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Nível de resiliência em idosos segundo a escala de Connor-Davidson: uma revisão sistemática

Resumo

Objetivo:

Identificar estudos sobre resiliência em idosos mensurada por meio da escala de Connor-Davidson.

Método:

Revisão sistemática de literatura sobre o nível de resiliência dos idosos, em periódicos indexados nos bancos de dados Lilacs, IBECS, MedLine e PubMed, de acordo com o método PRISMA.

Resultados:

Foram identificados 27 estudos, que incluíram idosos na amostragem e determinaram o nível de resiliência por meio da escala de Connor-Davidson. Estados Unidos (6), China (6) e Austrália (5) apresentaram maior número de artigos. O maior nível de resiliência foi identificado em estudo realizado com idosos na Austrália e foi atribuído à implantação de políticas públicas que favorecem a capacidade de desenvolvimento de resiliência de sua população. O menor nível de resiliência foi observado no Japão, em estudo com sobreviventes de desastres naturais de grande magnitude, com destaque para a resiliência como fator protetor significativo para pessoas mais idosas que vivenciaram tais eventos ao longo da vida.

Conclusão:

Os estudos reconhecem a resiliência como importante fator protetor para o enfrentamento das adversidades externas e dos eventos naturais, sejam aqueles advindos do processo do envelhecimento no contexto da saúde, assim como no decurso de doenças.

Palavras-chave:
Resiliência Psicológica; Saúde do Idoso; Diabetes Mellitus; Profissionais de Saúde; Neoplasias

Abstract

Objective:

To identify studies on resilience in the elderly measured by the Connor-Davidson scale.

Method:

A systematic review of literature on the level of resilience of the elderly was carried out, based on articles indexed in the Lilacs, IBECS, MedLine and PubMed databases, according to the Prisma method.

Results:

27 studies were identified which included the elderly in their samples and determined the level of resilience through the Connor-Davidson scale. The USA (6), China (6) and Australia (5) had the greatest number of articles. A study carried out with elderly people in Australia had the highest level of resilience, which was attributed to public policies that favor the resilience development capacity of the population. The lowest level of resilience was observed in Japan in a study with survivors of major natural disasters, highlighting resilience as a significant protective factor for elderly persons who experience such events during their lives.

Conclusion:

The studies recognize resilience as an important protective factor for coping with external adversities and natural events, whether arising from the effects of the aging process on health, or through disease.

Keywords:
Resilience Psychological; Health of the Elderly; Diabetes Mellitus; Health Personnel; Neoplasms

INTRODUÇÃO

O mundo está no centro de uma transição do processo demográfico único e irreversível que resultará em populações mais velhas em todos os lugares11 United Nations Organization. Cúpula da ONU discute envelhecimento populacional e desenvolvimento sustentável [Internet]; [sem local]: ONU; 2017 [acesso em 27 out. 2017]. Disponível em: https://nacoesunidas.org/cupula-da-onu-discute-envelhecimento-populacional-e-desenvolvimento-sustentavel/
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O Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde22 Organização Mundial da Saúde. Relatório Mundial de envelhecimento e Saúde [Internet]. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2015 [acesso em 27 out. 2017]. Disponível em: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2015/10/OMS-ENVELHECIMENTO-2015-port.pdf, de 2015, traz atualizações quanto às mudanças nas percepções de saúde e envelhecimento. As perdas das habilidades em idosos estão vagamente relacionadas com a idade cronológica das pessoas; o que difere um idoso de outro, quanto as suas capacidades e necessidades, seria originado de eventos que ocorrem ao longo do curso de vida de cada indivíduo, e são frequentemente modificáveis, por isso ressalta a importância do enfoque de ciclo de vida para se entender o processo de envelhecimento. Ressalta ainda que, embora a maior parte dos adultos mais velhos apresentem múltiplos problemas de saúde, com o passar do tempo a idade avançada não leva, necessariamente, a viver com má qualidade de vida.

Diante disso, destaca-se a resiliência como um processo de desenvolvimento dinâmico, que abrange a adaptação positiva em um contexto de significante ameaça, adversidade severa ou trauma33 Betancourt TS, Meyers-Ohki SE, Charrow A, Hansen N. Annual research review: mental health and resilience in HIV/AIDS-affected children a review of the literature and recommendations for future research. J Child Psychol Psychiatr. 2013;54(4):423-44.. Originário das ciências físicas, a utilização do conceito de resiliência no campo das ciências da saúde data da década de 70, com estudos sobre pessoas que a despeito de terem sido submetidas a traumas agudos ou prolongados - fatores esses considerados de risco para o desenvolvimento de doenças psíquicas - não adoeciam como seria o esperado. Uma das primeiras pesquisas em que se cita a resiliência foi de Gayton et al.44 Gayton WF, Friedman SB, Tavormina JF, Tucker F. Children with cystic fibrosis: I. Psychological test findings of patients, siblings, and parents. Pediatrics. 1977;59(6):888-94. sobre o impacto emocional em pessoas de famílias com crianças portadoras de fibrose cística.

