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Transformações na percepção do museu no contexto do Movimento Bibliográfico: as concepções de museu de Paul Otlet e Otto Neurath

Transformations in the perceptions of museums in the context of the Bibliographic Movement: the museum conceptions of Paul Otlet and Otto Neurath

Resumos

O artigo analisa as concepções de museu de Paul Otlet e Otto Neurath, que podem ser considerados expoentes do Movimento Bibliográfico, movimento este surgido na transição do século XIX para o século XX, que visava à ordenação do conhecimento registrado para sua disseminação, acesso e uso. São analisados os museus criados por Otlet e Neurath, bem como seus projetos museológicos não concretizados e a influência mútua exercida entre eles, destacando-se, enquanto princípios de suas concepções museológicas, a importância do papel social dos museus, a visualização e a primazia das ideias apresentadas ao público pela instituição, em detrimento da originalidade e raridade dos objetos exibidos.

Paul Otlet; Otto Neurath; Museus; Movimento Bibliográfico


The article analyses the museum conceptions of Paul Otlet and Otto Neurath, which can be considered exponents of the Bibliographical Movement, a movement arisen in the transition of the 19th century to the 20th century that sought the organization of the recorded knowledge to its dissemination, access and use. The museums created by Otlet and Neurath are analysed, as well as their museological projects that weren't implemented and the mutual influence between them, highlighting as principles of their museological conceptions the importance of the social role of museums, visualization and the precedence of the ideas conveyed to the public by the institution instead of the originality and rarity of the objects displayed.

Paul Otlet; Otto Neurath; Museums; Bibliographic movement


ARTIGOS

Transformações na percepção do museu no contexto do Movimento Bibliográfico: as concepções de museu de Paul Otlet e Otto Neurath1 1 O artigo é resultante de trabalho desenvolvido na disciplina Os Espaços da Arte e suas Representações: do Colecionismo ao Museu, ministrada pela Profa. Dra. Helouise Lima Costa, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O artigo está vinculado ao projeto de mestrado da autora, que é apoiado financeiramente com bolsa de mestrado pela FAPESP (bolsa referente ao processo 2012/09084-0).

Transformations in the perceptions of museums in the context of the Bibliographic Movement: the museum conceptions of Paul Otlet and Otto Neurath

Luciana Corts Mendes

Bacharel em Biblioteconomia pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Bolsista de Mestrado da FAPESP

RESUMO

O artigo analisa as concepções de museu de Paul Otlet e Otto Neurath, que podem ser considerados expoentes do Movimento Bibliográfico, movimento este surgido na transição do século XIX para o século XX, que visava à ordenação do conhecimento registrado para sua disseminação, acesso e uso. São analisados os museus criados por Otlet e Neurath, bem como seus projetos museológicos não concretizados e a influência mútua exercida entre eles, destacando-se, enquanto princípios de suas concepções museológicas, a importância do papel social dos museus, a visualização e a primazia das ideias apresentadas ao público pela instituição, em detrimento da originalidade e raridade dos objetos exibidos.

Palavras-chave: Paul Otlet; Otto Neurath; Museus; Movimento Bibliográfico.

ABSTRACT

The article analyses the museum conceptions of Paul Otlet and Otto Neurath, which can be considered exponents of the Bibliographical Movement, a movement arisen in the transition of the 19th century to the 20th century that sought the organization of the recorded knowledge to its dissemination, access and use. The museums created by Otlet and Neurath are analysed, as well as their museological projects that weren't implemented and the mutual influence between them, highlighting as principles of their museological conceptions the importance of the social role of museums, visualization and the precedence of the ideas conveyed to the public by the institution instead of the originality and rarity of the objects displayed.

Keywords: Paul Otlet; Otto Neurath; Museums; Bibliographic movement.

1 Introdução

Desde seu surgimento, os museus vêm passando por diversas transformações. Na transição do século XIX para o século XX, em plena modernidade, essa instituição passou por grandes modificações em seus diferentes aspectos, muitas delas que ainda se refletem no museu contemporâneo. Fruto desse período, o belga Paul Otlet e o austríaco Otto Neurath foram alguns daqueles que repensaram o papel do museu na sociedade e como ele deveria configurar-se, sendo as concepções de ambos, relativas aos museus, o objeto de estudo deste trabalho, que apresenta e analisa suas ideias e influência mútua.

2 A concepção de museu de Paul Otlet

Ao longo de sua vida, o advogado Paul Otlet (1868-1944) desenvolveu ideias relacionadas à geração do conhecimento, seu registro e disseminação. Para ele, não apenas o livro era capaz de registrar o saber, mas, sim, todo tipo de mídia, sendo que o conjunto destas formava um único corpo enciclopédico do conhecimento (VAN ACKER, 2011, p. 36). Suas ideias relativas ao mundo do saber levaram ao estabelecimento de uma nova disciplina, a Documentação, a qual caberia a organização dos mais diversos recursos informacionais, bem como a extração e organização da informação contida nos mesmos (RAYWARD, 1997, p. 299). Tratando-se de um internacionalista cultural, ou seja, alguém que acreditava que através da colaboração internacional em diversas iniciativas seria possível dar origem a um mundo mais pacífico (IRIYE, 19972 2 IRIYE, A. Cultural internationalism and world order. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1997. apud VAN ACKER, 2011, p. 35), Otlet via no compartilhamento do saber contido nos registros de informação um meio de se atingir a paz universal (BLANQUET, 20063 3 Não há paginação por ser uma página da Internet. ).

