Resumo
Neste artigo, apresentamos um breve resumo da análise crítica feita por Jean-Michel Adam e Ute Heidmann (ADAM; HEIDMANN, 2011) de duas versões francesas da narrativa kafkiana sobre quatro mitos de Prometeu, que, uma vez compilada, alterada e publicada por Max Brod, ficou conhecida como Prometheus, em alemão. Trazemos ainda um resumo da discussão feita pelos autores sobre as divergências entre o texto alterado por Brod e o manuscrito original de Kafka, que diverge do primeiro. Em seguida, elencamos duas traduções consagradas em português, duas em espanhol e duas em italiano do texto compilado por Brod. Tais traduções vêm acompanhadas de breves reflexões que fizemos sobre estratégias e decisões dos tradutores. Como suporte teórico, recorremos, na área específica da análise crítica de traduções, à teoria de Reiß (1986) e, no âmbito da poética do traduzir, a Meschonnic (2010) e Borges (1974). Por fim, apresentamos nossa proposta de tradução, em português, para o original de Kafka e o texto alterado por Brod.
Palavras-chave:
Prometeu; Kafka; Brod; original; tradução
In this article, we present a brief summary of the critical review made by Jean-Michel Adam and Ute Heidmann (ADAM; HEIDMANN, 2011) of two French translations of Kafka’s narrative about four myths of Prometheus, which, after having been compiled, amended and published by Max Brod, became known under the German title of Prometheus. We also bring a summary of the discussion led by the authors on the divergences between Brod’s amended text and Kafka’s original manuscript, which diverges from the first. We then list two consecrated translations in Portuguese, two in Spanish and two in Italian of the text compiled by Brod. These translations are accompanied by brief reflections we have made on the translators’ strategies and decisions. Concerning our theoretical support, in the specific area of translation criticism we have resorted to the theory developed by Reiß (1986) and, in the scope of poetics of translating, to Meschonnic (2010) and Borges (1974). Finally, we present our translation proposal, in Portuguese, for the original by Kafka and the text amended by Brod.
Keywords:
Prometheus; Kafka; Brod; Original; Translation
Resumen
En este artículo, presentamos un breve resumen del análisis crítico realizado por Jean-Michel Adam y Ute Heidmann (ADAM; HEIDMANN, 2011) sobre dos versiones francesas de la narrativa kafkiana sobre cuatro mitos de Prometeo, que se conoció, tras ser compilada, alterada y publicada por Max Brod, como Prometheus en alemán. También traemos un resumen del debate celebrado por los autores sobre las diferencias entre el texto enmendado de Brod y el manuscrito original de Kafka, que difiere del primero. A continuación, enumeramos dos traducciones consagradas en portugués, dos en español y dos en italiano del texto compilado por Brod. Estas traducciones van acompañadas de breves reflexiones que hemos hecho sobre estrategias y decisiones de los traductores. Como apoyo teórico, hemos recurrido, en el área específica del análisis crítico de traducciones, a la teoría de Reiß (1986) y, en el ámbito de la poética del traducir, a Meschonnic (2010) y Borges (1974). Finalmente, presentamos nuestra propuesta de traducción, en portugués, del original de Kafka y del texto modificado por Brod.
Palabras clave:
Prometeo; Kafka; Brod; Original; Traducción
O fígado era considerado pelos antigos a sede de todas as paixões e todos os apetites; uma punição como a de Prometeu era, portanto, conveniente para um criminoso movido por suas pulsões, que havia cometido sacrilégio sob o impulso de maus apetites.
Sigmund Freud
Rainer Stach (2014STACH, Reiner. Kafka: Die frühen Jahre. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2014.; 2008STACH, Reiner. Kafka: Die Jahre der Erkenntnis. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2008.; 2002STACH, Reiner. Kafka: Die Jahre der Entscheidungen. Frankfurt a. M.: S. Fischer, 2002.), estudioso alemão que já dedicou três extensos volumes à vida de Franz Kafka, divididos em três diferentes blocos temáticos,1 1 Títulos originais: Die frühen Jahren, Die Jahre der Entscheidungen, Die Jahre der Erkenntnis (tradução nossa: Os anos da juventude, Os anos das decisões, Os anos do discernimento). destaca, no volume sobre os anos de formação do escritor, o interesse deste por autores greco-latinos. Findos os estudos secundários, Kafka continuava a ler autores clássicos, que, mais tarde, lhe serviriam como inspiração na escrita de algumas parábolas, em que recorreria a personagens homéricos. Sobre esse tema, escreve Stach:
Personagens do mundo da Antiguidade também estão presentes em seus textos literários, porém não como bens culturais evocados, mas como protagonistas radicalmente alheados de seu contexto histórico. O silêncio das sereias, Poseidon, Prometeu, O novo advogado: em nenhuma dessas parábolas, Kafka mostra qualquer interesse por suas personagens em termos da história das ideias; pelo contrário, usa a proeminência de seus nomes para expô-las à luz de neon da modernidade com o maior efeito possível. (STACH, 2014STACH, Reiner. Kafka: Die frühen Jahre. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2014., p. 146).2 2 Nossa tradução de: “Figuren aus der Welt der Antike sind auch in seinen literarischen Texten gegenwärtig, freilich nicht als herbeizitierte Bildungsgüter, sondern als Protagonisten, die ihrem historischen Kontext radikal entfremdet sind. Das Schweigen der Sirenen, Poseidon, Prometheus, Der neue Advokat: In keinem dieser parabelartigen Stücke zeigt Kafka ein ideengeschichtliches Interesse an seinen Figuren, vielmehr nutzt er die Prominenz ihrer Namen, um sie mit größtmöglicher Wirkung das Neonlicht der Moderne auszusetzen.”