O conceito de resiliência apresenta características distintas com base nos países de origem. Nos Estados Unidos, o termo resiliência originou-se como uma perspectiva prática e voltada ao indivíduo, enquanto na Europa foi concebido em uma ótica mais focada nos aspectos da psicanálise e ética. Na Americana Latina, o conceito de resiliência surgiu mais tardiamente e denota uma base teórica centrada na comunidade, com maior enfoque para as temáticas relativas às populações vulneráveis, vítimas de violência e que se encontram à margem da sociedade55 Melillo A, Suárez-Ojeda EN, Rodríguez D. Resiliencia y subjetividad: los ciclos de la vida. Buenos Aires: Paidos; 2004..

No Brasil, os primeiros trabalhos relacionados à resiliência surgiram em 1996 e 1998 em estudos sobre crianças expostas à situação de risco, fatores de proteção e vulnerabilidade psicossocial, redes de apoio social e afetivo de crianças em situação de risco e na área ocupacional associada à resiliência no perfil do executivo. Em suma, as pesquisas sobre resiliência como tema central ou associada a outros aspectos brasileiros tiveram seu desenvolvimento a partir da década de 200066 Souza MTS, Cerveny CMO. Resiliência psicológica: revisão da literatura e análise da produção científica. Rev Interam Psicol. 2006;40(1):115-22..

No contexto de promoção de saúde, o envelhecimento ativo e a resiliência convergem na mesma direção. O aumento da expectativa de vida demanda estratégias para um envelhecimento ativo e requer, além das capacidades de se adaptar e suportar os desafios do curso de vida, o desenvolvimento de uma sociedade adaptada e verdadeiramente resiliente77 Smith J, Borchelt M, Maier H, Jopp D. Health and well-being in the young and oldest old. J Soc Issues. 2002;58(4):715-32.,88 Centro Internacional de Longevidade Brasil. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: ILC; 2015..

O conceito de resiliência vem ganhando cada vez mais espaço na discussão gerontológica, mas ainda é um assunto com poucas pesquisas no Brasil11 United Nations Organization. Cúpula da ONU discute envelhecimento populacional e desenvolvimento sustentável [Internet]; [sem local]: ONU; 2017 [acesso em 27 out. 2017]. Disponível em: https://nacoesunidas.org/cupula-da-onu-discute-envelhecimento-populacional-e-desenvolvimento-sustentavel/
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. O estudo da importância da resiliência, ao longo do curso da vida e seu significado, poderá ser importante nos próximos anos, para o desenvolvimento de políticas relacionadas ao envelhecimento e também no âmbito de pesquisa gerontológica, que explore suas múltiplas dimensões e ampla gama de determinantes.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática do nível de resiliência em idosos, mensurados por meio da escala Connor-Davidson.

MÉTODO

Foi realizada uma revisão sistemática de literatura científica nacional e internacional sobre o nível de resiliência dos idosos. O objeto de análise foi a produção científica veiculada em periódicos indexados nos bancos de dados da Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências de Saúde (IBECS), National Library of Medicine (MedLine) disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) por meio do site www.bvsalud.org, e também da United States National Library of Medicine(PubMed), acessada pelo site http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed. Essa pesquisa foi realizada de acordo com as recomendações metodológicas da declaração Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA)99 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: a recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42..

A busca de documentos foi realizada no período de maio a julho de 2018 e foram utilizadas como palavras-chave: “resilience scale” e “Connor-Davidson resilience scale”. Nas bases de dados Lilacs, IBECS e MedLine foram aplicados os seguintes filtros: humano, idoso, texto completo e ano de publicação de 2013 a 2018 e na base de dados PubMed foram aplicados filtros equivalentes em inglês: +65 years, clinical trial, 5 years publication dates e humans. Foram excluídos artigos de revisão e de validação de instrumentos.

Para seleção dos estudos, dois pesquisadores trabalharam paralelamente utilizando os seguintes critérios de inclusão para selecionar os artigos científicos: publicações realizadas entre os anos de 2013 e 2018; utilização do instrumento Connor-Davidson composto de 25 questões (CD-RISC 25) validado no país de origem; apresentação da média da pontuação (escore) do nível de resiliência; inclusão de pessoas com mais de 65 anos; publicação nos idiomas português, inglês ou espanhol.

A escala CD-RISC 2510 avalia a resiliência por meio de 25 itens relacionados às relações interpessoais; religiosidade; adversidades; confiança e estima por desafios; visão humorada das coisas e razão para que elas aconteçam; lidar com o estresse; tempo de recuperação após adoecimento; injúrias e dificuldades; adaptação a sentimentos desagradáveis e dolorosos; capacidade de dar o seu melhor em qualquer situação; almejar objetivos; não desistir; ter a quem pedir ajuda; capacidade de lidar com a pressão; resolver problemas; não se desencorajar após falha; se reconhecer como forte; tomar decisões difíceis e sentir prazer nos êxitos. Para cada pergunta do questionário há opção de resposta em escala do tipo Likert, com variação de zero (nem um pouco verdade) a quatro (totalmente verdade)1010 Connor K M, Davidson JRT. Development of a new resilience scale: The Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC). Depress Anxiety. 2003;18(2):76-82..

