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Avaliação de sujeitos com afasia: uma revisão integrativa da literatura

RESUMO

Objetivo:

analisar quais e o que abordam as avaliações utilizadas com sujeitos com afasia pelos terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas.

Métodos:

o estudo realizou uma análise documental, nacional e internacional, das avaliações utilizadas pelos profissionais dedicados à reabilitação neurológica de sujeitos adultos e/ou idosos com afasia publicadas nos últimos dez anos (janeiro 2008/junho2018). Por meio de uma revisão integrativa nas bases de dados: LILACS, SciELO e PubMed, utilizando os descritores: Avaliação em Saúde ou Realização de Testes, ou Protocolos, ou Psicometria, ou Questionários e Reabilitação, combinados com os descritores: Afasia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Fisioterapia.

Resultados:

foram incluídos 26 estudos, a maior parte classificada em nível VI de evidência científica; os anos de 2013 e 2016 apresentaram picos de publicações. Os estudos utilizaram 54 instrumentos de avaliação, 13 recorrentes, os quais analisam, em sua maioria, aspectos da comunicação/linguísticos. Infere-se que tal dado esteja relacionado com o fato de fonoaudiólogos prestarem cuidados aos sujeitos com afasia; porém tais sujeitos podem apresentar necessidades para além da comunicação, como, por exemplo, as relacionadas à ocupação humana, sendo necessário, um cuidado multiprofissional e integral em saúde. O protocolo de avaliação Stroke Impact Scale (SIS) foi considerado, dentre os instrumentos, o mais completo, por abordar aspectos da comunicação/linguísticos, da ocupação humana e psicoafetivos.

Conclusão:

este estudo identificou a utilização de poucos instrumentos dedicados a sujeitos com afasia relativos a todos os aspectos que envolvem a vida, com predominância dos protocolos e avaliações que direcionam apenas para as incapacidades, destacando a importância de avaliações que tratem da subjetividade, que avaliem o sujeito com afasia em todas as dimensões da sua vida.

Descritores:
Afasia; Atividades Cotidianas; Avaliação em Saúde; Integralidade em Saúde

ABSTRACT

Objective:

to analyze which evaluations are used by occupational therapists, speech-language pathologists and physiotherapists on individuals presented with aphasia and what these evaluations address.

Methods:

the study conducted a national and international documental analysis of evaluations used by professionals working on the neurological rehabilitation of adults and/or elderly individuals with aphasia, published in the last ten years (January 2008/June 2018). This analysis was performed by an integrative review of databases LILACS, SciELO and PubMed, using the descriptors: Health Assessment or Testing, or Protocols, or Psychometrics, or Questionnaires and Rehabilitation, combined with the descriptors: Aphasia, Occupational Therapy, Speech-language Pathology and Physiotherapy.

Results:

26 studies were included, most of which were scored as level VI of scientific evidence; the years of 2013 and 2016 presented publication peaks. The studies used 54 evaluation tools, among which 13 were recurrent in the studies, mostly analyzing aspects of communication/language. It is assumed that these data are related to the fact that speech-language pathologists provide care for individuals with aphasia; however, these individuals may present other needs beyond communication, such as those related to human occupation, requiring multiprofessional and integral health care. Among the protocols, the Stroke Impact Scale (SIS) was considered the most complete, since it addresses communication, linguistic, human occupation and psycho-affective aspects.

Conclusion:

this study identified the use of few instruments dedicated to individuals with aphasia related to all aspects that involve life, with predominance of protocols and evaluations that only address disabilities, highlighting the importance of assessments that address subjectivity, evaluating individuals with aphasia in all dimensions of their lives.

