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O “Mês das Crianças e dos Loucos”: um olhar sobre a exposição paulista de 1933.

The “Month of the Children and the Insane”: looking at the São Paulo 1933 exhibit.

Resumos

O “Mês das Crianças e dos Loucos” foi uma exposição organizada por Flávio de Carvalho e Osório Cesar em 1933, em São Paulo, no Clube dos Artistas Modernos (CAM), associada a conferências das quais participaram artistas, médicos, intelectuais e educadores. Este estudo documental buscou desenhar a estrutura do evento e seu impacto cultural: como foi organizado, quais obras foram expostas, e quem dele participou. Investigaram-se os argumentos que justificaram o evento, o design da curadoria. A repercussão em jornais e periódicos mostrou que este encontro entre arte, educação e psicologia teve desdobramentos significativos na vida cultural de São Paulo.

Flávio de Carvalho; psicologia e arte; desenho infantil; arte e loucura


The “Month of the Children and the Insane” was an exhibit organized in São Paulo in 1933 by Flávio de Carvalho and Osório Cesar, at the Clube dos Artistas Modernos (CAM), alongside a series of lectures given by artists, physicians, intellectuals and education professionals. This documentary study aimed at designing the event’s structure: how it was organized, which works were shown, and who participated. The arguments that justified the event were investigated, as well as its curatorial design. Repercussions in the media showed that this encounter between visual arts, education and psychology had significant impact in São Paulo’s cultural life.

Flávio de Carvalho; psychology and art; children’s drawings; art and mental illness



Geraldo de Barros, São Paulo crescendo, 1965 impressão fotográfica.
Como marco histórico em São Paulo do reconhecimento do valor do desenho da criança e da produção expressiva do louco, ocorreu, em 1933, o “Mês das Crianças e dos Loucos”: uma das mais importantes iniciativas do Clube dos Artistas Modernos (CAM), que teve relevantes repercussões entre pessoas envolvidas com o campo das artes, do ensino de arte e da psicologia. O evento foi organizado pelo artista plástico Flávio de Carvalho e pelo psiquiatra Osório Cesar – sendo inaugurado em 28 de agosto de 1933, na sede do CAM, na Rua Pedro Lessa, n° 2 – e compreendeu dois polos igualmente importantes e complementares: a exposição de trabalhos plásticos e uma série de conferências. A exposição constituiu-se de trabalhos plásticos dos internos do Hospital do Juqueri, selecionados e organizados por Osório Cesar, e de trabalhos de arte infantil advindos de escolas públicas da cidade de São Paulo. As conferências foram proferidas por médicos e intelectuais, relacionados ao assunto, finalizadas por debates acalorados que mobilizaram a imprensa da época.

Na pesquisa que fomentou o presente artigo, tivemos como objetivo reconstituir o “Mês das Crianças e dos Loucos”, dentro de um estudo sobre os significados do evento para o cenário cultural da época. Buscamos redesenhá-lo a partir de diferentes registros – como artigos de jornal, revistas da época, diários e publicações dos organizadores –, para mostrar como foi organizado o “Mês”, quais coleções e obras foram expostas e de que forma, quem dele participou, quem visitou a exposição e assistiu às palestras. Assim, buscamos contextualizar a paisagem singular da sociedade paulistana daquela época e realizamos uma análise pormenorizada da estrutura de montagem, dos princípios norteadores do evento, do design da curadoria, da descrição dos trabalhos mostrados e dos personagens envolvidos (organizadores e conferencistas) e da repercussão em jornais e periódicos envolvidos com a exposição e relacionados ao assunto. Procuramos investigar os discursos dos organizadores (primeiramente divulgados na imprensa e, posteriormente, publicados em periódicos e livros) para identificar quais foram as justificativas utilizadas na argumentação a favor de reunir a produção da criança e do louco. Buscamos responder às perguntas: por que foram escolhidos trabalhos destes dois grupos e quais os diálogos possíveis sobre essas produções no discurso dos organizadores?

Contextualização histórica e cultural da sociedade paulistana: antecedentes

Compreender o significado do “Mês das Crianças e dos Loucos” requer uma volta à atmosfera sociocultural dos anos trinta na cidade de São Paulo. Os anos 1920 e 1930 no Brasil e no mundo foram marcados por rupturas, em que os

movimentos sociais, políticos e culturais refletem as mudanças da política internacional e as vanguardas européias. Trata-se de um período de inquietação também marcado por idéias reformistas que alcançam o domínio das artes, culminando com o Modernismo artístico e literário1 1 .FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte e loucura: limites do imprevisível. São Paulo: Lemos Editorial, 1998, p. 35. .

Faz-se importante lembrar que São Paulo, desde o século XIX, estava sofrendo grande processo de europeização – a Europa, em crise, exportava emigrantes de diferentes nacionalidades para o nosso país. Com o avanço da economia cafeeira, já nos anos 1920, atraídos por um fabuloso acúmulo de recursos e oportunidades na indústria e comércio, ou mesmo vislumbrando a possibilidade de enriquecimento, multidões de famílias e indivíduos se dirigiram a São Paulo, provenientes das mais diferentes partes do Brasil e do mundo. O Brasil vivia uma situação de otimismo, e São Paulo adquiria lugar de vanguarda no conjunto nacional2 2 .Cf. SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

As novas possibilidades da década de 1920 prepararam todo um cenário cultural na cidade de São Paulo, consolidando-a como polo cultural, com espírito de modernidade. Surgiam novos espaços de exposição, que ocorreram quase sem interrupção; vemos a emergência de um novo público urbano – com dinheiro – e a presença dos críticos de arte. São Paulo vivia as contradições de uma época em transição, com focos de vanguarda, responsáveis pelo desenvolvimento de uma série de atividades notáveis e inéditas, em meio a uma paisagem modorrenta que ainda resistia aos movimentos culturais internacionais da modernidade.

Justamente neste período de intensa agitação social, política e intelectual, apesar de uma atmosfera um tanto impenetrável, mudanças passaram a despontar na paisagem brasileira (mais precisamente em São Paulo), materializando questões prementes na época: conexões entre educação, arte e psicologia.

É bastante provável que tais transformações tenham tido influência a partir da leitura de publicações de educadores, artistas e psiquiatras da Europa. Dessa forma, alguns médicos, intelectuais, educadores e artistas engajados no movimento modernista contribuíram com suas experiências no campo da educação, ampliando o olhar sobre a produção artística da criança ao se interessarem “[…] por seus processos mentais, seu mundo imaginativo, passando até mesmo a colecionar os desenhos infantis”3 3 .FERRAZ, Maria Heloísa C. de T e FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992. . Começava a surgir no Brasil uma preocupação com a educação da criança em artes.

O professor alemão Wilhelm Haarberg foi um desses exemplos que despontou no cenário paulistano da década de 1920. Em 1921, Mário de Andrade conheceu o professor, e, tamanha foi a admiração pelo seu trabalho, que convidou-o a fazer parte da Semana de Arte Moderna de 1922. Acerca disto, comentou Mário de Andrade na Revista do Brasil de fevereiro de 1923:

além de artista o Sr. Haarberg é excelente professor. Imprimiu uma orientação clarividente ao seu curso de plástica na Escola Alemã, e os trabalhos expostos de seus pequeninos alunos deram à exposição uma de suas mais vivas atrações. Com que tristeza me pus a comparar esta gente mal instruída brasileira, que não pode ver um desenho sem perguntar ‘onde estão os olhos?’, com esses meninos educados na justa noção, capazes de compreender a escultura como o jogo da luz e volume! ... Amargor! Mas, não faz mal! O sentimento de humanidade vencerá talvez um dia o preconceito das pátrias restritas. Esses meninos serão homens em breve; e é pelo exemplo de espíritos assim educados que o gosto artístico da humanidade progredirá4 4 .ANDRADE apud COUTINHO, Rejane Galvão. A coleção de desenhos infantis do acervo Mário de Andrade. Tese de doutorado. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 63. Conservamos na forma mais fiel possível o discurso dos agentes com a grafia usual da época. .

