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Argamassa com areia proveniente da britagem de resíduo de construção civil – Avaliação de características físicas e mecânicas

Mortar with sand from crushing of construction waste - Assessment of physical and mechanical characteristics

RESUMO

A preocupação com o meio ambiente, devido a grande quantidade de resíduos da construção civil que são descartados de forma inadequada, incentivou o processamento destes com o intuito de retorná-los ao sistema produtivo. Os estudos com o objetivo de intensificar o reaproveitamento dos resíduos da construção civil se intensificaram recentemente, desenvolvendo normas para produção, avaliação e utilização dos agregados reciclados, para os quais o consumo ainda é incipiente. Para o desenvolvimento do trabalho foram determinadas as características dos agregados reciclados e natural, determinando-se, inclusive o teor de finos. Foram desenvolvidos dois tipos de argamassas, uma hidráulica e outra mista. O agregado reciclado foi utilizado em substituição ao agregado natural, nas proporções de 30% e 60%, para os dois tipos de argamassa. As características das argamassas nos estados plástico e endurecido foram determinadas e as argamassas foram classificadas segundo a norma de especificação para argamassas de assentamento e revestimento. Foi verificada a correlação entre o teor de finos da argamassa e as características nos estados plástico e endurecido, para a maioria das características observadas. No estado plástico, o aumento da porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado produziram uma redução da massa especifica da ordem de 4% para os dois tipos de argamassa, e a capacidade de retenção de água apresentou comportamento inverso, as argamassas mistas apresentaram melhores resultados neste quesito. No estado endurecido, as resistências tração e à compressão tiveram resultados menores em função do aumento da substituição do agregado natural pelo reciclado A argamassa hidráulica apresentou melhor desempenho que a argamassa mista quando classificada conforme a NBR13281.

Palavras-chave:
Agregado reciclado; Argamassa para revestimento; Resíduos; Construção civil

ABSTRACT

Concern to the environment, due to the large amount of construction waste that is improperly disposed, encouraged the processing of these with the intention of returning them to the productive system. Studies to intensify the reuse of construction waste have intensified recently, developing standards for the production, evaluation and use of recycled aggregates, for which consumption is still incipient. For the development of the work, the characteristics of the recycled and natural aggregates were determined, including fine content. Two types of mortars were developed, one hydraulic and the other mixed. The recycled aggregate was used to replace the natural aggregate, in the proportions of 30% and 60%, for both types of mortar. The characteristics of the mortars in the fresh and hardened states were determined and the mortars were classified according to the specification standard for laying and coating mortars. The correlation between the fines contents of the mortar and the characteristics in the plastic and hardened states was verified for most of the observed characteristics. In the plastic state, the increase in the percentage of substitution of natural aggregate by the recycled produced a specific mass reduction of the order of 4% for both types of mortar, and the water retention capacity presented an inverse behavior, mixed mortars presented better results in this aspect. In the hardened state, the tensile and compressive strengths had lower results due to the increase in the substitution of the natural aggregate by recycling. The hydraulic mortar presented better performance than the mixed mortar when classified according to NBR13281.

Keywords:
recycled aggregate; rendering mortar; residues; civil construction

1. INTRODUÇÃO

A cadeia da construção civil, assim como as demais cadeias industriais, está estruturada em torno de uma cadeia de produção linear. O desafio do desenvolvimento sustentável é mudar o paradigma da produção industrial de um modelo linear para um modelo de produção de ciclo fechado, onde os resíduos retornam ao processo produtivo 11 MACHIONE, E.C. Caracterização dos resíduos de construção civil e demolição gerados no município de Colina/SP e uma proposta de gerenciamento e disposição adequada,, Dissertação de M.Sc., Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Ribeirão Preto, SP, 2010.. Segundo a Resolução CONAMA n° 307/2012 do Conselho Nacional do Meio Ambiente 22 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA n°307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da União, Brasília – DF, n. 136, 17 jul. 2002, p.95-96. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>.Acessado em: 3 março de 2014.
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiab...
, resíduos da construção civil são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, comumente chamados de entulhos de obras ou caliça. Segundo CÓRDOBA 33 CÓRDOBA, R. E. Estudo do sistema de gerenciamento integrado de resíduos de construção e demolição do município de São Carlos – SP, Dissertação de M. Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, USP, São Carlos, SP, 2010., aproximadamente 90% dos resíduos da construção civil (RCC) são classificados como inerte, porém, por possuir composição bastante heterogênea, pode possuir também materiais que o caracterizem como resíduo perigoso, como tintas, impermeabilizantes e amianto.

