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Hospitalidade urbana de destinos turísticos: um estudo do Distrito de Santo Antônio de Lisboa em Florianópolis (SC, Brasil)1 1 Este artigo reúne resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, realizada com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil), aprovada no Edital Produtividade em Pesquisa 2018 e pesquisa em nível de iniciação científica do programa PIBIC (CNPq).

Urban hospitality of tourist destinations: a study of the District of Santo Antônio de Lisboa in Florianópolis (SC, Brazil)

Hospitalidad urbana de los destinos turísticos: un estudio del Distrito de Santo Antônio de Lisboa en Florianópolis (SC, Brasil)

Resumo

Este artigo teve como objeto de estudo o destino turístico Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis (SC, Brasil), um destino tradicional de “sol e praia” da cidade, do turismo cultural focado no patrimônio da arquitetura colonial e, mais recentemente, impulsionado pela gastronomia da nouvelle cuisine com a releitura da gastronomia tradicional dos pescados. Assim, o objetivo principal desta pesquisa foi analisar as condições da hospitalidade do espaço físico desse destino turístico, dotado de paisagens naturais singulares, onde a memória histórico-cultural marca a paisagem edificada para habitantes, visitantes e turistas; além da demanda turística recente acentuada em virtude dos atributos culturais e da preservação ambiental. A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa com abordagem empírica e sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e iconográfica. Os dados foram analisados à luz de métodos focados em conceitos e paradigmas que dão suporte aos estudos da hospitalidade do espaço edificado, visando, outrossim, relacionar e inferir pressupostos, sistematizar modelos teóricos e categorias de análise. Os resultados ampliaram a construção epistemológica e contribuir com os métodos de análise da hospitalidade urbana de destinos turísticos. Os resultados da análise apontam para a pertinência e adequabilidade das categorias de análise de legibilidade, identidade do lugar e conforto ambiental urbano. Entretanto, a categoria de análise acessibilidade foi comprometida neste estudo.

Palavras-chave
Hospitalidade urbana; Hospitalidade do espaço edificado; Hospitalidade; Santo Antônio de Lisboa; Florianópolis

Abstract

This article had as object of study the tourist destination Santo Antônio de Lisboa, in Florianópolis (SC, Brazil), a traditional “sunny” destination and city beach, cultural tourism focused on the heritage of colonial architecture and, more recently, driven by the gastronomy of nouvelle cuisine with a reinterpretation of the traditional gastronomy of fish. Thus, the main objective of this research was to analyze the conditions of physical space hospitality of this tourist destination, endowed with unique natural landscapes, where the historical-cultural memory marks the built landscape, in addition to the recent accentuated tourist demand due to cultural attributes and environmental preservation. The methodology is supported by descriptive and qualitative research with an empirical and sensorial approach, supported by documentary, bibliographic and iconographic research. The data were analyzed in the light of the methods focused on the concepts and paradigms that support the studies of hospitality in the built space, also aiming at relating and inferring assumptions, systematizing theoretical models and categories of analysis. The results enlarged the epistemological construction and contribute to the methods of analysis of urban hospitality in tourist destinations. The results of the analysis point to the relevance and suitability of the categories of analysis of readability, identity of the place and urban environmental comfort. However, the accessibility analysis category was compromised in this study.

Keywords
Urban hospitality; Hospitality of the built space; Hospitality; Santo Antônio de Lisboa; Florianópolis

Resumen

Este artículo tuvo como objeto de estudio el destino turístico Santo Antônio de Lisboa, en Florianópolis (SC, Brasil), conocido por “sol y playa”, el turismo cultural, la arquitectura colonial y, más recientemente, por la reinterpretación de la gastronomía tradicional del pescado. Así, el objetivo principal de esta investigación fue analizar las condiciones de hospitalidad física de este destino turístico, dotado de paisajes naturales únicos, donde la memoria histórico-cultural marca el paisaje construido, además de la acentuada demanda turística por atributos culturales y preservación del medio ambiente. La metodología se apoya en una investigación descriptiva y cualitativa con enfoque empírico y sensorial, sustentada en una investigación documental, bibliográfica e iconográfica. Los datos fueron analizados a la luz de métodos centrados en conceptos y paradigmas que sustentan los estudios de la hospitalidad en el espacio construido, con el objetivo también de relacionar e proponer supuestos, sistematizar modelos teóricos y categorías de análisis. Los resultados agradaron la construcción epistemológica y contribuir a los métodos de análisis de la hospitalidad urbana en los destinos turísticos. Los resultados del análisis apuntan a la pertinencia y adecuación de las categorías de análisis de legibilidad, identidad del lugar y confort ambiental urbano. Sin embargo, la categoría de análisis de accesibilidad se vio comprometida en este estúdio.

Palabras clave
Hospitalidad urbana; Hospitalidad del espacio construído; Hospitalidade; Santo Antônio de Lisboa; Florianópolis

1 INTRODUÇÃO

Evidências científicas e, consequentemente, o desenvolvimento técnico e até tecnológico têm demonstrado a concomitante e necessária sustentabilidade ambiental e as condições de hospitalidade dos espaços edificados. Portanto, verifica-se que condições elencadas do espaço construído: acessibilidade, legibilidade, identidade, simbologia de lugares e bem-estar, foram fios condutores para a análise deste trabalho.