Outro exemplo presente no ambiente artístico, estético e educacional de São Paulo se pauta em Anita Malfatti, que, nos anos de 1929 e 1930, deu aulas para crianças em seu ateliê e atendia aos filhos da elite paulistana na Escola Americana Mackenzie (Mackenzie College), criada no fim do século XIX. Numa época em que ainda havia pouca preocupação com os trabalhos em arte de crianças e jovens, Anita desenvolvia um trabalho pioneiro, promovendo liberdade criativa, estimulando-os a aprender a partir do que realizavam. Entretanto, não deixava de se apoiar nas propostas, então em voga, dos programas oficiais de desenho, como vemos a seguir:

as ideias modernistas da ‘imaginação criadora’ da criança, da linguagem do desenho como linguagem universal, acessível a todos e o preconceito contra a técnica estavam entranhados na artista/ professora que ao mesmo tempo se propunha a seguir um plano de aulas estruturado sequencialmente a partir das dificuldades encontradas talvez em seu próprio aprendizado5 5 .Ibidem, p. 65. .

Nesta época surgem também as primeiras tentativas de escolas de arte como atividade extracurricular, voltadas para crianças e adolescentes em várias cidades do Brasil, “[…] em geral orientados por artistas que tinham como objetivo liberar a expressão da criança fazendo com que ela se manifestasse livremente sem interferência do adulto”. No início da década de 1930, em São Paulo, foi criada a Escola Brasileira de Arte, por Theodoro Braga, na qual crianças de 8 a 14 anos podiam estudar gratuitamente conteúdos de música, desenho e pintura. A escola assemelhava-se a uma espécie de ateliê, no qual as crianças eram livres para desenhar e pintar, refletindo o clima de “reafirmação expressionista que dominava o pós-guerra”.

Já a coleção de desenhos de Mário de Andrade situa-se historicamente no primeiro momento de interesse de pesquisadores brasileiros sobre a produção plástica da criança. Os 2.160 desenhos da coleção, feitos por crianças e jovens com idade entre 3 e 16 anos, foram reunidos entre 1927 a 1942, e têm procedências diversas: cerca de metade é proveniente de diferentes ambientes escolares e de doações de amigos e familiares; a outra metade desses desenhos foi produzida para concursos idealizados por Mário de Andrade em 1937. Seu objetivo era aprofundar suas pesquisas por meio dos concursos e ter domínio sobre a produção dos desenhos que colecionava e observava – esta foi a oportunidade de sistematizar e legitimar sua pesquisa sobre o grafismo infantil.

Durante a década de 1930, Flávio de Carvalho também integrava a lista dos personagens responsáveis pelas articulações entre educação, arte e psicologia. O artista reuniu desenhos de crianças procedentes do Abrigo de Menores em Trânsito, do Grupo Escolar Rodrigues Alves, da Escola da Vida e do Hospital do Juqueri; e igualmente colecionou regularmente trabalhos plásticos de pacientes psiquiátricos, sobretudo esculturas e pinturas.

Em 24 de novembro de 1932 foi fundado o Clube dos Artistas Modernos (CAM), que atraiu personalidades do campo da arte e também da ciência, com vistas a organizar uma série de atividades notáveis e inéditas na paisagem cultural paulistana. O clube era liderado por Flávio de Carvalho (1899-1973), e tinha como colaboradores na sua constituição os artistas Antonio Gomide (1895-1967), Carlos Prado (1908-1992) e Di Cavalcanti (1897-1976). Dentre as atividades organizadas pelo Clube, o “Mês das Crianças e dos Loucos” sobrepujou todas: o evento foi capaz de concretizar o interesse do mundo da arte e da psicologia acerca da justaposição do desenho da criança e do louco.

Em 1933, também em São Paulo, a professora Lenyra Fraccaroli, do Instituto Caetano de Campos, criou a Biblioteca Infantil, que seria incorporada ao Departamento de Cultura em 1936. Além das atividades inerentes a uma biblioteca, ela propunha atividades recreativas e educacionais (sessões de cinema, torneio de jogos, excursões culturais a museus e instituições de ensino, audição de músicas clássicas e regionais). No período de 1936 a 1939, as crianças, em sua maioria, vinham dos ginásios e grupos escolares da capital, sendo grande parte filhos de funcionários públicos, comerciantes e profissionais liberais, e, em menor número, filhos de operários.

Assim, podemos perceber que o cenário paulistano se mostrava aberto para o diálogo com produções da alteridade. Vivia-se numa época de discussão sobre as relações entre o mundo psicológico e o artístico na infância – na qual se buscava a criatividade e a flexibilidade, com o objetivo de se configurar espontaneamente tudo o que fosse tocado. Uma época em que se intencionava a confluência de desejos pela construção de novos valores, demolindo antigos paradigmas. Novos olhares e produções que rompiam com os moldes culturais tradicionais da época, em busca de uma identidade nacional criativa – é isso que alguns intelectuais, artistas e educadores de arte almejavam.

Osório Cesar e seu interesse pela produção expressiva

Osório Cesar, médico psiquiatra, músico e crítico de arte, também figurou neste cenário de intensas mudanças. Vislumbrando a riqueza gráfica e plástica das produções dos doentes mentais internos no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, foi o primeiro brasileiro a empenhar-se a estudá-las, metodizar suas observações e divulgá-las de maneira sistemática para o mundo10 10 .Cf. FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Op. cit., 1998. .

Entre os psiquiatras, Osório Cesar transitava tanto no campo da arte quanto da medicina; sua formação eclética não era usual entre grande parte dos psiquiatras brasileiros. Percebeu na psicanálise, a partir de suas leituras de Freud, uma ferramenta metodológica que permitia embasar o estudo dos trabalhos artísticos de pacientes psiquiátricos. Dessa forma, passou – a partir de 1923, quando ingressou como estudante no Hospital do Juqueri, que se encontrava sob a direção do Dr. Antonio Carlos Pacheco e Silva – a colecionar os trabalhos e a observar a produção dos internos.

Interessava-se em ampliar seus conhecimentos sobre a arte dos alienados, observando-os trabalhar; sem pensar em estudar a arte do louco isoladamente, comparou-a com as manifestações artísticas das crianças e dos primitivos. Refletiu sobre o conceito de loucura mostrando-se atento e profundo conhecedor das muitas publicações estrangeiras sobre arte e o doente mental, como os trabalhos de Cesare Lombroso (1889), Enrico Morselli (1894), Julio Dantas (1900), Walter Morgenthaler (1921) e principalmente Hans Prinzhorn (1919, 1922 e 1926). Seguindo uma tendência encontrada em psiquiatras como Lombroso e Prinzhorn, bem como em investigadores do desenho infantil como Georges Rouma e Henri Luquet, Osório Cesar teceu comparações entre a produção de “anormais”, povos primitivos e crianças.

