Acessibilidade / Reportar erro

Funções Exercidas pelos Membros das Redes Sociais Significativas de Pessoas Aposentadas

Roles of Members in Support Networks to Retirees

Funciones Ejercidas por los Miembros de las Redes Sociales de Personas Jubiladas

Resumo

Este estudo de caráter qualitativo teve como objetivo analisar as funções exercidas pelos membros das redes sociais significativas de pessoas aposentadas. Participaram da pesquisa doze aposentados com idade entre 52 e 66 anos. Os instrumentos de coleta de dados foram entrevistas semiestruturadas e mapas de redes. A organização e a análise dos dados se fundamentaram na Grounded Theory e contaram com o auxílio do software Atlas.ti versão 1.6.0. Os resultados evidenciaram que, embora os participantes sustentem vínculos em outros contextos relacionais, a família e os amigos se distinguem como os principais articuladores das interações sociais nesse período da vida. Identificou-se ainda que as redes influenciam diferentes momentos do processo de aposentadoria, sendo que as funções exercidas pelos membros foram recursos importantes que auxiliaram na tomada de decisão e no ajustamento dos idosos. Diante disso, o conjunto de resultados alcançados elucidam a relevância de considerar o universo relacional em que o aposentado se encontra participando, posto que, por meio dos intercâmbios afetivos construídos com os membros das redes sociais, consolidam-se ações que agenciam os processos de mudança atrelados à aposentadoria.

Palavras-chave:
Trabalho; Aposentadoria; Redes Sociais Significativas; Suporte Social; Família

Abstract

This qualitative study aims to assess the roles of members of Support Networks to Retirees. Data on 12 retirees aged between 52 and 66 years were collected by means of semi-structured interviews and Network Maps and analyzed in the light of the Grounded Theory using the 1.6.0 Atlas.ti software. Results show that families and friends are the primary source of social interaction for retirees, although they also establish relationships in other social settings. Moreover, the Support Networks exerted considerable influence on different stages of the retirement process, as members’ roles functioned as vital resources in aiding their decision-making and adjustments. These findings evince the relevance of considering the relational universe in which the retiree is inserted, for affective interactions consolidate the actions of managing every retirement-related process of change.

Keywords:
Work; Retirement; Significant Social Network; Social Support; Family

Resumen

Este estudio cualitativo tuvo como objetivo analizar las funciones ejercidas por los miembros de las redes sociales de personas jubiladas. Participaron 12 jubilados, con edades entre los 52 y los 66 años. Los instrumentos de recolección de datos fueron entrevistas semiestructuradas y mapas de red. La organización y el análisis de los datos se basaron en la teoría fundamentada y fueron realizadas con el software Atlas.ti versión 1.6.0. Los resultados mostraron que, aunque los participantes también mantuvieron lazos en otros contextos relacionales, la familia y los amigos fueron los principales articuladores de las interacciones sociales en este período de la vida. También se identificó que las redes influyeron en diferentes momentos del proceso de jubilación, y las funciones realizadas por los miembros fueron recursos importantes que les ayudaron en la toma de decisiones y el ajuste. Ante esto, los resultados evidencian la relevancia de considerar el universo relacional en el que participa el jubilado, ya que es a través de los intercambios afectivos constituidos con los miembros de las redes sociales que las acciones consolidan los procesos de cambio vinculados al retiro.

Palabras clave:
Trabajo; Jubilación; Redes Sociales Significativas; Apoyo Social; Familia

Introdução

A temática da aposentadoria tem sido alvo de intensos debates em diferentes setores sociais, sublevados pela demanda de resposta aos desafios da conjuntura contemporânea. Em países subdesenvolvidos como o Brasil, o número de pessoas idosas e aposentadas aumentou significativamente nas últimas décadas, deflagrando transformações estruturais nos padrões sociodemográficos mundiais (Simões, 2016Simões, C. C. S. (2016). Relações entre as alterações históricas na dinâmica demográfica brasileira e os impactos decorrentes do processo de envelhecimento da população. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.). Atrelado a isso, especificamente no cenário nacional, as propostas de reforma trabalhista e previdenciária (Camarano, 2017Camarano, A. A. (2017). Diferenças na legislação à aposentadoria entre homens e mulheres: Breve histórico. Mercado de trabalho, 62, 79-77. http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7823
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11...
) ameaçam direitos arduamente conquistados pela população brasileira e convocam a discussão sobre a garantia e o fortalecimento de políticas públicas e de práticas voltadas às necessidades dos trabalhadores e aposentados.

A literatura da área tem enfatizado o caráter complexo e multifacetado da aposentadoria, caracterizando-a como um processo longitudinal no qual o indivíduo diminui seu compromisso psicológico e comportamental com o trabalho visando encerrar sua participação nesse contexto. Assim, distante de ser um evento de tomada de decisão única, esse processo engloba fatores pessoais, organizacionais e sociais distintos que delineiam uma trajetória a ser percorrida, desde a visualização e a preparação para o novo período até o ajustamento propriamente dito, variando, inclusive, de acordo com a subpopulação a que se refere (França, Menezes, Bendassoli, & Macêdo, 2013França, L. H. F. P., Menezes, G. S., Bendassolli, P. F., & Macêdo, L. S. S. (2013). Aposentar-se ou continuar trabalhando?: O que influencia essa decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 548-563. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201300...
; Wang & Shi, 2014Wang, M., & Shi, J. (2014). Psychological research on retirement. Annual Review of Psychology, 65, 209-233. https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev-psych-010213-115131
https://www.annualreviews.org/doi/abs/10...
; Wang & Shultz, 2010Wang, M., & Shultz, K. S. (2010). Employee retirement: A review and recommendations for future investigation. Journal of Management, 36(1), 172-206. https://doi.org/10.1177/0149206309347957
https://doi.org/10.1177/0149206309347957...
).

Ao desligar-se do trabalho, o indivíduo vivencia uma série de repercussões que atingem diferentes dimensões de sua vida, dentre as quais citamos: os impactos na identidade a partir da alteração do status de trabalhador para aposentado (Zanelli, Silva, & Soares, 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: Construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.), a diminuição de recursos econômicos provenientes do direito adquirido, o que pode limitar os meios de subsistência individual e familiar (Camarano, 2020Camarano, A. A. (2020). Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: Órfãos ou novos pobres? Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 4169-4176. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.30042020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251...
; Hershey, Jacobs-Lawson, & Austin, 2013Hershey, D. A., Jacobs-Lawson, J. M., & Austin, J. T. (2013). Effective financial planning for retirement. In M. Wang (Ed.), The oxford handbook of retirement (pp. 402-430). Oxford University Press.; Schuabb & França, 2020Schuabb, T. C., & França, L. H. F. P. (2020). Planejamento financeiro para a aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura nacional sob o viés da psicologia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 20(1), 73-98. https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791
https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791...
), a iminência da realocação do tempo em outras atividades (Bressan, Mafra, França, Mello, & Loretto, 2013Bressan, M. A. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Mello, M. S. S., & Loretto, M. D. S. (2013). Bem-estar na aposentadoria: O que isto significa para os servidores públicos federais? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 16(2), 259-272. https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000200006
https://doi.org/10.1590/S1809-9823201300...
) e a reconfiguração da dinâmica relacional conjugal, familiar e com outros grupos sociais (Antunes, Soares, & Moré, 2015Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4...
; Azevedo & Carvalho, 2006Azevedo, R. P. C., & Carvalho, A. M. A. (2006). O lugar da família na rede social do lazer após a aposentadoria. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16(3), 76-82. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Santos, Moreira, & Cerveny, 2014Santos, D. F., Moreira, M. A. A., & Cerveny, C. (2014). Velhice - considerações sobre o envelhecimento: Imagens no espelho. Nova Perspectiva Sistêmica , 23(48), 80-94. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/53
https://www.revistanps.com.br/nps/articl...
; Szinovacz, Ekerdt, Butt, Barton, & Oala, 2012Szinovacz, M. E., Ekerdt, D. J., Butt, A., Barton, K., & Oala, C. R. (2012). Families and Retirement. In R. Blieszner & V. H. Bedford (Eds.), Handbook of families and aging (pp. 461-488). ABC-CLIO.).