De forma a realizar a organização da informação para sua disseminação, acesso e uso, por meio dos princípios por ele estabelecidos e de sua crença internacionalista cultural, Otlet criou diversos empreendimentos relacionados aos registros da informação, dentre os quais é possível destacar o Museu Internacional, uma coleção formada a partir de uma exposição realizada durante a Exposição Universal de Bruxelas de 1910, que objetivava complementar conferências internacionais e o Congresso Mundial de Associações Internacionais, por meio da exibição de material de cada instituição presente (MUNDANEUM..., 2010, p. 28-29, 32)4 4 As coleções deste museu estavam associadas a outras instituições fundadas por Otlet e, a partir de 1920, o museu foi reunido a outros empreendimentos de Otlet, vindo a formar o Palácio Mundial, que posteriormente viria a se chamar Mundaneum (MUNDANEUM..., 2010, p. 32). .

Havia no museu a preocupação com a exibição de objetos sobre os diferentes países do mundo e sobre as diferentes ciências e campos do conhecimento, visando-se tanto divulgar as atividades das associações ali apresentadas como auxiliar o processo educativo ao tratar o conhecimento, a partir de um ponto de vista internacional (MUNDANEUM..., 2010, p. 32; VAN ACKER, 2011, p. 41; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 84). Tanto as preocupações e objetivos expositivos como a composição do acervo - dioramas, diagramas, maquetes, fotografias, desenhos, mapas, ferramentas e instrumentos científicos, entre outros objetos - refletiam as ideias de Otlet sobre o conhecimento: objetivava-se reunir os mais diversos materiais, nas mais diversas mídias, para mostrar de maneira integrada a unidade do conhecimento através da criação de um microcosmo que representasse o mundo num único espaço fechado, concebendo-se o museu como uma viagem ao redor do mundo e visando-se ensinar os visitantes a como olhar esse mundo de forma a compreendê-lo e agir, pois, para Otlet, o mundo não era de artefatos, mas, sim, de fatos ou ideias (MUNDANEUM..., 2010, p. 32; VAN ACKER, 2011, p. 38, 53-54; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 84).

Otlet via o livro como um meio que limitava o conhecimento, acreditando que a visualização, a espacialização e a capacidade de sintetização das imagens transformariam as coleções de seu museu em exposições educacionais de ideias, em um conjunto de informações facilmente compreensível, uma vez que para ele a representação visual transcendia as limitações da língua (CHABARD, 2008, p. 108; DAVALLON, 19995 5 DAVALLON, J. L'Exposition à l'oeuvre: stratégies de communication et médiation symbolique. Paris: L'Harmattan, 1999. apud CHABARD, 2008, p. 108; HAMMON, 19966 6 HAMMON, P. Expositions: littérature et architeture au XIXe siècle. Paris: Bibliothèque Nationale; Flammation, 1996. apud CHABARD, 2008, p. 108; VAN ACKER, 2011, p. 38, 41). Na medida em que, para Otlet, o museu tinha um potencial educacional que poderia ser superior ao livro e à sala de aula tradicional, era necessário que o método de visualização produzisse o máximo de revelação possível ao mesmo tempo em que requeresse o menor esforço por parte do visitante, o que colocava o desafio de se tentar determinar a extensão a qual todo o universo de informação poderia ser reduzido, de maneira visual, as suas ideias mais essenciais (VAN ACKER, 2011, p. 41-42). O resultado dessas ideias seria uma enciclopédia espacial, criada de maneira que se visualizasse e sintetizasse o que era conhecido (VAN ACKER, 2011, p. 38).

As ideias de Otlet relativas aos museus culminaram em seus planos para o chamado Museu Mundial, projeto de Otlet que ficaria no centro da chamada Cidade Mundial, que seria a representação tangível de suas ideias via arquitetura, uma cidade cujo principal objetivo "seria se transformar num instrumento prático que pudesse ajudar a alcançar a harmonia universal pela promoção do progresso"7 7 As traduções dos textos em outros idiomas são de nossa responsabilidade. (MUNDANEUM..., 2010, p. 35). Chamada Mundaneum8 8 Tanto a instituição anteriormente chamada Palácio Mundial como a Cidade Mundial que jamais foi concretizada, receberam o nome Mundaneum. (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 84), a Cidade Mundial iria, conforme Chabard (2008, p. 120), "centralizar instituições, atividades e informação no espaço". Estando concentradas num mesmo lugar, as associações aí presentes determinariam padrões bibliográficos e documentários, bem como diretrizes que seriam passados para outras instituições que fariam parte da rede de relações dessa cidade em outras partes do mundo (RIEUSSET-LEMARIÉ, 1997, p. 303; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 85).

Otlet sabia que as nações haviam se tornado cada vez mais interdependentes e, para ele, o resultado disso seria a desordem, que só poderia ser revertida se houvesse uma organização racional da informação em escala internacional, sendo esta fundamental para que houvesse cooperação internacional (RIEUSSET-LEMARIÉ, 1997, p. 302) e, a partir dela, um mundo pacífico. A Cidade Mundial seria fundamental nesse processo, pois permitiria a harmonia através da centralização, que constituía um efetivo princípio de organização para Otlet (CHABARD, 2008, p. 120, 122).

Na década de 1910, Otlet já havia projetado uma Cidade Mundial, entretanto, no final da década de 1920, o projeto estava ultrapassado e Otlet acabou por contratar o arquiteto modernista Le Corbusier e seu primo Pierre Jeanneret, que mudaram radicalmente o projeto original, objetivando construí-lo em Genebra, na Suíça (MUNDANEUM..., 2010, p. 36-37; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 83). O centro dessa cidade seria dominado pelo Museu Mundial, um edifício em forma de zigurate, uma pirâmide escalonada, que abrigaria as coleções do Palácio Mundial (MUNDANEUM..., 2010, p. 36). Segundo Van Acker (2011, p. 58), o Museu Mundial tinha "a imagem de uma montanha de conhecimento", tendo a pirâmide sido "escolhida por sua evocação mítica da civilização, como o símbolo do desenvolvimento da ciência e da elevação da Humanidade [sic]". Otlet haveria apresentado a ideia do zigurate para Le Corbusier, que representaria a relação próxima que o primeiro acreditava existir entre centralismo e monumentalidade (RIEUSSET-LEMARIÉ, 1997, p. 304).