Uma vez tomados de empréstimo e transpostos para as parábolas kafkianas, determinados topoi ou personagens de obras gregas em geral acabam por ser “decompostos de maneira desrespeitosa” (STACH, 2014STACH, Reiner. Kafka: Die frühen Jahre. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2014., p. 146). Para ilustrar: na parábola de Kafka, o canto das sereias é desfigurado, quando o autor opta por ressaltar o silêncio dos seres fabulosos; afasta-se do texto homérico, criando sua leitura daquele conteúdo mitológico. Em Poseidon, descreve um chefe dos mares que aceitara essa tarefa burocrática, mas, assoberbado pelo trabalho, vivia irritado por não poder apreciar sua razão de ser: o mar. Larga, então, o tridente e busca refúgio num penhasco, tendo como companhia uma gaivota atordoada com sua presença. Em O novo advogado, a referência feita é a Bucéfalo, o cavalo que teria acompanhado Alexandre, o Grande, em todas as batalhas. Kafka engendra um Bucéfalo que, no ordenamento social dos então tempos modernos, submete-se à função de advogado.
A micronarrativa Prometheus é o objeto principal deste artigo. Em poucas linhas, conforme o texto compilado - e alterado - por Max Brod, Kafka faz um recorte do destino do titã que presenteara o fogo aos homens. Aqui, após breves referências ao conteúdo mitológico de alguns mitos3 3 Comungamos com Brandão (2009, p. 37), que afirma: “É necessário deixar bem claro, nesta tentativa de conceituar o mito, que o mesmo não tem aqui a conotação usual de fábula, lenda, invenção, ficção, mas a acepção que lhe atribuíam e ainda atribuem as sociedades arcaicas, as impropriamente denominadas culturas primitivas, onde mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais.” de Prometeu, apresentaremos um breve resumo do conteúdo da recriação kafkiana, para, em seguida, abordarmos, de forma resumida, aspectos da análise crítica - genética, filológica e tradutória - realizada por Adam & Heidmann (2011). Aplicaremos algumas das ideias desses pesquisadores à análise que faremos de seis traduções em línguas românicas: duas em português, duas em espanhol e duas em italiano. Em nosso exame translíngue de Prometheus, também recorreremos a conceitos dos Estudos da Tradução, extraídos de Meschonnic (2010MESCHONNIC, Henri. Poética do traduzir. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010.), Reiß (1986REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik. Munique: Max Hueber Verlag, 1986.) e Borges (1974BORGES, Jorge Luis. Las versiones homéricas. In: BORGES, Jorge Luis. Obras completas. Buenos Aires: Emece Editores, 1974.).
Vemos o Prometheus de Kafka como uma parábola no sentido proposto por Sant’Anna (2010SANT’ANNA, Marco Antônio Domingues. O gênero da parábola. São Paulo: Ed. UNESP, 2010., p. 219), quando afirma:
A parábola, enquanto discurso alegórico, face visível de um discurso marcado por um espectro variadíssimo de códigos, organizado segundo princípios que regem o processo narrativo, relaciona-se com outros contextos e mundos, funcionando como conector de dois textos, implicados no interior do mesmo discurso.
Em sua parábola, o autor judeo-tcheco recorre ao mito grego, já antes explorado por diversos autores de diferentes épocas, e estabelece novos tons alegóricos. Já György Kálmán (2007KÁLMÁN, György. Kafka’s Prometheus. Neohelicon, v. 34, n. 1, p. 51-57, 2007.) crê que o Prometheus kafkiano tem a forma de uma parábola, mas, ao mesmo tempo, não é uma parábola, pois dela não se poderia extrair uma ideia profunda ou transcendente. Considera-o apenas um “mito radicalmente abreviado”4 4 No original: “a radically shortened myth”. .
Como nosso artigo também se funda no viés da análise crítica de traduções, defendemos, na visão de Reiß (1986REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik. Munique: Max Hueber Verlag, 1986., p. 52 et seq.), a importância da tipologia textual como categoria literária da crítica de traduções. Em primeira linha, o tradutor - e, também, o crítico de tradução - deve reconhecer o gênero textual original, para, dessa maneira, estabelecer os parâmetros necessários à reprodução/análise do gênero textual correspondente na língua-cultura de chegada.
