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Big bath e imparidades do goodwill

Resumo

Objetivo

– Analisar em que medida o reconhecimento de imparidades em goodwill está associado a períodos com resultados negativos, antes dessas perdas (práticas de big bath) e determinar se o endividamento e o mercado de capitais restringem o reconhecimento dessas perdas em práticas big bath.

Metodologia

– Estudo empírico quantitativo com base em dados financeiros e de mercado, tendo por base uma amostra de empresas com títulos admitidos à cotação nas bolsas de valores de Lisboa e Madrid (2007-2015). Recorreu-se a modelos de regressão multivariada com estimação pelo método dos momentos generalizados (system GMM).

Resultados

– A imparidade em goodwill é relevante em práticas de big bath, corroborando a ideia da existência de grande discricionariedade na utilização deste accrual. Conclui-se que as empresas se ajustam aos ciclos de mercado de capitais. A relação positiva entre o nível de endividamento e a imparidade em goodwill sugere que eventuais penalizações dos credores não condicionam o reconhecimento destas imparidades.

Contribuições

– Evidencia-se as práticas de big bath associadas a empresas com resultados negativos e o papel do endividamento e mercado de capitais como fatores explicativos de estratégias de big bath, através de imparidades em goodwill

Palavras-chave
Imparidade goodwill; Big bath; Endividamento; Mercado de capitais

Abstract

Purpose

– To analyze the extent to which recognition of impairments in goodwill is associated with periods of negative results before these losses (big bath practices). To determine whether indebtedness and the capital market restrict the recognition of such losses in big bath practices.

Design/methodology/approach

– Quantitative empirical study based on accounting and market data of companies listed on the Lisbon and Madrid stock exchanges (2007-2015), supported by multivariate regression models estimated using the generalized moments method (system GMM).

Findings

– Impairment in goodwill is relevant in big bath practices, and there is great discretion in the use of this accrual. It can be concluded that companies adjust to capital market cycles. The positive relationship between the level of indebtedness and the impairment in goodwill suggests that any penalties from creditors do not condition the recognition of the impairments.

Originality/value

– There is evidence of big bath practices being associated with companies with negative results and of the role of debt and capital markets as explanatory factors of big bath strategies that use impairments in goodwill.

Keywords
– Goodwill impairment; Big bath; Indebtedness; Capital market

1 Introdução

O reconhecimento de perdas por imparidade em goodwill (designadas por Imp_GW) surge na literatura como uma consequência da perda de capacidade das unidades geradoras de caixa de gerar cash flows no futuro (Brütting, 2011Brütting, M. (2011). Goodwill Impairment Causes and Impact (Doctoral thesis). City University London, Londres, UK.; Olante, 2013Olante, M. (2013). Overpaid acquisitions and goodwill impairment losses — Evidence from the US. Advances in Accounting, 29(2), 243–254. doi:10.1016/j.adiac.2013.09.010.
https://doi.org/doi:10.1016/j.adiac.2013...
).

Os testes de verificação e quantificação da Imp_GW, de acordo com a Norma Internacional de Contabilidade (NIC) 36, têm impactos económicos (Caplan & Harris, 2002Caplan, J. & Harris, R. (2002). Coming into focus: New merger-accounting rules may sharpen investors’ views of intangibles, but CFOs should also consider the impact of write-offs. CFO, 18, 53-54.), com reflexos no valor da empresa e na probabilidade de reconhecer essa perda, seu montante e respetiva tempestividade. Ramanna e Watts (2012)Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
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identificam três aspetos que introduzem elevada discricionariedade no reconhecimento de Imp_GW: (i) afetação do GW às unidades geradoras de caixa; (ii) estimativa do valor descontado dos cash flows futuros; (iii) determinação do justo valor dos ativos e passivos.

Existe evidência de que a gestão oportunista dos resultados, nomeadamente em práticas big bath e income smothing através de Imp_GW, depende de um conjunto de fatores, para além da liberdade de escolha que as normas de contabilidade permitem. Diversos autores analisam essa questão, em diferentes contextos e com metodologias distintas, sem unanimidade nas conclusões. Carvalho (2015)Carvalho, C. (2015). O Goodwill e o seu tratamento contabilístico após adoção das IFRS: Uma análise nas empresas da Euronext Lisbon (Tese de doutorado). Universidade de Aveiro, Aveiro, PO., Jahmani, Dowling e Torres (2010)Jahmani, Y., Dowling, A. & Torres, D. (2010). Goodwill impairment: A new window for earnings management? Journal of Business & Economics Research, 8(2), 19–23. doi:10.19030/jber.v8i2.669
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e Li, Shroff, Venkataraman e Zhang (2011)Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
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concluem pela utilização de Imp_GW como instrumento de manipulação, enquanto Avallone e Quagli (2015)Avallone, F., & Quagli, A. (2015). Insight into the variables used to manage the goodwill impairment test under IAS 36. Advances in Accounting, 31(1), 107-114. doi:10.1016/j.adiac.2015.03.011.
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, Castro (2012)Castro, E. (2012). A Manipulação de resultados em Portugal através do goodwill (Tese mestrado). Instituto Politécnico do Porto, Porto, Portugal. e Jordan e Clark (2004Jordan, E., & Clark, J. (2004). Big bath earning management: The case of GW impairment under SFAS no. 142. Journal of Applied Business Research, 20(2), 63–69., 2015Jordan, E., & Clark, J. (2015). Do New CEOs practice big bath earnings management via goodwill impairments?. Journal of Accounting and Finance, 15(7), 11-21.) não confirmam essa hipótese.

Outras linhas de investigação analisam fatores inibidores ou facilitadores da utilização de políticas de gestão de resultados, como a capacidade de negociação de crédito (Beatty Ramesh, & Weber, 2002Beatty, A., Ramesh, K. & Weber, J. (2002). The importance of accounting changes in debt contracts: The cost of flexibility in covenant calculations. Journal of Accounting and Economics, 33(2), 205–227. doi:10.1016/S0165-4101(02)00046-0.
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; Beatty & Weber, 2006Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
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; Riedl, 2004Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
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), o valor de mercado da empresa (Chen, Kohlbeck, & Warfield, 2008Chen, C., Kohlbeck, M., & Warfield, T. (2008). Timeliness of impairment recognition: Evidence from the initial adoption of SFAS 142. Advances in Accounting, 24(1), 72–81. doi:10.1016/j.adiac.2008.05.015.
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; Giner & Pardo, 2015Giner, B., & Pardo, F. (2015). How ethical are managers’ goodwill impairment decisions in Spanish-listed firms? Journal of Business Ethics, 132(1), 21-40. doi:10.1007/s10551-014-2303-8
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; Jarva, 2009Jarva, H. (2009). Do firms manage fair value estimates? An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Business Finance and Accounting, 36(9-10), 1059–1086. doi:10.1111/j.1468-5957.2009. 02169.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1468-5957....
; Lee, 2011Lee, C. (2011). The effect of SFAS 142 on the ability of goodwill to predict future cash flows. Journal of Accounting and Public Policy, 30(3), 236–255. doi:10.1016/j.jaccpubpol.2010.11.001
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; Li et al., 2011Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
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; Li & Sloan, 2017Li, K., & Sloan, G. (2017). Has goodwill accounting gone bad?. Review of Accounting Studies, 22(2), 964-1003. doi:10.2139/ssrn.1466271
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) e o endividamento (Godfrey & Koh, 2009Godfrey, J., & Koh P. (2009). Goodwill impairment as a reflection of investment opportunities. Accounting and Finance, 49(1), 117–140. doi:10.1111/j.1467-629X.2008.00272.x
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; Hamberg, Paananen, & Novak, 2011Hamberg, M., Paananen, M., & Novak. J. (2011). The adoption of IFRS 3: The effects of managerial discretion and stock market reactions. European Accounting Review, 20(2), 263–288. doi:10.1080/09638181003687877
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), sem conclusões consensuais, nem tão pouco robustos.

A falta de concordância entre as conclusões dos diversos estudos, associada a críticas de preparadores, auditores, reguladores e investidores, motivaram o processo de revisão em curso da International Financial Reporting Standard 3 e fundamentam a pertinência e a atualidade da presente investigação, com os seguintes objetivos: (i) analisar em que medida o reconhecimento de Imp_GW está associado a períodos cujos resultados antes Imp_GW já são negativos (práticas big bath); (ii) determinar em que medida o endividamento e o mercado de capitais restringem o reconhecimento de Imp_GW em práticas big bath.

Introduz-se nesta discussão a comparação entre empresas portuguesas e espanholas, com base numa amostra de 105 empresas, com títulos admitidos à negociação em bolsa de valores (2007-2015), seguindo uma metodologia quantitativa e modelos dinâmicos de regressão multivariada, para dados em painel.

