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Análise e comparação dos desfechos do tratamento de tuberculose na população em situação de rua e na população geral do Brasil

RESUMO

A tuberculose ainda é um importante problema de saúde pública profundamente marcada pela desigualdade. O presente estudo utilizou notificações de casos de tuberculose do Sistema de Informação de Agravos de Notificação para comparar dados sobre sucesso no tratamento, perda de seguimento e óbitos por tuberculose entre a população em situação de rua no Brasil comparando-a com a população geral. Verificou-se que a população em situação de rua apresentou uma probabilidade aproximadamente 50% menor de obter sucesso no tratamento da tuberculose. Além disso, a perda de seguimento e os óbitos foram 2,9 e 2,5 vezes maiores na população em situação de rua quando comparada à população geral.

Descritores:
Tuberculose; Pessoas em situação de rua; Sistemas de informação em saúde; Política de saúde

ABSTRACT

Tuberculosis remains a major public health problem deeply influenced by inequality. The present study used data from the Brazilian Tuberculosis Case Registry Database in order to compare the rates of tuberculosis treatment success, loss to follow-up, and tuberculosis mortality between the homeless population and the general population of Brazil. The likelihood of tuberculosis treatment success was reduced by approximately 50% in the homeless population. In addition, the rate of loss to follow-up was 2.9 times higher in the homeless population than in the general population, and the rate of tuberculosis mortality was 2.5 times higher in the former.

Keywords:
Tuberculosis; Homeless persons; Health information systems; Health policy

A tuberculose ainda é, no século XXI, um importante problema de saúde pública no mundo, apesar de ser uma doença tratável e curável. Em 2015, houve 10,4 milhões de novos casos e 1,4 milhão de óbitos11 World Health Organization. World health statistics 2017: monitoring health for the SDGs. Geneva: World Health Organization; 2017. pela doença, posicionando-a entre as principais causas de morte no mundo.22 World Health Organization. Global Tuberculosis Report. Executive Summary. Geneva: World Health Organization; 2019. No Brasil, o enfrentamento da tuberculose está previsto em diversos planos de ação governamentais33 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Ministério da Saúde. Brasil Livre da Tuberculose: evolução dos cenários epidemiológicos e operacionais da doença. Boletim Epidemiológico 2019;50(9). [Adobe Acrobat document, 18p.] Available from: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/22/2019-009.pdf
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4 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Guia de Vigilância em Saúde?: 3rd ed. 2019. [Adobe Acrobat document, 741p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf
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-55 Brasil. Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Portaria No 399 de 22 de Fevereiro de 2006. [about 23 screens]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prtGM399_20060222.pdf
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e nas iniciativas nacionais para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.66 United Nations [homepage on the Internet]. New York City: United Nations [updated 2015 Oct 21; cited 2020 Mar 1]. General Assembly. Resolution adopted by the General Assembly on 25 September 2015. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. 2015. 35p. Available from: http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/1⟪=E
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Apesar de ter apresentado melhora nos indicadores, o Brasil ainda ocupava o 20º lugar entre os países com maior carga da doença e o 19º lugar quanto à coinfecção HIV/tuberculose no mundo em 2015, o que o fez permanecer na lista de nações de ações prioritárias da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o quadriênio 2016-2020.33 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Ministério da Saúde. Brasil Livre da Tuberculose: evolução dos cenários epidemiológicos e operacionais da doença. Boletim Epidemiológico 2019;50(9). [Adobe Acrobat document, 18p.] Available from: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/22/2019-009.pdf
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O controle da tuberculose no Brasil encontra obstáculos diante da dificuldade histórica em difundir informações sobre a doença de forma mais eficiente, das crises econômicas com impactos negativos nos índices de pobreza, da má distribuição de riquezas, do precário processo de urbanização, do aumento da infecção por HIV, de insatisfatórios níveis de nutrição, de condições sanitárias precárias e do aumento das populações em vulnerabilidade.77 Craig GM, Zumla A. The social context of tuberculosis treatment in urban risk groups in the United Kingdom: a qualitative interview study. Int J Infect Dis. 2015;32:105-110. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijid.2015.01.007
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8 Bamrah S, Yelk Woodruff RS, Powell K, Ghosh S, Kammerer JS, Haddad MB. Tuberculosis among the homeless, United States, 1994-2010. Int J Tuberc Lung Dis. 2013;17(11):1414-1419. http://dx.doi.org/10.5588/ijtld.13.0270
-99 Ranzani OT, Carvalho CR, Waldman EA, Rodrigues LC. The impact of being homeless on the unsuccessful outcome of treatment of pulmonary TB in São Paulo State, Brazil. BMC Med. 2016;14:41. http://dx.doi.org/10.1186/s12916-016-0584-8
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Nesse último grupo destacam-se as pessoas em situação de rua, um grupo de risco especial para a tuberculose por sofrer extrema exclusão social, acesso precário aos serviços de saúde e diversas situações de violência e discriminação, além de possuir vínculos familiares fragilizados ou inexistentes.77 Craig GM, Zumla A. The social context of tuberculosis treatment in urban risk groups in the United Kingdom: a qualitative interview study. Int J Infect Dis. 2015;32:105-110. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijid.2015.01.007
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,1010 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. Brasília: Ministério da Saúde; 2012. p. 98.,1111 Rosa ADS, Santana CLA. Street Clinic as good practice in Collective Health. Rev Bras Enferm. 2018;71(suppl 1):465-466. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-201871sup102
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Estudos têm demonstrado77 Craig GM, Zumla A. The social context of tuberculosis treatment in urban risk groups in the United Kingdom: a qualitative interview study. Int J Infect Dis. 2015;32:105-110. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijid.2015.01.007
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8 Bamrah S, Yelk Woodruff RS, Powell K, Ghosh S, Kammerer JS, Haddad MB. Tuberculosis among the homeless, United States, 1994-2010. Int J Tuberc Lung Dis. 2013;17(11):1414-1419. http://dx.doi.org/10.5588/ijtld.13.0270
-99 Ranzani OT, Carvalho CR, Waldman EA, Rodrigues LC. The impact of being homeless on the unsuccessful outcome of treatment of pulmonary TB in São Paulo State, Brazil. BMC Med. 2016;14:41. http://dx.doi.org/10.1186/s12916-016-0584-8
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que essa população apresenta maiores chances de contrair tuberculose, além de apresentar taxas de comorbidades mais altas que as da população geral. No entanto, não há estudos que incorporem um conjunto mais diverso de indicadores relacionados à tuberculose e tampouco uma vasta cobertura territorial. Assim, justifica-se a necessidade de se estudar, no contexto nacional, os desfechos do tratamento dos casos confirmados de tuberculose da população em situação de rua e compará-los com os desfechos do tratamento da população geral. Tais informações permitirão melhor compreensão desse problema sanitário e contribuição no delineamento de políticas de saúde equânimes e efetivas. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi comparar as taxas de sucesso no tratamento, perda de seguimento de tratamento e óbito44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Guia de Vigilância em Saúde?: 3rd ed. 2019. [Adobe Acrobat document, 741p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf
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) por tuberculose entre a população em situação de rua e a população geral no Brasil e em suas regiões no ano de 2018.

