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Gerenciamento de Riscos em Born globals: o caso das Cervejarias Artesanais Brasileiras

RESUMO

Este trabalho analisa como ocorre o gerenciamento de riscos no processo de internacionalização das born globals brasileiras. Para isso, adotamos a pesquisa de abordagem qualitativa, usando uma estratégia de estudo de caso múltiplo, e selecionamos sete cervejarias artesanais com relevância e proeminência nacional. Os resultados destacam como os riscos são percebidos no processo de internacionalização pelos gestores e classificados entre riscos comerciais, intercultural, monetário e país. Também foi identificado que essas empresas usam diferentes ações para mitigar riscos, como planejamento, pesquisa de mercado, construção de cenários, entre outros. As contribuições discutidas neste estudo vão desde a identificação de fatores como o background internacional dos gestores e uso de redes de negócios para minimizar a percepção de risco. Além disso, foi analisada a maneira como os riscos são percebidos e como funcionam as diferentes estratégias de mitigação. Por fim, apresentamos uma proposição de um modelo integrativo para análise do risco na internacionalização de novos empreendimentos Born globals.

Palavras-chave:
Percepção de risco; Empreendimentos Internacionais; Internacionalização; Born global; Cervejarias artesanais

ABSTRACT

This work analyzes how risk management occurs in the internationalization process of Brazilian born global companies. Accordingly, we adopted the qualitative research approach, used a multiple case study strategy, and selected seven relevant craft breweries with national prominence. The findings highlight how risks are perceived in the internationalization process by managers and classified among commercial, intercultural, monetary and country risks. We also identified that these enterprises use different actions to mitigate risks, such as planning, market research, and building scenarios. The contributions discussed in this study are the identification of factors such as the international background of managers and the use of networks to minimize the perception of risk. Additionally, we discussed the ways in which risks are perceived and how the different mitigation strategies work. Finally, we proposed an integrated risk management model for the internationalization of born globals.

Keywords:
Risk Perception; New Ventures; Internationalization; Born Global; Craft Breweries

1. INTRODUÇÃO

A recente expansão dos mercados e a utilização de estratégias de internacionalização são características do fenômeno da globalização e da complexidade do mercado global. As empresas internacionais, estudadas por Bartlett e Ghoshal (2000)Bartlett, C. A., & Ghoshal, S. (2000). Going Global: Lessons from late movers. Harvard Business Review, 78(2), 132-142., impulsionadas pela demanda por recursos em diferentes localidades, iniciaram uma cadeia de multinacionalização, cruzando fronteiras nacionais e explorando novos cenários, aumentando assim também os incentivos à exportação e importação e investimentos no exterior.

Contudo, a vulnerabilidade dos mercados conectados, instabilidades econômicas e recentes crises globais, vêm despertado a atenção de gestores para temas como o fenômeno do risco no processo estratégico das organizações (Frigo, 2009Frigo, M. L. (2009). Strategic Risk Management: The New Core Competency. “Balanced Scorecard Report”, No. 1, January-February.). Essa avaliação do risco bem como as ações e estratégias, desenvolvidas por meio de um processo de gerenciamento do risco parecem ser influenciadas tanto por características do empreendedor, quanto pelos recursos disponíveis para realizar os objetivos de internacionalização e pelo ambiente em que a empresa está inserida (Liesch, Welch, & Buckley, 2011Liesch, P. W., Welch, L. S., & Buckley, P. J. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873.).

A mudança ambiental no comércio internacional, por conta da internacionalização dos mercados, presença cada vez maior de empresas e profissionais com experiências internacionais e fortalecimento das redes de relacionamento pelo mundo, tem impulsionado o surgimento de novos empreendimentos com atuação estrangeira e visão global desde o início, as Born globals, o que tem sido investigado por diversos autores, como Knight e Cavusgil (2004)Knight, G. A., & Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141., Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., & McDougall, P. P. (2005). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64., Weerawardena, Mort, Liesch e Knight (2007)Weerawardena, J., Mort, G. S., Liesch, P. W., & Knight, G. (2007). Conceptualizing accelerated internationalization in the born global firm: The dynamic capabilities perspective. Journal of World Business, 42(3), 294-306., Gabrielsson, Kirpalani, Dimitratos, Solberg e Zucchella (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401., Dib, Rocha e Silva (2010)Dib, L. A., Rocha, A. da, & Silva, J. F. (2010). The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 233-253., Trudgen e Freeman (2014)Trudgen, R., & Freeman, S. (2014). Measuring the performance of born-global firms throughout development their process: The roles of initial market selection and internationalization speed. Management International Review, 54(4), 551-579., Dimitratos, Johnson, Plakoyiannaki e Young (2016)Dimitratos, P., Johnson, J. E., Plakoyiannaki, E., & Young, S. (2016). SME internationalization: How does the opportunity-based international entrepreneurial culture matter? International Business Review, 25(6), 1211-1222., Cahen, Oliveira e Borini (2017)Cahen, F. R., Oliveira, M. M., Jr., & Borini, F. M. (2017). The internationalisation of new technology-based firms from emerging markets. International Journal of Technology Management, 74(1-4), 23-44., Dzikowski (2018)Dzikowski, P. (2018). A bibliometric analysis of born global firms. Journal of Business Research, 85, 281-294. entre outros.

As características específicas de born globals indicam que a forma como os riscos são percebidos e gerenciados difere de outros tipos de empresas. Essa diferença é o resultado de um processo de internacionalização diferenciado e não gradual, conforme discutido na literatura internacional de negócios (Gabrielsson, Kirpalani, Dimitratos, Solberg, & Zucchella, 2008Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401.; Kubíčková, Tuzová, & Toulová, 2016Kubíčková, L., Tuzová, M., & Toulová, M. (2016). The internationalisation of small and medium-sized enterprises as a path to competitiveness. In P. Huber, D. Nerudová, & P. Rozmahel (Eds.). Competitiveness, Social Inclusion and Sustainability in a Diverse European Union (pp. 99-120). Switzerland: Springer International Publishing.; Sozuer, Altuntas, & Semercioz, 2017Sozuer, A., Altuntas, G., & Semercioz, F. (2017). International entrepreneurship of small firms and their export market performance. European Journal of International Management, 11(3), 365-382.; Grazzi & Moschella, 2018Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152.). Por essa razão, os autores acreditam que essa problemática é uma potencial área de pesquisa, que pode produzir resultados úteis para aplicações gerenciais e expandir os limites teóricos.

