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Teoria da Mente e Empatia em Adultos Típicos: Uma Revisão de Escopo

Theory of Mind and Empathy in Typical Adults: A Scoping Review

Teoría de la Mente y Empatía en Adultos Típicos: Una Revisión Panorámica

Resumo

Teoria da mente e empatia são habilidades sociocognitivas implicadas na compreensão do mundo social e elaboração de respostas em contextos sociais. Entretanto, é preciso ainda avançar na precisão como as pesquisas apresentam esses constructos e as relações entre eles. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão de escopo a respeito das relações conceituais apontadas entre teoria da mente e empatia em pesquisas que investigam diferenças socioindividuais em adultos típicos, bem como organizar essas produções em função de categorias temáticas. Foram analisados 62 artigos, sendo observados cinco diferentes modelos de articulações conceituais entre teoria da mente e empatia e três núcleos de produção temática, ligados ao comportamento social, às variações fisiológicas na vida cotidiana, e, às variações cognitivas, afetivas e sociais. Discutem-se também avanços e limitações nessa área, apontando-se tanto para uma profícua produção como para a necessidade de se avançar na construção de parâmetros mais precisos nessa área.

Palavras-chave:
teoria da mente; empatia; adultos; cognição social

Abstract

Theory of mind and empathy constitute sociocognitive skills central to understanding the social world and formulating responses within social contexts. However, studies continue to face the challenge of clarifying their boundaries and unraveling the presumed connections between them. This study aimed to conduct a scoping review of the conceptual interplay between theory of mind and empathy in research exploring socio-individual differences in typical adults, while also organizing these findings according to thematic categories. A total of 62 articles were analyzed, revealing five different models of relations between theory of mind and empathy, as well as three thematic production nuclei linked to social behavior, physiological variations in daily life, and cognitive, affective, and social variations. The study also discusses advancements and limitations in this field, pointing out both a fruitful production and the need to advance in the construction of more precise parameters in this area.

Keywords:
Theory of Mind; Empathy; Adults; Social Cognition

Resumen

La teoría de la mente y la empatía son habilidades sociocognitivas implicadas en la comprensión del mundo social y la elaboración de respuestas en contextos sociales. Sin embargo, todavía es necesario avanzar en la precisión con la que las investigaciones presentan estos constructos y las relaciones entre ellos. El objetivo de este estudio fue realizar una revisión de alcance de las relaciones conceptuales entre la teoría de la mente y la empatía en las investigaciones sobre las diferencias socio-individuales en los adultos típicos, así como organizar estas producciones según categorías temáticas. Se analizaron 62 artículos y fueron identificados cinco modelos diferentes de relación entre la teoría de la mente y la empatía y tres núcleos de producción temática: comportamiento social, variaciones fisiológicas y variaciones cognitivas, afectivas y sociales. También se discuten los avances y las limitaciones en esta área, señalando tanto una producción fructífera como la necesidad de avanzar en la construcción de parámetros más precisos en este campo.

Palabras clave:
Teoría de la Mente; Empatía; Adultos; Cognición Social

Introdução

Teoria da mente (ToM) é uma habilidade sociocognitiva definida como a habilidade de atribuir estados mentais, como crenças, desejos e intenções, e que nos permite, assim, explicar e predizer o comportamento das pessoas nas nossas relações cotidianas (Wellman, 2018Wellman, H. M. (2018). Theory of mind: The state of the art. European Journal of Developmental Psychology, 15(6), 728-755. https://doi.org/10.1080/17405629.2018.1435413
https://doi.org/10.1080/17405629.2018.14...
). Essa habilidade não diz respeito apenas à aquisição dos conceitos, mas se relaciona com questões que influenciam a maneira como as pessoas a utilizam cotidianamente, como a motivação do sujeito em se engajar nesses processos, e que vão constituir diferenças socioindividuais no curso do desenvolvimento (Apperly, 2012Apperly, I. A. (2012). What is “theory of mind”? Concepts, cognitive processes and individual differences. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 65(5), 825-839. https://doi.org/10.1080/17470218.2012.676055
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).

A empatia é comumente definida como um constructo multidimensional, envolvido no estabelecimento e desenvolvimento das relações entre as pessoas. Os aspectos cognitivos da empatia estão relacionados à habilidade de raciocinar sobre a perspectiva de outro indivíduo e os aspectos afetivos dizem respeito às emoções mobilizadas em si ao perceber estados mentais nos outros (Blair, 2006Blair, R. (2006). Responding to the Emotions of Others: Dissociating Forms of Empathy Through the Study of Typical and Psychiatric Populations. Consciousness and cognition, 14(4), 698-718. https://doi.org/10.1016/j.concog.2005.06.004
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). Inicialmente, os estudos sobre ToM e empatia buscavam investigar seu processo de desenvolvimento durante a infância (Wellman & Liu, 2004Wellman, H. M., & Liu, D. (2004). Scaling of theory-of-mind tasks. Child development, 75(2), 523-541. https://doi.org/10.1111/j.1467-8624.2004.00691.x
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) ou tinham seu foco voltado para a compreensão de déficits existentes em populações clínicas (Baron-Cohen et al., 2001Baron-Cohen, S., Wheelwright, S., Hill, J., Raste, Y., & Plumb, I. (2001). The “Reading the Mind in the Eyes” Test revised version: a study with normal adults, and adults with Asperger syndrome or high-functioning autism. The Journal of Child Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines, 42(2), 241-251.). Os achados desses estudos abriram caminhos para novas questões sobre o tema, como o interesse em compreender os fatores ligados a maneira como as pessoas utilizam a ToM e a empatia, configurando diferenças socioindividuais.

Um dos desafios nas pesquisas nessa área, entretanto, está na forma difusa que muitas vezes os conceitos são abordados nos estudos, carecendo de precisão na definição de seus contornos ou de clareza na descrição das relações assumidas entre eles (Mar et al., 2006*Mar, R. A., Oatley, K., Hirsh, J., dela Paz, J., & Peterson, J. B. (2006). Bookworms versus nerds: Exposure to fiction versus non-fiction, divergent associations with social ability, and the simulation of fictional social worlds. Journal of Research in Personality, 40(5), 694-712. https://doi.org/10.1016/j.jrp.2005.08.002
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; Tollenaar & Overgaauw, 2020*Tollenaar, M. S., & Overgaauw, S. (2020). Empathy and mentalizing abilities in relation to psychosocial stress in healthy adult men and women. Heliyon, 6(8), 1-10. https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e04488
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). Os termos ToM, perspective taking, empatia cognitiva, mindreading e mentalizing, por exemplo, são considerados na literatura como sinônimos ou como categorias distintas, de acordo com o modelo teórico utilizado. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de revisar as produções científicas sobre adultos típicos, no contexto socioindividual, que articulam ToM e empatia. Neste trabalho, investigou-se como esses conceitos da sociocognição são abordados e mapeou-se as áreas temáticas das pesquisas em que estão inseridos, contribuindo para uma análise reflexiva das produções nessa área de conhecimento e procurando apontar caminhos para futuras pesquisas.

Método

Para esta revisão de escopo foram observadas as orientações do capítulo 11, sobre Scoping Reviews, do manual desenvolvido pelo Joannna Briggs Institute (JBI) (Peters et al., 2017Peters M. D. J., Godfrey C., McInerney P., Baldini Soares C., Khalil H., & Parker D. (2017) Chapter 11: Scoping Reviews. Em Aromataris E, Munn Z (Editors). Joanna Briggs Institute Reviewer’s Manual. The Joanna Briggs Institute. Recuperado de https://reviewersmanual.joannabriggs.org/.
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). Conforme as recomendações do manual JBI, foi adotado também o checklist elaborado por Tricco et al. (2018Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, … Straus, S. E. (2018). PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): Checklist and Explanation. Annals of Internal Medicine, 169(7), 467-473. https://doi.org/10.7326/M18-0850
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), o PRISMA ScR, registrado no Enhancing the Quality and Transparency of Health Research (EQUATOR).

A estratégia utilizada para identificar os tópicos chave dessa pesquisa foi a “População, Conceito e Contexto” (PCC) (Peters et al., 2015Peters, M. D., Godfrey, C. M., Khalil, H., McInerney, P., Parker, D., & Soares, C. B. (2015). Guidance for conducting systematic scoping reviews. JBI Evidence Implementation, 13(3), 141-146. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050
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). Assim, definiu-se para este estudo, a População de adultos típicos (população não clínica); os Conceitos de Empatia e Teoria da Mente; e, o Contexto das diferenças socioindividuais. Dessa maneira, a pergunta principal que essa revisão buscou responder foi “que relações são apontadas entre ToM e empatia em pesquisas que investigam diferenças socioindividuais no desenvolvimento de adultos típicos”. Além disso, foi utilizada como pergunta secundária, para auxiliar na compreensão da questão principal: “como os conceitos teóricos ‘ToM’ e ‘empatia’ são apresentados?”

