“Leite materno é importante”: o que pensam as nutrizes de Fortaleza sobre amamentação

Resumo

Objetivos:

analisar os significados da amamentação para as nutrizes da rede pública de saúde da cidade de Fortaleza, Ceará.

Métodos:

realizou-se um estudo transversal com nutrizes de nove unidades de saúde. Os dados foram coletados a partir da aplicação de um questionário socioeconômico e de saúde e do Teste de Associação Livre de Palavras, utilizando o estímulo indutor “amamentação”. Os termos referidos no Teste de Associação Livre de Palavras foram agrupados em categorias e analisados pelo software EVOC 2000®, que mostrou os resultados em um quadro com quatro quadrantes, onde as categorias estavam distribuídas conforme o seu grau de significado para as mães.

Resultados:

a amostra foi de 279 nutrizes. Mais de 60% dessas mulheres referiram ter recebido orientação sobre aleitamento materno nas consultas de pré-natal, puerpério e puericultura e 68% delas não relatou dificuldades em praticar a amamentação. As categorias mais significativas, identificadas pelo Teste de Associação Livre de Palavras, foram: Leite, Importante, Saúde e Amor.

Conclusões:

para as nutrizes, a amamentação é uma prática importante, representada pelo próprio leite materno, que está permeada de significados positivos. Conhecer esses significados auxilia na compreensão dos fatores associados ao desmame precoce, possibilitando o remodelamento da assistência dirigida a esse público.

Palavras-chave
Aleitamento Materno; Relações Mãe-Filho; Saúde da Criança

Abstract

Objectives:

to analyze the meaning of breastfeeding for nursing mothers, users of the public health network in Fortaleza city, Ceará.

Methods:

a cross-sectional study was carried out with nursing mothers from nine health units. The data were collected through the application of a socioeconomic and health questionnaire and the Word Free Association Test, using "breastfeeding" as an induced stimulus. The terms referred to in the Word Free Association Test were grouped into categories and analyzed by the EVOC 2000 ®software, which showed the results in a fourcell table, where the categories were distributed according to the level of meaning to the mothers.

Results:

the sample consisted of 279 nursing mothers. More than 60% of these women referred in receiving guidance on breastfeeding in prenatal, puerperal and childcare consultations, and 68% of them reported having no difficulties in breastfeeding. The most significant categories identified by the Word Free Association Test were: Milk, Important, Health, and Love.

Conclusions:

for the nursing mothers, breastfeeding is an important practice, represented by the breast milk itself, which is permeated by positive meanings. Knowing these meanings helps to understand the factors associated to early weaning, making it possible to reconstruct care directed to this public.

Key words
Breastfeeding; Mother-Child Relationships; Children's Health

Introdução

O aleitamento materno (AM) é a forma mais natural e econômica de promover a nutrição do lactente¹ e está positivamente relacionada com a saúde da criança^2,3 e a redução da mortalidade infantil.⁴ A amamentação também gera benefícios à saúde materna, contribuindo para a diminuição do surgimento de certos tipos de cânceres, de doenças crônicas não transmissíveis e de depressão pós-parto.^5-7

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o AM seja iniciado na primeira hora de vida do bebê, perdurando de maneira exclusiva até os seis meses e sendo complementado dos seis meses aos dois anos de idade ou mais.⁸

Os dados da última pesquisa nacional sobre prevalência de AM, realizada em 2008, mostraram que 67,7% dos recém-nascidos, no Brasil, mamaram na primeira hora de vida. No entanto, indicaram queda significativa na probabilidade de as crianças estarem em aleitamento materno exclusivo (AME) já nos primeiros dias de vida, em todas as regiões brasileiras, destacando-se a região Nordeste, onde foi encontrada uma probabilidade de interrupção do AME em torno de aproximadamente 40%. A estimativa de duração mediana do AME foi de 54,1 dias (1,8 meses) para as capitais brasileiras e de 34,9 dias (1,2 meses) para o Nordeste.⁹ Tais dados demonstram que, embora as mulheres iniciem o AME, essa prática é abandonada precocemente.

A amamentação não é determinada somente pela capacidade biológica da mãe de produzir o alimento ideal para o seu filho, mas também pelo contexto social, cultural, econômico e histórico no qual a mulher está inserida.^10-12 Assim sendo, alguns determinantes, como a baixa escolaridade e a falta de orientação materna, a ausência paterna, o trabalho da mãe fora de casa, a escolha materna de não amamentar e a depressão pós-parto, estão relacionados com o desmame precoce.^13-16

Estudos realizados por Carrascoza et al.¹⁷ e Moreira et al.¹¹ apontaram que o AM promove sentimentos tanto positivos quanto negativos nas nutrizes. Mesmo o AM representando um desafio, as mães que amamentaram demonstraram sensações de prazer, satisfação e realização do papel de mãe. No entanto, o nervosismo, a dor e a tristeza também podem fazer parte das experiências de algumas mulheres.