Esse conjunto de mudanças afeta o desenvolvimento individual e familiar do idoso, configurando a aposentadoria como um evento estressor do estágio de ciclo vital tardio (Carter & McGoldrick, 2001Carter, B., & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. In B. Carter & M. McGoldrick (Orgs.), As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 7-29). Artmed.) que pode ocasionar, inclusive, problemas de saúde física e/ou emocional em virtude das decorrências desse processo (Leandro-França, 2014Leandro-França, C. (2014). Prevenção e promoção da saúde mental, políticas públicas sobre envelhecimento ativo e educação para aposentadoria. In S. G. Murta, C. Leandro-França & J. Seidl (Orgs.), Programas de educação para aposentadoria: Como planejar, implementar e avaliar (pp. 22-36). Sinopsys.). Nessa direção, os estudos mostram que as repercussões sustentam uma variedade de significados e representações atreladas a esse período e exigem o desenvolvimento de novas aprendizagens e habilidades, assim como a capacidade de adaptação (Amorim & França, 2019Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, e3558. https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
; Loureiro, Mendes, Camarneiro, Silva, & Pedreiro, 2016Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Perceptions about the transition to retirement: A qualitative study. Texto & Contexto, 25(1). https://doi.org/10.1590/0104-070720160002260015
https://doi.org/10.1590/0104-07072016000...
; Macêdo, Bendassolli, & Torres, 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v2...
; Zanelli, 2015Zanelli, J. C. (2015). Aposentadoria e pós-carreira. In P. F. Bendassolli & J. E. Borges-Andrade (Orgs.), Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (pp. 59-67). Casa do Psicólogo.).

Frente a isso, foram criados dispositivos legais que estabelecem estratégias para o atendimento dessa população, dentre os quais se ressalta o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, 2003Lei nº 10.741, de 1o de outubro de 2003. (2003). Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEI...
), que prevê a execução de programas de preparação para aposentadoria por parte das instituições públicas e privadas. Recentemente, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (2018) publicou a Portaria nº 12 (2018Portaria nº 12, de 20 de novembro de 2018. (2018). http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51058639/do1-2018-11-21-portaria-n-12-de-20-de-novembro-de-2018-51058368
http://www.in.gov.br/materia/-/asset_pub...
), que institui diretrizes para promoção da educação para aposentadoria de servidores públicos federais. Entende-se que, embora esses aparatos consolidem mecanismos de suporte aos aposentados (Zanelli, 2015Zanelli, J. C. (2015). Aposentadoria e pós-carreira. In P. F. Bendassolli & J. E. Borges-Andrade (Orgs.), Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (pp. 59-67). Casa do Psicólogo.), o desenvolvimento de ações de cuidado ainda é escasso, centralizando tal prerrogativa nas organizações de trabalho ou ocasionando a busca por profissionais da esfera privada que atuem com orientação para aposentadoria.

Para além desses dispositivos, a população idosa também pode contar com a ajuda das suas redes sociais significativas, que se definem como o conjunto de relações que uma pessoa estabelece com outras de diferentes contextos - família, amizades, trabalho, estudo, comunidade - e cuja interação é percebida e nomeada como significativa. As relações acontecem de forma regular e implicam sobre a constituição da identidade, notadamente na autoimagem, nos cuidados de saúde e na capacidade de adaptação e enfrentamento a situações de crise (Sluzki, 2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.). Tendo como substrato o pensamento sistêmico, esse conceito ancora-se na noção do sujeito como ser relacional, visualizando o pertencimento a grupos, comunidades e/ou instituições que integram o nicho interpessoal e contribuem para a construção identitária e o provimento de auxílio em eventos do ciclo vital (Moré & Crepaldi, 2012Moré, C. L. O. O., & Crepaldi, M. A. (2012). O mapa de rede social significativa como instrumento de investigação no contexto da pesquisa qualitativa. Nova Perspectiva Sistêmica, 21(43), 84-98. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/265
https://www.revistanps.com.br/nps/articl...
). Dessa maneira, pode-se dizer que o modelo considera o universo relacional de um indivíduo pela devida observação das distintas esferas e etapas de desenvolvimento ao longo do curso de vida e inserindo-o no meio social.

De acordo com Sluzki (2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.), cada vínculo presente nas redes sociais significativas cumpre funções específicas em consonância com o tipo predominante de intercâmbio relacional estabelecido entre as pessoas. São eles: a) companhia social: convivência e/ou realização de atividades; b) apoio emocional: trocas afetivas com reações emocionais positivas; c) guia cognitivo e de conselhos: fornecimento de informações e elucidações, além de modelos de papéis; d) regulação social: confirmação de responsabilidades e contribuição na resolução de conflitos; e) ajuda material e de recursos: auxílio econômico e/ou profissional; e f) acesso a novos contatos: abertura para o estabelecimento de outros vínculos.

Sobre a interface entre aposentadoria e redes sociais, Sluzki (2000Sluzki, C. E. (2000). Social networks and the elderly: Conceptual and clinical issues, and a family consultation. Family Process, 39(3), 271-284. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648...
, 2003) menciona ser comum, na fase tardia da vida, as redes sofrerem contração e os vínculos existentes serem reduzidos em virtude de morte, imigração e afastamento de colegas do trabalho. Nessa linha, as pesquisas informam que, em comparação ao tempo laboral, a aposentadoria acarreta a perda de um a quatro amigos (Requena, 2013Requena, F. (2013). Family and friendship support networks among retirees: A comparative study of welfare systems. The International Journal of Sociology and Social Policy, 33(3/4), 167-185. https://doi.org/10.1108/01443331311308221
https://doi.org/10.1108/0144333131130822...
), produzindo implicações sobre a tomada de decisão quanto ao desligamento laboral (Figueira, Haddad, Gvozd, & Pissinati, 2017Figueira, D. A. M., Haddad, M. C. L., Gvozd, R., & Pissinati, P. S. C. (2017). A tomada de decisão da aposentadoria influenciada pelas relações familiares e laborais. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 20(2), 207-215. https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
https://doi.org/10.1590/1981-22562017020...
), bem como nas possibilidades de assistência emocional e material (Hermida, Tartaglini, & Stefani, 2014Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., & Stefani, D. (2014). Redes de apoyo social en la vejez y su relación con la actitud hacia la jubilación. Revista Argentina de Clínica Psicológica, 23(3), 209-218. https://revistaclinicapsicologica.com/pdf_files/trabajos/vol_23/num_3/RACP_23_3_209_FBKAKP2D96.pdf
https://revistaclinicapsicologica.com/pd...
). Além disso, enfatiza-se que, em função do declínio próprio do avanço da idade, pode ocorrer restrições de convívio e atividades compartilhadas, reduzindo o tempo empregado em tais ações (Walsh, 2016Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.). Cabe mencionar também que tais aspectos se associam diretamente às questões de gênero, visto que homens e mulheres vivenciam trajetórias distintas em torno das experiências na família, no trabalho e, por sua vez, na definição de perspectivas para a aposentadoria (Knudson-Martin, 2016Knudson-Martin, C. (2016). Mudanças nas normas de gênero nas família e na sociedade. In F. Walsh (Org.), Processos normativos da família: Diversidade e complexidade (pp. 324-346). Artmed.; Madero-Cabib, Gauthier, & Le Goff, 2016Madero-Cabib, I., Gauthier, J., & Le Goff, J. (2016). The influence of interlocked employment - family trajectories on retirement timing. Work, Aging and Retirement, 2(1), 38-53. https://doi.org/10.1093/workar/wav023
https://doi.org/10.1093/workar/wav023...
; Oliveira, Almeida & Nunes, 2021Oliveira, P. K. Q., Almeida, A. N., & Nunes, A. (2021). Determinantes da decisão de aposentadoria no serviço público. Administração pública & Gestão Social, 13(1). https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895
https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895...
; Onyx & Baker, 2006Onyx, J., & Baker, E. (2006). Retirement expectations: Gender differences and partner effects in an Australian employer-funded sample. Australasian Journal on Ageing, 25(2), 80-83. https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006.00154.x
https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006...
).

Embora as experiências de perdas façam parte do processo de aposentadoria, há evidências de que as redes de apoio social operam como moduladoras nesse período do ciclo vital, tendo em vista a insurgência de um novo perfil de aposentados que ocupam papéis alternativos após o rompimento do vínculo laboral (Hermida, Tartaglini, Feldberg, & Stefani, 2017Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., Feldberg, C., & Stefani, D. (2017). El papel de las redes de apoyo social frente al desarrollo de trastornos psicofisiológicos asociados a la jubilación. Revista Argentina de Gerontología y Geriatría, 31(2), 35-41. https://www.ineba.net/media/7720769537.pdf
https://www.ineba.net/media/7720769537.p...
). A própria família, enquanto parte do meio social, tem sido incitada a rever o espaço oferecido ao aposentado e os estigmas comumente atrelados a ele, sendo que, com a ampliação e variação do curso de vida, intensificou-se a convivência multigeracional e diferentes membros são convocados a prestar cuidados e compartilhar recursos, além de que novos núcleos e configurações surgem a partir do divórcio e recasamento (Walsh, 2016Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.).