RESULTADOS

Inicialmente, o processo de busca na base de dados de pesquisa científica PubMed permitiu a identificação de 2.230 artigos relacionados com a escala de resiliência. Na base de dados da BVS foram encontrados 297 documentos no MedLine, 11 no LiLacs e sete no IBECS. Devido à escassez de estudos realizados exclusivamente com indivíduos maiores de 65 anos de idade, optou-se por selecionar trabalhos realizados com todas as faixas etárias, desde que os estudos incluíssem também idosos.

A avaliação dos títulos e resumos resultou em 30 trabalhos, desses três artigos estavam indisponíveis na versão online, logo, 27 documentos foram incluídos nesse estudo (Figura 1).

Figura 1
Representação esquemática do método de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos artigos, adaptada de acordo com o PRISMA Flow Diagram99 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises: a recomendação PRISMA. Epidemiol Serv Saúde. 2015;24(2):335-42.. Maringá, PR, 2018.

Após análise crítica dos trabalhos que avaliaram o nível de resiliência por meio da escala de Connor-Davidson, os mesmos foram classificados em relação aos autores, ano da publicação, periódico, tema central, país, faixa etária dos participantes e fator de impacto do periódico (Tabela 1).

Tabela 1
Características dos estudos sobre resiliência com idosos segundo autor, ano, periódico, tema central, país, faixa etária e fator de impacto do periódico, publicados entre 2013 e 2018. Maringá, PR, 2018.

Os 27 artigos selecionados e apresentados na Tabela 1, foram realizados em 11 diferentes países: Estados Unidos (6), China (6), Austrália (5), Brasil (2), Coréia do Sul (2), Japão (1), Bélgica (1), Suíça (1), Inglaterra (1), Irã (1) e Singapura (1).

No ano de 2016 foi publicado o maior número de estudos (11) sobre o nível de resiliência. A faixa etária da população estudada incluiu indivíduos de 18 a 108 anos, com destaque para cinco trabalhos16,22,25,26,35 que analisaram grupos estritamente de idosos, com idades entre 60 e 108 anos (Tabela 1). Não foram identificados, nas bases consultadas, estudos desenvolvidos no continente africano acerca do nível de resiliência em idosos com utilização da escala de Connor-Davidson.

Todos os artigos utilizados na construção dessa revisão sistemática encontram-se em periódicos avaliados com fator de impacto, variando de 0,34 a 3,12 (Tabela 1). A qualidade dos periódicos científicos é determinada com base na avaliação dos seus respectivos artigos, por meio de critérios específicos desenvolvidos para cada desenho de estudo e obtida no site da rede Equator Network3838 The EQUATOR Network. Enhancing the Quality and Transparency of Health Research. Oxford: Minervation Ltd; 2018 [acesso em 25 de outubro de 2018]. Disponível em: http://www.equator-network.org/.

Na Tabela 1 identificam-se as diversas temáticas relacionadas ao nível de resiliência. Embora todas as pesquisas selecionadas nesse estudo incluam idosos em suas amostragens, o CD-RISC 25 foi aplicado em situações diversas (Figura 2) e níveis de resiliência em associação com doenças (Figura 3).

Figura 2
Classificação dos estudos quanto aos níveis de resiliência mensurados pelo CD-RISC 25 agrupados por situações diversas. Maringá, PR, 2018.

Figura 3
Classificação dos estudos quanto aos níveis de resiliência mensurados pelo CD-RISC 25 e agrupados pelo tipo de doença. Maringá, PR, 2018.

A Figura 2 foi elaborada com base na análise dos 12 estudos sob o contexto da resiliência em situações diversas, não direcionados aos indivíduos portadores de doenças. Esses estudos foram agrupados em situações assemelhadas que resultaram em cinco subgrupos: sobreviventes de procedimentos médicos (2), sobreviventes de desastres naturais (1), profissionais da área de saúde (3), idosos (4) e outros (2). O menor nível de resiliência foi observado em estudo realizado no Japão (R=50,8), com sobreviventes de terremotos, tsunami e desastres nucleares1313 Kukihara H, Yamawaki N, Uchiyama K, Arai S, Horikawa E. Trauma, depression, and resilience of earthquake/tsunami/nuclear disaster survivors of Hirono, Fukushima, Japan. Psychiatr Clin Neurosci. 2014;68(7):524-33..

Os cinco estudos que foram realizados exclusivamente com idosos foram realizados em dois continentes distintos, três estudos na Ásia22,24,26 e dois na Oceania1616 Law J, Richmond RL, Kay-Lambkin F. The contribution of personality to longevity: findings from the Australian Centenarian Study. Arch Gerontol Geriatr. 2014;59(3):528-35.,3535 Kohler S, Loh SM. Patient resilience in the fracture orthopaedic rehabilitation geriatric environment. Australas J Ageing. 2017;36(1):65-8.. Obtiveram-se níveis de resiliência variados nos três estudos que foram realizados na China, com resultados que demonstraram escore baixo (R=57,9)2424 Lu C, Yuan L, Lin W, Zhou Y, Pan S. Depression and resilience mediates the effect of family function on quality of life of the elderly. Arch Gerontol Geriatr. 2017;71:34-42., intermediário (R=63,6)2626 Zhong X, Wu D, Nie X, Xia J, Li M, Lei F, et al. Parenting style, resilience, and mental health of community-dwelling elderly adults in China. BMC Geriatrics. 2016;16:1-8. e alto (R=84,9)2222 Lim ML, Lim D, Gwee X, Nyunt MS, Kumar R, Ng TP. Resilience, stressful life events, and depressive symptomatology among older Chinese adults. Aging Ment Health. 2015;19(11):1005-14.. Por outro lado, os dois estudos realizados na Austrália, o primeiro com idosos que sofreram fratura ortopédica (R=73,0)3535 Kohler S, Loh SM. Patient resilience in the fracture orthopaedic rehabilitation geriatric environment. Australas J Ageing. 2017;36(1):65-8. e o segundo realizado com idosos centenários (R=72,9)1616 Law J, Richmond RL, Kay-Lambkin F. The contribution of personality to longevity: findings from the Australian Centenarian Study. Arch Gerontol Geriatr. 2014;59(3):528-35., ambos apresentaram níveis médio de resiliência.