Há ainda uma necessidade de explorar como as competências e habilidades das empresas born globals podem influenciar a mitigação dos riscos globais e de que forma a investigação em born globals pode conciliar os pontos de vista divergentes entre as teorias predominantes sobre negócios internacionais e que novas proposições podem ser feitas com o aprofundamento e achados empíricos (Knight & Liesch, 2015Knight, G. A., & Liesch, P. W. (2015). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102.).

Considerando os tópicos discutidos acima, o objetivo desta pesquisa é analisar como ocorre a gestão de riscos no processo de internacionalização de born globals brasileiras. Portanto, o objetivo principal deste estudo divide-se em dois objetivos específicos: a) descrever os fatores de risco percebidos na internacionalização pelos empreendedores das empresas estudadas; e b) verificar as ações e estratégias de gestão de risco no processo de internacionalização de empresas born globals.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E BORN GLOBAL

O processo de internacionalização abrange uma série de compromissos e projetos que são planejados pela gestão da empresa. No entanto, especialmente em pequenas e médias empresas, os gestores não são capazes de prever todos os riscos que serão enfrentados durante o processo de internacionalização (Kubíčková & Toulová, 2013Kubíčková, L., & Toulová, M. (2013). Risk factors in the internationalization process of SMEs. Acta Universitatis Agriculturae et Silviculturae Mendelianae Brunensis, 61(7), 2385-2392.), e por vezes essa falta de percepção sobre determinados riscos, afeta o processo e aumenta os custos da operação internacional (Rodriguez, Boats, & Alvarez, 2010Rodriguez, V., Boats, L., & Alvarez, M. J. (2010). Managing risk and knowledge in the internationalization process. Intangible Capital, 6(2), 202-235.; Boso, Oghazi, & Hultman, 2017Boso, N., Oghazi, P., & Hultman, M. (2017). International entrepreneurial orientation and regional expansion. Entrepreneurship & Regional Development, 29(1-2), 4-26.).

A participação em negócios internacionais pode significar envolvimento com diversos tipos de riscos, como aqueles associados à escolha da localização geográfica, a existência de diferentes conjunturas econômicas, aspectos políticos e governamentais do país, questões relacionadas ao mercado e ao público em específico, bem como riscos associados à própria organização (Kubíčková, Tuzová, & Toulová, 2016Kubíčková, L., Tuzová, M., & Toulová, M. (2016). The internationalisation of small and medium-sized enterprises as a path to competitiveness. In P. Huber, D. Nerudová, & P. Rozmahel (Eds.). Competitiveness, Social Inclusion and Sustainability in a Diverse European Union (pp. 99-120). Switzerland: Springer International Publishing.; Rahman, Uddin, & Lodorfos, 2017Rahman, M., Uddin, M., & Lodorfos, G. (2017). Barriers to enter in foreign markets: evidence from SMEs in emerging market. International Marketing Review, 34(1), 68-86.).

Nos estágios iniciais de internacionalização, muitas empresas se deparam com a falta de informação e conhecimento sobre os mercados estrangeiros, acentuando a percepção de risco e incerteza (Cortezia & Souza, 2011Cortezia, S. L. D., & Souza, Y. S. de (2011). An analysis of the internationalization of small Brazilian software companies. Brazilian Business Review, 8(4), 23-43.; Grazzi & Moschella, 2018Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152.). Essas percepções são importantes na tomada de decisão em vários níveis de atividades internacionais, mas sobretudo no envolvimento em novas atividades, tais como a introdução de novos mercados, utilizando diferentes modos de operação ou mudança das estratégias internacionais (Liesch, Well, & Buckley, 2011Liesch, P. W., Welch, L. S., & Buckley, P. J. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873.; Hânell, Nordman, & Tolstoy, 2017Hånell, S. M., Nordman, E. R., & Tolstoy, D. (2017). New product development in foreign customer relationships: a study of international SMEs. Entrepreneurship & Regional Development, 29(7-8), 715-734.).

Na literatura de negócios internacionais, é reconhecida a importância do estudo de risco, muito embora tenha sido tratada de forma superficial e tendo sido preenchida com estudos direcionados para riscos políticos e de câmbio (Kubičková & Toulová, 2013Kubíčková, L., & Toulová, M. (2013). Risk factors in the internationalization process of SMEs. Acta Universitatis Agriculturae et Silviculturae Mendelianae Brunensis, 61(7), 2385-2392.; Nunes, 2016Nunes, M. P. (2016). Motivations, risks, barriers, and results associated with the adoption of global sourcing by brazilian companies: A case-based study. Brazilian Business Review, 13(2), 135-157.). Em teorias econômicas de internacionalização, como a Teoria do Ciclo do Produto (Vernon, 1966Vernon, R. (1966). International Investments and international trade in the product cycle. Quarterly Journal of Economics, 80(2), 190-207.), a Teoria do Poder do Mercado (Hymer, 1976Hymer, S. H. (1976). The International Operations of National Firms: A Study of Direct Foreign Investment. Cambridge: The MIT Press.), a Teoria da Internacionalização (Buckley & Casson, 1976Buckley, P. J., & Casson, M. (1976). The Future of the Multinational Enterprise. London: Macmillan.) e a Teoria do Paradigma Eclético (Dunning, 1979Dunning, J. H. (1979). Explaining changing patterns of international production: in defense of the ecletic theory. Oxford Bulletin of Economics and Statistics, 41(4), 269-295.), as decisões de internacionalização estão fortemente relacionadas aos riscos e questões comerciais, monetárias e políticas dos países onde a expansão internacional ocorrerá.

Portanto, fica claro que há uma preocupação mais significativa com os riscos da interculturalidade, relacionados às diferenças culturais e à distância psíquica evidenciada pelos estudos do Modelo de Uppsala (Johanson & Vahlne, 1977Johanson, J., & Vahlne, J. E. (1977). The internationalization process of the firm-a model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of international business studies, 8(1), 23-32.) e Abordagem de Redes nos Negócios Internacionais (Andersson, Johanson, & Vahlne, 1997Andersson, U., Johanson, J., & Vahlne, J. E. (1997). Organic acquisitions in the internationalization process of the business firm. MIR: Management International Review, 37, 67-84.) do que as teorias de abordagem econômica.

Segundo Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401., as empresas born globals são aquelas com visão global desde sua fundação e com produtos e serviços com potencial global para a aceleração do processo de internacionalização. Supõe-se que essas empresas devam ter maior propensão a riscos ao lidar com uma maior velocidade de internacionalização em um curto período. Essa mesma visão é compartilhada por autores da área como Autio (2017)Autio, E. (2017). Strategic entrepreneurial internationalization: A normative framework. Strategic Entrepreneurship Journal, 11(3), 211-227., Choquette, Rask, Sala e Schröder (2017)Choquette, E., Rask, M., Sala, D., & Schröder, P. (2017). Born Globals-Is there fire behind the smoke? International Business Review, 26(3), 448-460. e Grazzi e Moschella (2018)Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152..