Porém o grande problema dos RCC não advém de sua periculosidade, mas sim do impacto causado pelo excessivo volume gerado. Volume esse que, quando destinado a aterros sanitários pode reduzir sua vida útil, e quando depositado em locais impróprios degrada o meio ambiente urbano, podendo comprometer a paisagem, o tráfego de pedestres e de veículos, a drenagem urbana, além de propiciarem a multiplicação de vetores de doenças, 44 SCREMIN, L.B. Desenvolvimento de um sistema de apoio ao gerenciamento de resíduos de construção e demolição para municípios de pequeno porte, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis, SC, 2007..

A construção civil gera em média 510 kg/hab/ano, 55 PINTO, T. P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana, Tese de D. Sc., Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, SP, 1999.. Além de consumir uma grande quantidade de materiais, a construção civil também causa impactos por sua franca expansão em grandes regiões do mundo, inclusive no Brasil. Não se pode parar de construir casas, hospitais, melhorar os transportes. Então, um dos grandes desafios da construção civil é diminuir o desperdício de materiais, 66 GLOBO CIÊNCIA, http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2013/07/construcao-civil-consome-ate-75-da-materia-prima-do-planeta.html. Acessado em: 25 de janeiro de 2015.
http://redeglobo.globo.com/globociencia/...
.

Em levantamentos feitos para seis cidades brasileiras, 77 CASSA, J. C., CARNEIRO, A. P., BRUM, I. A. S. Reciclagem de entulho para produção de materiais de construção: projeto entulho bom,1ed, EDUFBA, Salvador, BA, 2001., 88 MARQUES NETO, J. C., SCHALCH, V. “Gestão dos resíduos de construção e demolição: estudo da situação no município de São Carlos-SP”, Engenharia Civil, v. 36, p. 41-50, 2010.,33 CÓRDOBA, R. E. Estudo do sistema de gerenciamento integrado de resíduos de construção e demolição do município de São Carlos – SP, Dissertação de M. Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, USP, São Carlos, SP, 2010., são apontados os montantes relativos às frações do resíduo que podem ser reciclados e, portanto, podem ser utilizados como agregados na própria indústria da construção civil. Verifica-se que o percentual de resíduos que poderiam ser britados e utilizados como agregado na própria indústria da construção civil varia entre 86% e 99%.

Os produtos da reciclagem possuem uma série de aplicações como pavimentação e concreto sem fins estruturais. Os usos recomendados pela Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição 99 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E DEMOLIÇÃO - ABRECON. http://www.abrecon.org.br/. Acessado em 11 jan. 2017
http://www.abrecon.org.br/...
, são:

Areia: produção de argamassa de assentamentos, blocos e tijolos de vedação.

Pedrisco: fabricação de artefatos de concreto, como mesas e bancos de praça, pisos intertravados e manilhas de esgoto.

Brita: obras de drenagem e produção de concretos não-estruturais.

Bica corrida: base e sub-base de pavimentação, reforço e subleito de pavimentos e regularização de vias não pavimentadas.

Rachão: obras de pavimentação, drenagem e terraplanagem.

As características dos agregados reciclados para utilização em pavimentação e para produção de concreto, sem função estrutural são especificadas pela NBR 15116, 1010 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural: requisitos, Rio de Janeiro, ABNT, 2004.. Essa norma técnica ainda classifica os agregados reciclados em agregado de resíduo de concreto (ARC) e agregado reciclado misto (ARM).

As argamassas de revestimento, segundo SCATAMBURLO, 1111 SCATAMBURLO, L. F. A. A gestão dos resíduos da construção civil e o aproveitamento dos resíduos classe A e na produção de argamassa para revestimento, Monografia, Escola Politécnica, Universidade São Paulo, USP, São Paulo, SP, 2014. possui importante função na melhoria da qualidade de vida, já que concebe a impermeabilização da alvenaria, inibindo assim a proliferação de ácaros e fungos e a infiltração de água, para avaliação de sua qualidade são determinadas características físicas e mecânicas.