A busca nas bases de dados incluiu todas as produções disponíveis até agosto de 2021.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos artigos que tiveram como população alvo adultos típicos, de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, incluindo estudos que fizessem comparações entre sujeitos com essa faixa etária e de outras idades. Além disso, os artigos deviam tomar a ToM e a empatia como seus objetos de estudo, mesmo nas situações em que eles são considerados como sinônimos. Outros termos referentes à área da sociocognição, como mentalizing e perspective taking (PT), foram considerados na busca da revisão, mas não foram tomados, necessariamente, como equivalentes a ToM ou empatia (dependendo, portanto, de como o próprio texto apresenta os conceitos).

Referente ao contexto, foram incluídas as produções que exploravam as diferenças socioindividuais no curso do desenvolvimento. Artigos que investigavam aspectos do funcionamento neurológico, lesões, transtornos psicológicos ou traços de transtornos, foram excluídos. Também foram excluídos os trabalhos referentes ao desenvolvimento, tradução, adaptação ou validação de instrumentos de pesquisa.

Foram incluídos apenas estudos do tipo qualitativo, quantitativo ou de métodos mistos que tenham sido publicados em revistas científicas e passado pelo processo de revisão por pares. Somente foram incluídos nessa revisão artigos disponíveis em português, espanhol ou inglês.

Estratégia de Busca

Foi utilizada como estratégia de busca: (“Theory of Mind” OR “Teoría de la Mente” OR “Teoria da Mente” OR Mentalizing OR Mentalizings OR Mentalization OR Mentalización OR Mentalização OR “Cognitive Empathy” OR “Empatia cognitiva”) AND (Adult OR Adulto OR Adultos) AND (Empathy OR Empatía OR Empatia).

Em seguida, com a estratégia estruturada, foi conduzida uma busca nas bases de dados definidas como relevantes para a revisão: BVS, Pubmed, PsycINFO, e Web of Science. Finalmente, foi realizada uma busca nas referências bibliográficas dos artigos selecionados para a revisão, bem como incluídos artigos de conhecimento dos pesquisadores que atendiam aos critérios de inclusão e que não foram identificados nas buscas.

Seleção de Estudos

A seleção dos estudos que compuseram a revisão foi realizada por dois pesquisadores da área e em duas fases. Em um primeiro momento os artigos foram analisados pelo título e resumo. Em seguida, aqueles que cumpriam os critérios definidos para inclusão foram lidos integralmente e submetidos a nova análise. Os textos que respeitaram os parâmetros da revisão foram eleitos para a extração de dados. Nos casos de discordâncias ou dúvidas a respeito da inclusão ou exclusão de algum trabalho, os pesquisadores debateram sobre as particularidades observadas até chegarem a uma decisão por consenso.

Extração de Dados

As informações extraídas dos artigos para compor o registro de dados da revisão foram: autor; ano da publicação; país de origem; objetivo do estudo; população; método; resultados do estudo; e, “como os conceitos ToM e Empatia são apresentados”.

Resultados e Discussão

A estratégia de busca resultou em 1759 artigos. Outros 5 artigos foram adicionados aos resultados com base na busca de textos nas referências dos artigos encontrados na estratégia de busca. Após o processo de remoção de textos duplicados, e empregando-se os critérios de inclusão e exclusão, chegou-se a 62 artigos que compuseram a amostra para síntese de conteúdo (os textos incluídos nesta revisão estão indicados com um asterisco nas Referências). Foram utilizados os softwares Mendeley, Endnote e Excel para a organização, leitura e fichamento do material. A descrição detalhada desse processo encontra-se no diagrama de fluxo PRISMA-ScR (Figura 1.).

Figura 1
Diagrama de fluxo PRISMA-ScR.

O primeiro trabalho identificado foi realizado em 2005 (Dziobek et al., 2005*Dziobek, I., Rogers, K., Fleck, S., Hassenstab, J., Gold, S., Wolf, O. T., & Convit, A. (2005). In search of “master mindreaders”: Are psychics superior in reading the language of the eyes? Brain and Cognition, 58(2), 240-244. https://doi.org/10.1016/j.bandc.2004.12.002
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). Entretanto, percebe-se um aumento importante na produção de artigos sobre ToM e empatia em indivíduos adultos em anos recentes (Figura 2), sendo 33 dos textos científicos na área (53,2%) referentes ao período de 2016 a 2021. A maior parte das produções (77,4%) foi realizada por pesquisadores de países de cultura ocidental, sendo os países com maior número de produções os Estados Unidos e a Alemanha (Figura 2).

Figura 2
Número e local das publicações distribuídas por ano.

A ferramenta mais utilizada para estudar a ToM nos artigos captados pela revisão foi o Reading the Mind in the Eyes Test/RMET (Baron-Cohen et al., 2001Baron-Cohen, S., Wheelwright, S., Hill, J., Raste, Y., & Plumb, I. (2001). The “Reading the Mind in the Eyes” Test revised version: a study with normal adults, and adults with Asperger syndrome or high-functioning autism. The Journal of Child Psychology and Psychiatry and Allied Disciplines, 42(2), 241-251.), instrumento que investiga o desempenho do participante em inferir estados mentais a partir de uma imagem da região dos olhos, mas que não considera outros aspectos importantes no uso da ToM em situações cotidianas, como as informações contextuais disponíveis no ambiente. Quanto à empatia, os instrumentos mais utilizados foram escalas autoavaliativas, como o Interpersonal Reactivity Index/IRI (Davis, 1983Davis, M. H. (1983). Measuring individual differences in empathy: Evidence for a multidimensional approach. Journal of Personality and Social Psychology, 44(1), 113-126. https://doi.org/10.1037/0022-3514.44.1.113
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), que indicam como a pessoa percebe que os estados mentais de outros impactam em seus próprios pensamentos e sentimentos, mas não exploram como elas realmente reagem em situações concretas.

A revisão de escopo também permitiu captar a delimitação e o uso dos conceitos de teoria da mente e empatia na literatura. Nos estudos, os constructos da empatia e da ToM são referidos com o uso de parâmetros conceituais bastante diferentes e, algumas vezes, contraditórios. Apesar de contarem com um certo núcleo de significação razoavelmente estável, a diversidade de sentidos é tão acentuada que parece importante não tomar nenhum dos dois termos como consensuais, mas antes, levar em conta a apresentação que os pesquisadores fazem no próprio estudo para ter clareza do que, efetivamente, está sendo tratado por empatia ou por ToM.

A respeito da ToM, existe um consenso em defini-la como um processo cognitivo referente à habilidade de atribuir estados mentais (pensamentos, desejos, crenças, emoções) a si e aos outros (Wellman, 2018Wellman, H. M. (2018). Theory of mind: The state of the art. European Journal of Developmental Psychology, 15(6), 728-755. https://doi.org/10.1080/17405629.2018.1435413
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). Entretanto, as pesquisas fazem referência a diferentes formas de explorar certos aspectos da ToM ou seus níveis de complexidade, como, por exemplo, considerar a ToM de primeira ou de segunda ordem (Duval et al., 2011*Duval, C., Piolino, P., Bejanin, A., Eustache, F., & Desgranges, B. (2011). Age effects on different components of theory of mind. Consciousness and Cognition, 20(3), 627-642. https://doi.org/10.1016/j.concog.2010.10.025
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; Nolaker et al., 2018*Nolaker, E. J., Murray, K., Happe, F., & Charlton, R. A. (2018). Cognitive and Affective Associations with an Ecologically Valid Test of Theory of Mind Across the Lifespan. Neuropsychology, 32(6), 754-763. https://doi.org/10.1037/neu0000464
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), possuindo dois estágios, o primeiro se referindo à atribuição de estado mental e o segundo à inferência de conteúdo (Bailey et al., 2008*Bailey, P. E., Henry, J. D., & Von Hippel, W. (2008). Empathy and social functioning in late adulthood. Aging & Mental Health, 12(4), 499-503.), ou então como “ToM básica” ou “ToM avançada” (Van Doesum et al., 2013*Van Doesum, N. J., Van Lange, D. A. W., & Van Lange, P. A. M. (2013). Social mindfulness: Skill and will to navigate the social world. J Pers Soc Psychol, 105(1), 86-103. https://doi.org/10.1037/a0032540
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).

Ainda há alguns estudos que têm dividido a ToM em função da natureza do estado mental atribuído. A habilidade de inferir sobre crenças, pensamentos e motivações tem sido chamada de ToM cognitiva ou cold ToM e a habilidade de inferir sobre emoções tem sido chamada de ToM afetiva ou hot ToM (Duval et al., 2011*Duval, C., Piolino, P., Bejanin, A., Eustache, F., & Desgranges, B. (2011). Age effects on different components of theory of mind. Consciousness and Cognition, 20(3), 627-642. https://doi.org/10.1016/j.concog.2010.10.025
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; Nolaker et al., 2018*Nolaker, E. J., Murray, K., Happe, F., & Charlton, R. A. (2018). Cognitive and Affective Associations with an Ecologically Valid Test of Theory of Mind Across the Lifespan. Neuropsychology, 32(6), 754-763. https://doi.org/10.1037/neu0000464
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; Spenser et al., 2015*Spenser, K. A., Betts, L. R., & Das Gupta, M. (2015). Deficits in Theory of Mind, empathic understanding and moral reasoning: A comparison between young offenders and non-offenders. Psychology Crime & Law, 21(7), 632-647. https://doi.org/10.1080/1068316x.2015.1028542
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).