Quanto ao risco das empresas born globals,Dib, Rocha e Silva (2010)Dib, L. A., Rocha, A. da, & Silva, J. F. (2010). The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 233-253. afirmam que quanto menor o tamanho do empreendimento, maior a flexibilidade e a propensão a enfrentar riscos internacionais. Por outro lado, sobre o desempenho da empresa, as empresas mais jovens apresentaram menor aversão ao risco no meio ambiente global (Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.).

O modelo de internacionalização de Uppsala de Johanson e Vahlne ao tratar da incerteza, refere-se ao contingente da incerteza causada pela falta de conhecimento e experiência no mercado internacional, ainda que sem distinção entre risco e incerteza. No entanto, Figueira-de-Lemos, Johanson e Vahlne (2011)Figueira-de-Lemos, F., Johanson, J., & Vahlne, J. E. (2011). Risk management in the internationalization process of the firm: A note on the Uppsala model. Journal of World Business, 46(2), 143-153. reconhecem que a intenção da discussão de incerteza proposta pelo modelo está relacionada com o conceito de risco apresentado por March e Shapira (1987)March, J. G., & Shapira, Z. (1987). Managerial perspectives on risk and risk taking. Management Science, 33(11), 1404-1418. sendo o risco a significância de resultados indesejáveis, em função de fontes de incerteza derivadas de fatores externos (ambiente) ou internos (própria organização).

Outra definição convergente com a apresentada acima se refere ao que Sitkin e Weigart (1995)Sitkin, S. B., & Weingart, L. R. (1995). Determinants of risky decision-making behavior: A test of the mediating role of risk perceptions and propensity. Academy of Management Journal, 38(6), 1573-1592. afirmaram ao conceituar o risco como a incerteza sobre potenciais resultados significativos ou negativos. Dessa forma, quando a decisão está envolvida em certo grau de incerteza, e os resultados são desconhecidos, a decisão é caracterizada como arriscada.

Para esta pesquisa, é utilizada a classificação dos riscos nos negócios internacionais apresentada por Cavulsgil, Knight e Riesenberger (2010), os quais afirmam que o processo de internacionalização está envolvido a quatro tipos principais de risco: risco comercial, risco monetário, risco-país e risco intercultural. De acordo com os autores, os riscos envolvidos nos negócios internacionais não são controláveis e inevitáveis, no entanto, por meio da sua percepção e avaliação, os gestores podem direcionar ações para a mitigação dos seus efeitos.

Nesta classificação, os autores elencaram como inerente ao Risco comercial: a fragilidade dos parceiros, a intensidade competitiva, problemas operacionais e estratégicos. Como riscos monetários são considerados questões sobre os ativos, tributação estrangeira, preço, inflação e exposição monetária. No Risco-País, refere-se a questões governamentais, sociais e políticas. E em Risco Cultural são as questões éticas, culturais e também sobre os estilos decisórios e de gestão das empresas presentes no país.

Segundo Nunes (2016)Nunes, M. P. (2016). Motivations, risks, barriers, and results associated with the adoption of global sourcing by brazilian companies: A case-based study. Brazilian Business Review, 13(2), 135-157., os riscos envolvidos nos negócios internacionais não são controláveis e inevitáveis, porém, por meio de sua percepção e avaliação, Kubíčková, Tuzová e Toulová (2016)Kubíčková, L., Tuzová, M., & Toulová, M. (2016). The internationalisation of small and medium-sized enterprises as a path to competitiveness. In P. Huber, D. Nerudová, & P. Rozmahel (Eds.). Competitiveness, Social Inclusion and Sustainability in a Diverse European Union (pp. 99-120). Switzerland: Springer International Publishing. afirmam que os gestores podem direcionar ações para mitigar seus efeitos.

2.2. PERCEPÇÃO E GESTÃO DO RISCO NA INTERNACIONALIZAÇÃO

A maioria dos estudos de risco utiliza o conceito de percepção de risco proposto por Sitkin e Weingart (1995)Sitkin, S. B., & Weingart, L. R. (1995). Determinants of risky decision-making behavior: A test of the mediating role of risk perceptions and propensity. Academy of Management Journal, 38(6), 1573-1592.. Tal conceito refere-se à avaliação do nível de risco inerente a uma situação, associado à sua incerteza e ao controle que os indivíduos têm sobre os possíveis resultados.

A percepção de risco, segundo Acedo e Jones (2007)Acedo, F. J., & Jones, M. V. (2007). Speed ​​of internationalization and entrepreneurial cognition: Insights and the comparison between international new ventures, exporters and domestic Firms. Journal of World Business, 42(3), 236-252., está relacionada à orientação internacional do indivíduo, seu nível de conhecimento, experiência internacional pessoal e internacional, níveis de escolaridade e habilidade com línguas estrangeiras. E essa orientação internacional pode ser acentuada, seja com a participação de viagens, cursos, contratação de pessoal especializado, desenvolvimento de novas experiências, e poder com isso ter uma percepção de risco reduzida.

Frigo e Anderson (2011)Frigo, M. L., & Anderson, R. J. (2011). Strategic risk management: A foundation for improving enterprise risk management and governance. Journal of Corporate Accounting & Finance, 22(3), 81-88. definem que o gerenciamento de risco é um processo para identificar, avaliar e gerenciar riscos com o objetivo principal de proteger e criar valor para a empresa. Sua finalidade é avaliar eventos internos e externos e planejar como esses cenários podem afetar a capacidade da organização de atingir seus objetivos. Segundo os autores, a gestão estratégica de riscos é um processo contínuo e deve estar interligado com as estratégias e métodos de decisão da organização.

Assim, quando os empreendedores percebem menores riscos nas atividades externas, a empresa se torna mais comprometida com essas operações no exterior e avança nas etapas do processo de internacionalização (Acedo & Florin, 2006Acedo, F. J., & Florin, J. (2006). An entrepreneurial cognition perspective on the internationalization of SMEs. Journal of International Entrepreneurship, 4(1), 49-67.). No entanto, não cabe aos gerentes e empreendedores apenas identificar e aceitar os riscos que podem estar expostos nas atividades internacionais, mas também precisam agir e gerenciá-los para mitigar seu possível impacto no desempenho e nos resultados da empresa (Oviatt, Shrader, & McDougall, 2004Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier.; Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.).