Descriptors:
Aphasia; Activities of Daily Living; Health Evaluation; Integrality in Health

Introdução

A integralidade, um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)11. Brasil. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990; Brasília: 1990. [Acesso em 30 de ago 2018]; Disponível em: http://prattein.com.br/home/images/stories/Saude/Lei-org-saude.pdf.
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, clama por um sistema de saúde mais amplo e melhores condições sociais. Entretanto, sabe-se que são diversos fatores que implicam para a ineficácia deste princípio: o reducionismo e a fragmentação no cuidado por parte dos profissionais da saúde22. Bergamaschi FPR, Teles AS, Souza ACS, Nakatami AYK. Reflexões acerca da integralidade nas reformas sanitária e agrária. Texto contexto - enferm. 2012;21(3):667-74. doi: 10.1590/S0104-07072012000300023.
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. Os profissionais necessitam do conhecimento intersubjetivo dos sujeitos acerca dos reflexos causados pelas patologias no dia a dia33. Mattos RA. A integralidade na prática (ou sobre a prática da integralidade). Cad Saúde Pública. 2004;20(5):1411-6. doi: 10.1590/S0102-311X2004000500037.
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, ainda, os profissionais devem considerar as prioridades e as singularidades dos sujeitos e a necessidade de uma equipe multidisciplinar que atue de forma interdisciplinar para um cuidado integral.

Nas sequelas posteriores ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), são diversos os reflexos causados no cotidiano dos sujeitos. O AVC é uma das lesões neurológicas que mais acometem adultos; são também as mais incapacitantes, pois provocam manifestações clínicas como: déficits motores/hemiplegias, alterações sensitivas/hemiparesias e alterações de linguagem/afasias44. Cambier J, Masson M, Dehen H. Neurologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005..

As afasias são alterações dos processos linguísticos de significação, comprometem, em diferentes graus de intensidade, as funções da linguagem falada e/ou escrita55. Coudry MIH. A linguagem em funcionamento na afasia. Letras de Hoje. 2001;36(3):449-55., afetando diretamente a vida prática ocasionado privações ocupacionais; ou seja, produzem dificuldades de o sujeito realizar atividades corriqueiras com eficiência, por exemplo: preencher um cheque, atender e mandar mensagens pelo telefone, ler um jornal, conversar ou mesmo compreender o que é falado66. Morato EM, Tubero AL, Santana AP, Damasceno B, De Souza FF, Macedo HO et al. Sobre as afasias e os afásicos: Subsídios teóricos e práticos elaborados pelo Centro de Convivência de Afásicos (Universidade Estadual de Campinas). São Paulo: Unicamp; 2002..

As afasias geram dificuldades no cotidiano55. Coudry MIH. A linguagem em funcionamento na afasia. Letras de Hoje. 2001;36(3):449-55. e, dessa forma, presume-se que poderão ocorrer impedimentos nas ocupações humanas significativas para o sujeito, bem como, nos papéis ocupacionais. Os papéis são um conjunto de comportamentos influenciados pela cultura que orientam e auxiliam a organizar o desempenho de funções sociais, por exemplo, ser pai, mãe, estudante, etc. 77. American Occupational Therapy Association. Occupational therapy practice framework: domain and process (2nd). Am J Occup Ther. 2008;62(6):625-83.,88. Paiva JS. Avaliação dos papéis ocupacionais e qualidade de vida do paciente pé diabético [Monografia de Conclusão de Curso]. Brasília (DF): Universidade de Brasília - UNB, Curso de Terapia Ocupacional; 2015.. Com base na Associação Americana de Terapia Ocupacional (AOTA)99. American Occupational Therapy Association. Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo-traduzida. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2015;26(esp):1-49. doi:10.11606/issn.2238-6149.v26iespp1-49.
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, as ocupações humanas referem-se às atividades de vida diária (realizadas no dia a dia); elas têm seus objetivos, significados e utilidades, visto que ocorrem em um contexto. As ocupações são fundamentais para a identidade e a valorização pessoal, podem ser classificadas como: Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), Descanso e Sono, Educação, Trabalho, Brincar, Lazer e Participação Social99. American Occupational Therapy Association. Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo-traduzida. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2015;26(esp):1-49. doi:10.11606/issn.2238-6149.v26iespp1-49.
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.

Considerando que a linguagem tem papel crucial em todas as atividades e facetas da vida (social, afetiva, ocupacional, mental, etc.) e os princípios do atendimento humanizado e do cuidado integral, evidencia-se a necessidade de conhecer os protocolos de avaliação utilizados pelos terapeutas reabilitadores para a elaboração do plano terapêutico singular. Assim, elaborou-se a seguinte pergunta norteadora: Quais e o que abordam as avaliações utilizadas com sujeitos com afasia pelos terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas?

