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PROJETOS DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR DE ATIVIDADES FÍSICAS E DESPORTIVAS EM ESCOLAS PÚBLICAS DE PORTUGAL

Resumo:

Este estudo teve por objetivo determinar a gênese dos projetos de enriquecimento curricular ligados à atividade física e desportiva de escolas públicas de Portugal e compreender os seus resultados e fatores de sucesso junto à comunidade educativa. Realizou-se uma entrevista com quatro coordenadores responsáveis pelos projetos. Os projetos orientavam-se para três categorias de missão: exercício físico e saúde; desenvolvimento socioafetivo e oferta desportiva através do clube escolar. A diversidade e a especificidade dos projetos ajustados a cada contexto, bem como as competências e o compromisso do professor responsável, foram consideradas elementos determinantes. Os fatores de sucesso e os parâmetros de avaliação dos resultados dos projetos são explicados por indicadores quantitativos de participação dos jovens e não pelos impactos que causam na educação, na aptidão física e desportiva dos jovens. Não foi encontrada uma ligação coerente entre os objetivos dos projetos e os indicadores utilizados na avaliação dos resultados.

Palavras-chave:
Currículo; Escola; Atividade Motora; Projeto; Atividades Esportivas

Abstract:

The purpose of this study was to determine the genesis of curriculum enrichment projects related to physical and sports activity at public schools in Portugal and to understand their results for the educational community. An interview was conducted with four project coordinators. The projects were oriented into three categories: physical exercise and health; socio-affective development; and sports activity offer through the school club. The diversity and specificity of the projects adjusted to each context as well as the competences and commitment of the person in charge of them were considered decisive elements. Success factors and evaluation parameters of project results are explained by quantitative indicators of students’ participation rather than their impact on their education or their physical and sports skills. No connection was found between the purposes of curriculum enrichment projects and the indicators used to evaluate the results.

Keywords:
Curriculum; School; Motor Activity; Project; Sports

Resumen:

Este estudio tuvo por objetivo determinar la génesis de los proyectos de enriquecimiento curricular relacionados con la actividad física y deportiva de las escuelas públicas en Portugal y comprender los resultados y factores de éxito de los mismos junto a la comunidad educativa. Se realizó una entrevista a cuatro coordinadores responsables por los proyectos. Los proyectos orientaban sus actividades hacia tres categorías de misión: ejercicio físico y salud; desarrollo socio afectivo; y oferta deportiva a través del club escolar. La diversidad y especificidad de los proyectos ajustados a cada contexto, así como las competencias y el compromiso del profesor responsable, fueron considerados como elementos determinantes. Los factores de éxito y los parámetros de evaluación de los resultados de los proyectos se explican por indicadores cuantitativos de participación de los jóvenes y no por los impactos que causan en la educación, en la aptitud física y deportiva de los jóvenes. No se encontró una conexión coherente entre los objetivos de los proyectos y los indicadores utilizados en la evaluación de los resultados.

Palabras clave:
Curriculum; Escuela; Actividad motora; Proyecto; Deportes

1 INTRODUÇÃO

A palavra currículo deriva da palavra latina curriculum que significa corrida ou percurso, o mesmo é entendido como o curso oficial de estudos, constituído pelo conjunto de matérias de aprendizagem que incluem as metas e os objetivos. O currículo é um documento de programa que dispõe de princípios, regras e conteúdos e que orientam as atividades de lecionação (JAEHN; FERREIRA, 2012JAEHN, Lisete; FERREIRA, Marcia. Perspetivas para uma história do currículo: as contribuições de Ivor Goodson e Thomas Popkewitz. Currículo sem Fronteiras, v. 12, no. 3, p. 256-272, 2012.; PACHECO, 1999PACHECO, Augusto. Componentes do Processo de Desenvolvimento do Currículo. Minho: Universidade Livraria Minho, 1999.), mas o currículo engloba simultaneamente um propósito, um processo de ensino e um contexto próprio que ultrapassa a sala de aula.

As Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) são definidas por regulamentação própria da responsabilidade da administração pública educativa (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA, 2015bMINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA Portaria n.º 644-A/2015, de 24 de Agosto. Define as regras de organização de atividades de enriquecimento curricular. Diário da República Portuguesa , 2.ª série - N.º 164, p. 8-11, 2015b. Available at: Available at: https://www.dgae.mec.pt/?wpfb_dl=5537 . Accessed on: Sept. 2, 2017.
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) e são entendidas como atividades educativas e formativas que contribuem para o desenvolvimento a nível linguístico, desportivo, artístico, científico, técnico e de comunicação entre o meio escolar e a sociedade. Devem ser educadas para a cidadania e apresentam-se aos alunos e aos pais destes como uma atividade de caráter gratuito e facultativo. Também podem ser entendidas como atividades direcionadas para o desenvolvimento social e interpessoal das crianças, tendo por base a influência que estas detêm nas suas vidas. É através destas iniciativas que os jovens entendem a realidade em que se inserem, por meio das relações sociais que estabelecem e podem-se enquadrar em atividades culturais que incluem o relacionamento com os colegas - as amizades, a expressão de sentimentos, a tolerância intercultural e a cooperação com os pares (BAILEY, 2017BAILEY, Richard. Sport, physical activity and educational achievement - towards an explanatory model. Sport and Society, v. 20, no. 7, p. 768-788, 2017. DOI: 10.1080/17430437.2016.1207756.
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).

O enquadramento das AEC está dependente do projeto educativo e das decisões estratégias da respectiva escola, dentro do quadro da sua autonomia administrativa e pedagógica.

O projeto educativo enquadra-se num leque de normativos internos da escola e poderá ser considerado um instrumento de organização e gestão escolar, em termos de planificação e orientação da ação educativa, definindo estratégias organizacionais com base nas especificidades do contexto onde a escola está inserida, com o objetivo de dar a melhor resposta possível às necessidades educativas dos alunos. Para Azevedo e colaboradores (2011AZEVEDO, Rui; FERNANDES, Eduardo; LOURENÇO, Horácio, BARBOSA, João; SILVA, José; COSTA, Luís; NUNES, Paulo. Projetos educativos: elaboração, monitorização e avaliação - Guião de apoio. 2011. Lisboa, Agência Nacional para a Qualificação, I.P. Available at: Available at: http://www.anespo.pt/sgc/Assets/Plugins/DocsUploader/UPLOADS/6fed9b172eca58c099b732cbecbdb718.pdf . Accessed on: Dec. 23, 2019.
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), representa um espaço de autonomia e de liberdade que confere às escolas a possibilidade de manifestarem a sua identidade e especificidades em consonância com o contexto social onde estão inseridas. Adicionalmente, representa uma oportunidade para valorizar as atividades do programa curricular entendendo a sua prática para além da carga horária letiva e confere a possibilidade de desenvolver competências e habilidades de acordo com as características e os níveis de aprendizagem dos alunos. De acordo com os princípios e as competências consagradas nos diplomas que definem a autonomia escolar (PORTUGAL, 1989PORTUGAL. Decreto-Lei nº 43/89, Diário da República Portuguesa , nº 29/89 - I série, de 3 de fevereiro 1989. Available at: Available at: https://dre.pt/application/conteudo/610688 . Accessed on: Dec. 28, 2019.
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; PORTUGAL, 2008PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 75/2008. Regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário. Diário da República Portuguesa n.º 79/2008, Série I de 22 de abril 2008.; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA 2015a MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA. Despacho normativo n.º 10-A/2015. Concretiza os princípios consagrados no regime de autonomia, administração e gestão escolar. Diário da República Portuguesa, 2.ª série, n.º 118, 2015a.), adaptado à Madeira e Porto Santo através do Decreto Legislativo Regional n.º 4/200/M, as AECs podem ainda incluir na sua oferta complementar conteúdos culturais, educativos, artísticos, desportivos e científicos que caracterizam o contexto comunitário onde a escola se insere.