Na Figura 3 observam-se 15 estudos que avaliaram os níveis de resiliência em indivíduos portadores de doenças: traumas psicológicos (2), problemas físicos (4), pacientes de UTI (1), doenças crônicas (2) e câncer (6). O maior nível de resiliência foi observado em estudo realizado na Austrália em portadores de depressão (R=97,3)3434 Sharpley C, Bitsika V, Jesulola E, Fitzpatrick K, Agnew LL. The association between aspects of psychological resilience and subtypes of depression: implications for focussed clinical treatment models. Int J Psychiatr Clin Pract. 2016;20(3):151-6. e o menor nível em mulheres chinesas portadores de câncer de mama (R=61,0)2525 Wu Z, LiuY, Li X, Li X. Resilience and associated factors among mainland chinese women newly diagnosed with breast cancer. PLoS ONE. 2016;11(12):e0167976 [13 p.]..

DISCUSSÃO

Estados Unidos e China destacam-se por serem países de origem ou serem espaços de desenvolvimento do maior número de pesquisas identificadas nessa revisão sobre nível de resiliência, em grupos envolvendo idosos mensurados pela escala desenvolvida por Connor-Davidson. Os Estados Unidos reconhecem oficialmente a resiliência na doutrina de estratégia de segurança nacional americana, na qual justifica a necessidade de ampliá-la, incluindo a habilidade de resistir e se recuperar rapidamente a ataques deliberados, acidentes, desastres naturais, assim como estresses não convencionais, ataques e ameaças à economia e ao sistema democrático3939 Keeman JM. Types and forms of resilience in local planning in the U.S.: Who does what? Environ Sci Policy. 2018;88:116-23.. O Departamento de Segurança Nacional também reconheceu a resiliência na revisão quadrienal de segurança nacional em 2014, com a elaboração da Quadrennial Homeland Security Review (QHSR) cuja missão número V trata do fortalecimento nacional preparado para resiliência4040 The United States. Department of Homeland Security. The 2014 Quadrennial Homeland Security Review [Internet]. [place unknown: publisher unknown]; 2014 [acesso em 27 de out. 2018]. Disponível em: https://www.dhs.gov/sites/default/files/publications/2014-qhsr-final-508.pdf
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.

A China, por sua vez, apresenta a resiliência em duas filosofias: o taoismo e o confucionismo, culturas fortemente vivenciadas pelos mais idosos. Não é surpreendente que as perspectivas de resiliência sejam apresentadas por visões culturais diferentes na China. Por exemplo, no Taoismo, adversidades são frequentemente interpretadas por uma aproximação positiva, dialética e dualista. Entretanto, adversidade não é necessariamente entendida como negativa, mas interpretada como oportunidade para mudanças positivas4141 Yan HQ, Tseng W, Chang S, Nishizono M. Confucian thought: implications for psychotherapy. In: Asian culture and psychotherapy: Implications for east and west. Honolulu: University of Hawaii Press; 2005. p. 129-41.. Autocontrole e opiniões moderadas são considerados o significado para harmonia social. Além disso, o taoismo enfatiza as regras do dualismo, revelando o cíclico oscilante entre os extremos, adversidade e o sucesso4141 Yan HQ, Tseng W, Chang S, Nishizono M. Confucian thought: implications for psychotherapy. In: Asian culture and psychotherapy: Implications for east and west. Honolulu: University of Hawaii Press; 2005. p. 129-41..

Na China, três pesquisas mensuraram o nível de resiliência na população de idosos que vivem na comunidade2222 Lim ML, Lim D, Gwee X, Nyunt MS, Kumar R, Ng TP. Resilience, stressful life events, and depressive symptomatology among older Chinese adults. Aging Ment Health. 2015;19(11):1005-14.,2424 Lu C, Yuan L, Lin W, Zhou Y, Pan S. Depression and resilience mediates the effect of family function on quality of life of the elderly. Arch Gerontol Geriatr. 2017;71:34-42.,2626 Zhong X, Wu D, Nie X, Xia J, Li M, Lei F, et al. Parenting style, resilience, and mental health of community-dwelling elderly adults in China. BMC Geriatrics. 2016;16:1-8.. Sob o contexto da saúde mental, os resultados dessas pesquisas mostraram que o nível de resiliência dos idosos sofre influência dos eventos estressantes da vida2222 Lim ML, Lim D, Gwee X, Nyunt MS, Kumar R, Ng TP. Resilience, stressful life events, and depressive symptomatology among older Chinese adults. Aging Ment Health. 2015;19(11):1005-14., do estilo parental2626 Zhong X, Wu D, Nie X, Xia J, Li M, Lei F, et al. Parenting style, resilience, and mental health of community-dwelling elderly adults in China. BMC Geriatrics. 2016;16:1-8., isto é, o modo como os pais se relacionam com os filhos e, da relação familiar na qualidade de vida2424 Lu C, Yuan L, Lin W, Zhou Y, Pan S. Depression and resilience mediates the effect of family function on quality of life of the elderly. Arch Gerontol Geriatr. 2017;71:34-42..