Como forma de ampliar o consumo de agregado reciclado estudos tem sido realizados para sua inclusão na produção de argamassas. Como exemplo ARAÚJO 1212 ARAÚJO, N. N. Desempenho de argamassas de revestimentos produzidas com agregados reciclados oriundos do resíduo de construção e demolição da Grande Natal-RN. Dissertação de M. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Rio Grande do Norte, RN, 2014. que analisou o desempenho de argamassa de revestimento produzido com agregados reciclados em Natal (RN), incluindo a caracterização química, física e microestrutural dos agregados reciclados.

Para MIRANDA e SELMO 1313 MIRANDA, L. F. R., SELMO, S.M. S. “CDW recycled aggregate renderings: Part I - Analysis of the effect of materials finer than 75μ m on mortar properties”, Construction and Building Materials, v. 20, p. 615-624, 2006., o parâmetro “ materiais totais mais finos do que 75 μm ” na mistura seca é um parâmetro melhor para o controle da fissuração potencial das argamassas do que a relação água / cimento, sendo esta uma indicação importante de que a distribuição dos tamanhos de poros gerados pela presença de finos nas misturas tem um efeito mais elevado na contração de secagem do que na porosidade introduzida pela própria razão água / cimento propriamente dita.

RUDNITSKI et al1414 RUDNITSKI, J. C., BAVASTRI, E. Y. N., MOHAMAD, G. “Avaliação do desempenho de argamassas de revestimento com adição de resíduos de construção e demolição – RCD”, In: Proceedings 55° Congresso Brasileiro do Concreto. 15 p. Bento Gonçalves – RS, outubro 2013. estudou o comportamento de argamassa mista com dois tipos de agregado reciclado, um proveniente de resíduos cerâmicos e outro de resíduos cimenticios. A resistência à tração na flexão e à compressão axial das argamassas com agregado reciclado cerâmico apresentaram resultados superiores as argamassas com agregado reciclado cimenticio.

Estudos desenvolvidos por MARTÍNEZ et al.1515 MARTINEZ, P. S., GONZÁLEZ CORTINA, M., FERNÁNDEZ MARTINEZ, F., et al, “Comparative study of three types of fine recycled aggregates from construction and demolition waste (CDW), and their use in masonry mortar fabrication”, Journal of Cleaner Production, v. 118, p. 162-169, 2016., em argamassas produzidas com agregado reciclado, apresentaram menor massa específica e maior capacidade de absorção de água. Este pesquisador trabalhou com três tipos de agregados reciclados, o cerâmico, o misto e o de concreto. O agregado natural foi substituído em três diferentes proporções: 50%, 75% e 100%. Em cada proporção foram adotados traços de 1:3 e 1:4 em peso seco. Os resultados apontam uma diminuição da resistência a medida que se aumenta a porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado, sendo o índice de redução da resistência menor quando da utilização do agregado reciclado de concreto.

SILVA, 1616 SILVA, N. G. Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcária, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR, 2006. obteve coeficiente de absorção de água por capilaridade entre20 a 40 g/(dm2min1/2), para traço de argamassa mista (1: 3 : 8), o qual foi classificado como classe C6 conforme a norma NBR 13281.

LEDESMA et al., 1717 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., AYUSO, J., et al., Maximum feasible use of recycled sand from construction and demolition waste for eco-mortar production e Part I: ceramic masonry waste”, Journal of Cleaner Production, v. 87, pp. 692-706, 2015., apresentaram resultados que variaram de 6,0 g/(dm2min1/2) a 11,2 g/(dm2min1/2) na argamassa com0% e 100% de substituição do agregado natural pelo reciclado, apresentando também um aumento da capacidade de absorção em função do aumento de substituição

LEDESMA et al.1717 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., AYUSO, J., et al., Maximum feasible use of recycled sand from construction and demolition waste for eco-mortar production e Part I: ceramic masonry waste”, Journal of Cleaner Production, v. 87, pp. 692-706, 2015. e LEDESMA et al.1818 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., FERNANDEZ, J. M., et al., “Properties of masonry mortars manufactured with fine recycled concrete aggregates”, Construction and Building Materials, v. 71, pp. 289–298, 2014. também demonstram que as argamassas hidráulicas produzidas com agregados finos reciclados apresentam menor massa específica em função do aumento da porcentagem de substituição do agregado fino pelo agregado fino reciclado. Foi observada também uma redução da resistência à compressão e um aumento da capacidade de absorção de agua por capilaridade.

