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Estimativa do consumo máximo de oxigênio e análise de concordância entre medida direta e predita por diferentes testes de campo

Estimated maximum oxygen uptake and agreement analysis between direct and predicted measurement by different field tests

Estimativa del consumo máximo de oxígeno y análisis de concordancia entre medida directa y prevista, según diversas pruebas de campo

Resumos

OBJETIVO: Verificar a estimativa da potência aeróbia e a concordância entre a medida direta e predita por três diferentes testes de campo em jovens universitários. MÉTODOS: Participaram do estudo 12 sujeitos (23,1 ± 2,8 anos), sete homens e cinco mulheres, que foram submetidos a medidas antropométricas de massa corporal, estatura e espessura de dobras cutâneas. Além disso, os sujeitos realizaram um teste máximo direto (MD) em esteira e três testes de campo para verificação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), em valores relativos. Os testes de campo utilizados foram: corrida/caminhada de 12 minutos de Cooper (COOPER), corrida/caminhada de uma milha (MILHA) e shuttle run de 20 metros (SR-20m). Os dados foram analisados por procedimentos descritivos e para as comparações entre a medida direta e cada um dos testes de campo foi utilizado o teste t pareado. A regressão linear simples forneceu informações quanto ao desempenho dos testes e suas respectivas equações, enquanto que a concordância entre os métodos foi feita pela análise de Bland-Altman, com determinação da tendência de medida. RESULTADOS: Não foram encontradas diferenças significantes entre o MD e os três testes de campo. Os erros padrão de estimativa variaram de aproximadamente 5,8 a 6,0 ml.kg-1.min-1, e as correlações de r = 0,61 - 0,64. Os limites de concordância foram considerados amplos para os três testes, porém sem viés e tendência de estimativa. CONCLUSÃO: Apesar da similaridade entre os valores médios obtidos nas comparações entre os testes de campo e a medida de referência, o teste da MILHA foi o que apresentou melhores resultados de desempenho e concordância para a estimativa do VO2máx.

aptidão física; consumo de oxigênio; teste de esforço


OBJECTIVE: To verify the estimate of aerobic power and agreement between direct and predicted measurement by three different field tests. METHODS: The study included 12 subjects (23.1±2.8 years), seven men and five women, who underwent anthropometric measurements of body mass, height and thickness of skin folds. Moreover, the subjects performed a maximal direct test (DT) in a treadmill and three field tests for verification of maximal oxygen uptake (VO2max), in relative values. The field tests performed were: run/walk, 12 minutes by Cooper (COOPER), run/walk a mile (MILE), and 20 meter shuttle run (SR-20M). Data were analyzed by descriptive procedures and for comparisons between the direct measurement and each of the field tests, the paired t test was used. Simple linear regression provided information about the performance of tests and their equations, while the agreement between the methods was made by Bland-Altman analysis, with determination of the t measurement trend. RESULTS: No significant differences were found between the MD and the three field tests. The standard errors of estimation ranged from about 5.8 to 6.0 ml.kg-1.min-1and the correlation of r = 0.61 - 0.64. The limits of agreement were considered large for the three tests, but without bias and an estimation trend. CONCLUSIONS: Despite the similarity between the mean values obtained in comparisons between the field tests and the measurement of reference, the MILE test showed the best performance and agreement to estimate the VO2max.

physical fitness; oxygen consumption; exercise test


OBJETIVO: Verificar la estimativa de la potencia aeróbica y la concordancia entre la medida directa y la prevista, según tres diferentes pruebas de campo en jóvenes universitarios. MÉTODOS: Participaron en el estudio 12 individuos (23,1 ± 2,8 años), siete hombres y cinco mujeres, quienes fueron sometidos a medidas antropométricas de masa corporal, estatura y espesura de dobleces cutáneos. Además de eso, las personas realizaron una prueba máxima directa (MD) en estera y tres pruebas de campo para verificación del consumo máximo de oxígeno (VO2máx), en valores relativos. Las pruebas de campo que se utilizaron fueron: carrera/caminata de 12 minutos de Cooper (COOPER), carrera/caminata de una milla (MILLA) [1,6 quilómetro] y shuttle run de 20 metros (SR-20m). Los datos fueron analizados mediante procedimientos descriptivos, y se utilizó la prueba t en pares para las comparaciones entre la medida directa y cada una de las pruebas de campo. La regresión linear simple suministró informaciones cuanto al desempeño en las pruebas y sus respectivas ecuaciones, mientras que la concordancia entre los métodos se hizo por el análisis de Bland-Altman, con determinación de la tendencia de medida. RESULTADOS: No se encontraron diferencias significativas entre el MD y las tres pruebas de campo. Los errores estándares de estimativas variaron desde, aproximadamente, 5,8 a 6,0 ml.kg-1.min-1, y las correlaciones de r = 0,61 - 0,64. Los límites de concordancia fueron considerados como siendo amplios para las tres pruebas, no obstante, sin bies ni tendencia de estimativa. CONCLUSIÓN: Aun considerando la similitud entre los valores promedios obtenidos en las comparaciones, entre las pruebas de campo y la medida de referencia, la prueba de la MILLA fue la que presentó mejores resultados de desempeño y concordancia para la estimativa del VO2máx.