Tendo em vista que, na realidade brasileira, as mães desistem precocemente do AME, é fundamental conhecer a sua percepção frente à amamentação, para tentar compreender os motivos que as levam a abandonar tal prática. O presente estudo visa analisar os significados da amamentação para as nutrizes da rede pública de saúde da cidade de Fortaleza, Ceará.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa, recorte de uma pesquisa conduzido na cidade de Fortaleza, com o objetivo de analisar a rede de assistência à saúde materno-infantil em Fortaleza, realizada entre 2014 e 2016.

O presente estudo foi realizado em nove Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), escolhidas mediante sorteio entre as seis Secretarias Executivas Regionais do Município (SERs), no período de outubro de 2014 a outubro de 2015. Tal período de coleta difere da pesquisa maior por ser um recorte da mesma e se refere somente a etapa de entrevistas com nutrizes.

Considerou-se uma amostra de conveniência das nutrizes que compareceram à consulta de puericultura de suas crianças, durante o período de estudo. Os critérios de inclusão foram: idade ≥18 anos, ter filho menor de dois anos e ser usuária da própria unidade de saúde. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário socioeconômico e de saúde e do Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) aplicados por alunos dos cursos de graduação e mestrado em nutrição previamente treinados. As nutrizes eram abordadas para participar da pesquisa enquanto aguardavam o atendimento dos seus filhos. As variáveis maternas foram idade, escolaridade, estado civil, trabalho extra-residência e informações acerca do AM (AME nas crianças menores de seis meses, orientações sobre amamentação recebidas pelas nutrizes e dificuldades na prática do AM).

O TALP foi utilizado como aporte teórico para o conhecimento dos significados que a amamentação tem para as mulheres que a estão praticando. Trata-se de um teste projetivo, que possibilita a apreensão das projeções mentais de maneira espontânea, rápida e objetiva e revela os conteúdos implícitos e latentes que representam determinado fenômeno a ser estudado.¹⁸ Na sua aplicação, é solicitado ao entrevistado que exteriorize de forma escrita ou falada, palavras ou expressões que lhe ocorram imediatamente ao ter contato com um determinado estímulo indutor, visual ou auditivo.^18,19

Neste estudo, o teste foi empregado individualmente e as nutrizes foram orientadas a revelar as três primeiras palavras que lhes vinham à mente quando ouviam o estímulo indutor “amamentação”. Com o intuito de eliminar possíveis dúvidas quanto ao emprego do TALP e de garantir a sua compreensão, essas mães foram previamente instruídas com uma exemplificação que utilizou, como estímulo indutor, uma palavra não relacionada ao tema.

Dos termos evocados, foram eliminados os acentos gráficos, artigos, verbos e palavras de ligação, de forma a permanecer somente o núcleo que dava sentido ao que as participantes falaram. Dessa maneira, criou-se um dicionário de palavras, respeitando a ordem de evocação das mesmas: primeiro, segundo e terceiro lugares. Posteriormente, a partir desses termos, foram formadas categorias, agrupando-se as palavras idênticas, similares ou com sentido semântico aproximado. O nome de cada categoria foi dado pela palavra contida na mesma que apresentou maior frequência de evocação.¹⁸

Após essa etapa, o dicionário de palavras foi salvo como opção “separado por vírgulas”, utilizando planilha Excel^®, para depois ser transportado para o programa EVOC 2000^®. Esse software analisa os dados considerando a frequência média e a ordem média de evocação. A frequência média se refere ao número de vezes que a palavra foi evocada, sendo obtida mediante a divisão do número de palavras totais pelo número de categorias. Já a ordem média de evocações, leva em consideração a ordem em que cada palavra foi evocada, em primeiro, segundo ou terceiro lugar, e é fornecida pelo próprio software.

Para a apresentação dos significados que o fenômeno “amamentação” tem para essas participantes, optou-se por utilizar o quadro de quatro casas, elaborado por meio do programa EVOC 2000^®, no qual as categorias são distribuídas de acordo com o maior e o menor grau de significado que as mesmas têm para o grupo estudado. A Figura 1 mostra graficamente como o programa classifica as categorias.