SAMIEI et al.1919 SAMIEI, R. R., DANIOTTI, B., PELOSATO, R., et al. “Properties of cement-lime mortars vs. cement mortars containing recycled concrete aggregates”, Construction and Building Materials, v. 84, pp. 84–94, 2015. trabalharam com argamassas hidráulicas e mistas, utilizando traços de 1:3 e 1:1:6 respectivamente. Para cada argamassa foram utilizados os seguintes percentuais de substituição do agregado natural fino: 0%, 25%, 50%, 75% e 100%. Os resultados também apontaram queda da resistência e da massa especifica em função do aumento da porcentagem de substituição.

SANTOS 2020 SANTOS, M. L. L. O. Aproveitamento de resíduos minerais na formulação de argamassas para construção civil, Tese de D. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, 2008. estudou o comportamento de argamassas executadas com resíduos no estado plástico observando que o teor de ar incorporado pode ser influenciado pelo uso de aditivos incorporadores ou mesmo pelo tempo de mistura da argamassa, os valores de teor de ar incorporado obtido foram da ordem de 40%, porém a variação deste índice com a substituição da areia pelo resíduo foi inferior a 2%. Já em relação a capacidade de absorção de água por capilaridade, o autor evidencia o aumento da absorção em função do aumento do teor de substituição do agregado natural pelo resíduo.

BREITENBACH 2121 BREITENBACH, S. B. Desenvolvimento de argamassa para restauração utilizando resíduo do polimento do porcelanato, Tese de D. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, 2013. em um estudo sobre a incorporação de resíduos em argamassas mistas verificou que ocorreu aumento da capacidade de retenção de água quando do aumento da substituição da areia pelo resíduo, e concluiu que o aumento da capacidade de retenção de agua se deu porque o resíduo apresentou maior teor de finos e consequentemente maior área especifica dos materiais constituintes.

Visando buscar novas possibilidades para a utilização dos resíduos da construção civil (RCC), por meio do processo de reciclagem, o presente trabalho teve como objetivo verificar a possibilidade de utilização do agregado reciclado miúdo na produção de argamassas. Como o agregado reciclado apresenta alto teor de finos, buscou-se verificar também a influência do teor deste material nas propriedades das argamassas no estado plástico e endurecido. As argamassas produzidas foram analisadas e classificadas segundo os requisitos da norma NBR 13281, 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a..

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia desta pesquisa é experimental e buscou verificar as influências dos agregados miúdos oriundos do RCC em substituição ao agregado miúdo natural na produção de argamassas hidráulica e mista para revestimento. As proporções de substituição do agregado natural (AN) pelo agregado miúdo reciclado (ARM), estudado foram 0%, 30 % e, 60%. Foram determinados dois traços de argamassa, um hidráulico e outro misto, baseado em MILITO 2323 MILITO, J.A., Técnicas de construção civil. Apostila. http://demilito.com.br/apostila.html.Acessado em janeiro de 2015.
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e MIRANDA 2424 MIRANDA, L. F. R. Estudos de fatores que influenciam na fissuração de argamassas de revestimento com entulho reciclado, Dissertação de M. Sc. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2000. e a sua preparação, tanto da argamassa hidráulica como da mista, foi feita conforme especificado pela NBR 13276 2525 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 13276: argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: preparo da mistura e determinação do índice de consistência, Rio de Janeiro, 2005..

Após a caracterização dos agregados natural e reciclado e da definição dos traços de argamassa hidráulica e mista foi realizada a caracterização das argamassas nos estados plástico e endurecido e feita a correlação entre o teor de finos presente na argamassa e as características determinadas. O delineamento experimental é apresentado na Tabela 1.

Tabela 1
Delineamento experimental do número de repetições/amostras

Os materiais utilizados foram o cimento de alto forno (CP III); cal hidratada tipo III, areia natural e areia reciclada (ARM) proveniente de unidade recicladora de entulho do município de Campinas, constituído pela britagem de resíduo classe A, conforme resolução CONAMA 307 22 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA n°307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da União, Brasília – DF, n. 136, 17 jul. 2002, p.95-96. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>.Acessado em: 3 março de 2014.
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, portanto, constituído de materiais cimentícios e cerâmicos e água potável.