O mito de Prometeu e o Prometheus de Kafka
Na Teogonia de Hesíodo (1991aHESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. 2 ed. São Paulo: Iluminuras, 1991a.), já se encontram referências ao mito de Prometeu, quando este é descrito como um titã filho de Jápeto e Clímene, irmão de Atlas, Epimeteu e Menócio. Em seu Protágoras, Platão (2007PLATÃO. Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. Tradução de Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.) discorre sobre a importante tarefa conferida pelos deuses a Prometeu e Epimeteu de criar todos os seres vivos. A Epimeteu coube a tarefa de distribuir atributos a todas as criaturas, e a Prometeu, a função de supervisionar o trabalho realizado pelo irmão. A cada animal, Epimeteu emprestou qualidades variadas: coragem, força, rapidez; a alguns, revestiu com densos pelos e resistente couro, para protegê-los tanto do calor quanto do frio. Acabou por dividir todos os atributos entre os seres criados, de modo que nada sobrara para os homens, que deveriam ser superiores a todos os animais. Em sua inspeção, Prometeu notou que o homem estava nu, descalço e sem armas; roubou, então, o fogo divino, entregando-o aos mortais e dotando-os de razão e inteligência, além do domínio das ciências e das artes. Esse ato provocou a ira de Zeus que, como punição, mandou Hefesto acorrentar o titã em um maciço rochoso na região da Cítia. Seu fígado seria devorado todos os dias por uma águia, mas, como Prometeu era imortal, esse órgão se regeneraria todas as noites, prolongando, indefinidamente, seu suplício. No mito grego, Prometeu só seria libertado por Héracles, filho de Zeus com Alcmena.
Em Prometeu Acorrentado (ÉSQUILO et al., 2018ÉSQUILO, et al. O melhor do teatro grego: Prometeu acorrentado: Édipo rei, Medeia, As nuvens. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2018. ), Prometeu é apresentado como o benfeitor da humanidade, que, ao furtar dos deuses o fogo divino, quis “transgredir um direito sagrado dando aos homens prerrogativas divinas” (p. 45-46); assim, seria odiado por Zeus por amar mais aos homens que às divindades (p. 158-159).
Em sua tragédia, Ésquilo lança um novo olhar sobre Prometeu: o titã é responsável pelo progresso da humanidade, e Zeus, um deus cruel e vingativo, pois “seu coração é duro e insensível, e não conhece a conciliação” (vv. 250-251). Zeus ainda teria cometido um ultraje contra Prometeu, pois esse Titã o ajudara a derrotar Cronos no episódio da Titanomaquia, abordado na Teogonia (HESÍODO, 1991aHESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. 2 ed. São Paulo: Iluminuras, 1991a.).
Ao contrário de Ésquilo, Hesíodo (1991aHESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. 2 ed. São Paulo: Iluminuras, 1991a.; 1991bHESÍODO. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras , 1991b.) não apresenta Prometeu como um benfeitor e, sim, muito mais como um “trapaceiro”. Na Teogonia, narra um episódio em que Prometeu prepara um truque para ludibriar a Zeus: durante um banquete, Prometeu oferece duas oferendas a Zeus: a primeira consistia em carnes escondidas dentro de um ventre de boi, o que lhe conferia um caráter repulsivo; a segunda eram ossos de boi cobertos por uma brilhante gordura. Zeus acaba por escolher a segunda oferenda, e, por isso, se passou a queimar ossos envoltos em gordura como oferenda aos imortais. O truque provoca a ira de Zeus, havendo, aqui, uma inversão de papéis: nessa versão, é Zeus quem é ultrajado por Prometeu, e, consequentemente, acaba por retirar o fogo dos mortais.
Limitando-nos apenas a esses dois textos clássicos, com suas narrativas divergentes sobre Prometeu, mostrando-as de modo dicotômico, não fica claro qual delas Kafka quis reproduzir em seu texto. Na verdade, pouco se deixa depreender do texto kafkiano como razão para o castigo: “ele, por haver traído os deuses em favor dos homens, [...]”. Kafka parece ignorar as narrativas anteriores - ou, corroborando a afirmação de Stach (2014STACH, Reiner. Kafka: Die frühen Jahre. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2014., p. 146), parece deformá-las -, iniciando seu texto in media res, já no momento em que o titã é preso ao Cáucaso. Não se sabe se o Prometeu kafkiano agiu por filantropia ou ganância. Não há sequer uma menção ao benefício do fogo. Mas se sabe que, com o passar dos milênios, a humanidade, inclusive, esquecerá Prometeu.
