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CAPACIDADE ABSORTIVA, INOVAÇÃO E FONTES EXTERNAS DE CONHECIMENTO: O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO1 1 Agradecemos o apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Companhia Enérgica de Minas Gerais (Cemig).

RESUMO

Objetivo:

Este artigo discute a relação entre capacidade absortiva, fontes externas de conhecimento e inovação no contexto do setor elétrico. Essa discussão guia-se pelo debate teórico sobre as dimensões da capacidade absortiva. Testou-se o construto da capacidade absortiva de Zahra e George (2002), identificando se suas dimensões encontravam suporte na realidade. Consideraram-se também as influências das fontes externas de conhecimentos científico e industrial.

Originalidade/valor:

O construto de Zahra e George (2002) iniciou o debate sobre as dimensões da capacidade absortiva e se disseminou na literatura. Entretanto, tal modelo tem sido pouco testado, permanecendo o gap de pesquisa relativo à validação do construto. Esta pesquisa contribuiu para diminuir esse gap, testando o construto de Zahra e George no contexto de uma empresa brasileira.

Design/metodologia/abordagem:

A metodologia da pesquisa foi quantitativa, em que se aplicou um questionário a um universo de 402 empresas industriais. Utilizaram-se técnicas estatísticas multivariadas com o modelo estrutural testado pelo Partial Least Squares (PLS).

Resultados:

O construto de Zahra e George (2002) foi respaldado, assim como as relações dos tipos das fontes de conhecimentos relacionadas. Concluiu-se que a capacidade absortiva é contingente aos tipos de conhecimento externo.

PALAVRAS-CHAVE:
Capacidade absortiva; Inovação; Fontes externas de conhecimento; Conhecimentos científico e industrial; Setor elétrico.

ABSTRACT

Purpose:

This paper discusses the relationship between absorptive capacity, external sources of knowledge, and innovation in the context of the power sector. In doing so, we follow the theoretical debate over absorptive capacity dimensions. We focus on the statistical testing of Zahra and George’s (2002) absorptive capacity construct to identify whether their dimensions find support in reality. We consider that the external environment encompasses both scientific and industrial sources of knowledge, which influence absorptive capacity.

Originality/value:

Zahra and George’s (2002) model initiated the debate of the absorptive capacity dimensions, and it is disseminated in literature. However, it is poorly tested. There is still a research gap related to the empirical validation stage of the absorptive capacity construct itself. Our research tries to decrease this gap, testing Zahra and George’s (2002) absorptive capacity construct in a Brazilian company’s context.

Design/methodology/approach:

The research design was quantitative. A survey was applied to 402 industrial firms. We used multivariate sta tistical techniques and the structural models were tested by Partial Least Squares (PLS).

Findings:

Zahra and George’s (2002) construct of absorptive capacity was proved, and innovation, as well as the external sources types of knowledge, are related to it. The absorptive capacity is contingent on types of external knowledge.

KEYWORDS:
Absorptive capacity; Innovation; External sources of knowledge; Scientific and industrial knowledge; Power sector.

1. INTRODUÇÃO

As pesquisas em inovação têm crescido no campo dos estudos gerenciais que focam os processos de aprendizado e capacidades dinâmicas (Horvat, Dreher, & Som, 2019Horvat, D., Dreher, C., & Som, O. (2019). How firms absorb external knowledge modeling and managing the absorptive capacity process. International Journal of Innovation Management, 23(1), 1-35. doi: 10.1142/S1363919619 500415
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). Esses estudos reconhecem as firmas como lugares criadores de conhecimento, cujas interfaces com o ambiente (Tortoriello, 2015Tortoriello, M. (2015). The social underpinnings of absorptive capacity: The moderating effects of structural holes on innovation generation based on external knowledge. Strategic Management Journal, 36(4), 586-597. doi: 10. 1002/smj.2228
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), seus ativos internos e mecanismos influenciam a inovação (Jeong-Duk & Ji-Hoon, 2017Jeong-Duk, C., & Ji-Hoon, P. (2017). The performance effect of two different dimensions of absorptive capacity and moderating role of holding-cash. Technology Analysis & Strategic Management, 29(9), 1033-1047. doi: 10.1080/09537325.2016.1268681
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). Difunde-se a concepção de que o desenvolvimento da inovação é relacionado à capacidade absortiva (absorptive capacity - Acap) (Limaj & Bernroider, 2019Limaj, E., & Bernroider, E. W. N. (2019). The roles of absorptive capacity and cultural balance for exploratory and exploitative innovation in SMEs. Journal of Business Research, 94(1), 137-153. doi: 10.1016/j.jbusres.2017. 10.052
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).

O conceito de Acap foi disseminado nos artigos de Cohen e Levinthal (1990)Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi: 10.2307/2393553
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, os quais definem a Acap como a habilidade das empresas de absorver novos conhecimentos externos e aplicá-los a fins comerciais. Essa ideia floresceu na literatura estrangeira e foi incorporada pelos estudos acadêmicos brasileiros (Rossetto, Carvalho, Ferreira, & Pery, 2019Rossetto, C. R., Carvalho, C. E., Ferreira, G. C., Pery, C. D. (2019). Capacidade de absorção: O papel do conhecimento na estratégia organizacional. Revista de Administração Mackenzie, 20(6), 1-12. doi: 10.1590/1678-6971/eramd190182
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). Diferentes cor rentes de pesquisa passaram a adotar o conceito de Acap (Song, Gnyawali, Srivastava, & Asgari, 2018Song, Y., Gnyawali, D. R., Srivastava, M. K., & Asgari, E. (2018). In search of precision in absorptive capacity research: A synthesis of the literature and consolidation of findings. Journal of Management, 44(6), 2343-2374. doi: 10.1177/0149206318773861
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). Como consequência, modelos teóricos contrastantes surgiram e passaram a disputar posições de racionalidade científica e acurácia (Maldonado, Salaiz, Vera, & Keller, 2018Maldonado, T., Salaiz, A., Vera, D., & Keller, R. T. (2018). Taking stock of the absorptive capacity construct and its dimensions in the context of tech nological innovation: A meta-analytic approach. IEEE Transactions on Engineering Management, 66(2), 193-207. doi:10.1109/TEM.2018.2817388
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).

Se, por um lado, a variedade desses modelos enriquece a discussão, cria, por outro, obstáculos para o discernimento acadêmico (Volberda, Foss, & Lyles, 2010Volberda, H. W., Foss, N. J., & Lyles, M. A. (2010). Absorbing the concept of absorptive capacity: How to realize its potential in the organization field. Organization Science, 21(4), 931-951. doi: 10.1287/orsc.1090.0503
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). Diferentes modelos teóricos implicam maiores dificuldades para se entender a evolução da literatura e qual é o modelo mais adequado para ser aplicado na realidade da gestão. Em particular, dois aspectos são pouco compreendidos na literatura. Um deles diz respeito às dimensões e aos processos que envolvem a Acap (Patterson & Ambrosini, 2015Patterson, W., & Ambrosini, V. (2015). Configuring absorptive capacity as a key process for research intensive firms. Technovation, 36, 77-89. doi: 10. 1016/j.technovation.2014.10.003
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), e o outro refere-se a quão intercambiáveis são os seus antecedentes, mecanismos e resultados (Chaudhary & Batra, 2018Chaudhary, S., & Batra, S. (2018). Proposing a sequential operationalization of absorptive capacity. Measuring Business Excellence, 22(1), 64-74. doi: 10.11 08/MBE-04-2017-0014
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).