Considerando a problemática exposta, este artigo foi desenvolvido com o objetivo de analisar as funções exercidas pelos membros das redes sociais significativas de pessoas aposentadas. Cabe citar que os dados apresentados são resultantes de uma pesquisa maior, associada à tese de doutorado do primeiro autor, a partir da qual buscou-se compreender a dinâmica relacional das redes sociais significativas no processo de aposentadoria (Antunes, 2019Antunes, M. H. (2019). A dinâmica relacional das redes sociais significativas no processo de aposentadoria: um estudo com pessoas aposentadas e membros de suas redes relacionais [Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina]. Repositório Institucional da UFSC.).

A relevância científica deste estudo consiste, principalmente, em responder à lacuna de publicações brasileiras sobre a interface em questão, tendo como base os resultados obtidos em revisão sistemática da literatura realizada por Antunes e Moré (2017Antunes, M. H., & Moré, C. L. O. O. (2017). Revisão sistemática da literatura internacional sobre aposentadoria e redes sociais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(1), 57-68. http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p57.
http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/201...
). Assim, acredita-se que os resultados desta investigação poderão melhor contextualizar o debate acerca da dinâmica relacional estabelecida por aposentados em diferentes contextos de interação social, a partir de dados derivados do próprio país, oferecendo subsídios para a atuação de profissionais que trabalham com esse público.

Método

Participantes

Esta investigação de caráter qualitativo, exploratório e transversal, envolveu doze pessoas aposentadas, sendo que, para a definição do número de participantes, teve-se como referência o criterioso estudo de Guest, Bunce e Johnson (2006Guest, G., Bunce, A., & Johnson, L. (2006). How many interviews are enough?: An experiment with data saturation and variability. Field Methods, 18(1), 59-82. https://doi.org/10.1177/1525822X05279903
https://doi.org/10.1177/1525822X05279903...
), que constatou que essa quantidade de sujeitos possibilita a saturação teórica de informações coletadas no contexto da pesquisa qualitativa. Para efetivação da participação, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: a) estar aposentado num período de um a oito anos; b) não ter estabelecido novo vínculo de trabalho formal e/ou informal no último ano; e c) residir em meio urbano.

Em relação às características demográficas e socioeconômicas dos participantes, informa-se que sete eram mulheres e cinco eram homens, com idades entre 52 e 66 anos. O tempo de aposentadoria variou entre um ano e quatro meses e seis anos e um mês, sendo que nenhum deles retornou ao mercado de trabalho nesse período. A renda mensal média desses sujeitos era de, aproximadamente, R$ 3.800,00. O grau de escolaridade variou entre ensino fundamental incompleto e pós-graduação em nível lato sensu. Quanto ao estado civil e coabitação: nove eram casados e residiam com cônjuges e/ou filhos, uma participante era divorciada, tinha namorado e morava sozinha, uma era viúva e residia com a mãe e uma era solteira e vivia com a mãe e o irmão. Nos dois últimos casos, as participantes não possuíam filhos e não mantinham relacionamento amoroso no momento da pesquisa.

A investigação foi realizada em uma cidade de médio porte situada no interior do Estado de Santa Catarina. Embora possuíssem profissões distintas, todos os participantes eram aposentados do serviço público da esfera municipal.

Instrumentos

Para a coleta de dados foram empregadas entrevistas semiestruturadas, cujo roteiro contemplava três seções de perguntas: a) dados demográficos, socioeconômicos e identificatórios dos participantes; b) significados e experiências decorrentes do processo de aposentadoria; e c) o contexto relacional, isto é, as redes sociais significativas configuradas no processo de aposentadoria. Ademais, utilizou-se como ferramenta um mapa de redes, conforme proposto por Sluzki (2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.), que oportuniza representar graficamente o universo relacional de uma pessoa por meio de um sistema constituído pelos contextos: família, amizades, comunidade, serviços de saúde e/ou assistenciais e trabalho/estudo. O informante é simbolizado pelo ponto central e circundado por três círculos que aludem ao grau de compromisso em cada relação citada. As pessoas dispostas no círculo interno representam as conexões íntimas e cotidianas, enquanto as alocadas nos círculos intermediário e externo possuem menor grau de intimidade, demonstrando, respectivamente, contatos numa dimensão social e contingente. Cumpre notificar que, face aos objetivos deste estudo, realizou-se uma adaptação na proposta original do autor (Figura 1) no sentido de subtrair o contexto do trabalho, uma vez que os participantes, após se aposentarem, não constituíram novos vínculos empregatícios.

Figura 1
Mapa de redes (Sluzki, 2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo., adaptado).

Procedimentos

Coleta de dados

O acesso aos participantes foi conduzido por meio da técnica Snowball Sampling (Patton, 2015Patton, M. Q. (2015). Qualitative evaluation and research methods. Sage.). Num primeiro momento, o pesquisador realizou aproximação com o campo de pesquisa visando constituir alianças com pessoas que facilitassem o seu ingresso neste contexto, bem como a comunicação com possíveis participantes. Após receber sugestões, o pesquisador realizou contato telefônico com os futuros participantes com o intuito de apresentar a pesquisa e efetuar o convite para participarem dela.

Mediante a adequação aos critérios estabelecidos e a aceitação dos indivíduos a participar, agendou-se o encontro para coleta de dados. O local para efetivação de tal processo foi uma sala, com isolamento acústico, situada em uma instituição no município da pesquisa. O processo de coleta de dados foi realizado integralmente pelo primeiro autor deste artigo, sendo que, em momento anterior, ele contou com treinamento da segunda autora, que é pesquisadora sênior na área de redes.

Antes de iniciar as entrevistas, o pesquisador voltou a expor os objetivos do estudo, consultando, uma vez mais, sobre o interesse em conceder informações. Face a nova confirmação, foi lido, explicado e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

As entrevistas foram conduzidas individualmente, sendo que a confecção do mapa de rede seguiu as etapas recomendadas por Moré e Crepaldi (2012Moré, C. L. O. O., & Crepaldi, M. A. (2012). O mapa de rede social significativa como instrumento de investigação no contexto da pesquisa qualitativa. Nova Perspectiva Sistêmica, 21(43), 84-98. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/265
https://www.revistanps.com.br/nps/articl...
): a) aquecimento; b) apresentação do instrumento ao entrevistado; c) construção propriamente dita, com base no roteiro de entrevista; d) conclusão; e) adequação do mapa de redes ao contexto da pesquisa; e f) confecção do mapa de redes de cada participante. As informações captadas durante o encontro foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas.

Análise dos dados

Os dados da pesquisa foram organizados e analisados por meio do método Grounded Theory, tendo como base os princípios indicados por Strauss e Corbin (2008Strauss, A., & Corbin, J. (2008). Pesquisa qualitativa: Técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Artmed.), englobando três etapas: codificação aberta, axial e seletiva. Esse processo foi promovido pelo uso do software Atlas.ti versão 1.6.0 for Mac. Por meio dos procedimentos adotados, emergiram cinco categorias principais: a) rede da família; b) rede das amizades; c) rede da comunidade; d) rede de serviços de saúde e/ou assistenciais; e e) rede de estudos.

Considerações éticas

Em relação aos preceitos éticos de pesquisa, afirma-se que todos os procedimentos adotados foram pautados na legislação vigente, sobretudo, na Resolução nº 510 (2016Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. (2016). http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/...
) do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Após avaliação, o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da instituição de ensino superior que os pesquisadores encontram-se vinculados, através do Parecer Consubstanciado nº 2.083.315, aprovou a execução da investigação. Para fins de preservação do sigilo, os participantes estão identificados pela letra “P” acrescida de um número de 1 a 12 (e.g. P1, P2) que alude a ordem das entrevistas.

Resultados e discussão

Rede da família

Esta categoria congrega elementos atinentes à trama relacional estabelecida pelos aposentados com suas famílias, bem como as funções exercidas por tais pessoas. Frente ao conjunto de informações levantadas por meio do mapa de redes, a família é o contexto relacional de maior ênfase, com 97 membros mencionados, representando 53,89% do total de vínculos. Esse resultado converge com outros estudos (Azevedo & Carvalho, 2006Azevedo, R. P. C., & Carvalho, A. M. A. (2006). O lugar da família na rede social do lazer após a aposentadoria. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16(3), 76-82. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Bressan et al., 2013Bressan, M. A. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Mello, M. S. S., & Loretto, M. D. S. (2013). Bem-estar na aposentadoria: O que isto significa para os servidores públicos federais? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 16(2), 259-272. https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000200006
https://doi.org/10.1590/S1809-9823201300...
; Szinovacz et al., 2012Szinovacz, M. E., Ekerdt, D. J., Butt, A., Barton, K., & Oala, C. R. (2012). Families and Retirement. In R. Blieszner & V. H. Bedford (Eds.), Handbook of families and aging (pp. 461-488). ABC-CLIO.), validando a família como um dos principais núcleos que balizam as relações dos aposentados e influenciam o bem-estar nesse período da vida.

