Resumo
Este artigo, quantitativo descritivo, apresenta um diagnóstico da Ginástica Artística (GA) no interior do Estado de São Paulo a partir das condições de desenvolvimento das instituições que a promovem (tempo de existência da modalidade na instituição, infraestrutura de aparelhagem, número de profissionais, quantidade e nível dos ginastas no feminino e no masculino). Foi utilizado um questionário estruturado com perguntas fechadas para a coleta de dados, os quais foram analisados a partir da estatística descritiva. Fizeram parte deste estudo 56 técnicos/professores de GA, responsáveis por 28 instituições de 18 cidades do interior do Estado de São Paulo. Os dados coletados mostram que as condições destinadas para a prática não são satisfatórias para o desenvolvimento da GA no nível competitivo, há poucos profissionais em relação ao número de praticantes e poucos praticantes na iniciação esportiva, o que influencia diretamente na baixa quantidade de ginastas no nível competitivo. Muitas instituições não possuem ao menos os aparelhos oficiais da modalidade. Isso compromete o desenvolvimento da GA no interior do Estado de São Paulo, dificultando e influenciando diretamente o potencial de revelação e desenvolvimento de ginastas para o alto rendimento esportivo no Estado. Esses resultados podem refletir diretamente na GA brasileira, uma vez que São Paulo é um Estado bastante representativo em Campeonatos Brasileiros, e a Federação Paulista de Ginástica possui o maior número de entidades filiadas no País.
PALAVRAS-CHAVE
Ginástica; Infraestrutura; Técnico; Esportes
Abstract
This descriptive quantitative paper presents a diagnosis of Artistic Gymnastics (AG) in the state of São Paulo from development conditions of the institutions that promote this sport (existent time of the sport in the institution, equipment’s infrastructure, number of professionals, quantity and level of the gymnasts in male and female). For data collection was used a structured questionnaire with closed questions and the data analysis was made from descriptive statistics. Participated in this study 56 AG coaches responsible for 28 institutions from 18 cities of the State of São Paulo. The collected data show that conditions designed for practice are not satisfactory regarding to the development conditions for AG in competitive level, with few professionals related to the number of practitioners, few practitioners in sport initiation, which directly influences the low amount of gymnasts in competitive level and many institutions do not have at least the official equipment of the sport. The non-appropriated conditions of AG development in the state of São Paulo complicate and directly influence the potential to revelation and development of gymnasts to high performance sport in the state. These results may directly reflect on Brazilian AG since São Paulo is a representative State in Brazilian championships and the São Paulo Gymnastics Federation has the largest number of affiliated entities in the country.
KEY WORDS
Gymnastics; Infrastructure; Coach; Sports
Introdução
O presente artigo abrange as condições de desenvolvimento da Ginástica Artística (GA) no interior do Estado de São Paulo, considerando: tempo de desenvolvimento da modalidade na instituição, nível da modalidade (iniciação esportiva ou competição), número de praticantes, número de técnicos e dedicação de tempo de trabalho semanal à GA.
A GA é uma modalidade que engloba, em sua maioria, elementos complexos tecnicamente, e para a aprendizagem correta, a segurança e a evolução dos atletas, as ajudas manuais são de suma importância11 Araujo C. Manual de ajudas em ginástica. 2a ed. Porto: Porto; 2004. e acompanham os ginastas em todos os níveis, da iniciação esportiva ao alto rendimento, facilitando na aprendizagem dos elementos e diminuindo possíveis medos e riscos22 Gerling IE. Teaching children’s gymnastics. 3rd ed. Oxford: Meyer & Meyer Sport; 2009.. Assim, conhecer algumas características relacionadas ao número de profissionais e ao tempo de dedicação deles na modalidade traz informações sobre a qualidade dessa atuação no desenvolvimento da modalidade.
Um aspecto relevante para a formação de atletas dessa modalidade33 De Bosscher V, De Knop P, Van Bottenburg M, Shibli S, Bingham J. Explaining international sporting success: an international comparison of elite sport systems and policies in six countries. Sport Manag Rev. 2009;12:113-36.