Os estudos sobre a hospitalidade voltados para o turismo estão focados no papel social que a hospitalidade requer, na medida em que nesses estudos, a hospitalidade é concebida estritamente como a interação social dos sujeitos envolvidos no ato de receber. Nessa perspectiva, Bastos e Rejowski (2015)Bastos, S., & Rejowski, M. (2015). Pesquisa científica em hospitalidade: desafios em busca de uma configuração teórica. Revista Hospitalidade, 12(número especial), p. 132-159.; Camargo (2015)Camargo, L. O. de L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade, 8(número espacial), 42-69.; Tasci e Semrad (2016)Tasci, A., & Semrad, K. (2016). Developing a scale of hospitableness: a table of two worlds. International Journal of Hospitality Management, 53, p. 30-41. https://doi.org/10.1016/j.ijhm.2015.11.006
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discutem o papel social da hospitalidade, dando ênfase nas interações humanas, para se formatar um produto com qualidade desejável no campo do turismo. No domínio do espaço social, Camargo (2015)Camargo, L. O. de L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade, 8(número espacial), 42-69. afirma que a hospitalidade passa por motivos pessoais e pela qualidade do relacionamento instituído entre o anfitrião e o hóspede, mas enfatiza que nessa relação o espaço físico tem um papel preponderante, já que este espaço tem a capacidade de aproximar ou afastar essas relações.

Partindo desses pressupostos, as questões colocadas por esta análise foram: quais as implicações dessa base conceitual para a apreensão e interpretação da hospitalidade do espaço edificado? E quais as categorias de análise e as abordagens metodológicas para a apreensão da hospitalidade do espaço público das cidades? A partir deste questionamento, a análise procurou responder o objetivo principal: analisar o destino turístico Santo Antônio de Lisboa em Florianópolis (SC, Brasil), enquanto diferencial do espaço turístico contemporâneo, em benefício para habitantes, visitantes e turistas (Fonseca, 2016Fonseca, C. B. (2016). O processo de turistificação e a criação da Via Gastronômica de Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Cacupé. [Dissertação de Mestrado não publicada]. Universidade Federal do Paraná.).

Como justificativa, essa pesquisa apontou para a importância de contribuir com a teoria e com os métodos de análise acerca da hospitalidade do espaço físico, por se tratar de uma nova vertente de pesquisa científica, cujo arcabouço teórico e métodos de análise foram postulados muito recentemente; e se nota que pesquisadores brasileiros são os que mais têm-se dedicado ao tema dada bibliometria elaborada como parte de pesquisa bibliográfica.

A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa com uma abordagem empírica e sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e iconográfica. Os dados foram analisados à luz de métodos focados nos conceitos e paradigmas que dão suporte aos estudos da hospitalidade do espaço edificado.

De acordo com Matheus (2002, p. 63)Matheus, Z. M. (2002). A Ideia de uma cidade hospitaleira. In C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole.: “A idéia de uma cidade hospitaleira está vinculada à construção da urbe, à tessitura estrutural e social da cidade como conhecemos atualmente”. Entende-se que a hospitalidade urbana está relacionada com a qualidade do ambiente urbano e, no caso dos destinos turísticos, com a qualidade da experiência turística. Ressalta-se que a hospitalidade da cidade passa pela qualidade da paisagem urbana, que abarca as características do sítio geográfico, a morfologia urbana, oferta de infraestrutura e mobilidade para assegurar o deslocamento e a inclusão social.

No contexto da cidade turística, Roberto Boullón (2000)Boullón, R. C. (2000). Planejamento turístico. EDUSC. e Lucio Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., inferem que existe uma imagem de cidade que cria uma informação legível acerca do espaço urbano e das arquiteturas que o compõe, tal oferta de informação é uma expressão de hospitalidade. Esses estudos, a partir da imagem da cidade, e todo seu escopo, contribuíram concomitantemente com a noção de hospitalidade urbana e com a qualidade dos destinos turísticos urbanos. Nota-se que tanto uma análise da forma como a de conteúdo da imagem da cidade, é possível inferir se esta pode ser dotada ou não de hospitalidade.

Para Grinover (2007, pp. 82-123)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., a hospitalidade é um “dom” do espaço carregado pelos signos da acessibilidade, legibilidade e identidade, portanto, aqueles atributos já sistematizados por Kevin Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes., Gordon Cullen (1971)Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana. Edições 70. e Roberto Boullón (2000)Boullón, R. C. (2000). Planejamento turístico. EDUSC.. Nesse contexto, deve-se considerar que atributos da hospitalidade urbana dão ênfase ao sentido emocional que o ambiente poderá proporcionar para garantir o bem-estar. Essa garantia do acolhimento, bem-estar e qualidade do ambiente é uma questão chave quando se trata dos destinos turísticos, por se tratar de um espaço que se torna lugar como signo de acolhimento. Ademais, a qualidade do espaço físico deve assegurar a legibilidade do mesmo e os signos de identidade do lugar, de modo a proporcionar a emoção e possibilitar a leitura do mesmo. Portanto, ao se refletir sobre atributos de hospitalidade urbana que a análise da problemática colocada por este estudo poderá ampliar a construção epistemológica e contribuir com métodos de análise dos destinos turísticos.

Considerando o objetivo principal desta pesquisa, a análise da hospitalidade do espaço físico de Santo Antônio de Lisboa em Florianópolis (SC, Brasil) se apoiou nos conceitos de hospitalidade urbana enquanto diferencial do espaço turístico contemporâneo. O recorte analítico levou em consideração a evolução histórica manifestada na constante preocupação com a garantia do bem-estar de seus habitantes, visitantes e turistas, procurando enfatizar o sentido emocional que o espaço poderia ocasionar. Essas características instigam a reflexão, enriquecem a análise e podem potencializar generalizações para análise de outros destinos turísticos.

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Os registros históricos apontam que a noção de hospitalidade remonta à Antiguidade, precisamente nos textos de Homero e Heródoto que se referiam à hospitalidade como uma virtude ou um ato que possuía uma “aura divina”. Para os gregos, a noção de hospitalidade envolvia o ato de acolher, recepcionar, abrigar, compartilhar. Para os latinos, a noção de hospitalidade vem da palavra hospitalitas-atis e do seu significado, que se traduz em acolher, recepcionar, hospedar, dispensar amabilidade, gentileza e tratamento cortês (Walker, 2002Walker, J.R. (2002). Introdução á Hospitalidade. Manole.).