Para adentrar nesse museu, os visitantes subiriam até o topo do edifício, onde iniciariam a viagem pela história da humanidade. Nas palavras de Le Corbusier9 9 OTLET, P.; LE CORBUSIER. Mundaneum. Brussels: L'Union des Associations Internationales, 1928. (apud VOSSOUGHIAN, 2003, p. 86):

Esta forma é uma nave tripla que desenrola ao longo de uma espiral. No começo da espiral: no topo, tempos pré-históricos... depois a primeira época histórica. E descendo a espiral, a seguinte [época histórica] e a próxima, a totalidade da civilização mundial. História e arqueologia acumulam mais e mais documentos. Aprendemos mais e mais como o homem se manteve através de diferentes períodos de organização cultural. O diorama se torna mais e mais vasto e mais e mais preciso. A espiral aumenta sua espiral, o espaço é aumentado. A exposição de objetos no espaço e tempo provoca como que um clamor tornando-se cada vez mais forte. Tudo está inter-relacionado; todo ato, desarrazoado, egoísta, imprudente ou desinteressado tem sua consequência. O mapa do mundo se torna maior, modifica-se, persiste como um... prêmio num cinema em câmera lenta.

Seguindo suas ideias sobre museu colocadas em prática no Palácio Mundial, Otlet10 10 OTLET, P.; LE CORBUSIER. Mundaneum. Brussels: L'Union des Associations Internationales, 1928. (1928 apud VOSSOUGHIAN, 2003, p. 85) afirmava que esse museu apresentaria objetos e coleções materiais, mas que sua intenção seria essencialmente visualizar ideias, sentimentos e as intenções subjacentes aos objetos, o que faria do museu um "Idearium". O foco de Otlet nas ideias era tal que para ele não havia necessidade de os objetos serem raros ou preciosos, bastando reproduções que dessem suporte às ideias (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 87).

Além do Museu Mundial em uma localização fixa, Otlet tinha a ideia de criar um museu móvel ou um Mundaneum móvel, ideia originada de uma exposição itinerante canadense montada em trens em movimento; o museu móvel era uma necessidade para Otlet, já que ele acreditava que eram necessários Mundaneums em miniatura em todos os centros educacionais (VAN ACKER, 2011, p. 66, 68).

3 A concepção de museu de Otto Neurath

Otto Neurath (1882-1945) foi um polímata, membro fundador do grupo de filósofos neopositivistas, conhecido como Círculo de Viena. Neurath foi ativamente participante do movimento dos trabalhadores, de programas de educação de adultos e do programa de habitação da Viena Vermelha. Suas posições filosóficas e sociais o fizeram ter como objetivo ajudar democraticamente a produzir conhecimento universalmente (KRÄUTLER, 1995, p. 60).

Desde 1917, Neurath trabalhou com museus e exposições, suas ideias relativas a estes sendo principalmente desenvolvidas no Museu da Sociedade e Economia, surgido em Viena em 1925, cujo objetivo era educar a classe trabalhadora, de forma a que esta se tornasse competente para tomar decisões, dedicando-se o museu a demonstrar relações sociais, como as forças da sociedade impactavam no trabalhador e qual era o impacto da classe trabalhadora nacional e globalmente (KRÄUTLER, 1995, p. 61; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 242).

Neurath lamentava que em sua época os museus fossem tratados como gabinetes de curiosidades, para ele museus não deveriam mais ser lugares que somente colecionavam objetos raros e diferentes, já que Neurath negava a importância destes, devendo ser um lugar de distribuição, disseminação e comunicação de fatos sociais e econômicos que tivessem utilidade, razão pela qual acreditava que era possível utilizar tecnologias das mídias de massa, tais como modelos, filmes, apresentações de slides, ilustrações, palestras e publicações, no museu (KRÄUTLER, 1995, p. 62; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 87-88; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 248, 253). Isto se devia principalmente ao fato de que Neurath se preocupava com fatos, não artefatos, pois queria mostrar forças estruturais - tais como ciclos de produção e consumo, relações de classe, práticas laborais, estatísticas relativas a recursos naturais, geografia e clima - ; assim, seu trabalho expositivo era principalmente comunicativo, pois para ele exposições eram fenômenos sociais, sendo possível, portanto, o uso de aparelhos de difusão ou infraestrutura de comunicação, através dos quais o conhecimento poderia ser disseminado (KRÄUTLER, 1995, p. 60; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 242-243). Ademais, os museus deveriam ser localizados em espaços cotidianos, para que se tornassem pontos de encontro, deixando de ser tratados como locais centrais e monumentais, devendo contar com uma atmosfera acolhedora para que ocorresse um aprendizado e uma experiência não opressivos, sendo seus horários de funcionamento adequados às horas de descanso da classe trabalhadora (KRÄUTLER, 1995, p. 63; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 250-251).

