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Por que precisamos diferenciar a pulsão de apoderamento da pulsão de morte?

Why do we differentiate the instinct to master from the death drive?

Pourquoi différencier la pulsion d’emprise de la pulsion de mort?

¿Por qué necesitamos diferenciar la pulsión de empoderamiento de la pulsión de muerte?

Resumos

O artigo consiste em um resgate tradutório-conceitual das diferenças entre a pulsão de apoderamento e os aspectos da pulsão de morte. Para sustentar a proposta, apoiamo-nos em Sigmund Freud e no ensino de Jacques Lacan. Considerando que o termo usado por Freud, Bemächtigungstrieb, foi traduzido nas formas de pulsão de dominação e pulsão de apoderamento, defendemos que a segunda possibilidade de tradução permite conceituá-la originariamente, designando a força para apoderar-se do mundo, operacionalizada pelo aparelho muscular. Assim, localizamos sua ação participativa na organização constitutiva do sujeito, sublinhando sua especificidade no terceiro tempo da pulsão, chamada aqui de apassivada. A retomada expõe a distinção da pulsão de morte da ideia de dominação, explorando a natureza do apoderar-se, reabrindo o campo epistemológico.

Palavras-chave
Apoderamento; metapsicologia; pulsão; sujeito


This article develops a translation-conceptual resumption of the differences between the instinct to master and aspects of the death drive, based on Sigmund Freud and teachings by Jacques Lacan. Since Bemächtigungstrieb, term used by Freud, was translated both as “pulsão de dominação” and “pulsão de apoderamento” in Portuguese, the texts argues that the latter translation allows us to conceptualize it as originally intended, as a force to master the world, operationalized by the muscular apparatus. Thus, we point out its participatory action in the constitutive organization of the subject, underlining its specificity in the third time of the drive, called here passivation. This resumption reveals the distinction between the death drive and the idea of mastery, exploring the nature of taking possession, reopening the epistemological field.

Keywords
Mastery; metapsychology; drive; subject


Cet article développe une reprise conceptuelle des différences entre la pulsion d’emprise et la pulsion de mort, en s’appuyant sur Freud et les enseignements de Lacan. Puisque Bemächtigungstrieb, terme utilisé par Freud, a été traduit à la fois par “pulsão de dominação” et “pulsão de apoderamento” en portugais, nous soutenons que cette dernière traduction nous permet de la conceptualiser tel qu’elle était prévue à l’origine, comme une force de maîtrise du monde, opérationnalisée par l’appareil musculaire. Ainsi, on signale son action participative dans l’organisation constitutive du sujet, en soulignant sa singularité dans le tiers temps de la pulsion, appelé ici passivation. Cette reprise révèle la distinction entre la pulsion de mort et l’idée de domination, explorant la nature du “se saisir”, rouvrant le champ épistémologique.

Mots-clés
Emprise; métapsychologie; pulsion; sujet


Este artículo realiza un rescate de traducción-concepto de las diferencias entre la pulsión de empoderamiento y los aspectos de la pulsión de muerte. Para sostener la propuesta, utilizamos los aportes de Freud y de Jacques Lacan. Considerando que el término Bemächtigungstrieb utilizado por Freud fue traducido como “pulsión de dominio” y “pulsión de empoderamiento”, argumentamos que esta segunda posibilidad de traducción permite conceptualizar el término originalmente como una fuerza para apoderarse del mundo, puesta en práctica por el aparato muscular. Así su acción participativa se sitúa en la organización constitutiva del sujeto, subrayando su especificidad en el tercer tiempo de la pulsión llamado aquí pasivación. La reanudación apunta a la distinción entre la pulsión de muerte y la idea de dominio, y explora la naturaleza de la toma de posesión reabriendo su campo epistemológico.

Palabras clave
Empoderamiento; metapsicología; pulsión; sujeto


Por que precisamos diferenciar a pulsão de apoderamento da pulsão de morte?

A diferenciação dos conceitos na teoria psicanalítica é fundamental para delimitar as operações que instrumentalizam o campo da pesquisa e do trabalho clínico. Partindo deste princípio, sublinhamos a distinção entre os conceitos de pulsão de apoderamento e de pulsão de morte. Para tal objetivo, sublinhamos o lugar da pulsão de apoderamento desde sua origem até as aproximações com a pulsão de morte. Destacamos, inclusive, o motivo pelo qual a diferenciação se faz relevante e necessária, já que não é sem razão que são tomadas indistintamente, ou em sinônimos, como se uma fosse a expressão da outra.

Inicialmente, indicamos as complicações surgidas da referência de Freud (1905/1996a)Freud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. VII, pp. 35-82). (Trabalho original publicado em 1905). à pulsão de apoderamento, ligando-a às manifestações que também são do campo da pulsão de morte, como por exemplo: “a pulsão de apoderamento é a raiz do sadismo” (p. 75), ou, ainda: “É sabido que ainda não se teve êxito na análise psicológica exaustiva dessa pulsão; podemos supor que o impulso cruel provenha da pulsão de dominação” (p. 89). Ele a situa, portanto, na raiz da crueldade, mencionando mais tarde suas semelhanças, ao lado da pulsão de destruição e da vontade de poder. Entretanto, apontamos sua ação numa dimensão de alteridade frente à pulsão de morte. Alguns autores como Cardoso (2002)Cardoso, M. R. (2002). Violência, domínio e transgressão. Revista Psychê, 6(10), 161-171. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=30701010.
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, Brülhart--Donoso (2011)Brülhart-Donoso, M. D. (2011). Estudo psicanalítico sobre a gramática da maldade gratuita. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo. http://doi.org/10.11606/D.47.2011.tde-19072011-160217.
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, Caropreso (2013)Caropreso, F. (2013). Pulsão de morte, trauma e limites da terapia para Freud. Analytica: Revista de Psicanálise, 2(2), 59-76. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-51972013000100004&lng=pt&tlng=pt
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e Efken (2017)Efken, P. H. O. (2017). A dimensão de domínio na constituição do Ego. Revista Subjetividades, 17(1), 22-34. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v17i1.5192.
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parecem tomar a questão pela face da dominação, enfatizando este aspecto e, por consequência, entrelaçada à violência, à agressão e à destruição. Num exemplo desta posição, Cardoso (2002)Cardoso, M. R. (2002). Violência, domínio e transgressão. Revista Psychê, 6(10), 161-171. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=30701010.
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afirma que

com a pulsão de morte, a pulsão de domínio passará a ser entendida por Freud como uma das formas que esta pode assumir. Trata-se agora, essencialmente, de uma função de domínio, ativa, que diz respeito ao poder da pulsão de morte. (p. 165)

