Acessibilidade / Reportar erro

Meninos e leitura

Boys and reading

RESENHA

Meninos e leitura

Boys and reading

Geraldina Porto Witter

Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: End. Av. Pedroso de Morais, 144, ap. 302 - Pinheiros São Paulo-SP CEP:05420-000 Tel: (011) 3231-1968 E- mail: gwitter@uol.com.br

É frequente na literatura sobre alfabetização e sobre problemas de leitura serem referidas diferenças de gênero, tendo os meninos desempenho indicativo de maior dificuldade. Subjacentes estão muitas variáveis. Uma das consequências destas diferenças observáveis levou ao desenvolvimento de estratégias de ensino diferenciadas para melhor atender a cada gênero. Um destes trabalhos é o aqui resenhado e tem por foco alunos do gênero masculino.

Debby Zambo é psicólogo educacional e docente da Arizona State University e Willian G. Brozo é educador que leciona na George Mason University at Fairfax. Ambos são pessoas com longa experiência de ensino e pesquisa na área da leitura.

O livro compreende Apresentação, Prefácio, seis capítulos e um Apêndice. A Apresentação é assinada por Thomas Newskirk, da University of New Hampshire, que retoma seus antepassados para lembrar as dificuldades de ensino-aprendizagem dos meninos quando comparadas com as apresentadas pelas meninas. O Prefácio foi escrito pelos autores, que retomam suas próprias histórias como pessoas atuantes na área. Caracterizam os professores como a audiência a que se destina prioritariamente o livro, estejam eles atuando na educação em geral ou com estudantes com necessidades especiais, mas também podendo ser pessoas no exercício da tutoria em programas de alfabetização, leitura e escrita. Também tiveram o cuidado de incluir sugestões para pais, bibliotecários, cuidadores e qualquer pessoa interessada na matéria.

O primeiro capítulo trata das razões e das vantagens de se dar apoio diferenciado para o gênero masculino para que seja aproveitada sua imaginação, curiosidade e autorregulação, obtendo-se atenção sustentada e motivação; e oferecer a eles, via textos bons, modelos de masculinidade honrada. Justificam a preocupação em focar os meninos, pois os resultados de pesquisas mostram que, em relação ao outro gênero, tendem a obter notas mais baixas, a ser mais reprovados, com maior número de encaminhamentos para a educação especial e para turmas de remediação a ter mais problemas de atenção e de hiperatividade e, assim, a se evadir mais frequentemente da escolas. Todavia é possível tornar todos os meninos leitores ativos se cuidados adequados forem tomados, sendo indicados alguns, explorados nos capítulos seguintes.

O capítulo 2 trata das influências que sofrem os meninos em seu desenvolvimento físico e cognitivo e como isso influi na aprendizagem da alfabetização. Enfocam as diferenças de gênero em linguagem receptiva, fluência, sintaxe, semântica e pragmática. Tendo por foco os meninos, trata de seleção de textos, de como usar os personagens dos livros de figura, da neurociência e do ambiente. Trata das múltiplas variáveis dos livros infantis, que podem ser usados para trabalhar aspectos essenciais da formação do homem, além do que podem oferecer para a alfabetização. Sugestões muito úteis são apresentadas.

Considerando a relevância de se conhecer o desenvolvimento social e emocional dos meninos é que elaboraram o capítulo 3. Recorrem aos livros de figuras e textos infantis para trabalhar o processo de aprendizagem da leitura e outros comportamentos subjacentes, como a perseverança, capacitação para responder, o desenvolvimento social, a generosidade, coragem e emoções para a leitura. São dados exemplos e orientações úteis para quantos trabalham com meninos.