Figura 1
Quadro de quatro casas.

* Frequência Média de Evocação; ** Ordem Média de Evocação

No que se refere ao quadro de quatro casas, os quadrantes podem ser assim interpretados: o quadrante superior esquerdo apresenta as categorias que tiveram alta frequência e baixa ordem de evocação, que são as categorias de maior significado para o grupo estudado. No quadrante superior direito, com alta frequência e ordem de evocação maior que a média, situam-se as categorias da primeira periferia, que por possuírem elevada frequência também são significativas. Na parte inferior esquerda do quadro, estão as categorias de contraste, as quais possuem baixa frequência e ordem de evocação menor que a média, sendo representativas para um pequeno grupo de participantes. Estas podem reforçar aquelas da primeira periferia. No último quadrante, estão localizadas as categorias da segunda periferia, com menor frequência e ordem de evocação acima da média, o que lhes confere menor relevância em termos de significado para o grupo.¹⁹

A análise dos resultados foi realizada a partir das categorias formadas pelas palavras evocadas, tendo como base a literatura especializada no assunto. Tabelas e figuras foram utilizadas para possibilitar uma melhor visualização dos resultados.

O presente estudo tem aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, seguindo a Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, sob Parecer nº 388.016 e CAEE 14911313.0.0000.5534.

Resultados

Em média, 560 crianças menores de dois anos são atendidas mensalmente em consultas de puericultura nas nove unidades de saúde. Até o final do período de coleta, foi possível entrevistar 279 nutrizes, uma vez que, em alguns dias marcados para consultas de puericultura, não foi possível realizar entrevistas. Não houve recusa por parte das mulheres abordadas para participar da pesquisa.

As nutrizes apresentavam mediana de idade de 26 anos, com variação entre 18 e 45 anos. A maioria tinha companheiro (73,7%), havia concluído o ensino médio (65,8%) e não trabalhava fora (71,8%) (Tabela 1).

Tabela 1
Características sociodemográficas e informações sobre o aleitamento materno de nutrizes da atenção básica. Fortaleza, 2014-2015.

Características	Distribuição por característica N = 279
	n	%
Idade
18 - 23	100	35,8
24 - 29	84	30,1
30 - 35	56	20,1
>35	39	14,0
Estado civil
Com companheiro	205	73,7
Sem companheiro	73	26,3
Escolaridade
Ensino fundamental	95	34,2
Ensino médio	170	61,1
Ensino superior	13	4,7
Trabalho fora de casa
Sim	78	28,2
Não	199	71,8
Situação do AME em crianças menores de seis meses
<3 meses	44	66,7
≥3 meses	22	33,3
Dificuldades para amamentar
Sim	89	32,0
Não	189	68,0
Orientação sobre AM:
No pré-natal
Sim	193	69,7
Não	84	30,3
No puerpério
Sim	190	68,8
Não	86	31,2
Na puericultura
Sim	167	61,6
Não	104	38,4

• Estado civil, escolaridade e dificuldades para amamentar n=278; Trabalho fora de casa e orientação sobre AM no pré-natal n=277; Orientação sobre AM no puerpério n=276; Orientação sobre AM na puericultura n=271; Situação do AME em crianças menores de seis meses n=66.

Em relação às crianças, 115 (41,2%) eram menores de seis meses, 66 (57,4%) recebiam amamentação exclusivamente, das quais 44 (66,7%) tinham idade inferior a três meses (Tabela 1).

Mais da metade das mães receberam orientações sobre AM, entre as quais 193 (69,7%) durante o pré-natal, 190 (68,8%) no puerpério e 167 (61,6%) durante as consultas de puericultura. A maioria das mães (68,0%) não relatou dificuldades para amamentar seus bebês (Tabela 1).

A análise do TALP mostrou 656 termos evocados, dos quais 209 foram distintos entre si. A ordem média de evocação foi de 1,8 e a frequência média de 65,6. (Figura 2)

Figura 2
Significados da amamentação para nutrizes da atenção básica. Fortaleza, 2014-2015.

* Frequência Média de Evocação; ** Ordem Média de Evocação.

No quadrante superior esquerdo do quadro de quatro casas, situam-se as categorias leite e impor-tante, consideradas as mais significativas para essas mulheres. No quadrante superior direito, estão as categorias saúde e amor, que foram os elementos periféricos mais relevantes. Já no quadrante inferior esquerdo, emergiu a categoria bom, que foi expressiva para um pequeno número de entrevistadas. No quadrante inferior direito situam-se as categorias que menos representaram o grupo e que forma filho, dor, suco, não-sabe e cuidado.