Neurath acreditava que o homem moderno começara a receber uma grande parte de seu conhecimento através de impressões pictóricas, tais como ilustrações, slides e filmes, chegando a considerar exposições e museus como produtos do estímulo à visão (VOSSOUGHIAN, 2008, p. 242). Havendo se tornado cético com relação à palavra escrita e sua capacidade de rapidamente transmitir conhecimento, Neurath acreditava que novas maneiras de cativar tanto o intelecto como a imaginação do público de museus seria através de representações pictóricas e modelos físicos (VOSSOUGHIAN, 2008, p. 242). Para Neurath, a cultura de massas estava redefinindo a relação entre espectador e exibição, já que para ele o limiar de atenção do público estava diminuindo, assim, ele buscava uma forma de disponibilizar a informação de maneira a que ela fosse absorvida num único olhar (VOSSOUGHIAN, 2008, p. 246). Seguindo essas ideias, Neurath decidiu utilizar técnicas de visualização em seu Museu da Sociedade e Economia, pois acreditava que ao fazer uso de uma linguagem neutra visual seria possível eliminar a especialização e a exclusividade do conhecimento, pois esta seria uma linguagem democrática capaz de transcender contingências locais, sendo, portanto, essencialmente internacional e capaz de impactar de imediato as estruturas sociais e políticas (VAN ACKER, 2011, p. 62, 74; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 242).

As ideias de Neurath sobre educação visual focavam a extração daquilo que era considerado essencial, extração esta, seguindo um modelo holístico e sintético por ele desenvolvido, o Sistema Internacional de Educação Tipográfica Pictórica ou simplesmente ISOTYPE11 11 Sigla derivada do nome em inglês do método: International System of Typographic Picture Education. , que, para Neurath, seria uma forma universal de comunicação, capaz de atingir toda a população mundial, porque seu sistema era natural, ou seja, inteligível para qualquer um, independente de nacionalidade ou letramento, sendo capaz de educar e dar poder à população (KRÄUTLER, 1995, p. 60; VAN ACKER, 2011, p. 74; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 93). Tal sistema influenciou todo o trabalho de Neurath relacionado a exposições e museus (KRÄUTLER, 1995, p. 61).

Fazendo uso de materiais simples e das mais recentes técnicas, a equipe de Neurath produziu gráficos e pôsteres atrativos; estatísticas pictográficas cuidadosa e conscientemente desenhadas; modelos tridimensionais; e apresentações de slides e lanternas mágicas (KRÄUTLER, 1995, p. 62)

No entanto, as preocupações de Neurath se extendiam à expografia de seu museu, devendo haver relação entre cada gráfico produzido via ISOTYPE, de maneira a que se comunicassem enquanto grupo (VOSSOUGHIAN, 2008, p. 247). Quando da mudança do Museu da Sociedade e Economia para um novo espaço no edifício da prefeitura de Viena, Neurath contratou o arquiteto Josef Frank para organizar o espaço expositivo, que, de acordo com o próprio Neurath12 12 NEURATH, O. International picture language. Reading: University of Reading, Department of Typography and Graphic Communication, 1980. (apud VOSSOUGHIAN, 2008, p. 250), ficou em harmonia com o ISOTYPE. Josef Frank criou painéis que podiam ser arranjados no espaço da maneira requerida e sem necessidade de prendê-los às paredes, organizou os gráficos de forma a que ficassem ao nível dos olhos do público e colocou iluminação em cada painel (VOSSOUGHIAN, 2008, p. 250). Este último elemento é considerado por Vossoughian (2008, p. 250-251) como fundamental para as ideias de Neurath, na medida em que a luz artificial permite a democratização do museu no tempo, ao permitir aos trabalhadores a visita ao museu em horários quando não havia mais luz natural.

Em 1927, Neurath preparou sua primeira exposição itinerante, formada por painéis independentes, adaptáveis e que podiam ser dobrados, dotados de lâmpadas (VOSSOUGHIAN13 13 VOSSOUGHIAN, N. Facts and artifacts: Otto Neurath and the social science of socialization. 2004. 393f. Thesis (Doctor of Philosophy) - Graduate School of Arts and Sciences, Columbia University, New York, 2004. apud VAN ACKER, 2011, p. 67), fato que deu início ao seu pensamento de se produzir museus via linhas de montagem (VAN ACKER, 2011, p. 67). Nas palavras do próprio Neurath14 14 NEURATH, O. Museums of the future. In: NEURATH, M.; COHEN, R. S. (Eds.). Empiricism and sociology. Dordrecht: Reidel, 1973. p. 218-223. (apud VOSSOUGHIAN, 2003, p. 82): "falar do museu do futuro é como falar do automóvel do futuro. Automóveis são manufaturados em série e não produzidos um a um numa fundição". Para Neurath, o museu havia se tornado um meio efêmero, que não tinha mais sua identidade relacionada a uma localização específica, sendo, portanto, uma forma de comunicação que não era mais limitada por barreiras físicas, assim, tanto a mobilidade como a comunicabilidade dos museus seriam aumentadas em escala internacional, fazendo com que os museus chegassem às massas, sem a necessidade do deslocamento destas (KRÄUTLER, 1995, p. 66; VAN ACKER, 2011, p. 67; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 82; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 247). Nessa lógica, Neurath chegou a considerar a criação de uma espécie de museu móvel dentro de um carro, que projetaria imagens em grande formato a curtas distâncias (VAN ACKER, 2011, p. 66-67). Para atingir tais objetivos, Neurath15 15 NEURATH, O. Museums of the Future. In: NEURATH, M.; COHEN, R. S. (Eds.). Empiricism and sociology. Dordrecht: Reidel, 1973. p. 218-223. (apud VOSSOUGHIAN, 2003, p. 82) acreditava que "somente através de um controle cuidadosamente unificado, planejado e centralizado de todos os museus e instituições educacionais seria possível guiar o público de um museu a outro com o maior benefício para sua educação".