A análise genética, filológica e tradutória de Prometheus por Adam & Heidmann
Em seu livro sobre a poética do traduzir, Meschonnic (2010MESCHONNIC, Henri. Poética do traduzir. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010.) dedica-se, por exemplo, a refletir sobre como o ato de traduzir põe a nu as noções de linguagem, exatamente por tratar-se daquele ponto em que pode ocorrer - e com frequência - uma confusão entre língua e discurso, podendo acarretar consequências desastrosas. Reforçando sua reflexão, Meschonnic assevera:
Traduzir põe em jogo a representação da linguagem na íntegra e a da literatura. Traduzir não se limita a ser o instrumento de comunicação e de informação de uma língua a outra, de uma cultura a outra, tradicionalmente considerado como inferior à criação original em literatura. É o melhor posto de observação sobre as estratégias de linguagem, pelo exame das retraduções sucessivas para um mesmo texto. (MESCHONNIC, 2010MESCHONNIC, Henri. Poética do traduzir. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010., p. XXII).
Confirmando as assertivas do teórico francês, Adam & Heidmann (2011ADAM, Jean-Michel.; HEIDMANN, Ute. O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2011.) empreendem a tarefa de perscrutar duas versões francesas da narrativa Prometheus, de Kafka. Antes de cotejar o texto de partida e os textos de chegada, realizam uma pesquisa genético-filológica do texto kafkiano, conscientizando-se da atuação deformadora de Brod sobre o texto original de Kafka. Nesse caso específico, Brod mudou frases de lugar e alterou a pontuação do texto, assim influindo na linguagem, no ritmo e no discurso originais. E talvez toda a biblioteca de traduções dessa parábola tenha sido composta - e talvez ainda continue a sê-lo por algum tempo - a partir do texto adulterado.
Dada a escassez de espaço, listaremos, a seguir, apenas algumas das observações de Adam & Heidmann, que nos guiarão nas análises que faremos de seis versões em três línguas românicas que selecionamos, à guisa de exemplo. Abaixo, apresentamos, em paralelo, as versões alemãs de Prometheus, a que se referem Adam & Heidmann:5 5 Embora o texto original de Kafka tenha sido escrito entre 1917 e 1918, e o texto compilado e alterado por Brod, apenas em 1931, colocamos em primeiro lugar o segundo texto.
A seguir, apresentaremos, resumidamente, algumas das observações críticas de Adam & Heidmann (2011ADAM, Jean-Michel.; HEIDMANN, Ute. O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2011., p. 149 et seq.) sobre a intervenção de Brod e suas consequências:
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Ao publicar postumamente, em 1931, os textos de trabalho de Kafka, Brod modificou a ordem das frases originais da narrativa em questão;
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Brod extraiu um fragmento de um caderno in-oitavo (Caderno G), estabeleceu-lhe o título Prometheus e inscreveu-o no gênero narrativa mitológica;
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Por conseguinte, a carga histórico-mitológica da personagem-título influiu nos avanços metadiscursivos do texto;
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O texto original termina com a frase Blieb das unerklärliche Felsgebirge, ao passo que o texto compilado por Brod retira o período inicial da narrativa kafkiana e transfere-o para o final; também muda a pontuação (Die Sage versucht das Unerklärliche zu erklären; da sie aus einem Wahrheitsgrund kommt, muss sie wieder im Unerklärlichen enden);
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Brod corrigiu a pontuação de Kafka também noutros trechos, estabelecendo o rigor do uso de vírgulas no alemão, em detrimento do ritmo poético do texto de Kafka;
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No final do segundo parágrafo do texto modificado ([...] Adler, die von seiner immer wachsenden Leber fraßen), Brod suprime o prefixo nach presente no original (nachwachsenden), retirando o conteúdo iterativo que essa partícula confere ao modificador wachsend ligado ao núcleo Leber;
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No final do quarto mito, Brod acrescenta, ao sujeito Adler, um verbo (wurden) que, no texto de Kafka, encontrava-se elíptico, por já ter sido apresentado junto ao sujeito Die Götter.