Esta vertente pode ser reencontrada em outras pesquisas posteriores, a exemplo de Brülhart-Donoso (2011)Brülhart-Donoso, M. D. (2011). Estudo psicanalítico sobre a gramática da maldade gratuita. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo. http://doi.org/10.11606/D.47.2011.tde-19072011-160217.
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, que escreve: “a pulsão de apoderamento segue sua atuação, agora sob o domínio e denominação da pulsão de morte” (p. 34). Essas concepções fortalecem a indistinção e revelam posições interpretativas sobre as formulações de Freud, contrapondo-se à posição de teóricos como Assoun (1989/1991)Assoun, P. L. (1991). Freud e Nietzsche: semelhanças e dessemelhanças. (M. L. Pereira, Trad.; 2ª ed.). Brasiliense. (Trabalho original publicado em 1989)., Barbier (1992)Barbier, A. (1992). Emprise, action, origine [Dominação, ação, origem]. Revue Française de Psychoanalytic, 56, 1499-1505., Sèdat (2009)Sédat, J. (2009). Pulsion d’emprise: Introduction à la perversion freudienne [Pulsão de dominação: introdução à perversão freudiana]. Che vuoi - Revue du Cercle Freudien, 2(32), 11-25. https://www.cairn.info/revue-che-vuoi-1-2009-2-page-11.htm.
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e Trevisan et al. (2022)Trevisan, A., Vivès, J-M, & Maesso, M. C. (2022). Sobre a justificativa em separar a crueldade da dimensão epistemofílica da pulsão de apoderamento. Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, 24(1), 167-180. http://revistas.dwwe.com.br/index.php/NH/article/view/533.
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, que sublinham enfaticamente suas especificidades. Segundo a explanação de Sédat (2009)Sédat, J. (2009). Pulsion d’emprise: Introduction à la perversion freudienne [Pulsão de dominação: introdução à perversão freudiana]. Che vuoi - Revue du Cercle Freudien, 2(32), 11-25. https://www.cairn.info/revue-che-vuoi-1-2009-2-page-11.htm.
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, que relê o jogo do Fort-da, temos a seguinte posição: “não se trata mais de destruição, de impulso de controle, mas de superação de outra forma da experiência de desprazer provocada pela mãe desaparecida. Restaura o objeto destruído pelo desejo de controlar, fazendo-o voltar” (p. 4). No mesmo sentido, Trevisan et al. (2022)Trevisan, A., Vivès, J-M, & Maesso, M. C. (2022). Sobre a justificativa em separar a crueldade da dimensão epistemofílica da pulsão de apoderamento. Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, 24(1), 167-180. http://revistas.dwwe.com.br/index.php/NH/article/view/533.
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também inferem uma diferença, assinalando que “a pulsão de apoderamento tem força e ímpeto organizativo ao endereçar as descargas, controlar a excitação, criar os objetos substitutos, explorando o mundo para procurar os objetos” (p. 6).

Mediante o exposto, justifica-se a construção de uma abordagem direta do impasse acima descrito. Primeiramente, abordaremos a condição tradutória, acentuando os problemas interpretativos sobre o termo original. Em seguida, destacaremos as condições e elementos que indicam a diferença entre pulsão de apoderamento e pulsão de morte. Diante das posições já construídas sobre o assunto no campo da Metapsicologia, entendemos que a exploração da pulsão de apoderamento e sua especificidade podem fornecer indícios sobre a própria epistemologia da teoria das pulsões. Como eixo central das extrações argumentativas, tomamos as proposições de Freud (1920/2020)Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920). no “Jenseits des Lustprinzips”, traduzido como “Além do princípio de prazer”. Como reforço metodológico recorremos ainda às orientações de Lacan em sua concepção da pulsão de morte, de tal modo que possamos precisar o traço pulsional da pulsão de apoderamento, culminando em um reposicionamento metapsicológico.

O (Re)aparecimento da pulsão de apoderamento

Para introduzir uma questão que não é nova, porém pouco estudada, é preciso reabrir sua historicidade, desmontando o percurso que sustenta seu estado. O termo original do alemão, empregado por Freud primeiramente em 1905, é a palavra composta Bemächtigungstrieb, que carrega a partícula macht, sinalizando a ideia de poder, o verbo Bemächtigen, que pode ser traduzido por apoderar, e, por fim, o conhecido Trieb, designado nas traduções como instinto ou pulsão, sendo esta última a mais utilizada (Hanns, 1996Hanns, A. L. (1996). Dicionário comentado do alemão de Freud. Imago.).

O termo foi traduzido pelos franceses, inicialmente por Grunberger (1959)Grunberger, B. (1959). Estudio sobre la relación anal-objetal. In El narcisismo (pp. 39-58). Editorial Trieb. na forma de pulsion d´emprise, maneira como se popularizou na França desde a década de 1960. Os ingleses, por influência do trabalho de James Strachey, utilizaram a expressão instinct for mastery. Já na forma abrasileirada, optou-se por pulsão de dominação, que consideramos denotar um sentido reducionista da pulsão. Os dicionários traduzidos para a língua portuguesa, como Roudinesco e Plon (1998)Roudinesco, E, & Plon, M. (1998). Dicionário de Psicanálise. Jorge Zahar., Kaufmann (1996)Kaufmann, P. (1996). Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: o legado de Freud a Lacan. Jorge Zahar., Zimerman (2008)Zimerman, D. E. (2008). Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. Artmed. e Laplanche e Pontalis (1967/1989)Laplanche, J., & Pontalis J. -B. (1989). Vocabulário da psicanálise (P. Tamen, Trad.) Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1967)., também empregam o termo pulsão de dominação. Outros autores também formularam nota sobre tal noção, como White (2010)White, K. (2010). Notes on “Bemächtigungstrieb” and Strachey’s translation as “instinct for mastery”. The International Journal of Psychoanalysis, 91(4), 811-820. http://doi.org/10.1111/j.1745-8315.2010.00354.x.
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, conceituando a expressão freudiana como impulso para ganhar poder, ou Trevisan (2022)Trevisan, A. (2022). A retomada da pulsão d’emprise. Psicanálise & Barroco em Revista, 19(2), 121-142. https://orcid.org/0000-0001-8251-0183.
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, que retoma a expressão pulsion d´emprise, indicando sua função para além da dominação e alargando sua noção, no sentido de força para se apropriar do mundo.