A definição mais frequente da empatia é a de um constructo bidimensional, que conta com um domínio cognitivo, que diz respeito à capacidade de compreender o estado mental do outro, sem a necessidade de compartilhar qualquer estado emocional, e um domínio afetivo, também chamado de emocional (estes termos são tratados como sinônimos), que diz respeito à capacidade de responder de maneira vicária, emocionalmente congruente, aos estados cognitivos ou afetivos percebidos no outro (Bailey & Henry, 2008*Bailey, P. E., & Henry, J. D. (2008). Growing less empathic with age: Disinhibition of the self-perspective. The Journals of Gerontology: Series B: Psychological Sciences and Social Sciences, 63(4), 219-226. Doi:10.1093/geronb/63.4.P219
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; Likowski et al., 2011*Likowski, K. U., Mühlberger, A., Seibt, B., Pauli, P., & Weyers, P. (2011). Processes underlying congruent and incongruent facial reactions to emotional facial expressions. Emotion, 11(3), 457-467. https://doi.org/10.1037/a0023162
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; Thakkar et al., 2009*Thakkar, K. N., Brugger, P., & Park, S. (2009). Exploring Empathic Space: Correlates of Perspective Transformation Ability and Biases in Spatial Attention. PLoS One , 4(6), 1-8. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0005864
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).

Em alguns estudos a empatia emocional foi dividida em dois processos: diretos, ou explícitos, que é a capacidade de compartilhar do estado emocional de outra pessoa, e indiretos, ou implícitos, que diz respeito à excitação que é percebida em si diante de um estímulo emocional observado em outra pessoa (Artinger et al., 2014*Artinger, F., Exadaktylos, F., Koppel, H., & Sääksvuori, L. (2014). In Others’ Shoes: Do individual differences in empathy and theory of mind shape social preferences? PLoS One, 9(4), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0092844
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). Além disso, a empatia tem sido abordada como traço, um perfil de comportamento característico do sujeito, e estado, que é a resposta que a pessoa dá diante de uma situação emocional específica (Beadle et al., 2012*Beadle, J. N., Paradiso, S., Kovach, C., Polgreen, L., Denburg, N., & Tranel, D. (2012). Effects of Age-related Differences in Empathy on Social Economic Decision-Making. Int Psychogeriatr, 24(5), 822-833. https://doi.org/10.1017/s1041610211002547
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; Beadle et al., 2015).

Existem, entretanto, modelos conceituais divergentes a respeito da empatia. Alguns estudos, por exemplo, consideram como empatia somente a dimensão afetiva ou emocional (Artinger et al., 2014*Artinger, F., Exadaktylos, F., Koppel, H., & Sääksvuori, L. (2014). In Others’ Shoes: Do individual differences in empathy and theory of mind shape social preferences? PLoS One, 9(4), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0092844
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; Ayribas & Toprak, 2021*Ayribas, B., & Toprak, T. (2021). New approach to patients with premature ejaculation: Do social cognition and attachment profiles play a role in premature ejaculation? Andrologia, 53(1), 1-8. https://doi.org/10.1111/and.13882
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; Goldstein et al., 2009*Goldstein, T. R., Wu, K., & Winner, E. (2009). Actors are skilled in theory of mind but not empathy. Imagination, Cognition and Personality, 29(2), 115-133. https://doi.org/10.2190/IC.29.2.c
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; Reiter et al., 2017*Reiter, A. M. F., Kanske, P., Eppinger, B., & Li, S. C. (2017). The Aging of the Social Mind - Differential Effects on Components of Social Understanding. Scientific Reports, 7(1), 1-8. https://doi.org/10.1038/s41598-017-10669-4
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). Outro modelo, considera que há uma terceira dimensão, além da afetiva e cognitiva, que seriam os mecanismos regulatórios. Eles seriam responsáveis pela habilidade de distinguir entre si e o outro em relação às emoções vivenciadas (Khanjani et al., 2015*Khanjani, Z., Jeddi, E. M., Hekmati, I., Khalilzade, S., Nia, M. E., Andalib, M., & Ashrafian, P. (2015). Comparison of Cognitive Empathy, Emotional Empathy, and Social Functioning in Different Age Groups. Australian Psychologist, 50(1), 80-85. https://doi.org/10.1111/ap.12099
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; Ze et al., 2014*Ze, O., Thoma, P., & Suchan, B. (2014). Cognitive and affective empathy in younger and older individuals. Aging Ment Health, 18(7), 929-935. https://doi.org/10.1080/13607863.2014.899973
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).

As relações estabelecidas entre ToM e empatia na literatura também são diversas. Algumas afirmações sobre esses constructos são consenso entre os pesquisadores, como a importância dessas habilidades sociocognitivas para as relações sociais (Levy-Gigi & Shamay-Tsoory, 2017*Levy-Gigi, E., & Shamay-Tsoory, S. G. (2017). Help me if you can: Evaluating the effectiveness of interpersonal compared to intrapersonal emotion regulation in reducing distress. J Behav Ther Exp Psychiatry, 55(1), 33-40. https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2016.11.008
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; Tabullo et al., 2018*Tabullo, A. J., Navas Jiménez, V. A., & Silvana García, C. (2018). Associations between fiction reading, trait empathy and theory of mind ability. Int. j. psychol. psychol. ther, 18(3), 357-370. Recuperado de https://www.ijpsy.com/volumen18/num3/501/associations-between-fiction-reading-trait-EN.pdf
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). Entretanto, observou-se que a configuração da relação entre ToM e empatia foi apresentada nos textos de cinco formas diferentes: 1) estudos em que a empatia e a ToM foram apresentados como conceitos de domínios diferentes e independentes que estariam relacionados; nesse modelo, a empatia diz respeito ao compartilhamento de emoções observadas e a ToM à capacidade de compreender o raciocínio e emoções sociais das outras pessoas (Artinger et al., 2014*Artinger, F., Exadaktylos, F., Koppel, H., & Sääksvuori, L. (2014). In Others’ Shoes: Do individual differences in empathy and theory of mind shape social preferences? PLoS One, 9(4), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0092844
https://doi.org/10.1371/journal.pone.009...
; Reiter et al., 2017*Reiter, A. M. F., Kanske, P., Eppinger, B., & Li, S. C. (2017). The Aging of the Social Mind - Differential Effects on Components of Social Understanding. Scientific Reports, 7(1), 1-8. https://doi.org/10.1038/s41598-017-10669-4
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; Winter et al., 2017*Winter, K., Spengler, S., Bermpohl, F., Singer, T., & Kanske, P. (2017). Social cognition in aggressive offenders: Impaired empathy, but intact theory of mind. Sci Rep , 7(670), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745-0
https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745...
); 2) estudos que consideram a dimensão cognitiva da empatia como sinônimo ou equivalente à ToM (Edele et al., 2013*Edele, A., Dziobek, I., & Keller, M. (2013). Explaining altruistic sharing in the dictator game: The role of affective empathy, cognitive empathy, and justice sensitivity. Learning and Individual Differences, 24(1), 96-102. https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12.020
https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12...
; Guadagni et al., 2014*Guadagni, V., Burles, F., Ferrara, M., & Iaria, G. (2014). The effects of sleep deprivation on emotional empathy. Journal of Sleep Research, 23(6), 657-663. https://doi.org/10.1111/jsr.12192
https://doi.org/10.1111/jsr.12192...
; Ragsdale & Foley, 2011*Ragsdale, G., & Foley, R. A. (2011). A Maternal Influence on Reading the Mind in the Eyes Mediated by Executive Function: Differential Parental Influences on Full and Half-Siblings. PlosOne, 6(8), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0023236
https://doi.org/10.1371/journal.pone.002...
; Ze et al., 2014*Ze, O., Thoma, P., & Suchan, B. (2014). Cognitive and affective empathy in younger and older individuals. Aging Ment Health, 18(7), 929-935. https://doi.org/10.1080/13607863.2014.899973
https://doi.org/10.1080/13607863.2014.89...
); 3) estudos que consideram empatia cognitiva e ToM como conceitos relacionados (Thiel et al., 2018*Thiel, F., Ostafin, B. D., Uppendahl, J. R., Wichmann, L. J., Schlosser, M., & aan het Rot, M. (2018). A moderate dose of alcohol selectively reduces empathic accuracy. Psychopharmacology (Berl), 235(5), 1479-1486. https://doi.org/10.1007/s00213-018-4859-y
https://doi.org/10.1007/s00213-018-4859-...
); 4) estudos em que a ToM é entendida como um componente da empatia cognitiva (Gabay et al., 2016*Gabay, Y., Shamay-Tsoory, S. G., & Goldfarb, L. (2016). Cognitive and emotional empathy in typical and impaired readers and its relationship to reading competence. J Clin Exp Neuropsychol, 38(10), 1131-1143. https://doi.org/10.1080/13803395.2016.1199663
https://doi.org/10.1080/13803395.2016.11...
; Levy-Gigi & Shamay-Tsoory, 2017*Levy-Gigi, E., & Shamay-Tsoory, S. G. (2017). Help me if you can: Evaluating the effectiveness of interpersonal compared to intrapersonal emotion regulation in reducing distress. J Behav Ther Exp Psychiatry, 55(1), 33-40. https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2016.11.008
https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2016.11....
; Ramezani et al., 2019*Ramezani, A., Ghamari, M., Jafari, A., & Aghdam, G. F. (2019). The Effectiveness of a ToM Training Program in Promoting Empathy Between Married Couples. Journal of Couple & Relationship Therapy, 19(1), 1-25. https://doi.org/10.1080/15332691.2019.1620145
https://doi.org/10.1080/15332691.2019.16...
); e, finalmente, 5) estudos que não apontavam relações de forma explicita entre os conceitos de ToM e empatia (Ávila et al., 2016*Ávila, R. F., Morais, D., Bomfim, A. J., Chagas, M. H. N. (2016). Empatia e reconhecimento de expressões faciais de emoções básicas e complexas em estudantes de Medicina [Empathy and facial expression recognition of basic and complex emotions in medical students]. J Bras Psiquiatr, 65(3), 209-214. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000126
https://doi.org/10.1590/0047-20850000001...
; Mar et. al, 2006*Mar, R. A., Oatley, K., Hirsh, J., dela Paz, J., & Peterson, J. B. (2006). Bookworms versus nerds: Exposure to fiction versus non-fiction, divergent associations with social ability, and the simulation of fictional social worlds. Journal of Research in Personality, 40(5), 694-712. https://doi.org/10.1016/j.jrp.2005.08.002
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2005.08.00...
; Schimmenti et al., 2019*Schimmenti, A., Jonason, P. K., Passanisi, A., La Marca, L., Di Dio, N., & Gervasi, A. M. (2019). Exploring the Dark Side of Personality: Emotional Awareness, Empathy, and the Dark Triad Traits in an Italian Sample. Current Psychology, 38(1), 100-109. https://doi.org/10.1007/s12144-017-9588-6
https://doi.org/10.1007/s12144-017-9588-...
; Spenser et al., 2020*Spenser, K., Bull, R., Betts, L., & Winder, B. (2020). Underpinning prosociality: Age related performance in theory of mind, empathic understanding, and moral reasoning. Cognitive Development, 56(100928), 1-10. d https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2020.100928
https://doi.org/10.1016/j.cogdev.2020.10...
; Tollenaar & Overgaauw, 2020*Tollenaar, M. S., & Overgaauw, S. (2020). Empathy and mentalizing abilities in relation to psychosocial stress in healthy adult men and women. Heliyon, 6(8), 1-10. https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e04488
https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e...
; Wu et al., 2016*Wu, W. J., Sheppard, E., & Mitchell, P. (2016). Being Sherlock Holmes: Can we sense empathy from a brief sample of behaviour? British Journal of Psychology, 107(1), 1-22. https://doi.org/10.1111/bjop.12157
https://doi.org/10.1111/bjop.12157...
).