No debate sobre as dimensões da Acap, sobressaem dois pares de autores. De um lado, há Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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e, de outro, Todorova e Durisin (2007)Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-787. doi: 10.54 65/amr.2007.25275513
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. Os primeiros propõem que a Acap compreende as dimensões potencial (Pacap) e realizada (Racap), os últimos rejeitam essa separação. Com um tom provocativo, Todorova e Durisin (2007) advogam que a divisão da Acap em dimensões é um procedimento artificial. Diferentemente de Zahra e George (2002), esses autores também afirmam que os processos de transformação são alternativos aos processos de assimilação. Eles explicam que novas estruturas cognitivas só surgem quando ideias não podem ser ajustadas às já existentes. De acordo com Todorova e Durisin (2007, p. 778), “empresas transformam seu conhecimento quando conhecimentos não podem ser assimilados”. Na perspectiva desses autores, a dimensão potencial da capacidade absortiva é conceitualmente um erro porque, se o conhecimento é absorvido, ele não pode ser transformado e vice-versa. Por isso, advoga-se que absorção e transformação são processos alternativos.

Embora esse debate seja importante na literatura (Ebers & Maurer, 2014Ebers, M., & Maurer, I. (2014). Connections count: How relational embeddedness and relational empowerment foster absorptive capacity. Research Policy, 43(2), 318-332. doi: 10.1016/j.respol.2013.10.017
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), poucos estudos se endereçaram à validação estatística das dimensões da Acap (Chaudhary & Batra, 2018Chaudhary, S., & Batra, S. (2018). Proposing a sequential operationalization of absorptive capacity. Measuring Business Excellence, 22(1), 64-74. doi: 10.11 08/MBE-04-2017-0014
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). Além disso, as medidas existentes não distinguem tais dimensões (Flatten, Engelen, Zahra, & Brettel, 2011Flatten, T. C., Engelen, A., Zahra, S. A., & Brettel, M. (2011). A measure of absorptive capacity: Scale development and validation. European Management Journal, 29(2), 98-116. doi: 10.1016/j.emj.2010.11.002
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). No nível teórico, tais ambiguidades podem conduzir a tautologias. Se medidas de Acap permanecem confusas, não somos capazes de mensurá-la (Mikhailov & Reichert, 2019Mikhailov, A., & Reichert, F. M. (2019). Influência da capacidade absortiva sobre inovação: Uma revisão sistemática de literatura. Revista de Administração Mackenzie, 20(6), 1-27. doi: 10.1590/1678-6971/eramd190033
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). Logo, no nível prático, não podemos diagnosticar a Acap das empresas, nem propor intervenções para alcançá-la. Nesse sentido, as teorias sobre Acap tornam-se duvidosas, e a empresas ficam vulneráveis na gestão de suas capacidades (Maldonado et al., 2018Maldonado, T., Salaiz, A., Vera, D., & Keller, R. T. (2018). Taking stock of the absorptive capacity construct and its dimensions in the context of tech nological innovation: A meta-analytic approach. IEEE Transactions on Engineering Management, 66(2), 193-207. doi:10.1109/TEM.2018.2817388
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).

Levando em consideração esses obstáculos, alguns autores buscam superá-los, defendendo um enquadramento teórico unificado. Lane, Koka e Pathak (2006)Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi: 10.5465/amr.2006.22527456
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recuperam o significado da Acap focando o construto propriamente dito. Já Volberda et al. (2010)Volberda, H. W., Foss, N. J., & Lyles, M. A. (2010). Absorbing the concept of absorptive capacity: How to realize its potential in the organization field. Organization Science, 21(4), 931-951. doi: 10.1287/orsc.1090.0503
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mostram como teorias desenvolvem o campo da Acap. Embora esses autores representem esforços para acumular conhecimento no domínio teórico da Acap, há ainda lacuna de pesquisa relacionada à validação empírica do construto (Apriliyanti & Alon, 2017Apriliyanti, I. D., & Alon, I. (2017). Bibliometric analysis of absorptive capacity. International Business Review, 26(5), 896-907. doi:10.1016/j.ibusrev. 2017.02.007
10.1016/j.ibusrev. 2017.02.007...
). Nossa pesquisa é uma tentativa de contribuir para preencher tal lacuna.

Argumentamos que quanto mais um construto é validado, mais poderoso ele se torna para explicar a realidade. A literatura avança se o número de testes empíricos sobre Acap aumenta. Portanto, mapeamos a validação empírica dos modelos de Acap e suas relações com as fontes de conhecimento. Particularmente, focamos o teste estatístico do construto de Acap de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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para identificar se seus processos encontram respaldo no desenvolvimento da realidade de inovação e como eles são mensu rados. O estudo de Zahra e George (2002) foi escolhido por três razões. Primeiro, esse construto é um marco na discussão processual da Acap, entendida como capacidade dinâmica (Horvat et al., 2019Horvat, D., Dreher, C., & Som, O. (2019). How firms absorb external knowledge modeling and managing the absorptive capacity process. International Journal of Innovation Management, 23(1), 1-35. doi: 10.1142/S1363919619 500415
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). Segundo, as ideias de Zahra e George (2002) inspiraram um vibrante fluxo de pesquisa que objetiva aumentar a compreensão de como as empresas usam o conhecimento externo para inovar (Jiménez-Barrionuevo, García-Morales, & Molina, 2011Jiménez-Barrionuevo, M. M., García-Morales, V. J., & Molina, L. M. (2011). Validation of an instrument to measure absorptive capacity. Technovation, 31(5-6), 190-202. doi: 10.1016/j.technovation.2010.12.002
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). Terceiro, há uma escassez de pesquisas que testam a Acap em diferentes contextos institucionais (Adams, Flatten, Brinkmann, & Brettel, 2016Adams, D. R., Flatten, T. C., Brinkmann, H., & Brettel, M. (2016). Consequences and antecedents of absorptive capacity in a cross-cultural context. International Journal of Innovation Management, 20(1), 1-39. doi: 10.1142/S1363919616500031
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).

A partir desses argumentos, consideramos que o ambiente externo contém fontes de conhecimentos científico e industrial, os quais influenciam a Acap (Vega-Jurado, Gutiérrez-Gracia, & Fernández-de-Lucio, 2008Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
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). Em particular, acredita-se que tal capacidade desenvolva-se conforme o tipo de conhecimento (Murovec & Prodan, 2009Murovec, N., & Prodan, I. (2009). Absorptive capacity, its determinants, and influence on innovation output: Cross-cultural validation of the structural model. Technovation, 29(12), 859-872. doi: 10.1016/j.technovation.2009. 05.010
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). Então, nossa pesquisa possui duas indagações:

  • Em que extensão o construto de Acap defendido pelos autores Zahra e George (2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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    ) é válido no contexto do setor brasileiro de energia elétrica?

  • A Acap relaciona-se às fontes de conhecimentos científico e industrial?

Para respondermos a essas questões, levantamos as pesquisas empíricas que seguiram as contribuições de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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e identificamos quatro hipóteses pouco testadas no que diz respeito ao construto Acap e às fontes externas de conhecimento. Testadas as hipóteses, os resultados mostram que as dimensões específicas de Acap devem ser medidas distinguindo recursos de mecanismos de Acap. Assim sendo, nossa principal contribuição é mostrar como a literatura evolui para alcançar um referencial integrado sobre Acap. Mostram-se também a aderência do construto teórico de Zahra e George (2002) a um setor econômico específico e as influências das fontes externas de conhecimento na Acap.

O artigo foi organizado em seis seções. Após esta introdução, a segunda seção apresenta o referencial teórico. Em primeiro lugar, examinamos aqueles estudos que focaram o significado conceitual, bem como os que validaram medições do construto Acap. Em segundo lugar, com base nessa revisão, mostramos o quadro teórico que distingue a dimensão potencial da dimensão realizada da capacidade de absorção, identificando seus antecedentes, mecanismos e resultados. Além disso, identificamos as fontes de conhecimento externo que podem ser absorvidas pelas organizações. Na terceira seção, detalhamos a metodologia, bem como o teste de hipóteses no contexto do setor elétrico brasileiro. Na quarta e quinta seções, respectivamente, os dados são apresentados e discutimos seus resultados. Finalmente, concluímos e sugerimos novas pesquisas para enriquecer o debate sobre a Acap.