aptitud física; consumo de oxígeno; prueba de esfuerzo


ARTIGO ORIGINAL

Estimativa do consumo máximo de oxigênio e análise de concordância entre medida direta e predita por diferentes testes de campo

Estimated maximum oxygen uptake and agreement analysis between direct and predicted measurement by different field tests

Estimativa del consumo máximo de oxígeno y análisis de concordancia entre medida directa y prevista, según diversas pruebas de campo

Mariana Biagi BatistaI, II; Edilson Serpeloni CyrinoI, II; Vinícius Flávio MilanezIII; Manuel João Coelho e SilvaI, II, V; Miguel de ArrudaI, IV; Enio Ricardo Vaz RonqueI, II

IGrupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física e Exercício. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, PR, Brasil

IIGrupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício. Centro de Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, PR, Brasil

IIICentro de Educação Física. Universidade Estadual de Londrina, PR, Brasil

IVFaculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, PR, Brasil

VFaculdade de Ciência do Desporto e Educação Física. Universidade de Coimbra, Portugal

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Enio Ricardo Vaz Ronque Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física e Exercício - GEPAFE Centro de Educação Física e Esporte Universidade Estadual de Londrina Rodovia Celso Garcia Cid, km 380, Campus Universitário 86051-990 - Londrina, PR, Brasil enioronque@uel.br

RESUMO

OBJETIVO: Verificar a estimativa da potência aeróbia e a concordância entre a medida direta e predita por três diferentes testes de campo em jovens universitários.

MÉTODOS: Participaram do estudo 12 sujeitos (23,1 ± 2,8 anos), sete homens e cinco mulheres, que foram submetidos a medidas antropométricas de massa corporal, estatura e espessura de dobras cutâneas. Além disso, os sujeitos realizaram um teste máximo direto (MD) em esteira e três testes de campo para verificação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), em valores relativos. Os testes de campo utilizados foram: corrida/caminhada de 12 minutos de Cooper (COOPER), corrida/caminhada de uma milha (MILHA) e shuttle run de 20 metros (SR-20m). Os dados foram analisados por procedimentos descritivos e para as comparações entre a medida direta e cada um dos testes de campo foi utilizado o teste t pareado. A regressão linear simples forneceu informações quanto ao desempenho dos testes e suas respectivas equações, enquanto que a concordância entre os métodos foi feita pela análise de Bland-Altman, com determinação da tendência de medida.

RESULTADOS: Não foram encontradas diferenças significantes entre o MD e os três testes de campo. Os erros padrão de estimativa variaram de aproximadamente 5,8 a 6,0 ml.kg-1.min-1, e as correlações de r = 0,61 - 0,64. Os limites de concordância foram considerados amplos para os três testes, porém sem viés e tendência de estimativa.

CONCLUSÃO: Apesar da similaridade entre os valores médios obtidos nas comparações entre os testes de campo e a medida de referência, o teste da MILHA foi o que apresentou melhores resultados de desempenho e concordância para a estimativa do VO2máx.

Palavras-chave: aptidão física, consumo de oxigênio, teste de esforço.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To verify the estimate of aerobic power and agreement between direct and predicted measurement by three different field tests.

METHODS: The study included 12 subjects (23.1±2.8 years), seven men and five women, who underwent anthropometric measurements of body mass, height and thickness of skin folds. Moreover, the subjects performed a maximal direct test (DT) in a treadmill and three field tests for verification of maximal oxygen uptake (VO2max), in relative values. The field tests performed were: run/walk, 12 minutes by Cooper (COOPER), run/walk a mile (MILE), and 20 meter shuttle run (SR-20M). Data were analyzed by descriptive procedures and for comparisons between the direct measurement and each of the field tests, the paired t test was used. Simple linear regression provided information about the performance of tests and their equations, while the agreement between the methods was made by Bland-Altman analysis, with determination of the t measurement trend.