Nessa rede, os participantes incluíram membros tanto da família nuclear quanto da família de origem e extensa, abarcando pessoas de diferentes faixas etárias - desde crianças (e.g. netos e sobrinhos) até idosos (e.g. pais) - e também relações amorosas do passado, conforme mostra a Figura 2.

Figura 2
Número de membros na rede da família, de acordo com o tipo de vínculo.

Esses dados explicitam a diversidade de familiares com os quais os aposentados se vinculam diretamente, bem como a existência de fluxos de diálogo e apoio entre múltiplos atores, inclusive, numa perspectiva intergeracional. Segundo Walsh (2016Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.), essa característica é comum no ciclo vital tardio das famílias contemporâneas devido às mudanças sociais e demográficas ocorridas nos últimos anos, que incluem não só múltiplas configurações familiares, mas também a ampliação de envolvimento afetivo e oferta de suporte entre pessoas de diferentes gerações e tipos de vínculos. Associada a isso, avalia-se que a variedade de membros citados é um fator otimizador de intercâmbios entre pessoas com distintas habilidades, o que pode favorecer a reatividade da rede mediante às situações-problema vivenciadas por esses indivíduos.

Nesse sentido, os aposentados assinalaram que, com a saída do mercado de trabalho, o convívio familiar foi intensificado, configurando a principal fonte de companhia social. Notou-se que esse processo aconteceu tanto através do desenvolvimento de atividades em conjunto quanto por meio de visitas aos familiares que residem geograficamente distantes ou, ainda, que não mantinham comunicação frequente devido ao restrito tempo livre enquanto trabalhavam. Os membros mais recorrentemente citados como parcerias e contatos diários foram os companheiros(as), filhos e irmãos. Investigações antecedentes já referiram que a família concentra expressivamente tanto as expectativas e intenções de ação quanto os projetos estabelecidos para esse período da vida pelos aposentados (Amorim & França, 2019Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, e3558. https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558
https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558...
; Antunes et al., 2015Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4...
; Azevedo & Carvalho, 2006Azevedo, R. P. C., & Carvalho, A. M. A. (2006). O lugar da família na rede social do lazer após a aposentadoria. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16(3), 76-82. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v2...
; Bressan et al., 2013Bressan, M. A. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Mello, M. S. S., & Loretto, M. D. S. (2013). Bem-estar na aposentadoria: O que isto significa para os servidores públicos federais? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 16(2), 259-272. https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000200006
https://doi.org/10.1590/S1809-9823201300...
; Szinovacz et al., 2012Szinovacz, M. E., Ekerdt, D. J., Butt, A., Barton, K., & Oala, C. R. (2012). Families and Retirement. In R. Blieszner & V. H. Bedford (Eds.), Handbook of families and aging (pp. 461-488). ABC-CLIO.). Por sua vez, neste estudo, constata-se que tais vínculos se fazem presentes no cotidiano dessa população na medida em que concretizam atividades rotineiras.

Inclusive, nos dois casos (P5 e P11) em que as participantes não tinham relacionamento conjugal e parental, suas narrativas enfatizaram que os pais, irmãos e sobrinhos sobressaíram como vínculos próximos e disponíveis para a execução de ações em conjunto. É digno de nota o fato de que ambas as aposentadas residiam com alguns desses familiares, sendo que, especificamente no caso de P11, após desligar-se do trabalho, esta participante convidou a mãe para morar em sua casa, visando dispor de sua presença. Embora a experiência de ser aposentado solteiro possa repercutir no ajustamento e na satisfação nesse período da vida (Wang & Shultz, 2010Wang, M., & Shultz, K. S. (2010). Employee retirement: A review and recommendations for future investigation. Journal of Management, 36(1), 172-206. https://doi.org/10.1177/0149206309347957
https://doi.org/10.1177/0149206309347957...
), os dados deste estudo sugerem que, na ausência da família nuclear, os cuidados conferidos a esse público costumam ser assumidos por outros parentes.

As falas mostraram que a família cumpre, também, a função de apoio emocional, sendo que, principalmente, os cônjuges, namorado, filhos e irmãos foram nomeados como pessoas atentas ao bem-estar do aposentado e que ofertam amparo emocional. Para P10, que se aposentou por invalidez devido à perda parcial da capacidade ocular, a situação de adoecimento somada ao sentimento de solidão devido ao desligamento laboral gerou a necessidade de receber assistência direta de familiares. Tendo em vista que sua esposa permanecia trabalhando, P10 acionou a filha, visando obter o auxílio desta em seu dia a dia, que, após alguns meses, construiu uma casa e foi residir num terreno conjunto ao do pai. Entende-se que a operacionalização desse tipo de apoio é uma das tarefas subjacentes à família nesse período, pois a incorporação do aposentado acarreta novas demandas para serem enfrentadas pelos componentes desse sistema, dentre as quais podem estar presentes os sentimentos de insegurança e vazio (Carter & McGoldrick, 2001Carter, B., & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. In B. Carter & M. McGoldrick (Orgs.), As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 7-29). Artmed.). Além disso, observa-se que esse evento, associado às condições de saúde, como no caso de P10, pode requerer a reorganização do sistema familiar para cumprir a função de cuidado e colaborar com a pessoa aposentada, de modo que, de acordo com Walsh (2016Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.), algum familiar assume o papel de principal cuidador.

Os participantes expressaram que os familiares, sobretudo os cônjuges, irmãos, filhos e netos, contribuíram no seu acesso a novos contatos, agenciando a interlocução, direta e/ou indiretamente, com outras pessoas e grupos, quer seja por meio de indicações de possibilidades de participação e engajamento, quer seja por meio da execução de papéis concernentes à relação. Exemplo da segunda condição é o caso de P3, que, ao acompanhar diariamente o deslocamento do filho até a escola, estabeleceu contato com outros pais que circulavam nesse mesmo espaço e, a partir disso, construiu novas relações de amizade. Conforme discutem Carter e McGoldrick (2001Carter, B., & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. In B. Carter & M. McGoldrick (Orgs.), As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 7-29). Artmed.), cabe aos familiares encorajar os aposentados a se manterem ativos socialmente, o que envolve a construção e/ou renovação de relacionamentos nesse período.

Ademais, os aposentados referiram que, especialmente os pais, irmãos, cônjuges e o namorado, ofereceram feedbacks e questionaram determinados comportamentos frente às dificuldades vivenciadas na reorganização da vida após a aposentadoria, auxiliando os aposentados, portanto, por meio de funções de regulação social e guia cognitivo e de conselhos. Obteve-se, também, relatos em que os familiares, sobretudo os cônjuges, foram consultados na tomada de decisão pela aposentadoria, ou seja, os hoje aposentados buscaram recomendações sobre se deveriam se desligar ou não do trabalho. Esses elementos corroboram estudos anteriores ao evidenciar que as relações familiares influenciam na decisão sobre efetivar essa transição (Figueira et al., 2017Figueira, D. A. M., Haddad, M. C. L., Gvozd, R., & Pissinati, P. S. C. (2017). A tomada de decisão da aposentadoria influenciada pelas relações familiares e laborais. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 20(2), 207-215. https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
https://doi.org/10.1590/1981-22562017020...
) e cooperam através do acolhimento e do diálogo nesse período (Antunes et al., 2015Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4...
; Walsh, 2016Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.).

De acordo com as narrativas, a aposentadoria acarretou a diminuição de rendimentos econômicos, de modo que, em alguns casos, os parentes foram pontualmente acionados devido a necessidade de subsídios para complementar receita e, até mesmo, concretizar projetos pessoais para esse período. Além dos(as) companheiros(as), os pais, irmãos e filhos foram os membros mais recorrentemente associados à ajuda material e de serviços. Hershey et al. (2013Hershey, D. A., Jacobs-Lawson, J. M., & Austin, J. T. (2013). Effective financial planning for retirement. In M. Wang (Ed.), The oxford handbook of retirement (pp. 402-430). Oxford University Press.) discutem que a ausência de planejamento financeiro a longo prazo, somada à iminente possibilidade de reforma dos sistemas previdenciários, principalmente em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil, acentuam a ocorrência de fluxos de compartilhamento de recursos financeiros dos filhos e outros familiares para suprir as necessidades dos aposentados, cujos aspectos foram confirmados em produções nacionais (Camarano, 2020Camarano, A. A. (2020). Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: Órfãos ou novos pobres? Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 4169-4176. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.30042020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020251...
; Schuabb & França, 2020Schuabb, T. C., & França, L. H. F. P. (2020). Planejamento financeiro para a aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura nacional sob o viés da psicologia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 20(1), 73-98. https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791
https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791...
). Nessa perspectiva, Madero-Cabib et al. (2016Madero-Cabib, I., Gauthier, J., & Le Goff, J. (2016). The influence of interlocked employment - family trajectories on retirement timing. Work, Aging and Retirement, 2(1), 38-53. https://doi.org/10.1093/workar/wav023
https://doi.org/10.1093/workar/wav023...
) identificaram que a ausência de apoio familiar nesse quesito pode fomentar a postergação da aposentadoria, mantendo os sujeitos no mercado de trabalho.

