para indexação: Processamento, torração, qualidade.

ABSTRACT

This study was carried out to determine alterations in the physical-chemical, chemical and sensorial composition of a Rubi cultivar coffee, which was submitted to different methods of preparation and two roasting procedures. The coffees were harvested in a farm at UFLA with a central pivot design. After processing, samples were divided into raw and roasted coffees and the following parameters were evaluated: pH, total titratable acidity, caffeine, chlorogenic acid, polyphenols and color index. Sensorial analysis up test was also performed to determine beverage quality. For the variable polyphenol, there were no significant differences among the methods of preparation, though the light roast coffee showed the greatest polyphenol content. The natural coffee presented the greatest amount caffeine within the type of preparation, while the raw grain achieved the highest caffeine content when all type of grains were compared. The pulped and peeled preparations, as well as the medium roast. The greatest amount of chlorogenic acid was obtained with the natural preparation or when medium roast procedure was performed. For the variable pH, there were no significant differences among the methods of preparation, while from all types of grain, the raw one showed the highest pH value. Regarding total titratable acidity, the natural coffee showed the greatest value for such a variable, as well as the medium roast coffee. There was no difference among the methods of preparation and of roasting procedure during the sensorial analysis and all coffees were classified as hard beverage.

Index terms: Preparation, roasting, quality.

INTRODUÇÃO

O café é um dos produtos agrícolas cujo processamento requer especial atenção, a fim de manter preservadas as suas qualidades. Devido a isso, o café pode ser processado de duas maneiras: via seca, que produz o café em coco; e via úmida, que produz café despolpado e descascado (IBC, 1985).

A torração é considerada uma das etapas mais importantes para o desenvolvimento do sabor e aroma do café, que são conferidos por compostos voláteis, presentes nos grãos antes e, ou, após a torração. Nesta fase, os grãos sofrem algumas reações químicas importantes, necessárias à formação da qualidade sensorial, assim como ocorrem mudanças físicas que podem variar de uma espécie a outra e também entre cultivares (LOPES, 2000).

A acidez percebida no café é um atributo importante para análise sensorial do produto, sabendo que sua intensidade varia em função do estádio de maturação dos frutos, local de origem, tipo de colheita, forma de processamento, tipo de secagem e condições climáticas durante a colheita e secagem.

As variações de pH com a torração, segundo Sivetz & Desrosier (1979), podem ser de muita importância na aceitação do produto pelo consumidor. Os mesmos autores indicam que o pH ideal deve estar entre 4,95 a 5,20 tornando o café palatável, sem excesso de amargor ou acidez.

Sabe-se que o pH é indicativo de eventuais transformações dos frutos de café, como as fermentações indesejáveis que ocorrem na pré ou pós-colheita, originando defeitos.

A cafeína ocorre livre no citoplasma, complexada com o clorogenato de potássio, o qual é pouco solúvel encontrando nesta forma alguma mobilidade entre os tecidos (BAUMMAM et al., 1993, citado por ILLY & VIANNI, 1995). Conforme este mesmo autor, a cafeína não tem efeito na qualidade sensorial, sendo bastante estável com a torração.

Cerca de 32-52% dos ácidos clorogênicos são degradados durante a torração e os produtos formados são encontrados no aroma do café (CLIFFORD, 1999). Segundo Dentam (1985), os ácidos clorogênicos ocorrem na superfície do grão associados com a graxa cuticular e, também, no citoplasma. Ainda não se sabe se a composição varia com a posição no grão.

O teor de polifenóis livres é pequeno no café verde, aumentando durante a torração desse grão. Este aumento, segundo Trugo & Macrae (1989), está relacionado à degradação dos ácidos clorogênicos. Com a torração, os polifenóis contribuem de maneira significativa para o aroma e sabor do produto final, sendo considerados responsáveis pela adstringência dos frutos (RAMIREZ, 1987).

As evidências de que a cor dos grãos de café correlaciona-se com a qualidade do produto são enfatizadas por diversos autores (AMORIM et al., 1977; LOPES et al., 1998; NORTHMORE, 1968). Esses pesquisadores relatam as diversas cores que os grãos de café podem assumir e citam a tonalidade azul para verde como indicativa de grãos de melhor qualidade, mediante a prova de xícara.