Cesar dedicou-se à observação e também ao estímulo de ações expressivas, desenvolvendo e orientando atividades artísticas com os internos do Hospital do Juqueri e também com as crianças internadas no manicômio. No dizer de Ferraz, as

crianças ficavam em um pavilhão de ‘menores anormais’ e somente em 1929 é criado o Pavilhão-Escola, mais tarde ‘Escola Pacheco e Silva’, onde os ‘educáveis’ aprendiam noções de ordem ‘mental, moral e manual’ por meio de exercícios, jogos educativos e ‘ginástica’11 11 .Ibidem, p. 56. .

Realizou uma série de análises sistemáticas, com publicações pioneiras divulgando os resultados de seus estudos. O que seus contemporâneos viram como “rabiscos de malucos”, Osório Cesar concebeu como trabalhos de grande valor plástico pela sua expressividade. Através de suas discussões, Osório Cesar introduziu no meio cultural e científico brasileiro as primeiras noções sobre a manifestação artística nos alienados, afirmando ser possível um olhar diferenciado para os doentes asilados, evidenciando as potencialidades e riquezas do seu imaginário.

Arte, educação e psicologia se encontram

A partir dos anos 20, em São Paulo, instaura-se uma conexão entre arte e psicologia com o sistema cultural, pedagógico e científico: crescia o interesse pelo domínio do psíquico por parte de artistas, literatos, críticos de arte e educadores, que “procuram ampliar seus conhecimentos nesse campo”12 12 .Ibidem, p. 38. .

Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Flávio de Carvalho podem ser citados como “os artistas plásticos que sintetizam visualmente essa estética psicológica. Imagens fantásticas povoam o tempo desses modernistas que as concretizam em suas pinturas”13 13 .Ibidem, p. 40. .

Flávio de Rezende Carvalho, durante sua vida acadêmica na Durham University, Inglaterra (1918-1922), passou a se interessar por autores como os filósofos Descartes e Spinoza, e autores de temas “científicos bizarros”, como Freud, Malinowsky e Frazer. Chegou a incorporá-los em sua pequena biblioteca, formada pelas economias advindas da mesada paterna. Freud e a psicanálise foram marcantes tanto em sua vida quanto em sua obra: ele próprio diz que Freud foi um dos autores que mais o influenciou intelectualmente. Acerca dessas relações, comenta Toledo que Flávio de Carvalho

mantinha-se irrequieto e imaginativo, pensando em colocar em prática uma miríade de experiências psicológicas que o mantivessem permanentemente ligado ao tema ‘freudiano’ que sempre lhe interessara14 14 .TOLEDO, J. Flávio de Carvalho: o comedor de emoções. São Paulo: Brasiliense e Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1994, p. 87. .

Nessa época, Flávio de Carvalho chegou a fazer visitas semanais ao Hospital do Juqueri, em Franco da Rocha, para estudar as reações dos internos,

submetendo-os a algumas experiências, confrontando os seus desenhos e esculturas com os de crianças de Grupo Escolar, de 7 a 10 anos de idade, chegando a algumas conclusões, sendo uma delas, a que considera o retorno mental do louco à infância, tal a semelhança entre a arte de ambos15 15 .TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Flávio de Carvalho: homenagem ao 10º aniversário de sua morte. Campinas: Academia Campinense de Letras, 1983, p. 70. .

Flávio de Carvalho também colecionou sistematicamente os trabalhos dos alienados, sobretudo as pinturas e as esculturas – que compunham a gama de objetos exóticos que decoravam a sua casa. Podemos observar uma delas na imagem no livro de Toledo16 16 .Op. cit., 1994. , que retrata o artista junto de cerâmicas dos internos do Juqueri. Entre elas aparece a escultura Santo Antonio da Rocha, produção intensamente comentada por Osório Cesar em suas publicações (1927, 1929, 1934) por seu caráter primitivo, totêmico, que também se assemelha às obras cubistas. Um jornalista registra, em 1958, a passagem da resposta afiada de Flávio de Carvalho, quando indagado se os trabalhos expostos na parede do seu apartamento seriam seus:

Não. Isto foi feito pelos loucos do Juqueri... Mais adiante, um quadro a óleo, onde predominava o roxo, berrante, tal como exigem os preceitos da escola abstrata. Logo adiante, outro. – São dos loucos? – Não. São meus...17 17 . FERNANDES, Alexandre. Flávio de Carvalho sem experiências. In: Jornal de Letras, Rio de Janeiro, jan. 1958, s/p.

Essas linhas documentam o apreço de Flávio de Carvalho pelas produções do Juqueri e comprovam que ele havia adquirido peças no decorrer de sua carreira. Como também é sabido, Flávio de Carvalho convidou o médico psiquiatra Osório Cesar para organizar “minuciosas pesquisas” a respeito das obras de Prinzhorn.

Precisamente nesse novo campo de experimentação e descobertas surge a necessidade de um diálogo maior e mais incisivo no Brasil, que ganha corpo com o “Mês das Crianças e dos Loucos”.

O CAM e o “Mês das Crianças e dos Loucos”

Com o fim da revolução de 1932, intelectuais e artistas começaram a reunir-se em São Paulo com o objetivo de promover discussões e ações culturais coerentes “com os problemas culturais e sociais da época”18 18 .ZANINI, Walter. A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena. São Paulo: Nobel/Editora da Universidade de São Paulo, 1991, p. 38. . Como um dos resultados dessas discussões, em 24 de novembro de 1932,

com o intuito de preencher uma necessidade e por motivos de conveniências, fundámos o Clue [sic] dos Artistas Modernos, primeiro andar dêsse prédio, com as seguintes finalidades: reunião, modelo coletivo, assinaturas de revistas sobre arte, manutenção de um bar, conferências, exposições, formação de um bibliotéca sobre arte, e defesa dos interesses da classe19 19 .CARVALHO, Flávio de. Recordação do clube dos artistas modernos. In: RASM: Revista Anual do Salão de Maio. São Paulo, 1939, s/p. .

O Clube dos Artistas Modernos tinha por objetivo promover o intercâmbio entre as diversas artes, estimular debates, divulgar novas criações e defender os interesses da classe artística. Dessa forma, acabou tornando-se um reduto de grandes experimentações e acontecimentos artísticos, culturais, sociais e boêmios da cidade. O Clube atraiu

cientistas, intelectuais e artistas que abordaram temas novos para o meio, como a arte proletária (Tarsila do Amaral), marxismo e arte (Mário Pedrosa), o desenho infantil e seu valor pedagógico (Pedro de Alcântara), a arte dos loucos e as vanguardas (Osório Cesar). Caio Prado Júnior fez ali relato de sua viagem à União Soviética. Entre outros conferencistas do CAM estavam o anarquista italiano Oreste Ristori, ativo em São Paulo, depois expulso do País, que defendeu idéias contra Deus e a Igreja Católica; o escritor Oswald de Andrade, que leu trechos da peça O Homem e o Cavalo; e o pintor Siqueiros, que trouxe do México sua mensagem de arte social20 20 . ZANINI, Walter. Op. cit., p. 38. .