Diante do exposto nesta categoria, é possível depreender que diversos membros da rede familiar são ativados para responder às necessidades dos aposentados nessa etapa do ciclo vital. Desse modo, analisa-se que a família é desafiada a manejar os desdobramentos que ocorrem no estilo de vida do aposentado para contribuir no desempenho de tarefas emocionais e práticas. Esse processo demanda a ressignificação e rearticulação dos papéis historicamente exercidos pelos membros para, com isso, possibilitar, concomitantemente, o acolhimento do indivíduo e a continuidade dos movimentos desenvolvimentais do sistema familiar.

Além disso, cabe ressaltar a recorrência averiguada quanto ao desempenho de funções de rede por parte dos cônjuges/namorado, filhos e irmãos. Ao passo que esses elementos evidenciam a capacidade dos subsistemas conjugal, parental e fraternal de retroalimentar os aposentados através de fluxos de ajuda, em termos de intervenção profissional, é particularmente importante estar atento à concentração de funções nessas pessoas, o que pode gerar sobrecarga e/ou dependência.

Rede das amizades

Esta categoria reúne elementos acerca do vínculo e das funções exercidas pelos amigos dos aposentados. Nessa rede foram nomeadas 49 pessoas, conformando, em termos de número de membros, o segundo contexto relacional de maior abrangência. Com exceção de P4 e P7, que citaram, respectivamente, nove e treze amigos, os demais participantes apresentaram redes compostas de um a quatro amigos e verbalizaram que estavam incluindo “os que são amigos, amigos mesmo” (P5). Esses aspectos podem representar certa seletividade desse público em torno das amizades nesse período, enfatizando a valorização de pessoas com um histórico relacional já constituído e/ou que compartilhassem de interesses afins (Azevedo & Carvalho, 2006Azevedo, R. P. C., & Carvalho, A. M. A. (2006). O lugar da família na rede social do lazer após a aposentadoria. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16(3), 76-82. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

Ademais, informa-se que, com ressalva para o caso de P7, que mencionou amizades de ambos os gêneros - devido serem casais que integram a sua rede conjugal -, os outros 11 participantes referiram exclusivamente relações do mesmo gênero. Nessa direção, as aposentadas alocaram em seus mapas entre uma a nove amigas, e os aposentados entre dois e três amigos. No conjunto, predominaram nessa rede relacionamentos amistosos com mulheres (31 membros), em detrimento dos mantidos com homens (18 membros).

Sobre esse assunto, outras produções já indicaram que as mulheres tendem a prolongar a permanência no mercado de trabalho devido a questões sócio-históricas e econômicas (Oliveira et al., 2021Oliveira, P. K. Q., Almeida, A. N., & Nunes, A. (2021). Determinantes da decisão de aposentadoria no serviço público. Administração pública & Gestão Social, 13(1). https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895
https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895...
) e ao fato de que a aposentadoria acarreta a diminuição do número de amigos (Requena, 2013Requena, F. (2013). Family and friendship support networks among retirees: A comparative study of welfare systems. The International Journal of Sociology and Social Policy, 33(3/4), 167-185. https://doi.org/10.1108/01443331311308221
https://doi.org/10.1108/0144333131130822...
), bem como as mulheres aposentadas, em comparação aos homens, possuem mais interesse em ocupar seu tempo socializando com esses atores (Onyx & Baker, 2006Onyx, J., & Baker, E. (2006). Retirement expectations: Gender differences and partner effects in an Australian employer-funded sample. Australasian Journal on Ageing, 25(2), 80-83. https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006.00154.x
https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006...
). Porém, com base nos dados obtidos, na especificidade do contexto no qual se insere esta pesquisa, é possível afirmar que a configuração da rede das amizades se sustenta em padrões socioculturais acerca do gênero, prevalecendo relações entre pessoas que expressam os mesmos significados quanto a essa questão. Cabe problematizar que as construções estereotipadas limitam o desenvolvimento relacional de homens e mulheres, uma vez que instituem formatos rígidos de como acontece a socialização para cada público (Knudson-Martin, 2016Knudson-Martin, C. (2016). Mudanças nas normas de gênero nas família e na sociedade. In F. Walsh (Org.), Processos normativos da família: Diversidade e complexidade (pp. 324-346). Artmed.).

No tocante às funções desempenhadas, os relatos indicaram que os membros dessa rede contribuem por meio de escuta empática, incentivos e compreensão, caracterizando-se, principalmente, pela oferta de apoio emocional, tal como no estudo de Hermida et al (2014Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., & Stefani, D. (2014). Redes de apoyo social en la vejez y su relación con la actitud hacia la jubilación. Revista Argentina de Clínica Psicológica, 23(3), 209-218. https://revistaclinicapsicologica.com/pdf_files/trabajos/vol_23/num_3/RACP_23_3_209_FBKAKP2D96.pdf
https://revistaclinicapsicologica.com/pd...
). Ademais, os participantes expressaram que, depois da família, os amigos foram a rede que mais buscaram para concretizar ações e conversar sobre assuntos diversificados, afirmando a execução das funções de companhia social, guia cognitivo e de conselhos e, ainda, de regulação social. Em consonância com estudos anteriores, concebe-se que a interação positiva com esses atores influencia a decisão pela aposentadoria (Figueira et al., 2017Figueira, D. A. M., Haddad, M. C. L., Gvozd, R., & Pissinati, P. S. C. (2017). A tomada de decisão da aposentadoria influenciada pelas relações familiares e laborais. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 20(2), 207-215. https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
https://doi.org/10.1590/1981-22562017020...
), reflete em intenções de projetos de atividades em conjunto (Macêdo et al., 2017Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v2...
) e, ainda, contribui para uma percepção mais otimista das condições de adaptação a esse período (Zanelli et al., 2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: Construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.).

As falas dos participantes expuseram que os aplicativos de comunicação virtual são instrumentos que potencializam tal interlocução, possibilitando o diálogo constante e a articulação de atividades grupais presencialmente. O fenômeno atual de aumento da abrangência das tecnologias de comunicação via internet tem gerado um processo de acessibilidade à pessoas e informações para os indivíduos no ciclo vital tardio (Castro & Camargo, 2017Castro, A., & Camargo, B. V. (2017). Representações sociais da velhice e do envelhecimento na era digital: Revisão da literatura. Psicologia em Revista, 23(3), 882-900. http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2017v23n3p882-900
http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.20...
). Em termos de redes sociais significativas, observa-se que tal fenômeno pode repercutir positivamente na sensibilidade e reatividade das amizades mantidas pelos aposentados, tendo em vista que oportuniza o diálogo com membros próximos e/ou distantes geograficamente (Sluzki, 2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.).

Por conseguinte, segundo os aposentados, os amigos também proporcionaram acesso a novos contatos, o que foi caracterizado pela apresentação de outras parcerias e indicação de atividades possíveis de serem desenvolvidas. Esse aspecto coaduna-se com o estudo de Loureiro et al. (2016Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Perceptions about the transition to retirement: A qualitative study. Texto & Contexto, 25(1). https://doi.org/10.1590/0104-070720160002260015
https://doi.org/10.1590/0104-07072016000...
), elucidando que essas relações se constituem como um meio de incentivo para a manutenção da interação social.

Embora pouco citada, a função de ajuda material e de serviços também foi associada às amizades, sendo que, de acordo com as verbalizações, os amigos aposentados encontravam-se em condições econômicas similares no que diz respeito à diminuição de renda, o que restringia a possibilidade de contar com auxílio financeiro. Nota-se que a homogeneidade dessa rede, no tocante ao nível socioeconômico, implica sobre as possibilidades de resposta às demandas nessa área, indo ao encontro do que discute Sluzki (2003Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.). Analisa-se que, na conjuntura brasileira atual, com a iminência de mudança das regras previdenciárias, a perda de direitos conquistados por essa população pode ocasionar sofrimento psicológico (Leandro-França, 2014Leandro-França, C. (2014). Prevenção e promoção da saúde mental, políticas públicas sobre envelhecimento ativo e educação para aposentadoria. In S. G. Murta, C. Leandro-França & J. Seidl (Orgs.), Programas de educação para aposentadoria: Como planejar, implementar e avaliar (pp. 22-36). Sinopsys.) e a redução da segurança financeira, precarizando a vida desses indivíduos. Esses aspectos podem ser ainda mais enfatizados no caso das mulheres aposentadas, tendo em vista que a previdência reproduz as desigualdades sociais do mercado de trabalho (Camarano, 2017Camarano, A. A. (2017). Diferenças na legislação à aposentadoria entre homens e mulheres: Breve histórico. Mercado de trabalho, 62, 79-77. http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7823
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11...
).