2. REVISÃO TEÓRICA E HIPÓTESES

O conhecimento é considerado um dos mais importantes recursos na inovação. Essa constatação simples e poderosa é embasada em pesquisas, as quais sugerem que a inovação é relacionada à aprendizagem organizacional. O conceito de Acap tem sido bastante elucidativo para esse entendimento (Apriliyanti & Alon, 2017Apriliyanti, I. D., & Alon, I. (2017). Bibliometric analysis of absorptive capacity. International Business Review, 26(5), 896-907. doi:10.1016/j.ibusrev. 2017.02.007
10.1016/j.ibusrev. 2017.02.007...
). Cohen e Levinthal (1990)Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi: 10.2307/2393553
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definem a Acap como a habilidade das empresas de reconhecer, assimilar e aplicar conhecimento externo a fins comerciais, comparando essa habilidade às estruturas cogni tivas dos indivíduos (Aribi & Dupoüet, 2015Aribi, A., & Dupouët, O. (2015). The role of organizational and social capital in the firm’s absorptive capacity. Journal of Knowledge Management, 19(5), 987-1006. doi: 10.1108/JKM-05-2015-0169
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).

Aprender é associado àquilo que os indivíduos sabem. Quanto maior é o nível adquirido de educação, treinamento técnico e experiência em determinado domínio, mais fácil é absorver e transformar o conhecimento novo (Tian & Soo, 2018Tian, A. W., & Soo, C. (2018). Enriching individual absorptive capacity. Personnel Review, 47(5), 1116-1132. doi: 10.1108/PR-04-2017-0110
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). Em outras palavras, quanto mais os indivíduos sabem, mais eles estão preparados para absorver novos conhecimentos. Em tal discussão, o aprender fazendo não é condição suficiente para criar algo novo (Aribi & Dupoüet, 2015Aribi, A., & Dupouët, O. (2015). The role of organizational and social capital in the firm’s absorptive capacity. Journal of Knowledge Management, 19(5), 987-1006. doi: 10.1108/JKM-05-2015-0169
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). O conhecimento relevante inclui saber a tarefa técnica e como encontrar indivíduos e novas fontes complementares de inovação (Kim, Lee, & Kang 2018Kim, C., Lee, C., & Kang, J. (2018). Determinants of firm’s innovation-related external knowledge search strategy: The role of potential absorptive capacity and appropriability regime. International Journal of Innovation Management, 22(6), 1-32. doi: 10.1142/S1363919618500445
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). O conhecimento organizacional prévio advém dos empregados e é o primeiro antecedente diretamente associado ao desenvolvimento da Acap. Outro antecedente refere-se às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi: 10.2307/2393553
https://doi.org/10.2307/2393553...
). Elas aumentam a experiência para lidar com o desenvolvimento tecnológico, lançar outros produtos e registrar patentes. Firmas criam novos conhecimentos diretamente de suas atividades de P&D (Bagchi-Sen & Smith, 2014Bagchi-Sen, S., & Smith, H. L. (2014). Firm heterogeneity in biotech: Absorptive capacity, strategies and local-regional connections. European Planning Studies, 22(9), 1783-1801. doi: 10.1080/09654313.2013.801572
https://doi.org/10.1080/09654313.2013.80...
; Camisón & Forés, 2010Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi: 10.1016/j.jbusres.2009.04.022
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). Ressaltam-se dois aspectos: as características da força de trabalho e a estrutura organizacional.

Mecanismos internos também influenciam a Acap e envolvem as estruturas de comunicação (Ben-Menahem, Krogh, Erden, & Schneider, 2016Ben-Menahem, S. M., Krogh, G. von, Erden, Z., & Schneider, A. (2016). Coordinating knowledge creation in multidisciplinary teams: Evidence from early-stage drug discovery. Academy of Management Journal, 59(4), 1308-1338. doi: 10.5465/amj.2013.1214
https://doi.org/10.5465/amj.2013.1214...
). Para desenvolver Acap, canais internos devem ser capazes de capturar e disseminar informações relevantes dentro da empresa (Zhang, Zhao, & Lyles, 2018Zhang, M., Zhao, X., & Lyles, M. (2018). Effects of absorptive capacity, trust and information systems on product innovation. International Journal of Operations & Production Management, 38(2), 493-512. doi: 10.1108/IJOPM-11-2015-0687
https://doi.org/10.1108/IJOPM-11-2015-06...
). Linguagem e símbolos compartilhados garantem que conhecimentos sejam claramente distribuídos (Tian & Soo, 2018Tian, A. W., & Soo, C. (2018). Enriching individual absorptive capacity. Personnel Review, 47(5), 1116-1132. doi: 10.1108/PR-04-2017-0110
https://doi.org/10.1108/PR-04-2017-0110...
). Outros importantes mecanismos são as trocas de funções (Robertson, Casali, & Jacobson, 2012Robertson, P. L., Casali, G. L., & Jacobson, D. (2012). Managing open incremental process innovation: Absorptive capacity and distributed learning. Research Policy, 41(5), 822-832. doi: 10.1016/j.respol.2012.02.008
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), a redundância de expertise de pessoas e a intensa comunicação entre as diferentes unidades funcionais (Ben-Menahem et al., 2016).

Desse modo, Cohen e Levinthal (1990)Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi: 10.2307/2393553
https://doi.org/10.2307/2393553...
reconhecem a importância dos dois antecedentes da Acap (características dos empregados e atividades de P&D) e também dos mecanismos internos (canais de comunicação). Entretanto, esses autores não aprofundaram a discussão sobre tais antecedentes e/ou mecanismos. Limitaram as medidas aos gastos em P&D. Portanto, Cohen e Levinthal (1990) são criticados por restringirem a Acap a uma visão estática (Lane et al., 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi: 10.5465/amr.2006.22527456
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). Essa fraqueza é reconhecida desde o trabalho de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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, que conceberam a Acap como uma capacidade dinâmica formada por duas dimensões diferentes: a Pacap e a Racap. Essas duas dimensões distintas, mas complementares, informam o que se denomina construto da Acap, formado por quatro processos ou capacidades (Zahra & George, 2002).

A Pacap é concebida pelas rotinas e pelos processos de aquisição e assimilação de novo conhecimento externo (Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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). Enquanto a aquisição tem o papel de obter a informação crítica para as operações, a assimilação acomoda o novo conhecimento. Então é necessário transfor- má-lo e aplicá-lo. Os processos de transformação e aplicação compõem a Racap. Contudo, separar a Pacap da Racap tem sido criticado teoricamente. Todorova e Durisin (2007)Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-787. doi: 10.54 65/amr.2007.25275513
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sugerem que a assimilação e a transformação são processos alternativos, argumentando que ocorre assimilação se novos conhecimentos externos são próximos à estrutura cognitiva da empresa. Já a transformação pressupõe que novas informações não se ajustam ao conhecimento existente. Nesse caso, o conhecimento prévio pode ser alterado pelo conhecimento novo.

Embora o questionamento de Todorova e Durisin (2007)Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-787. doi: 10.54 65/amr.2007.25275513
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seja impor tante, a cautela é necessária porque os argumentos deles e os de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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lidam com instâncias diferentes. Enquanto Todorova e Durisin (2007) ressaltam o grau de mudança do conhecimento e a combinação do conhecimento prévio com o novo conhecimento externo, Zahra e George (2002), diferentemente, enfatizam a conversão de conhecimentos. Transformar implica adicionar, deletar ou combinar conhecimento quando as empresas lidam com novas informações. Nesse sentido, a distinção entre Pacap e Racap é pertinente, uma vez que as empresas podem entender problemas complexos, mas podem não ser capazes de transformá-los e aplicá-los à inovação.