Tabela 2
Características do cimento e da cal hidratada

A avaliação e classificação dos agregados foram baseadas na NBR 15116, 1010 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural: requisitos, Rio de Janeiro, ABNT, 2004. para o agregado reciclado e segundo a NBR 7211, 3131 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 7211:Agregado para concreto: especificação, Rio de Janeiro, ABNT, 2009. para o agregado natural.

A areia natural apresentou modulo de finura de 2,28 e diâmetro máximo de 2,4mm e o agregado reciclado com módulo de finura de 2,21 e diâmetro máximo de 2,4mm sendo ambas classificadas como areia média (zona ótima de utilização).

A Tabela 3 apresenta as características dos agregados, natural e reciclado observa-se que o agregado reciclado apresenta massa especifica 10% menor que o agregado natural. O teor de finos e a capacidade de absorção de água do agregado reciclado são muito elevados quando comparados aos do agregado natural, cerca de 350% e 600% respectivamente, o que acarretou em maior consumo de água para obtenção da mesma consistência durante o estudo das argamassas.

Tabela 3
Características físicas dos agregados

Baseados nessas características foram determinados os traços em massa adotados para a argamassa mista e hidráulica, houve a necessidade de alterar a relação água/cimento para atendimento ao índice de consistência de 260 ± 5mm especificado pela NBR 13749, 3232 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas: especificação, Rio de Janeiro, ABNT, 2013..

A Tabela 4 apresenta os traços unitários em massa, a relação agua/cimento (a/c), o consumo de cimento (Cc) e o teor de finos (TF) da argamassa.

Tabela 4
Traços unitários em massa

O Teor de finos em cada traço de argamassa (TF) foi calculado pela Equação 1 adaptado de MIRANDA,2424 MIRANDA, L. F. R. Estudos de fatores que influenciam na fissuração de argamassas de revestimento com entulho reciclado, Dissertação de M. Sc. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2000.. Observa-se que o teor de finos é maior para argamassa mista devido a presença da cal hidratada.

Equação 1 T F = Mcim*%fcim+Mcal*%fcal+MAN*%fAN+MARM*%fARM Mcim+Mcal+MAN+MARM

Onde:

TF - % total de finos de dimensão inferior à peneira 0,075mm na argamassa anidra;

%fcim - % total de finos de dimensão inferior à peneira 0,075mm no cimento;

%fcal - % total de finos de dimensão inferior à peneira 0,075mm na cal;

%fAN - % total de finos de dimensão inferior à peneira 0,075mm na areia;

%fARM - % total de finos de dimensão inferior à peneira 0,075mm no agregado reciclado cimentício;

Mcim – massa de cimento

Mcal – massa de cal

MAN – massa de areia natural;

MARM – massa de agregado reciclado cimentício.

Na análise dos resultados foi obtida a média das características das argamassas no estado endurecido e no estado plástico, estas foram comparadas entre si em função do tipo de argamassa, hidráulica ou mista, e em relação ao teor de finos da argamassa e à porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado, 0%, 30% e 60%.

Foram feitas análises de correlação entre o teor de finos de cada traço e todas as características determinadas, quando o coeficiente de correlação de Pearson, indicado por R2 for superior a 0,6 indica que existe forte interdependência entre as variáveis 3333 CORREA, S. M. B. B. Probabilidade e estatística, 2.ed., Belo Horizonte, PUC Minas Virtual, 2003.. Foi feita também a classificação das argamassas conforme a NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a., a qual esta apresentada, de forma resumida, na tabela 5.

Tabela 5
Resumo das faixas de classificação conforme NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a.

Apesar da norma NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a. exigir que venha impressa nas embalagens das argamassas industrializadas a indicação do tipo de argamassa, (revestimento interno, revestimento externo, assentamento de alvenaria de vedação, etc.) não deixa claro o requisito e a classe que deve ser exigida para cada tipo de utilização, 1616 SILVA, N. G. Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcária, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR, 2006..

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste tópico são apresentados os resultados dos ensaios realizados separados em dois tópicos conforme os estados da argamassa, plástico e endurecido.

3.1. Características das argamassas no estado plástico

3.1.1. Densidade de massa aparente

A Tabela 6 apresenta os resultados de densidade de massa aparente obtidas para todos os traços de argamassa. Observa-se que a medida que se aumenta a porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado, a massa especifica diminui para os dois tipos de argamassa, hidráulica e mista. Essa tendência de redução da massa especifica se justifica pela menor massa especifica do agregado reciclado (2,38 g/cm3) em relação ao agregado natural (2,65 g/cm3). Baseado na NBR 13281, 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a. as argamassas foram classificadas, as argamassas hidráulicas e mistas se enquadraram na classe D5, com massa especifica no estado plástico entre 1800 e 2200 kg/m3.