Segundo Gotman (2004)Gotman, A. (2004). Villes et Hospitalité: Les munícipes et leurs “étrangers”. Éditions de la Maison de L´Homme. https://doi.org/10.4000/books.editionsmsh.806
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, a palavra “hospitalidade” contém uma pluralidade de sentido, tendo aparecido oficialmente no vocabulário francês no ano de 1206, com a designação de “alojamento gratuito de caridade aos indigentes”, cuja noção remete a uma das virtudes teológicas do cristianismo – a caridade. Gotman (2004)Gotman, A. (2004). Villes et Hospitalité: Les munícipes et leurs “étrangers”. Éditions de la Maison de L´Homme. https://doi.org/10.4000/books.editionsmsh.806
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ainda relata que no século XVI a palavra “hospitalidade” reaparece com uma acepção diferente, inspirada na Antiguidade, de acordo com o acadêmico Antoine Furetière em seu Dicionário Universal (1684), que distingue dois tipos de hospitalidade: “aquela fundamentada na caridade e no benefício às pessoas indigentes, oferecendo-lhes abrigo e alimentação e a outra que se refere ao direito recíproco de proteção entre os pares” (Gotman, 2010Gotman, A. (2010). Villes et Hospitalité: les munícipes et leurs “étrangers”. Éditions de la Maison de L’Homme., p. 8).

Bell (2009)Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2
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aponta para a necessidade contemporânea de mais pesquisas sobre hospitalidade, assim como Allis e Fraga (2016)Allis, T., & Fraga, C. (2016). Mobilidades turísticas e hospitalidade urbana: Análise bibliográfica a partir de publicações de turismo no Brasil. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, p. 155-165. apontam uma produção acadêmica tímida para estudos sobre hospitalidade urbana no Brasil. Os estudos sobre a hospitalidade das cidades têm se dedicado aos valores sociais, onde o espaço não foi tratado de forma eficaz. Bell (2009)Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2
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observou que na última década tem sido renovado o interesse pelos estudos de hospitalidade relacionados com o turismo, para além do conteúdo pragmático da gestão da hospitalidade, mas encontraram uma análise diversificada das Ciências Sociais; especialmente em estudos sobre imigração e asilo para refugiados em várias cidades do mundo contemporâneo. Por exemplo, o “acesso” como condição de hospitalidade urbana está vinculado à participação popular como ferramenta para políticas públicas ou governança das cidades (Mercier et al., 2014Mercier J., Duarte, F., Domingue, J., & Carrier, M. (2014). Understanding continuity in sustainable transport planning in Curitiba. Urban Studies, 52(8), p. 1454-1470. https://doi.org/10.1177/0042098014538526
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; Hambleton, 2015Hambleton, R. (2015). Power, place and the new civic leadership. Local Economy, 30(2), p. 167-172. https://doi.org/10.1177/0269094215570563
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); a hospitalidade dos lugares da cidade condicionada pelo empreendedorismo e produção cultural (Lugosi et al., 2010Lugosi, P., Bell, D. & Lugosi, K. (2010). Hospitality, Culture and Regeneration: Urban Decay, Entrepreneurship and the 'Ruin' Bars of Budapest. Urban Studies, 47(14), p. 3079-3101. https://doi.org/10.1177/0042098009360236
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); a contribuição da sociologia pragmática para a hospitalidade das cidades (Blok & Meilvang, 2014Blok, A., & Meilvang, M. L. (2014). Picturing urban green attachments: civic activists moving between familiar and public engagements in the city. Sociology, 49(1), p. 19-37. https://doi.org/10.1177/0038038514532038
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). Da mesma forma, as pesquisas em hospitalidade urbana, derivadas da Geografia Humana, compreendem o papel social de comensalidade, comércio e serviços de bairro como atributos da hospitalidade nas cidades (Bell, 2009Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Studies (pp. 19-34). Sage. https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2
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; Latham, 2003Latham, A. (2003). Urbanity, lifestyle and making sense of the new urban cultural economy: notes from Auckland, New Zealand. Urban Studies, 40(9), p. 1699-1724. https://doi.org/10.1080/0042098032000106564
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). Nesse mesmo viés social, Gibson e Molz (2016)Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world. Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315595795
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analisaram a hospitalidade urbana por meio de relações sociais marcadas pela inclusão, exclusão, violência e gentileza; onde a categoria é apresentada como uma descrição das mobilidades sociais. Da mesma forma, Landau (2012)Landau, L. B. (2012). Hospitality without hosts: mobility and communities in Africa’s urban estuaries. WISER 19, 5(7), p. 1-19. embora tenha inferido sobre um espaço comunitário, dedicou-se a construir uma explicação de hospitalidade urbana justificada por relações sociais de associações étnicas e multiculturalismo. Heal (2011)Heal, F. (2011). Urban hospitality. In O. F. Head (Ed.), Hospitality in Early Modern England. Oxford Scholarship Online. infere sobre diferentes espaços de hospitalidade urbana a partir de uma perspectiva socioeconômica na formação de diferentes territórios em cidades da Inglaterra elizabethana.

Nesse sentido, como lacuna teórica apontada neste estudo, há a possibilidade de um sistema de caracterização morfológica espacial das áreas urbanas que vai além dos atributos sociais da hospitalidade nas cidades.