Apesar das empresas de ambos os países aplicarem as NIC e manifestarem influências code law (Nobes & Parker, 2004Nobes, C., & Parker, R. (2004). Comparative International Accounting. London: Prentice Hall.), existem indícios (e.g., Fernandes, Gonçalves, Guerreiro, & Pereira, 2016Fernandes, J., Gonçalves, C., Guerreiro, C., & Pereira, L. (2016). Perdas por imparidade: fatores explicativos, Revista Brasileira de Gestão e de Negócios, 18(60), 305-318. doi: 10.7819/rbgn.v18i60.2300
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) de um comportamento contabilístico mais conservador nas empresas espanholas, nomeadamente quanto ao reconhecimento de Imp_GW, o que justifica o interesse desta análise comparada.

Este estudo contribui para a literatura por duas vias: (i) pela análise comparada de práticas big bath entre dois países, que aplicam um normativo contabilístico comum (NIC) e de influência code law e (ii) pela análise de constrangimentos ao recurso de práticas big bath através de Imp_GW, como o endividamento e o mercado de capitais.

Os resultados obtidos sugerem a existência de políticas de gestão de resultados com base no reconhecimento de Imp_GW, pelo que se pode, do ponto de vista teórico, questionar se a avaliação anual destas perdas é o melhor critério de avaliação do GW como garante da credibilidade da informação financeira. O estudo alerta os organismos responsáveis pela normalização contabilística para que analisem a eficiência dos mecanismos consagrados no reconhecimento de Imp_GW, ponderando soluções normativas que minimizem o grau de discricionariedade associada à tempestividade e ao valor dessas perdas e melhorem a credibilidade da informação financeira.

2 Revisão da Literatura

2.1 Práticas big bath

A gestão dos resultados está associada a estratégias para atingir metas de referência, designadamente a menor variabilidade dos resultados inter-períodos (income smoothing), como instrumento de gestão de expectativas dos acionistas e outros stakeholders, ou a expectativa de aumento dos resultados futuros (big bath) com penalização dos resultados presentes. Analisa-se a existência de resultados negativos como fator indutor destas práticas.

Vários autores (Henning, Shaw, & Stock, 2004Henning, L., Shaw, H., & Stock, T. (2004). The amount and timing of goodwill write-offs and revaluations: Evidence from U.S., & U.K. firms. Review of Quantitative Finance and Accounting, 23(2), 99–121. doi:10.1023/B: REQU.0000039507. 82692.d3
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; Li & Sloan, 2017Li, K., & Sloan, G. (2017). Has goodwill accounting gone bad?. Review of Accounting Studies, 22(2), 964-1003. doi:10.2139/ssrn.1466271
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; Ramanna & Watts, 2012Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
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; Riedl, 2004Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
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) analisam o reconhecimento da Imp_GW no contexto do poder discricionário dos gestores, quanto ao montante e momento desse reconhecimento, nomeadamente através de práticas big bath, associado à utilização de itens não correntes para gerir os resultados em períodos em que estes são já significativamente baixos. Essa estratégia justifica-se pela expetativa dos mercados não penalizarem as empresas proporcionalmente às suas perdas porque os investidores focam-se mais no futuro e as empresas sinalizam ao mercado as melhorias obtidas após um mau resultado (Jordan & Clark, 2004Jordan, E., & Clark, J. (2004). Big bath earning management: The case of GW impairment under SFAS no. 142. Journal of Applied Business Research, 20(2), 63–69.).

Walsh, Craig e Clarke (1991)Walsh, P., Craig, R., & Clarke, F. (1991). Big bath accounting using extraordinary items adjustments: Australian empirical evidence. Journal of Business Finance & Accounting, 18(2), 173-189. doi:10.1111/j.1468-5957.1991.tb00587.x
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definem big bath pela utilização de itens não frequentes para o ajustamento dos resultados e em situações de perdas ou ganhos anormais, enquanto Elliott e Shaw (1988)Elliott, J. & Shaw, W. (1988). Write offs as accounting procedures to manage perceptions. Journal of Accounting Research, 26, 91-119. doi:10.2307/2491182.
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consideram que ocorre big bath quando a imparidade reportada em itens especiais representa mais do que um por cento do valor contabilístico dos ativos. Estas práticas são mais prováveis em grandes empresas do que em pequenas, embora uma estratégia big bath tenha maior impacto nas últimas (Sevin & Schroeder, 2005Sevin, S., & Schroeder, R. (2005). Earnings management: Evidence from SFAS no. 142 reporting. Managerial Auditing Journal, 20(1), 47–54. doi:10.1108/02686900510570696
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).

Li et al. (2011)Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
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encontraram evidência de práticas big bath com utilização de Imp_GW associadas à presença de resultados negativos, enquanto AbuGhazaleh, Al-Hares e Roberts (2011)AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
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, Beatty e Weber (2006)Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
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e Jordan e Clark (2015)Jordan, E., & Clark, J. (2015). Do New CEOs practice big bath earnings management via goodwill impairments?. Journal of Accounting and Finance, 15(7), 11-21. associaram as práticas big bath a alterações recentes do Chief Executive Office (CEO). Contudo, a hipótese da manipulação dos resultados (big bath) estar associada a novos CEO não foi validada por Avallone e Quagli (2015)Avallone, F., & Quagli, A. (2015). Insight into the variables used to manage the goodwill impairment test under IAS 36. Advances in Accounting, 31(1), 107-114. doi:10.1016/j.adiac.2015.03.011.
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, Jordan e Clark (2004Jordan, E., & Clark, J. (2004). Big bath earning management: The case of GW impairment under SFAS no. 142. Journal of Applied Business Research, 20(2), 63–69., 2015Jordan, E., & Clark, J. (2015). Do New CEOs practice big bath earnings management via goodwill impairments?. Journal of Accounting and Finance, 15(7), 11-21.) e Ramanna e Watts (2012)Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
https://doi.org/ doi:10.1007/s11142-012-...
, autores que concluíram que o reconhecimento de imparidades está associado a outros fatores, designadamente a perceção do mercado ou a deterioração efetiva dos ativos. Por exemplo, Jordan e Clark (2004)Jordan, E., & Clark, J. (2004). Big bath earning management: The case of GW impairment under SFAS no. 142. Journal of Applied Business Research, 20(2), 63–69. concluem que as empresas que mais reconheceram Imp_GW em 2002 fizeram-no, provavelmente, porque os resultados já estavam diminuídos naquele ano e o mercado as puniria relativamente pouco se estes fossem mais reduzidos. Van de Poel, Maijoor e Vanstraelen (2009)Van de Poel, K., Maijoor, S., & Vanstraelen, A. (2009). IFRS goodwill impairment test and earnings management: The influence of audit quality and the institutional environment. Recuperado de http://www.fdewb.unimaas.nl/ ISAR2009/02_17_Van_de_Poel_Maijoor_Vanstraelen.pdf.
http://www.fdewb.unimaas.nl/ ...
concluem que a imparidade é reconhecida em períodos em que outras perdas também o são, ou em períodos em que os resultados pré-imparidade são relativamente baixos, enquanto Jahmani et al. (2010)Jahmani, Y., Dowling, A. & Torres, D. (2010). Goodwill impairment: A new window for earnings management? Journal of Business & Economics Research, 8(2), 19–23. doi:10.19030/jber.v8i2.669
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sugerem que os gestores gerem o momento do reconhecimento de Imp_GW. Por seu lado, Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. e Francis, Hanna e Vicent (1996) concluem que uma história de reconhecimento de Imp_GW induz comportamentos futuros semelhantes.

Em estudos aplicados a empresas portuguesas, Carvalho (2015)Carvalho, C. (2015). O Goodwill e o seu tratamento contabilístico após adoção das IFRS: Uma análise nas empresas da Euronext Lisbon (Tese de doutorado). Universidade de Aveiro, Aveiro, PO. encontrou evidência de práticas big bath, enquanto Castro (2012)Castro, E. (2012). A Manipulação de resultados em Portugal através do goodwill (Tese mestrado). Instituto Politécnico do Porto, Porto, Portugal. não pôde concluir sobre as mesmas. Alves (2013)Alves, S. (2013). The association between goodwill impairment and discretionary accruals: Portuguese evidence. Journal of Accounting – Business & Management, 20(2), 84-98. confirmou a relevância de Imp_GW como elemento discricionário dos accruals.Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. conclui pela existência dessas práticas em empresas espanholas.

Considerando que os estudos conhecidos não são concordantes quanto à prática de utilização de Imp_GW como instrumento de manipulação dos resultados, enuncia-se a seguinte hipótese de investigação:

H1: O reconhecimento de Imp_GW está associado a resultados negativos pré-Imp_GW das empresas, ceteris paribus.