Tabela 6
Resultados de massa específica

Observou-se que existe forte correlação entre o teor de finos e a massa específica, uma vez que o teor de finos do agregado reciclado (26,64%) é maior que do agregado natural (7,47%). O gráfico apresentado na Figura 1 mostra a linha de tendência e os coeficientes de correlação para as argamassas hidráulica e mista.

Figura 1
Correlação entre teor de finos e densidade de massa aparente.

3.1.2. Teor de ar incorporado

O teor do ar incorporado influencia na massa especifica e na consistência das argamassas, normalmente quanto maior o teor de ar incorporado menor a massa especifica e maior a plasticidade, porém a NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a., não especifica faixas de valores para classificar as argamassas quanto ao teor de ar incorporado. A tabela 7 apresenta os resultados de teor de ar incorporado obtido para as argamassas hidráulica e mista. Observase que para as argamassas hidráulicas o teor de ar incorporado é menor que para argamassas mistas, e em ambas o teor obtido é inferior aos teores obtidos por SANTOS 2020 SANTOS, M. L. L. O. Aproveitamento de resíduos minerais na formulação de argamassas para construção civil, Tese de D. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, 2008..

Tabela 7
Resultados de teor de ar incorporado

A Figura 2 apresenta os resultados referentes ao teor do ar incorporado nas argamassas hidráulicas e mistas em função do teor de finos da mistura observa-se que existe correlação entre o teor de ar incorporado e o teor de finos.

Figura 2
Correlação entre teor de finos e Teor de ar incorporado.

3.1.3 Capacidade de retenção de água

Com relação à capacidade de retenção de água, para a argamassa hidráulica observou-se que à medida que se aumenta a porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado, a capacidade de retenção de água aumenta. Os valores são apresentados na tabela 8. Segundo a NBR 13281, 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a. as argamassas hidráulicas se enquadraram na classe U4, com retenção de água entre 86 e 94%, as demais argamassas mistas enquadram-se na classe U5.

Tabela 8
Resultados de capacidade de retenção de água

É importante lembrar que a retenção de água pela argamassa é um fator que confere maior qualidade para a argamassa, uma vez que evita a evaporação da água de amassamento e minimiza o efeito de perda de água devido à sucção do substrato, nestas condições, contribui para a hidratação do cimento, resultando maior resistência do revestimento. Um dos fatores que podem gerar maior capacidade de retenção de água é a ocorrência de maior área especifica dos materiais constituintes, o que ocorreu para as argamassas aqui analisadas, pois com o aumento do teor de substituição, as argamassas apresentaram maior teor de finos e consequentemente maior área especifica, aumentando a capacidade de retenção de água, apresentando o mesmo comportamento obtido por 2121 BREITENBACH, S. B. Desenvolvimento de argamassa para restauração utilizando resíduo do polimento do porcelanato, Tese de D. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, 2013.. As argamassas mistas apresentaram maior valor de capacidade de retenção de água, no entanto o aumento do teor de finos foi menos significativo para essas argamassas (1,3%) do que para as argamassas hidráulicas, que apresentaram aumento da capacidade de retenção de água de 3,5%.

A figura 3 mostra a linha de tendência e os coeficientes de correlação para as argamassas hidráulica e mista em relação à capacidade de retenção de água, observa-se forte correlação entre o teor de finos e a capacidade de retenção de água (R2 = 0,803) para a argamassa hidráulica e para a argamassa mista (R2=0,998).

Figura 3
Correlação entre teor de finos e capacidade de retenção de água

A Tabela 9 apresenta os coeficientes de correlação (R2) de todas as características no estado plástico em relação ao teor de finos. Conforme se observa, todas elas são estatisticamente influenciadas pelo teor de finos da argamassa, tanto para a argamassa hidráulica como para a argamassa mista.