Dentre todos estes acontecimentos, destacamos o “Mês das Crianças e dos Loucos” como a iniciativa mais significativa do CAM. O evento foi constituído de dois focos: exposição de trabalhos plásticos e conferências. A exposição incluiu “desenhos, pintura e escultura de alienados do Hospital do Juqueri...” – selecionados e organizados pelo Dr. Osório Cesar – “...de creanças das escolas públicas de São Paulo e de particulares”21 21 .CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p. . As conferências foram proferidas por médicos e intelectuais (convidados pelos próprios organizadores do evento), finalizadas por discussões entre os membros do público e tomaram parte no próprio salão do Clube. As reportagens sugerem que o evento foi um sucesso:

como sempre, a séde do C.A.M., foi pequena para conter a numerosa assistencia que evidencia dessa maneira, o pleno exito das noiteadas educativas, auspiciosamente levantadas pela novel associação22 22 .Estudo comparativo entre a arte de vanguarda e a arte dos alienados. In: Folha da Noite, São Paulo, 29 de ago. de 1933, p. 14. .

O lançamento do evento aconteceu no final de agosto e durou mais de um mês. A mostra ficava aberta para o público das 5 da tarde a 1 da madrugada. Nas palavras do jornal Diário da Noite, de 30 de agosto de 1933, tratou-se de

acontecimento novo, este, no mundo artistico brasileiro. Corresponde ao programa cultural avançado do clube, laboratorio de experiencias que já tem prestado grande beneficio ao desenvolvimento cultural de S. Paulo. A novidade da iniciativa é tal que deve levar á sede do Spam23 23 .Lê-se CAM – provavelmente uma confusão do jornalista! , á rua Pedro Lessa, 2, muita gente, principalmente dos nossos circulos intellectuaes e artisticos a qual não poderá perder a opportunidade de assistir um certame raro como o que se inicia, com a collaboração de illustres especialistas não só de S. Paulo como do Rio24 24 .Está aberta a exposição de desenhos de crianças e de alienados, no C.A.M. In: Diário da Noite, São Paulo, 30 de ago. de 1933, p. 2. .

Podemos perceber que o dinamismo e o interesse dos organizadores do “Mês das Crianças e dos Loucos” por essa “outra” expressão artística feita pela criança e pelo doente mental era algo bastante notório. Vivia-se exatamente o momento em que toda uma sensibilidade, advinda de escritores, artistas, críticos de arte e psicanalistas, estava voltada para “estudos e considerações sobre a relação do mundo psicológico e artístico”25 25 .FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Op. cit., 1998, p. 45. . Dessa maneira, o evento organizado por Osório Cesar e Flávio de Carvalho no Clube dos Artistas Modernos corresponde aos – e de certa forma os materializa – interesses e questionamentos daquela época.

Em entrevista ao jornal Correio de São Paulo, no dia 7 de setembro de 1933, Flávio de Carvalho comentava:

a exposição de desenhos de alienados e crianças no Clube dos Artistas Modernos é mais importante do que parece a primeira vista porque traz aos olhos do publico uma série de problemas que elle não está acostumado a encarar26 26 .A curiosa exposição de trabalhos artisticos de loucos e crianças no clube dos artistas modernos. Correio de São Paulo, 7 de set. de 1933,, p. 6. .

Em consonância com artistas plásticos europeus que também buscaram no desenho da criança uma linguagem mais fresca, distante das imposições da pintura acadêmica27 27 .Cf. FINEBERG, Jonathan. The innocent eye: children’s art and the modern artist. Princeton: Princeton University Press, 1997. , o objetivo era ajudar o artista a ver o mundo com outros olhos, sem regras ou proibições, sem castrações e ansiedades, ver o mundo com olhos inocentes, olhos de criança...

Ao responder aos questionamentos do público com relação ao evento, Flávio de Carvalho ressaltava a importância da reunião de tais trabalhos, o motivo pelo qual deveriam ser apresentados ao público em geral e também o reconhecimento do valor de sua natureza expressiva. Ele explicava que

os desenhos das crianças, quando não são estupidamente controlados pelos professores, têm uma importância que ainda não aprehendemos bem. [...] esses desenhos têm antes de tudo profunda importancia psychologica, porque elles são uma fórma de associação livre de idéias, trazendo á tona a sequencia de fatos ancestrais as formas de uma evolução longinqua, alguns delles realizando uma coisa como um panorama das espécies. Parece que a criança, impulsionando livremente o lapis, desdobra toda a tragedia da vida e do mundo, todos os cataclismas da alma e do pensamento. Ella vê a dolorosa caricatura de tudo e dramatiza numa simplicidade de fórmas e de cores que faz inveja aos grandes artistas28 28 .Crianças-artistas, doidos-artistas. In: Rumo, n. 5 e 6,,Rio de Janeiro, set/out. 1933, p. 29. .

Flávio de Carvalho acrescentava ainda, na mesma reportagem, que os

verdadeiramente grandes artistas se parecem com as crianças em suas invenções, possuem uma espontaneidade inconsciente em cor e fórma, sem a preoccupação dos ‘trucs’ dos prestigiditadores [sic] das escolas de bellas artes”29 29 .Ibidem. .

E, sobre a arte dos doentes mentais, Flávio de Carvalho comentava:

[…] ha uma arte interessantissima, curiosissima, uma arte capaz de produzir fundas impressões a quem a admire, uma arte desvairada, mas por isso mesmo atraente, uma arte que nos prega surprezas a cada momento. essa arte os senhores a desconhecem por completo. é a arte dos loucos. é preciso que os senhores travem relações com ella, quando mais não seja para perder a convicção errada de que a loucura é uma grande noite sem estrellas. venham vêr quanta belleza se desprende das mãos dos pensionistas dos juquerys e se espalha sobre o papel branco. venham abandonar essa presumpção inabalavel de homens normaes e procurem convencer-se de que a normalidade commum – porque a absoluta não existe – é o que se chama, em bom latim, de ‘áurea mediocritas’...30 30 . Club dos artistas modernos: um laboratório de experiências para a arte moderna. In: Idem, n. 4, ago. de 1933, p. 16.

É também nas palavras da imprensa da época, bem como nas conferências proferidas e na atmosfera cultural do período, que se torna claro o intuito, e mesmo a necessidade, de realização de tal acontecimento: o estabelecimento de um diálogo franco e direto com os trabalhos plásticos expostos durante o evento – espontâneos e desinteressados pelas normas acadêmicas – e suas relações com o artista e a arte moderna, decorrentes de um caminho iniciado há tempos em outros países por artistas e intelectuais, que também dava passos no Brasil.

As conferências e a exposição

Segundo Amin31 31 . Durante a pesquisa, não obtivemos informações a respeito do tipo de projeção utilizada (epidiascópio, slides ou diapositivos). , que faz uma análise pormenorizada do evento, foram planejadas 10 conferências para o “Mês das Crianças e dos Loucos”:

“Estudo comparativo entre a arte de vanguarda e a arte dos alienados”, pelo Dr. Osório Cesar – dia 30 de agosto de 1933;

“Interpretação de desenhos de crianças”, pelo Dr. Pedro de Alcântara Machado – dia 10, 12 ou 13 de setembro de 1933;

“Psychanalises dos desenhos dos psycophatas”, ministrada pelo Dr. Durval Marcondes – dia 5 ou 19 de setembro de 1933;

“O louco sob o ponto de vista da psychologia geral”, ministrada pelo Dr. Fausto Guerner – dia 6 ou 26 de setembro ou 10 de outubro de 1933;

“A arte e a psychiatria através dos tempos”, desenvolvida pelo Dr. Pacheco e Silva – dia 19, 25 ou 26 de setembro de 1933;

“Marcel Proust literariamente e psychanaliticamente”, com o Dr. Neves Manta – dia 3 de outubro de 1933;

“O valor negativo da psychopatologia na critica de arte”, pelo Dr. Plínio Balmaceda Cardoso – dia 17 de outubro de 1933;

“A musica nos alienados”, pelo Sr. José Kliass – dia 17 de outubro de 1933;

Dr. Raul Malta, com apresentação sobre assunto ligado ao evento que não foi citada em nenhuma das fontes a data em que seria proferida;

“A noite dos poetas loucos”, com poemas sendo recitados por Maria Paula – também não foi citada em nenhuma das fontes a data da realização da récita.