2.2 Constrangimentos a práticas Big Bath

2.2.1 Endividamento

Vários estudos associam a tendência para não reconhecer imparidade, no contexto da gestão dos resultados, quando estes possam influenciar a capacidade negocial de crédito das empresas, designadamente no prémio de risco ou na obtenção de novos empréstimos (Beatty et al., 2002Beatty, A., Ramesh, K. & Weber, J. (2002). The importance of accounting changes in debt contracts: The cost of flexibility in covenant calculations. Journal of Accounting and Economics, 33(2), 205–227. doi:10.1016/S0165-4101(02)00046-0.
https://doi.org/doi:10.1016/S0165-4101(0...
; Beatty & Weber, 2006Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1475-679X....
; Riedl, 2004Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
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).

Quando o GW, e outros intangíveis, tem um peso significativo no ativo total, os credores não ignoram as informações contidas nessas rubricas (Beatty, Weber, & Yu, 2008Beatty, A., Weber, J., & Yu, J. (2008). Conservatism and debt. Journal of Accounting and Economics, 45(2-3), 154– 174. doi:10.1016/j.jacceco.2008.04.005.
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). A perceção do risco de crédito pode ser sinalizada pelos rácios Debt-to-Equity ou Passivo/Ativo. Elevados níveis de endividamento incentivam ao não reconhecimento de imparidades, a fim de não incrementar aqueles indicadores e para evitar consequências nas condições de negociação da dívida. Este comportamento não é, contudo, generalizável. Beatty et al. (2002)Beatty, A., Ramesh, K. & Weber, J. (2002). The importance of accounting changes in debt contracts: The cost of flexibility in covenant calculations. Journal of Accounting and Economics, 33(2), 205–227. doi:10.1016/S0165-4101(02)00046-0.
https://doi.org/doi:10.1016/S0165-4101(0...
, por exemplo, concluem que as empresas estão dispostas a suportar taxas de juros mais altas para manter a flexibilidade nas opções contabilísticas, contrapondo desta forma outros interesses que não apenas o custo do endividamento, designadamente os relacionados com custos de agência, litigância ou impostos (Beatty et al., 2008Beatty, A., Weber, J., & Yu, J. (2008). Conservatism and debt. Journal of Accounting and Economics, 45(2-3), 154– 174. doi:10.1016/j.jacceco.2008.04.005.
https://doi.org/ doi:10.1016/j.jacceco.2...
).

Outros autores, designadamente AbuGhazaleh et al. (2011)AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1467-646X....
, Avallone e Quagli (2015)Avallone, F., & Quagli, A. (2015). Insight into the variables used to manage the goodwill impairment test under IAS 36. Advances in Accounting, 31(1), 107-114. doi:10.1016/j.adiac.2015.03.011.
https://doi.org/doi:10.1016/j.adiac.2015...
, Beatty e Weber (2006)Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1475-679X....
, Godfrey e Koh (2009)Godfrey, J., & Koh P. (2009). Goodwill impairment as a reflection of investment opportunities. Accounting and Finance, 49(1), 117–140. doi:10.1111/j.1467-629X.2008.00272.x
https://doi.org/doi:10.1111/j.1467-629X....
, Hamberg et al. (2011)Hamberg, M., Paananen, M., & Novak. J. (2011). The adoption of IFRS 3: The effects of managerial discretion and stock market reactions. European Accounting Review, 20(2), 263–288. doi:10.1080/09638181003687877
https://doi.org/doi:10.1080/096381810036...
, Ramanna e Watts (2012)Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
https://doi.org/ doi:10.1007/s11142-012-...
, Vogt, Pletsch, Morás e Klann (2016)Vogt, M., Pletsch, C., Morás, V., & Klann, R. (2016). Determinantes do reconhecimento das perdas por impairment do goodwill. Revista de Contabilidade e Finanças, 27(72), 349-362. doi:10.1590/1808-057x201602010.
https://doi.org/doi:10.1590/1808-057x201...
e Zhang (2008)Zhang, J. (2008). The contracting benefits of accounting conservatism to lenders and borrowers. Journal of Accounting and Economics, 45(1), 27–54. doi:10.1016/j.jacceco.2007.06.002.
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associam o endividamento a opções de política contabilística. Beatty e Weber (2006)Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
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sugerem que as empresas são menos suscetíveis de reconhecer Imp_GW quando têm menor capacidade de negociação e as alterações contabilísticas afetam os contratos de crédito. Zhang (2008)Zhang, J. (2008). The contracting benefits of accounting conservatism to lenders and borrowers. Journal of Accounting and Economics, 45(1), 27–54. doi:10.1016/j.jacceco.2007.06.002.
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, por sua vez, analisa a relação entre as políticas contabilísticas conservadoras e os contratos de crédito, observando que existem imparidades menores nas empresas mais alavancadas e que os credores oferecem taxas de juros mais baixas para mutuários mais conservadores. Contudo, considera que os mutuários mais conservadores são também os mais propensos a violar os contratos mediante impactos negativos. Também Ramanna e Watts (2012)Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
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confirmam que a Imp_GW decresce quando estão em risco alterações aos contratos da dívida.

Os resultados sobre discricionariedade no reconhecimento de Imp_GW e endividamento não são consensuais, nem tão pouco robustos. Godfrey e Koh (2009)Godfrey, J., & Koh P. (2009). Goodwill impairment as a reflection of investment opportunities. Accounting and Finance, 49(1), 117–140. doi:10.1111/j.1467-629X.2008.00272.x
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concluíram que os gestores usam poder discricionário para reduzir os custos de contratação e encontraram aí uma relação significativa, mas pouco robusta. Hamberg et al. (2011)Hamberg, M., Paananen, M., & Novak. J. (2011). The adoption of IFRS 3: The effects of managerial discretion and stock market reactions. European Accounting Review, 20(2), 263–288. doi:10.1080/09638181003687877
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também testaram a relevância do rácio de endividamento no reconhecimento destas perdas e concluíram pela sua não significância, justificada pelo facto de a legislação sueca restringir o pagamento obrigatório de dividendos e tais restrições reduzirem a imprevisibilidade de reembolso da dívida.

Lapointe-Antunes, Cormier e Magnan (2008)Lapointe-Antunes, P., Cormier, D., & Magnan, M. (2008). Equity Recognition of mandatory accounting changes: The case of transitional goodwill impairment losses. Canadian Journal of Administrative Sciences, 25(1), 37–54. doi: 10.1002/cjas.41.
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encontraram relações negativas entre a alavancagem financeira ou a necessidade de financiamento e a Imp_GW. Estes autores concluíram que, em geral, as empresas que aumentam a dívida ou o capital próprio não são influenciadas pelo facto do GW parecer estar em imparidade.

Abughazaleh et al. (2011)AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
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não encontraram relação significativa entre o rácio de endividamento e o reconhecimento de Imp_GW, justificando a ausência dessa relação por uma menor assimetria de informação entre os gestores e os financiadores, o que criaria poucos incentivos para a gestão dos resultados. Estudos mais recentes não encontraram relação entre endividamento e práticas de gestão de resultados através da Imp_GW (Avallone & Quagli, 2015Avallone, F., & Quagli, A. (2015). Insight into the variables used to manage the goodwill impairment test under IAS 36. Advances in Accounting, 31(1), 107-114. doi:10.1016/j.adiac.2015.03.011.
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; Carvalho, 2015Carvalho, C. (2015). O Goodwill e o seu tratamento contabilístico após adoção das IFRS: Uma análise nas empresas da Euronext Lisbon (Tese de doutorado). Universidade de Aveiro, Aveiro, PO.; Vogt et al., 2016Vogt, M., Pletsch, C., Morás, V., & Klann, R. (2016). Determinantes do reconhecimento das perdas por impairment do goodwill. Revista de Contabilidade e Finanças, 27(72), 349-362. doi:10.1590/1808-057x201602010.
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).

2.2.2 Valor de mercado

Em regra, as proxies do valor de mercado são tratadas como variáveis dependentes. Contudo, Alciatore, Easton e Spear (2000)Alciatore, M., Easton, P., & Spear, N. (2000). Accounting for the impairment of long-lived assets: Evidence from the petroleum industry. Journal of Accounting and Economics, 29(2), 151-172., Elliot e Shaw (1988), Francis et al. (1996)Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
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, Riedl (2004)Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
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e Vogt et al. (2016)Vogt, M., Pletsch, C., Morás, V., & Klann, R. (2016). Determinantes do reconhecimento das perdas por impairment do goodwill. Revista de Contabilidade e Finanças, 27(72), 349-362. doi:10.1590/1808-057x201602010.
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consideram o valor de mercado como variável potencialmente explicativa. Alguns autores defendem que o reconhecimento de Imp_GW obriga os gestores a divulgar informação sobre o justo valor e a expetativa de cash flows futuros, o que conduz à atualização das expetativas dos investidores quanto aos retornos futuros (Chen et al., 2008Chen, C., Kohlbeck, M., & Warfield, T. (2008). Timeliness of impairment recognition: Evidence from the initial adoption of SFAS 142. Advances in Accounting, 24(1), 72–81. doi:10.1016/j.adiac.2008.05.015.
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; Jarva, 2009Jarva, H. (2009). Do firms manage fair value estimates? An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Business Finance and Accounting, 36(9-10), 1059–1086. doi:10.1111/j.1468-5957.2009. 02169.x.
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; Lee, 2011Lee, C. (2011). The effect of SFAS 142 on the ability of goodwill to predict future cash flows. Journal of Accounting and Public Policy, 30(3), 236–255. doi:10.1016/j.jaccpubpol.2010.11.001
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; Li et al., 2011Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
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).