RESULTS: No significant differences were found between the MD and the three field tests. The standard errors of estimation ranged from about 5.8 to 6.0 ml.kg-1.min-1and the correlation of r = 0.61 - 0.64. The limits of agreement were considered large for the three tests, but without bias and an estimation trend.

CONCLUSIONS: Despite the similarity between the mean values obtained in comparisons between the field tests and the measurement of reference, the MILE test showed the best performance and agreement to estimate the VO2max.

Keywords: physical fitness, oxygen consumption, exercise test.

RESUMEN

OBJETIVO: Verificar la estimativa de la potencia aeróbica y la concordancia entre la medida directa y la prevista, según tres diferentes pruebas de campo en jóvenes universitarios.

MÉTODOS: Participaron en el estudio 12 individuos (23,1 ± 2,8 años), siete hombres y cinco mujeres, quienes fueron sometidos a medidas antropométricas de masa corporal, estatura y espesura de dobleces cutáneos. Además de eso, las personas realizaron una prueba máxima directa (MD) en estera y tres pruebas de campo para verificación del consumo máximo de oxígeno (VO2máx), en valores relativos. Las pruebas de campo que se utilizaron fueron: carrera/caminata de 12 minutos de Cooper (COOPER), carrera/caminata de una milla (MILLA) [1,6 quilómetro] y shuttle run de 20 metros (SR-20m). Los datos fueron analizados mediante procedimientos descriptivos, y se utilizó la prueba t en pares para las comparaciones entre la medida directa y cada una de las pruebas de campo. La regresión linear simple suministró informaciones cuanto al desempeño en las pruebas y sus respectivas ecuaciones, mientras que la concordancia entre los métodos se hizo por el análisis de Bland-Altman, con determinación de la tendencia de medida.

RESULTADOS: No se encontraron diferencias significativas entre el MD y las tres pruebas de campo. Los errores estándares de estimativas variaron desde, aproximadamente, 5,8 a 6,0 ml.kg-1.min-1, y las correlaciones de r = 0,61 - 0,64. Los límites de concordancia fueron considerados como siendo amplios para las tres pruebas, no obstante, sin bies ni tendencia de estimativa.

CONCLUSIÓN: Aun considerando la similitud entre los valores promedios obtenidos en las comparaciones, entre las pruebas de campo y la medida de referencia, la prueba de la MILLA fue la que presentó mejores resultados de desempeño y concordancia para la estimativa del VO2máx.

Palabras clave: aptitud física, consumo de oxígeno, prueba de esfuerzo.

INTRODUÇÃO

Os avanços científicos e tecnológicos têm resultado no desenvolvimento de equipamentos que possibilitam medidas e avaliações mais consistentes do desempenho físico em atletas e não atletas. Entretanto, o custo operacional relativamente elevado e a limitada aplicação, em muitas situações, têm desafiado pesquisadores e profissionais, sobretudo, das áreas de saúde e do esporte a desenvolverem e validarem testes de campo que possam proporcionar informações de boa qualidade, de maneira rápida, não invasiva ou pouco invasiva, com boa precisão, reprodutibilidade e concordância.

Nesse sentido, historicamente muitos testes de campo têm sido desenvolvidos e validados em diferentes populações para avaliação da aptidão cardiorrespiratória, uma vez que existe uma estreita relação entre o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e o desempenho atlético em diversas modalidades esportivas, bem como com a saúde, doença e mortalidade em não atletas. Neste último contexto, especificamente, existem fortes evidências de que índices elevados de aptidão cardiorrespiratória podem reduzir o risco de morbidade e mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares na população adulta1-3.

A medida (de forma direta) ou a estimativa (de forma indireta) do VO2máx para avaliação da aptidão cardiorrespiratória tem sido amplamente utilizada, sobretudo, no campo da pesquisa, na área clínica e do esporte de alto rendimento, por ser reconhecidamente um dos melhores índices preditores da potência aeróbia4,5. A principal medida de referência para o VO2máx tem sido obtida por meio da utilização do método de calorimetria indireta. Considerando que para este tipo de medida são necessários equipamentos sofisticados e de alto custo, além da presença de técnicos e profissionais capacitados para atuarem com esse método, dificultam sua aplicação em larga escala. Adicionalmente, o fato de apenas um sujeito ser avaliado por vez prolonga o tempo das avaliações, inviabilizando a sua utilização em grandes populações6-8.