A literatura mostra que as ideias de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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foram testadas, primeiramente, por Jansen, Bosch e Volberda (2005)Jansen, J. J. P., Bosch, F. A. J. Van Den, & Volberda, H. W. (2005). Managing potential and realized absorptive capacity: How do organizational ante cedents matter? Academy of Management Journal, 48(6), 999-1015. doi: 10.54 65/amj.2005.19573106
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. Esses autores comprovaram a separação entre Pacap e Racap ao analisarem as influências dos mecanismos organizacionais em cada dimensão (Jansen et al., 2005). Eles dividiram os mecanismos em três tipos: coordenação, sistêmicos e socialização. O primeiro, coordenação, permite a troca de conhecimento, como as interfaces entre funções, a participação nos processos de decisão e a rotação de função. O segundo, mecanismos sistêmicos, perfaz os programas comportamentais, tais como a formalização e rotinização. Finalmente, os mecanismos de socialização são definidos como a densidade dos rela cionamentos e do compartilhamento das experiências sociais. Os autores propõem que os mecanismos de coordenação melhoram a Pacap, enquanto os outros dois dizem respeito à Racap. Hoje, essa ideia pode parecer simples e trivial. Contudo, a separação entre Pacap e Racap tem sido pouco testada (Bagchi-Sen & Smith, 2014Bagchi-Sen, S., & Smith, H. L. (2014). Firm heterogeneity in biotech: Absorptive capacity, strategies and local-regional connections. European Planning Studies, 22(9), 1783-1801. doi: 10.1080/09654313.2013.801572
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) desde o teste de Jansen et al. (2005). Há associações entre Pacap e Racap. A Pacap é um antecedente da Racap, e suas relações deveriam ser identificadas. Desse modo, argumentamos que a relação entre Pacap e Racap é merecedora de testes empíricos (Costa & Monteiro, 2018Costa, V., & Monteiro, S. (2018). From potential absorptive capacity to knowledge creation in organisations: The mediating role of knowledge storage and realized absorptive capacity. Journal of Information & Knowledge Management, 17(1), 1-16. doi: 10.1142/S0219649218500065
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). Nossa primeira hipótese é relacionada ao construto de Zahra e George (2002), que apontam relações teóricas entre Pacap e Racap.

  • H1: A Pacap é positivamente relacionada à Racap.

Embora Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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considerem que a Acap seja um conjunto entre as dimensões potencial e realizada, o modelo desses autores sugere que a inovação é relacionada diretamente à Racap, enquanto a Pacap é responsável pelas escolhas estratégicas. Os subconjuntos coexistem, mas uma Pacap alta não significa resultados em inovação. A experiência e a fonte de conhecimento externo tanto quanto a busca de conhecimento aumentam a Pacap (Kim et al., 2018Kim, C., Lee, C., & Kang, J. (2018). Determinants of firm’s innovation-related external knowledge search strategy: The role of potential absorptive capacity and appropriability regime. International Journal of Innovation Management, 22(6), 1-32. doi: 10.1142/S1363919618500445
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). Já a experiência com a busca diz respeito ao aprendizado acumulado relacionado às atividades de inovação. Quanto maior a experiência com a coleta de dados, maior a probabilidade de novas procuras e melhores análises (Jeong-Duk & Ji-Hoon, 2017Jeong-Duk, C., & Ji-Hoon, P. (2017). The performance effect of two different dimensions of absorptive capacity and moderating role of holding-cash. Technology Analysis & Strategic Management, 29(9), 1033-1047. doi: 10.1080/09537325.2016.1268681
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).

Os testes estatísticos provam que a interação entre conhecimento externo e as cooperações de P&D tem um impacto positivo na Pacap, quando isso é comparado com a contratação de terceiros. Também se verifica que a ex- periência medida por patentes não expiradas também tem uma influência positiva (Tortoriello, 2015Tortoriello, M. (2015). The social underpinnings of absorptive capacity: The moderating effects of structural holes on innovation generation based on external knowledge. Strategic Management Journal, 36(4), 586-597. doi: 10. 1002/smj.2228
https://doi.org/10. 1002/smj.2228...
). Se empresas reconhecerem a importância do conhecimento externo, elas terão algum grau de Pacap, cujo conhecimento deve ser transformado e aplicado (Fosfuri & Tribó, 2008Fosfuri, A., & Tribó, J. A. (2008). Exploring the antecedents of potential absorptive capacity and its impact on innovation performance. Omega, 36(2), 173-187. doi: 10.1016/j.omega.2006.06.012
https://doi.org/10.1016/j.omega.2006.06....
).

Portanto, a Pacap é um antecedente da Racap, esta, por seu turno, medeia a relação com a inovação. Isso significa que a Pacap não possui efeitos diretos na inovação (Murovec & Prodan, 2009Murovec, N., & Prodan, I. (2009). Absorptive capacity, its determinants, and influence on innovation output: Cross-cultural validation of the structural model. Technovation, 29(12), 859-872. doi: 10.1016/j.technovation.2009. 05.010
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). Pesquisadores reconhecem explicitamente a importância dos fluxos internos de comunicação para as atividades de inovação (Jeong-Duk & Ji-Hoon, 2017Jeong-Duk, C., & Ji-Hoon, P. (2017). The performance effect of two different dimensions of absorptive capacity and moderating role of holding-cash. Technology Analysis & Strategic Management, 29(9), 1033-1047. doi: 10.1080/09537325.2016.1268681
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). Conhecimento externo segue para inovação pela Racap (Tortoriello, 2015Tortoriello, M. (2015). The social underpinnings of absorptive capacity: The moderating effects of structural holes on innovation generation based on external knowledge. Strategic Management Journal, 36(4), 586-597. doi: 10. 1002/smj.2228
https://doi.org/10. 1002/smj.2228...
). Então, teoricamente, a Racap é um importante processo que promove inovação (Arbussà & Coenders, 2007Arbussà, A., & Coenders, G. (2007). Innovation activities, use of appropriation instruments and absorptive capacity: Evidence from Spanish firms. Research Policy, 36(10), 1545-1558. doi: 10.1016/j.respol.2007.04.013
https://doi.org/10.1016/j.respol.2007.04...
). Entretanto, o relacionamento entre Racap e inovação é ainda pouco testado (Adams et al., 2016Adams, D. R., Flatten, T. C., Brinkmann, H., & Brettel, M. (2016). Consequences and antecedents of absorptive capacity in a cross-cultural context. International Journal of Innovation Management, 20(1), 1-39. doi: 10.1142/S1363919616500031
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). Com essa linha de raciocínio, recuperamos a ideia de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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e levantamos a segunda hipótese.

  • H2: A Racap é positivamente relacionada à inovação.

As duas últimas hipóteses dizem respeito às fontes de conhecimento e às relações delas com a Acap. Essa capacidade é associada, segundo Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
, ao conhecimento externo e aos fatores internos. Três fatores internos são considerados: conhecimento organizacional (conjunto de habilidades e experiência da empresa), formalização (grau de procedimentos e regras internas) e integração (práticas para reduzir as trocas de informação) (Tortoriello, 2015Tortoriello, M. (2015). The social underpinnings of absorptive capacity: The moderating effects of structural holes on innovation generation based on external knowledge. Strategic Management Journal, 36(4), 586-597. doi: 10. 1002/smj.2228
https://doi.org/10. 1002/smj.2228...
). Pesquisas mostram que o conhecimento organizacional, medido pelo grau de escolaridade e por atividades de P&D, tem um efeito positivo na Pacap e Racap (Vega-Jurado et al., 2008Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-9310.2008...
). Entretanto, o nível de escolaridade da força de trabalho é positivamente relacionado à aquisição e exploração do conhecimento científico, mas não o é com o conhe cimento industrial.