Perspective taking é um conceito usado recorrentemente nessa área e também é empregado de maneiras distintas nos estudos de empatia e ToM, sendo apontado ora como ‘ponto de intersecção’ entre ToM e empatia, ou seja, perspective taking como uma dimensão da ToM e também como uma dimensão da empatia (Tarighat, & Krott, 2021*Tarighat, S., & Krott, A. (2021). Bilingualism Enhances Reported Perspective Taking in Men, but Not in Women. Frontiers in psychology, 12(679524), 1-9, https://doi.org/0.3389/fpsyg.2021.679524
https://doi.org/0.3389/fpsyg.2021.679524...
; Vonk et al., 2013*Vonk, J., Zeigler-Hill, V., Mayhew, P., & Mercer, S. (2013). Mirror, mirror on the wall, which form of narcissist knows self and others best of all? Personality and Individual Differences , 54(3), 396-401. https://doi.org/10.1016/j.paid.2012.10.010
https://doi.org/10.1016/j.paid.2012.10.0...
), ora como um elemento distinto tanto de ToM como de empatia, mas relacionado a eles (Olderbak, & Willhelm, 2017*Olderbak, S., & Wilhelm, O. (2017). Emotion perception and empathy: An individual differences test of relations. Emotion, 17(7), 1092-1106. https://doi.org/10.1037/emo0000308.
https://doi.org/10.1037/emo0000308...
).

Percebe-se, portanto, uma polifonia de sentidos ligada à compreensão da ToM, empatia e de como esses constructos se relacionam. Grande parte desse efeito é devido às diferenças teórico-epistêmicas de onde essas pesquisas partiram, como por exemplo, teoria do apego, neuropsicobiologia, economia ou medicina. Por outro lado, essa colaboração de disciplinas distintas tem contribuído enormemente para o avanço na complexificação do que se sabe sobre a sociocognição (Apperly, 2012Apperly, I. A. (2012). What is “theory of mind”? Concepts, cognitive processes and individual differences. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 65(5), 825-839. https://doi.org/10.1080/17470218.2012.676055
https://doi.org/10.1080/17470218.2012.67...
). Dessa forma, é importante avançar em estudos que contribuam para a delimitação dos conceitos de teoria da mente e empatia, bem como estar atento a formas de comunicação, para que as pesquisas possam abordar com cada vez mais clareza a natureza e o funcionamento complexo desses elementos.

Além de permitir observar os diferentes modelos conceituais de articulação entre ToM e empatia utilizados nas pesquisas, a revisão de escopo também possibilitou organizar essas produções em função de categorias temáticas. Os núcleos temáticos identificados foram três, a saber, estudos que investigam o comportamento social, estudos que exploram variações fisiológicas, e, estudos que tratam de variações cognitivas, afetivas e sociais. Essa organização temática, apresentada a seguir, oferece eixos importantes para mapear os achados das produções, assim como para identificar lacunas na área.

ToM, Empatia e Comportamento Social

Um tema recorrente nos estudos são as relações entre diferentes formas de configuração de ToM e empatia e comportamentos sociais. Essas pesquisas geralmente abordam as questões ligadas aos comportamentos antissociais, pró-sociais ou fazem a análise da influência do contexto nos comportamentos (Paal & Bereczkei, 2007*Paal, T., & Bereczkei, T. (2007). Adult theory of mind, cooperation, machiavellianism: The effect of mindreading on social relations. Personality and Individual Differences, 43(3), 541-551. D https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.021
https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.0...
; Rosen et al., 2016*Rosen, J. B., Brand, M., & Kalbe, E. (2016). Empathy Mediates the Effects of Age and Sex on Altruistic Moral Decision Making. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 10(67), 1-16. https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067
https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067...
).

Os instrumentos mais utilizados para se investigar a tendência a agir pró-socialmente foram os jogos econômicos (Beadle et al., 2015*Beadle, J. N., Sheehan, A. H., Dahlben, B., & Gutchess, A. H. (2015). Aging, empathy, and prosociality. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, 70(2), 215-224. https://doi.org/10.1093/geronb/gbt091
https://doi.org/10.1093/geronb/gbt091...
; Girardi et al., 2018*Girardi, A., Della Sala, S., & MacPherson, S. E. (2018). Theory of mind and the Ultimatum Game in healthy adult aging. Experimental Aging Research, 44(3), 246-257. https://doi.org/10.1080/0361073x.2018.1449590
https://doi.org/10.1080/0361073x.2018.14...
; Li et al., 2019*Li, Z., Yu, J., Yang, X., & Zhu, L. (2019). Associations between empathy and altruistic sharing behavior in Chinese adults. J Gen Psychol, 146(1), 1-16. https://doi.org/10.1080/00221309.2018.1510826
https://doi.org/10.1080/00221309.2018.15...
). Os estudos têm avançado no sentido de evidenciar, por exemplo, que um bom desempenho em empatia cognitiva, tomada em geral como sinônimo de ToM, é um fator importante na estruturação de estratégias para a tomada de decisões sociais, mas que não é determinante para as pessoas adotarem comportamentos pró-sociais (Artinger et al., 2014*Artinger, F., Exadaktylos, F., Koppel, H., & Sääksvuori, L. (2014). In Others’ Shoes: Do individual differences in empathy and theory of mind shape social preferences? PLoS One, 9(4), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0092844
https://doi.org/10.1371/journal.pone.009...
; Edele et al., 2013*Edele, A., Dziobek, I., & Keller, M. (2013). Explaining altruistic sharing in the dictator game: The role of affective empathy, cognitive empathy, and justice sensitivity. Learning and Individual Differences, 24(1), 96-102. https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12.020
https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12...
; Rosen et al., 2016*Rosen, J. B., Brand, M., & Kalbe, E. (2016). Empathy Mediates the Effects of Age and Sex on Altruistic Moral Decision Making. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 10(67), 1-16. https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067
https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067...
).