Foi realizado um estudo transversal com dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde (MS). Foram utilizadas as notificações de casos novos de tuberculose (CID-10: A15-A16) de duas populações: população em situação de rua e população geral. Considerou-se caso confirmado de tuberculose aquele que apresentou confirmação clínico-laboratorial ou clínico-epidemiológica de acordo com a definição da Ficha de Notificação/Investigação de Tuberculose do SINAN.1212 Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde. Ficha de Notificação/Investigação Tuberculose; 2014. Available from: http://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Tuberculose/Tuberculose_v5.pdf
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Após a exclusão das notificações de populações especiais e daquelas que não possuíam informações sobre a situação de encerramento do caso, foram analisadas 54.608 notificações da população geral e 1.530 notificações de pessoas em situação de rua.

Os desfechos do presente estudo foram sucesso do tratamento, perda de seguimento e óbito por tuberculose. Todos os indicadores foram descritos para o Brasil e suas regiões. Também foram descritas as distribuições dos casos segundo sexo, escolaridade, raça, alcoolismo, tabagismo, AIDS e transtorno mental, conforme registros do SINAN.1212 Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde. Ficha de Notificação/Investigação Tuberculose; 2014. Available from: http://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/Tuberculose/Tuberculose_v5.pdf
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Os microdados foram exportados para análise utilizando-se o pacote estatístico Stata, versão 14 (StataCorp LP, College Station, TX, EUA). Para os três desfechos foram calculadas as diferenças relativas entre os grupos, aplicando-se o teste do qui-quadrado de Pearson. Por se tratar de dados públicos anonimizados não foi necessária a aprovação de um comitê de ética em pesquisa.