4 Still C. Manual de gimnasia artística femenina. Barcelona: Paidotribo; 1993.
5 Smoleuskiy V, Gaverdouskiy I. Tratado general de gimnasia artística deportiva. Barcelona: Paidotribo; 1996.-66 Arkaev L, Suchilin N. Gymnastics: how to create champions. 2nd ed. Oxford: Meyer & Meyer Sport; 2004. é a infraestrutura de treinamento oferecida - um dos pilares para o sucesso no esporte33 De Bosscher V, De Knop P, Van Bottenburg M, Shibli S, Bingham J. Explaining international sporting success: an international comparison of elite sport systems and policies in six countries. Sport Manag Rev. 2009;12:113-36. -, pois, sem condições ideais de treinamento, as chances de sucesso são restritas ou até improváveis77 Nunomura M, Oliveira MS. Centro de excelência e ginástica artística feminina: a perspectiva dos técnicos brasileiros. Motriz. 2012;18:297-392.. “No Brasil, as instituições desportivas que organizam a GA nos Estados e nacionalmente não têm demonstrado e realizado um efetivo sistema que organize e coordene a atuação dos técnicos ou ofereça condições mínimas de infraestrutura para a prática da modalidade em diferentes regiões do país”88 Schiavon LM, Paes RR. Condições dos treinamentos de ginastas brasileiras participantes de jogos olímpicos (19802004). Motriz. 2012;18:757-69. (p.759).
O ginásio e a aparelhagem específica e auxiliar, segundo Still44 Still C. Manual de gimnasia artística femenina. Barcelona: Paidotribo; 1993., são aspectos estruturais significativos, que, se mal utilizados ou inadequados, podem causar prejuízos aos ginastas.
Nunomura e Oliveira77 Nunomura M, Oliveira MS. Centro de excelência e ginástica artística feminina: a perspectiva dos técnicos brasileiros. Motriz. 2012;18:297-392., em pesquisa desenvolvida sobre Centros de treinamento, ressaltam a relevância da estrutura física nos resultados obtidos pela GAF nos ciclos olímpicos de 2001-2004 e 2005-2008: “Esta condição contribuiu para a rápida evolução técnica, física e, também, psicológica, pois a qualidade dos equipamentos forneceu maior segurança no aprendizado e na execução dos elementos de risco e de dificuldade” (p.382).
Assim, conhecer a instituição em que os profissionais estão inseridos ajuda a revelar como ocorrem tanto a atuação profissional, como o desenvolvimento dos próprios atletas.
A presente pesquisa teve como propósito diagnosticar as condições de desenvolvimento da modalidade no interior do Estado de São Paulo, região importante na GA desse Estado, que, por sua vez, tem uma importância nacional no desenvolvimento da modalidade, conforme Schiavon et al.99 Schiavon LM, Lima LBQ, Ferreira MDTO, Silva YM. Análise da formação e atualização dos técnicos de ginástica artística do Estado de São Paulo. Pensar prát. 2014;17:618-35. ressaltam:
Além de ser um Estado representativo, do ponto de vista de entidades filiadas, especialmente no interior paulista há muitos campeonatos de massificação de Ginástica Artística, assim como competições regionais, estaduais e nacionais, envolvendo um número considerável de participantes da modalidade. Os Jogos Regionais e Jogos Abertos do Interior são competições em nível regional que motivam as cidades paulistas e seus jovens atletas a competirem. Grandes atletas brasileiros, como Daniele Hypólito, Laís Souza e Arthur Zanetti iniciaram aí as suas primeiras participações (p.619)
A pesquisa traz informações sobre tempo de desenvolvimento da GA nas instituições, tempo de dedicação dos profissionais à modalidade, infraestrutura, número de profissionais, quantidade e nível dos ginastas no interior do Estado de São Paulo, pontos que, diagnosticados e analisados, contribuirão para uma valorização e um fortalecimento não apenas da iniciação esportiva, mas também de ginastas em nível competitivo no Estado.
Método
A abordagem metodológica adotada para esta pesquisa foi de caráter descritivo, com dados quantitativos. A importância da pesquisa descritiva fundamenta-se na premissa de que os problemas podem ser encontrados e resolvidos, bem como as práticas podem ser melhoradas1010 Thomas JR, Nelson JK, Silverman SJ. Métodos de pesquisa em atividade física. 5ed. Porto Alegre: Artmed; 2012. 478p., sendo inclusive, eficiente o uso de questionários como ferramentas de exploração do que se deseja conhecer no concernente a uma área.