Cabe retornar ao fato de que, na história da tradução, o termo Bemächtigungstrieb, também encontrou desdobramentos descritivos sob o termo francês maîtrise, que designa a ação de controle presente na pulsion d´emprise. Assim como Denis (1997)Denis, P. (1997). Emprise et satisfaction: Les deux formants de la pulsion [Domínio e satisfação: duas formas da pulsão]. Presses Universitaires de France., Dorey (1986)Dorey, R. (1986). The relationship of mastery [A relação de domínio]. International Review of Psycho-Analysis, 13(3), 323-332. https://psycnet.apa.org/record/1986-28859-001.
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marca diferentes funções para os termos, sendo a ação d´emprise uma via de apropriação/rejeição, enquanto maîtrise indica o exercício do controle. Já a concepção de Sèdat (2009)Sédat, J. (2009). Pulsion d’emprise: Introduction à la perversion freudienne [Pulsão de dominação: introdução à perversão freudiana]. Che vuoi - Revue du Cercle Freudien, 2(32), 11-25. https://www.cairn.info/revue-che-vuoi-1-2009-2-page-11.htm.
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indica, em primeiro lugar, a pulsão de apoderamento na origem da organização psíquica, para além da destruição, e, numa segunda via aprimorada, Bewältigungstrieb1 1 Segundo a exposição feita por Sèdat (2009), Freud teria inserido esse termo apenas na terceira edição do texto “Os três ensaios...”, feita em 1915, momento que já havia compreendido melhor a ação do Eu, o que lhe permitiu hipotetizar o Eu de controle. como um Eu de domínio, pois, segundo ele, Freud o teria sugerido/indicado/caracterizado como impulso para elaboração psíquica.

As consequências da posição inglesa são duramente criticadas por Dorey (1986)Dorey, R. (1986). The relationship of mastery [A relação de domínio]. International Review of Psycho-Analysis, 13(3), 323-332. https://psycnet.apa.org/record/1986-28859-001.
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, White (2010)White, K. (2010). Notes on “Bemächtigungstrieb” and Strachey’s translation as “instinct for mastery”. The International Journal of Psychoanalysis, 91(4), 811-820. http://doi.org/10.1111/j.1745-8315.2010.00354.x.
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e Trevisan (2022)Trevisan, A. (2022). A retomada da pulsão d’emprise. Psicanálise & Barroco em Revista, 19(2), 121-142. https://orcid.org/0000-0001-8251-0183.
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, pois compromete a epistemologia de sua natureza, acentuando, ainda, a equivalência com as especulações da pulsão de morte. Em última instância, a formulação do termo pulsão de apoderamento se justifica por ser mais aproximada da semântica-gramatical empregada por Freud em Bemächtigungstrieb. Exaurindo o resgate do termo, tornamos visível este argumento, pois, segundo Hanns (1996)Hanns, A. L. (1996). Dicionário comentado do alemão de Freud. Imago., o verbo sich bemächtigen (reflexivo), equivale, em português, à noção de apoderar-se. O autor decompõe a palavra explicando suas partículas. Observemos:

be-: Como prefixo verbal, indica uma ação que promove a concretização da qualidade do substantivo (Macht/Poder) e o transforma em verbo. Em alguns casos indica uma aproximação, um contato ou o ato de tomar (pegar). mãcht-: Corresponde ao mesmo radical do substantivo Macht, “poder”, “domínio”. O verbo reflexivo sich bemächtigen significa “apoderar-se”. -ig: Sufixo de adjetivação (como, por exemplo, o sufixo “-oso(a)” em português); quando ligado à terminação -en (-igen) tem a função de verbalização. -ung-. Sufixo de substantivação que corresponde aproximadamente a “-ção” em português. (p. 170)

Como síntese dessa retomada, temos a pulsão de dominação, nomeada indiretamente do termo de Freud, uma variação do alemão para o inglês até chegar ao português, prolongando suas avarias, ao passo que a nomeação pulsão de apoderamento é uma versão direta do alemão para o português, o que permite examinar os pormenores de seu estado.

O fato de ter prevalecido o ponto de vista da dominação não é sem razão, e encontra seu ponto crucial nas divergências entre Freud e Adler, referente aos aspectos da pulsão de agressividade e circula em torno do sadismo. Embora não adentremos as querelas e divergências dos teóricos, salientamos que é em decorrência das questões deixadas por Adler sobre uma pulsão independente da libido que Freud foi levado a repensar a ação da psique em exercer o domínio e controle das excitações, mas que nos anos de 1912 ainda não lhe eram claras (Handlbauer, 2005Handlbauer, B. (2005). A controvérsia Freud-Adler. Madras.).