Embora o risco pareça estar presente nas discussões de negócios internacionais, poucos estudos têm focado na gestão de riscos no processo de internacionalização (Figueira-de-Lemos, Johanson, & Vahlne, 2011Figueira-de-Lemos, F., Johanson, J., & Vahlne, J. E. (2011). Risk management in the internationalization process of the firm: A note on the Uppsala model. Journal of World Business, 46(2), 143-153.; Kubíčková & Toulová, 2013Kubíčková, L., & Toulová, M. (2013). Risk factors in the internationalization process of SMEs. Acta Universitatis Agriculturae et Silviculturae Mendelianae Brunensis, 61(7), 2385-2392.; Knight & Liesch, 2015Knight, G. A., & Liesch, P. W. (2015). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102.; Dimitratos et al., 2016Dimitratos, P., Johnson, J. E., Plakoyiannaki, E., & Young, S. (2016). SME internationalization: How does the opportunity-based international entrepreneurial culture matter? International Business Review, 25(6), 1211-1222.).

Segundo Dimitratos et al. (2016)Dimitratos, P., Johnson, J. E., Plakoyiannaki, E., & Young, S. (2016). SME internationalization: How does the opportunity-based international entrepreneurial culture matter? International Business Review, 25(6), 1211-1222., a percepção de risco está intimamente relacionada às características e atributos do gerente de negócios e é evidenciada em decisões críticas, como no caso da internacionalização. No entanto, essa propensão ao risco, tratada por Grichnik (2008)Grichnik, D. (2008). Risky choices in new venture decisions-experimental evidence from Germany and the United States. Journal of International Entrepreneurship, 6(1), 22-47. como um traço da personalidade do gestor, é um fator de influência na tomada de decisão, mas não decisiva, embora alguns estudos tenham lidado com o comportamento de assumir riscos como variável explicativa desempenho de born globals (Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.).

Junto com essa visão do empresário-gestor do negócio, a avaliação do nível de risco também é profundamente influenciada pela indústria e pelo mercado-alvo (Acedo & Florin, 2006Acedo, F. J., & Florin, J. (2006). An entrepreneurial cognition perspective on the internationalization of SMEs. Journal of International Entrepreneurship, 4(1), 49-67.; Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.). A forma como o risco é percebido também afeta as ações e decisões referentes à sua gestão (Dib, Rocha, & Silva, 2010Dib, L. A., Rocha, A. da, & Silva, J. F. (2010). The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 233-253.).

Nas organizações, principalmente pequenas e médias empresas (PMEs), devido à falta de recursos financeiros, tempo ou pessoal treinado, a gestão de riscos é ignorada, e os riscos são avaliados predominantemente intuitivos e baseados nas experiências dos gerentes (Kubíčková, Votoupalová, & Toulová, 2014Kubíčková, L., Votoupalová, M., & Toulová, M. (2014). Key motives for internationalization process of small and medium-sized enterprises. Procedia Economics and Finance, 12, 319-328.).Contudo, como apontam os autores, essa preocupação com a forma como os riscos são percebidos e gerenciados faz a diferença no desenvolvimento de estratégias de negócios e nos resultados esperados pela organização.

Oviatt, Shrader e McDougall (2004)Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier. indicam que a gestão de risco é encontrada na literatura de internacionalização, com a intenção de explorar como os riscos inerentes às operações estrangeiras são gerenciados por seus gestores em novos empreendimentos internacionais. Assim, não é simples para gestores e empreendedores identificar e aceitar os riscos que podem estar expostos em atividades internacionais, mas precisam atuar e gerenciá-los para mitigar seu possível impacto no desempenho e nos resultados da empresa (Oviatt, Shrader, & McDougall, 2004Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier.).

Os riscos envolvidos nos negócios internacionais estão frequentemente relacionados ao fato de as empresas se aventurarem no desconhecido, onde a falta de conhecimento do mercado pode muitas vezes resultar em desperdício de recursos, tempo e investimentos (Frigo & Anderson, 2011Frigo, M. L., & Anderson, R. J. (2011). Strategic risk management: A foundation for improving enterprise risk management and governance. Journal of Corporate Accounting & Finance, 22(3), 81-88.). Torna-se evidente a importância de ações relacionadas à análise ambiental, ao setor e às capacidades internas da empresa para uma melhor gestão de risco (Grazzi & Moschella, 2018Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152.).

Oviatt, Shrader e McDougall (2004)Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier., ao lidarem com a gestão de riscos, desenvolveram um modelo de gestão de riscos na internacionalização de novos empreendimentos. Esse modelo estabelece proposições úteis em relação à análise e influência do meio ambiente, condições da indústria, características pessoais dos empreendedores, questões relacionadas à própria empresa e seu processo de internacionalização em relação à gestão de riscos.

Segundo os autores, o modelo proposto é baseado no conceito integrado de gestão de risco de Miller (1992)Miller, K. D. (1992). A framework for integrated risk management in international business. Journal of international business studies, 23(2), 311-331., que já enfatizava a importância de gerenciar três grupos de risco diferentes: (1) os riscos ambientais gerais, (2) os riscos relacionados à indústria / segmento e (3) os riscos específicos da empresa. A distinção significativa trazida pelo modelo proposto por Oviatt, Shrader e McDougall (2004)Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier., além de estar focada em novos empreendimentos internacionais, é a especificação da mediação e influência entre os diferentes agrupamentos na determinação do nível de risco.

No modelo, as características pessoais, evidenciadas pelos traços psicológicos e pelas redes de relacionamento, influenciam a maneira como os empreendedores interpretam as condições da indústria. E essas interpretações afetam as decisões que eles têm sobre seus empreendimentos, incluindo como os riscos são gerenciados.

Além da visão apresentada, os fatores de risco nos negócios internacionais são analisados de acordo com a percepção do gestor desses riscos potenciais e também como a equipe de gestão e a empresa desenvolverão ações para gerenciar ou mitigar riscos percebidos no processo de internacionalização (Leite & Moraes, 2014Leite, W. F. V. P., & Moraes, Y. A. (2014). Facetas do risco no empreendedorismo internacional. RAC- Revista de Administração Contemporânea, 18(1), 96-117.). Nesse sentido, ao considerar as fases de análise, identificação e classificação de riscos, indica-se possível raciocínio para a mitigação e desenvolvimento de ações diante dos riscos percebidos no processo de internacionalização (Figueira-de-Lemos, Johanson, & Vahlne, 2011Figueira-de-Lemos, F., Johanson, J., & Vahlne, J. E. (2011). Risk management in the internationalization process of the firm: A note on the Uppsala model. Journal of World Business, 46(2), 143-153.; Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com base no propósito de analisar a gestão de risco no processo de internacionalização das empresas born globals, realizou-se uma pesquisa qualitativa exploratória. Para essa pesquisa qualitativa, adotou-se uma estratégia de pesquisa em estudos de casos múltiplos (Eisenhardt, 1989Eisenhardt, K. M. (1989). Building theories from case study research. Academy of Management Review, 14(4), 532-550.).