A influência de aspectos afetivos da empatia nos comportamentos altruístas também é investigada, mas não há consenso sobre seu papel nessa questão. Alguns estudos apontam para uma correlação positiva entre empatia afetiva e comportamento pró-social (Edele et al., 2013*Edele, A., Dziobek, I., & Keller, M. (2013). Explaining altruistic sharing in the dictator game: The role of affective empathy, cognitive empathy, and justice sensitivity. Learning and Individual Differences, 24(1), 96-102. https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12.020
https://doi.org/10.1016/j.lindif.2012.12...
; Rosen et al., 2016*Rosen, J. B., Brand, M., & Kalbe, E. (2016). Empathy Mediates the Effects of Age and Sex on Altruistic Moral Decision Making. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 10(67), 1-16. https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067
https://doi.org/10.3389/fnbeh.2016.00067...
), mas outros não encontraram relações nesse sentido (Artinger et al., 2014*Artinger, F., Exadaktylos, F., Koppel, H., & Sääksvuori, L. (2014). In Others’ Shoes: Do individual differences in empathy and theory of mind shape social preferences? PLoS One, 9(4), 1-9. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0092844
https://doi.org/10.1371/journal.pone.009...
).

Vale ressaltar que as pesquisas citadas até aqui foram conduzidas com populações ocidentais e em países desenvolvidos, o que abre a possibilidade de se discutir sobre os vieses existentes nessa área. Um estudo conduzido com uma população oriental, apontou para correlações entre empatia cognitiva e comportamentos altruístas, em contraste aos achados apresentados até agora (Li et al., 2019*Li, Z., Yu, J., Yang, X., & Zhu, L. (2019). Associations between empathy and altruistic sharing behavior in Chinese adults. J Gen Psychol, 146(1), 1-16. https://doi.org/10.1080/00221309.2018.1510826
https://doi.org/10.1080/00221309.2018.15...
). Resultado semelhante foi observado em um estudo realizado com uma população do leste europeu, que também identificou correlações entre habilidades de ToM e tendências cooperativas (Paal & Bereczkei, 2007*Paal, T., & Bereczkei, T. (2007). Adult theory of mind, cooperation, machiavellianism: The effect of mindreading on social relations. Personality and Individual Differences, 43(3), 541-551. D https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.021
https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.0...
).

A respeito dos comportamentos antissociais, a agressividade é o tema mais recorrente. Esses estudos, em geral, foram conduzidos com participantes homens que possuem histórico de conduta violenta (Spenser et al., 2015*Spenser, K. A., Betts, L. R., & Das Gupta, M. (2015). Deficits in Theory of Mind, empathic understanding and moral reasoning: A comparison between young offenders and non-offenders. Psychology Crime & Law, 21(7), 632-647. https://doi.org/10.1080/1068316x.2015.1028542
https://doi.org/10.1080/1068316x.2015.10...
; Spenser et al., 2021*Spenser, K. A., Bull, R., Betts, L., & Winder, B. (2021). Gender differences in theory of mind, empathic understanding, and moral reasoning in an offending and a matched non-offending population. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 66(5), 587-603. https://doi.org/10.1177/0306624x211010287
https://doi.org/10.1177/0306624x21101028...
; Winter et al., 2017*Winter, K., Spengler, S., Bermpohl, F., Singer, T., & Kanske, P. (2017). Social cognition in aggressive offenders: Impaired empathy, but intact theory of mind. Sci Rep , 7(670), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745-0
https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745...
). Os resultados indicam que sujeitos agressivos mostravam respostas à empatia emocional reduzidas em comparação aos controles, o que tem sido correlacionado com severidade agressiva e com traços de alexitimia (Winter et al., 2017*Winter, K., Spengler, S., Bermpohl, F., Singer, T., & Kanske, P. (2017). Social cognition in aggressive offenders: Impaired empathy, but intact theory of mind. Sci Rep , 7(670), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745-0
https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745...
). Entretanto, os achados sobre ToM e empatia cognitiva ainda são alvo de debate. Há evidências indicando que as habilidades de ToM na população de agressores permanecem intactas (Winter et al., 2017*Winter, K., Spengler, S., Bermpohl, F., Singer, T., & Kanske, P. (2017). Social cognition in aggressive offenders: Impaired empathy, but intact theory of mind. Sci Rep , 7(670), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745-0
https://doi.org/10.1038/s41598-017-00745...
) e outras que apontam para pontuações mais baixas em relação aos controles na compreensão empática (Spenser et al., 2015*Spenser, K. A., Betts, L. R., & Das Gupta, M. (2015). Deficits in Theory of Mind, empathic understanding and moral reasoning: A comparison between young offenders and non-offenders. Psychology Crime & Law, 21(7), 632-647. https://doi.org/10.1080/1068316x.2015.1028542
https://doi.org/10.1080/1068316x.2015.10...
). Em apenas um estudo a agressividade foi investigada em mulheres, utilizando medidas de traços de personalidade. Uma personalidade insensível e indiferente (callous and uncaring) foi associada a episódios de agressão relacional proativa (proactive reactive agression) e essa associação foi mediada pela empatia cognitiva (White et al., 2015*White, B. A., Gordon, H., & Guerra, R. C. (2015). Callous-unemotional traits and empathy in proactive and reactive relational aggression in young women. Personality and Individual Differences , 75(1), 185-189. https://doi.org/10.1016/j.paid.2014.11.031
https://doi.org/10.1016/j.paid.2014.11.0...
).

Medidas de traços da personalidade também foram utilizadas para investigar outras dimensões do comportamento antissocial. Os achados sobre maquiavelismo não indicam correlações com as habilidades de ToM (Paal & Bereczkei, 2007*Paal, T., & Bereczkei, T. (2007). Adult theory of mind, cooperation, machiavellianism: The effect of mindreading on social relations. Personality and Individual Differences, 43(3), 541-551. D https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.021
https://doi.org/10.1016/j.paid.2006.12.0...
). Entretanto, quando avaliado em conjunto com outros traços antissociais, como psicopatia e narcisismo, compondo a chamada Dark Triad, foi negativamente associado a ToM e empatia, e positivamente relacionado à alexitimia (Schimmenti et al., 2019*Schimmenti, A., Jonason, P. K., Passanisi, A., La Marca, L., Di Dio, N., & Gervasi, A. M. (2019). Exploring the Dark Side of Personality: Emotional Awareness, Empathy, and the Dark Triad Traits in an Italian Sample. Current Psychology, 38(1), 100-109. https://doi.org/10.1007/s12144-017-9588-6
https://doi.org/10.1007/s12144-017-9588-...
).

Pesquisas têm investigado também relações entre habilidades sociocognitivas e o comportamento social em diferentes contextos. Foi observado, por exemplo, que um bom desempenho em empatia cognitiva estava relacionado com o sucesso na escolha de estratégias intrapessoais de regulação emocional em casais de relacionamento de longo prazo (Levy-Gigi & Shamay-Tsoory, 2017*Levy-Gigi, E., & Shamay-Tsoory, S. G. (2017). Help me if you can: Evaluating the effectiveness of interpersonal compared to intrapersonal emotion regulation in reducing distress. J Behav Ther Exp Psychiatry, 55(1), 33-40. https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2016.11.008
https://doi.org/10.1016/j.jbtep.2016.11....
).

Um aspecto frequentemente investigado é o efeito do envelhecimento no comportamento social. Estudos reportam uma diminuição nas habilidades de empatia cognitiva e ToM nas populações mais velhas (Bailey et al., 2008*Bailey, P. E., Henry, J. D., & Von Hippel, W. (2008). Empathy and social functioning in late adulthood. Aging & Mental Health, 12(4), 499-503.; Khanjani et al., 2015*Khanjani, Z., Jeddi, E. M., Hekmati, I., Khalilzade, S., Nia, M. E., Andalib, M., & Ashrafian, P. (2015). Comparison of Cognitive Empathy, Emotional Empathy, and Social Functioning in Different Age Groups. Australian Psychologist, 50(1), 80-85. https://doi.org/10.1111/ap.12099
https://doi.org/10.1111/ap.12099...
), e correlacionam esse déficit a uma diminuição no envolvimento em atividades sociais (Bailey et al., 2008*Bailey, P. E., Henry, J. D., & Von Hippel, W. (2008). Empathy and social functioning in late adulthood. Aging & Mental Health, 12(4), 499-503.) e com um prejuízo no funcionamento social (Khanjani et al., 2015*Khanjani, Z., Jeddi, E. M., Hekmati, I., Khalilzade, S., Nia, M. E., Andalib, M., & Ashrafian, P. (2015). Comparison of Cognitive Empathy, Emotional Empathy, and Social Functioning in Different Age Groups. Australian Psychologist, 50(1), 80-85. https://doi.org/10.1111/ap.12099
https://doi.org/10.1111/ap.12099...
). Além disso, estudos que investigaram situações de tomada de decisão econômica e comportamentos pró-sociais apontaram para papéis distintos da empatia cognitiva entre diferentes grupos etários. Participantes mais velhos com altas pontuações em empatia cognitiva tomavam decisões visando maior lucro, enquanto os mais jovens, também com altas pontuações em empatia cognitiva, tomavam decisões mais pró-sociais (Beadle et al., 2012*Beadle, J. N., Paradiso, S., Kovach, C., Polgreen, L., Denburg, N., & Tranel, D. (2012). Effects of Age-related Differences in Empathy on Social Economic Decision-Making. Int Psychogeriatr, 24(5), 822-833. https://doi.org/10.1017/s1041610211002547
https://doi.org/10.1017/s104161021100254...
). Entretanto, foi observado que contextos emocionais relevantes podem ser particularmente importantes para as tomadas de decisões pró-sociais nas populações mais velhas (Beadle et al., 2015*Beadle, J. N., Sheehan, A. H., Dahlben, B., & Gutchess, A. H. (2015). Aging, empathy, and prosociality. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci, 70(2), 215-224. https://doi.org/10.1093/geronb/gbt091
https://doi.org/10.1093/geronb/gbt091...
).