Instrumentos e procedimentos
Para a coleta dos dados, foi utilizado um questionário estruturado com perguntas fechadas, pertinentes aos objetivos da pesquisa, o qual foi enviado para ser preenchido por cada técnico(a)/professor(a) de GA formado, de cada instituição. Além disso, um profissional por instituição deveria responder também questões sobre as condições de desenvolvimento da GA nessa entidade. Por meio desse questionário, foram levantadas informações a respeito da carga horária de trabalho, número de profissionais da instituição, infraestrutura, quantidade e nível dos atletas.
Participantes
Foram sujeitos dessa pesquisa profissionais de Educação Física de “escolas e/ou centros de treinamento de Ginástica Artística” de Prefeituras Municipais e Clubes/Academias que desenvolvem essa modalidade em cidades do interior do Estado de São Paulo, com população acima de 100.000 habitantes, de acordo com o censo 2009, e que tenham participado dos Jogos Regionais de 20111111 Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisas de informações básicas municipais: perfil dos municípios brasileiros. Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2009 [citado 8 fev. 2012]. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/defaulttab3_coleta.shtm.
http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica...
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Fizeram parte deste estudo 56 técnicos/professores (34 mulheres e 22 homens) de Ginástica Artística (GA), responsáveis por 28 instituições de 18 cidades do interior do Estado de São Paulo.
A escolha das cidades com mais de 100.000 habitantes deve-se ao fato de elas oferecerem uma infraestrutura esportiva suficiente para apoiar uma modalidade que necessita de equipamentos e espaço com investimento financeiro significativo. De acordo com as “Pesquisas de informações básicas municipais - Perfil dos municípios brasileiros”, a gestão do esporte é influenciada pelo porte populacional dos municípios, pois, aqueles com mais recursos investem mais em esporte e na estrutura organizacional, enquanto “naqueles de menor poder de arrecadação fiscal, o montante das despesas necessárias à gerência da atividade, muitas vezes, inviabiliza a criação e a manutenção de estrutura mais robusta com esta finalidade”1111 Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisas de informações básicas municipais: perfil dos municípios brasileiros. Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2009 [citado 8 fev. 2012]. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/defaulttab3_coleta.shtm.
http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica...
(p.66).
Além do critério populacional (cidade a partir de 100.001 habitantes), exigiu-se que a cidade tivesse participado na modalidade GA nos Jogos Regionais do Interior do Estado de São Paulo em 2011. Segundo a Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude - Coordenadoria de Esporte e Lazer do Governo do Estado de São Paulo, a competição ocorre em oito Regiões Esportivas no Estado e da qual podem participar qualquer cidade dele sem necessidade de índices ou classificações prévias. As cidades participantes dessa pesquisa então inseridas nas seguintes regiões: 2ª Região Esportiva - São José dos Campos e Taubaté; 3ª Região Esportiva - Bauru, Piracicaba e São Carlos; 4ª Região Esportiva - Campinas, Americana, Hortolândia, Indaiatuba, Limeira, Rio Claro e Itatiba; 5ª Região Esportiva - Ribeirão Preto e Araraquara; 6ª Região Esportiva - São José do Rio Preto; 7ª Região Esportiva - Presidente Prudente e a 8ª Região Esportiva - Jundiaí e Sorocaba.
Análise de dados
Os dados foram tratados por estatística descritiva. Após tabulação, procede-se a análise estatística dos dados que são desenvolvidos a partir da descrição e avaliação das generalizações obtidas para atender a objetivos, tal como caracterizar o que é típico no grupo1212 Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6a ed. São Paulo: Atlas; 2008.. Assim, a análise estatística descritiva propõe-se a investigar e a descobrir as características de um fenômeno, grupo ou um indivíduo1313 Richardson, RJ. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3a ed. São Paulo: Atlas; 1999..
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Biociências da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita”, campus de Rio Claro, protocolo 3620.