Os dados apreciados nesta categoria conduzem a refletir que a rede das amizades dos aposentados se mostra efetiva, especialmente no seu desempenho de apoio emocional e no compartilhamento de atividades, cujos aspectos podem ser particularmente importantes na transição e adaptação ao novo momento de vida, visto que favorecem a organização da identidade do indivíduo nesse período. Por outra via, cabe considerar a presença da estereotipia de gênero na conformação dessa rede, sendo oportuno que tais questões sejam problematizadas nas intervenções profissionais com a finalidade de refletir sobre o tema e incentivar a construção de relações na ótica da diversidade, o que pode, inclusive, conferir melhores resultados na dinâmica interacional dessas pessoas.

Rede da comunidade

Esta categoria congrega elementos acerca dos vínculos dos participantes com a comunidade, bem como evidencia as funções conferidas aos membros dessa rede. Primeiramente, cabe informar que dois participantes não referiram membros nessa rede, P6 afirmou possuir uma rede grande, constituída eminentemente por relações familiares, e P9 possuía uma rede pequena, com apenas seis integrantes, distribuídos entre familiares e amigos. Os demais, por sua vez, incluíram três pessoas - dois pastores e um conhecido da igreja - e 18 grupos ou instituições, totalizando 21 membros.

As narrativas enfatizaram que a aposentadoria potencializou a participação em atividades e/ou agrupamentos comunitários, respondendo tanto ao interesse de ocupar o tempo livre quanto ao fato de que, enquanto permaneciam trabalhando, tinham uma jornada intensa de tarefas que não possibilitava o envolvimento em práticas dessa ordem. As funções predominantemente designadas a esses membros foram companhia social e acesso a novos contatos, visto que a integração nos grupos e a convivência com as pessoas conferiu o estabelecimento de uma rotina e de ações compartilhadas, assim como oportunizou que outras parcerias fossem identificadas. Esses elementos demonstram que os aposentados podem construir uma rede antes inexistente, a partir da qual emergem novos papéis e vínculos que outorgam sentido a esse período da vida (Hermida et al., 2017Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., Feldberg, C., & Stefani, D. (2017). El papel de las redes de apoyo social frente al desarrollo de trastornos psicofisiológicos asociados a la jubilación. Revista Argentina de Gerontología y Geriatría, 31(2), 35-41. https://www.ineba.net/media/7720769537.pdf
https://www.ineba.net/media/7720769537.p...
; Sluzki, 2000Sluzki, C. E. (2000). Social networks and the elderly: Conceptual and clinical issues, and a family consultation. Family Process, 39(3), 271-284. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648...
).

A esses membros também foram associadas as funções de apoio emocional e guia cognitivo e de conselhos, sendo que, de acordo com os relatos, a realização das atividades nesses espaços promoveu suporte afetivo e conversações sobre diversos assuntos. Nessa linha, sobressaíram-se menções às instituições e grupos religiosos como sendo espaços nos quais os participantes sentiam-se acolhidos e desenvolviam reflexões sobre situações de suas vidas, corroborando os resultados obtidos por Requena (2013Requena, F. (2013). Family and friendship support networks among retirees: A comparative study of welfare systems. The International Journal of Sociology and Social Policy, 33(3/4), 167-185. https://doi.org/10.1108/01443331311308221
https://doi.org/10.1108/0144333131130822...
).

Os aposentados verbalizaram ainda que, através dos membros dessa rede, receberam orientações e conhecimentos, caracterizando posicionamentos de regulação social e ajuda material e de serviços. No caso dos participantes que integravam a Associação de Aposentados, obteve-se relatos enfatizando a relevância das palestras e outras ações que abordaram o tema da aposentadoria, oportunizando informações e a troca de experiências entre os integrantes desse nicho. Zanelli et al (2010Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: Construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.) salientam que o engajamento em associações é capaz de promover senso de pertencimento e representatividade, pois nelas são discutidas pautas de interesse desse público, cujo aspecto deve ser reiterado em práticas de orientação para aposentadoria.

Os dados desta categoria demonstram que a integração em agrupamentos e atividades comunitárias e a ênfase na espiritualidade são mecanismos que subsidiaram a ressignificação do estilo de vida na aposentadoria, tendo em vista a iminência do tempo livre e a busca por companhia social. Para tanto, é relevante que as intervenções profissionais assessorem o mapeamento de potenciais contextos para o envolvimento dos aposentados de acordo com seus interesses, conferindo a identificação de espaços e ações que podem ser contemplados no planejamento para esse período.

Rede de serviços de saúde e/ou assistenciais

Nesta categoria foram agrupados elementos acerca do vínculo dos participantes com a rede de serviços de saúde e/ou assistência, além das funções exercidas por membros desta rede. Enquanto cinco aposentados - P3, P7, P8, P9 e P11 - não indicaram membros nessa rede, os demais nomearam nove pessoas e uma instituição: profissionais de saúde - oito médicos de diferentes especialidades e um fisioterapeuta - e o Instituto de Seguridade dos Servidores Municipais da localidade onde transcorreu a pesquisa.

Os participantes descreveram que necessitaram buscar atendimentos de saúde devido à demandas de ordem física e/ou mental, tais como câncer, problemas de coluna e depressão, principalmente em clínicas privadas, em função de benefícios previstos para servidores municipais. Aos profissionais dessa área foram designadas as funções de guia cognitivo e de conselhos, apoio emocional e ajuda material e de serviços, sendo que os relatos evidenciaram a importância do cuidado ofertado pelos profissionais por meio da orientação e do amparo emocional.

As mesmas funções foram também atribuídas ao Instituto de Seguridade dos Servidores Municipais, cujas narrativas qualificaram esse serviço como um referencial para a busca de informações sobre direitos pelos aposentados, que contaram com profissionais que os auxiliaram por meio de acolhimento e assistência. P12, por exemplo, embora não tenha incluído o instituto em seu mapa, mencionou, ao longo da entrevista, que tinha dúvidas sobre se aposentar, mas que após consultar uma trabalhadora do instituto obteve dados que subsidiaram sua tomada de decisão. Ponderando que são diversos os elementos a serem considerados nesse processo decisório, que comumente geram certa ambivalência de sentimentos e percepções quanto à aposentadoria (Figueira et al. 2017Figueira, D. A. M., Haddad, M. C. L., Gvozd, R., & Pissinati, P. S. C. (2017). A tomada de decisão da aposentadoria influenciada pelas relações familiares e laborais. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 20(2), 207-215. https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
https://doi.org/10.1590/1981-22562017020...
), nota-se o papel importante que os trabalhadores da referida instituição podem assumir na perspectiva de orientação dessa população, colaborando por meio de conhecimentos técnicos e habilidades relacionais.

Pode-se pensar, em vista desses dados, que o atendimento produzido nesta rede abarca, para além da solução de demandas pontuais, trocas interpessoais num ambiente de acolhimento e cuidado. Em termos de análise de redes sociais significativas, é oportuno questionar se esses especialistas, resguardadas as contingências, se reconhecem como parte das relações dos aposentados, retroalimentando-os com as funções a eles designadas, visto que a dimensão interacional, por vezes, não é devidamente considerada no exercício profissional. Para Sluzki (2000Sluzki, C. E. (2000). Social networks and the elderly: Conceptual and clinical issues, and a family consultation. Family Process, 39(3), 271-284. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648...
), nos casos em que há ausência de relações íntimas em outros contextos, esses tipos de serviços podem ser ainda mais procurados para fins de contato social.

Os aspectos apreciados nesta categoria revelaram a articulação dos serviços sócio-assistenciais e de saúde no provimento de suporte a pessoas aposentadas, sendo que a identificação dos profissionais que atuam nesses espaços como membros das redes relacionais desse público é um dos achados que derivam desta pesquisa. Com base nisso, ressalta-se que os agentes que viabilizam esses serviços devem estar atentos às implicações da posição que ocupam no cuidado e apoio emocional a essa população, caracterizando-a pela humanização dos processos. Nessa medida, julga-se necessário a abordagem da temática da aposentadoria, em sua dimensão psicossocial, nos espaços formativos desses profissionais para que possam melhor compreender as miríades envolvidas nessa experiência e qualificar a sua intervenção.