Na sequência, a Austrália destaca-se por suas políticas públicas que influenciam positivamente, favorecendo níveis elevados de resiliência de sua população4242 Hatvani-Kovacs G, Bush J, Sharifi E, Boland J. Policy recommendations to increase urban heat stress resilience. Urban Climate. 2018;25:51-63.. O Health and Medical Research Institute4141 Yan HQ, Tseng W, Chang S, Nishizono M. Confucian thought: implications for psychotherapy. In: Asian culture and psychotherapy: Implications for east and west. Honolulu: University of Hawaii Press; 2005. p. 129-41. desenvolveu o centro de bem-estar e resiliência, que implantou no Sul da Austrália programas de saúde mental e bem-estar, por meio de iniciativas de saúde pública. O Centro de Bem-Estar e Resiliência faz parte do South Australian Health and Medical Institute (SAHMRI) e trabalha com pesquisadores, psiquiatras e neurocientistas focados no tema “Mente e Cérebro”, e contribui com diferentes espectros nas pesquisas para a saúde, desde a depressão, suicídio e ansiedade, até a resiliência e bem-estar. Com esse foco, na construção de ativos de saúde mental e na crescente resiliência humana, bem como na pesquisa e tratamento de doenças mentais, a iniciativa australiana é uma referência e um destaque global42,43.

Com relação ao elevado nível de resiliência identificado nos idosos na Austrália1616 Law J, Richmond RL, Kay-Lambkin F. The contribution of personality to longevity: findings from the Australian Centenarian Study. Arch Gerontol Geriatr. 2014;59(3):528-35.,3434 Sharpley C, Bitsika V, Jesulola E, Fitzpatrick K, Agnew LL. The association between aspects of psychological resilience and subtypes of depression: implications for focussed clinical treatment models. Int J Psychiatr Clin Pract. 2016;20(3):151-6., é importante considerar que o sistema de pensões naquele país é reconhecido como um dos mais sustentáveis do planeta, fator determinante para a manutenção da qualidade de vida dos seus idosos4444 União Europeia. Regimes privados de pensões: o seu papel nas pensões adequadas e sustentáveis [Internet]. [place unknown: publisher unknown]; 2010 [acesso em 20 de out. 2018]. Disponível em: http://ec.europa.eu/social/BlobServlet?docId=4853&langId=pt
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. A adequação das pensões reflete na capacidade de evitar a pobreza e a exclusão social em idade avançada, assegurando um padrão de vida digno aos aposentados, que lhes permitem usufruir do bem-estar econômico do seu país e participar da vida pública, social e cultural4444 União Europeia. Regimes privados de pensões: o seu papel nas pensões adequadas e sustentáveis [Internet]. [place unknown: publisher unknown]; 2010 [acesso em 20 de out. 2018]. Disponível em: http://ec.europa.eu/social/BlobServlet?docId=4853&langId=pt
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Os profissionais da saúde apresentaram níveis intermediários de resiliência2121 Rushton CH, Batcheller J, Schroeder K, Donohue P. Burnout and resilience among nurses practicing in high-intensity settings. Am J Crit Care. 2015;24(5):412-20.,3737 Horvath MAH, Massey K. The impact of witnessing other people's trauma: The resilience and coping strategies of members of the Faculty of Forensic and Legal Medicine. J Forensic Leg Med. 2018;55:99-104.. Esses profissionais encontram-se rotineiramente diante de inúmeras situações que desafiam as suas práticas profissionais, como por exemplo: as intercorrências no plantão; as inúmeras horas trabalhadas; os desafios de lidar com a morte; os problemas no sistema de saúde e, muitas vezes, as jornadas duplas de trabalho. Esse contexto exige estabilidade emocional e o desenvolvimento de personalidade resiliente para o enfrentamento de situações adversas no cotidiano de trabalho2121 Rushton CH, Batcheller J, Schroeder K, Donohue P. Burnout and resilience among nurses practicing in high-intensity settings. Am J Crit Care. 2015;24(5):412-20.. Diante dessa situação o profissional de saúde deve desenvolver competências para lidar com a sua prática profissional, buscando autoconfiança; autocontrole; empatia; percepção para o autoadoecimento; otimismo e sentido perante a vida; assumir os desafios; ser flexível; tolerante; trabalhar em equipe; lidar com as perdas e frustrações relacionadas aos seus pacientes. Neste cenário e com essas necessidades, encontra-se na resiliência um recurso necessário para o enfrentamento das adversidades, possibilitando bem-estar, qualidade de vida e saúde desses profissionais1515 Lee JS, Ahn YS, Jeong KS, Chae JH, Choi KS. Resilience buffers the impact of traumatic events on the development of PTSD symptoms in firefighters. J Affect Disord. 2014;162:128-33..