Uma das conferências de maior repercussão na mídia da época foi, sem dúvida, a do Dr. Pedro de Alcântara Machado (fig. 1). Não podemos deixar de mencionar as palestras do Dr. Durval Marcondes, que estava sendo muito esperada, e do Dr. Pacheco e Silva, ambas bastante divulgadas pela imprensa da época, seja em chamadas para o acontecimento, dias antes, ou mesmo em matérias sobre o conteúdo da palestra, dias depois de sua realização.

Todas as conferências que envolviam projeções de imagens32 32 . Toledo, J. Op. cit., p. 165. tiveram o apoio da Casa Lutz Ferrando, segundo as palavras de Toledo33 33 . Crianças-artistas, doidos-artistas. In: Rumo, op. cit., p. 29. e de vários jornais da época.

Destaca-se a intenção de publicar as conferências proferidas34 34 . O mez dos alienados e das creanças no C.A.M. In: Diário da Noite, São Paulo, 31 de ago. de 1933, s/p. : “essas conferencias serão depois editadas pelo Clube dos Artistas Modernos, que fará uma bonita edição ilustrada com desenhos de loucos e de crianças”. E, segundo o Diário da Noite35 35 . A conferência do Dr. Osório Cesar foi publicada em 1934 com o titulo “A arte nos loucos e vanguardistas”; a conferência do Dr. Durval Marcondes foi publicada em 1933, na Revista da Associação Paulista de Medicina, com o título “A psicanálise dos desenhos dos psicopatas”; e a conferência proferida pelo Dr. A. C. Pacheco e Silva foi publicada posteriormente, no ano de 1936, no periódico Problemas de Higiene Mental. Todos os três periódicos foram adquiridos pela pesquisadora por meio da reserva técnica concedida pela FAPESP. , a edição ilustrada seria colocada à venda. Entretanto, tal objetivo nunca foi atingido por seus organizadores; foram publicadas apenas três das conferências proferidas, por iniciativa pessoal de cada autor, a saber: a do Dr. Osório Cesar, a do Dr. Durval Marcondes e a do Dr. A. C. Pacheco e Silva36 36 . ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. Perspectiva: São Paulo, 1976, p. 78. .

Alguns registros fotográficos auxiliam na visualização do espaço físico onde as conferências se realizaram, juntamente com a exposição. Também são retratados alguns conferencistas, tanto em imagem fotográfica quanto em caricatura. Não há nenhuma imagem panorâmica de boa qualidade da exposição, mas é possível identificar algumas das obras expostas (fig. 2).

Figura 1
“Interpretação de desenhos de crianças”. Fonte: Jornal do Estado, São Paulo, 14 de set. de 1933. (Detalhe).

As conferências “[…] se faziam sem grandes formalismos, de maneira bastante simples, em tom de conversa […]”37 37 .SANGIRARDI, Junior. Flávio de Carvalho: o revolucionário romântico. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1985, p. 39. , mas “costumavam resultar em agitação e até tumulto, pois Flávio de Carvalho fazia questão de que fossem sempre seguidas de debate”38 38 . CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p. , alguns deles memoráveis, animados, e, por vezes, violentos39 39 . Cf. CESAR, Osório. A expressão artística nos alienados: contribuição para o estudo dos symbolos na arte. São Paulo: Oficinas Gráficas do Hospital do Juqueri, 1929. . Destarte, observamos que as conferências eram sempre muito animadas e a assistência costumava tomar parte em calorosas discussões.

Um de nossos objetivos foi o de reconstituir a atmosfera do “Mês das Crianças e dos Loucos”, focalizando os trabalhos, os acervos e seus sujeitos. Para tanto, seria necessária a preservação de documentos capazes de auxiliar-nos nessa construção, ou melhor, reconstrução. É lastimável, do ponto de vista histórico, a falta da produção de um catálogo e a inexistência de uma documentação fotográfica do evento, tanto em arquivos mais amplos quanto naqueles pertencentes propriamente aos seus organizadores. As reportagens mostram imagens que revelam poucos dados sobre as obras da exposição e sobre as reproduções que ilustraram as conferências, algumas das quais constam de publicações anteriores40 40 .Cf. CESAR, Osório. A expressão artística nos alienados: contribuição para o estudo dos symbolos na arte. São Paulo: Oficinas Gráficas do Hospital do Juqueri, 1929. e posteriores41 41 .Cf. MARCONDES, Durval. A psicanálise dos desenhos dos psicopatas. In: Revista da Associação Paulista de Medicina, n. 4, v. 3. São Paulo, out. de 1933, p. 175-182. ao evento.

Com relação às obras apresentadas durante o evento, nas fontes utilizadas para a reconstrução do mesmo observamos algumas reproduções do espaço expositivo e das obras apresentadas – estas últimas mostram, na sua maioria, trabalhos dos doentes mentais e não trabalhos feitos pelas crianças. Desenhos de crianças foram apresentados por meio de “projeções luminosas” das conferências, e pertencem, portanto, aos próprios palestrantes; não se tem documentação sobre os trabalhos infantis que figuraram na exposição do evento. As reproduções contidas nos jornais não apresentam qualquer legenda informando o autor, o ano, a coleção a qual pertencem, a procedência, as dimensões, enfim, nenhuma informação que nos possibilite o reconhecimento e/ou identificação, bem como a realização de uma listagem, das obras expostas. As reportagens que incluíram tais imagens não as mencionam, o que sugere que, na época, não havia preocupação em identificar autoria e conteúdos (imagéticos e textuais) do material exposto.

Entretanto, não temos dúvidas de que, para o “Mês das Crianças e dos Loucos”, Osório Cesar selecionou as obras de doentes mentais que pudessem chamar a atenção do público pela característica inusitada de suas formas, assim como os trabalhos de crianças que apresentassem espontaneidade, diferentemente daqueles executados na escola42 42 .FERRAZ, Maria Heloísa C. de Toledo. O Pioneirismo de Osório Cesar. In: Arte e inconsciente: três visões sobre o Juquery. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002, p. 17. .

A divulgação do “Mês das Crianças e dos Loucos”

A divulgação do “Mês das Crianças e dos Loucos” aconteceu em praticamente todos os jornais da cidade de São Paulo, seja em grandes reportagens sobre o CAM, seja em notas sobre o evento e suas ramificações (fig. 3). Em reportagem do jornal O Alicerce, de 1975, na qual se comentava sobre os inúmeros feitos de Flávio de Carvalho, algumas palavras foram dedicadas à imprensa paulistana:

Figura. 2
O mez dos alienados e das creanças no C.A.M. In: Diário da Noite, op. cit.

todas as suas chamadas ‘extravagâncias’ tiveram a mais ampla acolhida da imprensa paulistana. Todo jornal que se prezasse fazia questão de publicar suas declarações, divulgar suas inovações vanguardeiras43 43 .TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Op. cit., 1983, p. 41-42. .