Por outro lado, a aplicação de testes de campo que proporcionam a predição do VO2máx por meio de modelos matemáticos é uma alternativa bastante atraente, uma vez que permite a redução dos custos operacionais e favorece a aplicação em larga escala, em ambientes diversos9,10. A grande preocupação com relação à utilização de testes de campo para essa finalidade reside na qualidade das informações produzidas, uma vez que o nível de precisão da estimativa do VO2máx a partir de um determinado teste pode ser comprometido pela falta de controle de diversas variáveis tais como idade, nível de aptidão física individual, sexo, entre outras. Este fato tem motivado pesquisadores a investigar a qualidade das informações produzidas por diversos testes de campo utilizados para a estimativa do VO2máx com base em medidas diretas obtidas em situação de campo ou laboratório por meio de equipamentos desenvolvidos, principalmente, para calorimetria indireta.

Embora parte desses estudos tenha encontrado boas correlações entre os valores estimados por testes de campo e medidos em testes de laboratório8,10-14, sobretudo em indivíduos adultos, essa informação não parece ser suficiente para avaliar a qualidade das informações produzidas, visto que a força da correlação por si só não indica uma boa concordância entre dois métodos. Desta forma, a utilização de procedimentos estatísticos mais robustos para o tratamento dos dados pode proporcionar um diagnóstico mais criterioso acerca das informações produzidas até o presente momento15.

Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a estimativa do VO2máx e a concordância entre a medida direta e predita por três diferentes testes de campo em adultos jovens universitários.

MÉTODOS

Sujeitos

Doze sujeitos (sete homens e cinco mulheres), todos universitários, não atletas, na faixa etária dos 20 aos 31 anos participaram, voluntariamente, deste estudo. Todos os participantes, após receberem informações sobre as finalidades do estudo e os procedimentos aos quais seriam submetidos, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi desenvolvido em conformidade com as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para estudos com seres humanos, do Ministério da Saúde.

Delineamento experimental

Na primeira visita ao laboratório os sujeitos receberam orientações gerais sobre o projeto, os procedimentos a serem adotados nas coletas e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, medidas antropométricas foram realizadas. A ordem de execução dos quatro testes para avaliação do VO2máx foi determinada individualmente, de forma aleatória.

Um teste progressivo em esteira foi realizado no laboratório para determinação do VO2máx como medida de referência. Todas as visitas foram realizadas em intervalos míninos de 48 h e os sujeitos foram submetidos aos quatro protocolos de testes motores, conforme ordem previamente determinada.

Antropometria

Medidas antropométricas de massa corporal foram obtidas em uma balança da marca Filizola (Brasil), com precisão de 0,1 kg, ao passo que a estatura foi determinada em um estadiômetro de madeira com precisão de 0,1 cm, de acordo com procedimentos padronizados descritos na literatura16.

Medidas de espessura de dobras cutâneas foram obtidas em sete pontos anatômicos (subescapular, suprailíaca, abdominal, tricipital, bicipital, coxa e perna medial), seguindo as recomendações internacionais17. Todas as medidas foram realizadas por um único avaliador, com um compasso Lange (Cambridge Scientific Instruments, Cambridge, MD), de forma rotacional. Todas as medidas foram replicadas três vezes em cada hemicorpo, sendo registrado o valor médio. O coeficiente teste-reteste excedeu 0,97 para cada um dos pontos anatômicos e o erro técnico de medida variou de 0,31 a 0,77 mm, não excedendo 5% em nenhum dos pontos anatômicos medidos.

Medida direta do VO2máx

O teste que serviu como método de referência para comparação com os resultados dos diferentes testes de campo foi realizado em laboratório em uma esteira elétrica (ATL 10200, Inbrasport, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, RS, Brasil), em ambiente com temperatura média controlada de 23ºC, utilizando-se o protocolo de Bruce modificado. Para medida direta do VO2máx foi utilizado o sistema ergoespirométrico computadorizado (VO-2000, Aerosport, Medgraphics, St. Paul, Minnesota, EUA). A calibração do analisador de gases foi realizada pelo próprio aparelho durante o período de uma hora antes do início da primeira avaliação, seguindo as recomendações do fabricante. As amostras gasosas foram coletadas e mensuradas a cada 10 s durante o teste.

A frequência cardíaca foi acompanhada a cada minuto com o uso do monitor da marca Polar® (Polar Electro OY, Finlândia), modelo S810i. Para a determinação do VO2máx foram utilizados como critérios os valores de: a) quociente respiratório superior a 1,1; b) VO2 constante ou com variações inferiores a 2,1 ml O2.kg-1.min-1 ou 150 ml O2.min-1 nos últimos dois minutos do teste com aumento de carga; c) frequência cardíaca do teste maior que 90% da frequência cardíaca máxima estimada pela equação 220-idade. Assim, o maior valor de VO2 obtido foi considerado o VO2máx.

