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Introdução

Introdução

O leitor tem nas mãos uma edição especial. Ordinariamente, entende-se "especial" em relação à temática ordinária da revista, definida em suas orientações editoriais. Esta edição, contudo, é especial também porque se origina de um "encontro temático" da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (Anpad), o I Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (I EnEPQ), realizado em Recife - PE, de 21 a 23 de novembro de 2007. Sobre um elenco de 15 temas, o EnEPQ fez chamada de trabalhos, dos quais selecionou um quarto, agrupando-os em cinco linhas temáticas. E foi da quinta dessas linhas, "Problemas e Soluções em Metodologia de Pesquisa", que se originou, por nova seleção entre os melhores, o elenco de sete artigos agora apresentados pela Revista de Administração Mackenzie - RAM. Algo assim especial merece ser especialmente introduzido, neste Editorial e, mais, ter uma atenção diferenciada do público leitor ou pesquisador da RAM.

Todo pesquisador experiente em ciências humanas e sociais - e, por falta de taxionomia melhor, aí se costuma colocar a administração - sabe que, muito cedo no desenvolvimento de sua carreira, o ofício não mais se aprende nos manuais de metodologia. Estes registram procedimentos formais, alguns transformados em técnicas, que a prática repetida em certas situações tem sedimentado, e tentam sistematizações amplas que justifiquem e ajustem a prática corrente. Os autores dos manuais fazem isso pensando que seu trabalho sirva de introdução aos que se iniciam na profissão ou de referência e consulta eventual, para os demais. Fora desses limites, a maneira como a sistematização nos manuais mostra o método corre sério perigo de ser deformante ou irreal. Deformante porque pesquisa é, essencialmente, criação disciplinada de conhecimento, e irreal porque, de fato, na prática, restam mil dúvidas e opções, e o pesquisador sente que é ele próprio que tem de conduzir as coisas. Aos poucos descobrirá problemas de método, em aberto e sempre recorrentes. As soluções não se reduzem a cumprir procedimentos técnicos - seria recomeçar o caminho da dificuldade -, mas a criação delas pode ser bem condicionada, pois muito se pode saber, por estudos e análises, dos "problemas abertos" de método, para onde a dificuldade converge.

Foi sobre questões abertas de metodologia de pesquisa que os autores dos sete artigos desta edição especial se debruçaram, e isso pode ser visto como um fio condutor à sua unidade. A um simples lançar de olhos sobre o Sumário deste número, o leitor perceberá, no entanto, sentidos em que os temas parecem abrir pistas divergentes. Claro, não houve hipotética "reunião preparatória dos autores", nem acordo deles em torno de uma linha temática mais ou menos lógica, como na edição coletiva de um livro, sob a coordenação de editores. Trata-se aqui de algo como uma amostra - retirada, porém, por mão inteligente, ou seja, instruída por "plano amostral", de um conjunto que teve homogeneidade de origem (explicada anteriormente). Espera-se que o elenco aqui apresentado tenha a coerência superior da estética - essa beleza que se atribui aos mosaicos.

Há três conjuntos de textos articulando a unidade deste número da RAM. No primeiro deles, dois artigos se voltam para a atividade editorial de publicação da produção científica em administração, hoje já bastante desenvolvida. Inicialmente, em olhar objetivo, um ilustrativo "mapa de características", números importantes, mesmo que só das quatro revistas mais tradicionais da área e cobrindo apenas cinco anos (2002-2006); o segundo artigo toma o ponto de vista de editores e revisores de periódicos internacionais que sugerem aos autores brasileiros motivos do alto índice de rejeição de seus trabalhos naqueles veículos de publicação. Eis aí uma contribuição oportuna.

O segundo conjunto expõe dois pólos opostos em que se apóiam as práticas de pesquisa: o das crenças epistemológicas e o dos instrumentos de trabalho. Sobre o primeiro deles, a concepção construtivista do conhecimento (como entendida por Le Moigne) é sugerida, para a área de estratégia, como preferível entre as epistemologias correntes, sobretudo a interpretativista e a positivista. O segundo pólo, o dos instrumentos de trabalho, está centrado no uso dos softwares criados para auxiliar na análise de dados qualitativos (CAQDAS), sendo então apresentadas razões a favor, algumas críticas, e uma resenha de pesquisas em que tais ferramentas foram decisivas para viabilizar a análise da massa de dados.

Nas últimas décadas, muitos estudos na área de administração têm sentido a inadequação de se expressarem na linguagem dos números e das relações matemáticas, sendo esse o caso do marketing de relacionamento com o consumidor (MRC), e foram à busca de estratégias de pesquisa como a etnografia e a grounded theory. O artigo que as propõe para o MRC é um dos dois que integram o terceiro conjunto de trabalhos nesta edição especial. O outro estuda o método dramatúrgico e a produção de imagens (fotografias, filmes ou vídeos) para entender o gerenciamento de impressões nas interações sociais, estratégias que têm enriquecido a pesquisa em organizações. Um caso, aí, ilustra a aplicação parcial do método.

Enfim, um último artigo volta, de certa forma, à perspectiva do primeiro conjunto (atividade de produção acadêmica) e exemplifica o uso do método bibliométrico, que, após apresentar seu objeto temático, o capital intelectual, mapeia, com abundância de números, as características da produção nacional sobre ele.

Assim está apresentada esta edição especial. Mas, se, de início, aqui foi referida sua origem institucional (o I EnEPQ), agora, ao final, não estaria ela esclarecida sem menção à iniciativa da Profª Arilda Godoy que, ainda durante o EnEPQ, fez os primeiros contatos com a coordenação do evento, logo apoiados pelo Prof. Moisés Zilber, então editor da RAM. Eles, o atual editor, Prof. Walter Bataglia, a Divisão EPQ da Anpad e, sobretudo, os autores dos sete artigos, todos fazem parte deste empreendimento acadêmico, sem dúvida especial.

Boa leitura!

Pedro Lincoln C. L. de Mattos

Coordenador da Divisão EPQ e do I EnEPQ da Anpad

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
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