A implementação e a qualidade dos projetos educativos escolares, variam de escola para escola e estão altamente dependentes da missão da instituição, dos conhecimentos disponíveis por parte dos responsáveis, do compromisso pessoal para com o projeto, bem como da disponibilidade de recursos humanos e materiais (WOODS; MOYNA; QUINLAN; TANNEHILL;WALSH, 2010WOODS, Catherine; MOYNA, Niall; QUINLAN, Aoileann; TANNEHILL Deborah; WALSH, Julia. The Children’s Sport Participation and Physical Activity Study (CSPPA). Dublin: School of Health and Human Performance. University and the Irish Sports Council, 2010.). Os projetos fazem parte da visão estratégica da escola e devem, por um lado, incluir alguns elementos essenciais que caracterizam a instituição e o meio envolvente, e por outro, as orientações estratégicas de resposta às necessidades do meio: visão, missão, objetivos, metas e indicadores (AZEVEDO et. al, 2011AZEVEDO, Rui; FERNANDES, Eduardo; LOURENÇO, Horácio, BARBOSA, João; SILVA, José; COSTA, Luís; NUNES, Paulo. Projetos educativos: elaboração, monitorização e avaliação - Guião de apoio. 2011. Lisboa, Agência Nacional para a Qualificação, I.P. Available at: Available at: http://www.anespo.pt/sgc/Assets/Plugins/DocsUploader/UPLOADS/6fed9b172eca58c099b732cbecbdb718.pdf . Accessed on: Dec. 23, 2019.
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). Dentro dos resultados da investigação científica mais recente encontramos evidências de que a atividade física (AF) e o desporto, desenvolvidos em ambiente escolar, apresentam resultados importantes para o desenvolvimento da saúde e do bem estar para toda a vida (GONZALEZ-CALVO et. al., 2018GONZALEZ-CALVO, Gustavo; BORES-GARCIA, Daniel; HORTIGUELA-ALCALA, David; BARBA-MARTIN, Raul. Adherence to a Physical Exercise Program in School and Extracurricular Activities. Apunts , v. 134, p. 39-54, 2018. DOI: 10.5672/apunts.2014-0983.es.(2018/4).134.03.
https://doi.org/10.5672/apunts.2014-0983...
; MURPHY; ROWE, 2017MURPHY, Michelle; ROWE, David. Impact of physical activity domains on subsequent physical activity in youth: a 5-year longitudinal study. Journal of Sport Sciences, v. 35, no. 3, p. 262-268, 2017. DOI: 10.1080/02640414.2016.1161219.
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) e da educação integral e desportiva dos jovens (COSTA et. al, 2018COSTA, Luciane Arantes da; MESQUITA, Isabel; OLIVEIRA, Amauri Bassoli de; SOUZA, Vânia Matias de. O esporte na Educação Física Escolar: um conteúdo com potencial emancipador. Movimento, v. 24, no. 4, p. 1077-1096, 2018. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.77060.
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; BAILEY, 2017BAILEY, Richard. Sport, physical activity and educational achievement - towards an explanatory model. Sport and Society, v. 20, no. 7, p. 768-788, 2017. DOI: 10.1080/17430437.2016.1207756.
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).

O presente trabalho tem como objetivos determinar a gênese dos projetos de enriquecimento curricular de escolas de ensino público ligados à AF e desportiva e compreender os resultados e fatores de sucesso dos mesmos junto da comunidade educativa. Pretendeu-se, especificamente:

  1. compreender as razões, a missão e os objetivos;

  2. caracterizar as atividades dos projetos dinamizadas pelas escolas;

  3. aferir o método de e os indicadores de avaliação utilizado para a continuidade dos projetos.

2 MÉTODO

O método utilizado consubstancia-se na metodologia de análise qualitativa através da utilização de uma entrevista semiestruturada aplicada aos professores responsáveis pelos projetos de enriquecimento curricular de quatro escolas de ensino público que integram alunos entre os 12 e os 18 anos (básicas e secundárias) num total de sete projetos de atividades ligados à AF e ao desporto. Para além da entrevista, foram analisados documentos que reportam os projetos e os relatórios das atividades desenvolvidas que serviram para complementar e validar as variáveis e indicadores específicos.