Testes de campo para estimativa do VO2máx

O teste de corrida/caminhada de 12 min (COOPER) foi realizado em uma pista oficial de atletismo (400 m). Os sujeitos foram orientados a percorrer a máxima distância possível no tempo de 12 min. Para a estimativa do VO2máx (ml.kg-1.min-1) foi utilizada uma equação18 baseada na máxima distância percorrida (DP): VO2máx = (DP - 504,1) / 44,79.

O teste de corrida/caminhada de uma milha (MILHA) foi realizado na mesma pista oficial de atletismo (400 m). Os sujeitos foram orientados a percorrer a distância predeterminada, no mínimo tempo possível. Para a estimativa do VO2máx (ml.kg-1.min-1) adotou-se uma equação19 baseada no tempo total (T) despendido em minutos: VO2máx = 100,311 - (9,602) x T + (0,287) x T2.

O teste de corrida de vai-e-vem de 20 m (SR-20m) foi executado em uma quadra poliesportiva de um ginásio coberto. Os procedimentos para realização do teste, bem como os critérios de interrupção seguiram as recomendações de Léger e Lambert20. A velocidade (V) em km/h no último estágio completado pelo avaliado foi utilizada para a estimativa do VO2máx (ml.kg-1.min-1), de acordo com a equação11: VO2máx = - 27,4 + 6,0 x V.

Tratamento estatístico

Após a confirmação da normalidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk, as informações foram tratadas por procedimentos paramétricos (média, desvio padrão, valores mínimos e máximos). O teste t pareado foi utilizado nas comparações entre os escores de VO2máx estimados pelos testes de campo COOPER, MILHA e SR-20M e a medida direta obtida em teste de laboratório.

Análises de regressão simples foram utilizadas adotando-se a medida direta do VO2máx como variável dependente e as estimativas geradas por cada teste de campo, como variáveis independentes. Os valores de slope e intercepto, produzidos a partir das análises de regressão, foram comparados com a linha de identidade.

O erro padrão de estimativa (EPE) e o coeficiente de correlação de Pearson (r) foram analisados. O EPE foi utilizado como uma medida de validação para analisar a falta de associação entre a medida direta do VO2máx e as medidas estimadas por cada teste de campo. O erro puro (EP) também foi avaliado como outra medida de validação utilizando a seguinte equação (∑(Y1 - Y2)2/n)1/2, onde Y1 é o valor do VO2máx predito por cada teste de campo, Y2 é o valor da medida direta obtida pelo método de referência e n é o número de sujeitos. Foi calculado também o coeficiente de variação (CV) pela divisão do erro padrão de estimativa pela média do VO2 estimado pelos testes de campo, multiplicado por 100.

Medidas de concordância entre os escores de VO2máx estimados pelos testes de campo COOPER, MILHA e SR-20M e a medida direta obtida em teste de laboratório foram adotadas, de acordo com os procedimentos descritos na literatura21, incluindo os limites de concordância de 95% e análise de tendência.

O nível de significância estatística adotado foi de P < 0,05. As análises foram conduzidas utilizando-se os pacotes estatísticos SPSS for Windows, versão 17.0, e o Med Calc for Windows, versão 4.15.

RESULTADOS

A descrição das características físicas dos sujeitos é apresentada na tabela 1, por meio de valores de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos, referentes às variáveis: idade, massa corporal, estatura, índice de massa corporal e somatória de dobras cutâneas.

As comparações entre os escores de VO2máx estimados pelos testes de campo COOPER, MILHA e SR-20M e a medida direta obtida em teste de laboratório são apresentadas na tabela 2. Os resultados indicaram que o teste de COOPER e MILHA superestimaram (0,9 e 6,9%, respectivamente) e o teste SR-20M subestimou (8,5%) os valores relativos de VO2máx quando comparados ao método de referência, embora nenhuma diferença estatisticamente significante tenha sido verificada (P > 0,05).

Os critérios de desempenho dos testes de campo COOPER, MILHA e SR-20M são ilustrados na tabela 3. A reta estabelecida pelo modelo de regressão linear apresentou informações semelhantes para os três testes de campo. Os valores de intercepto não foram considerados diferentes do ponto zero, embora os valores de slope a partir da estimativa do VO2máx pelos três testes de campo tenham sido diferentes (P < 0,05) do valor um, a partir da reta de identidade. Os testes COOPER, MILHA e SR-20M como variáveis preditoras do VO2máx explicaram 37, 41 e 38% da variância, respectivamente, da medida direta do VO2máx. Os EPE e o EP foram relativamente baixos (aproximadamente 6%) e semelhantes para cada teste.