A categoria leite teve alta frequência e menor ordem de evocação, sendo a mais representativa. Nela estão reunidas palavras como dar-mamar, leite-materno, seio e leite-peito. Em seguida, importante, constituída por termos como essencial, necessário e fundamental, possuiu baixa ordem de evocação e alta frequência, porém menor que a categoria anterior.

Saúde e amor apresentaram frequências elevadas, mas como as ordens de evocação também foram elevadas, elas tiveram um significado menor ou mais periférico. A primeira foi formada pelos termos saudável, saúde-criança, evita-doença, nutritivo e a segunda, por carinho, prazer, satisfação, entre outros.

Para um pequeno número de entrevistadas, o ato de amamentar tinha o significado de ser bom. Algumas mulheres demonstraram indiferença ou não souberam expressar seus sentimentos em relação à amamentação, como na categoria não-sei. Outro pequeno grupo de mulheres atribuiu ao AM uma conotação negativa, o que pode ser verificado na categoria dor a partir de palavras como muita-dor, desconforto e inchaço. As categorias filho, cuidado e suco também não se revelaram como sendo significativas para o grupo de participantes do estudo.

Discussão

A amamentação foi considerada uma prática importante e representada pelo próprio produto da mesma, que é o leite materno, pelas nutrizes do presente estudo. Além disso, a amamentação se destacou como uma fonte de saúde e expressão de amor.

Conforme verificado para a categoria leite, o elemento que emergiu das entrevistadas sobre o ato de amamentar, foi o alimento fisiologicamente produzido por elas para a alimentação das crianças. Corroborando o encontrado neste estudo, Carrascoza et al.¹⁷, ao buscar caracterizar e analisar a percepção de mães acerca do ato de amamentar, encontrou referências ao leite materno ao longo dos discursos de algumas mulheres, achado que revela a relação intrínseca entre o AM e o leite produzido por elas.

Durante o ciclo gravídico-puerperal, as mulheres imaginam vivenciar a experiência de oferecer leite materno aos seus filhos,²⁰ podendo esse fato também justificar a presença de tal elemento em seus inconscientes nesse período.

Na categoria importante, as entrevistadas destacam a imprescindibilidade da amamentação e de sua relação com o crescimento e o desenvolvimento infantis. Já na categoria saúde, é demonstrado o conhecimento das mães acerca do efeito protetor do leite materno e do valor nutricional desse alimento. Tais achados estão de acordo com o encontrado por Eulálio et al.²¹, que observaram a percepção quanto ao crescimento e desenvolvimento saudáveis que o leite materno proporciona ao bebê na fala das entrevistadas. Este resultado evidencia a incorporação, pelas mães, do discurso técnico-científico empregado tanto nas campanhas de AM quanto na assistência dos profissionais de saúde prestada às nutrizes.²²

As mulheres do presente estudo não demonstraram perceber as vantagens que a prática da amamentação traz para si próprias, uma vez que os significados evocados no TALP deram conta estritamente dos benefícios do aleitamento para as crianças. Este resultado difere do encontrado por Rocha et al.²³ em estudo conduzido com gestantes acompanhadas em programas públicos de assistência pré-natal, em cidades paulistas, que mostrou que as representações maternas sobre o AM se concentraram nos temas amor materno, proteção do leite para o bebê e benefícios para a mãe.

Tais resultados demonstram que as campanhas e ações voltadas à promoção do AM abrangem apenas questões relativas à saúde do bebê e que aquelas referentes à saúde materna são negligenciadas.²⁴ Desta forma, a ausência da percepção, por parte das mulheres estudadas, sobre os benefícios da amamentação para a sua própria saúde, alerta para a necessidade de os profissionais de saúde as informarem sobre estas vantagens durante as consultas individuais e atividades educativas, visando aumentar a motivação das nutrizes para a prática do AME.

A categoria amor revelou sentimentos maternos positivos em relação à prática da amamentação e o perfil de mãe zelosa, que cuida, ama e protege seu filho. Apesar desta categoria não ter representado o maior significado da amamentação para as nutrizes estudadas, esses resultados foram semelhantes aos encontrados por Rocha et al.²³ e Carrascoza et al.¹⁷, que mostraram a relevância do amor materno para a prática da amamentação.

O contato do seio materno com o rosto do bebê estabelece um vínculo entre a mãe e o filho, sendo uma forma das mulheres sentirem novamente a ligação entre o seu corpo e o da criança.²⁵ Esse foi o principal motivo para as mães do estudo de Caceido et al.²⁶ considerarem a amamentação como um ato de amor.