A escolha da entrevista semiestruturada deveu-se ao fato de as variáveis serem de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 2010BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação Qualitativa em Educação: Uma Introdução à Teoria e aos Métodos. Porto: Porto Editora, 2010.) que pretendem descrever e compreender o processo de criação, desenvolvimento e de concretização dos resultados de um projeto de AF ou desportiva que complementa e enriquece o currículo do jovem em idade escolar.

O guião de entrevista teve por base os objetivos específicos do trabalho, assim como as variáveis que fazem parte de um projeto de desenvolvimento desportivo, nomeadamente as que se apresentam no quadro 1.

Quadro 1
Estrutura dos objetivos e guião de perguntas da entrevista

Foi criada uma carta de apresentação e uma declaração de consentimento dirigida ao conselho diretivo de 4 escolas públicas dos 3º ciclos e ensino secundário da Madeira, Portugal, na qual foram apresentados os objetivos, a organização do estudo e as condições de anonimato da organização, dos seus responsáveis, bem como a utilização dos dados exclusivos para fins científicos. O trabalho de pesquisa foi feito em conformidade com os princípios éticos adotados pelo Conselho Científico da Faculdade dos autores, pelo fato de o estudo não ter qualquer prejuízo para a integridade e bem-estar dos participantes e das escolas inquiridas e ter respeitado o princípio da participação voluntária.

As escolas foram identificadas por letras, nomeadamente a escola “A” (incluindo 3 projetos - 1, 2 e 3), a escola “B” (projetos 4 e 5), a escola “C” (projeto 6) e a escola “D” (projeto 7), de forma a garantir o anonimato na apresentação e discussão dos resultados obtidos. Os dados da entrevista foram tratados através da análise de conteúdo das respostas às perguntas do guião da entrevista, tendo-se organizado as categorias de acordo com cada projeto e que passamos a apresentar nos pontos seguintes.

3 RESULTADOS

Das quatro entrevistas e dos sete projetos analisados, a organização dos dados permitiu agrupar em três categorias: atividade desportiva ou clube escolar (CE) (projetos A2, B4 e D7), saúde e exercício físico (projetos A1 e B5) e desenvolvimento socioafetivo (projetos A3 e C6).

Quadro 2
Razões da criação e Missão dos projetos

Os resultados revelam que a missão de cada projeto se associa coerentemente às razões da sua existência. Desta forma, os projetos que se inserem na categoria desportiva ou Clube Escolar (A2, B4 e D7) apresentam como missão primordial a promoção e fomentação da prática desportiva federada ou da atividade desportiva ligada à recreação e lazer, junto do seu público-alvo. Sendo que os projetos inerentes à categoria da Saúde (A1 e B5) surgem para “incutir e incrementar a mudança de hábitos comportamentais”, ou seja, educar as crianças e jovens para os aspetos positivos e negativos relacionados com a saúde e AF e a relação entre estas duas.

Quadro 3
Os diferentes objetivos dos projetos

Pela informação recolhida no quadro 3 verifica-se que relativamente aos clubes escolares (A2, B4 e D7) destacam-se os objetivos associados à promoção de experiências desportivas federadas junto dos alunos, visto que estas poderão contribuir fortemente “para a sua formação desportiva [e] melhoria da sua qualidade de vida”, tornando-se simultaneamente num importante fator de socialização. Em particular, o projeto da Escola B4 inclui uma vertente de competição desportiva federada numa perspectiva de valorização do alto rendimento e de representação na competição regional e nacional.

No que se refere aos projetos associados à Saúde (A1 e B5), os resultados encontrados enquadram-se nos propósitos como: a consciencialização para a importância da Educação Física e da continuidade de prática de AF ao longo da vida, motivando as crianças e jovens para o desenvolvimento de condutas comportamentais e estilos de vida saudáveis. Por outro lado, pretendem inverter o declínio dos níveis de AF e aptidão física, de modo a reduzir a taxa de prevalência de excesso de peso e da obesidade, e procuram aumentar a autoestima deste público-alvo.