O estudo da resiliência mediante situações de adversidades que podem significar desfechos que objetivam melhorar a vida das pessoas, como optar por ser um doador de órgão em vida1818 Rudow DL, Iacoviello BM, Charney D. Resilience and personality traits among living liver and kidney donors. Prog Transplant. 2014;24(1):82-90. (doadores de fígado e rim), ou sobreviver a uma intervenção coronariana percutânea3333 Edward KL, Stephenson J, Giandinoto JA, Wilson A, Whitbourn R, Gutman J, et al. An Australian longitudinal pilot study examining health determinants of cardiac outcomes 12 months post percutaneous coronary intervention. BMC Cardiovascr Dis. 2016;16:1-8., indicaram níveis elevados de resiliência dos envolvidos em países de economia estável1818 Rudow DL, Iacoviello BM, Charney D. Resilience and personality traits among living liver and kidney donors. Prog Transplant. 2014;24(1):82-90.,3333 Edward KL, Stephenson J, Giandinoto JA, Wilson A, Whitbourn R, Gutman J, et al. An Australian longitudinal pilot study examining health determinants of cardiac outcomes 12 months post percutaneous coronary intervention. BMC Cardiovascr Dis. 2016;16:1-8.. Situação distinta da observada na China, que apresenta uma economia emergente e teve implementado no início dos anos 80, a política do filho único2727 Zhang W, Wang A, Yao S, Luo Y, Li Z, Huang F, et al. Latent profiles of posttraumatic growth and their relation to differences in resilience among only-child-lost people in China. PLoS ONE. 2016;11(12):e0167398 [13 p.]., levando a grandes mudanças na estrutura da população e das famílias chinesas. O estudo realizado com um grupo especial de pais de família cujo filho único morreu, indicou níveis baixos de resiliência. Os pais que perderam o único filho experimentam uma variedade de respostas emocionais como ansiedade, depressão, risco de suicídio e dor prolongada, vivendo na fronteira dos transtornos mentais graves2727 Zhang W, Wang A, Yao S, Luo Y, Li Z, Huang F, et al. Latent profiles of posttraumatic growth and their relation to differences in resilience among only-child-lost people in China. PLoS ONE. 2016;11(12):e0167398 [13 p.]..

Em estudo realizado no Japão1313 Kukihara H, Yamawaki N, Uchiyama K, Arai S, Horikawa E. Trauma, depression, and resilience of earthquake/tsunami/nuclear disaster survivors of Hirono, Fukushima, Japan. Psychiatr Clin Neurosci. 2014;68(7):524-33. encontrou-se o menor nível de resiliência mensurado com a escala de Connor-Davidson. Esse país localiza-se no limite da placa tectônica Euroasiática Oriental, e é afetado por um a cada cinco terremotos com magnitude superior a 6 graus na escala Richter que ocorrem no mundo. Sua população, principalmente a mais idosa, já vivenciou repetidas situações relacionadas a esses desastres naturais como tsunamis, terremotos e, mais recentemente, acidentes nucleares4545 Souza MTS. Resiliência e desastres naturais. Ciênc Cult [Internet]. 2011 [acesso em 03 abr. 2019];63(3):1-2. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252011000300002&lng=en
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. Esses eventos quando ocorrem em número significativo expõem a população a situações extremas, aos quais ficam vulneráveis, resultando em ferimentos e perda de vidas, combinados com danos à propriedade e aos meios de subsistência. Falar em recuperação e resiliência em situações de desastre natural implica em resiliência comunitária1313 Kukihara H, Yamawaki N, Uchiyama K, Arai S, Horikawa E. Trauma, depression, and resilience of earthquake/tsunami/nuclear disaster survivors of Hirono, Fukushima, Japan. Psychiatr Clin Neurosci. 2014;68(7):524-33.. O apoio mútuo é necessário para possibilitar que as famílias compartilhem suas necessidades e construam juntas estratégias para buscarem recursos para dar continuidade aos projetos de vida4646 Landau J, Saul J. Facilitando a resiliência da família e da comunidade em resposta a grandes desastres. Pensando Fam. 2002;4(4):56-78.. Neste contexto, Kukihara et al.1313 Kukihara H, Yamawaki N, Uchiyama K, Arai S, Horikawa E. Trauma, depression, and resilience of earthquake/tsunami/nuclear disaster survivors of Hirono, Fukushima, Japan. Psychiatr Clin Neurosci. 2014;68(7):524-33. identificaram que alguns sobreviventes de desastres de grande magnitude conseguiram suportar os eventos traumáticos relativamente bem, e a resiliência foi um fator protetor significativo ao vivenciar tais eventos. De onde se conclui que é crucial ajudar os sobreviventes a melhorarem sua resiliência, oferecendo oportunidades de trabalho e incentivando um estilo de vida saudável.