Tabela 9
Coeficientes de Correlação (R2)entre Teor de Finos e variáveis no estado plástico

3.2. Características das argamassas no estado endurecido

3.2.1. Densidade de massa aparente

A Tabela 10 apresenta os valores médios da determinação da densidade massa aparentes e os respectivos desvios padrão. O valor do desvio padrão (Sd) é baixo, mostrando que o resultado dos ensaios foi confiável. Não se observa diferenças significativas entre os valores de densidade de massa aparente obtidos para as argamassas mistas e hidráulicas. A tendência de redução da densidade de massa aparente com o aumento da porcentagem de substituição se deve a menor massa especifica do agregado reciclado e não ao teor de ar incorporado, uma vez que este apresentou uma tendência de redução em função do aumento da porcentagem de substituição, o que ocorreu para os dois tipos de argamassa, como observado na figura 2.

Tabela 10
Resultados dos ensaios de determinação da densidade de massa aparente

Os resultados obtidos por SAMIEI et al.1616 SILVA, N. G. Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcária, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR, 2006. foi análogo aos obtidos neste trabalho, mostrando a mesma tendência de decréscimo da densidade aparente no estado endurecido, tanto, para a argamassa hidráulica, quanto da argamassa mista em função do aumento da porcentagem de substituição.

Todas as argamassas hidráulicas e mistas são classificadas como M5 com densidade variando de 1600 kg/m3 a 2000 kg/m3 pela classificação da NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a..

A análise de correlação entre a densidade de massa aparente e o teor de finos da argamassa apontou que existe forte correlação, R2 superior a 0,6 para os dois tipos de argamassa, como pode ser observado na Figura 4.

Figura 4
Correlação entre teor de finos e densidade de massa aparente

3.2.2. Resistência à tração na flexão

Os resultados dos ensaios de resistência à tração na flexão são apresentados na Tabela 11. Observa-se que as argamassas mistas e hidráulicas apresentam resistências à tração similares e com tendência a sofrer redução em função do aumento da porcentagem de substituição.

Tabela 11
Resultados dos ensaios de resistência à tração na flexão

As resistências à tração na flexão tanto para as argamassas hidráulicas, como para as argamassas mistas são classificadas como R3, pois apresentam valores entre 1,5 MPa e 2,7 MPa.

A análise de correlação entre a resistência à tração e o teor de finos da argamassa apontou que ambos os tipos de argamassa tem forte correlação e o gráfico de correlação é apresentado na figura 5.

Figura 5
Gráfico de correlação para resistência a tração na flexão

3.2.3. Resistência à compressão axial

Observa-se que para a argamassa hidráulica a substituição de 30% de agregado natural pelo reciclado proporcionou uma redução de 17,7% e de 20,6% para o traço com 60% de substituição, a Tabela 12 apresenta os valores médios.

Tabela 12
Resultados médios dos ensaios de resistência à compressão

As argamassas hidráulicas se enquadram na classe P5 de resistência à compressão de acordo com a NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a., os resultados indicam a possibilidade de se preparar uma argamassa com 60% de substituição com a qualidade da argamassa referência.

Já a argamassa mista sem substituição (0%) se enquadra na classe P5, e as argamassas mistas com 30% e 60% de substituição se enquadram na classe P4 e P3 respectivamente, com valores de resistência diminuindo fortemente.

A Figura 6 apresenta os resultados médios, relativos à determinação da resistência à compressão axial para as argamassas hidráulicas e mistas em função da porcentagem de finos da argamassa e a correlação entre elas.

Figura 6
Gráfico de correlação para Resistência à compressão axial

Para a argamassa mista, observa-se que, quanto maior o teor de substituição, menor a resistência à compressão, chegando a uma redução máxima de 42%, para o traço com 60% de substituição em relação ao traço referencia (0%).

3.2.4. Capacidade de absorção de água por capilaridade

A análise de correlação entre a capacidade de absorção de água por capilaridade e o teor de finos da argamassa apontou que o teor de finos afeta, significativamente a essa característica apenas para a argamassa hidráulica, pois o coeficiente de correlação é superior a 0,6 como mostra a figura 7.