No que concerne aos projetos ligados ao desenvolvimento socioafetivo (A3 e C6), verificou-se que os principais objetivos apontados foram: ocupar, saudavelmente e de forma supervisionada, os tempos livres dos jovens alunos no contexto escolar, bem como, providenciar conteúdos de formação pessoal e educativa para a vida, seja através da aprendizagem de competências sociais, seja pelo conhecimento adquirido através da prática desportiva.

Quadro 4
Público-alvo dos projetos de enriquecimento curricular

Tendo em conta os dados recolhidos no quadro 4, verificou-se que o principal público-alvo dos projetos que se enquadram nas vertentes da saúde (A1 e B5) e de desenvolvimento socioafetivo (A3 e C6), se resumem unicamente ao universo de alunos, professores e comunidade educativa (desde que enquadrados nos propósitos de cada projeto, como é o exemplo do B5 - reservado à comunidade educativa com excesso de peso ou obesidade). Já no que se refere aos clubes escolares, o grupo alvo é mais abrangente porque abre a possibilidade de participação de indivíduos provenientes de dentro e de fora da escola.

Quadro 5
Atividades dinamizadas nos projetos

Analisando o quadro 5, observa-se que as atividades realizadas nos projetos associados ao desporto, podem ser subdivididas em três categorias, prevalecendo as atividades desportivas do desporto federado, como por exemplo as modalidades de basquetebol e futebol, as atividades de lazer, como por exemplo a natação, ou as atividades de tempos livres nas férias de verão e, finalmente, as atividades ou ações de formação. Por seu lado, nos projetos ligados à saúde, nota-se que em ambos é efetuado uma avaliação inicial da aptidão física para analisar os alunos que estão fora da zona saudável. Esta avaliação é realizada com base na bateria de testes do programa fitmessgram, sendo que a análise dos resultados fará com que os responsáveis dos projetos aconselhem os alunos a participar em atividades de ginásio ou atividades outdoor (como caminhadas e AF, fora da escola).

No que toca aos projetos ligados à componente socioafetiva, destaque para as atividades de caráter mais lúdico, relacionadas com uma atividade específica (A3), que se realizam através de intercâmbios entre clubes dessa mesma modalidade ou de acordo com as preferências e escolhas dos alunos, realizadas no meio escolar e durante os intervalos das aulas (C6).

Quanto ao horário de funcionamento, os projetos da categoria clubes escolares, funcionam conforme a modalidade desportiva, sendo os horários escolhidos consoante a disponibilidades dos alunos, normalmente após o horário letivo ou nos últimos blocos de aulas. No caso dos projetos ligados à saúde, no projeto A1, o horário de funcionamento depende da disponibilidade dos alunos, sendo que no projeto B5 foi definido um horário que tem uma frequência semanal de dois treinos. Nos projetos ligados à componente socioafetiva o projeto A3 funciona preferencialmente na hora de almoço, enquanto que o projeto C6 os alunos podem escolher horários alternativos, durante todos os dias da semana.

Quanto ao financiamento dos projetos, os que se enquadram nas dimensões da saúde e da AF, bem como da categoria socioafetiva, não tem qualquer comparticipação por parte dos jovens alunos, sendo suportados pelos recursos escolares. Já no que se refere aos projetos A2, B4 e D7 (CE) estes incluem um contributo mensal por parte dos praticantes e são apoiados financeiramente pela Direção Regional de Juventude e Desporto (DRJD), para além das parcerias que estabelece e a capacidade que tem para gerar receitas e despesas.

No que se refere à duração dos respetivos projetos verifica-se que os que estão ligados ao desporto federado têm no mínimo 10 anos de existência enquanto os restantes projetos foram criados entre o ano letivo em estudo e os últimos dois anos letivos (quadro 6).

Quadro 6
Duração, método e parâmetros de avaliação

Na maioria dos projetos a avaliação efetuada passa por uma elaboração dos relatórios finais apresentados à Direção das escolas para serem avaliados. O projeto A2 efetua a avaliação apenas a “olhómetro” sem qualquer formalização de resultados e/ou dados atingidos. Os projetos A1 e A3 (direcionados para a saúde e para a componente socioafetiva, respetivamente) não apresentam um método de avaliação e, dessa forma, não respondem a esta questão.