A análise dos estudos selecionados nessa revisão, com foco em identificar o nível de resiliência dos idosos na presença de doenças, mostrou forte consenso de que a resiliência é um importante fator de proteção para o sofrimento emocional, sejam elas na presença de doenças que promovem maior repercussão como o câncer2323 Markovitz SE, Schrooten W, Arntz A, Peters ML. Resilience as a predictor for emotional response to the diagnosis and surgery in breast cancer patients. Psychooncology. 2015;24(12):1639-45.,2525 Wu Z, LiuY, Li X, Li X. Resilience and associated factors among mainland chinese women newly diagnosed with breast cancer. PLoS ONE. 2016;11(12):e0167976 [13 p.]., ou doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes1414 Bahremand M, Rai A, Alikhani M, Mohammadi S, Shahebrahimi K, Janjani P. Relationship between family functioning and mental health considering the mediating role of resiliency in type 2 diabetes mellitus patients. Global J Health Sci. 2014;7(3):254-9.,2929 Böell JE, Silva DM, Hegadoren KM. Sociodemographic factors and health conditions associated with the resilience of people with chronic diseases: a cross sectional study. Rev Latinoam Enferm. 2016;24:e2786 [9 p.]..

Enquanto Markovitz et al.23 identificaram que pacientes belgas com maior nível de resiliência (R=93,8) suportam melhor o impacto negativo do câncer de mama e são menos propensos a apresentar sintomas depressivos, na China, Wu et al.2525 Wu Z, LiuY, Li X, Li X. Resilience and associated factors among mainland chinese women newly diagnosed with breast cancer. PLoS ONE. 2016;11(12):e0167976 [13 p.]. encontraram baixos níveis (R=60,9) de resiliência em portadoras com o mesmo tipo de câncer, principalmente nas mulheres mais idosas. Outras pesquisas realizadas em diferentes países com portadoras de câncer de mama apresentaram diferentes níveis de resiliência: Coréia do Sul (R=67,8)1111 Min JA, Yoon S, Lee CU, Chae JH, Lee C, Song KY, Kim TS. Psychological resilience contributes to low emotional distress in cancer patients. Support Care Cancer. 2013;21(9):2469-76., Suíça (R=74,4)2020 Dubey C, De Maria J, Hoeppli C, Betticher DC, Eicher M. Resilience and unmet supportive care needs in patients with cancer during early treatment: a descriptive study. Eur J Oncol Nurs. 2015;19(5):582-8., Austrália (R=80,1)1212 Sharpley C, Christie D, Bitsika V. Variability over time-since- diagnosis in the protective effect of psychological resilience against depression in Australian prostate cancer patients: implications for patient treatment models. Am J Men's Health.2013;7(5):414-22. e no Brasil (R=88,5)3030 Solano JP, da Silva AG, Soares IA, Ashmawi HA, Vieira JE. Resilience and hope during advanced disease: a pilot study with metastatic colorectal cancer patients. BMC Palliat Care. 2016;15:1-8.. A variação desses resultados reforça a tese da forte relação da resiliência com as bases culturais dos diferentes povos, e menor relação com as condições econômicas do país, visto, por exemplo, que os brasileiros demonstraram níveis mais elevados de resiliência3030 Solano JP, da Silva AG, Soares IA, Ashmawi HA, Vieira JE. Resilience and hope during advanced disease: a pilot study with metastatic colorectal cancer patients. BMC Palliat Care. 2016;15:1-8. que aqueles que vivem em países com maior estabilidade econômica2020 Dubey C, De Maria J, Hoeppli C, Betticher DC, Eicher M. Resilience and unmet supportive care needs in patients with cancer during early treatment: a descriptive study. Eur J Oncol Nurs. 2015;19(5):582-8. e melhor assistência para saúde1212 Sharpley C, Christie D, Bitsika V. Variability over time-since- diagnosis in the protective effect of psychological resilience against depression in Australian prostate cancer patients: implications for patient treatment models. Am J Men's Health.2013;7(5):414-22..

O nível de resiliência dos indivíduos com diabetes mellitus no Brasil foi maior se comparado ao estudo realizado no Irã1414 Bahremand M, Rai A, Alikhani M, Mohammadi S, Shahebrahimi K, Janjani P. Relationship between family functioning and mental health considering the mediating role of resiliency in type 2 diabetes mellitus patients. Global J Health Sci. 2014;7(3):254-9.. No Brasil, a Lei Federal n° 11.347/20064747 Brasil. Lei nº. 11.347, de 27 de setembro de 2006. Dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos e materiais necessários à sua aplicação e à monitoração da glicemia capilar aos portadores de diabetes inscritos em programas de educação para diabéticos. Diário Oficial da União. 28 set. 2006. p. 1. disponibiliza distribuição gratuita de medicamentos e materiais necessários à sua aplicação e à monitoração da glicemia capilar aos portadores de diabetes. Para a realização de consultas médicas gratuitas, recebimento dos medicamentos e assistência de equipe multiprofissional, o paciente deve apenas cadastrar-se no programa de educação especial para diabéticos (HIPERDIA) do posto de saúde mais próximo de sua residência.