Os critérios de reconhecimento envolvem estimativas não verificáveis dos cash flow futuros ou valores de mercado, que são suscetíveis de manipulação (Holthausen & Watts, 2001Holthausen, W., & Watts, L. (2001). The relevance of the value-relevance literature for financial accounting standard setting. Journal of Accounting and Economics, 31(1-3), 3–75. doi:10.1016/S0165-4101(01)00029-5
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). Contudo, se os investidores validam uma medida de avaliação e recompensam os gestores com base nessa medida, estes tenderão a manipulá-la em proveito próprio (Watts, 2003Watts, R. (2003). Conservatism in accounting Part I: Explanations and implications. Accounting Horizons, 17(3), 207-221. doi:10.2308/acch.2003.17.3.207
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). Henning et al. (2004)Henning, L., Shaw, H., & Stock, T. (2004). The amount and timing of goodwill write-offs and revaluations: Evidence from U.S., & U.K. firms. Review of Quantitative Finance and Accounting, 23(2), 99–121. doi:10.1023/B: REQU.0000039507. 82692.d3
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confirmam essa manipulação (atraso no reconhecimento de Imp_GW e reavaliações estratégicas) para obter a aprovação dos acionistas, vinculada a determinados objetivos. Francis et al. (1996)Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
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incluem o desempenho do preço de mercado e a variação do indicador book-to-market como proxies da decisão sobre o reconhecimento de imparidade (com uma expetativa de relação negativa), comprovada para o indicador de mercado, e concluem que as empresas com fraco desempenho no mercado reconhecem perdas de imparidades mais elevadas.

Alciatore et al. (2000)Alciatore, M., Easton, P., & Spear, N. (2000). Accounting for the impairment of long-lived assets: Evidence from the petroleum industry. Journal of Accounting and Economics, 29(2), 151-172. analisam a relação entre o preço das ações e a imparidade de ativos. Encontraram uma correlação maior entre os valores de imparidade e os retornos do trimestre anterior do que entre a imparidade e os retornos do mesmo período, concluindo que a imparidade tende a ser relatada após a queda do preço das ações, sugerindo que o mercado já incorporara, pelo menos, parte dessa informação. Resultados semelhantes foram obtidos por Chen et al. (2008)Chen, C., Kohlbeck, M., & Warfield, T. (2008). Timeliness of impairment recognition: Evidence from the initial adoption of SFAS 142. Advances in Accounting, 24(1), 72–81. doi:10.1016/j.adiac.2008.05.015.
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. Riedl (2004)Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
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utiliza três proxies de mercado (retorno por indústria, retorno por empresa e variação do retorno) e encontra uma relação negativa significativa com a Imp_GW.

Li e Sloan (2017)Li, K., & Sloan, G. (2017). Has goodwill accounting gone bad?. Review of Accounting Studies, 22(2), 964-1003. doi:10.2139/ssrn.1466271
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testam a hipótese de que o preço das ações reflete corretamente todas as informações sobre um GW inflacionado e as suas desvalorizações futuras. Testam o valor das ações em período anterior e em período contemporâneo, concluindo que as decisões de Imp_GW não são um reflexo das alterações nos cash flow futuros estimados, mas uma resposta tardia à extinção substancial dos benefícios de GW, já refletidos pelo mercado. Giner e Pardo (2015)Giner, B., & Pardo, F. (2015). How ethical are managers’ goodwill impairment decisions in Spanish-listed firms? Journal of Business Ethics, 132(1), 21-40. doi:10.1007/s10551-014-2303-8
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, num estudo sobre empresas espanholas com títulos admitidos à negociação, também utilizaram como proxies de mercado o retorno (t-1) e o market-to-book e encontraram apenas uma relação significativa com este último. Carvalho (2015)Carvalho, C. (2015). O Goodwill e o seu tratamento contabilístico após adoção das IFRS: Uma análise nas empresas da Euronext Lisbon (Tese de doutorado). Universidade de Aveiro, Aveiro, PO. encontrou relação negativa significativa entre o market-to-book e o reconhecimento de Imp_GW em empresas portuguesas.

Considerando a diversidade das conclusões e que numa política big bath a opção de redução dos resultados pode ser condicionada pelo grau de alavancagem financeira e pela antecipação de uma redução do retorno de mercado, com a consequente penalização dos acionistas, estabelece-se a seguinte hipótese:

H2: As práticas big bath das empresas com resultados negativos pré-Imp_GW são condicionadas pelo endividamento e pelo mercado bolsista, ceteris paribus.

3 Estudo Empírico

Esta investigação segue uma abordagem positivista (Watts & Zimmerman, 1990Watts, R., & Zimmerman, J. (1990). Positive accounting theory a ten-year perspective. The Accounting Review, 65(1), 131-156.) e procura relações causais entre variáveis potencialmente explicativas do reconhecimento de Imp_GW. No âmbito desta teoria, as práticas contabilísticas são pautadas pelos interesses dos agentes, que procuram maximizar seu bem-estar. Watts e Zimmermann (1990) apontam a regulação, os custos de elaboração de informação, os planos de remuneração, o grau de endividamento e os custos políticos associados à dimensão das empresas, como fatores que influenciam essas práticas.

3.1 Universo e amostra

O universo da investigação é constituído pelas empresas com títulos admitidos à cotação nas bolsas de Lisboa e Madrid, no período 2007-2015. Fundamenta-se esta escolha, nomeadamente, pela maior exigência de transparência imposta pelas entidades supervisoras.

A influência histórica code law de ambos os países, em comparação com os de tradição common law, é vista como fator de menor proteção dos acionistas e credores (La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, & Vishny, 1997La Porta, R., Lopez-de-Silanes, F., Shleifer, A., & Vishny, R. (1997). Legal determinants of external finance. The Journal of Finance, 52(3), 1131-1150. doi: 10.1111/j.1540-6261.1997.tb02727.x
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). Paralelamente, o índice de perceção da corrupção em 2015 (Transparency Internacional, 2016Transparency Internacional (2016). Corruption Perceptions Index 2015 [on line]. Recuperado de http://issuu.com/transparencyinternational/docs/2015_corruptionperceptionsindex_rep?e=2496456/33011041.
http://issuu.com/transparencyinternation...
) coloca Portugal e Espanha em 28.º e 37.º lugar, respetivamente, do ranking mundial (16.º e 22.º, respetivamente, no ranking dos países europeus) o que preconiza também um ambiente de menor proteção legal.

Ambos os países viveram vários anos de recessão económica (2009-2013), com elevado desemprego, especialmente Espanha (na ordem dos 20%). Espanha tem um produto interno bruto (2016) que a posicionava em quinto da União Europeia, segundo a informação publicada pela Eurostat, e 13.º no ranking mundial (Portugal em 46.º), segundo o Banco Mundial (2018)Banco Mundial (2018). World Development Indicators [on line]. Disponível em https://datacatalog.worldbank.org/dataset/world-development-indicators.
https://datacatalog.worldbank.org/datase...
. Portugal, fruto da recessão económica, conjugada com um crescimento continuado da dívida pública, foi sujeito a um Programa de Assistência Económica e Financeira (2011-2014) que conduziu a medidas de maior rigor orçamental, pugnando pela estabilidade dos mercados financeiros e cortes na despesa social. Se bem que com um grau de intervenção diferente, também Espanha recorreu a apoio financeiro para recapitalização do setor financeiro.

No que respeita à capitalização bolsista (World Federation of Exchanges, 2016World Federation of Exchanges (2016). WFE Annual Statistics Guide 2016 [on line]. Recuperado de https://www.world-exchanges.org/home/index.php/statistics/annual-statistics#ASG.
https://www.world-exchanges.org/home/ind...
) mantêm-se a diferença entre os dois países, ocupando Espanha o 16.º lugar do ranking mundial e Portugal o 48.º.

Considera-se uma amostra de 105 empresas - 35 portuguesas e 70 espanholas - de um universo, respetivamente, de 53 e 124 (em 2015). Excluem-se as empresas do setor financeiro e do setor desportivo, atendendo há não total comparabilidade da informação. Também se excluem empresas com o prefixo do International Securities Identification Number diferente de PT ou ES atendendo ao objetivo de analisar o país de localização destas entidades.

