Acessibilidade / Reportar erro

Saúde Ambiental e Ocupacional na Amazônia

Environmental and Occupational Health in the Amazon

Nas últimas décadas, em nome do desenvolvimento e garantia da soberania nacional, foi estimulada a implantação de grandes projetos na Amazônia, seguidos de intensos processos migratórios, principalmente de brasileiros oriundos da região Nordeste do Brasil. Esses movimentos foram também acompanhados de degradação ambiental, precárias condições de vida e gradativas alterações nas relações sociais e hábitos de vida dos povos da floresta.

A ausência de ordenamento territorial, a precária infraestrutura e a total falta de condições em fiscalizar as atividades em curso resultaram em impactos ambientais com efeitos diretos na saúde de inúmeros brasileiros. Como exemplo, citamos a proliferação de doenças parasitárias, como malária e leishmanioses, cujos registros aumentaram significativamente a partir do momento em que o homem começou a desbravar áreas longínquas e até então pouco habitadas. Porém temos que citar a ocorrência da exposição ocupacional ao mercúrio de mineradores artesanais e de trabalhadores em casas de compra de ouro a partir das atividades de extração e queima do amálgama, além da exposição ambiental ao metilmercúrio de ribeirinhos, mesmo em áreas remotas, por causa do contínuo lançamento de mercúrio no ambiente oriundo das atividades garimpeiras. Outras preocupações mais recentes estão associadas às queimadas que levam ao desaparecimento da cobertura vegetal e ao empobrecimento dos solos, aos avanços das fronteiras agrícolas com incrementos no uso de agrotóxicos, ao lançamento de resíduos no ar e de efluentes nas águas superficiais a partir das atividades industriais e de grandes empreendimentos minerais, bem como pela formação de grandes áreas de lixões, todos com registros de danos aos ecossistemas terrestres e aquáticos, e delineados como risco a saúde das populações.

Em paralelo a tudo isso, outros desafios foram surgindo, tornando cada vez maior a necessidade de consolidação da capacidade técnica e científica local. Apesar dos inúmeros incentivos governamentais focados na importância do desenvolvimento regional, ainda hoje, o número de doutores e de mestres na Amazônia é bastante limitado e, na maioria dos Estados, os maiores avanços foram por meio de cursos de mestrado, sem deixar de reconhecer a existência de Instituições de Ensino e Pesquisa, as quais despontam com grupos de excelência e méritos reconhecidos em âmbito nacional e internacional. Porém essa heterogeneidade é um fato que deixa lacunas com reflexos profundos na baixa capacidade técnica e científica dos profissionais aqui fixados, principalmente nas áreas distantes das grandes metrópoles, como Belém e Manaus. Mas, associado a esse fator, outros hiatos históricos são explicitados, como a dificuldade de divulgação científica de informações pertinentes dentro de escopos importantes no contexto amazônico.

Nesse contexto, temos as áreas da saúde ambiental e saúde ocupacional, campos do conhecimento científico importantíssimos para saúde pública na Amazônia e por meio dos quais se organizam pesquisas bem sistematizadas e que vêm sendo realizadas mesmo com tantas dificuldades associadas às questões de acesso às comunidades e à insuficiência de laboratórios especializados para realização de diagnósticos complementares. Não podemos fechar os olhos para o fato de que, atualmente, temos na região um grande número de indivíduos expostos a contaminantes e patógenos sem que se tenha garantido o acesso a centros especializados – estes normalmente muito distantes de imensas áreas habitadas. No entanto, precisamos gerar dados e também criar mecanismos para divulgação rápida de resultados acerca dessas populações ambiental e ocupacionalmente expostas a contaminantes. Esse seria o mecanismo para se discutir tecnicamente a ampliação do acesso à saúde na Amazônia.

Essas necessidades nos motivaram a convocar os pesquisadores da região na amplitude da Pan-Amazônia para que pudessem divulgar os resultados de seus estudos no que concerne à saúde ambiental e ocupacional na Amazônia. Muitos compreenderam essa importância e atenderam a este chamado nos enviando artigos que tornaram esta ação possível. Estamos felizes por contribuir cientificamente para melhoria da capacidade técnica e científica regional e, de imediato, colocamo-nos na linha de frente na busca de mais iniciativas para o fortalecimento da saúde coletiva na Amazônia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016
Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro Avenida Horácio Macedo, S/N, CEP: 21941-598, Tel.: (55 21) 3938 9494 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@iesc.ufrj.br