Figura 7
Gráfico de correlação para Absorção de água por capilaridade

A Tabela 13 apresenta as médias do coeficiente de absorção de água por capilaridade obtido para cada tipo de argamassa. As argamassas hidráulicas apresentaram maior capacidade de absorção capilar que as argamassas mistas. Observa-se que, para a argamassa mista, a quantidade de água absorvida aumenta em função do aumento da porcentagem de substituição do agregado natural pelo reciclado, o que vai de encontro aos resultados apresentados por 1616 SILVA, N. G. Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcária, Dissertação de M. Sc., Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR, 2006., 1717 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., AYUSO, J., et al., Maximum feasible use of recycled sand from construction and demolition waste for eco-mortar production e Part I: ceramic masonry waste”, Journal of Cleaner Production, v. 87, pp. 692-706, 2015., 1818 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., FERNANDEZ, J. M., et al., “Properties of masonry mortars manufactured with fine recycled concrete aggregates”, Construction and Building Materials, v. 71, pp. 289–298, 2014. e 2020 SANTOS, M. L. L. O. Aproveitamento de resíduos minerais na formulação de argamassas para construção civil, Tese de D. Sc., Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Natal, RN, 2008. apesar da variabilidade dos resultados obtidos neste trabalho, que não apontaram uma correlação entre essa característica e o teor de finos.

Tabela 13
Resultados dos ensaios de determinação de absorção de água por capilaridade

De acordo com a NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a. as argamassas hidráulicas, referencia (0%) e com 30% de substituição são classificadas como C5, a argamassa com 60% de substituição tem menor capacidade de absorção se enquadrando na classe C4.

As argamassas mistas com 0% e 60% de substituição, se enquadram na classe C3, com capacidade de absorção de água por capilaridade entre 2 e 4g/dm2.min1/2 e a argamassa mista com 30% de substituição é classificada como C4, com capacidade de absorção de água por capilaridade entre 3 e 7 g/dm2.min1/2 os resultados são inferiores aos obtidos por 1717 LEDESMA, E. F., JIMENEZ, J. R., AYUSO, J., et al., Maximum feasible use of recycled sand from construction and demolition waste for eco-mortar production e Part I: ceramic masonry waste”, Journal of Cleaner Production, v. 87, pp. 692-706, 2015..

O aumento da capacidade de absorção capilar pode ser prejudicial à durabilidade do revestimento, com isso somente o teor de substituição de 30%, tanto para a argamassa hidráulica como para a mista tem o mesmo desempenho que a argamassa referência.

No estado endurecido todas as características foram correlacionadas com o teor de finos da argamassa apresentando forte correlação conforme se observa pelos valores de R2 apresentados na tabela 14.

Tabela 14
Coeficientes de correlação entre teor de finos e variáveis no estado endurecido (R2)

Um resumo das classificações das argamassas para cada uma das características avaliadas conforme a NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a. é apresentada na tabela 15.

Tabela 15
Resumo das classificações das argamassas conforme NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a.

4. CONCLUSÕES

De acordo com os materiais utilizados e ensaios executados, foi possível chegar as seguintes conclusões:

  • O aumento do teor de finos resultou em argamassas mais trabalháveis.

  • Para as argamassas hidráulica e mista a substituição do agregado natural pelo reciclado melhorou a capacidade de retenção de água, o que é benéfico, pois contribui para a hidratação do cimento, resultando em maior resistência do revestimento.

  • Observou-se uma redução da densidade de massa aparente da argamassa, tanto no estado plástico como no estado endurecido, a medida que se aumenta a porcentagem de substituição, o que se justifica pela menor massa específica do agregado reciclado em relação ao agregado natural.

  • Analisando a resistência à compressão, no estado endurecido para argamassas hidráulicas, os resultados indicam a possibilidade de se preparar estas argamassas com diversas porcentagens de substituição, pois a substituição resultou em argamassas que se encontram dentro dos parâmetros normalizados conforme a classificação da NBR 13281, 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a..

  • Analisando a capacidade de absorção por capilaridade das argamassas observou-se que as argamassas mistas tiveram um aumento da absorção em função do aumento do teor de substituição. As argamassas hidráulicas se comportaram de forma inversa.

Em síntese, tendo em vista o comportamento das argamassas analisadas, observa-se que tanto as argamassas hidráulicas como as mistas apresentaram características que se enquadram dentro das classes estabelecidas pela NBR 13281 2222 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos: requisitos. Rio de Janeiro, ABNT, 2005a.. São necessários ainda ensaios para determinar a aderência ao substrato e sua permeabilidade em condições de aplicação para avaliar seu desempenho em uso.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP pelo Projeto de Auxilio a Pesquisa n° 2014/20486-8.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    27 Jul 2016
  • Aceito
    25 Ago 2017
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