Neurath tentou teorizar uma linguagem ideal da expografia de museus, que poderia ser conseguida através da padronização, uma vez que para ele "a padronização da cultura poderia ajudar a trazer senso e racionalidade às massas ao mesmo tempo em que promoveria o entendimento global" (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 83).

A combinação de tais ideias fez Neurath acreditar que a reprodução em série dos museus modernos poderia promover a democratização da cultura economicamente, já que métodos fordistas de produção ajudariam a reduzir custos de compra e exposição de objetos; e culturalmente, uma vez que padronizar museus levaria a um senso comum de história e tradição em todo o mundo (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 82). Conforme Vossoughian (2003, p. 82-83), para poder realizar esta empreitada, Neurath começou a trabalhar no conceito de "espaços universais", espaços que poderiam ser adaptados a qualquer circunstância geográfica ou cultural, conceito no qual Neurath trabalhou com o artista Gerd Arntz, buscando fundir o que os objetos diziam a como eles eram expostos. Para tanto, Neurath e Arntz buscaram criar os chamados "meta-ISOTYPEs", desenhos que ilustravam como as exibições gráficas do Museu da Sociedade e Economia poderiam ser padronizados no espaço e tempo (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 83).

Após desenvolver a padronização de museus com padrões uniformes de representação gráfica, leiaute e produção, Neurath passou a se preocupar com a produção de cópias do seu próprio museu (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 82). Nos anos 1930 Neurath conseguiu criar museus associados ao seu em Amsterdam, Berlim, Haia, Londres, Moscou e Nova Iorque, chegando a criar em Viena, em 1931, o Mundaneum de Viena16 16 Como será visto em seguida, Otlet e Neurath se influenciaram mutuamente, razão pela qual Otlet deu seu aval para que Neurath utilizasse o termo Mundaneum em sua instituição (VAN ACKER, 2011, p. 69; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 92). , responsável pela supervisão desses diversos museus, bem como da linguagem visual neles utilizada, e das exposições itinerantes do Museu da Sociedade e Economia (VAN ACKER, 2011, p. 69; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 92; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 252-253).

4 A influência mútua de Paul Otlet e Otto Neurath em suas concepções de museus

Neurath visitou Otlet no Palácio Mundial pela primeira vez no verão de 1929, e, a partir de então, ambos mantiveram um relacionamento breve, porém que os influenciou mutuamente (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 87, 93). Ambos acreditavam que museus podiam servir a propósitos tanto sociais como intelectuais; que a síntese era importante; e, no que se referia à educação visual, que era necessária a extração dos fatos essenciais, sendo para eles este tipo de educação internacional e geral, impactando nas estruturas sociais e políticas (VAN ACKER, 2011, p. 73-74; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 84).

Otlet influenciou as teorias que subjaziam ao Museu da Sociedade e Economia, na medida em que forneceu novos conceitos para Neurath pensar seus trabalhos relativos à museologia, tendo ajudado Neurath na realização de sua filosofia de museus e comunicação social em uma escala internacional, internacionalizando a carreira de Neurath (VAN ACKER, 2011, p. 64-65; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 84; VOSSOUGHIAN, 2008, p. 252).

O modelo adotado por Neurath para seus museus nos anos 1930, sua criação de diversos museus pelo mundo que respondiam a uma instituição central, bem como suas ideias relativas à padronização, foram emprestados de Otlet, sendo que a ideia de Neurath de que museus tinham de oferecer meios de comunicação universais somente foi cultivada após seu contato com o conceito da Cidade Mundial de Otlet (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 87, 92-93). Otlet teria sido o responsável por uma mudança nas prioridades do Museu da Sociedade e Economia, que deixara seu foco dos problemas de classe para problemas linguísticos e de comunicação, influência esta que fez com que Neurath passasse a se preocupar cada vez mais com o fluxo de informação entre países, em de vez com o fluxo de informação entre classes, vendo a necessidade do compartilhamento da informação entre os centros produtores de cultura e as margens da sociedade, concluindo que isto poderia ser solucionado com a produção em massa de museus (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 92-93).

A importância das imagens tanto para Otlet como para Neurath fez com que Otlet fosse influenciado na sua tabulação e esquematização de dados sociais, modernizando seus gráficos pela adoção do ISOTYPE (VAN ACKER, 2011, p. 65-66).

Em carta a Otlet, datada de 6 de julho de 1929, Neurath afirmou que acreditava que o trabalho conjunto de ambos poderia complementar seus esforços individuais e, no final de julho de 1929, Neurath e Otlet anunciaram publicamente planos de trabalharem juntos em projetos dedicados à realização de livros e exposições (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 87-88). Em outubro do mesmo ano, o anúncio foi formalizado pela assinatura de ambos em um protocolo que prometeu, por um período de dois anos, extensiva cooperação entre suas respectivas instituições e criou o Instituto Novus Orbis Pictus (NOP), uma entidade autônoma que supervisionaria as relações entre o Museu da Sociedade e Economia e o Palácio Mundial (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 88-89). O NOP objetivava a promoção da instrução através de imagens, livros e exposições, sendo que tudo o que fosse por ele produzido deveria ser disseminado ao redor do mundo, buscando-se a cooperação com instituições de diversos países, principalmente as de caráter internacional, de forma a, nas palavras do documento assinado, "consolidar a pesquisa científica, bem como espalhar e democratizar o conhecimento e seus instrumentos para disseminar a educação social ao redor do mundo" (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 88-89). No que se referia aos museus, o NOP buscava criar uma rede dos mesmos ao redor do mundo, que seriam chamados Mundaneums e seriam padronizados de acordo com especificações elaboradas conjuntamente entre o Museu da Sociedade e Economia e o Palácio Mundial, sua produção sendo efetuada em série (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 88). Caberiam ao Museu da Sociedade e Economia as questões relativas a design (construção e manutenção de exposições) e ao Palácio Mundial controlar a coleção, classificação e organização de cada projeto (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 89).