Além disso, é interessante destacar a ausência de menção às equipes e aos equipamentos públicos de saúde e assistência social, o que se associa à singularidade dos participantes, que acessam benefícios específicos devido ao fato de serem aposentados do serviço público. Novas pesquisas devem investigar sujeitos com outras experiências laborais e de outros estratos socioeconômicos, a fim de compreender a dinâmica relacional com equipes de saúde no contexto comunitário. Considerando a relevância da atuação desses profissionais, enfatiza-se que as ações de prevenção e promoção de saúde de pessoas aposentadas devem ser implementadas em conjunto com a educação para a aposentadoria ao longo da vida, favorecendo o planejamento adequado para essa transição e o reconhecimento de recursos de enfrentamento às mudanças no estilo de vida (Leandro-França, 2014Leandro-França, C. (2014). Prevenção e promoção da saúde mental, políticas públicas sobre envelhecimento ativo e educação para aposentadoria. In S. G. Murta, C. Leandro-França & J. Seidl (Orgs.), Programas de educação para aposentadoria: Como planejar, implementar e avaliar (pp. 22-36). Sinopsys.), o que está atrelado também às premissas das políticas de envelhecimento ativo (Organização Mundial de Saúde, 2005Organização Mundial de Saúde. (2005). Envelhecimento ativo: Uma política de saúde. Organização Pan-Americana de Saúde.).

Rede de estudos

Esta categoria congrega elementos acerca da relação instituída pelos participantes com pessoas no contexto de estudos, bem como as funções atribuídas às mesmas. Somente dois aposentados (P1 e P4) citaram que estavam engajados em atividades nesse campo e incluíram três membros - um professor de idiomas, uma professora de artesanato e um colega do curso de artesanato - configurando a rede de menor tamanho se comparada às demais. Entende-se que o número restrito de participantes realizando práticas dessa ordem pode indicar que essa dimensão não está sendo visualizada enquanto ação plausível de ser realizada nesse período da vida, elucidando a priorização, pelos aposentados, de atividades de caráter pragmático ao invés de obrigações institucionais. Ademais, considerando que os processos de ensino e aprendizagem para pessoas no ciclo vital tardio, principalmente em ambientes formais, não são reforçados social e politicamente, ressalta-se que essa realidade pode se fundamentar em elementos da própria história desse público, uma vez que, conforme explicam Santos, Moreira e Cerveny (2014Santos, D. F., Moreira, M. A. A., & Cerveny, C. (2014). Velhice - considerações sobre o envelhecimento: Imagens no espelho. Nova Perspectiva Sistêmica , 23(48), 80-94. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/53
https://www.revistanps.com.br/nps/articl...
), em gerações anteriores, tal questão não era incentivada e estava pouco disponível, especialmente às mulheres.

Aos três membros desta rede, os aposentados designaram as funções de companhia social, guia cognitivo e de conselhos e acesso a novos contatos, cujos relatos explicitaram que essas pessoas contribuíram a partir da convivência, do compartilhamento de atividades e saberes, além de conselhos sobre aspectos pessoais. A esse respeito, P4 informou que, nos primeiros meses como aposentada, sentia-se sozinha, visto que o marido e os filhos estavam envolvidos em trabalho, estágio e/ou estudos. Diante disso, decidiu ingressar no curso de artesanato para aprender uma prática de seu interesse, onde acabou por se aproximar afetivamente da professora e dos colegas, que passaram a integrar seu nicho de relacionamento pessoal.

Esses dados demonstram que, a partir dos vínculos constituídos com pessoas dessa rede, os aposentados podem alcançar meios que promovam o seu desenvolvimento pessoal e a manutenção da interação social. Além disso, chama à atenção o fato de que os participantes não apresentaram interesse em realizar cursos formais como, por exemplo, de graduação ou pós-graduação, sendo essa uma singularidade dos indivíduos envolvidos neste estudo. Nessa medida, observa-se que os projetos nesse campo podem se direcionar mais ao desejo de se dedicar e de empregar o tempo livre do trabalho em cursos de aperfeiçoamento em áreas distintas das atividades desenvolvidas ao longo da vida profissional do que na realização de estudos formais.

Considerações finais

Mediante os dados discutidos e visando responder ao objetivo deste artigo, constata-se que os vínculos presentes nas redes sociais significativas dos participantes afetaram diretamente o processo de ajustamento e adaptação à aposentadoria por meio do provimento de recursos que potencializaram esses indivíduos e possibilitaram o enfrentamento às experiências estressoras. É importante ressaltar a multiplicidade de membros elencados pelos aposentados que interferiram em momentos distintos, desde a tomada de decisão até a consolidação de um projeto para esse período. Ademais, esses membros, além de participarem de atividades rotineiras, subsidiaram o cuidado dos aposentados frente às mudanças decorrentes desse processo.

Nesse sentido, o conjunto de resultados obtidos permitem considerar o movimento complexo engendrado na trama relacional dessas redes, uma vez que, a partir do desligamento laboral, os aposentados ampliaram a convivência com pessoas que já participavam de seu cotidiano e, ao mesmo passo, resgataram e/ou se aproximaram de outros/novos contatos sociais, cujo compromisso afetivo, na especificidade de cada relação, estabeleceu um campo de construção de conversações que geraram efeitos sobre a ressignificação da proposta de vida para esse período. Desse modo, este estudo complementa e avança na produção de conhecimento científico ao evidenciar a gama de elementos que emergem dos diferentes contextos relacionais em que os aposentados se encontram interligados, visibilizando a estruturação dos vínculos e suas funções na reconstrução do estilo de vida na aposentadoria. Assim, aponta-se a demanda de abordagens abrangentes na leitura dessa transição e suas repercussões, cuja reflexão deve contemplar a análise pormenorizada da realidade sociocultural dos aposentados, identificando a dinâmica que estes constroem junto aos seus vínculos e a mobilização de ajuda que recebem destes.

Em termos metodológicos, cabe frisar que o mapa de redes se apresenta como um instrumento eficaz que, associado à entrevista semiestruturada, possibilitou acessar o universo relacional dos sujeitos envolvidos na pesquisa, bem como visualizar a multiplicidade de membros e as funções por eles exercidas a partir do histórico relacional que permeia os vínculos. Sugere-se que essa ferramenta seja empregada nas práticas profissionais, especialmente em programas de orientação para aposentadoria, com a finalidade de avaliar o conjugado de relações que abraçam o aposentado e, igualmente, promover a distinção, por parte do próprio indivíduo, das funcionalidades de cada uma de suas redes.

No marco de uma investigação de caráter qualitativo, as limitações deste estudo assentam-se nas características dos participantes, sobretudo no fato de terem sido incluídos servidores públicos aposentados de um único município e que acessam o mesmo modelo de regime previdenciário, o que demarca um contexto particular de análise. Ademais, observa-se a delimitação temporal dos dados, uma vez que se trata de uma pesquisa transversal - ou seccional. Em vista disso, recomenda-se que novas investigações sejam executadas em outras realidades socioculturais e com sujeitos com trajetórias laborais diversificadas, sendo importante, ainda, o acompanhamento, através de pesquisas longitudinais, de possíveis mudanças nas redes ao longo dos anos que sucedem a aposentadoria.