Por essa razão, retornamos à obra freudiana para abordar a diferenciação dos conceitos; num primeiro momento, Freud (1905/1996a)Freud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. VII, pp. 35-82). (Trabalho original publicado em 1905). forneceu alguns esclarecimentos, como:

[...] podemos supor que o impulso cruel provenha da pulsão de dominação, e surja na vida sexual numa época em que os genitais ainda não assumiram seu papel posterior. Assim, ela domina uma fase da vida sexual que mais adiante descreveremos como organização pré-genital. (p. 120)

Ele ainda estende sua compreensão sobre a função: “a atividade é produzida pela pulsão de dominação através da musculatura do corpo, e como órgão do alvo sexual passivo o que se faz valer é, antes de mais nada, a mucosa erógena do intestino” (Freud, 1905/2010aFreud, S. (2010a). Os três ensaios da sexualidade. In Sigmund Freud - Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 7, pp. 13-172). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1905)., p. 196). Nesse sentido, Freud explicitou a condição pela qual o órgão pode vir a se tornar erógeno, um tipo de experiência da posição ativa à passiva, constituindo a apassivação inscrita no próprio corpo. A vertente sexual da pulsão de apoderamento foi sublinhada por Trevisan et al. (2022)Trevisan, A., Vivès, J-M, & Maesso, M. C. (2022). Sobre a justificativa em separar a crueldade da dimensão epistemofílica da pulsão de apoderamento. Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise, 24(1), 167-180. http://revistas.dwwe.com.br/index.php/NH/article/view/533.
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no aspecto da crueldade, cuja manifestação seria o vetor sexual dessa modalidade pulsional, o que acentua a diferença de suas funções.

A originalidade e a diferenciação da pulsão de apoderamento no pensamento de Freud

Grifamos os pontos no pensamento de Freud que concernem a essa noção, principalmente as formulações de 1920, marco de onde extraímos boa parte dos argumentos para recolocar a pulsão de apoderamento. Tal apontamento nos permite situar a pulsão de apoderamento como atuante no afeto do ódio, portanto anterior à aparição da pulsão de morte na vida psíquica, uma vez que o ódio está inicialmente a serviço das defesas da existência. Assim Freud (1915/2010b)Freud, S. (2010b). Os instintos e seus destinos. In Sigmund Freud - Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 12, pp. 51-81). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1915). descreveu:

No mais elevado estágio da organização sádico-anal pré-genital surge a procura pelo objeto, sob a forma de impulso de apoderamento, ao qual não importa se o objeto é danificado ou aniquilado. Essa forma e fase preliminar do amor mal se distingue do ódio, em seu comportamento para com o objeto. Apenas com o estabelecimento da organização genital o amor se torna o contrário do ódio. Enquanto relação com o objeto, o ódio é mais antigo que o amor, surge da primordial rejeição do mundo externo dispensador de estímulos, por parte do Eu narcísico. (p. 57)

Antes de avançar, ressaltamos que a diferenciação conceitual aqui proposta não pretende uma triangulação pulsional ou uma terceira categoria pulsional, mas um destaque da natureza pulsional, ou seja, da força psíquica inerente a toda pulsão. Assim, situamos a pulsão de apoderar-se como um anseio típico de própria espécie pulsional, sobretudo em sua ação nas primeiras inscrições subjetivas. Anterior, portanto, à vetorização do dualismo pulsional.

Freud (1920/2020)Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920). mudou o rumo de sua abordagem sobre as neuroses, nos convidando a outro terreno: “Agora proponho deixar o campo sombrio da neurose traumática e estudar o modo como o aparelho psíquico trabalha numa de suas primeiras ocupações normais. Refiro-me às brincadeiras infantis” (Freud 1920/1996bFreud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920)., p. 127). O autor observou o comportamento de uma criança de 18 meses, dedicada à invenção de um jogo sobre o qual localizamos a cartografia da diferenciação da pulsão de apoderamento da pulsão de morte, o que não só justifica suas separações, mas elucida sua natureza. Freud (1920/1996b)Freud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920). nos deu uma visão geral da criança em questão, descrevendo-a como bem-comportada, obediente quanto às orientações dos pais, empenhado em jogar “ir embora” com seus brinquedos:

Ele tinha um carretel de madeira, em que estava enrolado um cordão. Nunca lhe ocorria, por exemplo, puxá-lo atrás de si pelo chão, brincar de carro com ele; em vez disso, com habilidade lançava o carretel, seguro pelo cordão, para dentro do berço, através de seu cortinado, de modo que ele desaparecia, nisso falando o significativo o-o-o-o, e depois o puxava novamente para fora do berço, saudando o aparecimento dele com um alegre “da” [“está aqui”]. (Freud, 1920/1996bFreud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920)., p. 128)

O pesquisador apresentou duas formas de interpretar o jogo. Na pri- meira, sublinha a ação da pulsão de apoderamento, ao passo que na segunda interroga seus limites. No entanto, ambas expõem a lógica material de seu caráter originário e criacionista. No que tange à primeira interpretação, Freud relacionou um empenho da pulsão para experimentar, transformar o lugar passivo que era desprazeroso em prazer, desde que seu exercício possibilitasse uma ação sobre ele. Eis aqui o indício da atividade na passividade, ou seja, apresenta-se o trabalho de erogenização do lugar passivo, processo aproximativo das origens da vida psíquica. Ele descreveu sua modalidade, na qual:

Tem-se a impressão que o menino transformou a vivência em jogo. Por outro motivo, ele se achava numa posição passiva, foi atingido pela vivência, e ao repeti-la como jogo, embora fosse desprazerosa, assumiu um papel ativo. Tal empenho podemos atribuir ao impulso de apoderamento, que passou a não depender de que a recordação fosse em si desprazerosa em si ou não. (Freud, 1920/1996bFreud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920)., p. 129; grifos adicionados)

Esse ponto evidencia a implicação direta na atividade de transformar as posições passivas em ativas, independente da recordação. O exercício da transformação revela a fundação evolutiva de um dado já destacado por Freud (1905/1996a)Freud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. VII, pp. 35-82). (Trabalho original publicado em 1905).: “A atividade é produzida pela pulsão de dominação2 2 Na versão da editora Imago da tradução da obra de Sigmund Freud, realizada por James Strachey, a conversão do termo Bemächtigunstrieb foi recolocada para o português como pulsão de dominação, modo como foi popularizada na produção da teoria psicanalítica a respeito do assunto. através da musculatura do corpo, e como órgão do alvo sexual passivo o que se faz valer é, inicialmente, a mucosa erógena do intestino” (p. 69).