As observações acima são importantes, pois podem levantar questionamentos, por exemplo, sobre o sentido relativo de noções como fidelidade, original, apropriação etc. Afinal, como os manuscritos originais foram adulterados por Brod, os tradutores, ao traduzirem o Prometheus, fazem-no, em geral, não a partir do original concebido por Kafka. Vejam-se estas duas versões francesas de Prometheus compiladas por Adam & Heidmann:
Sobre as traduções, Adam & Heidmann (2011ADAM, Jean-Michel.; HEIDMANN, Ute. O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2011.) fazem algumas considerações que abordaremos, na sequência, de forma sucinta. Os autores lembram-nos de que foi mérito do tradutor Alexandre Vialatte ter tornado Kafka conhecido na França. Podemos inferir que sua tradução Prométhée serviu de base para muitos leitores e estudiosos de obras kafkianas. Sobre as duas versões, Adam & Heidmann tecem, entre outras, estas críticas:
Partindo do texto de Brod, Vialatte retira o travessão do último parágrafo, conferindo-lhe uma situação final de narrativa (no imperfeito) e de uma moral-conclusão;
Ao observar a maneira como foi traduzida a frase “drückte sich [...] immer tiefer in den Felsen, bis er mit ihm eins wurde”, os dois críticos opinam que Robert fez uma melhor tradução ao propor “s’enfonça de plus em plus profondément à l’intérieur du rocher jusqu’à ne plus faire qu’un avec lui”;
Vialatte traduz a locução adverbial de tempo “in den Jahrtausenden” por “au cours des siècles”, que foi corrigida na versão de Robert por “au cours des millénaires”;
Adam & Heidmann louvam que Robert tenha escolhido selon para sempre verter nach no início de cada mito, mantendo, como no original, a ritmicidade repetitiva; é normal que não exprima o duplo sentido do nach alemão (conforme ou após); ao usar um selon e três d’après, cogitam os críticos, Vialatte talvez tencionasse não soar repetitivo;
Os dois críticos apontam que os dois tradutores acorrentam Prometeu ao rochedo, ao passo que Kafka o teria soldado (no original em alemão: festgeschmiedet).
Sobre as críticas acima tecidas por Adam & Heidmann, destacamos, em primeira linha, a preposição nach, que, na verdade, ainda tem um terceiro significado: para (= em direção a). Obviamente, a possibilidade de o texto kafkiano trazer um sentido ambíguo residiria apenas entre os sentidos de conforme e após; não obstante, manter tal ambiguidade é difícil - ou impossível - na tradução em uma língua românica. Tentar traduzi-la com d’après apenas disfarça um après que já não mais significa depois. Quanto às noções milênios e séculos, distingui-las é realmente relevante. Em relação ao termo festgeschmiedet, particípio passado do verbo festschmieden, ele não necessariamente denota soldar, mas prender com correntes, cadeias, grilhões etc. O Dicionário Duden Online7 7 https://www.duden.de/rechtschreibung/festschmieden (último acesso em 15/01/2021). apresenta, com esse verbo, este exemplo: “Die Ketten waren am Boden festgeschmiedet” (As correntes estavam firmemente presas no chão.), dando-lhe como sinônimo o verbo anschmieden, que significa durch Schmieden befestigen (fixar mediante forja). O verbo schmieden significa, portanto, forjar, o que implica um processo de fundição. Consultando o sentido de anschmieden no Grimms Wörterbuch,8 8 Último acesso realizado em 15/01/2021: http://woerterbuchnetz.de/cgi-bin/WBNetz/wbgui_py?sigle=DWB&mode=Vernetzung&lemid=GA04702#XGA04702. vimos, como sinônimo, o verbo anfesseln (acorrentar, agrilhoar). Ademais, embora já existisse a técnica de soldar à época de Kafka, remeter, em seu texto, essa ideia ao contexto do mito de Prometeu não parece ser a solução tradutória mais adequada.
Coincidindo com a ideia defendida por Reiß (1986REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik. Munique: Max Hueber Verlag, 1986., p. 13) de que “[...] com vistas a uma crítica construtiva da tradução, deve-se exigir a apresentação de contrapropostas atinentes a soluções tradutórias questionadas”9 9 Nossa tradução de: “[...] ist im Sinne einer konstruktiven Übersetzungskritik die Forderung nach Gegenvorschlägen für beanstandete Übersetzungslösungen zu erheben”. , Adam & Heidmann fornecem uma tradução sua para o fragmento de texto kafkiano do manuscrito original:
Adam & Heidmann (2011ADAM, Jean-Michel.; HEIDMANN, Ute. O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2011.) explicam que, no original, Kafka escreve, no segundo mito, apenas Pr, e não Prometeu. Cremos que é possível inferir que o texto ainda passaria por alguma revisão final, o que também poderia incluir uma revisão da pontuação.
Traduções de Prometheus em português, espanhol e italiano
Na sequência, apresentaremos duas traduções em português, duas em espanhol e duas em italiano do texto publicado por Brod, sobre as quais faremos breves comentários selecionados,10 10 Por questões de espaço, limitamos a apresentação dos exemplos comentados. sem perdermos de vista a análise de Adam & Heidmann. Vejamos os textos em português:
Como Brod deu um título ao fragmento de texto, é normal que as traduções tragam o título Prometeu. Isso ocorrerá também nas versões espanholas e italianas.