A figura 1 (A, B , C ) ilustra a plotagem proposta por Bland e Altman21 para verificação dos limites de concordância entre a medida do VO2máx obtida pelo método de referência e pelos testes de campo COOPER (A), MILHA (B) e SR-20m (C). A disposição gráfica dos resultados apresentou limites de concordância na ordem de - 0,4 ± 12,0 ml.kg-1.min-1 entre MD e COOPER (A), sem indicativo de tendência na variabilidade individual (r = 0,12; P = 0,70). Por outro lado, os testes da MILHA (B) e SR-20M (C) tiveram os limites de concordância inferiores, com valores de - 2,8 ± 11,0 e 3,6 ± 11,3 ml.kg-1.min-1, respectivamente, e semelhante valor de análise de tendência (r = 0,55; P = 0,06) que, da mesma forma, não detectou associação entre a média e a diferença do método direto contra as estimativas fornecidas pelos testes de campo.


DISCUSSÃO

O presente estudo comparou o VO2máx de jovens universitários estimado por três diferentes testes de campo com o VO2máx obtido pelo método de referência (MD). Além disso, a concordância e a validade dos testes e suas respectivas equações de predição por meio de recursos estatísticos específicos para este fim, também, foram investigadas. Tais análises consistem na verificação dos parâmetros de validação considerando os valores coletivos e individuais, por meio de comparações de médias, análise de regressão simples, avaliação dos erros e coeficientes de variação gerados por cada equação, limites de concordância (95%) e medida de tendência. As principais informações produzidas por este estudo são discutidas a seguir.

Validade do teste de corrida/caminhada de 12 minutos (COOPER)

Embora nenhuma diferença estatisticamente significante tenha sido encontrada na comparação entre as médias de VO2máx mensuradas pelo MD e estimadas pelo teste de COOPER (P > 0,05), as medidas obtidas a partir do teste COOPER foram superestimadas em cerca de 0,9%. Esse valor confirma as informações relatadas por Grant et al.12, em uma amostra de homens jovens saudáveis de 22 anos.

Os parâmetros obtidos pela análise de desempenho do teste de COOPER forneceram valores de r, EPE, EP e CV na ordem de 0,61, 6,03, 5,89 e 14%, respectivamente (tabela 3). Assim, apesar de os valores médios serem similares àqueles identificados pelo MD, uma correlação apenas moderada foi encontrada, com valores inferiores aos relatados em outros estudos12,13,22. Entretanto, esse tipo de análise, de forma isolada, não parece ser suficiente para considerar um teste de campo válido para determinada população, visto que os coeficientes de correlação simples indicam apenas a força da relação entre as duas medidas, considerando valores de tendência central. Desse modo, não é possível estabelecer a amplitude dos erros na estimativa do VO2máx nem analisar a existência ou não de concordância entre os valores gerados individualmente.

Diante disso, a análise dos limites de concordância entre a medida padrão e as estimativas obtidas pelos testes de campo foi realizada, além da utilização desta técnica para verificar a possibilidade de tendência de medida. Assim, de acordo com as informações apresentadas pela plotagem de Bland e Altman21, a expectativa quando administramos um teste de campo em situações semelhantes ao teste direto com os mesmos sujeitos é de que as diferenças médias entre os escores devem se aproximar do valor zero e os limites extremos dos intervalos de confiança (95%) devem se aproximar ao máximo dos valores das diferenças médias.

O teste de COOPER (figura 1A), apresentou viés de medida na ordem de - 0,4 ± 12,0 ml.kg-1.min-1, sem indicativo de tendência na variabilidade individual (r = 0,12; P = 0,70). A amplitude nos limites de concordância foi de certa forma preocupante e demonstrou uma variabilidade individual entre os resultados que não foi possível identificar apenas pelos procedimentos de comparação e desempenho. Assim, o teste de COOPER poderia subestimar os valores de VO2máx em 11,6 ml.kg-1.min-1 (27,7%) e superestimar em 12,4 ml.kg-1.min-1 (29,4%). Em termos estatísticos, podemos afirmar que, em 95% dos casos, o mesmo indivíduo submetido ao teste MD e ao teste de campo COOPER pode apresentar amplitude de variação nas medidas por volta dos 12,0 ml.kg-1.min-1.