Os dados foram extraídos direta e manualmente dos relatórios e contas consolidados das empresas, disponíveis nos sítios das entidades supervisoras dos mercados de valores mobiliários de Portugal e de Espanha. Os dados de mercado (cotação das ações) foram obtidos nos sítios da internetwww.bolsadelisboa.com.pt/ e www.bolsademadrid.es/.

Na análise de Imp_GW excluem-se 11 empresas por não apresentarem GW no balanço (uma portuguesa e 10 espanholas). Obteve-se um painel final, não balanceado, com 826 observações.

3.2 Variáveis

A variável dependente, Imp_GW, quantia positiva, é utilizada em vários estudos na forma primária ou deflacionada, pelo valor dos ativos ou das vendas, ou em forma binária (reconhecimento ou não reconhecimento de Imp_GW). Optou-se pela utilização da quantia escriturada transformada logaritmicamente, com a finalidade de reduzir a assimetria no seio da amostra. A logaritimização das variáveis é um procedimento comum em variáveis contínuas, com intervalo [0; +∞ [, quando utilizadas em estudos económicos/financeiros. Neste estudo, dado a presença do valor zero (0), a transformação foi realizada com a expressão ln (Imp_GW +1).

Explora-se a associação entre o reconhecimento de Imp_GW no ano t (Ln_imp_GWt) e o reconhecimento no ano anterior (t-1). Com base em Beatty e Weber (2006)Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1475-679X....
, Elliott e Hanna (1996)Elliott, J. & Hanna, J. (1996). Repeated Accounting Write-Offs and the Information Content of Earnings. Journal of Accounting Research, 34, 135-155. doi: 10.2307/2491430.
https://doi.org/doi: 10.2307/2491430...
, Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. e Francis et al. (1996)Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
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, espera-se uma associação positiva entre essas duas variáveis. A introdução da variável dependente como independente viola os pressupostos da exogeneidade dos regressores, o que justifica o recurso ao estimador system Generalized Method of Moments (GMM) e não a ordinary least squares ou a estimadores de efeitos fixos ou aleatórios para dados em painel.

Os Resultados líquidos negativos (RL_neg), antes de imparidade, o Retorno de mercado e o Nível de endividamento são as variáveis de interesse deste estudo, variáveis estimadas para toda a amostra, e controladas por país e por setor de atividade (Industry Classification Benchmark, nível 1). Com os RL_neg pretende-se captar as práticas big bath, através do reconhecimento de Imp_GW, em períodos de resultados já negativos antes desse reconhecimento. Explora-se a hipótese de que em períodos de mau desempenho económico o agravamento desse desempenho através de Imp_GW é percebido pelos gestores como tendo um impacto minimizado na esfera dos stakeholders.

As proxies de mercado refletem as expetativas dos investidores ou são indicadores da capacidade de gerar cash flow futuros, como o Price to book valeu (PBV), o Retorno das ações (Ret) e o Return on equity (ROE).

O PBV representa a relação entre o valor de mercado e o valor contabilístico, por ação. Pode ser interpretado como uma medida do retorno das ações (Zhang, 2008Zhang, J. (2008). The contracting benefits of accounting conservatism to lenders and borrowers. Journal of Accounting and Economics, 45(1), 27–54. doi:10.1016/j.jacceco.2007.06.002.
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) ou proxy de cash flows futuros, pelo que é expectável que esteja negativamente associado com a Imp_GW (e.g., Bamber & Cheon, 1998Bamber, L., & Cheon, Y. (1998). Discretionary management earnings forecast disclosures: Antecedents and outcomes associated with forecast venue and forecast specificity choices. Journal of Accounting Research, 36(2), 167–190. doi: 10.2307/2491473.
https://doi.org/doi: 10.2307/2491473...
). Outros autores (e.g., AbuGhazaleh et al., 2011AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
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) preconizam uma associação positiva entre estas duas variáveis. O Ret é uma medida externa, que não só indica o retorno de mercado para os acionistas, como também o desempenho económico das empresas (Francis et al., 1996Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
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; Godfrey & Koh, 2009Godfrey, J., & Koh P. (2009). Goodwill impairment as a reflection of investment opportunities. Accounting and Finance, 49(1), 117–140. doi:10.1111/j.1467-629X.2008.00272.x
https://doi.org/doi:10.1111/j.1467-629X....
) e da capacidade de gerar cash flows no futuro. Como a Imp_GW sinaliza perdas de capacidade para gerar cash flows futuros, é expectável que esta variável, enquanto independente, verifique uma associação negativa com o Ret. Argumento contrário é que gestores de empresas com retornos pobres tendem a gerir os resultados para disfarçar um mau desempenho, pelo que a associação seria positiva. Inclui-se a variável Ret, para o momento t (cotação a 31 de dezembro) como variável independente potencialmente explicativa da Imp_GW uma vez que é expectável que o fecho de contas seja efetuado já com esta informação de mercado, condicionando decisões sobre reconhecimento de accruals. O ROE é um indicador contabilístico da performance da empresa, pelo que melhores desempenhos indicam a não necessidade de reconhecimento de Imp_GW (AbuGhazaleh et al., 2011AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1467-646X....
; Chalmers, Godfrey & Webster, 2011Chalmers, K. Godfrey, J., & Webster, J. (2011). Does a goodwill impairment regime better reflect the underlying economic attributes of goodwill? Accounting e Finance, 51(3), 634-660. doi:10.1111/j.1467-629x.2010.00364.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1467-629x....
; Escribano, 2015Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha.; Giner & Pardo, 2015Giner, B., & Pardo, F. (2015). How ethical are managers’ goodwill impairment decisions in Spanish-listed firms? Journal of Business Ethics, 132(1), 21-40. doi:10.1007/s10551-014-2303-8
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), logo é expectável que se verifique uma relação negativa entre o ROE e Imp_GW.

Inclui-se a variável Passivo/Ativo (Debt) para o período t no intuito de captar a relevância da alavancagem financeira nas decisões sobre a Imp_GW e espera-se uma relação negativa com a Imp_GW, porque a teoria sugere que as empresas tenderão a aumentar os resultados quando negociações relacionadas com o financiamento estão próximas (e.g., Ramanna & Watts, 2012Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
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).

Para além das variáveis de interesse, considera-se ainda um conjunto variáveis de controlo. A variável GW identifica o peso relativo do GW no ativo total (GW_ativo). A deflação do GW pelo ativo total justifica-se pela redução do efeito das assimetrias de dimensão entre as empresas da amostra. É esperada uma relação positiva entre variável peso relativo do GW no ativo total e a respetiva imparidade. Empresas com valores superiores de GW tenderão a reportar maiores valores de imparidade (Abughazaleh et al., 2011AbuGhazaleh, N., Al-Hares, O., & Roberts, C. (2011). Accounting discretion in goodwill impairments: UK evidence. Journal of International Financial Management and Accounting, 22(3), 165-204. doi:10.1111/j.1467-646X.2011.01049. x.
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; Zhang, 2008Zhang, J. (2008). The contracting benefits of accounting conservatism to lenders and borrowers. Journal of Accounting and Economics, 45(1), 27–54. doi:10.1016/j.jacceco.2007.06.002.
https://doi.org/doi:10.1016/j.jacceco.20...
). Com a variável Remuneração do CEO (RV_CEO) pretende-se determinar em que medida o bônus associado ao desempenho econômico (resultados), influencia a decisão sobre o reconhecimento de Imp_GW. Nesse sentido, o gestor tem incentivo para atrasar o reconhecimento de perdas, incluindo as relacionadas com o GW (Beatty & Weber, 2006Beatty, A., & Weber, J. (2006). Accounting discretion in fair value estimates: An examination of SFAS 142 goodwill impairments. Journal of Accounting Research, 44(2), 257–288. doi:10.1111/j.1475-679X.2006.00200.x.
https://doi.org/doi:10.1111/j.1475-679X....
; Ramanna & Watts, 2012Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
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) se tal se repercutir de forma significativa na sua remuneração. É expectável uma correlação negativa entre estas variáveis. Consideram-se as variáveis Ativo Total (Ln_ativo), BIG4 e Return on sales (ROS), como proxies para a dimensão, qualidade da auditoria e desempenho económico, respetivamente. Quanto maior a dimensão, maior a visibilidade pública das empresas, logo pode incentivar práticas de diminuição de resultados para redução dos custos políticos (Watts & Zimmerman, 1978Watts, R., & Zimmerman, J. (1978). Towards a positive theory of the determination of accounting standards. The Accounting Review, 53(1-January), 112–134.), pelo que é expectável uma relação positiva com a variável dependente. A variável BIG4 é utilizada (Escribano, 2015Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha.; Giner & Pardo, 2015Giner, B., & Pardo, F. (2015). How ethical are managers’ goodwill impairment decisions in Spanish-listed firms? Journal of Business Ethics, 132(1), 21-40. doi:10.1007/s10551-014-2303-8
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) como referência da qualidade de supervisão, desincentivo à gestão dos resultados por parte da administração e como capacidade de atempadamente prever, com maior probabilidade, a falência do cliente e, portanto, o risco de litígio. Associa-se também a estes auditores uma perspetiva mais conservadora da contabilidade (e.g., Xu, Carson, Fargher & Jiang, 2013Xu, Y., Carson, E., Fargher, N., & Jiang, L. (2013). Responses by Australian auditors to the global financial crisis. Accounting e Finance, 53(1), 301–338. doi: 10.111/j.1467-629x.2011.00459.x
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), pelo que se espera uma relação positiva com a variável dependente. A variável ROS reflete a relação entre vendas e resultados, pelo que se espera uma relação negativa com Imp_GW, na medida em que as empresas tenderão a maximizar este indicador (Abuaddous, Hanefah e Laili, 2014Abuaddous, M., Hanefah, M., & Laili, N. (2014). Accounting standards, goodwill impairment, and earnings management in Malaysia. International Journal of Economics and Finance, 6(12), 201-211. doi:10.5539/ijef.v6n12p201.
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).