Ainda na primeira interpretação, o autor compreendeu que, ao jogar o carretel, a criança produziu um desaparecimento, tendo como efeito suportar a ausência do objeto - que, no caso, seria a mãe - “sem contestar”, seguido da alegria ao “puxar”, momento indicado como a realização do prazer. Nas palavras de Freud (1920/2020)Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920).; “a brincadeira completa de desaparecimento e reaparição, de que se via primeiramente apenas o primeiro ato, que era repetido incansavelmente como um jogo em si, embora sem dúvida, o prazer maior estivesse no segundo ato” (p. 128).

Para essa posição interpretativa, isolamos dois elementos importantes. O primeiro consiste na referência direta e explícita à pulsão de apoderamento e o segundo no prenúncio do aparecimento da pulsão de morte. Nessa perspectiva, o emprego da palavra Bemächtigungstrieb revela sua especificidade, expressando o impulso de poder fazer, a partir de um domínio sobre o objeto, o desaparecimento e o reaparecimento; em outros termos, revela o empenho criacionista e ordenativo. Freud (1905/1996a)Freud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. VII, pp. 35-82). (Trabalho original publicado em 1905). nomeou um aparelho para tal pulsão, o Bemächtigungsapparat - na tradução de Strachey, aparelho de dominação -, pois não há criação que não exija em certa medida força e controle.

O segundo ponto interpretativo dado por Freud (1920/2020)Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920). ao jogo do Fort-Da concentra-se numa partícula crucial, no fato de a criança ter “repetido incansavelmente” (p. 128) a brincadeira que produz o prazer, o que se apresenta como o embrião da teorização da compulsão à repetição. Numa progressão demonstrativa da articulação, atentemo-nos à interpretação de Freud (1920/1996b)Freud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920).:

A interpretação do jogo foi simples, então. Ele estava relacionado à grande conquista cultural do menino, à renúncia instintual (renúncia à satisfação instintual) por ele realizada, ao permitir a ausência da mãe sem protestar. Como pensava a si mesmo, digamos, ao encenar o desaparecimento e a reaparição com os objetos que estavam ao seu alcance. (p. 128)

Na abordagem das partes do jogo reside o argumento para reiterar a importância da pulsão de apoderamento, passando por suas refinações até chegar à aparição da pulsão de morte. A conquista da cultura e as negociações de renúncia pulsional, assim como a posição quanto à presença e ausência do objeto nos primórdios da vida psíquica, indicam a força e o trabalho da pulsão de apoderamento na construção do aparelho psíquico, não referenciado à pulsão de morte. Freud em nenhum momento de seu texto citou ou empregou a noção de pulsão de morte, antes de ter esclarecido, por meio do jogo, as condições econômicas da pulsão que designa como apoderamento.

Persistindo no esquadrinhamento das formulações de 1920, a incidência elucidativa da pulsão de apoderamento, ponderamos outra interrogação de Freud, e, consequentemente, temos nela ampliações sobre o jogo revelador, fazendo-o ressituar a tendência de apoderar. Apresentamos, então, a segunda posição de Freud (1920/1996b)Freud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920). sobre o jogo, entendendo-a como um prolongamento apurado da primeira.

Mas podemos tentar uma outra interpretação. O lançamento do objeto, de modo que desapareça, poderia constituir a satisfação de um impulso, suprimido na vida, de vingar-se da mãe por ter desaparecido para ele, tendo então o sentido desafiador: “Sim, vá embora, não preciso de você, eu mesmo a mando embora”. Essa mesma criança que observei com um ano e meio de idade, em sua primeira brincadeira, um ano depois costumava lançar ao chão um brinquedo que o aborrecia, com as palavras: “Vá para a gue(rr)a!”. Haviam-lhe dito que seu pai estava na guerra e ele não sentia falta do pai, dando claros indícios de que não queria ser perturbado na posse exclusiva da mãe. Sabemos de outras crianças que exprimem semelhantes impulsos hostis arremessando objetos em lugar das pessoas. (p. 129)

Nessa segunda interpretação, o autor situa a ação de lançar o objeto como um modo de descarga, embutindo um tipo de apropriação do objeto e poder sobre ele, e indicou que “esse esforço poderia ser atribuído a uma pulsão de apoderamento” (Freud, 1920/2020Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920)., p. 81). À medida que o lança, marca sobre ele algum tipo de posse, ou poder sobre. Exaurindo as lições dessa interpretação, Freud (1920/1996b)Freud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920). conjugou as duas ações da pulsão de apoderamento; fazendo tomar a existência do objeto para si, criando uma relação com ele, e em seguida opera, por meio do objeto investido, uma descarga. Em outras palavras, encontra-se o processo de libidinização do objeto em sua relação com o mundo, instituinte do princípio do prazer. Tal fato nos impele a precisar seu valor.

Lembremos que Freud nos advertiu que a pulsão de morte é silenciosa, ao passo que, no jogo do Fort-Da, o que se sobressai juntamente ao movimento da criança é o som, o que nos diz que não são, por estrutura, a mesma coisa. O som, o choro, o grito participam como criações, invenções para ordenar-se no mundo e diante do Outro. Trata-se, assim, de produzir por meio do aparelho muscular a relação inaugural, com objetivo de constituir e fornecer as condições para o lugar de onde o sujeito há de vir. No prolongamento dessa ideia, Freud (1920/1996b)Freud, S. (1996b). Além do princípio de prazer In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 13-52). Imago. (Trabalho original publicado em 1920). realizou um cruzamento fundamental para levá-lo ao outro tópico, e consiste no seguinte:

Vem-nos então a dúvida de saber se a tendência a elaborar psiquicamente algo impressionante e dele apropriar-se inteiramente pode se manifestar de modo primário e independente do princípio do prazer. No caso discutido, o garoto só podia repetir brincando uma impressão desagradável porque a essa repetição está ligada uma obtenção de prazer de outro tipo, porém direta. (p. 129)

A ideia de repetição está ligada a um outro prazer, o que hipotetizamos consistir no prazer de exercer poder, isto é, a repetição é um trabalho que retoma uma experiência ocorrida, a mesma que de algum modo gerou a descarga, ao passo que a impossibilidade de descarga produz desprazer. Reencontramos no trabalho de Vivès e Orrado (2021)Vivès, J.-M., & Orrado, I. (2021). Autismo e mediação: bricolar uma solução para cada um. Aller. uma observação refinada da repetição. Nas palavras dos autores, “repetir é reproduzir para tentar dominar” (p. 26), ou seja, não se trata da mera reprodução, mas da reprodução motivada pelo domínio: quanto mais o domínio escapa, maior a tendência à reprodução, o que demonstra a ação determinante da dominação.