Resultados e discussão
Tempo de desenvolvimento da modalidade na instituição
Das instituições analisadas, 82% têm a modalidade no seu quadro esportivo há no mínimo 16 anos e 64% há mais de 20 anos. Isso demonstra um investimento contínuo na modalidade, na manutenção de técnicos e na infraestrutura (mesmo que não ideal) para a continuidade dessa prática no interior do Estado de São Paulo. Apenas 18% das entidades implantaram a GA mais recentemente, o que aponta para uma modesta renovação ou implantação de novos centros de treinamento no interior paulista. A FIGURA 1 ajuda a visualizar essa realidade.
Tempo que a instituição desenvolve a modalidade GA. Condições de desenvolvimento da ginástica artística
Nível da modalidade
Em relação ao nível da modalidade desenvolvido, 27 instituições especificaram todas as informações requeridas em relação aos atletas, sendo que 20 delas (74%) trabalhavam com a GA em dois níveis: iniciação esportiva e competição, cinco (18,5%) apenas com a iniciação esportiva e duas (7,4%) somente com o competitivo (TABELA 1). Entende-se a iniciação esportiva como o nível no qual o objetivo principal não é o direcionamento dos praticantes para a competição, mas, sim, para a participação e a aprendizagem na escola de esportes. Já a GA competitiva tem como objetivo direcionar ginastas à competição em nível regional, estadual, nacional e/ou internacional.
Número de instituições de GA de acordo com nível de desenvolvimento e sexo, de um total de 27 instituições.
A TABELA 1 mostra que há um maior número de entidades trabalhando na Ginástica Artística feminina (GAF), tanto na iniciação esportiva como no nível competitivo, no entanto a relação entre a quantidade de entidades com o nível de iniciação esportiva e o competitivo é similar entre as modalidades de GAF e GAM.
Tendo em vista o nível da modalidade trabalhado nas instituições, o fato de 74% delas trabalharem com ambos os níveis (iniciação esportiva e competitivo) faz supor que a infraestrutura de treinamento utilizada para ambos seja a mesma. Já em relação ao número de praticantes dessas instituições, a diferença é bastante significativa entre a GAF e GAM, assim como é possível ver a seguir.
Praticantes
Esta pesquisa verificou, nas 27 instituições de 18 cidades do interior do Estado de São Paulo, um total de 4.169 praticantes, sendo 82,5% do sexo feminino e 17,5% do sexo masculino. Das 3.441 atletas do sexo feminino, 84% estão na iniciação esportiva e apenas 16% no nível competitivo da modalidade. No masculino, dos 728 atletas, 76,8% estão na iniciação esportiva e 23,2% no nível competitivo (FIGURA 2). Embora o número de alunas seja maior na iniciação, a proporção de atletas no nível competitivo é menor em relação ao sexo masculino. Não é possível fazer uma comparação dessa realidade com outros Estados brasileiros, pois não há dados publicados ou divulgados.
A diferença considerável encontrada entre o número de atletas na iniciação esportiva e no competitivo (FIGURA 2) traz apontamentos sobre a difificuldade e a rigorosa seleção para seguir no nível competitivo da modalidade. A GA é uma modalidade com peculiaridade demasiadamente seletiva, demandando um treinamento sistemático e certas capacidades físicas e motoras1414 Ferreira Filho RA, Nunomura M, Tsukamoto MHC. Ginástica artística e estatura: mitos e verdades na sociedade brasileira. Rev Mackenzie Educ Fís Esporte. 2000;5:21-31.-1515 Lopes P, Nunomura M. Motivação para a prática e a permanência na ginástica artística de alto nível. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2007;21:177-87.. No Brasil, diferente de muitos países, observa-se que há ginastas indo para seu quinto Jogos Olímpicos, como o caso da atleta Daniele Hypólito, o que demonstra uma difificuldade na revelação de novas ginastas no mesmo ou melhor nível competitivo no Brasil.