Métodos

Para o levantamento dos artigos realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Public Medicine Library (PubMed). Para a seleção dos estudos, foi realizado levantamento bibliográfico de textos publicados no período de janeiro de 2008 a junho de 2018.

Foram usados os descritores do Medical Subject Headings (MeSH) e dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e os operadores boolianos AND e OR, resultando nas seguintes combinações dos artigos: Avaliação em saúde ou Realização de testes, ou Protocolos, ou Psicometria, ou Questionários e Reabilitação. Estes descritores foram combinados com os descritores: Afasia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Fisioterapia. Para as buscas nas bases de dados internacionais, foram utilizados os mesmos descritores na língua inglesa. Para a análise dos artigos, foram considerados os redigidos na língua portuguesa, espanhola e inglesa.

Os critérios de inclusão foram artigos publicados nos últimos 10 anos, estudos Nacionais e Internacionais, pesquisas que envolvessem o uso de protocolos/avaliações com sujeitos com afasia, adultos e/ou idosos em reabilitação neurológica com profissionais de terapia ocupacional, fonoaudiologia ou fisioterapia. Os critérios de exclusão foram: pesquisas que utilizassem questionários semi abertos, questionários adaptados e/ou de autoria desconhecida, estudos de terapia farmacológicas e médicas, estudos que avaliassem os cuidadores e/ou familiares, artigos e/ou resumos sem acesso livre/gratuito, revisões de literatura, revisões sistemáticas, análises de prontuários, cartas, editoriais e comentários.

Os níveis de evidência foram baseados na categorização da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ)1010. Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Making the case for evidence-based practice. In: Melnyk BM, Fineout-Overholt E (orgs). Evidence based practice in nursing & healthcare. A guide to best practice. Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkin; 2005. p.3-24., em sete níveis, a saber: nível I - meta-análise ou revisões sistemáticas; nível II - Ensaio Clínico Randomizado Controlado; nível III - Ensaio Clínico sem Randomização; nível IV - Estudos de coorte e de caso controle; nível V - Revisões sistemáticas de estudos descritivos; nível VI - estudos descritivos; nível VII - opinião de especialistas. Estes sistemas de classificação de evidências proporcionam subsídios para uma avaliação crítica de resultados oriundos de pesquisas e, consequentemente, na tomada de decisão sobre a incorporação das evidências à prática clínica. O processo de exclusão deu-se, primeiramente, pelo ano de publicação; em seguida, foram excluídos os artigos e/ou resumos sem acesso livre/gratuito. Procedeu-se a leitura dos títulos e dos resumos, de modo que os artigos que não continham as palavras-chaves foram excluídos. Foram, então, selecionados os artigos para a leitura completa, excluindo-se os artigos duplicados (verificados por meio do software Mendeley Desktop) e aqueles não pertencentes ao tema do estudo.

Revisão da Literatura

Após o levantamento na literatura, foram encontrados 5990 artigos, destes, 82 na base de dados LILACS, dois no SciELO e 5889 no PubMed (Figura 1).

Figura 1:
Sistematização da busca eletrônica nas bases de dados LILACS, SciELO e PubMed

A partir dos critérios de elegibilidade (Figura 2), 186 artigos foram selecionados para leitura completa. Entretanto, 8 artigos foram excluídos por duplicidade e 152 por não terem relação com o tema proposto - abordando temas como: reabilitação de sujeitos sem afasia e técnicas e protocolos médicos - totalizando 26 artigos incluídos e avaliados neste estudo, um proveniente da base de dados LILACS e 25 do PubMed; dois são Nacionais e 24 Internacionais.

Figura 2:
Fluxograma do processo de seleção da literatura

A quantidade de artigos mostrou-se instável no decorrer dos anos pesquisados; constatou-se picos de publicações em 2013 e 2016 (Figura 3).

Figura 3:
Número de artigos incluídos de acordo com o ano de publicação

Apresenta-se, na Figura 4, a descrição dos artigos incluídos neste estudo, destacando-se: o ano de publicação em ordem decrescente; a autoria; o título; os objetivos; os instrumentos/protocolos e o nível de evidência. A propósito, constatou-se a predominância de estudos nível VI que, segundo os princípios da Prática Baseada em Evidências (PBE), corresponde a estudos que não retratam fortes evidências.