A hospitalidade como um ato de receptividade, acolhimento, bem-estar, conforto e inclusão (Lashley, 2015Lashley, C. (2015). Hospitalidade e hospitalidade. Revista Hospitalidade, 12(número especial), p. 70-92.; Lynch & Morrison, 2007Lynch, P., & Morrison, A. J. (2007). Hospitality: a social lens. Elsevier.; Gibson & Molz, 2016Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world. Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315595795
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; Tasci & Semrad, 2016Tasci, A., & Semrad, K. (2016). Developing a scale of hospitableness: a table of two worlds. International Journal of Hospitality Management, 53, p. 30-41. https://doi.org/10.1016/j.ijhm.2015.11.006
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) não deixa de ser uma ressignificação do conceito de hospitalidade que está enraizado na cultura desde a Antiguidade, como sugere Raffestin (2013)Raffestin, C. (2013). Réinventer l'hospitalité. Communications, 65, p. 165-177. https://doi.org/10.3406/comm.1997.1997
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. Disso decorrem implicações desses princípios de hospitalidade para o conceito de hospitalidade do espaço edificado, que tem como princípio assegurar a todo cidadão o acesso a equipamentos, serviços, e um ambiente legível e acolhedor. De acordo com Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., hospitalidade pressupõe acolhimento, lei universal que garante, sob certas condições, a inclusão do outro no próprio espaço. A hospitalidade da cidade passa ainda pelo ordenamento geral da paisagem urbana e dos lugares públicos (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., pp. 125-126).

Assim, estudar a cidade é procurar quais elementos e estruturas podem lhe conferir o estado de cidade hospitaleira ou, ao contrário, cidade repulsiva ou até mesmo hostil; isto significa que as categorias sociais, culturais, históricas, econômicas e ambientais estão substanciadas em atributos de acessibilidade e legibilidade (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., p. 131).

Neste sentido, pode-se ter um sistema de caracterização morfológica urbana como um conjunto instrumental de representação dos atributos espaciais relevantes. A caracterização morfológica busca uma síntese de estruturas composta por características essenciais; assim, as técnicas de caracterização morfológica do lugar é uma descrição enquanto variáveis incidentes no seu comportamento, mas também possibilitam a orientação dos indivíduos a identificar essas características através do espaço configurado (Kohlsdorf, 1996Kohlsdorf, M. E. (1996). A apreensão da forma da cidade. Editora da Universidade de Brasília., pp. 74-75).

Trata-se, portanto, da importância da imagem da cidade que carrega identidade e sugere legibilidade. Desta forma, Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes. e Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. argumentam que uma cidade é hospitaleira através de leitura eficaz da mesma; sendo que esses autores nomeiam graus de legibilidade. Para esses autores, trata-se da facilidade pela qual a cidade pode ser visualmente apreendida, reconhecida e organizada de acordo com um esquema coerente.

Baptista (2002)Baptista, I. (2002). Lugares De Hospitalidade. In C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole. atenta para a urgência de dotar espaços urbanos como lugares hospitaleiros, tendo em vista que a hospitalidade surge como um acolhimento ético por excelência, capaz de qualificar o ambiente urbano. Os lugares de hospitalidade são lugares de urbanidade: são lugares abertos a “outros”, pois falar de hospitalidade significa levar em conta as implicações da dupla relação humana com o lugar e com o outro (Baptista, 2002Baptista, I. (2002). Lugares De Hospitalidade. In C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole., p. 16-17).

Como observa Cruz (2002)Cruz, R. de C. A da. (2002). Hospitalidade turística e fenômeno urbano no Brasil: considerações gerais. In C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole., parte da hospitalidade é fruto da organização socioespacial dos lugares, e isso possivelmente se dá em função da dimensão socioespacial subjacente ao ato de acolher ocupantes destes lugares: a hospitalidade do espaço físico da cidade passa pelo ordenamento geral das paisagens urbanas e pela organização dos lugares públicos (Cruz, 2002Cruz, R. de C. A da. (2002). Hospitalidade turística e fenômeno urbano no Brasil: considerações gerais. In C. M. de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole., p. 141).

Segundo Campos (2008)Campos, S. R. (2008). Os cinco sentidos da hospitalidade. Observatório de Inovação do Turismo. Revista Acadêmica, 3(1), p. 1-17. https://doi.org/10.12660/oit.v3n1.5694
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, quando o turista vivencia uma experiência de viagem e está conhecendo algo novo e inusitado, sua percepção se torna mais sensível ao ambiente e absorve dele as imagens do lugar que pode ser apreendido como um lugar hospitaleiro ou hostil. Atualmente, alguns autores inferem sobre a hospitalidade do espaço físico a partir da imagem do destino (Ahn et al., 2013Ahn, T., Ekinci, Y., & Li, G. (2013). Self-congruence, functional congruence and destination choice. Journal of Business Research, 66(6), p. 719-723. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2011.09.009
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; Kamins & Grupta, 1994Kamins, M. A., & Grupta, K. (1994). Congruence between spokesperson and product type: a matchup hypothesis perspective. Psychology & Marketing, 11(6), p. 569-586. https://doi.org/10.1002/mar.4220110605
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).

Nas cidades onde o turismo está consolidado como uma atividade econômica geradora de divisas, emprego e renda, a hospitalidade se faz tão necessária quanto os atrativos e infraestrutura que lhes dão sustentação. Portanto, a imagem do destino se associa à percepção da hospitalidade do espaço, evidenciando assim esta relação que, por sua vez, reforça a satisfação do habitante, visitante ou turista em vivenciar sua experiência turística de maneira aprazível. Nessa perspectiva, o conjunto da paisagem edificada pode criar uma atmosfera agradável aos sentidos, provocar emoções e tornar a experiência turística significativa de forma aprazível.

A partir desta conceituação, o método dessa pesquisa definiu categorias de análise que possibilitam demonstrar os signos de hospitalidade do espaço físico urbano. Disto decorre a seleção de categorias utilizadas para a análise do objeto desta pesquisa, quais sejam: acessibilidade, legibilidade e identidade; e se arrisca conforto ambiental urbano como fator de ampliação da construção epistemológica e contribuição com métodos de análise da hospitalidade urbana de destinos turísticos.