O NOP acabou por ser abandonado em meados de 1930, diversos fatores sendo os responsáveis para o ocorrido: a divisão do NOP em duas entidades separadas; o craque da bolsa de Nova Iorque em 1929, trazendo problemas relacionados a questões de financiamento; e os trabalhos nas respectivas instituições de Otlet e Neurath, que acabaram por ocupar o tempo de ambos (VOSSOUGHIAN, 2003, p. 91).

Além do NOP, Neurath e Otlet buscaram criar uma rede de museus, que seria chamada Cadeia Mundaneum: vários museus fariam parte dessa rede, que receberia a chamada exposição Mundaneum, permanentemente itinerante, que viajaria de país em país e seria enriquecida em cada um destes ao pegar emprestados materiais de diversas coleções (VAN ACKER, 2011, p. 68).

5 Analisando o pensamento museológico de Otlet e Neurath

Não é possível deixar de admirar certas concepções desenvolvidas por Otlet e Neurath, muitas delas correntes na contemporaneidade, porém revolucionárias quando de sua formulação. Ambos eram parte de uma nova geração, que veio a repensar o museu em um mundo em que este ainda era visto como uma câmara das maravilhas ou gabinete de curiosidades, uma geração que, na transição do século XIX para o século XX, acreditava nos ideais de "racionalidade, planejamento, padronização, mecanização, no valor do método científico e no ideal - se não inevitabilidade - do progresso científico e social" (RAYWARD, 2008, p. 12). Otlet e Neurath eram parte do grupo de diversos profissionais que passaram a se preocupar com

a reconstrução do sistema acadêmico de publicação; a redefinição de papéis, práticas e arranjos de bibliotecas e museus com relação à coleção, acumulação, exibição, armazenamento e recuperação de seus artefatos 'informativos'; a criação de redes 'documentárias' mundiais; e o desenvolvimento colaborativo de repositórios de dados 'científicos' (RAYWARD, 2008, p. 11).

Tais profissionais passaram a compor o chamado Movimento Bibliográfico, "que envolveu cientistas, pesquisadores, bibliotecários e bibliógrafos" (SANTOS, 2006, p. 1), todos eles preocupados em ordenar a explosão informacional derivada da industrialização, de forma a que a informação pudesse ser efetivamente utilizada.

Destarte, é possível perceber as inovações que as concepções museológicas de Otlet e Neurath traziam. A ideia de Otlet de que toda mídia é capaz de registrar conhecimento e, portanto, digna de figurar num museu, que se relaciona com a ideia de Neurath de que as tecnologias das mídias de massa deveriam ser inseridas nos museus, bem como a preocupação de Otlet com o conhecimento ser um todo integrado, de caráter internacional, e não algo dividido em compartimentos desconectados, permitiram uma percepção distinta de como o museu deveria configurar-se. Claro está que a ideia de Otlet de um único museu conter todo o conhecimento humano era utópica e a pretendida configuração do Museu Mundial, com uma perspectiva única sobre os eventos da história da humanidade, dotada de uma visão evolucionista, era deveras problemática; entretanto, a ideia do conhecimento como um todo integrado é cada vez mais presente. Contudo, em vez de mostrar essa integração via centralização, como preconizava Otlet, é possível mostrá-la por meio de exposições que, ainda que lidando com um conjunto limitado de um todo maior, mostrem que o acervo relaciona-se ao todo do conhecimento que existe em outras instituições, em outros registros do conhecimento e em distintas partes do mundo.

Diferentemente de Otlet, Neurath não associava museus à monumentalidade, acreditando que aqueles deveriam localizar-se em espaços cotidianos, adequados aos horários em que a classe trabalhadora pudesse efetuar visitas, prevendo, inclusive, o uso de luz artificial de maneira a democratizar o museu no tempo, como perceptível no trabalho expositivo realizado por Josef Frank no Museu da Sociedade e Economia. Estas ideias são correntes na museologia contemporânea, onde museus possuem mecanismos de facilitação de acesso, seja por horários estendidos, gratuidade de ingresso ou outros.

Ao considerar que o mundo não é feito de artefatos, mas sim de fatos ou ideias, Otlet dava importância não ao objeto em si, mas à sua significação, ao que ele representava em função das ideias que o produziram, ou seja, ao contexto maior de pensamento responsável pela produção daquele artefato. Justamente por acreditar que ideias estavam por trás de cada objeto é que Otlet acreditava que através do museu e do conhecimento apreendido por meio dele era possível transformar o público do mesmo em pessoas atuantes em suas vidas cotidianas, que, em última instância, por sua atuação individual estar conectada à de outrem, seriam capazes de dar origem a um mundo pacífico. Ainda que na contemporaneidade, o objetivo último de Otlet seja considerado ingênuo, não é possível desconsiderar que seu pensamento relativo à significação dos artefatos relaciona-se diretamente às teorias da cultura material e da ação cultural.

Neurath também acreditava na importância dos fatos e não dos artefatos, entretanto, sua preocupação era distinta daquela de Otlet; enquanto este se preocupava com os objetos enquanto algo socialmente construído e objetivava mostrar as ideias subjacentes a sua produção, o primeiro preocupava-se com a demonstração de fatos em si, pois objetivava mostrar forças estruturais, como exposto anteriormente. Isto levou a sua visão do museu como um espaço comunicativo, uma concepção bastante distinta da configuração dos gabinetes de curiosidades, destacando-se nesse processo a importância dada por Neurath à comunicação entre os gráficos produzidos via ISOTYPE, ou seja, à expografia. Isto se deve principalmente porque Neurath acreditava que através dos museus deveria ser dado poder de ação às pessoas, uma concepção semelhante à de Otlet. Na contemporaneidade o museu é, sem sombra de dúvidas, considerado um espaço comunicativo, que visa à modificação de seus visitantes, de forma a que possam agir sobre sua própria realidade e alterá-la.