Moreira et al.¹¹, realizando estudo sobre a representação social da amamentação, em três gerações de mulheres da mesma família, mostrou que as experiências de AM foram retratadas com sensações de prazer, de realização e de alegria, embora sentimentos negativos, como nervosismo, dor e tristeza, também tenham sido citados. Este resultado revela que a amamentação pode gerar sentimentos maternos ambíguos, determinados pelas vivências de cada mulher.

No presente estudo, os sentimentos negativos restringiram-se a poucas mulheres, tendo a categoria dor sido a de menor significado. O mesmo resultado foi encontrado em um estudo sobre representação social de mulheres que interromperam precocemente o AME, o qual evidenciou três categorias, das quais a que contemplava os sentimentos negativos foi a menos relevante.²⁷ Ainda com relação aos sentimentos negativos, observou-se que o sofrimento ao amamentar esteve relacionado às intercorrências mamárias, como ingurgitamento das mamas e fissuras mamilares. Este resultado corrobora outros estudos, cujos resultados mostraram a dor como um fator que interfere na manutenção da amamentação.¹⁰ O despreparo das nutrizes frente aos desafios físicos da AM28 também afeta negativamente a decisão das mães de continuarem amamentando. Diante disso, visando ao sucesso da amamentação, torna-se necessária a abordagem precoce sobre a técnica correta do AM e um maior apoio à mulher, com realização de escuta ativa, a fim de identificar a situação da amamentação e de se trabalhar uma orientação individualizada.^14,27

Como limitação do estudo, citamos algumas particularidades do método TALP para coleta e análise dos dados, por não se tratar de método usual em pesquisas, tendo-se observado dificuldades das participantes em verbalizar as três primeiras palavras ou expressões que surgiram à mente, ao ouvir o estímulo indutor. Consequentemente, reduziu-se o número de palavras constantes no dicionário que dá origem às categorias. Por se utilizar frequência e ordem média de evocação, um maior número de palavras auxilia na construção das categorias. Além disso, algumas entrevistadas não verbalizaram prontamente o que lhes vinha à mente, o que pode ter interferido no resultado da pesquisa. Como forma de minimizar tais questões, antes da aplicação do TALP foi realizada uma explicação acerca do método e dado um exemplo para cada entrevistada.

Conclui-se que os significados maternos de amamentação foram predominantemente positivos, sendo este resultado possivelmente devido às orientações sobre AM recebidas durante as consultas de pré-natal, puerpério e puericultura. No entanto, vale destacar que pouco mais da metade das crianças menores de seis meses estava em AME e a maior parte delas tinha menos de três meses, mostrando que embora munidas das informações que favoreceriam a manutenção do AME, as mulheres não mantiveram a prática. A interrupção precoce do AME, por parcela importante da população, foi igualmente observada na II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal, cuja mediana de tempo de AME foi de 1,8 meses no Brasil.⁹ Portanto, os profissionais da saúde devem atentar para a identificação de outros fatores que possam estar relacionados a esse abandono. Apesar disso, os significados positivos da amamentação para as participantes do estudo constituem um resultado favorável ao aumento das taxas de AME no âmbito local, visto que as entrevistadas julgaram o AM como essencial e demonstraram ter assimilado informações transmitidas por trabalhadores da saúde acerca do mesmo.

As nutrizes consideraram a amamentação uma prática importante, representada pelo leite materno, que proporciona saúde ao bebê e expressa um ato de amor. Para elas, o AM está permeado de significados positivos.

Embora os resultados encontrados sejam aplicáveis apenas para o grupo estudado, conhecer os significados que a amamentação tem para as nutrizes pode auxiliar na compreensão dos fatores associados ao desmame precoce, possibilitando o remodelamento da assistência dirigida a esse público. É fundamental que durante as consultas de saúde e atividades educativas realizadas com nutrizes sejam investigados os sentimentos das mulheres com relação à prática da amamentação, além do contexto social e cultural no qual elas estão inseridas.

Considerando que o AM gera sentimentos ora positivos, ora negativos, se faz necessário um maior apoio às mulheres durante toda a gestação e após o parto. É importante que elas sejam não somente orientadas, mas também incentivadas e ouvidas, para o esclarecimento de suas dúvidas e auxílio no enfrentamento de suas dificuldades.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Jan-Mar 2019

Histórico

• Recebido
  16 Dez 2017
• Revisado
  23 Out 2018
• Aceito
  23 Jan 2019