Para explorar os fatores que podem impactar o desempenho sociocognitivo durante o envelhecimento, alguns estudos apontam para correlações entre o funcionamento cognitivo e habilidades de ToM e empatia (Ze et al., 2014*Ze, O., Thoma, P., & Suchan, B. (2014). Cognitive and affective empathy in younger and older individuals. Aging Ment Health, 18(7), 929-935. https://doi.org/10.1080/13607863.2014.899973
https://doi.org/10.1080/13607863.2014.89...
). Nesses casos, os déficits observados na empatia cognitiva e ToM não foram explicados em decorrência da idade, mas pela diminuição no desempenho em funções executivas (Sun et al., 2018*Sun, B. H., Luo, Z. B., Zhang, W. W., Li, W. J., & Li, X. Y. (2018). Age-related differences in affective and cognitive empathy: self-report and performance-based evidence. Aging Neuropsychology and Cognition, 25(5), 655-672. https://doi.org/10.1080/13825585.2017.1360835
https://doi.org/10.1080/13825585.2017.13...
), em funções cognitivas (Nolaker et al., 2018*Nolaker, E. J., Murray, K., Happe, F., & Charlton, R. A. (2018). Cognitive and Affective Associations with an Ecologically Valid Test of Theory of Mind Across the Lifespan. Neuropsychology, 32(6), 754-763. https://doi.org/10.1037/neu0000464
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) e no raciocínio factual (Reiter et al., 2017*Reiter, A. M. F., Kanske, P., Eppinger, B., & Li, S. C. (2017). The Aging of the Social Mind - Differential Effects on Components of Social Understanding. Scientific Reports, 7(1), 1-8. https://doi.org/10.1038/s41598-017-10669-4
https://doi.org/10.1038/s41598-017-10669...
).

Variações Fisiológicas na Vida Cotidiana

Parte das pesquisas tem seu foco voltado para a análise das variações fisiológicas, características da vida cotidiana, que podem estar relacionadas ao desempenho em ToM e empatia como sono, estresse ou o uso de substâncias psicotrópicas.

Algumas variações fisiológicas parecem relacionadas à empatia emocional. Foi observado, por exemplo, que o desempenho em empatia emocional diminuiu em situações de privação de sono (Guadagni et al., 2014*Guadagni, V., Burles, F., Ferrara, M., & Iaria, G. (2014). The effects of sleep deprivation on emotional empathy. Journal of Sleep Research, 23(6), 657-663. https://doi.org/10.1111/jsr.12192
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) e que uma menor pontuação na empatia emocional foi relacionada a uma maior excitabilidade da pele (Deuter et al., 2018*Deuter, C. E., Nowacki, J., Wingenfeld, K., Kuehl, L. K., Finke, J. B., Dziobek, I., & Otte, C. (2018). The role of physiological arousal for self-reported emotional empathy. Autonomic Neuroscience-Basic & Clinical, 214(1), 9-14. https://doi.org/10.1016/j.autneu.2018.07.002
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). Considerando-se os ciclos biológicos, foi identificado um aumento significativo na habilidade de reconhecimento de emoções durante a fase folicular da menstruação e uma diminuição no tempo de resposta afetiva a estímulos de tristeza e raiva na fase lútea (midluteal). Também durante a fase lútea (luteal), os níveis de progesterona foram correlacionados com a precisão no reconhecimento de emoções e nas respostas afetivas (Derntl et al., 2013*Derntl, B., Hack, R. L., Kryspin-Exner, I., & Habel, U. (2013). Association of menstrual cycle phase with the core components of empathy. Horm Behav, 63(1), 97-104. https://doi.org/10.1016/j.yhbeh.2012.10.009
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).

Outro aspecto recorrente nos artigos diz respeito ao uso de substâncias psicotrópicas (Preller et al, 2014*Preller, K. H., Hulka, L. M., Vonmoos, M., Jenni, D., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., Dziobek, I., & Quednow, B. B. (2014). Impaired emotional empathy and related social network deficits in cocaine users. Addict Biol, 19(3), 452-466. https://doi.org/10.1111/adb.12070
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; Thiel et al., 2018*Thiel, F., Ostafin, B. D., Uppendahl, J. R., Wichmann, L. J., Schlosser, M., & aan het Rot, M. (2018). A moderate dose of alcohol selectively reduces empathic accuracy. Psychopharmacology (Berl), 235(5), 1479-1486. https://doi.org/10.1007/s00213-018-4859-y
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; Wunderli et al., 2018*Wunderli, M. D., Vonmoos, M., Treichler, L., Zeller, C., Dziobek, I., Kraemer, T., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., & Quednow, B. B. (2018). Social Cognition and Interaction in Chronic Users of 3,4-Methylenedioxymethamphetamine (MDMA, «Ecstasy»). International Journal of Neuropsychopharmacology, 21(4), 333-344. https://doi.org/10.1093/ijnp/pyx098
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). Foram observados déficits, por exemplo, na empatia emocional em usuários recreativos e dependentes de cocaína (Preller et al, 2014*Preller, K. H., Hulka, L. M., Vonmoos, M., Jenni, D., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., Dziobek, I., & Quednow, B. B. (2014). Impaired emotional empathy and related social network deficits in cocaine users. Addict Biol, 19(3), 452-466. https://doi.org/10.1111/adb.12070
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). Entretanto isso não foi observado nos usuários de MDMA (popularmente conhecido como ecstasy) (Wunderli et al., 2018*Wunderli, M. D., Vonmoos, M., Treichler, L., Zeller, C., Dziobek, I., Kraemer, T., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., & Quednow, B. B. (2018). Social Cognition and Interaction in Chronic Users of 3,4-Methylenedioxymethamphetamine (MDMA, «Ecstasy»). International Journal of Neuropsychopharmacology, 21(4), 333-344. https://doi.org/10.1093/ijnp/pyx098
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). Sobre a empatia cognitiva, só foram encontrados prejuízos na população com baixo risco de desenvolver uso abusivo de álcool, após o consumo de uma dose e diante de estímulos positivos (Thiel et al., 2018*Thiel, F., Ostafin, B. D., Uppendahl, J. R., Wichmann, L. J., Schlosser, M., & aan het Rot, M. (2018). A moderate dose of alcohol selectively reduces empathic accuracy. Psychopharmacology (Berl), 235(5), 1479-1486. https://doi.org/10.1007/s00213-018-4859-y
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). Entre os usuários de cocaína não foram encontrados prejuízos (Preller et al., 2014*Preller, K. H., Hulka, L. M., Vonmoos, M., Jenni, D., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., Dziobek, I., & Quednow, B. B. (2014). Impaired emotional empathy and related social network deficits in cocaine users. Addict Biol, 19(3), 452-466. https://doi.org/10.1111/adb.12070
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) e os usuários de MDMA foram melhores que os controles (Wunderli et al., 2018*Wunderli, M. D., Vonmoos, M., Treichler, L., Zeller, C., Dziobek, I., Kraemer, T., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., & Quednow, B. B. (2018). Social Cognition and Interaction in Chronic Users of 3,4-Methylenedioxymethamphetamine (MDMA, «Ecstasy»). International Journal of Neuropsychopharmacology, 21(4), 333-344. https://doi.org/10.1093/ijnp/pyx098
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). O uso da empatia cognitiva em contextos sociais complexos também foi analisado e os sujeitos dependentes de cocaína tiveram um desempenho pior que os controles e que aqueles que faziam uso recreativo da substância (Preller et al., 2014*Preller, K. H., Hulka, L. M., Vonmoos, M., Jenni, D., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., Dziobek, I., & Quednow, B. B. (2014). Impaired emotional empathy and related social network deficits in cocaine users. Addict Biol, 19(3), 452-466. https://doi.org/10.1111/adb.12070
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), enquanto usuários de MDMA foram melhores que os controles (Wunderli et al., 2018*Wunderli, M. D., Vonmoos, M., Treichler, L., Zeller, C., Dziobek, I., Kraemer, T., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., & Quednow, B. B. (2018). Social Cognition and Interaction in Chronic Users of 3,4-Methylenedioxymethamphetamine (MDMA, «Ecstasy»). International Journal of Neuropsychopharmacology, 21(4), 333-344. https://doi.org/10.1093/ijnp/pyx098
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).