Devido a seu grande poder de condensar significados num curtíssimo espaço preenchido por poucos vocábulos, o alemão empresta um caráter especial à linguagem de que Kafka precisa para conferir um aspecto aglutinador-condensador entre o Prometeu castigado e a rocha com a qual, no final, este praticamente se (con)funde. As construções participiais alemãs são exemplos dessa propriedade linguística. Diante dos sintagmas “vor den zuhackenden Schnäbeln” e “des grundlos Gewordenen”, e. g., os tradutores que trabalham com línguas românicas tendem a recorrer, no primeiro caso, a orações relativas e, no segundo, a incluir algum substantivo ou pronome, para explicitarem as informações condensadas em alemão. Na tradução de Campos, temos, para os dois sintagmas, respectivamente: “pelos bicos que o laceravam” e “daquele processo sem fundamento”. No primeiro sintagma, recorreu a uma oração relativa para explicitar o sentido condensado no particípio presente zuhackenden em seu uso como adjetivo atributivo anteposto ao substantivo Schnäbeln. A nosso ver, visando a manter a concisão da informação em português, poderia ser usado o adjetivo dilacerantes; no segundo sintagma, o tradutor incluiu a palavra processo inexistente no texto alemão. Kothe não procedeu de forma distinta, ao recorrer, no primeiro caso, a “dos bicos que o atacavam”. No segundo exemplo, a concisão da expressão kafkiana foi substituída pela prolixidade contida em “daquilo que se havia tornado sem razão”. Trata-se, por certo, de questões específicas de cada língua que influenciam a forma como a linguagem e o discurso, em casos particulares, são moldados.
Segundo a análise crítica de traduções de Reiß (1986), Kothe infringe, em uma mesma frase, as instruções semânticas (REISS, 1986REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik. Munique: Max Hueber Verlag, 1986., p. 58 et seq.) e as gramaticais (REISS, 1986REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik. Munique: Max Hueber Verlag, 1986., p. 63 et seq.). Kafka abre seu texto com a frase: “Von Prometheus berichten vier Sagen: (...)”. Kothe traduz: “De Prometeu relatam-se quatro sagas (...)”. Primeiramente, o termo Sage significa, em português, lenda, mito. Embora se possa entender o destino de Prometeu como uma verdadeira saga, Kafka não escreveu originalmente o termo alemão Saga, que, nesse idioma, alude a relatos em prosa, em geral dos países nórdicos, em que são relatadas lutas heroicas travadas por clãs de donos de terras11 11 Cf. Dicionário DUDEN ONLINE: https://www.duden.de/rechtschreibung/Saga; último acesso em 15/01/2021. . Vê-se que o tradutor não atentou para o critério da equivalência semântica. Quanto à esfera gramatical, há uma diferença sintática a ser observada. Trata-se do sujeito gramatical escolhido para figurar junto aos verbos berichten e contar. Em alemão, são os próprios quatro mitos (vier Sagen) que contam (berichten) sobre Prometeu, o que lhes confere um caráter de maior fidedignidade, por serem o sujeito-narrador. Kothe optou pelo uso da voz passiva, outorgando, às quatro lendas, um papel temático de paciente, o que, consequentemente, pressupõe um sujeito-agente que as relata, mas sobre o qual não há informação. Campos adota o mesmo princípio, ao optar por contam-se.
Vejamos, agora, duas traduções em língua espanhola, acompanhadas de alguns breves comentários:
Na tradução argentina de Núñez, a parábola é aberta com a seguinte frase: “De Prometeo nos hablan cuatro leyendas”. O tradutor buscou, no verbo hablar, um correspondente semântico adequado para traduzir berichten. De modo semelhante, Borges recorre a informan. Quanto à tradução de Sage, ambos optam por leyenda.
Em sua tradução, Borges busca uma maior concisão. Isso se faz ver, inclusive, na tradução da construção participial “von seiner immer wachsenden Leber”, que ele verte como “su hígado, perpetuamente renovado”. Núñez, por seu turno, escolhe uma oração relativa: “el hígado, que siempre volvía a crecer”. Tal procedimento alonga o texto, tornando-o prolixo.
Na tradução do segundo mito, os dois tradutores, quanto ao aspecto verbal na tradução do verbo schickten, tomaram decisões divergentes. Borges optou pelo aspecto verbal perfectivo com mandaron, o que dá a entender que os deuses somente o fizeram uma única vez. Já Núñez usou enviaban, que também combina com o aspecto verbal imperfectivo de devoraban, enfatizando, assim, o suplício a que Prometeu estava exposto.
Chama a atenção que Borges comete o mesmo equívoco semântico que o tradutor francês Vialatte: “en el curso de los siglos”. Núñez, por sua vez, escreve “en el transcurso de los milenios”.
Ao descrever a forma como Prometeu foi-se fundindo no rochedo (“se fue hundiendo en la roca hasta compenetrarse con ella”), Borges mostra, de modo plástico, como Prometeu, com o passar dos milênios, foi-se aglutinando no rochedo.
Núñez repete sua tendência ao excesso de vocábulos, indesejada nesse texto de Kafka, no fechamento do texto: “Quedó la inexplicable cadena de montañas rocosas… La leyenda trata de explicar lo inexplicable. Dado que proviene de un fundamento de verdad, tiene necesariamente que terminar en lo inexplicable.”