Já no Rio de Janeiro, a difusão do evento se deu por dois periódicos: as revistas Base e Rumo. Durante a análise dos documentos e bibliografias a respeito do CAM, constatamos que a ideia foi sempre muito bem recebida pela imprensa e pela sociedade da época; não encontramos reportagens críticas, que polemizassem o tema. Com exceção de sutis diferenças quanto ao uso das palavras e expressões utilizadas em cada um deles, os textos nos diferentes jornais muito se parecem.

O evento foi uma oportunidade também para focalizar as atividades do Clube (e seus projetos) que passou a ser visto como um grande

laboratorio de experiencias. […] o clube é laboratorio mesmo e esperam que de lá sáia qualquer coisa de importante. […] Ha, indiscutivelmente, em tudo quanto os ‘artistas modernos’ fazem e projectam, uma pontinha ferina destinada a machucar a epiderme do indigena, sensibilizada por preconceitos e convenções. Ha, inegavelmente, a vontade gostosa de fazer os outros boquiabrirem-se deante de attentados estheticos que elles são os primeiros a renegar. […] ha tambem iniciativas felizes, idéas excellentes, realizações esplendidas. São exemplo disso as conferencias e concertos já levados a effeito, a exposiçào de gravuras de Kaethe Kollwitz, verdadeira delicia para os olhos e para o espirito e, agora, a mostra de cartazes russos, esses cartazes que revolucionam o genero. A iniciativa mais interessante, porém, que o clube já teve é a da ‘Semana dos loucos e das creanças’. Na denominação dada á ‘semana’ já se revela o espirito moleque dos rapazes modernistas44 44 .Desenhos de loucos e creanças. In: A Platéa, São Paulo, 20 de jul. de 1933, p. 3. .

Por serem diversas as fontes que relataram o acontecimento, muitos equívocos de informação a respeito do evento foram avistados, como, por exemplo, o título do evento, os nomes dos conferencistas e das conferências, bem como as datas em que seriam realizadas, gerando incongruências entre os diversos periódicos.45 45 .Em alguns casos, é evidente que as incompatibilidades quanto ao nome do palestrante e de sua conferência são decorrentes de erros de digitação. Além disso, falava-se que as conferências e debates durariam somente uma semana – o que de fato não aconteceu, pois as conferências programadas para o “Mês das Crianças e dos Loucos”, na realidade, iniciaram-se ao final de agosto e estenderam-se até o mês de outubro. Nas lembranças do próprio Flávio de Carvalho na Revista Anual do Salão de Maio, vemos que o “Mês das Creanças e dos Loucos […] expôs durante um mês inteiro […]”46 46 .CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p. ; o que nos faz concluir que a exposição dos trabalhos plásticos durou um mês, e as conferências, dois meses, entre grandes intervalos de tempo.

Repercussões e desdobramentos do “Mês das Crianças e dos Loucos”

Podemos concluir que o “Mês das Crianças e dos Loucos” alcançou o seu objetivo de estabelecer ligações entre a arte dos doentes mentais, a das crianças e a dos artistas modernos. Além disso, mobilizou reações do público, sendo visto como um evento audacioso por suas palestras e exposição, fato evidenciado no artigo “Crianças-artistas, doidos-artistas” na revista Rumo47 47 .In: Rumo, n. 5 e 6. Rio de Janeiro, set. e out. de 1933, p. 29. , que segue: “Alli appareceram os desenhos das crianças e dos loucos com uma espontaneidade absoluta, e um completo desinteresse pelas fórmas rigidas da arte acadêmica”. Dez anos depois da Semana de Arte Moderna, o “Mês” contribui para consolidar o movimento instaurado pelos artistas modernos brasileiros em 1922.

O evento parece ter sido considerado pelos jornais da época como sucesso absoluto: “todo esse movimento é algo de novo, de original e de brilhante em nossa terra quieta e morna, em nossa vida mansa de intelectuais de província”48 48 .Desenhos de crianças em paredes. In: Jornal do Estado, São Paulo, 12 de set. de 1933, s/p. . Podemos dizer que tamanho sucesso é decorrente também da atmosfera do período: a população paulistana ansiava por novidades, já que “exposições desta natureza são um tanto raras entre nós”49 49 .In: Folha da Noite, op. cit., p. 4. . Desse modo, coube ao CAM perceber a relevância do tema e colocá-lo em pauta no instante certeiro, como observamos adiante, na mesma página:

este programa da [sic] c.a.m. revela-nos as ótimas condições de espirito dos seus sócios artistas em relação ao publico, com quem deseja estar em permanente contáto, facilitando-lhe o direito de crítica imediata, mantendo acessa a atenção dos ouvintes, que é a melhor forma de instruí-los facilitando-lhes o cultivo da dialética.

Na maior parte dos jornais, as reportagens revelam curiosidade e não rejeição. O tom é primordialmente positivo em praticamente todas as notícias impressas; pode ser visualizado no jornal Diário de São Paulo50 50 .Psychanalise dos desenhos dos doentes mentaes. In: Diário de São Paulo, São Paulo, 20 de set. de 1933, p. 5. , o qual noticiava que:

o Clube dos Artistas Modernos iniciou no mês passado um movimento cultural que vem despertando interesse nos meios scientificos e artisticos desta capital. Através a [sic] palavra de conferencistas escolhidos entre os nomes de evidencia na arte, na sciencia, têm sido postos em fóco varios problemas de actualidade e cujos aspectos principaes vêm sendo analysados de modo a suscitar o interesse com que se vem acompanhando a iniciativa do C.A.M.

Nas reportagens, transparece o compromisso dos organizadores com relação à educação do público paulistano, no sentido de elevar o nível cultural de uma sociedade formada por pessoas “a quem sempre faltaram todos os recursos de instrução”51 51 .Club dos artistas modernos. In: Base: revista de arte, técnica e pensamento, n. 2. Rio de Janeiro, set. de 1933, p. 48. ; tanto com relação à preocupação em divulgar metodologias de ensino de arte para crianças, nas quais fossem respeitadas a sua imaginação criadora, quanto na apresentação de novos diálogos com a produção expressiva do doente mental.

Os participantes do evento deram continuidade às suas pesquisas e atividades relacionadas ao campo da psicologia e arte. Vários artistas visitaram o Juqueri para conhecer os trabalhos ali desenvolvidos com os internos. Outros organizaram encontros de discussão em que artistas e profissionais de psiquiatria pudessem trocar ideias.

No ano de 1942, Osório Cesar volta a cogitar a possibilidade de contracenar produções de crianças e produções de pacientes psiquiátricos – selecionados pelo psiquiatra dentre as peças de sua coleção particular e de outros médicos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Entretanto, Heloisa Ferraz acredita que os salões não foram realizados.

Flávio de Carvalho, por sua vez, continuou interessado nas temáticas focalizadas no “Mês”. Visitou o Juqueri em 1937 buscando determinar a visão de mundo dos alienados, que lhe serviria, mais tarde, para a sua comunicação no primeiro dos dois Salões de Maio ocorridos na época52 52 .LEITE, Rui Moreira. Flávio de Carvalho: o artista total. São Paulo: Senac, 2008, p. 142. ; Flávio de Carvalho participou com uma palestra no primeiro Salão, em 1937, com o assunto O aspecto mórbido e psicológico da arte moderna, e Vera Vicente de Azevedo apresentou uma fala sobre Interpretação da arte pela psicologia moderna53 53 .ALMEIDA, Paulo Mendes de. Op. cit., p. 89. . Segundo Leite54 54 .LEITE, Rui Moreira. Op. cit., p. 180. , a conferência de Flávio de Carvalho foi comentada pela imprensa carioca e apresentada pelo artista no II Congres d’Esthetique et Science de l’Art, em Paris, 1937. No segundo Salão de Maio, em 1938, ocorreu a conferência do Dr. Durval Marcondes. E em 1941, Flávio de Carvalho, por meio do estudo de sua coleção de desenhos de crianças, apresentou a palestra intitulada A Percepção da Criança durante a exposição de pintura e desenhos de escolares da Grã-Bretanha, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo.