Figura 4:
Apresentação das principais informações analisadas para os artigos selecionados

A título de maior sistematização e clareza do abordado anteriormente, apresenta-se na Figura 5, os 54 protocolos abordados nos artigos, bem como o número de artigos os quais utilizaram tais instrumentos.

Figura 5:
Instrumentos de avaliação encontrados nos artigos incluídos nesta pesquisa

Ressalta-se que a CIF não é um instrumento avaliativo e sim de classificação na identificação de aspectos relacionados as: estruturas, funções, atividade e participação. Incluiu-se neste estudo por entender-se da sua relevância para compreensão das necessidades subjetivas dos sujeitos, e em especial, pelo referido estudo abordar sujeitos com afasia1818. Pommerehn J, Delboni MCC, Fedosse E. International Classification of Functioning, Disability and Health, and aphasia: a study of social participation. CoDAS. 2016;28(2):132-40. doi:10.1590/2317-1782/201620150102.
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. Dentre as avaliações o Índice de Barthel (IB) foi a mais utilizada, estando presente em seis estudos, seguido da Stroke and Aphasia Quality of Life Scale-39 (SAQOL-39) em cinco estudos, Medida de Independência Funcional (MIF) em cinco estudos, EuroQol five dimensions questionnaire (EQ-D5), Boston Naming Test (BNT) e Mini-Mental State Examination (MMSE) em quatro estudos, Boston Diagnostic Aphasia Examination (BDAE) e Western Aphasia Battery-Revised (WAB) em três estudos, Stroke Impact Scale (SIS), Escala Geriátrica de Depressão (GDS), o Community Integration Questionnaire (CIQ), a Scale of the Amsterdam-Nijmegen Everyday Language Test (ANELT) e a Fugl-Meyer Escala (FM) em dois estudos; o restante das avaliações citadas foram utilizadas em apenas um estudo.

Na Figura 6 observa-se a análise dos instrumentos (13) de avaliação, presentes em dois ou mais estudos, relativa à avaliação dos aspectos comunicativos/linguísticos, aspectos da ocupação humana (Atividades de Vida Diária [AVD], Atividades Instrumentais de Vida Diária [AIVD], Descanso e Sono, Educação, Trabalho, Brincar, Lazer e Participação Social [AOTA, 2015]), bem como das condições psicoafetivas. Foram utilizados os seguintes critérios para análise “sim”, “não”, ou “implícito”. O critério “sim” ou “não” foi utilizado quando a avaliação utiliza ou não categorias ou dimensões que avaliam os aspectos referidos. O critério implícito foi utilizado quando a avaliação não apresenta a categoria, nem a dimensão referente a tais critérios, entretanto, a abordagem dos referidos aspectos está implícita em questões do protocolo.

Figura 6:
Análise da abordagem das avaliações

Convém ressaltar que são escassos os estudos que abordam sujeitos com afasia, sobretudo, devido à dificuldade da aplicação de avaliações pelos entrevistadores em lidar com as alterações linguístico-cognitivas 3737. Bahia MM, Chun RYS. Quality of life in aphasia: differences between fluent and non-fluent aphasic augmentative and alternative communication users. Audiol., Commun. Res. 2014;19(4):352-9. doi: 10.1590/S2317-64312014000300001353.
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. Tal condição também pode explicar o fato de as publicações apresentarem-se instáveis no decorrer dos anos.

Ressalta-se que a maioria dos artigos utilizaram múltiplas avaliações, predominando a abordagem de aspectos comunicativos/linguísticos. Infere-se que esta predominância ocorra devido as pesquisas relacionadas à afasia serem, em sua maioria, realizadas por fonoaudiólogos. Assim, entende-se que os terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas abordam, em suas pesquisas, aspectos físicos, como, por exemplo, funcionalidade, independência e atividades relacionadas à ocupação humana. Desta forma, a comunicação é avaliada implicitamente nas dimensões ou aspectos sociais. Sugere-se que este resultado venha ao encontro da visão fragmentada pelos profissionais no cuidado a saúde.