Em relação aos casos escolhidos, considerando que o objeto de estudo são diferentes empresas born globals, alguns critérios foram utilizados para a escolha e seleção dos casos. O setor do estudo foi a Indústria de Bebidas, especificamente o mercado de cervejas, altamente competitivo no Brasil. Alguns critérios adicionais foram: o tipo de organização (cervejarias artesanais, cuja evolução foi de 570% nos últimos dez anos) e outras características como ano de fundação (internacionalização até sete anos de fundação), negócios internacionais (com design ou processo de internacionalização desde a fundação) e premiações (nacionais e internacionais), mostrando assim a relevância dos casos para o estudo no setor.

Após configurar os critérios, foram selecionadas sete cervejarias artesanais para a realização da pesquisa e nove entrevistas semiestruturadas foram realizadas. As entrevistas foram realizadas com seus fundadores e diretores, que são os principais tomadores de decisão da empresa e também os responsáveis pelo processo de internacionalização.

Este estudo iniciou-se com pesquisa documental (com documentos internos e dados secundários), entrevistas semiestruturadas e observação não participante (em eventos do setor e nas empresas estudadas). Como método de análise dos dados coletados, utilizou-se análise de conteúdo segundo Bardin (2006)Bardin, L. (2006). Analysis content. Oxford: Oxford University Press.. A Tabela 1 abaixo mostra as empresas e seus respondentes.

Tabela 1
Identificação das empresas e dos respondentes

Antes dos seis meses de coleta de dados, entre junho e novembro de 2016, o pesquisador começou a se aproximar do campo de estudo para fins de observação e seleção dos casos a serem estudados. Durante o período de definição do setor de estudo e levantamento preliminar de informações do setor cervejeiro, o pesquisador participou dos seguintes eventos: 1) Festival da Cerveja Brasileira e o Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau - Santa Catarina; 2) Copa Sulamericana da Cerveja em Curitiba - Paraná; 3) Visita Técnica na Indústria de malte da Cooperativa Agroindustrial Agrícola - Paraná, 4). As observações e a abordagem ao campo foram essenciais para o acesso aos empreendedores estudados e para a definição das questões norteadoras das entrevistas semiestruturadas.

Segundo o MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo Federal, até o final de 2017, 679 cervejarias artesanais foram registradas no Brasil. Entre estas, algumas cervejarias, mesmo com um tempo de operação de mercado mais curto, já têm a intenção ou estão em processo de internacionalização; produção direta ou indireta; parcerias e alianças estratégicas para produção e distribuição; terceirização e importação de produtos; entre outras estratégias de internacionalização.

Considerando que o objetivo desta pesquisa são as empresas da Born globals e a decisão de investigar o segmento de cervejarias artesanais, os critérios para seleção dos casos foram o ano de fundação da empresa, o início das atividades internacionais e os prêmios recebidos, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2
Apresentação dos critérios de seleção dos casos

Neste processo metodológico, alguns critérios foram seguidos para que a pesquisa atinja a validade e a confiabilidade (Miles & Huberman, 1994Miles, M. B., & Huberman, A. M. (1994). Qualitative data analysis: An expanded sourcebook. Thousand Oaks: Sage Publications.). Para questões de confiabilidade, foi adotado o protocolo do estudo, elaborado antes de ir ao campo e a fase de coleta, diários de campo para registro e confirmação das atividades realizadas nas empresas e o uso de informantes-chave para revisão dos pontos levantados na fase exploratória da pesquisa. Além disso, a análise do banco de dados foi utilizada por meio do software Atlas.ti, o que corrobora a validade e confiabilidade do estudo.

No processo de refinamento do instrumento de coleta de dados e identificação das unidades de análise, foi desenvolvido um estudo de caso-piloto (Caso 1). Para tanto, a escolha do caso seguiu os mesmos critérios da pesquisa e, após o procedimento de coleta de dados e análise preliminar dos dados, mostrando congruência com os objetivos da pesquisa e os dados esperados para análise, o caso-piloto foi integrado na base dos dados da pesquisa. Esse procedimento é realizado em estudos de casos qualitativos em função da busca por maior validade do estudo, do processo de pesquisa e análise dos dados coletados.

Utilizou-se o software Atlas.ti para analisar os dados, em razão do grande volume de dados textuais coletado. Para tanto, foi criada uma unidade hermenêutica, onde todo o processo de codificação e análise dos dados foi concentrado. As entrevistas foram gravadas, exceto para o caso-piloto em que anotações e registros de campo foram feitos à mão, todas elas foram transcritas e transferidas para o software Atlas.ti. Em seguida, os códigos foram utilizados para mapear os relatos considerados essenciais e captar seu significado para a consecução dos objetivos propostos, conforme evidenciado na Tabela 3.

Tabela 3
Descrição da codificação dos dados

Após a etapa de codificação dos dados, revisão da transcrição das entrevistas e outros dados coletados, foram gerados relatórios do software Atlas.ti e, com base nos relatórios com os dados já codificados, foi construída a análise dos resultados.

Segundo Eisenhardt (1989)Eisenhardt, K. M. (1989). Building theories from case study research. Academy of Management Review, 14(4), 532-550., quanto à validade e confiabilidade, a coerência lógica do estudo científico pode ser evidenciada pela consistência das relações entre o problema de pesquisa, a definição dos objetivos, a escolha da literatura e os procedimentos metodológicos escolhidos. Assim, a matriz teórica e metodológica de ancoragem da pesquisa foi criada com base nas indicações de Telles (2001)Telles, R. (2001). A efetividade da matriz de amarração de Mazzon nas pesquisas em Administração. Revista de Administração da Universidade de São Paulo, 36(4), 64-72., para identificar de forma clara e sintética as categorias analíticas relacionadas ao problema de pesquisa, objetivos gerais e específicos e questões norteadoras da pesquisa. As definições constitutivas, as fontes de evidências - técnicas de coleta de dados e a literatura de base para análise de dados foram baseadas no Telles também.

Em suma, os passos metodológicos desta pesquisa estão expostos na Tabela 4.