Deve-se destacar, também, a percepção de ambos de que através da visualização era possível a aquisição de conhecimento, uma vez que se configura como uma ampliação da concepção do ato de conhecer. É evidente que as ideias de Otlet de que a visualização seria um meio superior para se adquirir conhecimento e o ceticismo de Neurath com relação à palavra escrita são questionáveis, uma vez que a geração de conhecimento ocorre de diversas maneiras e os propósitos de cada uma destas são distintos. Além disso, considerar que a representação visual transcenderia os problemas relativos à língua era algo extremamente ingênuo, já que, diferentemente do acreditado por Otlet e Neurath, a linguagem visual não é neutra e natural, mas também ela resultado da cultura na qual foi construída. Assim sendo, Neurath estava enganado em sua percepção de que este tipo de linguagem é capaz de transcender contingências locais, sendo intrinsecamente internacional. Outro problema grave destas ideias era o fato de não levarem em consideração todo um grupo da população desprovido de visão, o que por si só acaba com a interpretação de Neurath de que esta linguagem era necessariamente democrática.

Por último salientam-se as ideias de Otlet e Neurath relativas à disseminação das exposições, de forma a se levar o museu a todos. Neurath acreditava que os museus eram passíveis de produção em linhas de montagem e que era possível a padronização de exposições e a criação de "espaços universais", bastando um centro coordenador de museus, ideias estas que encontraram respaldo em Otlet, de forma que seu trabalho conjunto no NOP fazia uso dessas teorias. Além disso, Otlet e Neurath acreditavam na possibilidade de um museu móvel e da viagem da exposição Mundaneum aos museus da Cadeia Mundaneum. Hoje, é extremamente questionável a produção de museus por métodos fordistas e a padronização de exposições, uma vez que desconsideram adaptações locais e os diversos pontos de vista possíveis sobre um mesmo grupo de objetos, uma vez que aquilo que Neurath considerava um senso comum de tradição e história em todo o mundo é algo deveras contraditório, ignorando as culturas locais, questão muito valorizada na atualidade. No entanto, é digno de nota o fato de que por meio dessas ideias Otlet e Neurath buscavam resolver o problema da concentração do acervo em um único lugar, permitindo a disseminação dos acervos, não monopolizando o conhecimento somente entre aqueles capazes de se deslocarem até os locais onde os museus se encontravam, o que permitiria a concretização dos ideais de melhora da sociedade e pacifismo, nos quais Neurath e Otlet criam.

6 Considerações finais

Diversas são as críticas a serem feitas a algumas das ideias concebidas por Otlet e Neurath relativas aos museus; no entanto, não é possível esquecer que tais ideias representam o espírito do tempo do qual faziam parte. Não obstante, são diversas as contribuições de ambos ao mundo dos museus, muitas das quais fazem parte das atuais teorias da museologia e que deveriam fazer-se mais presentes em alguns museus da contemporaneidade. O pensamento de Otlet e Neurath também é capaz de trazer importantes contribuições para a museologia contemporânea, na medida em que apresentou novas formas de se pensar a instituição museu e sua função. Ademais, ambos os pensadores estudados viveram um momento de transição e grande mudanças tecnológicas, análogo ao que vivemos na contemporaneidade, de maneira que, sabendo contextualizar as ideias de ambos, é possível repensar o museu na atualidade, de forma a que esta instituição enfrente os desafios que a ela se apresentam.

Referências

BLANQUET, M. F. Paul Otlet. [S.l.]: Des ressources professionnelles pour les enseignants-documentalistes, 2006. Disponível em: <http://www.cndp.fr/savoirscdi/societe-de-linformation/le-monde-du-livre-et-de-la-presse/histoire-du-livre-et-de-la-documentation/biographies/paul-otlet.html>. Acesso em: 20 out. 2012.

CHABARD, P. Towers and globes: architectural and epistemological differences between Patrick Geddes's outlook towers and Paul Otlet's Mundaneums. In: RAYWARD, W. B. (Ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot: Ashgate, 2008. p. 105-125.

KRÄUTLER, H. Observations on semiotic aspects in the museum work of Otto Neurath: reflections on the 'Bildpädagogische Schriften' (writings on visual education). In: HOOPER-GREENHILL, E. (Ed.). Museum, media, message. London: Routledge, 1995. p. 59-71.

MUNDANEUM: archives of knowledge. Translated and adapted by: W. Boyd Rayward. Urbana-Champaign: Graduate School of Library and Information Science, University of Illinois at Urbana-Champaign, 2010. (Occasional papers, n. 215).

RAYWARD, W. B. The origins of Information Science and the International Institute of Bibliography/International Federation for Information and Documentation (FID). Journal of the American Society for Information Science, [New York], v. 48, n. 4, p. 289-300, 1997.

RAYWARD, W. B. Introduction. In: RAYWARD, W. B. (Ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot: Ashgate, 2008. p. 1-25.

RIEUSSET-LEMARIÉ, I. P. Otlet's Mundaneum and the international perspective in the history of Documentation and Information Science. Journal of the American Society for Information Science, [New York], v. 48, n. 4, p. 301-309, 1997.