Por fim, outro aspecto relevante abordado é o tempo e intensidade de uso das drogas. Usuários de MDMA mostraram um melhor desempenho em tarefas de empatia cognitiva em relação aos controles, entretanto, maiores concentrações de MDMA no organismo foram relacionadas a um desempenho inferior (Wunderli et al., 2018*Wunderli, M. D., Vonmoos, M., Treichler, L., Zeller, C., Dziobek, I., Kraemer, T., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., & Quednow, B. B. (2018). Social Cognition and Interaction in Chronic Users of 3,4-Methylenedioxymethamphetamine (MDMA, «Ecstasy»). International Journal of Neuropsychopharmacology, 21(4), 333-344. https://doi.org/10.1093/ijnp/pyx098
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). Já entre os usuários de cocaína, o início precoce no consumo da substância foi relacionado a maiores déficits na empatia de uma forma geral (Preller et al., 2014*Preller, K. H., Hulka, L. M., Vonmoos, M., Jenni, D., Baumgartner, M. R., Seifritz, E., Dziobek, I., & Quednow, B. B. (2014). Impaired emotional empathy and related social network deficits in cocaine users. Addict Biol, 19(3), 452-466. https://doi.org/10.1111/adb.12070
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).

Variações Cognitivas, Afetivas e Sociais

Um tópico relevante nos artigos diz respeito à relação entre formas de organização subjetiva, nos seus aspectos afetivo, cognitivo e social, e diferentes configurações de ToM e empatia. Os artigos que investigam a dimensão afetiva voltaram seu foco principalmente para o estudo dos efeitos ligados a traumas na infância (Greenberg et al., 2018*Greenberg, D. M., Baron-Cohen, S., Rosenberg, N., Fonagy, P., & Rentfrow, P. J. (2018). Elevated empathy in adults following childhood trauma. PLoS One , 13(10), 1-13. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0203886
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), motivação (Lockwood et al., 2017*Lockwood, P. L., Ang, Y. S., Husain, M., & Crockett, M. J. (2017). Individual differences in empathy are associated with apathy-motivation. Sci Rep, 7(1), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-17415-w
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) e tipo de apego (Lin et al., 2017*Lin, H. C., Yang, Y., McFatter, R., Biggar, R. W., & Perkins, R. (2017). Inmates’ empathy in relation to perceived parenting and attachment working models. Journal of Criminal Psychology, 7(4), 302-318. https://doi.org/10.1108/jcp-09-2016-0024
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). Experiências traumáticas na infância, por exemplo, foram correlacionadas a um melhor desempenho em instrumentos de empatia (Greenberg et al., 2018*Greenberg, D. M., Baron-Cohen, S., Rosenberg, N., Fonagy, P., & Rentfrow, P. J. (2018). Elevated empathy in adults following childhood trauma. PLoS One , 13(10), 1-13. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0203886
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). Além disso, evidências sugeriram que a empatia cognitiva estaria associada a um maior nível de motivação nos domínios comportamental, social e emocional e, em contraste, a empatia afetiva estaria associada a baixos níveis de motivação comportamental, mas altos níveis de motivação emocional (Lockwood et al., 2017*Lockwood, P. L., Ang, Y. S., Husain, M., & Crockett, M. J. (2017). Individual differences in empathy are associated with apathy-motivation. Sci Rep, 7(1), 1-10. https://doi.org/10.1038/s41598-017-17415-w
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).

Algumas pesquisas sobre os aspectos afetivos focaram na dimensão do apego. Um estudo realizado com detentos, por exemplo, identificou que um estilo de apego ansioso foi correlacionado a uma maior preocupação empática e a um histórico de superproteção parental (Lin et al., 2017*Lin, H. C., Yang, Y., McFatter, R., Biggar, R. W., & Perkins, R. (2017). Inmates’ empathy in relation to perceived parenting and attachment working models. Journal of Criminal Psychology, 7(4), 302-318. https://doi.org/10.1108/jcp-09-2016-0024
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). Por outro lado, um estudo com estudantes de medicina, encontrou predominância de um estilo de apego evitativo, correlacionado a um pior desempenho em empatia cognitiva e afetiva (Dehning et al., 2013*Dehning, S., Gasperi, S., Krause, D., Meyer, S., Reiß, E., Burger, M., Jacobs, F., Buchheim, A., Muller, N., Siebeck, M. (2013). Emotional and cognitive empathy in first-year medical students. ISRN Psychiatry, 2013(1), 1-6. https://doi.org/10.1155/2013/801530
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). Além disso, pessoas com um estilo de apego seguro demonstraram ser mais hábeis em empatia cognitiva, o que se mostrou correlacionado ao comportamento de reavaliar suas próprias emoções, mais do que as suprimir ou ruminá-las (Troyer & Greitemeyer, 2018*Troyer, D., & Greitemeyer, T. (2018). The impact of attachment orientations on empathy in adults: Considering the mediating role of emotion regulation strategies and negative affectivity. Personality and Individual Differences , 122(1), 198-205. https://doi.org/10.1016/j.paid.2017.10.033
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).

Estudos que investigaram relações entre características cognitivas e configurações distintas em empatia e ToM exploraram principalmente a capacidade dos indivíduos de inibir a própria perspectiva (Bailey & Henry, 2008*Bailey, P. E., Henry, J. D., & Von Hippel, W. (2008). Empathy and social functioning in late adulthood. Aging & Mental Health, 12(4), 499-503.), a propensão em adotar a perspectiva de outra pessoa (Sachs et al., 2019*Sachs, M. E., Kaplan, J., & Habibi, A. (2019). Echoing the emotions of others: Empathy is related to how adults and children map emotion onto the body. Cognition & Emotion, 33(8), 1639-1654. https://doi.org/10.1080/02699931.2019.1591938
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) e o efeito de crenças sobrenaturais ou religiosas (Vonk & Pitzen, 2017*Vonk, J., & Pitzen, J. (2017). Believing in other minds: Accurate mentalizing does not predict religiosity. Personality and Individual Differences , 115(1), 70-76. https://doi.org/10.1016/j.paid.2016.06.008
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). Na investigação da dimensão social, também foram observadas pesquisas que tematizam ToM e empatia. Os estudos podem ser divididos, para análise, entre os que articulam os aspectos sociocognitivos e o comportamento social (Declerck & Bogaert, 2008*Declerck, C. H., & Bogaert, S. (2008). Social Value Orientation: Related to Empathy and the Ability to Read the Mind in the Eyes. Journal of Social Psychology, 148(6), 711-726. https://doi.org/10.3200/socp.148.6.711-726
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; Schimmenti et al., 2019*Schimmenti, A., Jonason, P. K., Passanisi, A., La Marca, L., Di Dio, N., & Gervasi, A. M. (2019). Exploring the Dark Side of Personality: Emotional Awareness, Empathy, and the Dark Triad Traits in an Italian Sample. Current Psychology, 38(1), 100-109. https://doi.org/10.1007/s12144-017-9588-6
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; Vonk et al., 2013*Vonk, J., Zeigler-Hill, V., Mayhew, P., & Mercer, S. (2013). Mirror, mirror on the wall, which form of narcissist knows self and others best of all? Personality and Individual Differences , 54(3), 396-401. https://doi.org/10.1016/j.paid.2012.10.010
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), e aqueles que focam nos mecanismos utilizados pelas pessoas para fazer a leitura de contextos sociais (Karthikeyan & Ramachandra, 2017*Karthikeyan, S., & Ramachandra, V. (2017). Social Eavesdropping: Can You Hear the Emotionality in a ‘’Hello’’ That Is Not Meant for You? I-Perception, 8(2), 1-13. https://doi.org/10.1177/2041669517695816
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; Licea-Haquet et al., 2019*Licea-Haquet, G. L., Velasquez-Upegui, E. P., Holtgraves, T., & Giordano, M. (2019). Speech act recognition in Spanish speakers. Journal of Pragmatics, 141(1), 44-56. https://doi.org/10.1016/j.pragma.2018.12.013
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; Wu et al., 2016*Wu, W. J., Sheppard, E., & Mitchell, P. (2016). Being Sherlock Holmes: Can we sense empathy from a brief sample of behaviour? British Journal of Psychology, 107(1), 1-22. https://doi.org/10.1111/bjop.12157
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).