O maior número de praticantes do sexo feminino pode estar associado a diversos fatores, entre eles, possivelmente, os aspectos culturais, como discriminação e preconceito em relação à participação de meninos na GA. Apesar de a ciência demonstrar os diversos benefícios nos aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais para seus praticantes1616 Guimarães DCB, Ramos G, Amorim L, Martins T, Gustavo W, Souza SG. Preconceito contra o sexo masculino na ginástica da escola. Lect Educ Fís Deportes. 2013;18 [citado 2014]. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd186/preconceito-contra-o-sexo-masculino-na-ginastica.htm.
http://www.efdeportes.com/efd186/preconc...
, a divulgação da modalidade feminina é bem mais atuante na mídia, e a cultura de meninos não praticarem atividades expressivas em nosso País ainda prevalece.
“O fato de ginástica no geral, independente da modalidade, ser mais ligada ao mundo feminino traz pontos polêmicos para as representações de homens e masculinidades, e parece que este é um caminho a ser percorrido, por vezes bastante caro, para atletas homens que optam pela ginástica”1717 Pilotto FM. Educação corporal de atletas de ginástica artística [tese]. Porto Alegre(RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010. (p.85). Pilloto1717 Pilotto FM. Educação corporal de atletas de ginástica artística [tese]. Porto Alegre(RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010. ainda complementa relacionando as características da postura e vestimenta da GA e a questão de gênero:
Postura e elegância - cabeça e ombros erguidos, ponta de pé, alinhamento dos ombros, joelhos e quadril -, juntamente com o uso de roupas justas - collants (malhas que se assemelham ao maiô) e calça colada -, tornam o naipe masculino vulnerável a críticas, principalmente para quem associa o uso destes assessórios e a execução desta postura ao universo feminino (p.77).
No que concerne à quantidade total de ginastas/praticantes, das 27 instituições observadas, 44,4% têm de 51 a 100 atletas, sendo o número mínimo de 21 ginastas e o número máximo de 878 atletas entre as instituições analisadas (TABELA 2).
Na GA competitiva, das 22 instituições que trabalham com esse nível, observa-se que 45,45% possuem até 20 atletas neste nível. Já, na iniciação esportiva, das 25 instituições que afirmaram trabalhar com este nível, 56% têm de 25 a 80 atletas iniciantes na modalidade (TABELA 3).
Considerando que tanto a GAF como a GAM possuem quatro categorias cada (pré-infantil, infantil, juvenil e adulta) e que uma equipe seria composta por cinco ou seis ginastas (varia de acordo com a competição); para se ter uma equipe em cada categoria de cada modalidade (GAF e GAM), seriam necessários 48 ginastas em treinamento (24 na GAF e 24 na GAM). Acima desse número há apenas quatro instituições, o que revela que ainda se está longe da quantidade adequada de praticantes para campeonatos na modalidade, o que está diretamente relacionado ao baixo número de praticantes na iniciação esportiva. Ao considerar ainda que o Estado de São Paulo tem o maior número de praticantes e entidades filiadas à federação, é possível deduzir como se encontra o restante do país.
Profissionais
Fatores como a quantidade dos profissionais das instituições e a relação do número de técnicos por quantidade de atletas são de extrema importância para o adequado desenvolvimento dos atletas. Essa relação deve ser diretamente proporcional, ou seja, quanto maior o número de atletas maior deveria se o número de profissionais envolvidos.
Digel1818 Digel H. The context of talent identification and promotion: a comparison of nations. New Stud Athl. 2002;17:13-26. aponta que a China, em 1998, possuía cerca de oito ginastas para cada técnico nos Institutos de técnica desportiva, e que havia, aproximadamente, 100 técnicos por centro esportivo de Ginástica Artística, os principais do país, trabalhando com quatro níveis diferentes na modalidade.
No interior do Estado de São Paulo, como observado na FIGURA 3, 64,3% das instituições possuem um ou dois técnicos.
Embora ainda exista a possibilidade da presença de estagiários para auxiliar os técnicos no trabalho direto com os praticantes, em 36% das instituições eles não estão presentes, conforme é possível observar na FIGURA 4.
Das instituições analisadas, quatro (14%) possuem dois estagiários, três (11%) possuem três, e uma (3%) cinco estagiários (FIGURA 4). Esse cenário demonstra a falta de adequação para um aprendizado satisfatório e da segurança que as modalidades, como a GAF e a GAM, requerem, o que também não colabora para o aumento do número de profissionais bem qualificados e o interesse pela área.