Tabela 4
Design da pesquisa

4. DISCUSSÃO E ANÁLISES

Kubíčková, Votoupalová e Toulová (2014)Kubíčková, L., Votoupalová, M., & Toulová, M. (2014). Key motives for internationalization process of small and medium-sized enterprises. Procedia Economics and Finance, 12, 319-328. argumentam que, em geral, nas PME, a falta de pessoal treinado, tempo e recursos faz a avaliação de risco, bem como o trabalho de gestão realizado de forma intuitiva e com base na experiência dos gestores. Embora a intuição e a experiência dos gerentes de negócios sejam de fato muito utilizadas na gestão de cervejarias, pode-se observar que nesses empreendimentos, principalmente, as atividades internacionais são realizadas com planejamento e os riscos percebidos e identificados ao longo do processo são tratados.

A percepção do risco de abertura do negócio e os processos de internacionalização da empresa, conforme observado no discurso dos entrevistados, são sustentados pela experiência do empreendedor e de outros parceiros fundadores. Além disso, sendo profissionais com experiência internacional, tendo realizado cursos e qualificações fora do país de origem, participaram de viagens e feiras em diferentes países, a orientação internacional para o negócio é acentuada, e com isso a percepção de que a atividade global será arriscada, torna-se reduzida.

Diferentes características dos empreendedores, como orientação internacional, experiência pessoal e profissional entre outros, segundo autores como Acedo e Jones (2007)Acedo, F. J., & Jones, M. V. (2007). Speed ​​of internationalization and entrepreneurial cognition: Insights and the comparison between international new ventures, exporters and domestic Firms. Journal of World Business, 42(3), 236-252., Liesch, Welch e Buckley (2011)Liesch, P. W., Welch, L. S., & Buckley, P. J. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873. afetam a percepção de risco no momento da internacionalização. No caso das cervejarias artesanais estudadas, é possível notar um certo grau de homogeneidade em relação ao perfil dos empreendedores fundadores dessas organizações, uma vez que a maioria deles tem formação internacional, já tiveram experiências pessoais ou profissionais no exterior. Por esse motivo, tanto a identificação dos riscos quanto a forma como são percebidos apresentam certa semelhança.

Como visto no discurso dos entrevistados, a percepção sobre o risco de abertura do negócio, bem como os processos de internacionalização da empresa, é apoiada pela experiência do empreendedor e dos demais parceiros fundadores. Além disso, sendo profissionais com experiência internacional, tendo realizado cursos e qualificações fora do país de origem, participaram de viagens e feiras em diferentes países a orientação internacional para o negócio é acentuada, e com isso a percepção de que a atividade internacional será arriscada é reduzida, assumindo o comportamento de risco descrito por Jin, Jung e Jeong (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215..

Outro fator de análise emergiu após as entrevistas, sobre a classificação dos riscos, segundo o modelo utilizado e adaptado (Figura 1), e também na medida em que os entrevistados avaliaram o nível de risco entre os diversos fatores apresentados. Em vários momentos, os entrevistados afirmaram que o risco monetário e o risco-país são considerados como fatores de alto risco porque são variáveis externas à organização e, portanto, não são controláveis ou gerenciáveis.

Figura 1
Classificação da percepção de risco nos negócios internacionais

Na percepção dos entrevistados, fatores de risco comerciais e culturais, podem ser controlados / gerenciados pela organização, portanto, esses fatores pertencem a um agrupamento mais extenso de “Fatores internos”, enquanto o risco monetário e o risco-país pertencem ao agrupamento de “ Fatores Externos “onde a empresa pode identificar, monitorar e reagir, mas sem possibilidade de gerenciamento desses riscos. Pode ser verificado nesta parte da entrevista:

“Em nossa visão, risco monetário e risco país são os principais riscos, pois há uma grande instabilidade monetária no Brasil, e uma grande intervenção governamental e arbitrariedade, por isso mesmo que você estuda, vivemos em um ambiente político e institucional que mina as previsões , então você não pode trabalhar a longo prazo e, portanto, eu coloco o risco do país e o risco monetário como fatores externos e incontroláveis pela organização”(Entrevistado 8).

Na Figura 1, os fatores avaliados pelos entrevistados durante as entrevistas com base na classificação de risco de Cavusgil, Knight e Riesenberger (2010)Cavusgil, T. S., Knight, G. A, & Riesenberger, J. R. (2010). Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson. também foram alocados nos quadrantes do tipo risco. Na avaliação dos entrevistados, dentre os fatores de risco apresentados pelos autores do modelo internacional de risco de negócios, os elementos apontados na Figura 1 são os fatores de risco mais percebidos no negócio de cervejarias artesanais.

Além dos riscos financeiros, outro grupo de risco identificado no contexto internacional é o risco-país, e esse agrupamento refere-se à intervenção governamental de alguns países, no nível de atividades burocráticas e à corrupção, legislação desfavorável e instabilidade social e política (Cavusgil, Kgnith, & Riesenberger, 2010Cavusgil, T. S., Knight, G. A, & Riesenberger, J. R. (2010). Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson.). Em alguns momentos das entrevistas, como pode ser visto na Tabela 5, com os depoimentos dos entrevistados, o risco país é altamente percebido em função do ambiente interno do Brasil, da instabilidade política, da crise de confiança nas entidades governamentais e instituições públicas, que reflete negativamente a percepção desse tipo de risco.

Tabela 5
Identificação do risco nas empresas estudadas

Durante a fase de coleta de dados sobre as empresas e confirmação dessas informações nas entrevistas, foi possível observar que a identificação e avaliação do risco país norteou as estratégias de projeto e crescimento de várias empresas. Ou seja, a percepção de que há uma instabilidade no ambiente interno e com a influência dessa percepção sobre a imagem do país no ambiente externo, retraíram alguns projetos de expansão das cervejarias e também ações de internacionalização já programadas, deixando para segundo plano o crescimento das intenções e melhoria de alguns processos internos.

Corroborando essa informação, Cavusgil e Knight (2015)Cavusgil, S. T., & Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. já mencionaram que fatores governamentais, bem como o ambiente institucional, podem facilitar ou dificultar o desenvolvimento de atividades internacionais, e isso também é evidente para o setor cervejeiro.