Observou-se que os casos de tuberculose pulmonar na população em situação de rua e na população geral corresponderam a 91,9% e 81,7% do total, respectivamente. A maior parte dos casos registrados na população em situação de rua e na população geral, respectivamente, ocorreu em homens (83,5% e 65,1%), com ensino fundamental completo (83,2% e 69,8%) e pardos (52,2% e 53,0%). As comorbidades na população em situação de rua, comparadas com as da população geral, foram significativamente distintas quanto a alcoolismo (58,4% vs. 16,8%), tabagismo (50,4% vs. 22,4%), AIDS (21,2% vs. 9,1%) e transtorno mental (7,3% vs. 2,3%).

Quando analisadas as situações de encerramento, observou-se que a população em situação de rua teve aproximadamente a metade da probabilidade de obter sucesso no tratamento quando comparada à da população geral no país. Já as taxas de perda de seguimento e óbito foram 2,9 e 2,5 vezes maiores na população em situação de rua, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1
Proporções, IC95% e razão de incidência (RI) segundo os desfechos sucesso no tratamento, perda de seguimento e óbito por tuberculose na população de rua e na população geral. Brasil e suas regiões, 2018.

Piores indicadores para a população em situação de rua foram observados em todas as regiões (Tabela 1). A maior proporção do desfecho sucesso no tratamento foi observado na população geral na região Sudeste (75,9%), enquanto a menor proporção foi registrada na região Sul para a população em situação de rua (33,5%). A respeito das notificações de perda de seguimento, a maior desigualdade relativa foi observada no Nordeste, e a maior taxa de perda de seguimento na população em situação de rua foi registrada na região Norte. Quanto aos óbitos, destacaram-se negativamente as regiões Centro-Oeste e Norte. Essas diferenças podem ser atribuídas a dificuldades no acesso aos serviços de saúde, falhas no rastreamento de contatos de pacientes com diagnóstico confirmado de tuberculose e infraestrutura precária.1313 Barbosa IR, Pereira LM, Medeiros PF, Valentim RS, Brito JM, Costa ÍC. Spatial distribution analysis of tuberculosis in Northeastern Brazil, 2005-2010 [Article in Portuguese]. Epidemiol Servicos Saude. 2013;22(4):687-695. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000400015
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Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Norte e o Nordeste brasileiro são regiões com intensas desigualdades socioeconômicas.1414 Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; [updated 2008 Dec 18; cited 2020 Jun 8]. IBGE lança Mapa de Pobreza e Desigualdade 2003. Available from: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?view=noticia&id=1&idnoticia=1293&busca=1&t=ibge-lanca-mapa-pobreza-desigualdade-2003
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Os resultados observados permitem inferir que a população em situação de rua apresenta especial vulnerabilidade em relação à tuberculose. Esses dados corroboram um estudo realizado no estado de São Paulo que observou que 57,3% das pessoas em situação de rua não obtiveram sucesso no tratamento da tuberculose, principalmente por conta de perda de seguimento (39,0%) e óbitos (10,5%).99 Ranzani OT, Carvalho CR, Waldman EA, Rodrigues LC. The impact of being homeless on the unsuccessful outcome of treatment of pulmonary TB in São Paulo State, Brazil. BMC Med. 2016;14:41. http://dx.doi.org/10.1186/s12916-016-0584-8
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O MS estima que aproximadamente 11% dos pacientes com tuberculose abandonam o tratamento antes do período recomendado, o que vai ao encontro dos achados do presente estudo.33 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Ministério da Saúde. Brasil Livre da Tuberculose: evolução dos cenários epidemiológicos e operacionais da doença. Boletim Epidemiológico 2019;50(9). [Adobe Acrobat document, 18p.] Available from: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/22/2019-009.pdf
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Esse número representa mais que o dobro da média tolerável pela OMS (5%).22 World Health Organization. Global Tuberculosis Report. Executive Summary. Geneva: World Health Organization; 2019. Considerando a população em situação de rua, esse cenário se agrava, apresentando uma proporção cerca de três vezes maior (33%) de perda de seguimento que o previsto pelo MS e sete vezes maior do que o aceitável pela OMS.