Já Lasar Segall, certamente a convite de Osório Cesar, visitou o Hospital do Juqueri em 1942, e como resultado produziu uma série de desenhos em bico-de-pena, nos quais retratava a dramaticidade dos doentes nos ambulatórios do manicômio55 55 .ARAÚJO, Tavares de; MORETSOHN, Maria Ângela Gomes; NOSEK, Leopold (org.), Brasil, psicanálise e modernismo. São Paulo: MASP, 2000. .

O “Mês das Crianças e dos Loucos” foi o responsável pela abertura de novas frentes ligadas à divulgação dos trabalhos com/de doentes mentais, que passaram a compor a paisagem brasileira, ganhando repercussão também no cenário internacional. Como vimos, tem-se uma intensa e constante perpetuação de divulgação e discussão tanto dos trabalhos dos loucos quanto das crianças. Tal movimento se evidencia nas iniciativas e desdobramentos das ações de Flávio de Carvalho e também nas propostas de Osório Cesar, que, no ano de 1951, levou parte da coleção do Hospital do Juqueri para o exterior, para compor a Exposição de Arte Psicopatológica do I Congresso Internacional de Psiquiatria de Paris.

Novos olhares: abertura de espaços de debates sobre arte, educação e psicologia

O “Mês das Crianças e dos Loucos” teve uma grande relevância para cenário cultural de São Paulo no início da década de 1930, ao consolidar a interlocução entre os campos da arte e psicologia nas figuras de Flávio de Carvalho e Osório Cesar. O evento pode ser reputado como um dos importantes ecos brasileiros do movimento internacional por um crescente interesse pela expressão espontânea e original da alteridade, pela tentativa de retorno ao princípio, engendrada, primordialmente, por alguns artistas mobilizados pelas rupturas plásticas.

Por uma questão de busca de nova plasticidade, alguns artistas sentiram a necessidade de voltar para onde tudo começou, de romper com as tradições vigentes e reinventar o mundo das imagens. Vários artistas importantes da Europa passaram a recuperar os desenhos produzidos durante suas infâncias, a produção de seus filhos, os desenhos de filhos de amigos, de alunos aos quais davam aula de arte e de escolares. O mesmo interesse aconteceu com relação aos trabalhos plásticos dos loucos: estudos foram realizados e coleções foram organizadas tanto por pesquisadores quanto por artistas. A grande repercussão alcançada por estes trabalhos e também por seus autores, a partir da publicação de Prinzhorn, Bildernei der Geisteskranken56 56 .PRINZHORN, H. Bildernei der Geisteskranken. Berlim: Springer-Uerlag Wien, 1922. , em 1922, também chegou ao Brasil, de maneira direta ou indireta.

O “Mês das Crianças e dos Loucos” foi um marco, um acontecimento constituinte da paisagem brasileira nas primeiras décadas do século XX; funcionou como catalisador entre escritores, artistas, educadores, críticos de arte e psicanalistas que dele participaram, por sua atitude de valorização e incentivo às produções plásticas de crianças e de loucos. Foi a primeira entre várias iniciativas paulistanas posteriores em que se buscou promover espaços de criação e de exposição de trabalhos de crianças e também de pacientes psiquiátricos. O evento promoveu ainda uma ampla oportunidade de discussão do tema em São Paulo, dissipando, para alguns, o estranhamento provocado quando se chamava de arte as inquietantes imagens produzidas fora dos ambientes consagrados.

É sabido que este tipo de exposição exerceu papel singular no cenário internacional nas primeiras décadas do século XX, pois mobilizava a atenção do público, sendo capaz de incitar discussões e até de incentivar a organização de novas coleções. O evento possuiu grande mérito, pois, ao aproximar os trabalhos plásticos destas duas fontes – infância e loucura – com uma “espontaneidade absoluta” e totalmente desinteressadas pelas regras da academia de Belas-Artes, focalizou a sua importância e questionou algumas posturas comuns à época. As discussões e questionamentos gerados pelo evento colocaram em pauta as implicações pedagógicas do ensino de arte na escola e a promoção da arte entre os loucos, apresentando uma visão de ensino de arte que não tolhesse a criatividade e a imaginação.

Cabe destacar mais uma vez o papel de duas figuras marcantes, Flávio de Carvalho e Osório Cesar, na organização do evento – os quais materializaram a conexão estabelecida entre a arte e a psicologia com o sistema cultural, pedagógico e, também, científico. Ambos souberam atuar de maneira particular em áreas afins, alinhavando o trânsito entre elas: Flávio de Carvalho (assim como outros artistas) visitando as dependências do Hospital do Juqueri para conhecer de perto o trabalho ligado à prática artística que Osório Cesar realizava com os internos, bem como as produções plásticas por eles desenvolvidas. Osório Cesar trilhando os caminhos da arte em seus estudos e práticas, desenvolvidos a partir de leituras de obras estrangeiras, principalmente alemãs e francesas. Assim, por intermédio de suas das experiências e ações, construíram condições para embasar e estruturar o evento (auxiliados pela presença dos maiores vultos brasileiros da área na época, que proferiram as conferências) que, de fato, repercutiu olhares dirigidos à criança e ao louco.

O evento abriu novos espaços de atuação, de divulgação e mesmo de debate – ampliando o diálogo no Brasil –, tanto para os trabalhos de/com doentes mentais, quanto para aqueles voltados às reformas educacionais no campo das artes. Esse pensamento pode ser confirmado ao observarmos uma continuidade nos trabalhos de Flávio de Carvalho e Osório Cesar, que permaneceram pesquisando e publicando na intersecção arte e psicologia. Outras personalidades se agregaram aos esforços de conhecer o pensamento plástico da criança, como Mário de Andrade, que colecionou desenhos infantis e imagens do inconsciente do louco, e Nise da Silveira, no Rio de Janeiro, vários anos mais tarde.

Ligados ao movimento modernista e intelectual paulista, Osório Cesar e Flávio de Carvalho foram capazes de promover, por meio do “Mês das Crianças e dos Loucos”, articulações entre os campos da arte, psicologia e educação, e fomentaram uma atmosfera de grandes transições, especulação e novas possibilidades.


Fernando Lemos, luz teimosia, impressão fotográfica, 1949.