Reflitamos agora sobre procedimentos tradutórios de duas versões italianas:
Em ambas as traduções, a palavra Sagen é traduzida por leggende. À semelhança das versões em espanhol, os italianos divergiram em relação ao aspecto verbal na escolha do tempo passado para um mesmo verbo: mandavano x mandarono, acarretando as mesmas diferenças de conotações relativas à tortura a que Prometeu estava exposto. Aqui indagamos por que não deram o mesmo tratamento ao verbo drückte, pois a escolha do aspecto verbal perfectivo para exprimir o passado por meio de si addossò e si apuntellò diminui a carga do suplício.
Sobre a natural tendência de o alemão comprimir muitas ideias em poucas palavras, tomemos o sintagma “von seiner immer wachsenden Leber”. Em italiano, veem-se estas soluções: “il fegato che sempre nuovamente ricresceva” e “il fegato che gli ricresceva di continuo”. Falta, a ambas, a concisão e a brevidade da expressão alemã, mas estamos cônscios dos próprios limites de cada língua. Retomando essa ideia no próprio português, seria possível dizer “o fígado em constante regeneração”, como forma de não se recorrer a uma oração relativa que tornaria o trecho prolixo.
Um outro sintagma marcado pela concisão está contido na seguinte frase: “Nach der vierten wurde man des grundlos Gewordenen müde.” Nas outras línguas, os tradutores foram unânimes em entender que “des grundlos Gewordenen”, como complemento nominal do adjetivo müde, não se refere ao próprio Prometeu, mas à situação em que se encontrava. Os dois tradutores italianos dão a entender que aquele complemento aponta para a própria vítima do castigo: a) “Secondo la quarta, ci si stancò di lui che non aveva più ragione di essere” e b) “Secondo la quarta ci si stancò di quell’uomo ormai senza senso”.
Considerações finais
A fim de encontrar o melhor caminho para a saída do labirinto representado pelo texto de partida, consideramos salutares as palavras de Borges contidas em As Versões Homéricas (1974BORGES, Jorge Luis. Las versiones homéricas. In: BORGES, Jorge Luis. Obras completas. Buenos Aires: Emece Editores, 1974., p. 239-243), ao entender que as traduções são parte do texto de partida, formando um construto formado pelo original finito e pelas traduções infinitas, não havendo entre elas uma relação hierárquica de superioridade. Nesse sentido, traduções e texto original complementam-se num processo complexo que pode ser explicado pela metáfora geométrica de uma circunferência, representando o texto original, estanque, e as traduções que seriam retas a tocar um ponto da circunferência. A junção de todos os pontos de interseção das infinitas retas possíveis - traduções já realizadas e as que ainda surgirão - compõem o texto original.
Vimos que os dois textos de Kafka não contam exatamente os mesmos mitos que aqueles narrados pelos autores gregos mencionados neste artigo. Kafka já nos apresenta a vítima do castigo-suplício, e sequer sabemos se seu Prometeu fora malfeitor ou benfeitor. Parafraseando Freud, indagamo-nos através de que reais pulsões ou sob o impulso de que maus apetites Brod foi levado a cometer o sacrilégio de desrespeitosamente adulterar o manuscrito original.
Espelhando-nos em Meschonnic, entendemos que as retraduções têm um papel fundamental como forma de desvelar a linguagem e o discurso mediante os quais se exprime um autor. Com o acesso ao manuscrito do proto-Prometheus kafkiano, somente podemos desejar que surjam muitas novas (re)traduções dessa narrativa, o que certamente implicará em novas formas de exegese desse texto. Sua própria função como gênero textual, quiçá, já será motivo para reinterpretações.
Para concluir, propomos, abaixo, nossa tradução do fragmento original de Kafka, sem título, e nossa tradução do texto alterado por Brod, intitulado Prometheus:
Referências
- ADAM, Jean-Michel.; HEIDMANN, Ute. O texto literário: por uma abordagem interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2011.
- BORGES, Jorge Luis. Las versiones homéricas. In: BORGES, Jorge Luis. Obras completas Buenos Aires: Emece Editores, 1974.
- BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol. I, II e III. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
- ÉSQUILO, et al O melhor do teatro grego: Prometeu acorrentado: Édipo rei, Medeia, As nuvens. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2018.
- FREUD, Sigmund. O mal-estar na cultura e outros escritos: Cultura, sociedade, religião. Tradução de Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2020.
- HESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. Tradução de Jaa Torrano. 2 ed. São Paulo: Iluminuras, 1991a.
- HESÍODO. Os trabalhos e os dias Tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras , 1991b.
- KAFKA, Franz. Parábolas e fragmentos Tradução de Geir Campos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967.
- KAFKA, Franz. El buitre Seleção e prólogo de J. L. Borges. Buenos Aires: I.S.G.A., 1979.
- KAFKA, Franz. Hochzeitsvorbereitungen auf dem Lande und andere Prosa aus dem Nachlass Frankfurt am Main: Fischer Taschenbuch Verlag, 1983.