Porém, ainda sob a ótica desses autores, há uma diferença na repetição, introduzida a partir de dois pontos: “um primeiro elemento fixa o sujeito num ponto, o - veremos depois que se trata de um ponto de gozo -, que vai se repetir em seguida” (Vivés & Orrado, 2021Vivès, J.-M., & Orrado, I. (2021). Autismo e mediação: bricolar uma solução para cada um. Aller., p. 36). Temos, assim, a inicialização e a hereditariedade como complementares às nossas diferenciações dessa forma originária da pulsão de apoderamento. Com base nisso, manifesta-se a diferença radical entre a repetição e a iteração: na repetição há um distanciamento e, na iteração, a reprodução do mesmo. Com base nisso, reiteramos que a função da pulsão de apoderamento está implicada originariamente no ato de criar, fundar o ponto, da qual a repetição será um efeito.

A clínica psicanalítica materializa essa condição: o sujeito pode ser levado a um tratamento psicanalítico porque algo acontece e já não pode repetir como outrora, ou, ainda, não pode escolher não repetir, tendo como consequência um desmantelamento das vias de satisfação do sujeito do inconsciente. Freud (1920/2020)Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920). sinalizou o desejo de exercer poder, referindo-o como dominante na infância, pois a criança supõe que na fase adulta se pode exercer tal poder, fazer o que os adultos fazem. O jogo do Fort-Da constitui, assim, uma metáfora original do universo pulsional, possibilitando não apenas entrever a criação transformadora, mas fazer ver o desempenho pela pulsão de apoderamento, compondo um bloco distinto da atividade de pulsão de morte. Como consequência da distinção entre as ações das forças em jogo, produz-se no âmbito clínico as observações das forças pulsionais em seu ímpeto de criação e de contorno frente às constantes ausências e presenças impostas pela realidade. Ora, não é de outra coisa que se constitui a prática do tratamento psicanalítico senão a de servir de operador nessas instâncias.

Para encontrar maior clareza sobre o dinamismo pulsional, Freud, influenciado por Pfeifer (1919/2002)Pfeifer. S. (2002). Des pulsions érotiques infantiles dans le jeu (prise de position psychanalytique concernant les principals theories du jeu) [As pulsões eróticas infantis no brincar: uma posição psicanalítica sobre a teoria do brincar]. La Psychiatrie de L´Enfant, 45(1), 231-310. (Trabalho original publicado em 1919) http://doi.org/10.3917/psye.451.0261.
http://doi.org/10.3917/psye.451.0261...
, se volta para as marcas das experiências infantis, os danos causados pela própria impotência desse tempo e os enfrentamentos com a realidade, relegando-as ao fator da compulsão à repetição, ou seja, como modo de exercer na vida adulta um tipo êxito sobre isso, um tipo de prazer. A compulsão à repetição se revela como anterior, o mesmo cenário da brincadeira do Fort-Da, evidenciando um tipo de retorno, uma instância construída na psique tensionando a satisfação a um ponto já experimentado. Em suma, a compulsão à repetição seria uma expressão clínica, em sua face patológica, onde reaparece o impetus para apoderar-se do objeto ou do próprio sujeito.

Na insistência de delimitar o lugar e ação da pulsão de apoderamento, reiteramos que não se trata da transformação de uma coisa em outra: o apoderamento não se torna tendência ao retorno que caracterizaria a pulsão de morte, isto é, o apoderamento constitui o ponto que funda a dimensão da pulsão de morte. Se há uma inclinação da pulsão de apoderamento, é a de viabilizar Eros, instrumentalizá-lo, com som, corpo e movimento. Deste modo, a força do apoderamento presta-se a uma ligação inaugurativa da atividade, num trabalho para se fazer existir, indicativo de seus serviços prestados a Eros. É a força contida no carretel da criança como encenação negociadora e de poder (re)tomá-lo em si, produzindo possíveis descargas, e como consequência, a erogenidade.

Entre a pulsão de apoderamento e a pulsão de morte

Lacan (1959-60/2008a)Lacan, J. (2008a). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise (A. Quinet, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60). caracteriza toda pulsão como sendo de morte, relacionada, portanto, à atividade de criação, num tipo de exercício inscricional demonstrado no intervalo da cadeia significante. A ênfase dada por Lacan ao objeto a e das Ding, são pontos que integram o pensamento de Freud, carregando íntima ligação com a pulsão de morte. Na concepção lacaniana, a pulsão de morte se situa no domínio da criação. Aplicamos a isto um exame pormenorizado, pois esse vetor, incitado como impulso a criar, não está em equivalência à equação dada à pulsão de morte. Há de se esclarecer sua natureza. Nestes termos, a pulsão de apoderamento, conceituada por Freud como força para obter controle, aborda o domínio sobre o objeto, reencontrando as considerações de Lacan, que descreve a criação como atividade pulsional, e não apenas a dominação.

Lacan (1959-60/2008a)Lacan, J. (2008a). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise (A. Quinet, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60). refinou a explanação sobre a ética prática do psicanalista, extraindo a complexidade sobre os modos em que, na clínica, se apresenta a pulsão de morte, assinalando que:

A pulsão de morte deve ser continuada no âmbito histórico, uma vez que ela articula num nível que só é definível em função da cadeia de significante, isto é, visto que uma referência, que é uma referência de ordem, pode ser situada em relação ao funcionamento da natureza. É preciso algo para além dela, de onde ela mesma possa ser apreendida numa rememoração fundamental, de tal maneira que tudo possa ser retomado, não simplesmente no movimento das metamorfoses, mas a partir de uma intenção inicial. (p. 253)

Ressaltamos dois pontos que evidenciam a atividade da criação, ao que nos parece inclinada ao regime da pulsão de apoderamento, como anterior à vetorização de vida e morte. Primeiro, temos: a) “uma referência de ordem para rememoração fundamental” (p. 253). Essa ordem de rememoração, assume para nós o equivalente ao ponto de fundação da entrada do sujeito no mundo. Tal perspectiva expressa-se na repetição, numa espécie de rememoração, que é a essência da pulsão. A segunda referência que Lacan forneceu foi: b) “tudo possa ser retomado, não simplesmente no movimento da metamorfose, mas a partir de uma intenção inicial” (p. 253).