Acessibilidade: conceito que define possibilidades de acesso dos indivíduos, ou de grupos sociais a certas atividades ou serviços que estão presentes na cidade, sem distinção social. Pode ser considerado como a disponibilidade de instalações e infraestruturas ou dos meios físicos que permitem a acessibilidade física tangível, sistema de transporte, infraestrutura viária de acessibilidade ao espaço citadino, os meios de deslocamento. A acessibilidade intangível ou virtual, que pode proporcionar acesso à cultura, à informação e vem a ser a essência da cidadania através da qualidade de vida que proporciona hospitalidade e condições para o desenvolvimento do espaço público.

Legibilidade: diz respeito à qualidade visual de uma cidade, identificada por seus habitantes ou pelos visitantes ou turistas, sendo um referencial no processo de orientação e reconhecimento do espaço físico, através da imagem ambiental, que pode facilitar ou dificultar a orientação e o reconhecimento do espaço físico dependendo da disposição dos elementos: bairros, marcos ou caminhos facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo global (Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes.). Segundo Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., a leitura da cidade se dá pela ótica qualitativa, por meio de códigos que possibilitam identificar uma rua, edifícios ou bairros, através de pontos de vistas e culturas diferentes, gerando uma comunicação dialógica entre determinado edifício e a sensibilidade do cidadão, determinando a escolha do percurso não por ser mais rápido, mas principalmente pelas sensações ou sentimentos que esse percurso pode despertar.

Identidade: no contexto contemporâneo das grandes cidades, as linguagens arquitetônicas e urbanizadoras passaram a ser “internacionais” e modelares, o que, de outra forma, despertam fascinação pelo “diferencial”, e consequentemente um interesse pelo “local”, que articulados vão gerar uma nova identidade para o lugar. A análise de hospitalidade urbana deve considerar que, como símbolo na memória social, a imagem é composta pela utilização do espaço pela apropriação do patrimônio cultural, pelas tipologias arquitetônicas e pela singularidade do ambiente (Grinover, 2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., p. 150).

Conforto ambiental urbano: como mais uma categoria de análise da hospitalidade do espaço edificado, relacionando-o com a acessibilidade e com legibilidade, agregando variáveis tangíveis referentes ao dimensionamento e desenho dos espaços públicos a partir da perspectiva do pedestre; a arborização urbana, parques e jardins, que são parâmetros para criar microclimas e maior conforto ambiental no espaço urbano. Ademais, variáveis intangíveis, ou de difícil mensuração, da percepção ambiental – sensações geradas a partir dos estímulos que o espaço edificado – provoca, através da qualidade do espaço que proporciona hospitalidade, qualidade de vida e condições para o desenvolvimento do espaço público.

Com estas categorias selecionadas, a análise vai procurar evidenciar a relação que se estabelece entre hospitalidade do espaço físico das cidades e descrições provocadas por este espaço: receptividade e acolhimento do habitante, visitante ou turista, satisfação de ordem psicológica, necessidade de trocas culturais. Uma relação que se estabelece entre hospitalidade, bem-estar e qualidade de vida.

3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa e categorias de análise

A abordagem se deu através do método descritivo e empírico de pesquisa que consiste em ver, discriminar e generalizar. Entendeu-se urbanização e arquitetura da cidade como dado não verbal, o que caracterizou a busca da realidade do espaço socialmente construído como gerador de informação; assim, parte-se da leitura do espaço e sua representação (sejam em fotografia, mapeamentos, perspectivas, etc), na tentativa de formular novos pressupostos.

Por se tratar de sistema espacial, é notória sua plurissignificação inerente, originando uma gama de descrições com várias possibilidades relacionais. Deve-se considerar que o método não se iniciou com a formulação de uma teoria que foi aplicada ao objeto, no intuito de deduzir alguma relação teórica; mas, parte-se do objeto físico real ou representado como gerador de novas descrições. Em determinados momentos da pesquisa ocorreu uma simultaneidade entre objeto representado e teoria; deste modo foi que a leitura bibliográfica serviu para estimular a interpretação, entendendo-a como repertório informacional e não como mecanismo justificativo.

Tratou-se também de um estudo de caso, com ênfase na análise de Santo Antônio de Lisboa; disto decorreu a análise da aplicação dos conceitos de hospitalidade urbana, através das categorias de análise que estabelecem o fio condutor para o entendimento e descrição da hospitalidade do espaço edificado do destino turístico selecionado.

A leitura espacial se apoiou no método descritivo dos atributos de hospitalidade, segundo as categorias de análise de acessibilidade, legibilidade e identidade, conforme Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., Raymond (1997)Raymond, H. (1997). Itinèraire mental de l'urbain hospitalier. Cominnications. https://doi.org/10.3406/comm.1997.1998
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, Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes.; além de dados de conforto ambiental urbano: temperatura em locais sombreados e a “sol a pino”, bem como dados de acústica urbana em locais do distrito de Santo Antônio de Lisboa com maior movimentação de transeuntes (Murgel, 2007Murgel, E. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac.; Romero, 2013Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB. https://doi.org/10.7476/9788523013486
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).

O método descritivo de atributos de hospitalidade está amparado pelas teorias de hospitalidade urbana, essencialmente com o trabalho de Lucio Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., que, por sua vez, apoia-se em teorias propostas por Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes. acerca de imagem e paisagem urbanas. Assim, a análise procurou identificar atributos de hospitalidade do espaço físico, através de categorias de análise supramencionadas, que indiciam hospitalidade na cidade.

3.1 Procedimentos metodológicos

O desenvolvimento desta pesquisa se baseou em conteúdos de investigação qualitativa, a qual parte do princípio de que a descoberta científica resulta da associação de doutrinas existentes à observação da realidade, cujo resultado confirma ou refuta pressupostos levantados inicialmente (Creswell, 2007Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Artmed.). A investigação optou por estudo de conteúdos acerca da urbanização da cidade (ou urbanização de parte da cidade) que configura construção de ambiente hospitaleiro, capaz de apresentar coerência da paisagem local, passível de estabelecer padrões, motivos e ordens inerentes à sintaxe da malha urbanizada (Cullen, 1971Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana. Edições 70.; Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes.).