O clima de sala de aula é fundamental para que ocorra ensino-aprendizagem, retenção e generalização do aprendido. São particularmente importantes no caso da educação infantil e no ensino fundamental, destacando-se no capítulo 4, as necessidades dos pequenos do gênero masculino. Atenção especial deve ser dada à escolha das melhores formas de instrução, à variabilidade de habilidades instrucionais, à constituição de uma comunidade de aprendizagem e às experiências que serão oferecidas aos alunos. Descrevem as várias características que uma comunidade de sala de aula deve ter para que se tenha o êxito pretendido no desenvolvimento da linguagem. Apresentam como usar vários recursos para garantir a aprendizagem pretendida de modo que os alunos também aprendam o prazer da leitura. Retomam as práticas discentes durante e após a leitura.

O capítulo 5 trata do emparelhamento das atividades de leitura com os interesses dos meninos e de suas relações com a vida real dos mesmos. Há uma estreita relação entre interesse, motivação e leitura, que os professores e os que atuam junto a crianças não podem esquecer. Para tanto, precisam ler sobre os interesses de seus alunos e como avaliá-los, para o que apresentam um instrumento interessante, que poderia ser pesquisado na realidade brasileira. Também oferecem roteiro para o uso eficiente de livros, entre outras estratégias. Descrevem recursos, estratégias e instrumentos para estabelecer a necessária relação com a realidade, úteis a docentes, tutores, pais e pesquisadores.

Hoje, as relações escola - lar - comunidade são muito valorizadas pelo que pode resultar de produtivo na educação e na cultura em geral. No capítulo 6 os autores consideram como elas podem enriquecer o desenvolvimento dos meninos. A influência da família é marcante, posto que o ambiente do lar promove a aprendizagem, os pais estabelecem expectativas para seus filhos e, via de regra, estão interessados em participar da educação de seus filhos na escola e na comunidade. A escola deve envolver pais, cuidadores e tutores da comunidade. Para tanto, dados e sugestões eficientes são encontradas nas bases bibliográficas.

Em todos os capítulos há encartes de textos que ilustram as propostas e orientações apresentadas pelos autores. São textos e exercícios variados. Ao final dos capítulos o leitor é estimulado para repensar temas e responder a questões que em geral requerem ir além do texto.

O Apêndice apresenta uma série de textos literários com personagens masculinos que demonstram valores positivos para este gênero. Os textos foram organizados de acordo com o valor positivo que dele se destaca: cooperação, coragem, generosidade, honestidade, perseverança, respeito, responsabilidade e tolerância. Para cada livro é apresentada a referência bibliográfica e uma breve descrição da temática tratada no livro. Seria muito útil para professores e pesquisadores brasileiros contar com informação similar organizada da forma que aparece no livro.

O apoio bibliográfico usado pelos autores é rico, com predomínio de artigos, incluindo clássicos, mas com alta frequência de textos recentes. O índice de conteúdo e de autores facilita a reconsulta por tópicos e autores específicos.

Embora o foco da atenção sejam os meninos, muitas estratégias são aplicáveis ao gênero oposto, requerendo apenas cuidado na escolha do material de leitura. O livro é muito rico em práticas educacionais que permitem reestruturar o ensino de forma simples, tornando-o mais eficiente e prazeroso. São práticas e estratégias que poderiam ser pesquisadas no Brasil, buscando contribuir para instrumentar a atividade docente.

Recebido em junho de 2008

Reformulado em julho de 2009

Aprovado em agosto de 2009

Sobre a autora:

Geraldina Porto Witter é doutora em Ciências, livre-docente em Psicologia Escolar e coordenadora geral da Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Camilo Castelo Branco - UNICASTELO.

  • Zambo, D. & Brozo, W. G. (2008). Bright beginnings for boys? Engaging young boys in active literacy Newark, Del: IRA, xiii, 178 p.
  • Endereço para correspondência:

    End. Av. Pedroso de Morais, 144, ap. 302 - Pinheiros
    São Paulo-SP CEP:05420-000
    Tel: (011) 3231-1968
    E- mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Abr 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009
    Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: revistapsico@usf.edu.br