- KAFKA, Franz. Tutti i racconti Tradução de Luigi Coppé e Giulio Raio. Roma: Newton Compton Editori, 1988.
- KAFKA, Franz. Nas galerias Tradução de Flávio R. Kothe. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.
- KAFKA, Franz. Quaderni in ottavo Tradução de Italo Alighiero Chiusano. Milão: Arnoldo Mondadori Editori, 1991.
- KAFKA, Franz. Relatos completos Tradução de F. Zanutigh Núñez. Buenos Aires: Losada, 2013.
- KÁLMÁN, György. Kafka’s Prometheus. Neohelicon, v. 34, n. 1, p. 51-57, 2007.
- MESCHONNIC, Henri. Poética do traduzir Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010.
- PLATÃO. Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. Tradução de Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.
- REISS, Katharina. Möglichkeiten und Grenzen der Übersetzungskritik Munique: Max Hueber Verlag, 1986.
- SANT’ANNA, Marco Antônio Domingues. O gênero da parábola São Paulo: Ed. UNESP, 2010.
- STACH, Reiner. Kafka: Die Jahre der Entscheidungen. Frankfurt a. M.: S. Fischer, 2002.
- STACH, Reiner. Kafka: Die Jahre der Erkenntnis. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2008.
- STACH, Reiner. Kafka: Die frühen Jahre. Frankfurt a. M.: S. Fischer V., 2014.
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1
Títulos originais: Die frühen Jahren, Die Jahre der Entscheidungen, Die Jahre der Erkenntnis (tradução nossa: Os anos da juventude, Os anos das decisões, Os anos do discernimento).
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2
Nossa tradução de: “Figuren aus der Welt der Antike sind auch in seinen literarischen Texten gegenwärtig, freilich nicht als herbeizitierte Bildungsgüter, sondern als Protagonisten, die ihrem historischen Kontext radikal entfremdet sind. Das Schweigen der Sirenen, Poseidon, Prometheus, Der neue Advokat: In keinem dieser parabelartigen Stücke zeigt Kafka ein ideengeschichtliches Interesse an seinen Figuren, vielmehr nutzt er die Prominenz ihrer Namen, um sie mit größtmöglicher Wirkung das Neonlicht der Moderne auszusetzen.”
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3
Comungamos com Brandão (2009BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. I, II e III. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. , p. 37), que afirma: “É necessário deixar bem claro, nesta tentativa de conceituar o mito, que o mesmo não tem aqui a conotação usual de fábula, lenda, invenção, ficção, mas a acepção que lhe atribuíam e ainda atribuem as sociedades arcaicas, as impropriamente denominadas culturas primitivas, onde mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais.”
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4
No original: “a radically shortened myth”.
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5
Embora o texto original de Kafka tenha sido escrito entre 1917 e 1918, e o texto compilado e alterado por Brod, apenas em 1931, colocamos em primeiro lugar o segundo texto.
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6
No sítio The Project Kafka, de Mauro Nervi, pode-se ver o texto original inserido no chamado Oktavheft G (II, 2) [Caderno In-Oitavo G (II, 2), através do link: http://www.kafka.org/index.php?ohg (último acesso em 15/01/2021). Sobre os manuscritos originais, houve longas contendas entre alemães e israelenses, com vistas a decidir onde deveriam ficar os documentos. Ao fugir para Tel Aviv, Max Brod levara consigo os manuscritos originais do amigo. Em 2016, a Corte Suprema de Israel decidiu que o espólio literário de Kafka fosse destinado à Biblioteca Nacional em Jerusalém, onde deveria ser digitalizado. Cf.: https://www.deutschlandfunkkultur.de/benjamin-balint-kafkas-letzter-prozess-streit-um-einen.1270.de.html?dram:article_id=442607 (último acesso: 15/01/2021).
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7
https://www.duden.de/rechtschreibung/festschmieden (último acesso em 15/01/2021).
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8
Último acesso realizado em 15/01/2021: http://woerterbuchnetz.de/cgi-bin/WBNetz/wbgui_py?sigle=DWB&mode=Vernetzung&lemid=GA04702#XGA04702.
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9
Nossa tradução de: “[...] ist im Sinne einer konstruktiven Übersetzungskritik die Forderung nach Gegenvorschlägen für beanstandete Übersetzungslösungen zu erheben”.
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10
Por questões de espaço, limitamos a apresentação dos exemplos comentados.
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11
Cf. Dicionário DUDEN ONLINE: https://www.duden.de/rechtschreibung/Saga; último acesso em 15/01/2021.
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Parecer Final dos Editores
Ana Maria Lisboa de Mello, Elena Cristina Palmero González, Rafael Gutierrez Giraldo e Rodrigo Labriola, aprovamos a versão final deste texto para sua publicação.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Maio 2022 -
Data do Fascículo
Jan-Apr 2022
Histórico
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Recebido
17 Jan 2021 -
Aceito
16 Nov 2021