Dentre as avaliações incluídas neste estudo, a escala SIS apresenta-se como a mais completa, pois aborda aspectos da comunicação/linguísticos, da ocupação humana e psicoafetivos. O SIS é um instrumento que avalia de forma multidimensional os aspectos envolvidos no AVC. É composta por 64 itens que avaliam 8 domínios: força, função da mão, atividades da vida diária (AVD)/atividades instrumentais da vida diária (AIVD), mobilidade, comunicação, emoção, memória e pensamento e participação. Outro estudo3838. Canuto MA, Nogueira LT. Acidente vascular cerebral e qualidade de vida: uma revisão integrativa. J. res. fundam. care. 2015;7(2):2561-8. doi: 10.9789/2175-5361.2015.v7i2.2561-2568.
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, que realizou uma revisão integrativa sobre qualidade de vida de sujeitos com afasia, afirmou que a SIS foi o instrumento específico de avaliação de qualidade de vida mais utilizado nos estudos encontrados.

As avaliações utilizadas com sujeitos com afasia precisam abordar aspectos para além da linguagem, sendo necessário que o sujeito seja avaliado como um todo, ou seja, de modo integral, por todos profissionais da saúde3939. Cernescu RP, Leite CAG, Lessa WM. Reabilitação fonoaudiológica em grupo de pacientes afásicos. UNOPAR Cient., Ciênc. Biol. Saúde. 2000;2(1):77-91. doi: 10.17921/2447-8938.2000v2n1p%25p.
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. As autoras do presente estudo, apoiadas na concepção franchiana, destacam que a linguagem se constrói como sistema significativo (sistema formal/língua) e comunicativo, organizando todos os processos cognitivos e constituindo o sujeito que a utiliza, as suas interações com o mundo físico e social. Com isso, vê-se de suma importância a adoção de modelos biopsicossociais que englobem todos os aspectos da saúde humana, avaliações/protocolos que possibilitem a compreensão multidimensional do impacto da afasia na sobrevida.

As ações em saúde devem permitir concepções do sujeito em sua integralidade, aproximando o contexto real, contextualizado sem dissociar a história, as singularidades, o seu cotidiano, do processo das práticas em saúde, visando uma ação em saúde reflexiva, integrada e humanizada4040. Silveira L, Ribeiro V. Grupo de adesão ao tratamento: espaço de "ensinagem" para profissionais de saúde e pacientes. Interface - Comunic., Saúde, Educ. 2005;9(16):91-104. doi: 10.1590/S1414-32832005000100008.
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. Para a verdadeira efetivação da integralidade, necessita-se do abandono do reducionismo e da fragmentação no cuidado por parte dos profissionais da saúde.

Por fim, este estudo destaca a importância de avaliações que tratem da subjetividade, que avaliem o sujeito com afasia em todas as dimensões da sua vida. Vê-se a importância de protagonizar o sujeito em todos os processos terapêuticos, permitindo o autoconhecimento de sua vida, e de suas reais condições e necessidades de saúde.

Como limitação, este estudo apresenta a ausência de alguns instrumentos importantes de avaliação que são utilizados em estudos não disponíveis publicamente. Ademais, ressalta-se que, mesmo oferecendo um amplo panorama dos instrumentos/protocolos de avaliação utilizadas com sujeitos com afasia, uma revisão integrativa pode não representar o conjunto de estudos em determinada área em função das bases de dados indexadoras e dos descritores utilizados, podendo não incluir estudos encontrados por outros métodos de busca.

Conclusão

O presente estudo encontrou um amplo panorama, 54 protocolos, utilizados como forma de avaliar o sujeito com afasia pelos terapeutas reabilitadores nos artigos publicados dos últimos 10 anos. Quanto a análise dos protocolos, foram realizadas a análise de 13 protocolos (utilizados em dois ou mais estudos), destes o SIS foi considerado, o mais completo, pois aborda aspectos da comunicação/linguísticos, da ocupação humana e psicoafetivos.

Os resultados da revisão de literatura demonstraram a utilização de poucos instrumentos dedicados a sujeitos com afasia relativos a todos os aspectos que envolvem a vida, com predominância dos protocolos e avaliações que direcionam apenas para as incapacidades, sem abordar a individualidade, não direcionando para um cuidado que reconheça suas reais preocupações, inseguranças e necessidades.

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  • Fonte de Financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    15 Jan 2019
  • Aceito
    26 Jul 2019
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