Por outro lado, no Irã, apesar do acesso às medicações para tratamento de diabetes serem acessíveis e cobertos por seguro4848 Ghadiri-Anari Z, Fazaelipoor SM, Mohammad. Insulin refusal in Iranian patients with poorly controlled type 2 diabetes mellitus. Acta Med Iran. 2013;51:567-71., estudo realizado por Bahremand et al.1414 Bahremand M, Rai A, Alikhani M, Mohammadi S, Shahebrahimi K, Janjani P. Relationship between family functioning and mental health considering the mediating role of resiliency in type 2 diabetes mellitus patients. Global J Health Sci. 2014;7(3):254-9. identificou que, naquele país o relacionamento familiar e a saúde mental são fatores que interferem de forma significativa no nível de resiliência, e concluíram que os pacientes diabéticos que desfrutavam melhor relacionamento familiar, apresentaram maior resiliência e, consequentemente, melhor saúde mental.

Estudos realizados na Austália3535 Kohler S, Loh SM. Patient resilience in the fracture orthopaedic rehabilitation geriatric environment. Australas J Ageing. 2017;36(1):65-8. e nos EUA17,28,31 identificaram níveis médios de resiliência entre pessoas portadoras de deficiências físicas decorrentes de fratura ortopédica (R=73,0)3535 Kohler S, Loh SM. Patient resilience in the fracture orthopaedic rehabilitation geriatric environment. Australas J Ageing. 2017;36(1):65-8., esclerose múltipla [(R=71,0)1818 Rudow DL, Iacoviello BM, Charney D. Resilience and personality traits among living liver and kidney donors. Prog Transplant. 2014;24(1):82-90.; (R=73,41717 Senders A, Bourdette D, Hanes D, Yadav V, Shinto L. Perceived stress in multiple sclerosis: the potential role of mindfulness in health and well-being. J Evid -Based Complement Altern Med. 2014;19(2):104-11.)] e injúria cerebral (R=75,9)3131 Hanks RA, Rapport LJ, Waldron Perrine B, Millis SR. Correlates of resilience in the first 5 years after traumatic brain injury. Rehabil Psychol. 2016;61(3):269-76.. Kohler e Loh3535 Kohler S, Loh SM. Patient resilience in the fracture orthopaedic rehabilitation geriatric environment. Australas J Ageing. 2017;36(1):65-8. discutem a importância de utilizar os ambientes de reabilitação física como locais para implantação de estratégias benéficas para melhorar a resiliência de pacientes em reabilitação e das pessoas idosas no enfrentamento de suas limitações físicas.

Embora a maior parte dos estudos selecionados à resiliência aborde, sob diferentes aspectos, as questões psicológicas; identificaram-se duas pesquisas que relacionaram o transtorno mental com a resiliência. A primeira foi realizada na China, por Lee et al.1515 Lee JS, Ahn YS, Jeong KS, Chae JH, Choi KS. Resilience buffers the impact of traumatic events on the development of PTSD symptoms in firefighters. J Affect Disord. 2014;162:128-33., que analisaram o estresse vivenciado por 552 bombeiros, com elevado nível de estresse em suas rotinas, e concluíram que intervenções que melhorem a resiliência reduz o impacto de eventos traumáticos e, consequentemente, diminui o desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático, inclusive naqueles com 60 anos ou mais. E, o segundo estudo, desenvolvido na Austrália por Sharpley et al.3434 Sharpley C, Bitsika V, Jesulola E, Fitzpatrick K, Agnew LL. The association between aspects of psychological resilience and subtypes of depression: implications for focussed clinical treatment models. Int J Psychiatr Clin Pract. 2016;20(3):151-6., identificou estratégias e metas interventivas que foram implementadas com sucesso para tratamento individualizado de pacientes, considerando os subtipos de transtornos mentais.

Dado o exposto, essa revisão de literatura identificou a aplicação da escala de Connor-Davidson como um valioso instrumento para utilização nas mais diversas situações de estresse psicológico que podem afetar, sobremaneira, a qualidade de vida das pessoas. Embora o objetivo inicial desse estudo limitar-se a avaliar a resiliência nos idosos, a escassez de estudos voltados para essa população levou os pesquisadores a ampliar a busca por estudos desenvolvidos com a inclusão de idosos juntamente a outras faixas etárias.

CONCLUSÃO

A presente revisão sistemática da literatura científica sobre nível de resiliência mensurado pelo instrumento de Connor-Davidson, que incluíram pessoas idosas em suas amostragens, identificou estudos em 11 países e com temas centrais em diversificadas situações. Os países que se destacaram com maior número de estudos sobre resiliência foram a China, Estados Unidos e Austrália. A análise do nível de resiliência entre portadores de doenças identificou, na Austrália, um estudo com o maior nível de resiliência em pacientes idosos portadores de depressão. Por outro lado, para os sobreviventes de desastres naturais no Japão encontrou-se o menor nível de resiliência, embora para a população mais idosa que vivenciou repetidos eventos ao longo da vida, a resiliência representou significativo fator protetor para os sobreviventes frente a tais eventos. Quase a totalidade dos estudos reconhecem a necessidade de implementar intervenções para melhorar o nível de resiliência frente às adversidades.

Pesquisas futuras são necessárias para melhor compreensão das intervenções que possibilitem aumentar a resiliência das pessoas envolvidas, seja em situações adversas impostas pelo ambiente em que vive, mas também daquelas advindas dos eventos naturais do processo do envelhecimento, no contexto da saúde ou na presença de doenças.

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  • Financiamento:

    Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI), Bolsa de Pesquisa Produtividade, processo 85961/2018

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Set 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    17 Nov 2018
  • Aceito
    16 Jul 2019
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