O conhecimento científico exige maior capacitação técnica do que o conhecimento industrial para desenvolver Acap (Vega-Jurado et al., 2008Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
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). Similarmente, atividades de P&D são mais eficientes se o conhecimento é científico, seja para adquiri-lo ou aproveitá-lo (Bagchi-Sen & Smith, 2014Bagchi-Sen, S., & Smith, H. L. (2014). Firm heterogeneity in biotech: Absorptive capacity, strategies and local-regional connections. European Planning Studies, 22(9), 1783-1801. doi: 10.1080/09654313.2013.801572
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). Podemos dizer o mesmo sobre a formalização. A formalização é positivamente associada com aquisição e exploração do conhecimento científico, mas não é significativa para o conhecimento industrial (Vega-Jurado et al., 2008).

A Acap é composta por dois fatores estruturais. Um fator é puxado pela ciência e baseado na informação científica. O outro fator é a informação de mercado, chamado de empurrado pela demanda (Bagchi-Sen & Smith, 2014Bagchi-Sen, S., & Smith, H. L. (2014). Firm heterogeneity in biotech: Absorptive capacity, strategies and local-regional connections. European Planning Studies, 22(9), 1783-1801. doi: 10.1080/09654313.2013.801572
https://doi.org/10.1080/09654313.2013.80...
). Treinamento e P&D são positivamente relacionados às capacidades industriais e científicas. Contudo, a importância deles difere se a capacidade é empurrada pela demanda ou puxada pela ciência. O treinamento de pessoal relacionado aos projetos de inovação é mais importante quando a capaci dade é empurrada pela demanda do que pela ciência. Também a cooperação é mais positiva e significativamente relacionada à capacidade puxada pela ciência do que empurrada pela demanda. Portanto, as fontes externas de conhecimento reconfiguram as regras de Racap. Práticas de exploração do conhe cimento são próprias para cada tipo de conhecimento. Fontes externas resultam em diferentes tipos de inovação. Firmas com alta Racap inovam mais facilmente. Conclui-se que a busca de conhecimento deve levarem consideração as fontes de mercado e da ciência (Kim et al., 2018Kim, C., Lee, C., & Kang, J. (2018). Determinants of firm’s innovation-related external knowledge search strategy: The role of potential absorptive capacity and appropriability regime. International Journal of Innovation Management, 22(6), 1-32. doi: 10.1142/S1363919618500445
https://doi.org/10.1142/S136391961850044...
). A literatura mostra que as fontes de conhecimento relacionadas à Racap permanecem pouco testadas. Desse modo, destacamos as hipóteses 3a e 3b.

  • H3a: O conhecimento industrial é positivamente relacionado à Racap.

  • H3b: O conhecimento científico é positivamente relacionado à Racap.

A Figura 2.1 ilustra as hipóteses de nosso modelo.

Figura 2.1
HIPÓTESES

Fonte: Elaborada pelos autores.


3. METODOLOGIA

Nesta seção, detalham-se a amostra, a definição das variáveis e a análise do modelo.

3.1 Amostra

A população da pesquisa foi de 402 fornecedores industriais da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que é uma holding brasileira composta por 143 empresas e 17 consórcios do setor elétrico. A coleta de dados contou com o apoio institucional da Cemig, que encaminhou um e-mail a cada fornecedor solicitando a colaboração para responder ao questionário on-line. A amostra de 94 fornecedores foi não probabilística e possuiu uma margem de erro de 8,8%. A taxa de resposta foi maior do que o esperado por pesquisas semelhantes, cuja expectativa é 15% (Churchill & Iacobucci, 2002Churchill, G., & Iacobucci, D. (2002). Marketing research: Methodological foundation (8th ed.). Orlando: Hartcourt College.).

Em relação ao porte das empresas da amostra, 71,3% são de pequeno e médio portes (20-499 funcionários), segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015). Demografia das empresas. Rio de Janeiro: IBGE. Recuperado de https://biblioteca.ibge.gov.br/ visualizacao/livros/liv94575.pdf
https://doi.org/https://biblioteca.ibge....
). As grandes empresas (acima de 500 funcionários) representam 18,1% da amostra, 9,6% são microempresas (menos de 20 funcionários), e 1% se refere a dados faltantes. Verificou-se que 22,3% das empresas que fornecem para a Cemig têm entre 11 e 15 anos, enquanto 44% dos fornecedores têm mais de 20 anos. Os questionários foram respondidos por executivos responsáveis pela área de inovação empresarial.

3.2 Definição e mensuração das variáveis

Três etapas foram seguidas para definir as variáveis do questionário. Na primeira etapa, realizou-se uma pesquisa bibliográfica nas principais bases de dados relacionadas à gestão empresarial, tais como Academic Search Premier (Ebsco), Business Abstract with Full Text (Ebsco), Cambridge Journals Online, Emerald Fulltext, Oxford Journals (Oxford University Press), Science Direct (Elsevier), Scopus (Elsevier) e Web of Science. Essa pesquisa compreendeu o período de 1989 a 2019 e se concentrou em artigos que validaram escalas para medir a Acap. Nove artigos reconhecidos orientaram a definição das variáveis, quais sejam: Camisón e Forés (2010)Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi: 10.1016/j.jbusres.2009.04.022
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.0...
, Daspit e D’Souza (2013)Daspit, J. J., & D’Souza, D. E. (2013). Understanding the multi-dimensional nature of absorptive capacity. Journal of Managerial Issues, 25(3), 299-316. Recuperado de https://www.jstor.org/stable/43488823
https://doi.org/https://www.jstor.org/st...
, Fosfuri e Tribó (2008)Fosfuri, A., & Tribó, J. A. (2008). Exploring the antecedents of potential absorptive capacity and its impact on innovation performance. Omega, 36(2), 173-187. doi: 10.1016/j.omega.2006.06.012
https://doi.org/10.1016/j.omega.2006.06....
, Flatten et al. (2011)Flatten, T. C., Engelen, A., Zahra, S. A., & Brettel, M. (2011). A measure of absorptive capacity: Scale development and validation. European Management Journal, 29(2), 98-116. doi: 10.1016/j.emj.2010.11.002
https://doi.org/10.1016/j.emj.2010.11.00...
, Jansen et al. (2005)Jansen, J. J. P., Bosch, F. A. J. Van Den, & Volberda, H. W. (2005). Managing potential and realized absorptive capacity: How do organizational ante cedents matter? Academy of Management Journal, 48(6), 999-1015. doi: 10.54 65/amj.2005.19573106
https://doi.org/10.54 65/amj.2005.195731...
, Jiménez-Barrionuevo et al. (2011)Jiménez-Barrionuevo, M. M., García-Morales, V. J., & Molina, L. M. (2011). Validation of an instrument to measure absorptive capacity. Technovation, 31(5-6), 190-202. doi: 10.1016/j.technovation.2010.12.002
https://doi.org/10.1016/j.technovation.2...
, Murovec e Prodan (2009)Murovec, N., & Prodan, I. (2009). Absorptive capacity, its determinants, and influence on innovation output: Cross-cultural validation of the structural model. Technovation, 29(12), 859-872. doi: 10.1016/j.technovation.2009. 05.010
https://doi.org/10.1016/j.technovation.2...
, Tu, Vonderembse, Ragu-Nathan e SharKey (2006)Tu, Q.,Vonderembse, M. A., Ragu-Nathan, T. S., & SharKey, T. W. (2006). Absorptive capacity: Enhancing the assimilation of time-based manufacturing practices. Journal of Operations Management, 24(5), 692-710. doi: 10. 1016/j.jom.2005.05.004
https://doi.org/10. 1016/j.jom.2005.05.0...
e Vega-Jurado et al. (2008)Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-9310.2008...
.