Para explorar as relações entre variações nas dimensões afetiva, cognitiva e social, e diferentes configurações de ToM e empatia, muitos artigos da revisão focaram na investigação de populações delimitadas por sua ocupação ou atividades cotidianas específicas. Isso pode ser observado nos artigos referentes a carreiras profissionais, que abordam tanto o processo de formação quanto a prática. Na área da saúde, por exemplo, foi observado em estudantes de medicina um baixo desempenho em empatia emocional e cognitiva (Dehning et al., 2013*Dehning, S., Gasperi, S., Krause, D., Meyer, S., Reiß, E., Burger, M., Jacobs, F., Buchheim, A., Muller, N., Siebeck, M. (2013). Emotional and cognitive empathy in first-year medical students. ISRN Psychiatry, 2013(1), 1-6. https://doi.org/10.1155/2013/801530
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); dentro dessa população, entretanto, identificou-se que altas pontuações na autoavaliação dos níveis de empatia estavam relacionadas a capacidade de reconhecer o estado emotivo de tristeza e que os sujeitos de sexo feminino tiveram um desempenho superior em relação aos de sexo masculino em ToM (Ávila et al., 2016*Ávila, R. F., Morais, D., Bomfim, A. J., Chagas, M. H. N. (2016). Empatia e reconhecimento de expressões faciais de emoções básicas e complexas em estudantes de Medicina [Empathy and facial expression recognition of basic and complex emotions in medical students]. J Bras Psiquiatr, 65(3), 209-214. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000126
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). Em psiquiatras foi observado uma melhor autoavaliação de empatia em comparação à cirurgiões (Dehning et al., 2014*Dehning, S., Reiß, E., Krause, D., Gasperi, S., Meyer, S., Dargel, Muller, N., Siebeck, M. (2014). Empathy in high-tech and high-touch medicine. Patient Educ Couns, 95(2), 259-264. https://doi.org/10.1016/j.pec.2014.01.013
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). Entre psicoterapeutas, por outro lado, foi observado um melhor desempenho na interpretação de pistas verbais, além de resultados que apontam que essa população se perceberia tendo bom controle emocional nas relações interpessoais (Hassenstab et al., 2007*Hassenstab J, Dziobek I, Rogers K, Wolf OT, & Convit A. (2007). Knowing what others know, feeling what others feel: a controlled study of empathy in psychotherapists. J Nerv Ment Dis. 195(4), 277-281. https://doi.org/10.1097/01.nmd.0000253794.74540.2d
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).

No campo das artes cênicas foi observado que atores tiveram um desempenho melhor em ToM do que pessoas sem a experiência de formação no teatro, mas esse mesmo efeito não foi observado nas medidas de empatia (Goldstein et al., 2009*Goldstein, T. R., Wu, K., & Winner, E. (2009). Actors are skilled in theory of mind but not empathy. Imagination, Cognition and Personality, 29(2), 115-133. https://doi.org/10.2190/IC.29.2.c
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). Além disso, um estudo longitudinal apontou para um aumento na habilidade de tomada de perspectiva após um curso de atuação (Scroggs et al., 2016*Scroggs, B., Bailey, S., & Fees, B. (2016). The impact of participation in creative drama on empathy levels in emerging adulthood: A pilot study. Drama Therapy Review, 2(2), 211-221. https://doi.org/10.1386/dtr.2.2.211_1
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). Um efeito oposto ao da formação cênica foi observado no treinamento de policiais (Inzunza et al., 2019*Inzunza, M., Stenlund, T., & Wikstrom, C. (2019). Measuring perspective taking among police recruits A comparison of self-reported and objective measures. Policing-an International Journal of Police Strategies & Management, 42(5), 725-738. https://doi.org/10.1108/pijpsm-09-2018-0129
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). Esse grupo apresentou níveis significativamente mais baixos na capacidade de assumir a perspectiva de outras pessoas nas fases finais de seus treinamentos.

A fim de investigar populações que teriam habilidades de ToM mais desenvolvidas, estudos com profissionais que se apresentam como mediúnicos (psychics) foram conduzidos. Eles não tiveram um desempenho superior em ToM em relação aos controles, mas atingiram uma pontuação mais alta na subescala de fantasia, da empatia cognitiva (Dziobek et al., 2005*Dziobek, I., Rogers, K., Fleck, S., Hassenstab, J., Gold, S., Wolf, O. T., & Convit, A. (2005). In search of “master mindreaders”: Are psychics superior in reading the language of the eyes? Brain and Cognition, 58(2), 240-244. https://doi.org/10.1016/j.bandc.2004.12.002
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).

Aspectos da vida cotidiana que se configuram como uma atividade regular, mesmo que não ligados diretamente à dimensão profissional, também mostraram estar relacionados a diferentes configurações sociocognitivas. A habilidade em leitura, por exemplo, foi correlacionada positivamente com pontuações de empatia (Gabay et al., 2016*Gabay, Y., Shamay-Tsoory, S. G., & Goldfarb, L. (2016). Cognitive and emotional empathy in typical and impaired readers and its relationship to reading competence. J Clin Exp Neuropsychol, 38(10), 1131-1143. https://doi.org/10.1080/13803395.2016.1199663
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). Os hábitos de leitura também foram investigados, tendo sido observados melhores desempenhos em empatia (Djikic et al., 2013*Djikic, M., Oatley, K., & Moldoveanu, M. C. (2013). Reading other minds: Effects of literature on empathy. Scientific Study of Literature, 3(1), 28-47. https://doi.org/10.1075/ssol.3.1.06dji
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; Mar et al., 2006*Mar, R. A., Oatley, K., Hirsh, J., dela Paz, J., & Peterson, J. B. (2006). Bookworms versus nerds: Exposure to fiction versus non-fiction, divergent associations with social ability, and the simulation of fictional social worlds. Journal of Research in Personality, 40(5), 694-712. https://doi.org/10.1016/j.jrp.2005.08.002
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; Mar et al., 2009*Mar, R., Oatley, K., & Peterson, J. (2009). Exploring the link between reading fiction and empathy: Ruling out individual differences and examining outcomes. Communications, 34(4), 407-428. https://doi.org/10.1515/COMM.2009.025
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) e em ToM (Tabulo et al., 2018) em participantes com maior contato com obras de ficção.

Por meio dessa revisão de escopo, foi possível mapear conceitualmente as articulações entre ToM e empatia, assim como as principais temáticas das produções na área. Dessa forma, esse trabalho buscou analisar achados relevantes e também identificar lacunas nas pesquisas sobre diferenças socioindividuais na teoria da mente e empatia em adultos. As limitações do presente estudo, que devem ser endereçadas em pesquisas futuras, dizem respeito à própria natureza da revisão de escopo, que não prevê a utilização de protocolos para o controle de qualidade das pesquisas incluídas (Peters et al., 2017Peters M. D. J., Godfrey C., McInerney P., Baldini Soares C., Khalil H., & Parker D. (2017) Chapter 11: Scoping Reviews. Em Aromataris E, Munn Z (Editors). Joanna Briggs Institute Reviewer’s Manual. The Joanna Briggs Institute. Recuperado de https://reviewersmanual.joannabriggs.org/.
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).

Considerações Finais

A organização temática realizada neste estudo permitiu identificar alguns achados recorrentes, o que pode contribuir para o planejamento de pesquisas futuras. Sobre o processo de envelhecimento, as pesquisas têm apontado para um papel importante das funções executivas, mas não da idade, no desempenho em ToM e empatia cognitiva. Além disso, nenhum efeito do envelhecimento, ou das funções executivas, tem sido identificado na empatia afetiva. Por outro lado, os estudos têm indicado que as variações fisiológicas características da vida cotidiana, afetam principalmente a empatia afetiva e não a ToM ou empatia cognitiva, seja pelo uso de psicoativos ou por alterações de contexto, e que produzem, portanto, um efeito mais circunstancial.

Observou-se também achados que indicavam a importância da ToM, ou empatia cognitiva, para o raciocínio sobre tomada de decisões sociais, e, ao mesmo tempo, uma relação entre baixos escores de empatia afetiva e histórico de comportamentos agressivos. Além disso, as experiências regulares dos indivíduos em sua vida cotidiana - como ler regularmente obras de ficção, ter uma trajetória de formação cênica ou de formação médica - também têm sido amplamente relacionadas a diferentes configurações e funcionamento de ToM e empatia.

É importante notar, entretanto, que diferenças culturais e socioeconômicas são pouco abordadas nos artigos e podem configurar uma importante variável nas investigações. Os estudos sobre empatia e ToM frequentemente são conduzidos com populações ocidentais de países desenvolvidos, e esses são aspectos que podem produzir vieses nos resultados e devem ser levados em consideração.

A investigação de diferenças individuais no desenvolvimento sociocognitivo de adultos típicos é uma área que vem ganhando atenção dos pesquisadores de diversas áreas nos últimos anos. Nesse contexto, entretanto, observou-se nos artigos sobre ToM e empatia que os estudos geralmente referenciam pesquisas realizadas nos mesmos círculos teórico-epistêmicos. Isso parece colocar um importante desafio para as pesquisas na área, no sentido de avançar para que os conceitos sejam mais claramente delimitados, contribuindo para que estudos futuros, mesmo que de áreas diferentes, possam ter uma melhor interlocução e possibilidades de trabalho e produção mais colaborativas.

Nesse sentido, alguns caminhos podem ser considerados para futuras pesquisas. Em primeiro lugar, a realização de estudos que levem em conta a complexidade dos constructos (como os diferentes componentes tanto de ToM como de empatia) no seu delineamento. Além disso, o trabalho conjunto na interface entre desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia pode ser particularmente interessante para se avançar no conhecimento a respeito de processos independentes e integrados ligados a ToM e empatia. Finalmente, investir na elaboração e no aprimoramento dos instrumentos, tanto quantitativos como qualitativos, que explorem as habilidades de ToM e empatia, pode ajudar a criar bons parâmetros para delimitar tais conceitos, pois, apesar das diferentes explicações dadas sobre o que avaliam, é notável certa regularidade nas ferramentas utilizadas nos estudos que já vêm sendo realizados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2023
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2023

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2021
  • Revisado
    31 Out 2022
  • Aceito
    06 Fev 2023
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