Bibliografia complementar

  • Club dos Artistas Modernos. In: Base: Revista de arte, técnica e pensamento, n. 1, p. 24, ago. 1933.
  • Psychanalyse dos desenhos dos doentes mentaes. In: Folha da Manhã São Paulo, 20 de set. de 1933, p. 14.
  • TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Flávio de Carvalho: o grande contestador. Campinas, 1983. (Manuscrito não publicado concedido às pesquisadoras pela própria autora).
  • 1
    .FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte e loucura: limites do imprevisível. São Paulo: Lemos Editorial, 1998, p. 35.
  • 2
    .Cf. SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • 3
    .FERRAZ, Maria Heloísa C. de T e FUSARI, Maria F. de Rezende e. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
  • 4
    .ANDRADE apud COUTINHO, Rejane Galvão. A coleção de desenhos infantis do acervo Mário de Andrade. Tese de doutorado. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 63. Conservamos na forma mais fiel possível o discurso dos agentes com a grafia usual da época.
  • 5
    .Ibidem, p. 65.
  • 6
    . BARBOSA, Ana Mae. Arte Educação no Brasil: do Modernismo ao Pós-Modernismo. Disponível em: «http://www.revista.art.br/site-numero-00/anamae.htm ». Acesso em: junho de 2010.
  • 7
    . BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação: conflitos/acertos. São Paulo: Max Limonad, 1985, p. 14.
  • 8
    . A coleção de desenhos hoje se encontra no Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB-USP), acondicionada em 16 caixas, disponíveis para consulta.
  • 9
    . Percebeu-se que a produção resultante do concurso de desenhos indicava muito mais o estado de aprendizagem do desenho das crianças do que um exercício de liberdade de expressão. Isso porque desenhar para um concurso é bem diferente de desenhar entre amigos ou por prazer: uma situação de competição acaba induzindo a criança a recorrer a esquemas pré-estabelecidos e aprendidos em aula, pois seriam mais facilmente aceitos, tolhendo as tentativas de criação e pesquisa.
  • 10
    .Cf. FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Op. cit., 1998.
  • 11
    .Ibidem, p. 56.
  • 12
    .Ibidem, p. 38.
  • 13
    .Ibidem, p. 40.
  • 14
    .TOLEDO, J. Flávio de Carvalho: o comedor de emoções. São Paulo: Brasiliense e Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1994, p. 87.
  • 15
    .TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Flávio de Carvalho: homenagem ao 10º aniversário de sua morte. Campinas: Academia Campinense de Letras, 1983, p. 70.
  • 16
    .Op. cit., 1994.
  • 17
    . FERNANDES, Alexandre. Flávio de Carvalho sem experiências. In: Jornal de Letras, Rio de Janeiro, jan. 1958, s/p.
  • 18
    .ZANINI, Walter. A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena. São Paulo: Nobel/Editora da Universidade de São Paulo, 1991, p. 38.
  • 19
    .CARVALHO, Flávio de. Recordação do clube dos artistas modernos. In: RASM: Revista Anual do Salão de Maio. São Paulo, 1939, s/p.
  • 20
    . ZANINI, Walter. Op. cit., p. 38.
  • 21
    .CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p.
  • 22
    .Estudo comparativo entre a arte de vanguarda e a arte dos alienados. In: Folha da Noite, São Paulo, 29 de ago. de 1933, p. 14.
  • 23
    .Lê-se CAM – provavelmente uma confusão do jornalista!
  • 24
    .Está aberta a exposição de desenhos de crianças e de alienados, no C.A.M. In: Diário da Noite, São Paulo, 30 de ago. de 1933, p. 2.
  • 25
    .FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Op. cit., 1998, p. 45.
  • 26
    .A curiosa exposição de trabalhos artisticos de loucos e crianças no clube dos artistas modernos. Correio de São Paulo, 7 de set. de 1933,, p. 6.
  • 27
    .Cf. FINEBERG, Jonathan. The innocent eye: children’s art and the modern artist. Princeton: Princeton University Press, 1997.
  • 28
    .Crianças-artistas, doidos-artistas. In: Rumo, n. 5 e 6,,Rio de Janeiro, set/out. 1933, p. 29.
  • 29
    .Ibidem.
  • 30
    . Club dos artistas modernos: um laboratório de experiências para a arte moderna. In: Idem, n. 4, ago. de 1933, p. 16.
  • 31
    . Durante a pesquisa, não obtivemos informações a respeito do tipo de projeção utilizada (epidiascópio, slides ou diapositivos).
  • 32
    . Toledo, J. Op. cit., p. 165.
  • 33
    . Crianças-artistas, doidos-artistas. In: Rumo, op. cit., p. 29.
  • 34
    . O mez dos alienados e das creanças no C.A.M. In: Diário da Noite, São Paulo, 31 de ago. de 1933, s/p.
  • 35
    . A conferência do Dr. Osório Cesar foi publicada em 1934 com o titulo “A arte nos loucos e vanguardistas”; a conferência do Dr. Durval Marcondes foi publicada em 1933, na Revista da Associação Paulista de Medicina, com o título “A psicanálise dos desenhos dos psicopatas”; e a conferência proferida pelo Dr. A. C. Pacheco e Silva foi publicada posteriormente, no ano de 1936, no periódico Problemas de Higiene Mental. Todos os três periódicos foram adquiridos pela pesquisadora por meio da reserva técnica concedida pela FAPESP.
  • 36
    . ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. Perspectiva: São Paulo, 1976, p. 78.
  • 37
    .SANGIRARDI, Junior. Flávio de Carvalho: o revolucionário romântico. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1985, p. 39.
  • 38
    . CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p.
  • 39
    . Cf. CESAR, Osório. A expressão artística nos alienados: contribuição para o estudo dos symbolos na arte. São Paulo: Oficinas Gráficas do Hospital do Juqueri, 1929.
  • 40
    .Cf. CESAR, Osório. A expressão artística nos alienados: contribuição para o estudo dos symbolos na arte. São Paulo: Oficinas Gráficas do Hospital do Juqueri, 1929.
  • 41
    .Cf. MARCONDES, Durval. A psicanálise dos desenhos dos psicopatas. In: Revista da Associação Paulista de Medicina, n. 4, v. 3. São Paulo, out. de 1933, p. 175-182.
  • 42
    .FERRAZ, Maria Heloísa C. de Toledo. O Pioneirismo de Osório Cesar. In: Arte e inconsciente: três visões sobre o Juquery. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002, p. 17.
  • 43
    .TOLEDO, Maria Conceição Arruda. Op. cit., 1983, p. 41-42.
  • 44
    .Desenhos de loucos e creanças. In: A Platéa, São Paulo, 20 de jul. de 1933, p. 3.
  • 45
    .Em alguns casos, é evidente que as incompatibilidades quanto ao nome do palestrante e de sua conferência são decorrentes de erros de digitação.
  • 46
    .CARVALHO, Flávio de. Op. cit., s/p.
  • 47
    .In: Rumo, n. 5 e 6. Rio de Janeiro, set. e out. de 1933, p. 29.
  • 48
    .Desenhos de crianças em paredes. In: Jornal do Estado, São Paulo, 12 de set. de 1933, s/p.
  • 49
    .In: Folha da Noite, op. cit., p. 4.
  • 50
    .Psychanalise dos desenhos dos doentes mentaes. In: Diário de São Paulo, São Paulo, 20 de set. de 1933, p. 5.
  • 51
    .Club dos artistas modernos. In: Base: revista de arte, técnica e pensamento, n. 2. Rio de Janeiro, set. de 1933, p. 48.
  • 52
    .LEITE, Rui Moreira. Flávio de Carvalho: o artista total. São Paulo: Senac, 2008, p. 142.
  • 53
    .ALMEIDA, Paulo Mendes de. Op. cit., p. 89.
  • 54
    .LEITE, Rui Moreira. Op. cit., p. 180.
  • 55
    .ARAÚJO, Tavares de; MORETSOHN, Maria Ângela Gomes; NOSEK, Leopold (org.), Brasil, psicanálise e modernismo. São Paulo: MASP, 2000.
  • 56
    .PRINZHORN, H. Bildernei der Geisteskranken. Berlim: Springer-Uerlag Wien, 1922.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Dec 2013

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2013
  • Aceito
    28 Jun 2013
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