Relativamente aos parâmetros tidos em conta na avaliação, de um modo geral, os responsáveis pelos projetos CE (A2, B4 e D7) referem o número de alunos, os protocolos/parcerias e o número de atividades, como os principais parâmetros a ter em conta na avaliação (Quadro 6).

Ainda em relação aos projetos A3 e C6, os que estão direcionados para a vertente socioafetiva, os responsáveis afirmaram ter em conta essencialmente o número de praticantes e os resultados alcançados junto dos alunos com comportamentos de risco, sendo que outro projeto ainda não é avaliado por ter sido iniciado no ano letivo em análise.

Quadro 7
Indicadores e fatores de sucesso dos projetos

Relativamente aos indicadores de sucesso dos projetos dos CE (A2, B4 e D7), de um modo geral, os responsáveis referem a qualidade dos recursos humanos e o cumprimento dos objetivos como os principais indicadores. No que se refere aos projetos A1 e B5 apresentam a autonomia dos alunos para a prática de AF e a melhoria da aptidão física dos grupos considerados de risco como principais indicadores de sucesso (Quadro 7). Já os projetos A3 e C6, os responsáveis revelam como indicadores de sucesso o aumento do número de participantes e a melhoria de comportamentos desvio dos alunos. Analisando a natureza dos indicadores de avaliação do sucesso dos projetos, verificamos que à exceção do número de praticantes envolvidos, são muito vagos e tênues.

Quanto aos fatores determinantes para o sucesso dos projetos A2, B4 e D7, de um modo geral, os responsáveis referem os recursos humanos, os protocolos estabelecidos e o número de atividades dinamizadas. No que se refere aos projetos A1 e B5 apresentam a motivação dos alunos para a prática de AF e a melhoria da aptidão física dos grupos considerados de risco como os principais fatores de sucesso do projeto.

4 DISCUSSÃO

No decorrer do presente trabalho foi possível efetuar-se um levantamento dos projetos de enriquecimento curricular ou de oferta complementar à Educação Física e ao Desporto Escolar no contexto da autonomia pedagógica e organizacional de cada escola, podendo estes enquadrar-se em três categorias, das quais se destacam: a Saúde, o Desenvolvimento Socioafetivo e os Clubes desportivos escolares. A diversidade e especificidade dos projetos ajustados a cada contexto foram dois aspetos alvitrados. Os projetos variam de escola para escola conforme a autonomia pedagógica e organizacional de cada escola, estão confinados à missão de cada instituição, dependem dos conhecimentos disponíveis por parte dos responsáveis, do compromisso dos professores para com o projeto e da disponibilidade dos recursos.

Realce-se o fato de as diferenças existentes entre os projetos de atividade física e desportiva poderem estar relacionadas com o projeto educativo e autonomia de cada escola. O quadro normativo nacional e regional (Madeira e Porto santo) confere à escola a possibilidade de desenvolver estratégias e ofertas complementares à Educação Física e ao Desporto escolar, próprias, através do estabelecimento de objetivos e metas educativas em função dos recursos disponíveis e das necessidades da comunidade educativa (PORTUGAL, 2008PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 75/2008. Regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário. Diário da República Portuguesa n.º 79/2008, Série I de 22 de abril 2008.; PORTUGAL, 2000 PORTUGAL. Decreto Legislativo Regional n.º 4/2000/M, Diário da República Portuguesa , nº 25/00 - I A série, de 31 de janeiro, 2000. Regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação e de ensino públicos da Região Autónoma da Madeira. Available at: Available at: https://dre.pt/application/conteudo/405961 . Accessed on: Dec. 28, 2019.
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).