Os fundamentos do método estão em Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes. – “A Imagem da Cidade”; Cullen (1971)Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana. Edições 70. – “Paisagem Urbana”; Yázigi (2001)Yázigi, E. (2001). A Alma do Lugar. Contexto. – “A Alma do Lugar” e Boullón (2000)Boullón, R. C. (2000). Planejamento turístico. EDUSC. – “Planificación del Espacio Turístico”, quando se tratou da análise do espaço turístico urbano; em Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., quanto à hospitalidade urbana e turismo. A avaliação dos dados de acessibilidade, ruído e desempenho térmico urbano foi respaldada por normatização brasileira – NBR (Normas Brasileiras) 9050 e trabalhos de Murgel (2007)Murgel, E. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac. e Romero (2013)Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB. https://doi.org/10.7476/9788523013486
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– para níveis suportáveis ruído e temperatura, e de condições espaciais ergonômicas e ergonométricas que foram lidas e descritas.

Desta forma, essa pesquisa estabeleceu um conjunto de procedimentos ligados aos pressupostos, e consequentemente aos objetivos propostos.

Esses procedimentos estão descritos em etapas de trabalho: montagem de bibliografia através do levantamento de livros, artigos de revistas, jornais, etc, relacionados com o tema da pesquisa, bem como de informação que possibilitou a compreensão do objeto em sua explanação teórica mais abrangente. Leitura de bibliografia e documentação: identificação de assuntos significativos dos textos elencados, separando-os em fichas temáticas a partir de bibliometria com as palavras-chave da pesquisa em português, espanhol e inglês, feita em portais virtuais de acesso livre. Leitura espacial do objeto de estudo: leitura dos lugares e das paisagens urbanas de Santo Antônio de Lisboa, feita a partir de constantes visitas in loco, partindo-se da identificação de lugares com maior concentração de transeuntes para a coleta de dados de acessibilidade e conforto ambiental urbano.

Cabe ressaltar que os levantamentos de campo dos dados de conforto ambiental urbano (ruído e condições térmicas) foram realizados em dois dias típicos de concentração de habitantes, visitantes e turistas em Santo Antônio de Lisboa; justificando-se também o impedimento de outros levantamentos em razão da pandemia COVID-19 com os serviços de restauração fechados. De outro modo, vale destacar que os referidos levantamentos em dias típicos de concentração de transeuntes, após medidas restritivas da pandemia COVID-19, caracterizam dias de ocupação do distrito de Santo Antônio de Lisboa tal como antes da pandemia COVID-19; ou seja, a experiência acumulada dos pesquisadores em visitas constantes ao objeto de pesquisa pode garantir a legitimidade da informação de que os dias levantados se apresentam como uma constante de uso do distrito estudado (Barthes, 1971Barthes, R. (1971). Elementos de Semiologia. Cultrix.).

As medições de temperatura local foram efetuadas com o aplicativo para ambientes externos Thermometer Checker, e a medição dos níveis de ruído urbano foi feita com o aplicativo dB SoundMeter Time4UDe cibelMeter.

Após as leituras, fez-se discussão dos dados coletados, propondo a relação deles com os pressupostos da pesquisa.

A análise dos dados demonstra e caracteriza a aplicação dos conceitos de hospitalidade do espaço, cujos resultados comparados ao material iconográfico e teórico do tema e objeto, puderam evidenciar a qualificação dos pressupostos levantados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos da paisagem urbana contribuíram com o conceito de hospitalidade urbana e com o escopo do espaço turístico ou da análise do destino turístico urbano. Disso decorrem muitos estudos acerca do tema, identificados por meio das publicações de vários estudiosos no assunto, a exemplo de Boullón (2000) e Grinover (2007)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph.. Destacam-se estudos sobre a imagem urbana e paisagem urbana – Lynch (1997)Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes. e Cullen (1971)Cullen, G. (1971). Paisagem Urbana. Edições 70. –, como contribuições para o entendimento das categorias de análise da hospitalidade do espaço edificado, porque existe uma imagem de cidade que cria uma informação legível acerca da cidade e de suas arquiteturas. Essa informação é uma expressão de hospitalidade do espaço físico, na medida em que orienta as pessoas na escolha de itinerários, possibilita a cognição espacial e direcionamento, e gera segurança psicológica. Nesse processo, as possibilidades geradas vão além da escolha de um deslocamento mais rápido, porque envolve a emoção e enriquece a percepção sobre o lugar.

A análise da hospitalidade do espaço edificado do distrito de Santo Antônio de Lisboa também denota um destino turístico da cidade cujo produto principal é a gastronomia, o turismo de “sol e praia” e a oferta de artesanato em cerâmica e porcelana (Fonseca, 2016Fonseca, C. B. (2016). O processo de turistificação e a criação da Via Gastronômica de Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui e Cacupé. [Dissertação de Mestrado não publicada]. Universidade Federal do Paraná.). Tais condições também supõem hospitalidade urbana, sobretudo pelas teorias de Grinover (2007, 2013)Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph. e Yázigi (2001)Yázigi, E. (2001). A Alma do Lugar. Contexto..

A legibilidade é manifestada ao longo do percurso histórico do centrinho da vila, que envolve as duas ruas principais e onde circula o fluxo turístico, ou seja, um binário iniciando na Praça da Igreja em cujo trecho da via estão as galerias de artesanato em porcelana e no sentido oposto, a outra via do binário caracterizada pela Via Gastronômica, ladeada de casarios coloniais, cujas fachadas para a rua permitem o acesso a cada restaurante; pela fachada dos fundos se descortina a vista para o mar, proporcionando uma visão especial da paisagem, carregada de identidade do local, onde se avistam os barcos ancorados dos pescadores e seus artefatos de pesca.