Os valores encontrados neste estudo se diferem em parte daqueles relatados em investigação relativamente semelhante por Penry et al.22, em uma amostra de homens e mulheres de 18 a 33 anos (n = 21). Os autores verificaram menores valores de subestimação (3,8%), menor amplitude de variação nas medidas (8,5 ml.kg-1.min-1) e maiores valores de correlação (r = 0,87) quando comparados aos desta investigação. Entretanto, uma tendência de estimativa foi identificada apontando que o teste de COOPER parece subestimar o VO2máx dos sujeitos menos aptos e superestimar os valores daqueles com melhor condicionamento aeróbio. Vale destacar que, diferente dos resultados obtidos por Penry et al.22, no presente trabalho o teste de COOPER não apresentou tendência na estimativa (r = 0,12; P = 0,70), o que demonstra que este teste avalia os indivíduos da mesma forma, independente de o VO2máx ser baixo ou alto. Este fato, se confirmado por outras investigações, pode representar uma vantagem interessante para a utilização deste teste, visto que o teste de COOPER passaria a ser uma boa alternativa para avaliação de amostras consideradas heterogêneas quanto à condição cardiorrespiratória.

Validade do teste de corrida/caminhada de uma milha (MILHA)

O VO2máx estimado pelo teste de campo da MILHA, com a utilização da equação proposta por Margaria et al.19 para conversão do tempo total no teste em VO2máx, superestimou em 6,9% os valores médios obtidos pelo MD. Apesar de os valores encontrados indicarem um maior percentual de superestimação do VO2máx quando comparado ao observado no teste de COOPER nas comparações frente ao MD, o teste da MILHA foi, entre os testes analisados neste estudo, aquele que apresentou o maior valor de correlação com MD (r = 0,64) e coeficiente de explicação mais elevado (R2 = 0,41), além do menor EPE (5,85 ml.kg-1.min-1) e a menor variação dos valores em relação à média (CV = 12,98%).

As informações de desempenho do teste da MILHA e a respectiva equação na estimativa do VO2máx obtidas no presente estudo podem ser consideradas semelhantes a um trabalho realizado com objetivo de criar e validar uma equação para o teste da MILHA. O estudo conduzido por Cureton et al.23 propôs uma equação generalizada para estimativa do VO2máx de homens e mulheres de oito a 25 anos de idade. Os resultados indicaram EPE próximo a 4,8 ml.kg-1.min-1, bem como coeficientes de explicação por volta de R2 = 0,50, que foram considerados válidos. Entretanto, nenhum tipo de análise foi utilizada para análise da concordância entre o valor real de VO2máx e as estimativas obtidas pela equação proposta, limitando os resultados apenas à análise do grupo.

No Brasil, um trabalho recente24 procurou investigar a validade da equação proposta por Cureton et al.23 em uma amostra de homens jovens, fisicamente ativos, adotando a análise de Bland e Altman21 para verificação da concordância entre as medidas. Os resultados demonstraram que o teste da MILHA, juntamente com a equação proposta por Cureton et al.23, subestimaram os valores de VO2máx em 11,8%, além de apresentar baixa correlação (r = 0,21) e amplos limites de concordância ( - 5,9 ± 14,7 ml.kg-1.min-1) entre a medida padrão e a estimativa pelo teste da MILHA.

No presente estudo, contudo, os valores de VO2máx estimados pela equação proposta por Margaria et al.19 para o teste de MILHA indicaram menor viés de medida ( - 2,8 ± 11,0 ml.kg-1.min-1) em relação aos estudos supracitados e sem tendência na estimativa (r = 0,55; P = 0,06). Assim, na amostra utilizada o teste da MILHA refletiu de maneira mais adequada os parâmetros do grupo.

Uma possível explicação para as diferenças encontradas, pode estar atrelada, pelo menos em parte, ao fato de que equações de predição têm melhores informações de validade quando aplicadas em populações com características semelhantes às das amostras utilizadas para o desenvolvimento das equações.

Validade do teste de corrida de vai-e-vem de 20 m (SR-20M)

O teste de corrida vai-e-vem ou shuttle run de 20 m (SR-20m) é um dos testes de campo mais utilizados para estimativa do VO2máx e diagnóstico da aptidão cardiorrespiratória em diferentes populações. Proposto por Léger e Lambert20, o teste SR-20m proporciona a estimativa do VO2máx a partir de diferentes equações11 desenvolvidas, especificamente, para jovens e adultos.