Assim como os resultados desta pesquisa, Fernandes, Wrubel e Dallabona (2015)Fernandes, F. C., Wrubel, F., & Dallabona, L.F. (2015). Gerenciamento de riscos na cadeia de suprimentos de micro e pequenas empresas têxteis: discussão exploratória sobre oportunidades de pesquisa. REGEPE - Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, 4(1), 125-151. e Cortezia e Souza (2011)Cortezia, S. L. D., & Souza, Y. S. de (2011). An analysis of the internationalization of small Brazilian software companies. Brazilian Business Review, 8(4), 23-43., ao analisarem o gerenciamento de riscos em micro e pequenas indústrias brasileiras, concluíram que as atividades de identificação de riscos e ações de planejamento são as mais utilizadas pelos gerentes dos negócios, mas não há um programa sistemático ou indicadores de avaliação do sistema de gerenciamento de riscos, que é uma atividade intuitiva baseada na experiência dos gestores.

Nesse sentido, mesmo sem estratégias formais e nem mesmo ações sistemáticas de gestão de riscos, os gestores devem trabalhar de forma a proteger e criar valor para a empresa (Frigo & Anderson, 2011Frigo, M. L., & Anderson, R. J. (2011). Strategic risk management: A foundation for improving enterprise risk management and governance. Journal of Corporate Accounting & Finance, 22(3), 81-88.). Como mostra o trecho da entrevista 3, algumas ações são tomadas para evitar maior exposição a fatores de risco, como a escolha do parceiro comercial e a estratégia de entrada no mercado externo (riscos comerciais).

“Trabalhamos com distribuidores, então muitas das exportações foram enviadas para um distribuidor, porque o envio para o consumidor final (pub) não valeria a pena, porque concentramos um bom volume com o distribuidor e ele repassou para o consumidor. Então, terceirizamos alguns riscos com essa estratégia “(Entrevistado 3).

Conforme apresentado por Leite e Moraes (2014)Leite, W. F. V. P., & Moraes, Y. A. (2014). Facetas do risco no empreendedorismo internacional. RAC- Revista de Administração Contemporânea, 18(1), 96-117., os fatores de risco são analisados de acordo com a percepção do empresário-gestor, e será nesse contexto que as ações serão formuladas. Quanto mais riscos os gerentes perceberem no contexto internacional e no ambiente em que irão operar, mais atenção será dada e ações serão tomadas pela empresa para mitigar esses riscos. O problema não é identificar mais ou menos riscos (Nunes, 2016Nunes, M. P. (2016). Motivations, risks, barriers, and results associated with the adoption of global sourcing by brazilian companies: A case-based study. Brazilian Business Review, 13(2), 135-157.), mas perceber que para cada tipo de situação de risco, existe uma ação ou estratégia de enfrentamento que pode ser realizada pela organização (Jin, Jung, & Jeong, 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215.).

Nesse sentido, as ações centrais e estratégias de mitigação de risco desenvolvidas pelas empresas estudadas são: a análise do ambiente, estudo do setor e pesquisa de mercado foram os mais utilizados pela maioria das empresas. Essas atividades de análise e pesquisa auxiliam os gestores corporativos na identificação de riscos e no planejamento de outras ações de gestão, como a estruturação do portfólio de produtos internacionais, a necessidade de fortalecimento das redes sociais - as redes e a estratégia de escolha de parceiros e intermediários, especialmente em operações internacionais.

Uma ação realizada pelas empresas segundo os entrevistados tem como resultado positivo a participação em missões e festivais internacionais. Nesses eventos, os empresários fortalecem suas redes de relacionamento com outras empresas do setor, distribuidores e importadores, além de possuírem a possibilidade de exposição de produtos e marcas em diferentes mercados e com diferentes perfis do consumidor. Com esse tipo de ação, as empresas buscam minimizar o risco de se aventurar no exterior sem a aprovação do consumidor final e sem segurança e confiança dos parceiros internacionais.

Embora não tenham sido identificadas ações sistematizadas e formais de gestão de risco das empresas, pode-se concluir que, como observaram autores como Chiavegatti e Turolla (2011)Chiavegatti, D., & Turolla, F. A. (2011). Risco no Modelo de Internacionalização de Uppsala. Revista Organizações em Contexto, 7(13), 129-156. e Figueira-de-Lemos, Johanson e Vahlne (2011)Figueira-de-Lemos, F., Johanson, J., & Vahlne, J. E. (2011). Risk management in the internationalization process of the firm: A note on the Uppsala model. Journal of World Business, 46(2), 143-153., o mero fato de considerar as etapas de identificação, análise e classificação já indica um processo de gestão de riscos, pois conhecendo os fatores de risco presentes em seu contexto, o processo decisório e o desenho estratégico serão influenciados por essas percepções, e o processo de internacionalização provavelmente ocorrerá em ritmo acelerado, como descrito em outros estudos de born globals.

Rahman, Uddin e Lodorfos (2017)Rahman, M., Uddin, M., & Lodorfos, G. (2017). Barriers to enter in foreign markets: evidence from SMEs in emerging market. International Marketing Review, 34(1), 68-86. enfatizam o fato de que, em empreendimentos internacionais, fatores de risco que são mal avaliados e gerenciados em operações domésticas, representam uma grande preocupação na identificação e avaliação de riscos em negócios internacionais. Essa é talvez a maior diferença entre identificar e gerenciar riscos entre empresas nacionais e empresas internacionais, como no caso das empresas da born globals.

Para Jin, Jung e Jeong (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215., empresas com atividades internacionais sempre estarão envolvidas em fatores de risco maiores, e, portanto, o gerenciamento de riscos deve ser uma prática do empreendimento, independentemente de seu tamanho, comportamento de risco e grau de internacionalização.

Com base na análise dos dados e achados do trabalho, esta pesquisa pretende contribuir para apresentar um novo modelo integrativo de gestão de risco em born globals (Figura 2) suportado pelo modelo de gestão de risco em projetos de internacionalização apresentados por Oviatt, Shrader e McDougall (2004)Oviatt, B. M., Shrader, R. C., & McDougall, P. P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. In M. A. Hitt & J. L. C. Cheng (Eds.). Theories of the Multinational Enterprise: Diversity, Complexity and Relevance. Advances in International Management (Vol. 16, pp. 165-185). Amsterdam: Elsevier., o modelo de pesquisa em born global de Madsen e Servais (1997)Madsen, T. K., & Servais, P. (1997). The internationalization of born globals: an evolutionary process? International Business Review, 6(6), 561-583., e também utilizando a classificação de risco proposta em negócios internacionais por Cavusgil, Knight e Riesenberger (2010)Cavusgil, T. S., Knight, G. A, & Riesenberger, J. R. (2010). Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson..