A praça do artesanato é uma rua exclusiva para pedestres, transversal às duas vias do binário carroçável, donde se descortina o mar, e onde é possível acessar a praia e acessar uma calçada livre de imóveis até a praça da igreja, local onde termina esse binário e o centro histórico de Santo Antônio de Lisboa.

A sinalização de trânsito de veículos está presente ao longo de todo destino, entretanto a sinalização de atividades é ausente, não caracterizando uma via gastronômica. A praça da feira de artesanato, as galerias de artesanato de porcelana, o playground e a praça da igreja denotam fácil leitura para os moradores de Florianópolis que frequentam o distrito, onde a identificação desses atrativos é imediata, mas, para o turista, a legibilidade do espaço fica comprometida.

É possível reconhecer a identidade urbana ao longo deste circuito turístico do lugar, manifestada pelo conjunto dos casarios e dos símbolos que identificam a atividade de pesca artesanal, com as embarcações e os artefatos da colônia de pescadores, uma tradição de Santo Antônio de Lisboa, desde o início do povoamento desse distrito em Florianópolis.

Entretanto, a outra categoria de análise da hospitalidade urbana, a acessibilidade não está bem resolvida, seja em relação ao deslocamento de quem caminha, o pedestre, ou de quem utiliza a bicicleta como meio de locomoção e também pelo deslocamento com veículos motorizados. Trata-se de uma via compartilhada, onde os passeios são estreitos, típicos das cidades históricas do período colonial, período em que não havia ainda o transporte motorizado. Assim, com o advento do veículo motorizado, essas cidades foram adaptadas para o deslocamento de veículos, quando as calçadas para o pedestre foram sacrificadas em prol do automóvel.

Atualmente, em razão do fluxo turístico que circula nesse percurso histórico estudado, a análise da acessibilidade, enquanto categoria fundamental da hospitalidade urbana, propõe que o trecho da Vila de Santo Antônio de Lisboa analisado seja exclusivo para pedestres e ciclistas. Para os automóveis, sugerem-se bolsões de estacionamento em uma área próximo à praça, antes de iniciar o percurso histórico principal. Afinal, esse circuito de pedestre possui 1,5 Km.

Esta questão é crucial para os habitantes, visitantes e turistas, como sugere Lynch:

“O ambiente visual torna-se parte integrante da vida dos habitantes e parece haver um prazer simples e automático, um sentimento de satisfação, presença e certeza que decorre da simples contemplação da cidade ou da possibilidade de caminhar por suas ruas.”

(Lynch, 1997Lynch, K. (1997). A Imagem da Cidade. Martins Fontes., p. 101)

Na medida em que a acessibilidade é caracterizada como um dos atributos de bem acolher e bem receber habitantes e visitantes, pode-se inferir que quando a mesma está bem resolvida, a cidade pode adquirir melhor desempenho no quesito hospitalidade do espaço físico urbano e, portanto, para melhor receber cidadãos, turistas e visitantes que devem se restaurar com a oferta de serviços de gastronomia, o que, por outro lado, é uma geradora de emprego e renda para locais.

As imagens da Figura 1 demonstram as limitações da acessibilidade onde na rampa de acesso para calçada há obstáculos, o que é proibido por legislação (NBR 9050), pois eles impedem a locomoção de portadores de deficiência, em especial de cadeirantes, dificultando a manobra de cadeira de rodas e também de deficientes visuais (que podem vir a esbarrar em uma dessas obstruções, principalmente porque o piso não possui sinalização tátil). A inclinação da rampa atende às medidas mínimas adotadas pela NBR 9050 para acessibilidade, mas o patamar de acesso foi feito de modo “improvisado”, não estando esse no mesmo nível da entrada para edificação. A rampa de acesso está desnivelada e não possui a largura mínima adequada para a passagem de um cadeirante. A pavimentação dos passeios é totalmente irregular, com trepidações para cadeiras de roda. É um local que necessita de diversos ajustes para melhorar a acessibilidade.

Os passeios não possuem largura mínima para um cadeirante e nem mesmo para a passagem de duas pessoas simultaneamente, sem sinalização tátil, obstrução da passagem com poste bem ao meio, sendo que o pedestre necessita desviar dele saindo da calçada. Guias do passeio aparentemente dispõem da altura adequada de 15 cm.

Passeios desproporcionais às medidas mínimas, lixeira e poste como obstáculos fazendo com que o pedestre tenha que esquivar-se pela rua, na medida em que sua passagem fica totalmente impedida. A rampa de acesso para automóvel não está locada na faixa de serviço, até mesmo porque essa é inexistente no local e a guia não está rebaixada no nível do leito da pista de rolamento.

O revestimento de piso é o paver (bloco de concreto), não sendo esse o mais adequado para rolamento de cadeiras de roda. Falta de sinalização tátil, possui uma placa bem ao meio sendo essa um obstáculo. O nível das guias dos passeios está acima das medidas ideais de altura. O rebaixo de acesso para o automóvel, apesar da guia estar no mesmo nível da rua, não é permitido pois o passeio está completamente rebaixado. Alguns locais da área possuem diferenciação na cor da pavimentação da rua e da faixa para travessia de pedestres, sendo essa levemente elevada, mas os passeios em ambos os lados não possuem rampa de acesso, desta forma, as guias são totalmente contínuas, não sendo possível a travessia de modo adequado para os deficientes, idosos ou carrinho de bebê.

Desta forma, a acessibilidade é a categoria de análise da hospitalidade urbana mais comprometida (Figura 1).