A Tabela 1 resume as variáveis consideradas nos modelos a testar, bem como os sinais esperados e as fontes de referência que as fundamentam teoricamente e justificam os proxies selecionados.

Tabela 1
Variáveis independentes

3.3 Modelos

Segundo Baltagi (2005)Baltagi, B. (2005) Econometric analysis of panel data (3rd ed.). Chichester: Wiley. muitas relações económicas são de natureza dinâmica, isto é, contêm mecanismos de auto-ajustamento. Por isso, para captar esse aspeto e em simultâneo resolver os problemas de endogeneidade característicos deste tipo de dados, adotou-se o system GMM, proposto por Blundell e Bond (1998)Blundell, R., & Bond, S. (1998). Initial conditions and moment restrictions in dynamic panel data models, Journal of Econometrics, 87(1), 115-143.. Estes autores demostraram que o estimador system GMM é mais eficiente do que o simples estimador difference GMM, principalmente quando o parâmetro autoregressivo é moderadamente elevado e o número de observações temporais é relativamente pequeno. O modelo a testar baseia-se num sistema composto por dois grupos de equações: (i) com as variáveis em níveis; (ii) definido nas primeiras diferenças dessas mesmas variáveis.

Para o estudo das duas hipóteses formuladas, definiu-se o seguinte modelo geral:

Lln imp G W i , t = β 1 ln imp G W i , t 1 + β 2 R L n e g i , t + β 3 D e b t i , t + β 4 R e t i , t + β 5 G W a t i v o i , t + β 6 L n a t i v o i , t + β 7 B I G 4 i , t + β 8 Δ P B V i t + β 9 R O E i , t + β 10 R O S i , t + β 11 R V C E O R i , t + u i , t

Com o método system GMM utilizou-se como instrumentos as variáveis desfasadas Ln_imp_GW e variáveis predeterminadas exógenas GW_ativo, Ln_ativo, RL_neg, Debt e Ret. Considerou-se as variáveis Ano e BIG4 como estritamente exógenas.

O modelo geral foi estimado para o período de 2007-2015 e também para os subperíodos 2007-2011 e 2012-2015, que resultaram dos indícios obtidos na análise descritiva quanto à magnitude de Imp_GW reconhecidas (conforme comentários às figuras 1 a 4). As variáveis de interesse RL_neg, Ret e Debt foram controladas por país e por sector de atividade, com vista a captar a relevância destas componentes estruturais.

Figura 1
Imp_GW por país (2007-2015)
Figura 4
Endividamento (%) e Imp_GW (106€) (2007-2015)

Do modelo geral, deduz-se o modelo para verificação da segunda hipótese. Substitui-se as variáveis Ret e Debt pelas variáveis resultantes da interação do RL_neg com essas variáveis, permitindo averiguar em que medida o endividamento e o retorno são condicionantes de práticas de big bath.

Todas as estimações são realizadas em dois passos: erros robustos e opção colapse (gmm), para lidar com os problemas de proliferação de instrumentos que podem conduzir a coeficientes enviesados (Roodman, 2009aRoodman, D. (2009a). How to do xtabond2: An introduction to difference and system GMM in Stata. Stata Journal, 9(1), 86-130., bRoodman, D. (2009b). A note on the theme of too many instruments. Oxford Bulletin of Economics and Statistics, 71(1), 135-158.). A consistência das estimações foi validada através dos testes de Hansen e Arellano-Bond. O teste de Hansen testa restrições de sobre identificação e toma por hipótese nula que os instrumentos são válidos, isto é, não correlacionados com o termo de erro e que os instrumentos não incluídos são corretamente excluídos do modelo estimado. O teste de Arellano-Bond testa a hipótese de ausência de correlação serial de segunda ordem no termo de erro.

4 Resultados

4.1 Análise descritiva

Considerando alguns dos indicadores pertinentes para o estudo, constata-se (Tabela 2) que as empresas espanholas, comparativamente às portuguesas, apresentam indicadores, em média, substancialmente mais elevados, o que demonstra o desequilíbrio de dimensão entre países.

Tabela 2
Caracterização das empresas – Portugal versus Espanha (2007-2015)

A percentagem de empresas que reconhecem Imp_GW é, em termos médios, de cerca de 27%, atingindo a proporção mais elevado em 2011 (36%). Nos restantes anos, a percentagem de reconhecimento varia entre os 20% (2014) e os 30% (2012). Em termos percentuais, as empresas portuguesas não se distinguem substancialmente das espanholas quanto ao reconhecimento de Imp_GW. Considerando os valores médios (106€), já se verificam diferenças significativas entre os países, especialmente nos anos 2011-2014, onde as empresas espanholas apresentam valores comparativamente elevados, o que coincide com uma maior percentagem de empresas com RL_neg, antes de Imp_GW, e um maior volume médio de Imp_GW (Tabela 3).

Tabela 3
Reconhecimento Imp_GW(Sim/não), Imp_GW (valor) e Rl_neg (%)

Uma análise por empresa permite observar que 38% nunca reconheceu Imp_GW e que 12% apenas reconheceu uma vez, observando-se a existência de prática de reconhecimento destas imparidades na maioria das empresas analisadas (62%).

O significado da Imp_GW, como componente dos RL (Figura 1), é diversificado. Assume particular impacto em 2013 (21,5%) para as empresas espanholas e em 2011 (3,3%) para as portuguesas. Também a Imp_GW em percentagem do GW apresenta valores máximos diferenciados entre empresas espanholas (4,4% em 2013) e portugueses (1% em 2011). A distribuição destas imparidades ao longo do período sugere um padrão de reconhecimento diferenciado entre as empresas dos dois países. Enquanto as portuguesas mostram variações pouco significativas, já as espanholas apresentam um período de forte crescimento (2011-2014) retomando níveis mais baixos, e semelhantes aos das empresas portuguesas, apenas em 2015.

A análise comparada de Imp_GW por país (Figura 1), considerando os seus valores relativos face aos resultados e ao GW antes Imp_GW, confirma que as empresas espanholas apresentam valores substancialmente mais elevados, com destaque nos anos 2011-2014, facto que não pode ser apenas imputado à maior dimensão destas empresas.

Identificam-se diferenças entre setores, com destaque para os serviços, com a maior percentagem e montante médio de Imp_GW, e o setor de bens de consumo com a menor percentagem e o menor valor médio. O setor dos bens de consumo é aquele que apresenta o menor valor médio (2007-2015) do GW (183 milhões de euros) o que pode justificar as respetivas imparidades. Os setores da tecnologia e indústria apresentam valores médios de GW substancialmente superiores aos dos restantes (cerca de 2.500 milhões de euros) mas um nível de imparidade abaixo da média. Associa-se o maior volume e a frequência de Imp_GW no setor dos serviços à especificidade dos investimentos deste setor, eventualmente mais exposto às contingências dos mercados de negócios.

Uma análise ao comportamento do mercado de capitais e Imp_GW (Figura 2) sugere a existência de dois subperíodos. Inicialmente, observa-se uma relação inversa entre aumento de Imp_GW e redução do retorno de mercado (anos 2008-2011) e depois Imp_GW crescente, associada a uma recuperação do valor de mercado (anos 2012-2014). Em termos gerais, os dados sugerem que o reconhecimento de Imp_GW e o valor de mercado são variáveis interligadas, tendencialmente com uma relação negativa esperada. No subperíodo com início em 2011-2012 observa-se associação entre um acréscimo de Imp_GW e um aumento do retorno, sugerindo que os mercados de capitais podem acolher o reconhecimento de perdas elevadas sem que tal se reflita no preço das ações, pelo menos em termos imediatos. Quando se esmiúça a análise por país, não se identifica um padrão muito diferenciado no que se refere ao retorno, mas sim no que respeita à Imp_GW, que é justificada pela magnitude assumida nas empresas espanholas (Figura 1).