No presente estudo, os resultados não apontaram diferença entre a média fornecida pelo método de referência e a estimativa obtida pelo teste SR-20m, utilizando-se a equação proposta por Léger et al.11 para adultos. Ao contrário do que foi verificado no teste de COOPER e MILHA, os valores médios de VO2máx foram subestimados em 8,5% pelo teste SR-20m. Outros estudos disponíveis na literatura já haviam relatado resultados relativamente semelhantes, com os valores médios de VO2máx sendo subestimados pelo teste SR-20m de 1 a 10%8,10-14,22,25-29.

Os critérios de desempenho utilizados neste estudo para análise do teste SR-20m indicaram respostas bastante similares àquelas observadas nos testes de COOPER e MILHA, com EPE e EP de aproximadamente 6,0 ml.kg-1.min-1 e capacidade de explicar a variabilidade nos valores de VO2máx obtidos pelo MD em 38%. Além disso, os valores de concordância encontrados foram na ordem de 3,6 ± 11,3 ml.kg-1.min-1. Tal como verificado no teste da MILHA, os valores estiveram próximos do estabelecimento de uma tendência na estimativa do VO2máx (r = 0,55; P = 0,06).

Dentre os poucos trabalhos que analisaram medidas de concordância para análise da reprodutibilidade e validade do teste SR-20m, Cooper et al.28 relataram, em estudo conduzido com homens universitários ativos, valores de reprodutibilidade elevados (r = 0,98), com viés nas medidas de concordância (1,8 ± 6,3 ml.kg-1.min-1; P = 0,004). Os valores médios de VO2máx foram subestimados em cerca de 3,1%, mas sem confirmação de tendência (r = 0,08; P = 0,66), assim como no presente estudo.

Análises semelhantes às anteriormente citadas também foram estabelecidas em uma amostra de homens adultos saudáveis (n = 74) por Metsios et al.29. Os pesquisadores verificaram a validade e reprodutibilidade do teste SR-20m, obtendo coeficiente de correlação bastante semelhante ao encontrado no presente estudo (r = 0,63 vs. 0,62, respectivamente); contudo, os limites de concordância (0,6 ± 6,8 ml.kg-1.min-1) e coeficiente de variação (CV = 6,8%) foram inferiores aos encontrados nesta investigação.

Em estudo com homens e mulheres, Penry et al.22 verificaram a validade de dois testes de campo, entre eles o SR-20m em sujeitos de 18-33 anos. A análise de concordância demonstrou amplitude de variação na estimativa por volta de 7,0 ml.kg-1.min-1, mas sem tendência de medida. Diferente do presente estudo, os autores encontraram importantes diferenças, com os valores médios de VO2máx medidos pelo método de referência, sendo subestimados em aproximadamente 6% pelo teste SR-20m (P < 0,05).

Apesar do tamanho da amostra reduzido, da variabilidade quanto aos níveis de aptidão física dos indivíduos e do fato de as análises terem sido conduzidas sem a estratificação por sexo, os procedimentos estatísticos utilizados permitiram análise mais detalhada de desempenho e concordância, proporcionando uma interpretação mais rigorosa acerca das informações produzidas sobre cada um dos testes investigados. Diante dos resultados observados, recomenda-se que sejam realizadas outras investigações envolvendo testes de campo para avaliação da potência aeróbia, controlando alguns fatores como o sexo, o nível de aptidão física dos indivíduos, bem como as possíveis diferenças morfológicas associadas ao estado nutricional e nível de atividade física habitual.

CONCLUSÕES

Os resultados do presente estudo sugerem que os valores médios de VO2máx estimados pelos testes de campo COOPER, MILHA e SR-20m em indivíduos adultos jovens parecem relativamente similares aos obtidos pelo método direto. Por outro lado, a análise de concordância adotada demonstrou amplos limites de variação entre as medidas, para os três testes. Assim, de maneira geral, os testes de campo analisados podem ser utilizados como uma boa alternativa para análise dos

níveis de aptidão cardiorrespiratória, destacando que o teste de COOPER parece ser o mais interessante para fornecer parâmetros individuais em amostras mais heterogêneas, enquanto que os testes de MILHA

e SR-20m podem fornecer melhores indicativos do comportamento de grupos de sujeitos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de produtividade em pesquisa (E.R.V.R e E.S.C.) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Doutorado (M.B.B. e V.F.M.) outorgadas.

Artigo recebido em 13/04/2011

Aprovado em 07/10/2013.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Endereço para correspondência:
    Enio Ricardo Vaz Ronque
    Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física e Exercício - GEPAFE
    Centro de Educação Física e Esporte
    Universidade Estadual de Londrina
    Rodovia Celso Garcia Cid, km 380, Campus Universitário
    86051-990 - Londrina, PR, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jan 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      13 Abr 2011
    • Aceito
      07 Out 2013
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