O número reduzido de profissionais sobrecarrega os técnicos e dificulta a evolução dos ginastas, tendo em vista que se trata de uma modalidade de precisão, que requer segurança e correção. Trabalhar com poucos profissionais é bastante dificultoso, principalmente no contexto competitivo, devido ao nível de complexidade maior dos exercícios e da necessidade significativa de auxílio e segurança na condução para a aprendizagem de exercícios, uma constante na GA.
Os dados possibilitaram constatar que 75% dos técnicos trabalham no mínimo 21 h semanais dentro dos ginásios (FIGURA 5), o que equivale a, no mínimo, um período do seu dia ao ginásio de GA ou até as 40 horas semanais dedicadas ao trabalho com essa modalidade, percentual representativo para o interior de Estado de São Paulo, com tantos profissionais totalmente dedicados à GA.
O técnico esportivo ocupa um papel de relevância para a evolução de qualquer modalidade esportiva dentro de cada instituição. Segundo Schiavon1919 Schiavon LM. Ginástica artística feminina e história oral: a formação desportiva de atletas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (1980- 2004) [tese]. Campinas(SP): Universidade Estadual de Campinas; 2009., todas as ginastas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos de 1980 a 2004 destacaram, de forma unânime, seus técnicos “[...] como importantes para suas conquistas na modalidade [...]” (p.319).
Infraestrutura
No que concerne à infraestrutura de aparelhagem existente na região estudada, foram considerados não apenas os aparelhos oficiais, mas também outros auxiliares na aprendizagem de exercícios. Na GAF, são realizadas quatro provas (Salto sobre a mesa, Barras Paralelas Assimétricas, Trave de equilíbrio e Solo) e na GAM seis provas (Solo, Cavalo com alças, Argolas, Salto sobre a mesa, Barras Paralelas Simétricas e Barra fixa).
Dois aparelhos são utilizados tanto pela GAF como pela GAM: a mesa para a prova de Salto (Mesa de Salto) e o tablado na prova de Solo (12 m x 12 m). Das 28 instituições analisadas em relação a essa infraestrutura, 18 possuem uma única unidade do aparelho mesa de salto, três possuem duas unidades e sete não possuem o aparelho. É importante ressaltar que a mesa de salto é o aparelho mais recente da GA, tendo sido inserido em 2001 em substituição ao cavalo. Já 14 instituições possuem uma unidade de tablado para prova de Solo, duas instituições duas unidades e 12 não possuem o aparelho em sua metragem oficial (12 m x 12 m) (FIGURA 6).
As 27 instituições, aqui analisadas, trabalham com a GAF. Em relação aos aparelhos Barras Paralelas Assimétrica e a Trave de Equilíbrio, exclusivos da GAF, constatou-se: que 14 instituições possuem uma unidade de Barras Paralelas Assimétricas; 10 instituições, duas unidades; e quatro não possuem esse equipamento (FIGURA 7).
Todas as instituições, aqui pesquisadas, possuem a Trave de equilíbrio (FIGURA 8), sendo que 65% delas possuem pelo menos três unidades desse equipamento.
No masculino, são quatro os aparelhos exclusivos, o Cavalo com Alças, as Argolas, as Barras Paralelas Simétricas e a Barra fixa. Do total de 27 instituições, apenas 19 (70,37%) trabalham com a GAM. Do Cavalo com Alças, 13 instituições não possuem esse equipamento, oito possuem uma unidade e sete duas unidades. Das Argolas, 12 instituições não possuem unidades desse equipamento, 13 possuem uma única unidade e três instituições duas unidades. Já das Barras Paralelas Simétricas, 10 instituições não possuem esse equipamento, nove possuem uma única unidade e nove duas unidades. Da Barra Fixa, nove instituições não possuem esse equipamento, 11 possuem uma unidade e oito instituições duas unidades (FIGURA 9).