Na segunda etapa, foram listadas todas as hipóteses testadas por esses autores, comparando sua descrição e operacionalização. Por meio de análise de conteúdo, questionou-se o que cada variável significava em relação ao construto de Acap. Encontraram-se 34 itens com ideias semelhantes. Observamos que os artigos misturavam e usavam as nomenclaturas antecedentes e mecanismos para medir a Acap de forma intercambiável. As variáveis eram pouco claras, confundindo antecedentes e mecanismos.

A terceira etapa envolveu a análise semântica dessas variáveis para entender as categorias que poderiam ser classificadas. Identificaram-se dois grupos. No primeiro, incluíram-se as variáveis relacionadas aos recursos organizacionais que caracterizavam os traços da organização, ou seja, valores, estrutura e experiência anterior da empresa. No segundo grupo, outras variáveis foram definidas como atividades que poderiam ser implementadas nas empresas deliberadamente, a fim de alavancar a Acap, tais como interface entre funções, treinamento e monitoramento do conhecimento. Classificamos as variáveis em dois grupos nomeados de “recursos organizacionais” e “mecanismos da capacidade absortiva”, seja para a Pacap, seja para a Racap. Os recursos organizacionais se referem a algo que as organizações possuem, e os mecanismos implicam o que as organizações fazem para desempenhar suas atividades (Figura 3.2.1).

Figura 3.2.1
VARIÁVEIS DO MODELO DE CAPACIDADE ABSORTIVA

Cabe reiterar que foram escolhidos estudos focados em testes empíricos das dimensões da Acap, e o ponto de partida foi o modelo de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
, que sustenta quatro processos de absorção (aquisição, assimilação, transformação e aplicação). Quanto às variáveis ​​sobre fontes externas de conhecimento (industrial e científica) e inovação, elas foram verificadas em estudos que discutiram suas consequências na Acap (Murovec & Prodan, 2009Murovec, N., & Prodan, I. (2009). Absorptive capacity, its determinants, and influence on innovation output: Cross-cultural validation of the structural model. Technovation, 29(12), 859-872. doi: 10.1016/j.technovation.2009. 05.010
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; Vega-Jurado et al., 2008Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
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). O construto latente da Acap e as fontes de conhecimento foram compostas por 35 variáveis ​​selecionadas e validadas nos estudos anteriores. Tais variáveis ​​são reflexivas, o que significa que medem a realidade da Acap e do conhecimento externo. A definição do construto visa captar o que realmente existe. Tais procedimentos são usuais na pesquisa em estratégia (Ringle, Sarstedt, & Straub, 2012Ringle, C., Sarstedt, M., & Straub, D. (2012). A critical look at the use of PLS-SEM in MIS quarterly. Management Information Systems Quarterly, 36(1), iii-xiv. ) e sugerem que a causalidade vai do construto às variáveis, isto é, quaisquer mudanças no construto influenciam os indicadores (Jarvis, MacKenzie, & Podsakoff, 2003Jarvis, C., MacKenzie, S., & Podsakoff, P. A. (2003). A critical review of construct indicators and measurement model misspecification in marketing and consumer research. Journal of Consumer Research, 30(2), 199-218. doi: 10.1086/376806
https://doi.org/10.1086/376806...
).

Na quarta etapa, foi elaborado o questionário autorrelatado (Figura 3.2.1), que incluiu escalas de resposta do tipo Likert de dez pontos, variando do número um, representando “nível baixo”, ao número dez, representando “nível alto”. Optamos pelo uso de dez categorias porque tais escalas são consideradas melhores que outras para a realização de testes paramétricos (Jöreskog & Sörbom, 1999Jöreskog, K. G., & Sörbom, D. (1999). Lisrel 8: Structural equation modeling with the SIMPLIS command language. Lincolnwood: Scientific Software International.). Para validá-lo, realizamos dois pré-testes. No pré-teste 1, o questionário foi respondido por três pesquisadores acadêmicos familiarizados com temas de inovação. No pré-teste 2, realizamos um seminário com 20 especialistas do setor elétrico para avaliar a adequação das questões ao contexto das empresas fornecedoras. O feedback proporcionou comentários detalhados que levaram à adequação da tradução para o português, a fim de garantir um relacionamento mais próximo da realidade das empresas pesquisadas.

3.3 Análise dos dados

Foram utilizados os softwares SmartPLS 2.0 e Visual PLS 4.0 para testar escalas de propriedades psicométricas. A dimensionalidade foi realizada por meio de análise fatorial exploratória (AFE) com rotação direct oblimin (Hair, Black, Babin, & Anderson, 2010Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate data analysis (7th ed.). New Jersey: Prentice-Hall.). Cada subconjunto das variáveis foi tra tado por uma análise fatorial distinta, pois o objetivo era identificar se a dimensionalidade a priori prevista seria confirmada. Se tivéssemos feito a análise fatorial com todos os indicadores e dimensões em uma única AFE, não estaríamos seguindo as melhores práticas de análise de AFE (Tabachnick & Fidell, 2001Tabachnick, B. G., & Fidell, L. S. (2001). Using multivariate statistics (3rd ed.). New York: HarperCollins.).

Para determinar o número de dimensões, aplicou-se o critério de Kaiser, o qual indica reter fatores com autovalores maiores que um. A qualidade geral da análise foi medida usando o Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e a porcentagem de variância. Ambas as medidas devem ser superiores a 0,600 (Hair et al., 2010Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate data analysis (7th ed.). New Jersey: Prentice-Hall.). Os resultados do teste de esfericidade de Bartlett foram significativos. Portanto, o teste da hipótese nula foi rejeitado. A matriz de correlação do conjunto de variáveis não é do tipo identidade. Quanto à qualidade dos indicadores em cada construto latente (conjunto de variáveis), utilizou-se a análise das comunalidades (h2), que deveria ser superior a 0,40.

A confiabilidade da escala foi avaliada pela extensão do erro aleatório. Testaram-se os valores do coeficiente alfa de Cronbach (α) e da confiabili dade composta (composite reliability - CR), cujos valores são superiores a 0,70. Já o valor da variância média extraída (average variance extracted - AVE) foi superior a 0,40 (Figura 3.3.1). Consideraram-se todos os valores muito adequados (Hair et al., 2010Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate data analysis (7th ed.). New Jersey: Prentice-Hall.).

A Figura 3.3.1 mostra a validade discriminante que representa as escalas que medem diferentes construtos latentes. Para sua avaliação, utilizou-se o método sugerido por Fornell e Larcker (1981)Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of Marketing Research, 18(1), 39-50. doi: 10.1177/002224378101800104
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, em que os valores devem ser comparados por meio da diagonal principal da matriz (valores em negrito). Eles representam a AVE (R2 obtido por meio da correlação dos escores estimados no Partial Least Squares - PLS). Quando o valor abaixo da diagonal é maior que a AVE de sua coluna ou linha, o par de construtos analisados apresenta violação de validade discriminante. Esses casos estão em itálico e sublinhados na Figura 3.3.1.