Figura 2
Modelo integrador de gestão de risco no processo de internacionalização de born globals

O modelo integrativo (Figura 2) resume as fases seguidas durante a análise dos dados desta pesquisa, utilizando os pilares de análise das empresas da born globals (Madsen & Servais, 1997Madsen, T. K., & Servais, P. (1997). The internationalization of born globals: an evolutionary process? International Business Review, 6(6), 561-583.), como o histórico do empreendedor, a competência organizacional e o ambiente competitivo e de negócios e inovação. O modelo também inclui os fatores de risco identificados e percebidos durante a internacionalização (Cavusgil, Knight, & Riesenberger, 2010Cavusgil, T. S., Knight, G. A, & Riesenberger, J. R. (2010). Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson.), considerando a classificação de riscos em negócios internacionais, comercial, intercultural, monetária e de risco-país.

Além desses fatores, o modelo integrativo contribuiu para a intenção de avaliar três itens que foram relevantes no processo de internacionalização das empresas estudadas, como o uso de redes de negócios, a escolha de estratégias de internacionalização e também a velocidade do processo de internacionalização. Esses itens agrupados com os outros fatores já apresentados têm impacto no processo de internacionalização e até mesmo na forma como a gestão de risco é realizada nesses novos empreendimentos internacionais.

Ou seja, não apenas a gestão do risco em si, mas também o processo de estruturação da concepção da empresa e as estratégias utilizadas pelas born globals diferem de outros empreendimentos (Grazi & Moschella, 2018). Precisamente pela intenção de assumir os riscos internacionais desde o início da fundação, e para isso usaremos diferentes formas de entrada no mercado internacional com um compromisso maior do que se fosse tornar o processo gradual e ao longo da evolução e crescimento da empresa, que atende aos argumentos de Knight e Liesch (2015)Knight, G. A., & Liesch, P. W. (2015). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102., Rahman, Uddin e Lodorfos (2017)Rahman, M., Uddin, M., & Lodorfos, G. (2017). Barriers to enter in foreign markets: evidence from SMEs in emerging market. International Marketing Review, 34(1), 68-86., e Jin, Jung e Jeong (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. para questões sobre competências e gestão de risco global em empresas born globals.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no propósito de analisar o gerenciamento de risco no processo de internacionalização de empresas born globals do Brasil, foi possível perceber uma maior propensão ao risco e ao nível de planejamento com relação a outras pequenas empresas tradicionais. Por meio das entrevistas, foi possível perceber que o interesse em entrar em um ambiente altamente competitivo e explorar não só o mercado interno, mas também o mercado internacional demanda maior preparação dos projetos das born globals e, assim, toda e qualquer atividade internacional desejada como além de estar envolvido em um nível de risco mais alto, também requer mais recursos e tempo em seu planejamento.

Em relação aos riscos envolvidos no processo de internacionalização das empresas estudadas, considerando o contexto brasileiro e seu ambiente institucional e econômico, maior ênfase é dada aos fatores de risco monetários, tais como flutuação cambial, legislação tributária, transações financeiras e fatores de risco país como instabilidade política e econômica, governo de intervenção, burocracia e até o ambiente institucional. Além desses riscos, fatores de risco comerciais e interculturais também foram identificados, mas na visão dos empreendedores, esses riscos exercem menor influência nas estratégias e processos decisórios dessas organizações.

Com base nesta pesquisa, ainda podemos dizer que no desenvolvimento de born globals de países emergentes, alguns fatores de risco diferem de outras empresas internacionais de países desenvolvidos, particularmente os fatores de risco monetário e risco país, devido à estruturação do ambiente institucional, a regulação do mercado interno e da situação econômica e política dos países de origem, como já indicado em estudos recentes realizados por Monticelli, Calixto, Vasconcellos e Garrido (2017)Monticelli, J. M., Calixto, C. V., Vasconcellos, S. L. D., & Garrido, I. L. (2017). The influence of formal institutions on the internationalization of companies in an emerging country. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 19(65), 358-374. e Yaprak, Yosun e Cetindamar (2018)Yaprak, A., Yosun, T., & Cetindamar, D. (2018). The influence of firm-specific and country-specific advantages in the internationalization of emerging market firms: Evidence from Turkey. International Business Review, 27(1), 198-207..

No que diz respeito à gestão de riscos, Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401., e Jin, Jung e Jeong (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S.W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: the mediating role of marketing capability. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. argumentam que a forma como os riscos são percebidos e gerenciados em born globals difere da maneira como isso ocorre nas demais empresas, e o que a diferenciou nesta pesquisa refere-se também as habilidades dos empreendedores sobre a análise e percepção dos riscos e através de diferentes estratégias, tais como análise ambiental, pesquisa de mercado extensa, planejamento e construção de cenários e uso de redes de negócios, buscam mitigar e fazer a gestão dos riscos envolvidos nas operações internacionais.

5.1. IMPLICAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES

Com base na análise dos dados e discussão dos resultados, algumas contribuições e novas questões são levantadas como contribuição dos resultados desta pesquisa. Primeiramente, empresas born globals, devido ao background internacional dos empreendedores, relacionamento com diferentes redes de negócios, menor risco nos negócios internacionais são percebidos e, portanto, há um maior comprometimento e envolvimento com o processo de internacionalização. Em segundo lugar, os fatores de risco em born globals diferem dos fatores de risco das pequenas empresas tradicionais, na medida em que a análise de risco é realizada no ambiente interno e externo, e a exposição a estes acaba sendo influenciada por diferentes riscos.

O modelo integrativo apresentado nesta pesquisa traz como contribuição a avaliação dos três itens que foram relevantes no processo de internacionalização das empresas estudadas, como o uso de redes de negócios, a escolha de estratégias de internacionalização e também a velocidade do processo de internacionalização. Esses itens agrupados com os demais fatores já apresentaram impacto no processo de internacionalização e até mesmo em como a gestão de riscos é realizada nesses novos empreendimentos internacionais.

Além da contribuição e discussão levantada neste trabalho, acredita-se ser essencial para futuras pesquisas compreender a construção da relação das redes globais nos desenvolvimentos internacionais e como essas relações influenciam o grau de internacionalização das empresas born globals e também na percepção de risco em atividades internacionais.

Resta salientar a relevância e a falta de estudos empresariais em born globals de diferentes setores como indústria e serviços, além dos trabalhos já realizados em empresas de tecnologia, uma vez que estar em diferentes ambientes pode desenvolver características distintas em termos de rápido desenvolvimento internacional e se existem diferenças na forma como os riscos das operações globais são gerenciados nesses diversos setores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2018
  • Revisado
    04 Maio 2018
  • Aceito
    30 Jul 2018
  • Publicado
    15 Maio 2019
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