Além dos aparelhos oficiais utilizados durante as competições da modalidade, os ginastas precisam de equipamentos auxiliares diversificados, os quais contribuem para condições mais seguras, melhor desenvolvimento e acelerada evolução66 Arkaev L, Suchilin N. Gymnastics: how to create champions. 2nd ed. Oxford: Meyer & Meyer Sport; 2004.-77 Nunomura M, Oliveira MS. Centro de excelência e ginástica artística feminina: a perspectiva dos técnicos brasileiros. Motriz. 2012;18:297-392.. De todos os equipamentos auxiliares aqui analisados, os mais comumente encontrados foram: plintos, trampolim tipo Reuther, seguidos pelo minitrampolim (TABELA 4).
Possivelmente isso se deve ao fato de esses equipamentos serem de pequeno porte, fácil transporte e custo não tão elevado em comparação a outros também ou mais importantes. A dificuldade de as entidades possuírem os demais equipamentos pode estar relacionada, além do custo elevado, a eles serem de grande porte, ou até mesmo dependentes de uma mudança na estrutura física dos ginásios, como o caso do fossoa a Um grande buraco, como uma “piscina”, cheio de blocos de espuma, utilizado para aprendizagem de exercícios de maior risco, onde os ginastas podem aterrissar de diferentes formas diminuindo a possibilidade de impacto e, consequentemente, de lesões (adaptado de Schiavon19). .
Os dados aqui obtidos apontam uma carência de materiais, tanto oficiais como auxiliares, o que revela uma infraestrutura comprometida. A aparelhagem é um importante fator no desenvolvimento de modalidades como a GA, principalmente em níveis competitivos, visto que, das instituições aqui analisadas, e já discutido anteriormente, 81,48% (das 27 instituições que responderam sobre o nível de seus alunos) trabalham com este nível. Ao se observarem os dados a respeito dos equipamentos oficiais acima apresentados, um percentual significativo das instituições não possui aparelhos oficiais da modalidade, embora trabalhem com o nível competitivo da GA. Schiavon e Paes88 Schiavon LM, Paes RR. Condições dos treinamentos de ginastas brasileiras participantes de jogos olímpicos (19802004). Motriz. 2012;18:757-69. verificaram que ginastas brasileiras que participaram de Jogos Olímpicos, em algum momento de sua formação esportiva, passaram por condições inapropriadas de ginásios e pela falta de equipamentos na modalidade.
Em relação aos aparelhos auxiliares, principalmente aqueles relacionados mais diretamente a superfícies elásticas, que muito colaboram na aprendizagem e na segurança de exercícios para o alto rendimento, apenas 25% possuem “tumble track”e 28,5% ainda não possuem sequer trampolim acrobático.
É importante destacar que para a aquisição da aparelhagem necessária da GAF e da GAM é necessário um investimento financeiro significativo. No Estado de São Paulo, principalmente em prefeituras e órgãos não privatizados, as condições em que os atletas treinam não chegam perto da considerada ideal1515 Lopes P, Nunomura M. Motivação para a prática e a permanência na ginástica artística de alto nível. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2007;21:177-87..
As políticas internas e o envolvimento das instituições determinam a quantidade de profissionais, a infraestrutura disponível, o número de alunos e o nível com que a instituição irá trabalhar e desenvolver. Conhecer essa realidade é de suma importância para entender como a GA vem sendo trabalhada no Estado de São Paulo, como essa modalidade vem sendo desenvolvida, como vem sendo direcionada.
Os resultados da presente pesquisa revelam que, apesar de haver um número significativo de atletas que se dedicam à GA, há uma deficiência no desenvolvimento dessa modalidade no Estado de São Paulo. Infelizmente não se pode saber se essa é uma realidade em todo o País, pois não há pesquisas dessa natureza realizadas nos demais Estados, o que reforça a significância de serem feitos mais estudos como este aqui realizado.
As condições oferecidas para o desenvolvimento da GA no interior do Estado de São Paulo não são satisfatórias para o nível competitivo, pois há um número reduzido de profissionais, e carência não só de materiais auxiliares, mas também dos aparelhos oficiais requeridos pela modalidade. Mesmo para a iniciação esportiva, a ausência de alguns aparelhos oficiais faz com que o ensino específico de alguns exercícios em aparelhos (barras assimétricas, argolas, cavalo com alças, barra fixa) seja prejudicado, mantendo-se o ensino apenas das provas de Salto e Solo, o que não corresponde à essência da modalidade: exercícios ginásticos em aparelhos de grande porte.