Figura 2
Evolução da Imp_GW (106€) e Ret (2007-2015)

O volume de negócios (Figura 3) apresenta um comportamento sem grandes oscilações, que não reflete de forma visível um contexto de crise. Contudo, associado a uma diminuição significativa dos resultados (antes de Imp_GW) que apresentam variações negativas, excecionando os anos 2009-2008, 2013-2012 e 2014-2013. O aumento da Imp_GW acompanha os anos de maior redução de resultados e indicia práticas big bath.

Figura 3
Volume negócios, RL e Imp_GW (2007-2015) (106€)

Ao longo do horizonte analisado, as empresas portuguesas apresentam um cenário comparativo de maior endividamento, ultrapassado em 2013 e 2014 pelas empresas espanholas, o que coincide com elevados montantes de Imp_GW (Figura 4).

A análise empírica sugere, no reconhecimento de Imp_GW, a existência de dois subperíodos distintos, com fronteira em 2011/2012, fortemente influenciados pelo comportamento das empresas espanholas.

4.2 Análise dos modelos

Na Tabela 4 apresenta-se uma síntese dos resultados significativos da estimação dos modelos de regressão e que testam as duas hipóteses anteriormente enunciadas.

Tabela 4
Resultados dos modelos estimados

Os resultados obtidos nos vários modelos (Tabela 4) são consistentes quanto ao sinal e significado da generalidade das variáveis. Observa-se uma associação positiva, e significativa, em t e t-1 quanto ao reconhecimento de Imp_GW. Este resultado está em linha com os de Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. e Francis et al. (1996)Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
https://doi.org/doi:10.2307/2491429...
, quando concluem que um histórico de reconhecimento de Imp_GW é indutor de comportamentos futuros semelhantes. Outra razão que pode justificar esta relação positiva é o atraso entre o reconhecimento destas perdas e a redução do valor do ativo subjacente, permitindo aos gestores a afetação mais flexível ao momento conveniente. Considerando os dois subperíodos analisados, constata-se que essa relação apenas é significativa no subperíodo 2007-2012, sugerindo que no subperíodo seguinte outros fatores determinantes se sobrepõem.

No que concerne a H1, os resultados confirmam a capacidade explicativa positiva dos RL_neg para o reconhecimento de Imp_GW (p<0,001), conforme Li et al. (2011)Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
https://doi.org/doi:10.1007/s11142-011-9...
, sugerindo a presença de práticas big bath com especial incidência no subperíodo 2012-2015, nas empresas espanholas, anos em que o número de empresas com resultados negativos (antes de Imp_GW) foi elevado, e coincidente com maiores valores de Imp_GW. Em quatro setores de atividade, os RL_neg são explicativos, mas nos setores da indústria, serviços e tecnologia estão positivamente associados a Imp_GW, enquanto no setor dos bens de consumo estão negativamente associados com esta variável, sugerindo práticas distintas em face dos maus resultados.

Da relação entre o reconhecimento de Imp_GW e variáveis de mercado, apenas o Ret é estatisticamente significativo, apresentando uma relação negativa no subperíodo 2007-2011 e uma relação positiva no subperíodo seguinte. Este resultado sugere que as empresas são sensíveis aos sinais de mercado, quer quando penalizam as perdas por imparidade, quer quando minimizam os seus impactos. No primeiro subperíodo verifica-se a relação esperada (negativa), onde diminuições de valor de mercado estão associadas a acréscimos de imparidade, apesar destas corresponderem a valores médios relativamente baixos, o que indicia que o mercado antecipa perdas futuras, num contexto de depressão económica. No subperíodo 2012-2015 (relação positiva), e apenas nas empresas espanholas, os resultados sugerem, na linha das conclusões de Alciatore et al. (2000)Alciatore, M., Easton, P., & Spear, N. (2000). Accounting for the impairment of long-lived assets: Evidence from the petroleum industry. Journal of Accounting and Economics, 29(2), 151-172., que a Imp_GW tende a ser relatada após a queda do preço das ações, sugerindo que o mercado já incorporara, pelo menos, parte dessa informação. Na análise por setores apenas na indústria e serviços se observa a relação positiva significativa, setores onde anteriormente foram identificadas práticas big bath. Estes resultados suportam as conclusões de Henning et al. (2004)Henning, L., Shaw, H., & Stock, T. (2004). The amount and timing of goodwill write-offs and revaluations: Evidence from U.S., & U.K. firms. Review of Quantitative Finance and Accounting, 23(2), 99–121. doi:10.1023/B: REQU.0000039507. 82692.d3
https://doi.org/doi:10.1023/B: REQU.0000...
, Li e Sloan (2017)Li, K., & Sloan, G. (2017). Has goodwill accounting gone bad?. Review of Accounting Studies, 22(2), 964-1003. doi:10.2139/ssrn.1466271
https://doi.org/doi:10.2139/ssrn.1466271...
, Ramanna e Watts (2012)Ramanna, K., & Watts, R. (2012). Evidence on the use of unverifiable estimates in required goodwill impairment. Review Accounting Studies, 17(4), 749–780. doi:10.1007/s11142-012-9188-5.
https://doi.org/ doi:10.1007/s11142-012-...
, Riedl (2004)Riedl, E. (2004). An Examination of Long-Lived Asset Impairments. The Accounting Review, 79(3), 823-852. doi: 10.2308/accr.2004.79.3.823
https://doi.org/10.2308/accr.2004.79.3.8...
e Watts (2003)Watts, R. (2003). Conservatism in accounting Part I: Explanations and implications. Accounting Horizons, 17(3), 207-221. doi:10.2308/acch.2003.17.3.207
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quanto ao reconhecimento de Imp_GW, como um ato discricionário dos gestores, que lhes permite definir o montante e o momento desse reconhecimento, ajustando-o ao comportamento do mercado.

Verifica-se uma associação positiva, não esperada, entre Debt e Imp_GW, o que sugere que o endividamento não é uma restrição ao reconhecimento destas perdas. Esta relação é significativa apenas nas empresas espanholas (também encontrada por Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. mas não significativa) e nos setores da tecnologia e indústria e, em especial, no subperíodo de 2012-2015. Estes resultados contraíram o pressuposto da teoria positiva da contabilidade, mas, como Beatty et al. (2002)Beatty, A., Ramesh, K. & Weber, J. (2002). The importance of accounting changes in debt contracts: The cost of flexibility in covenant calculations. Journal of Accounting and Economics, 33(2), 205–227. doi:10.1016/S0165-4101(02)00046-0.
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, pode concluir-se que as empresas estão dispostas a suportar taxas de juros mais altas para manter a flexibilidade nas opções contabilísticas.

A relação positiva entre Imp_GW e dimensão da empresa (Ln_ativo, como proxy) é a associação esperada e encontrada na generalidade dos estudos. A relação encontrada neste estudo sugere que, no contexto de uma utilização discricionária deste accrual, as práticas big bath são mais prováveis em grandes empresas do que em pequenas, o que parece confirmar os resultados de Elliott e Shaw (1988)Elliott, J. & Shaw, W. (1988). Write offs as accounting procedures to manage perceptions. Journal of Accounting Research, 26, 91-119. doi:10.2307/2491182.
https://doi.org/doi:10.2307/2491182...
. Sevin e Schroeder (2005)Sevin, S., & Schroeder, R. (2005). Earnings management: Evidence from SFAS no. 142 reporting. Managerial Auditing Journal, 20(1), 47–54. doi:10.1108/02686900510570696
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sugerem que a utilização do big bath tem maior impacto em empresas pequenas, comparativamente às maiores, pelo que esses efeitos ampliados poderão impor algumas restrições na sua utilização. A variável dimensão pode explicar a não evidência de big bath nas empresas portuguesas, cuja dimensão relativa é bastante inferior à das espanholas.

A BIG4 está negativamente associada ao reconhecimento de Imp_GW. A presença de práticas big bath pode justificar esta relação negativa (não esperada), sugerindo comportamentos oportunísticos, sem acolhimento destes auditores. Artur, Tang e Lin (2015)Artur, N., Tang, Q., & Lin, Z. (2015). Corporate accruals quality during the 2008–2010 Global Financial Crisis. Journal of International Accounting Auditing and Taxation, 25, 1-15. doi:10.1016/j.intaccaudtax.2015.10.004.
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quando analisaram a utilização de accruals discricionários, onde se inclui a Imp_GW, como instrumento de gestão dos resultados também obtiveram esta relação negativa.