Independentemente da realidade social e de saúde das regiões no Brasil, a população em situação de rua apresenta piores desfechos relacionados à tuberculose em comparação com a população geral. A rua precisa ser entendida como um território de cuidado construído sob uma ótica estrutural singular, onde vivem sujeitos com autonomia. Para tanto, é necessário romper a ótica biomédica e estimular a criação de vínculos de confiança e respeito entre os sujeitos e as equipes de saúde.1515 Hallais JA, Barros NF. Street Outreach Offices: visibility, invisibility, and enhanced visibility [Article in Portuguese]. Cad Saude Publica. 2015;31(7):1497-1504. https://doi.org/10.1590/0102-311X00143114
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Sabe-se que as equipes conhecidas como Consultórios na Rua são a frente de trabalho para o atendimento dessa população. Porém, apesar de um grande número de municípios se enquadrar nos quesitos1616 Brasil. Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Portaria No 123, de 25 de janeiro de 2012. [about 2 screens]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0123_25_01_2012.html
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para a implantação desses consultórios, apenas 30% havia implantado essas equipes até o final de 2016.1717 Medeiros CRS, Cavalcante P. The implementation of the Brazilian health program for the homeless population - Consultório na Rua: obstacles and advantages [Article in Portuguese]. 2018;27(3):754-768. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018170946
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Mesmo com o aumento do número dessas equipes entre 2016 e 2019 no território nacional,1818 Brasil. Ministério da Saúde. Tecnologia da Informação a Serviço do SUS (DATASUS) [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 25]. TabNet Win32 3.0. Procedimentos Hospitalares do SUS por local de internação - Brasil. Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/qiuf.def
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o quadro ainda apresenta-se 40% abaixo do previsto.1616 Brasil. Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Portaria No 123, de 25 de janeiro de 2012. [about 2 screens]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0123_25_01_2012.html
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,1717 Medeiros CRS, Cavalcante P. The implementation of the Brazilian health program for the homeless population - Consultório na Rua: obstacles and advantages [Article in Portuguese]. 2018;27(3):754-768. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018170946
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Essa baixa aderência ao programa é influenciada por diversas causas, como indisponibilidade de profissionais para compor as equipes, falta de priorização das necessidades de saúde dessa população e baixo investimento pelo governo federal.1717 Medeiros CRS, Cavalcante P. The implementation of the Brazilian health program for the homeless population - Consultório na Rua: obstacles and advantages [Article in Portuguese]. 2018;27(3):754-768. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902018170946
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As características de sobrevivência numa situação de rua, as condições de saúde mental, a dependência de substâncias lícitas ou ilícitas, a presença de outras comorbidades, a marginalização social e o baixo acesso aos serviços públicos dificultam o processo de cuidar essa população.1919 Hino P, Monroe AA, Takahashi RF, Souza KMJ, Figueiredo TMRM, Bertolozzi MR. Tuberculosis control from the perspective of health professionals working in street clinics. Rev Lat Am Enfermagem. 2018;26:e3095. http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.2691.3095
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Assim, é importante ampliar as oportunidades de acesso desses indivíduos aos serviços de saúde, respeitando-se suas particularidades.44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2020 Mar 1]. Guia de Vigilância em Saúde?: 3rd ed. 2019. [Adobe Acrobat document, 741p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf
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Apesar do esforço dos profissionais de saúde, a fragilidade na articulação entre os setores envolvidos na assistência dessa população torna-se, em alguns casos, um empecilho para a efetividade do atendimento1111 Rosa ADS, Santana CLA. Street Clinic as good practice in Collective Health. Rev Bras Enferm. 2018;71(suppl 1):465-466. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-201871sup102
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e para o cumprimento das metas pactuadas mundialmente. Da mesma forma, logicamente, são necessários crescimento econômico, redução das desigualdades socioeconômicas e políticas sociais eficientes e equânimes para que todas as pessoas tenham suas necessidades supridas, inclusive as de moradia.

Os sistemas de informação em saúde são ferramentas importantes para pesquisas de avaliação e vigilância. Porém, podem apresentar fragilidades quanto a consistência e completude de dados.2020 Silva GDMD, Bartholomay P, Cruz OG, Garcia LP. Evaluation of data quality, timeliness and acceptability of the tuberculosis surveillance system in Brazil's micro-regions. Cien Saude Colet. 2017;22(10):3307-3319. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320172210.18032017
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Há de se considerar a existência de subnotificação de casos de tuberculose no SINAN. Tais fragilidades podem ser potencializadas devido às peculiaridades da população em estudo. De qualquer maneira, os sistemas de informação oficiais de um país são a melhor fonte regular de dados que se tem disponível para todo o território nacional, e seu uso extensivo é uma importante estratégia para qualificar seus registros.

Por fim, vislumbra-se a necessidade de reformulações e de criação de novas ferramentas que consigam contemplar a complexidade da atenção e das necessidades da população em situação de rua. Além disso, faz-se necessário o fortalecimento de ações intersetoriais buscando o cuidado integral e equitativo dessa população com vistas a mudanças efetivas nesse modelo de atenção e, consequentemente, nos indicadores da tuberculose.

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  • Apoio financeiro:

    Nenhum.
  • 2
    Trabalho realizado no Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor João David Ferreira Lima, e no Instituto Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina, Florianópolis (SC) Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2020
  • Aceito
    24 Jul 2020
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