Diante deste contexto, este trabalho foi desenvolvido visando analisar os tipos de processamento, a irrigação e os tipos de torração com relação à qualidade e as alterações na composição físico-química, química e sensorial do café.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram colhidos cafés (Coffea arabica L.), cultivar Rubi, por derriça manual no pano, em lavouras da UFLA, oriundos de um experimento com pivô central. Os cafés foram submetidos a diferentes tipos de processamentos: cereja natural, cereja despolpado e cereja descascado, os quais foram secos em terreiros de alvenaria. As amostras foram divididas em café cru e café torrado, sendo esta torração clara e média. Foram avaliadas: acidez titulável total, pH, cafeína, ácido clorogênico, polifenol e índice de cor. As análises foram feitas no Departamento de Ciência dos alimentos e no Laboratório de Qualidade do Café "Dr. Alcides Carvalho"/ EPAMIG em Lavras, MG.

Foi realizada também avaliação sensorial (prova de xícara) no Pólo Tecnológico e Laboratório de Qualidade do Café da Universidade Federal de Lavras.

A acidez titulável foi determinada segundo o método da AOAC (1990) e a partir do mesmo extrato o pH foi medido utilizando o peagâmetro marca DIGIMED. A cafeína foi avaliada segundo o método colorimétrico descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (1985). O ácido clorogênico também foi avaliado pelo método do ácido clorogênico total do Instituto Adolfo Lutz (1985). O índice de coloração foi determinado pelo método descrito por Singleton (1966) adaptado para o café. Os polifenóis foram extraídos pelo método de Goldstein & Swan (1963) e determinado pelo método de Folin Denis, descrito pela AOAC (1990).

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições, com o fatorial (3 x 3). Foi utilizado o teste Tukey a 1% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os teores médios de acidez titulável total e pH em função dos diferentes tipos de processamento e tipos de torração são apresentados na Tabela 1.

Não se observaram diferenças significativas entre os tipos de processamentos em relação aos valores de pH. Para o tipo de grão, os valores de pH apresentaram-se maiores no grão cru e menores na torração clara. O café natural apresentou um maior valor tanto no grão cru quanto na torração média, o mesmo não ocorrendo com os demais.

Os valores de pH encontrados pela OIC (1992) estão na faixa de 5,31 a 5,61 para amostras de cafés comerciáveis. No presente trabalho, os valores de pH com a torração média estão dentro da faixa proposta pela OIC (1992). Os valores do grão cru (5,73 a 5,88) encontrados nesse trabalho estão de acordo com o trabalho de Barrios (2001).

Segundo Sivetz & Desrosier (1979), as variações de pH com a torração pode ser de suma importância na aceitação do produto pelo consumidor e indicam que o pH ideal é de 4,95 a 5,20 para tornar o café palatável. Os resultados de pH do presente trabalho, quanto à torração média superou o pH ideal, podendo este café apresentar-se com ligeiro excesso de amargor ou acidez.

Dentro do tipo de processamento, o café natural apresentou um maior valor de acidez quando comparado com os demais, que não diferiram entre si. O café natural manteve o mesmo comportamento em relação ao tipo de grão, apresentando os maiores valores de acidez.O café despolpado obteve os maiores valores de acidez no grão cru e na torração média. E o café descascado somente apresentou o maior valor na torração média.

Tabela 2

Tabela 3

Com a torração média os valores de acidez não diferiram entre os diferentes tipos de processamento.

Segundo Carvalho et al. (1994), a acidez dos grãos de café beneficiado tem relação inversa com a qualidade do café. A acidez tem um valor mais alto para o café torrado que no café verde. Estes mesmos autores detectaram maior acidez em cafés de pior qualidade.

Os cafés natural e despolpado apresentaram os maiores valores de cafeína dentro do grão cru, não diferindo significativamente entre si. Na torração clara e média, o café natural também apresentou os maiores valores. À medida que aumentava o grau de torração, os valores de cafeína apresentavam-se com um ligeiro decréscimo. Dentro do tipo de grão, o grão cru apresentou o maior valor e a torração média o menor valor.