A relação positiva do ROS (antes de Imp_GW) com a variável dependente é contrária ao esperado. Deduz-se que, no contexto de práticas big bath, a margem nas vendas é sacrificada em favor dos objetivos que subjazem a este tipo de estratégias.

Quando se analisa o condicionamento do mercado e do endividamento no reconhecimento de Imp_GW em empresas com RL_neg (H2) confirma-se um padrão igual ao da amostra total, em práticas big bath. O endividamento não se confirma como fator condicionante na adoção deste tipo de práticas, enquanto o mercado confirma-se como tal (relação negativa) no subperíodo 2007-2011 e não se confirma no subperíodo 2012-2015 (relação positiva), conforme explicitado atrás.

5 Conclusões

Analisou-se a Imp_GW como estratégia big bath de empresas com títulos admitidos à negociação, nas bolsas de Lisboa e de Madrid, assim como eventuais restrições a essa política, no período 2007-2015, que inclui anos de recessão económica (2009-2013) em ambos os países.

Constata-se que 38% das empresas nunca reconheceu Imp_GW (2007-2015), mas a associação positiva e significativa entre Imp_GWt e Imp_GWt-1 reflete a predisposição para este reconhecimento quando já existe uma experiência passada, na linha das conclusões de Escribano (2015)Escribaño, J. (2015). Análisis de la discrecionalidad en el reconocimiento del deterioro del fondo de comercio: Un estudio empírico (Tese doctorado). Universidad Complutense, Madrid, Espanha. e Francis et al. (1996)Francis, J., Hanna, D., & Vincent, L. (1996). Causes and effects of discretionary asset write off. Journal of Accounting Research, 34(3), 117-134. doi:10.2307/2491429
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.

A Imp_GW parece assumir (2007-2015) um papel relevante em práticas big bath, em empresas com resultados já negativos, corroborando a ideia da existência de grande discricionariedade na utilização de accruals não recorrentes, o que é consistente com as conclusões de Li et al. (2011)Li, Z., Shroff, P., Venkataraman, R., & Zhang. I. (2011). Causes and consequences of goodwill impairment losses. Review of Accounting Studies, 16(4), 745-778. doi:10.1007/s11142-011-9167-2.
https://doi.org/doi:10.1007/s11142-011-9...
. A relação negativa com a variável BIG4 sugere práticas contabilísticas em sentido contrário à de uma contabilidade credível, pelo que as grandes empresas de auditoria parecem não conseguir desincentivar estas práticas.

Na análise por subperíodos 2007-2011 e 2012-2015, o big bath apenas é significativo no segundo, e só para as empresas espanholas, o que coincide com a maior percentagem de empresas com resultados negativos, corrigidos de Imp_GW, e com o maior volume destas perdas. O facto de apenas as empresas espanholas apresentarem relações significativas, quer quanto às práticas big bath, quer quanto ao impacto das variáveis de mercado e de dívida, pode justificar-se por apresentarem dimensão média muito superior às portuguesas (cerca de 2,5 no volume de negócios e aproximadamente três vezes na capitalização bolsista) e um maior volume médio de Imp_GW (cerca de 11 vezes), concentrado neste período específico. Por outro lado, os RL_neg indiciam que, apesar de a dimensão atrair uma maior exposição pública, estas empresas tendem a ter maior capacidade de minimizar o impacto do reconhecimento dessas perdas. Confirma-se um dos pressupostos da teoria positiva da contabilidade que associa a dimensão da empresa a políticas que manipulam a contabilidade e tendem a sacrificar os resultados presentes, em prol de lucros futuros.

Os setores de atividade não apresentam comportamento homogéneo na relação entre RL_neg e Imp_GW. Destaca-se o setor dos bens de consumo, com uma relação negativa, a sugerir a não penalização dos resultados através da Imp_GW. Interpreta-se como uma consequência da natureza das atividades económicas, designadamente da exposição dos investimentos a riscos específicos e sistémicos, agravados em períodos de crise.

Analisou-se em que medida o endividamento e o mercado de capitais, em empresas com RL_neg, são constrangimentos em práticas big bath. A relação positiva entre endividamento e Imp_GW, sugere que eventuais penalizações dos credores não condicionam o reconhecimento destas imparidades, nem limitam as práticas big bath. Apesar de várias destas empresas se financiarem com instrumentos de dívida negociados publicamente, no financiamento parece ser determinante o papel das instituições de crédito, com as quais as grandes empresas detêm poder negocial significativo, logo não são severamente afetadas por maus resultados ocasionais. A relação entre o nível de endividamento e a Imp_GW apenas é positiva e significativa nas empresas espanholas, o que sugere que as diferenças de dimensão influenciam o poder negocial perante as entidades credoras. Estes resultados contraíram o pressuposto da teoria positiva da contabilidade, mas como Beatty et al. (2002)Beatty, A., Ramesh, K. & Weber, J. (2002). The importance of accounting changes in debt contracts: The cost of flexibility in covenant calculations. Journal of Accounting and Economics, 33(2), 205–227. doi:10.1016/S0165-4101(02)00046-0.
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pode-se concluir que as empresas estão dispostas a suportar taxas de juros mais altas para manter a flexibilidade nas opções contabilísticas.

O estudo inclui anos de crise (2009-2013), mas também anos de recuperação económica (2014 e 2015) e do mercado de capitais (2012-2013), pertinente no que concerne à relação entre a variável Ret e Imp_GW nas empresas com resultados negativos. Encontrou-se situações diferenciadas nos dois subperíodos considerados (2007-2011 e 2012-2015). Enquanto no primeiro verifica-se uma relação negativa (esperada) entre os sinais do mercado e o reconhecimento de Imp_GW e no segundo subperíodo observa-se uma relação positiva, onde se conjuga uma redução significativa de resultados, mas de recuperação do retorno de mercado. As práticas big bath ocorreram em ambiente onde, por um lado, o mercado não penaliza e, por outro, as empresas gerem a Imp_GW em consonância com as reações esperadas do mercado. Na linha das conclusões de Alciatore et al. (2000)Alciatore, M., Easton, P., & Spear, N. (2000). Accounting for the impairment of long-lived assets: Evidence from the petroleum industry. Journal of Accounting and Economics, 29(2), 151-172., sugere-se que estas perdas tendem a ser relatadas após a queda do preço das ações, porque o mercado de capitais já as incorporara, pelo menos em parte.

Existe evidência de uma gestão oportunista dos resultados, para além da liberdade de escolha que as normas de contabilidade permitem (Libby, Rennekamp, & Seybert, 2015Libby, R., Rennekamp, K., & Seybert, N. (2015). Regulation and the interdependent roles of managers, auditors, and directors in earnings management and accounting choice, Accounting, Organizations and Society, 47, 25-42. doi:10.1016/j.aos.2015.09.003
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; McEnroe & Sullivan, 2014McEnroe, J., & Sullivan, M. (2014). An examination of the perceptions of auditors and chief financial officers of various regulations introduced by the Dodd–Frank financial reform bill. Advances in Public Interest Accounting, 16, 187–220. doi: 10.1108/S1041-7060(2013)0000016010
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).

Os resultados obtidos reportam-se a um horizonte temporal que inclui anos de depressão económica, o que pode ter influenciado o comportamento das empresas quanto ao reconhecimento de Imp_GW, e não se considerou outros fatores identificados como facilitadores ou inibidores da manipulação dos resultados, designadamente variáveis relativas ao governo das sociedades e maior discriminação da informação sobre as unidades geradoras de caixa, a considerar em estudos futuros.

Os resultados permitem indiciar que os mecanismos de controlo contabilístico, internos e externos, não são eficazes na prevenção e no controlo da utilização oportunista de políticas contabilísticas como instrumento de manipulação da verdade contabilística em face de determinados objetivos. O presente estudo contribui para a literatura porque analisa fatores (endividamento e mercado) como potenciais condicionantes nas práticas big bath e justifica que as entidades normalizadoras considerem alternativas que minimizem o poder discricionário dos gestores.

Contribuição dos autores:

Contribuição Cristina Gonçalves Leonor
Ferreira
Efigénio Rebelo Joaquim
Fernandes
1. Definição do problema de pesquisa
2. Desenvolvimento das hipóteses ou questões de pesquisa (trabalhos empíricos)
3. Desenvolvimento das proposições teóricas (ensaios teóricos)
4. Fundamentação teórica/Revisão de Literatura
5. Definição dos procedimentos metodológicos
6. Coleta de dados
7. Análise estatística
8. Análise e interpretação dos dados
9. Revisão crítica do manuscrito
10. Redação do manuscrito
11. Outra (favor especificar)
  • Avaliado pelo sistema:Double Blind Review

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Editor responsável: Prof. Dr. Javier Montoya del Corte

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2018
  • Aceito
    23 Ago 2018
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