Se, por um lado, é ponto de destaque positivo dos dados pesquisados o fato de 64% de as instituições pesquisadas desenvolverem a modalidade há mais de 20 anos, o que demonstra uma continuidade de trabalho na área, por outro, é possível verificar que, apesar de certa “tradição” em algumas instituições e cidades com a prática da GA, ela não tem se modernizado e recebido um investimento em aparelhagem e profissionais que permita um desenvolvimento representativo em nível estadual e nacional. Ou seja, houve um impulso inicial de implantação da modalidade, mas não um investimento permanente que possibilitasse uma atualização das aulas e dos treinamentos. Isso se traduz na falta de equipamentos modernos para aprimorar os treinamentos, como o “tumble track”, por exemplo, pois 75% das instituições ainda não o possuem. O mesmo ocorre em relação à mesa de salto, aparelho oficial, 25% das entidades não a possuem após 15 anos de sua implantação na modalidade competitiva.
Tal cenário reflete a realidade da modalidade no Estado de São Paulo e, quiçá no País embora faltem dados que comprovem isso, ao se constatar que há um número elevado de ginastas e de conquistas nas categorias com menor faixa etária (até 15 anos) e, nas faixas etárias, em que os ginastas estão aptos a participar de Jogos Olímpicos e Campeonatos mundiais (a partir de 16 anos), a quantidade e a qualidade dos ginastas paulistas diminuem. Além disso, em campeonatos paulistas e brasileiros da modalidade, não se observa a participação de clubes do interior do Estado em seus níveis de maior dificuldade na categoria adulto (a partir de 16 anos) da GAF. Essas informações estão sendo analisadas em pesquisa em andamento, complementar a essa, sobre a GA no Estado de São Paulo.
Assim, melhores condições de desenvolvimento para a modalidade (maior quantidade e qualidade de profissionais, infraestrutura e materiais) podem vir a otimizar as sessões de treinamento, levando a melhores progressões, segurança e, consequentemente, permanência dos ginastas na modalidade, e no Estado de São Paulo. A falta de um centro de treinamento no estado pode ser a causa de muitos ginastas paulistas de destaque, principalmente na GAF, deixarem o estado para treinar, em melhores condições, em outros Estados como Rio de Janeiro e Paraná. As instituições que orientam e promovem a GA no País precisam estar atentas para que as deficiências sejam contornadas e a modalidade ocupe um lugar de excelência no cenário esportivo brasileiro.
Notas
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a
Um grande buraco, como uma “piscina”, cheio de blocos de espuma, utilizado para aprendizagem de exercícios de maior risco, onde os ginastas podem aterrissar de diferentes formas diminuindo a possibilidade de impacto e, consequentemente, de lesões (adaptado de Schiavon1919 Schiavon LM. Ginástica artística feminina e história oral: a formação desportiva de atletas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (1980- 2004) [tese]. Campinas(SP): Universidade Estadual de Campinas; 2009.).
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b
Grande pista como um trampolim acrobático (cama elástica) comprido, de 15 metros ou mais (Schiavon1919 Schiavon LM. Ginástica artística feminina e história oral: a formação desportiva de atletas brasileiras participantes de Jogos Olímpicos (1980- 2004) [tese]. Campinas(SP): Universidade Estadual de Campinas; 2009., p.220).
Referências
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1Araujo C. Manual de ajudas em ginástica. 2a ed. Porto: Porto; 2004.
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2Gerling IE. Teaching children’s gymnastics. 3rd ed. Oxford: Meyer & Meyer Sport; 2009.
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3De Bosscher V, De Knop P, Van Bottenburg M, Shibli S, Bingham J. Explaining international sporting success: an international comparison of elite sport systems and policies in six countries. Sport Manag Rev. 2009;12:113-36.
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4Still C. Manual de gimnasia artística femenina. Barcelona: Paidotribo; 1993.
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5Smoleuskiy V, Gaverdouskiy I. Tratado general de gimnasia artística deportiva. Barcelona: Paidotribo; 1996.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2016
Histórico
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Recebido
18 Nov 2015 -
Aceito
14 Dez 2015