Relemos a intenção num tipo de empenho exploratório do mundo, procurando meios de controlar os efeitos produzidos em sua relação. Parece-nos que é o mesmo referido por Freud (1905/1996a)Freud, S. (1996a). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. VII, pp. 35-82). (Trabalho original publicado em 1905). ao mencionar a incorporação como captura ou tipo de apropriação (Aneignung) do mundo, cuja atividade alucinatória seria uma forma de testemunho, ou, ainda, o exemplo do chuchar. Na articulação freudo-lacaniana sobre as pulsões, acentuando o apoderamento, aproximamos a posição de Freud, com o impulso para fazer sua atividade de controle, ao princípio exposto por Lacan, ao abordar as ações do domínio da criação. Extraímos do pensamento de Lacan algumas noções sobre a criação, compreendida como uma ação que recria a experiência, fornecendo elementos para a fabricação da própria historização da pulsão de morte, a qual será indiciada na cadeia do significante.

[...] se tudo que é imanente ou implícito na cadeia dos acontecimentos naturais pode ser considerado como submetido a uma pulsão dita de morte, é somente na medida em que há cadeia significante. Efetivamente, é exigível que, nesse ponto do pensamento de Freud, o que está em questão seja articulado como pulsão de destruição, uma vez que ela põe em causa tudo o que existe, mas ela é igualmente vontade de criação a partir de nada, vontade de recomeçar. (Lacan, 1959-60/2008aLacan, J. (2008a). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise (A. Quinet, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., p. 255)

Essa abordagem recoloca a posição criacionista da pulsão de morte, permitindo-nos defender a diferenciação entre a da pulsão de apoderamento e a pulsão de morte. Lacan (1959-60/2008a)Lacan, J. (2008a). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise (A. Quinet, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60). examinou a fundo esse campo, deslizando para a pulsão de destruição, o que na história da pulsão de apoderamento é um ponto sobreposto e recorrente. O autor ainda reposiciona a pulsão de destruição, como causa de tudo que existe, e entrelaça a ela a “criação a partir do nada, vontade de recomeçar” (p. 135).

Acompanhamos, assim, a construção lacaniana de um bloco conceitual numa espécie de Metapsicologia, composta dos elementos como das Ding, objeto a e o Real. Do lado freudiano, a pulsão de apoderamento é a força psíquica atuante por meio do aparelho muscular, ao passo que a pulsão de morte, na vertente freudiana, faz sua direção retornante. Já para Lacan (1959-60/2008a)Lacan, J. (2008a). O seminário. Livro 7. A ética da psicanálise (A. Quinet, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1959-60)., a pulsão de morte é um traço histórico, exigindo uma fundação, o que sustenta a construção da lógica do retorno, tão enfatizada no circuito da pulsão de morte. Em outras palavras, esse processo se dá por meio da força de registrar ou não, isto é, da ação da pulsão de apoderamento em fazer ligação. Lacan atentou-se a esse caráter, descrevendo de modo sutil seu funcionamento:

Como em Sade, a noção da pulsão de morte é uma sublimação criacionista, ligada a esse elemento estrutural que faz com que, desde que lidamos com o que quer que seja no mundo, que se apresenta sob a forma da cadeia do significante, haja uma certa altura, mas certamente fora do mundo da natureza, o para além dessa cadeia, o ex-nihilo, sobre o qual ela se funda e se articula ao Real. (p. 255)

Servimo-nos de das Ding, como ilustração das operações da pulsão de apoderamento, coincidindo num tipo de dado psíquico, informações sensoriais que testemunham sua força escritora da subjetivação, produzindo um objeto específico, nuclear na constituição do sujeito do inconsciente. Na dissecação dessa temática e na desmontagem cirúrgica de Lacan sobre o tema, parece-nos claro que ele se refere continuamente ao traço da pulsão, alegando que “seu alvo não é outra coisa, senão esse retorno em seu circuito” (Lacan, 1964/2008bLacan, J (2008b). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (M. D. Magno, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)., p. 176). Lacan se refere, ainda, à atividade pulsional e a define por lugares no corpo, que permitam a inscrição da relação com o outro. Diante de tais argumentos avançamos nas especificidades da pulsão de apoderamento, tomando sua ação como impulso para “fazer-ser”. A operação desse “fazer” é um prolongamento expressado por Lacan, ao retratar o circuito de um vaivém.

De fato, a articulação do fecho vaivém da pulsão se obtém muito bem com só mudar no último enunciado um dos termos de Freud. Eu não mudo eigenes objekt, o objeto propriamente dito que é mesmo de fato ao que se reduz o sujeito, eu não mudo von fremder Person, o outro, é claro, no beschaut, mas ponho no lugar de werden, machen o de que se trata na pulsão, é de se fazer ver. A atividade da pulsão se concentra nesse se fazer, e é reportando-o ao campo de outras pulsões que poderemos talvez ter alguma luz. (Lacan, 1964/2008bLacan, J (2008b). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (M. D. Magno, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)., p. 190)

Um detalhe determinante e sutil sobre a contribuição de Lacan é a observação da palavra em alemão, Machen. Ele escolheu um verbo, que pode significar fazer, em vez de Werden, que significa ser, e tal emprego invoca um ato, um movimento que requer criação. Assim, agrupamos o vocábulo ao domínio da pulsão de apoderamento. Recordemos que a expressão Werden também está na frase clássica de Freud (1933/1996c)Freud, S. (1996c). Conferência XXXI. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XXII, pp. 13-78). Imago. (Trabalho original publicado em 1933).: “Wo es war, soll ich werden3 3 Na tradução realizada por James Strachey da Editora Imago em 1996, do inglês para o português: “Onde estava o id, ali estará o ego” (Freud, 1933/1996c, p. 84). (p. 156), ao referir-se à dimensão constitutiva do Eu. Mas o que essa semelhança revela?