SANTOS, P. M. L. O ponto de inflexão Otlet: uma visão sobre as origens da Documentação e o processo de construção do Princípio Monográfico. 2006. 138f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

VAN ACKER, W. Internationalist utopias of visual education: the graphic and scenographic transformation of the universal encyclopaedia in the work of Paul Otlet, Patrick Geddes, and Otto Neurath. Perspectives on Science, [Chicago], v. 19, n. 1, p. 32-80, Spring 2011.

VOSSOUGHIAN, N. The language of the World Museum: Otto Neurat, Paul Otlet, Le Corbusier. Transnational Associations/Associations Transnationales, [Brussels], n. 1-2, p. 82-93, June 2003.

VOSSOUGHIAN, N. The modern museum in the age of mechanical reproducibility: Otto Neurath and the Museum of Society and Economy in Vienna. In: RAYWARD, W. B. (Ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot: Ashgate, 2008. p. 214-255.

Recebido em 09.04.2013

Aceito em 17.09.2013

  • BLANQUET, M. F. Paul Otlet.
  • CHABARD, P. Towers and globes: architectural and epistemological differences between Patrick Geddes's outlook towers and Paul Otlet's Mundaneums. In: RAYWARD, W. B. (Ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot: Ashgate, 2008. p. 105-125.
  • KRÄUTLER, H. Observations on semiotic aspects in the museum work of Otto Neurath: reflections on the 'Bildpädagogische Schriften' (writings on visual education). In: HOOPER-GREENHILL, E. (Ed.). Museum, media, message London: Routledge, 1995. p. 59-71.
  • MUNDANEUM: archives of knowledge. Translated and adapted by: W. Boyd Rayward. Urbana-Champaign: Graduate School of Library and Information Science, University of Illinois at Urbana-Champaign, 2010. (Occasional papers, n. 215).
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  • RIEUSSET-LEMARIÉ, I. P. Otlet's Mundaneum and the international perspective in the history of Documentation and Information Science. Journal of the American Society for Information Science, [New York], v. 48, n. 4, p. 301-309, 1997.
  • SANTOS, P. M. L. O ponto de inflexão Otlet: uma visão sobre as origens da Documentação e o processo de construção do Princípio Monográfico. 2006. 138f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
  • VAN ACKER, W. Internationalist utopias of visual education: the graphic and scenographic transformation of the universal encyclopaedia in the work of Paul Otlet, Patrick Geddes, and Otto Neurath. Perspectives on Science, [Chicago], v. 19, n. 1, p. 32-80, Spring 2011.
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  • VOSSOUGHIAN, N. The modern museum in the age of mechanical reproducibility: Otto Neurath and the Museum of Society and Economy in Vienna. In: RAYWARD, W. B. (Ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot: Ashgate, 2008. p. 214-255.
  • 1
    O artigo é resultante de trabalho desenvolvido na disciplina Os Espaços da Arte e suas Representações: do Colecionismo ao Museu, ministrada pela Profa. Dra. Helouise Lima Costa, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. O artigo está vinculado ao projeto de mestrado da autora, que é apoiado financeiramente com bolsa de mestrado pela FAPESP (bolsa referente ao processo 2012/09084-0).
  • 2
    IRIYE, A.
    Cultural internationalism and world order. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1997.
  • 3
    Não há paginação por ser uma página da Internet.
  • 4
    As coleções deste museu estavam associadas a outras instituições fundadas por Otlet e, a partir de 1920, o museu foi reunido a outros empreendimentos de Otlet, vindo a formar o Palácio Mundial, que posteriormente viria a se chamar
    Mundaneum (MUNDANEUM..., 2010, p. 32).
  • 5
    DAVALLON, J.
    L'Exposition à l'oeuvre: stratégies de communication et médiation symbolique. Paris: L'Harmattan, 1999.
  • 6
    HAMMON, P.
    Expositions: littérature et architeture au XIXe siècle. Paris: Bibliothèque Nationale; Flammation, 1996.
  • 7
    As traduções dos textos em outros idiomas são de nossa responsabilidade.
  • 8
    Tanto a instituição anteriormente chamada Palácio Mundial como a Cidade Mundial que jamais foi concretizada, receberam o nome
    Mundaneum.
  • 9
    OTLET, P.; LE CORBUSIER.
    Mundaneum. Brussels: L'Union des Associations Internationales, 1928.
  • 10
    OTLET, P.; LE CORBUSIER.
    Mundaneum. Brussels: L'Union des Associations Internationales, 1928.
  • 11
    Sigla derivada do nome em inglês do método: International System of Typographic Picture Education.
  • 12
    NEURATH, O.
    International picture language. Reading: University of Reading, Department of Typography and Graphic Communication, 1980.
  • 13
    VOSSOUGHIAN, N.
    Facts and artifacts: Otto Neurath and the social science of socialization. 2004. 393f. Thesis (Doctor of Philosophy) - Graduate School of Arts and Sciences, Columbia University, New York, 2004.
  • 14
    NEURATH, O. Museums of the future.
    In: NEURATH, M.; COHEN, R. S. (Eds.).
    Empiricism and sociology. Dordrecht: Reidel, 1973. p. 218-223.
  • 15
    NEURATH, O. Museums of the Future.
    In: NEURATH, M.; COHEN, R. S. (Eds.).
    Empiricism and sociology. Dordrecht: Reidel, 1973. p. 218-223.
  • 16
    Como será visto em seguida, Otlet e Neurath se influenciaram mutuamente, razão pela qual Otlet deu seu aval para que Neurath utilizasse o termo Mundaneum em sua instituição (VAN ACKER, 2011, p. 69; VOSSOUGHIAN, 2003, p. 92).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      09 Abr 2013
    • Aceito
      17 Set 2013
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