Figura 1
Situações de acessibilidade em Santo Antônio de Lisboa

Quanto à análise da arborização urbana, como signo de eficiência térmica urbana, apenas se concentra na praça do artesanato (terceira imagem da Figura 3) e a partir daí segue na calçada da orla da praia até a praça da igreja. Ao longo das vias, a arborização urbana é ausente, até porque os passeios são estreitos e não há espaço para arborização. Existem maciços verdes de matas remanescentes no entorno da área de estudo (primeira imagem da Figura 3), os quais podem ser visualizados na imagem de satélite (Figura 2). De modo geral, esses maciços de matas e a paisagem do mar proporcionam uma qualidade ao ambiente edificado, até mesmo porque a densidade do conjunto edificado é baixíssima e o espaço físico está aerado.

Figura 2
Localização dos pontos de medição de temperatura e ruído

O conforto térmico e conforto acústico do espaço público do objeto de estudo podem ser verificados nas figuras 4, 5, 6 e 7.

Figura 3
Visuais a partir das estações A, B e C respectivamente
Figura 4
Medição de ruído estação A
Figura 5
Medição de ruído estação B
Figura 6
Medição de ruído estação C
Figura 7
Medição da temperatura nas estações A, B e C

Para medição de ruído foram encontrados os dados: 67 dB (decibéis) para a estação A; 58,2 dB para estação B e 60,1 dB para estação C. O limite máximo suportável para áreas de trânsito urbano em período diurno é entre 60 dB e 70 dB (Romero, 2013Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB. https://doi.org/10.7476/9788523013486
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); de sorte que as ruas analisadas (com maior trânsito de cidadãos, turistas e visitantes) foram tidas como “silenciosas”.

Para medição de condições térmicas urbanas, o dado constante nas três estações analisadas foi de 20 oC (graus Celsius). A faixa de temperatura ambiental urbana recomenda que o conforto deve estar entre 15 oC e 24 oC (Murgel, 2007Murgel, E. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac.).

Conclui-se que as condições térmicas e acústicas dos locais com maior trânsito pedestrializado em Santo Antônio de Lisboa são satisfatórias. Esta análise está substanciada nos parâmetros estabelecidos para o conforto térmico e acústico segundo Romero (2013)Romero, M. A. B. (2013). Princípios Bioclimáticos Para o Desenho Urbano. Editora da UnB. https://doi.org/10.7476/9788523013486
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, Murgel (2007)Murgel, E. (2007). Fundamentos de acústica ambiental. Senac. e NBR 9050. Portanto, as medições efetuadas por esta pesquisa confirmam a adequação e aceitabilidade dos dados obtidos no espaço público da Vila de Santo Antônio de Lisboa, o que se pode assegurar que a análise identificou mais essa condição de hospitalidade nesse destino turístico objeto da pesquisa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A demonstração dos resultados desta pesquisa confirma a pertinência das categorias de análise, preconizadas por Grinover (2007Grinover, L. (2007). A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. Aleph., 2013)Grinover, L. (2013). Hospitalidade, qualidade de vida, cidadania, urbanidade: novas e velhas categorias para a compreensão da hospitalidade urbana. Revista Ibero-americana de Turismo- RITUR, 3(1), p. 16-24., para a interpretação da hospitalidade urbana. A metodologia adotada pela pesquisa foi de caráter exploratório e descritivo, e se mostrou eficaz na medida em que se prestou como um primeiro momento de inferência acerca dos pressupostos levantados. Com isso, procurou-se enfatizar os conteúdos de hospitalidade do espaço edificado diante da necessidade de mais evidências teóricas construídas por uma epistemologia da hospitalidade urbana.

Nesse sentido, os estudos devem atentar para o papel que o espaço pode conferir para o fenômeno da hospitalidade, em razão dos atributos que o próprio espaço edificado possui como locus de hospitalidade e não somente pelas relações sociais ocorridas nesse espaço.

Os limites dessa pesquisa foram: a escassez da bibliografia sobre a hospitalidade do espaço edificado e de uma bibliografia que revelasse o papel da hospitalidade à escala da cidade associada à paisagem urbana e ao conforto ambiental urbano.

De todo modo, os resultados da investigação confirmam a pertinência das categorias de análise propostas para o entendimento da hospitalidade urbana e propõe outra categoria de análise, o condicionamento ambiental que, com as interfaces de acessibilidade e legibilidade poderão integrar variáveis tangíveis da escala dos espaços públicos na perspectiva do pedestre e as variáveis intangíveis da percepção ambiental, tal como a emoção ocasionada pela paisagem urbana.

Disso decorrem sugestões desta pesquisa, quando se postula a inserção dessa nova categoria de análise – conforto ambiental urbano – para o entendimento da hospitalidade urbana, bem como para instigar e ampliar a discussão, gerar novos questionamentos e incentivar novos estudos no campo da hospitalidade do espaço edificado.

A promoção da identidade, legibilidade e acessibilidade está diretamente associada ao comércio turístico do destino, seja ele público ou privado. Nesse sentido, a pesquisa poderia fornecer uma compreensão dessas condições espaciais aos gestores das cidades turísticas. Porque, no contexto brasileiro, a formulação de políticas públicas para serviços de transporte, mobilidade, acessibilidade e áreas de lazer estão vinculadas aos gestores públicos; da mesma forma em que a iniciativa privada está mais vinculada aos incentivos de lazer, entretenimento, restauração e hotelaria, ou sob a ação de gestores do trade turístico.

  • Como Citar: Oliveira, J. P.; Becegato, L. C.; Tricárico, L. T. (2022). Hospitalidade urbana de destinos turísticos: Um estudo do Distrito de Santo Antônio de Lisboa em Florianópolis (SC, Brasil). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2621, 2022. https://doi.org/10.7784/rbtur.v16.2621
  • 1
    Este artigo reúne resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, realizada com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil), aprovada no Edital Produtividade em Pesquisa 2018 e pesquisa em nível de iniciação científica do programa PIBIC (CNPq).

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Editado por

Editor:

Leandro B. Brusadin.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2022
  • Aceito
    17 Maio 2022
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