Referências

  • Amorim, S. M., & França, L. H. F. P. (2019). Razões para aposentar e satisfação na aposentadoria. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, e3558. https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558
    » https://doi.org/10.1590/0102.3772e3558
  • Antunes, M. H. (2019). A dinâmica relacional das redes sociais significativas no processo de aposentadoria: um estudo com pessoas aposentadas e membros de suas redes relacionais [Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina]. Repositório Institucional da UFSC.
  • Antunes, M. H., & Moré, C. L. O. O. (2017). Revisão sistemática da literatura internacional sobre aposentadoria e redes sociais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(1), 57-68. http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p57
    » http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p57
  • Antunes, M. H., Soares, D. H. P., & Moré, C. L. O. O. (2015). Repercussões da aposentadoria na dinâmica relacional familiar na perspectiva do casal. Psico, 46(4), 432-441. http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
    » http://doi.org/10.15448/1980-8623.2015.4.19495
  • Azevedo, R. P. C., & Carvalho, A. M. A. (2006). O lugar da família na rede social do lazer após a aposentadoria. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 16(3), 76-82. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822006000300009
  • Bressan, M. A. C., Mafra, S. C. T., França, L. H. F. P., Mello, M. S. S., & Loretto, M. D. S. (2013). Bem-estar na aposentadoria: O que isto significa para os servidores públicos federais? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 16(2), 259-272. https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000200006
    » https://doi.org/10.1590/S1809-98232013000200006
  • Carter, B., & McGoldrick, M. (2001). As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar. In B. Carter & M. McGoldrick (Orgs.), As mudanças no ciclo de vida familiar: Uma estrutura para a terapia familiar (pp. 7-29). Artmed.
  • Camarano, A. A. (2017). Diferenças na legislação à aposentadoria entre homens e mulheres: Breve histórico. Mercado de trabalho, 62, 79-77. http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7823
    » http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7823
  • Camarano, A. A. (2020). Os dependentes da renda dos idosos e o coronavírus: Órfãos ou novos pobres? Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 4169-4176. https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.30042020
    » https://doi.org/10.1590/1413-812320202510.2.30042020
  • Castro, A., & Camargo, B. V. (2017). Representações sociais da velhice e do envelhecimento na era digital: Revisão da literatura. Psicologia em Revista, 23(3), 882-900. http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2017v23n3p882-900
    » http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2017v23n3p882-900
  • Figueira, D. A. M., Haddad, M. C. L., Gvozd, R., & Pissinati, P. S. C. (2017). A tomada de decisão da aposentadoria influenciada pelas relações familiares e laborais. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 20(2), 207-215. https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
    » https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.160127
  • França, L. H. F. P., Menezes, G. S., Bendassolli, P. F., & Macêdo, L. S. S. (2013). Aposentar-se ou continuar trabalhando?: O que influencia essa decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, 33(3), 548-563. https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004
    » https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004
  • Guest, G., Bunce, A., & Johnson, L. (2006). How many interviews are enough?: An experiment with data saturation and variability. Field Methods, 18(1), 59-82. https://doi.org/10.1177/1525822X05279903
    » https://doi.org/10.1177/1525822X05279903
  • Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., Feldberg, C., & Stefani, D. (2017). El papel de las redes de apoyo social frente al desarrollo de trastornos psicofisiológicos asociados a la jubilación. Revista Argentina de Gerontología y Geriatría, 31(2), 35-41. https://www.ineba.net/media/7720769537.pdf
    » https://www.ineba.net/media/7720769537.pdf
  • Hermida, P. D., Tartaglini, M. F., & Stefani, D. (2014). Redes de apoyo social en la vejez y su relación con la actitud hacia la jubilación. Revista Argentina de Clínica Psicológica, 23(3), 209-218. https://revistaclinicapsicologica.com/pdf_files/trabajos/vol_23/num_3/RACP_23_3_209_FBKAKP2D96.pdf
    » https://revistaclinicapsicologica.com/pdf_files/trabajos/vol_23/num_3/RACP_23_3_209_FBKAKP2D96.pdf
  • Hershey, D. A., Jacobs-Lawson, J. M., & Austin, J. T. (2013). Effective financial planning for retirement. In M. Wang (Ed.), The oxford handbook of retirement (pp. 402-430). Oxford University Press.
  • Knudson-Martin, C. (2016). Mudanças nas normas de gênero nas família e na sociedade. In F. Walsh (Org.), Processos normativos da família: Diversidade e complexidade (pp. 324-346). Artmed.
  • Leandro-França, C. (2014). Prevenção e promoção da saúde mental, políticas públicas sobre envelhecimento ativo e educação para aposentadoria. In S. G. Murta, C. Leandro-França & J. Seidl (Orgs.), Programas de educação para aposentadoria: Como planejar, implementar e avaliar (pp. 22-36). Sinopsys.
  • Lei nº 10.741, de 1o de outubro de 2003. (2003). Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm
  • Loureiro, H. M. A. M., Mendes, A. M. O. C., Camarneiro, A. P. F., Silva, M. A. M., & Pedreiro, A. T. M. (2016). Perceptions about the transition to retirement: A qualitative study. Texto & Contexto, 25(1). https://doi.org/10.1590/0104-070720160002260015
    » https://doi.org/10.1590/0104-070720160002260015
  • Macêdo, L. S. S., Bendassolli, P. F., & Torres, T. L. (2017). Representações sociais da aposentadoria e intenção de continuar trabalhando. Psicologia & Sociedade, 29, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
    » https://doi.org/10.1590/1807-0310/2017v29145010
  • Madero-Cabib, I., Gauthier, J., & Le Goff, J. (2016). The influence of interlocked employment - family trajectories on retirement timing. Work, Aging and Retirement, 2(1), 38-53. https://doi.org/10.1093/workar/wav023
    » https://doi.org/10.1093/workar/wav023
  • Moré, C. L. O. O., & Crepaldi, M. A. (2012). O mapa de rede social significativa como instrumento de investigação no contexto da pesquisa qualitativa. Nova Perspectiva Sistêmica, 21(43), 84-98. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/265
    » https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/265
  • Oliveira, P. K. Q., Almeida, A. N., & Nunes, A. (2021). Determinantes da decisão de aposentadoria no serviço público. Administração pública & Gestão Social, 13(1). https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895
    » https://doi.org/10.21118/apgs.v13i1.8895
  • Onyx, J., & Baker, E. (2006). Retirement expectations: Gender differences and partner effects in an Australian employer-funded sample. Australasian Journal on Ageing, 25(2), 80-83. https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006.00154.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1741-6612.2006.00154.x
  • Organização Mundial de Saúde. (2005). Envelhecimento ativo: Uma política de saúde. Organização Pan-Americana de Saúde.
  • Patton, M. Q. (2015). Qualitative evaluation and research methods. Sage.
  • Portaria nº 12, de 20 de novembro de 2018. (2018). http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51058639/do1-2018-11-21-portaria-n-12-de-20-de-novembro-de-2018-51058368
    » http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51058639/do1-2018-11-21-portaria-n-12-de-20-de-novembro-de-2018-51058368
  • Requena, F. (2013). Family and friendship support networks among retirees: A comparative study of welfare systems. The International Journal of Sociology and Social Policy, 33(3/4), 167-185. https://doi.org/10.1108/01443331311308221
    » https://doi.org/10.1108/01443331311308221
  • Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. (2016). http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
    » http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
  • Santos, D. F., Moreira, M. A. A., & Cerveny, C. (2014). Velhice - considerações sobre o envelhecimento: Imagens no espelho. Nova Perspectiva Sistêmica , 23(48), 80-94. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/53
    » https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/53
  • Schuabb, T. C., & França, L. H. F. P. (2020). Planejamento financeiro para a aposentadoria: Uma revisão sistemática da literatura nacional sob o viés da psicologia. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 20(1), 73-98. https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791
    » https://doi.org/10.12957/epp.2020.50791
  • Simões, C. C. S. (2016). Relações entre as alterações históricas na dinâmica demográfica brasileira e os impactos decorrentes do processo de envelhecimento da população. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
  • Sluzki, C. E. (2000). Social networks and the elderly: Conceptual and clinical issues, and a family consultation. Family Process, 39(3), 271-284. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648/
    » https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11008648/
  • Sluzki, C. E. (2003). A rede social na prática sistêmica: Alternativas terapêuticas. Casa do Psicólogo.
  • Strauss, A., & Corbin, J. (2008). Pesquisa qualitativa: Técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Artmed.
  • Szinovacz, M. E., Ekerdt, D. J., Butt, A., Barton, K., & Oala, C. R. (2012). Families and Retirement. In R. Blieszner & V. H. Bedford (Eds.), Handbook of families and aging (pp. 461-488). ABC-CLIO.
  • Walsh, F. (2016). Families in later life: Challenges, opportunities, and resilience. In M. McGoldrick, B. Carter & N. Garcia Preto (Orgs.), The expanding family life cycle: Individual, family, & social perspectives (pp. 339-359). Pearson.
  • Wang, M., & Shi, J. (2014). Psychological research on retirement. Annual Review of Psychology, 65, 209-233. https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev-psych-010213-115131
    » https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev-psych-010213-115131
  • Wang, M., & Shultz, K. S. (2010). Employee retirement: A review and recommendations for future investigation. Journal of Management, 36(1), 172-206. https://doi.org/10.1177/0149206309347957
    » https://doi.org/10.1177/0149206309347957
  • Zanelli, J. C. (2015). Aposentadoria e pós-carreira. In P. F. Bendassolli & J. E. Borges-Andrade (Orgs.), Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (pp. 59-67). Casa do Psicólogo.
  • Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. P. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: Construção de projetos para o pós-carreira. Artmed.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2019
  • Aceito
    03 Maio 2021
Conselho Federal de Psicologia SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B, Edifício Via Office, térreo sala 105, 70070-600 Brasília - DF - Brasil, Tel.: (55 61) 2109-0100 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revista@cfp.org.br