Este composto permanece quase inalterado na torração, com exceção de frações mínimas que são sublimadas a 176ºC e que se acumulam nas pilhas de cafés torrados. Por outro lado, Fobé et al. (1967/1968) encontraram variações nos teores de cafeína entre diferentes graus de torração.

O valor do ácido clorogênico variou entre os três tipos de processamento, sendo o café descascado o que apresentou maior valor para o grão cru. Com a torração, os valores do ácido clorogênico apresentaram um ligeiro aumento, sendo a torração média a que apresentou o maior valor. Os diferentes tipos de processamentos seguiram o mesmo comportamento com a torração, no qual o café natural apresentou o maior valor e o café descascado o menor valor.

Carelli et al. (1974) verificaram teores de ácido clorogênico para a espécie Coffea arábica variando entre 6,63 a 8,20%, e para a espécie Coffea canephora de 10,3%. Os resultados do presente trabalho estão abaixo do citado por este autor.

Para o índice de cor, o café despolpado apresentou o maior valor desta variável para o café cru. Entretanto, na torração clara e média, o café natural apresentou os maiores índices de coloração. O mesmo comportamento pode ser observado nos três tipos de processamento com relação à torração, em que o café natural apresentou o maior valor e o café despolpado o menor valor no índice de coloração.

Os resultados do índice de cor estão de acordo com Carvalho et al. (1989), que constataram um maior índice para os cafés de melhor qualidade e que os cafés de piores bebidas apresentaram índices de coloração inferiores a 0,70, o que pode ser observado para o café natural dentro do grão cru.

Tabela 4

Tabela 5

Tabela 6

Tabela 7

A cor é o principal controlador do ponto final de torração. Na maioria das indústrias, através de uma amostra padrão, controla-se continuamente a cor do café que está sendo torrado (ILLY & VIANNI, 1995). Para o café cru, a cor é a característica que chama a atenção na comercialização (AMORIM et al., 1976; MÔNACO, 1961).

Os valores de polifenóis não diferiram significativamente entre os três tipos de processamentos. Para o grão cru, esses valores também não diferiram entre os processamentos. Com a torração clara os valores de polifenóis aumentaram, sendo que o café natural e despolpado não diferiram entre si, obtendo os maiores valores. Na torração média esses valores decresceram, e o café natural apresentou o maior valor de polifenol.

A concentração de polifenóis é inversamente proporcional à qualidade da bebida, sendo diretamente relacionada ao grau de ataque de microorganismos e ao estádio de maturação dos frutos (CARVALHO et al., 1989).

Em relação à análise sensorial, verificou-se que não houve diferença na qualidade do café produzido com irrigação, em função de diferentes tipos de processamento e dos diferentes graus de torração, sendo os cafés classificados como padrão de bebida dura.

CONCLUSÕES

Independente do sistema de processamento e tipos de torração, os cafés apresentaram boa qualidade, sendo classificados como bebida dura.

Para o tipo de grão, torração clara e torração média, o café natural apresentou os melhores resultados nas variáveis: pH, acidez, cafeína e polifenóis. Somente na variável pH com torração clara, o café natural apresentou o menor valor.

O café despolpado, no tipo de grão, apresentou melhores resultados juntamente com o café natural em: polifenóis, cafeína, acidez, diferindo deste em índice de coloração, na torração clara apresentou o melhor resultado em polifenóis e na torração média em acidez e pH.

Para tipo de grão, o café descascado somente obteve o maior valor na variável ácido clorogênico. Não variando nos teores de polifenóis com o café natural e despolpado. Na torração clara, o café descascado apresentou maior valor de pH e na torração média também não houve variação dos três tipos de processamento quanto aos valores de acidez.

(Recebido para publicação em 20 de dezembro de 2003 e aprovado em 7 de julho de 2005)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2006

Histórico

  • Aceito
    07 Jul 2005
  • Recebido
    20 Dez 2003
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