Figura 3.3.1
VARIÂNCIA MÉDIA EXTRAÍDA (AVE), CONFIABILIDADE COMPOSTA (CR), ALFA DE CRONBACH (α) E VALIDADE DISCRIMINANTE

Aplicaram-se também as correlações de intervalo de confiança de 95% (Netemeyer, Bearden, & Sharma, 2003Netemeyer, R. G., Bearden, W. O., & Sharma, S. (2003). Scaling procedures: Issues and applications. Thousand Oaks: Sage.). Após a realização desse procedimento, não foram revelados desvios da validade discriminante para nenhuma variável, pois nenhum valor superior do intervalo foi maior que 1,00. Isso confirma a validade discriminante dos construtos. Portanto, os construtos latentes testados representam conceitos distintos, ou seja, não se correlacionam com os demais construtos (conjuntos de indicadores) medidos nesta pesquisa. Os resultados da validade das escalas realizadas com structural equation modeling (SEM) indicaram que todas as variáveis também tiveram validade convergente (ver Figura 3.3.2).

Figura 3.3.2
VALIDADE CONVERGENTE

Testou-se o modelo estrutural pelo método PLS. Para a escala de mensuração da Acap, foi utilizado o Goodness of Fit Index (GoF), que se refere ao poder explicativo do modelo. Os resultados do modelo estrutural são apresentados na Figura 4.1. A Figura 4.2 mostra as cargas padronizadas do modelo e o percentual da variância explicada.

Figura 4.1
RESULTADOS DAS HIPÓTESES
Figura 4.1
RESULTADOS DAS HIPÓTESES

Fonte: Elaborada pelos autores.


4. RESULTADOS

O resultado do GoF foi 73,02%. Isso significa que o modelo reproduziu 73% da variabilidade total dos dados. Tal medida é considerada satisfatória em relação a 50% do limite. Desse modo, as relações entre as dimensões da Acap, inovação e conhecimento são confirmadas para nossa amostra.

Para avaliar a dimensionalidade da escala, foi rodada uma AFE para cada dimensão da Acap, uma para científica e industrial, conjuntamente, e outra para inovação. As dimensionalidades previstas foram confirmadas. Os resultados da KMO foram positivos para todos os componentes da Acap (aqui sição, assimilação, transformação e aplicação), tanto quanto para os conhecimentos industrial e científico quanto para inovação. As medidas ficaram acima do limite desejado, KMO 0,600, e o resultado do teste de Bartlett foi significativo, demonstrando que a matriz de correlações para cada conjunto de variáveis não é idêntica. Desse modo, o teste de esfericidade rejeitou a hipótese nula, sugerindo que não há correlação entre os indicadores de cada bloco de variáveis.

O método da extração da análise do componente principal indicou um fator para cada grupo de variáveis da Acap. Os quatro processos da Acap perfizeram 22 variáveis. No que se refere à distribuição da variância dos fatores extraídos, adotamos o critério de Kaiser, que indica a retenção de fatores com autovalor superior a um (Hair et al., 2010Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate data analysis (7th ed.). New Jersey: Prentice-Hall.). Os resultados indicaram a extração de apenas um fator por componente, o que confirma que as variáveis se relacionam a um mesmo construto latente e não devem ser agrupadas em conjuntos distintos (blocos de variáveis separadas). As fontes de conhecimentos industrial e científico também são compostas por dois fatores, indicando quatro variáveis para a fonte científica e três variáveis para a de conhecimento industrial. Dois fatores também foram extraídos do grupo de variáveis da inovação, resultando em quatro conjunto de variáveis para um fator e duas para outro.

A avaliação da escala das medidas de Acap mostrou que os itens propostos foram satisfatórios. Os resultados da qualidade dos indicadores em cada construto latente foram avaliados pela comunalidade (h2), que se mostrou acima de 0,40 para os indicadores testados em cada conjunto de variáveis (os quatro componentes da Acap, das fontes e dos conhecimentos industrial e científico, e da inovação), exceto o item 11 - “Sua empresa costuma adquirir tecnologias de outras empresas” - do componente de assimilação que apresentou o resultado de 0,385. Como esse valor ficou próximo do limite recomendado, e no estágio subsequente da avaliação da validade convergente foi realizada uma avaliação objetiva de cada indicador, preferimos manter tal indicador. Desse modo, há uma boa adequação dos indicadores, e todos os indicadores do estudo foram mantidos. A Figura 4.1 indica altos valores de variância explicada, pesos estruturais e cargas fatoriais. Os valores de t estavam acima do ponto crítico de 2,35 (assume-se uma significância estatística unilateral de 1% com 148 graus de liberdade).

Como retratado nas figuras 4.1 e 4.2, as cargas e o modelo representado pela carga dos pesos fatores revelam um alto impacto da Pacap sobre a Racap (0,553). Desse modo, a hipótese 1 - “A Pacap é positivamente relacionada à Racap” - foi confirmada.

Os valores mostraram ainda que a Racap também tem um alto impacto sobre a inovação (0,396), embora esse resultado seja menor do que o impacto da Pacap sobre a Racap. Então, a hipótese 2 foi confirmada (“A Racap é positivamente relacionada à inovação”).

As hipóteses H3a e H3b propõem que os conhecimentos industrial e científico são positivamente relacionados à Racap. Confirmaram-se também essas hipóteses, uma vez que os pesos padronizados do modelo foram considerados altos (conhecimento industrial: 0,305; conhecimento científico: 0,113). O impacto da fonte de conhecimento industrial sobre a Racap é maior do que o impacto da fonte de conhecimento científico (Figura 4.1). Esse resultado indica que a fonte de conhecimento industrial tem uma in - fluência maior sobre a habilidade da organização de transformar e explorar o conhecimento relevante do que a fonte científica. Os resultados dos testes para todas as hipóteses foram positivos, e os valores t ficaram acima do ponto crítico de 2,35 (considerando uma significância estatística unilateral de 1% com 148 graus de liberdade).

5. DISCUSSÃO

O construto da Acap de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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e suas relações com os tipos de conhecimento foram validados. Tal resultado é compatível com pesquisas anteriores e sugere um construto integrado de Acap. As nossas contribuições teóricas e práticas são apresentadas à literatura das ciências gerenciais.

5.1 Contribuição teórica

A primeira contribuição deste artigo está relacionada às concepções teóricas sobre Acap. A despeito da reificação conceitual (Lane et al., 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi: 10.5465/amr.2006.22527456
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), a literatura converge sustentando quatro processos que compõem a Acap. A ideia de Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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sobre o construto Acap foi respalda nesta pesquisa. Sugeriu-se que a Acap é composta por dois conjuntos distintos, mas inter-relacionados (Pacap e Racap). Os nossos resultados são con sistentes com as concepções que diferenciam a Pacap da Racap, mostrando que ambas compreendem diferentes realidades (Camisón & Forés, 2010Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi: 10.1016/j.jbusres.2009.04.022
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.0...
; Chaudhary & Batra, 2018Chaudhary, S., & Batra, S. (2018). Proposing a sequential operationalization of absorptive capacity. Measuring Business Excellence, 22(1), 64-74. doi: 10.11 08/MBE-04-2017-0014
https://doi.org/10.11 08/MBE-04-2017-001...
). Constatamos a necessidade de incluir escalas multi-itens para medir a Pacap e a Racap. Os resultados de medidas prévias, como as de Camisón e Forés (2010) refinadas por Flatten et al. (2011)Flatten, T. C., Engelen, A., Zahra, S. A., & Brettel, M. (2011). A measure of absorptive capacity: Scale development and validation. European Management Journal, 29(2), 98-116. doi: 10.1016/j.emj.2010.11.002
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, foram ratificados neste estudo. Também identificamos a validade cross-cultural do construto Acap, uma vez que ele foi testado no contexto do setor de energia elétrica do Brasil (Adams et al., 2016Adams, D. R., Flatten, T. C., Brinkmann, H., & Brettel, M. (2016). Consequences and antecedents of absorptive capacity in a cross-cultural context. International Journal of Innovation Management, 20(1), 1-39. doi: 10.1142/S1363919616500031
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). Refinou-se aqui uma síntese da literatura sobre como medir a Acap e as escalas prévias, uma vez que, em cada dimensão da Pacap e Racap, as medidas foram classificadas diferenciando recursos de mecanismos. Tal classificação é a segunda contribuição de nosso estudo.