Parece-nos que não se trata de oposição, mas o ato lacaniano de substituir o verbo empregado por Freud é uma ilustração da complexidade do processo que origina o Sujeito em seu construto pulsional. Isto se dá no eixo da exigência de trabalho, pois não há tornar-se sem um trabalho para tal. Notamos a relação entre Machen-Werden, um fazer-ser, uma posição lacaniano-freudiano. A pulsão de apoderamento não é o ser, ela faz ser, por fundar um ponto de ancoragem, ao qual o sujeito possa vir a existir.

Por outro lado, e em distinção funcional, a pulsão de morte é histórica, pois assim a força originária a faz Ser, (re)torna um ser. Isto é, a pulsão de morte é o registro do caminho pelo qual adveio o sujeito, e supõe seguir seus rastros de retorno, na esperança dos reencontros que sustentem minimamente sua identidade. Embora Lacan não tenha usado o termo apoderamento, deixa evidente sua diversidade e que é “no campo de outras pulsões que poderemos talvez ter alguma luz” (Lacan, 1964/2008c, p. 190). Entretanto, guardamos a relação entre criação e apoderamento, colocando entre eles o das Ding como produção, e seu lugar no corpo erógeno, semelhante a um tipo de órgão falseado. Lacan expõe sua concepção afirmando que:

A relação do ciclo pulsional com algo que está sempre no centro. É um órgão, a se tomar no sentido de instrumento, da pulsão - num sentido diferente, portanto, daquele que tinha há pouco, na esfera da indução do Ich, esse órgão inapreensível, um objeto que não podemos mais que contornar e, numa palavra, esse falso órgão - aí está o que convém interrogar. (p. 156)

Esse órgão falso, investido em relação ao órgão verdadeiro, teria como efeito a produção de das Ding e uma intimidade com o objeto a. Para dar mais lucidez a isso, mencionamos o ponto em comum tanto em Freud quanto em Lacan. Para o primeiro, o seio é o objeto primordialmente alucinado, ao passo que, para o segundo, “o seio - como equívoco, como elemento característico da organização do mamífero, a placenta por exemplo -, bem representa essa parte de si mesmo que o indivíduo perde ao nascer, e que pode simbolizar mais profundo objeto perdido” (Lacan, 1959-60/2008bLacan, J (2008b). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (M. D. Magno, Trad., 2ª ed.). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)., p. 193).

Assim, a relação com o objeto, seja inscrito no próprio corpo ou naquele dos investimentos externos, revela as construções pulsionais, refletindo com maior clareza suas expressões clínicas. Na psicopatologia das compulsões, torna-se mais prática a potência dos conceitos, como no caso dos transtornos alimentares ou da toxicomania, cujos aspectos da pulsão de apoderamento podem se tornar evidentes, materializando seu circuito num jogo com objeto eleito, como aquilo que se tomado, o aproximaria do engodo da plenitude. No nível da distinção epistemológica entre apoderamento e morte, provocamos a instrumentalização da prática psicanalítica ao servir, como possibilidade de abordagens na relação com o objeto e as invenções possíveis.

Considerações finais

A retomada das diferenças conceituais sublinhou a problemática em torno da pulsão de apoderamento e a pulsão de morte. A revisão estabeleceu condições para abarcar as distinções no campo teórico e alguns aspectos clínicos de sua aparição. Partindo da base freudiana e das especificidades encontradas em “Além do princípio de prazer” (Freud, 1920/2020Freud, S. (2020) Além do princípio de prazer. In Obras incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio de prazer [Jenseits des Lustprinzips] (M. R. S. Moraes, Trad., pp. 225-302). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920).), foi possível realizar o resgate tradutório da pulsão de apoderamento, retirando-a das reduções da dominação, assinalando que essa função é uma de suas manifestações, mas não a única. Como consequência, propomos uma releitura conceitual, o que constitui, em parte, a gênese distintiva, afirmando sua atividade como originária e criacionista nas origens da vida psíquica. As proposições de Lacan consolidaram as articulações entre a pulsão de apoderamento e a pulsão de morte, o que, por sua vez, possibilitou a sustentação da discussão. Em última instância, o resultado desta proposta indica o estatuto metapsicológico da pulsão de apoderamento, introduzindo outras perspectivas sobre a criação.

  • Financiamento/Funding: Este trabalho não recebeu apoio. / This work received no funding.
  • 1
    Segundo a exposição feita por Sèdat (2009)Sédat, J. (2009). Pulsion d’emprise: Introduction à la perversion freudienne [Pulsão de dominação: introdução à perversão freudiana]. Che vuoi - Revue du Cercle Freudien, 2(32), 11-25. https://www.cairn.info/revue-che-vuoi-1-2009-2-page-11.htm.
    https://www.cairn.info/revue-che-vuoi-1-...
    , Freud teria inserido esse termo apenas na terceira edição do texto “Os três ensaios...”, feita em 1915, momento que já havia compreendido melhor a ação do Eu, o que lhe permitiu hipotetizar o Eu de controle.
  • 2
    Na versão da editora Imago da tradução da obra de Sigmund Freud, realizada por James Strachey, a conversão do termo Bemächtigunstrieb foi recolocada para o português como pulsão de dominação, modo como foi popularizada na produção da teoria psicanalítica a respeito do assunto.
  • 3
    Na tradução realizada por James Strachey da Editora Imago em 1996, do inglês para o português: “Onde estava o id, ali estará o ego” (Freud, 1933/1996cFreud, S. (1996c). Conferência XXXI. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XXII, pp. 13-78). Imago. (Trabalho original publicado em 1933)., p. 84).

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Editor/Editor: Prof. Dr. Nelson da Silva Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2022

Histórico

  • Recebido
    24 Jul 2022
  • Aceito
    23 Out 2022
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