Essa distinção permite o avanço do entendimento dos fatores explicativos da Acap. Enquanto recursos referem-se ao estado da firma em um dado momento de tempo em sua história, os mecanismos são atividades e práticas implementadas. Desse modo, sugerimos que as medidas de Acap devam considerar a história enraizada em características mais duradouras da organização. Já os mecanismos necessitam ser interpretados como ações que procuram processos de mudanças. Essa distinção é útil porque, nos diagnósticos de Acap, poderemos contemplar fatores ou características que conduzem à inovação das práticas efetivamente aplicadas.

A terceira contribuição diz respeito às relações positivas entre Racap e inovação. Esse resultado sustenta a visão teórica de que a Acap é relacionada à inovação (Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
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). Entretanto, a Acap é contingente às fontes externas de conhecimento. Essa constatação é a quarta contribuição de nosso estudo.

Nossa pesquisa mostra que os tipos de conhecimento externo (industrial ou científico) influenciam o desenvolvimento das habilidades de empresas específicas em relação à aquisição, assimilação, transformação e aplicação do conhecimento externo (Vega-Jurado et al., 2008Vega-Jurado, J., Gutiérrez-Gracia, A., & Fernández-de-Lucio, I. (2008). Analyzing the determinants of firm’s absorptive capacity: Beyond R&D. R&D Management, 38(4), 392-405. doi: 10.1111/j.1467-9310.2008.00525.x
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). Isso significa que há diferenças na Acap de acordo com as fontes de conhecimento. Desse modo, concordamos que seja necessário entender os componentes que distinguem a Acap puxada pela demanda daquela empurrada pela ciência (Murovec & Prodan, 2009Murovec, N., & Prodan, I. (2009). Absorptive capacity, its determinants, and influence on innovation output: Cross-cultural validation of the structural model. Technovation, 29(12), 859-872. doi: 10.1016/j.technovation.2009. 05.010
https://doi.org/10.1016/j.technovation.2...
), aprofundando a discussão sobre as fontes de conhecimento externo.

5.2 Contribuição gerencial

Há um discurso gerencial dominante que valoriza a habilidade de inovação das empresas (Maldonado et al., 2018Maldonado, T., Salaiz, A., Vera, D., & Keller, R. T. (2018). Taking stock of the absorptive capacity construct and its dimensions in the context of tech nological innovation: A meta-analytic approach. IEEE Transactions on Engineering Management, 66(2), 193-207. doi:10.1109/TEM.2018.2817388
10.1109/TEM.2018.2817388...
). Contudo, não há uma visão sobre quais indicadores são validados na literatura e que podem ser imediatamente aplicados para se avaliar a Acap das empresas. Existem diferentes modelos de Acap, bem como medidas (Adams et al., 2016Adams, D. R., Flatten, T. C., Brinkmann, H., & Brettel, M. (2016). Consequences and antecedents of absorptive capacity in a cross-cultural context. International Journal of Innovation Management, 20(1), 1-39. doi: 10.1142/S1363919616500031
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). Então, nosso artigo contribuiu para a prática gerencial porque identificamos as hipóteses validadas na literatura e classificamos as medidas de Acap.

Portanto, fomos capazes de distinguir recursos de práticas, o que pode ser aplicado em ferramentas de diagnóstico de inovação. Em nossa opinião, tal distinção pode ser usada para traçar estratégias de promoção do processo de inovação (Horvat et al., 2019Horvat, D., Dreher, C., & Som, O. (2019). How firms absorb external knowledge modeling and managing the absorptive capacity process. International Journal of Innovation Management, 23(1), 1-35. doi: 10.1142/S1363919619 500415
https://doi.org/10.1142/S1363919619 5004...
). A avaliação da Acap das empresas é o primeiro passo para a proposição de práticas de intervenção organizacional. Devemos saber como usar a literatura para fins práticos. Nesse sentido, nosso trabalho oferece uma bússola que pode ajudar os gestores a saberem como diagnosticar a Acap ao separarem recursos de práticas.

5.3 Limitações

A despeito das nossas contribuições, algumas limitações deste estudo devem ser assumidas. Este trabalho abordou os fornecedores de uma determinada empresa, e os dados não se ajustaram estatisticamente à distribuição normal. Desse modo, a generalização dos resultados é limitada. Ainda em relação à metodologia, os questionários foram autorrelatados e não se adotaram medidas diretas, o que pode gerar vieses de variância (Jarvis et al., 2003Jarvis, C., MacKenzie, S., & Podsakoff, P. A. (2003). A critical review of construct indicators and measurement model misspecification in marketing and consumer research. Journal of Consumer Research, 30(2), 199-218. doi: 10.1086/376806
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). Portanto, pesquisas não obtrusivas seriam mais adequadas. Contudo, acredita-se não ser trivial obter dados diretos das empresas. Esta pesquisa contou com o apoio da Cemig, que liderou a sensibilização dos fornecedores para responder aos questionários.

Ressalta-se que variáveis de controle não foram usadas na análise porque nossa amostra foi homogênea. Portanto, problemas relativos à endogeneidade não podem ser totalmente descartados. Para minimizar essas fragilidades, é importante sublinhar que nossos dados não são temporais. Há limitações dos estudos transversais que são frágeis para contemplar aspectos sutis da realidade. Consequentemente, trabalhos com recortes longitudinais são desejados para melhor compreender cada componente da Acap.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISA

Nossos resultados respaldam as relações positivas entre Acap, inovação e fontes externas de conhecimento. Por um lado, nossa pesquisa confirma ideias anteriores, como o fato de a Acap compreender as dimensões potencial e realizada. Por outro lado, chama-se a atenção para os papéis do conhecimento externo na inovação. Essas descobertas abrem novos caminhos de pesquisa. Uma das possibilidades é comparar os resultados de inovação e os tipos de conhecimento externo. A outra se refere a comparações entre o papel dos recursos e os mecanismos no processo de Acap (aquisição, assimilação, transformação e aplicação).

Futuras questões de pesquisa podem ser algumas destas:

  • Até que ponto o desempenho em inovação é influenciado por tipos de conhecimento externo?

  • O tipo de conhecimento externo influencia os resultados da inovação?

  • Os recursos e os mecanismos que desenvolvem a Acap diferem de acordo com os tipos de fontes de conhecimento que as empresas buscam?

  • Quais são os seus impactos na inovação?

Também sugerimos que o modelo teórico de Acap deva ser testado em diferentes países e diversos setores econômicos, a fim de esclarecer como empresas inseridas em diferentes contextos institucionais podem melhorar suas capacidades.

  • 1
    Agradecemos o apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Companhia Enérgica de Minas Gerais (Cemig).
  • NOTAS DOS AUTORES

    Ângela F. Versiani, doutora pela Faculdade de Economia e Administração, Universidade de São Paulo (FEA-USP); Marina A. Cruz, doutora pela Faculdade de Ciências Econômicas (Face), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Sérgio F. L. Rezende, doutor pelo Departamento de Marketing, University of Lancaster; José M. Castro, doutor pela Faculdade de Economia e Administração, USP. Ângela F. Versiani é agora professora adjunta do Programa de Pós-Graduação de Administração (PPGA) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas); Marina A. Cruz é agora estudante de pós-doutorado do PPGA-PUC Minas e professora do Programa de Mestrado em Administração do Centro Universitário Unihorizontes; Sérgio F. L. Rezende é agora professor adjunto do PPGA da PUC Minas; José M. Castro é agora professor adjunto do PPGA da PUC Minas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    13 Abr 2020
  • Aceito
    27 Nov 2020
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