As principais razões ligadas à criação dos projetos apontadas pelos responsáveis relacionam-se com a missão e os objetivos estabelecidos para cada projeto. Neste sentido e considerando os clubes escolares, verificou-se que estes defendem propósitos que, nas palavras dos seus mentores, visam “oferecer mais competição desportiva aos alunos, além do desporto escolar”, assim como, “(...) um melhor aproveitamento das instalações” e dos materiais desportivos (A2 e B4). Destes dados resulta a necessária valorização do papel do treino regular e da competição desportiva para os alunos que queiram continuar o seu percurso de formação de praticante no setor federado competitivo. Assim, parece importante estreitar a ligação e continuidade das três atividades: Educação Física - Desporto Escolar - Desporto Federado, e aproveitar o contributo dos professores de Educação Física e do seu conhecimento desportivo em termos de competências de liderança, organização e desenvolvimento do processo de formação desportiva dos jovens. É neste contexto que se procura entender o papel relevante do clube escolar em função da sua autonomia organizacional e administrativa que integra grupos alvos internos e externos, mas interligados através de um processo coerente de desenvolvimento das etapas de formação desportiva dos jovens. Um outro dado que merece ser realçado é o fato de os clubes escolares terem projetos de enriquecimento curricular com uma durabilidade maior e, portanto, com maior probabilidade de sustentar as suas atividades e os resultados pedagógicos, educativos e desportivos. Sabendo que o sucesso dos projetos escolares dependem de medidas organizacionais estáveis e de médio-longo prazo, é importante destacar e relacionar a autonomia dos clubes desportivos escolares com uma maior probabilidade de sustentar as atividades num prazo que ultrapassa claramente o ciclo anual das atividades escolares. Neste sentido, uma vez mais se destaca a necessidade de haver um projeto educativo estratégico (para um ciclo mínimo de 4 anos) onde se integram os objetivos e os resultados dos projetos de enriquecimento curricular na área da Educação Física e do Desporto Escolar.

Numa outra vertente, e embora a razão mais apontada tenha sido o aumento das experiências competitivas entre os alunos, os clubes poderão também sustentar a sua missão com “finalidades lúdicas, formativas, sociais e [de] bem-estar”, tal como confere o representante do projeto D7. Estudos científicos orientados para a organização de experiências desportivas competitivas genuínas e promotoras de maior responsabilidade autonômica dos alunos são encontradas na bibliografia, entre as quais os efeitos do modelo de educação desportiva (SIEDENTOP; HASTIE; MARS, 2011SIEDENTOP, Darly; HASTIE, Peter; MARS, Hans. Complete Guide to Sport Education, 2nd ed.. Washington, DC: Human Kinetics, 2011.; REVERTÉ; MAYOLAS; PLÁ, 2009REVERTÉ, Joaquín; MAYOLAS, María; PLÁ, Luis. La competición deportiva como medio de enseñanza en los centros educativos de primaria. Retos. Nuevas tendencias en Educación Física, Deporte y Recreación, v. 16, p. 5-8, 2009.), e uma relação positiva entre a atitude positiva dos alunos em Educação Física e um aumento dos motivos intrínsecos para a continuação na prática desportiva (GUTIERREZ, 2017GUTIERREZ, Melchor. Effect of attitudes toward Physical Education on motives to sport practice outside school hours. Sportis. Scientific Technical Journal of School Sport, Physical Education and Psychomotricity, v. 3, p. 1123-140, 2017. DOI: 10.17979/sportis.2017.3.1.1747.
https://doi.org/10.17979/sportis.2017.3....
; SIERRA-DIAZ et.al, 2015SIERRA-DIAZ, Manuel; GONZALEZ-VILLORA, Sixto; PASTOR-VICEDO, Juan; LOPEZ-SANCHEZ, Guillermo. Can We Motivate Students to Practice Physical Activities and Sports Through Models-Based Practice? A Systematic Review and Meta-Analysis of Psychosocial Factors Related to Physical Education. Frontiers in Psychology, v. 10, no. 2115, 2015, DOI:10.3389/fpsyg.2019.02115
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.02115...
). Outrossim, o estudo de MELIM e PEREIRA (2013MELIM, Fernando; PEREIRA, Beatriz. Prática desportiva, um meio de prevenção do bullying na escola? Movimento, v. 19, no. 2, p. 55-77, 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.30119
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) mostra que as atividades desportivas extracurriculares estruturadas podem servir como fator protetor de jovens portugueses em relação ao bullying.

Relativamente às iniciativas que se integram na categoria da Saúde (A1 e B5) realçam como propósitos: a educação para a saúde através da providência de mais tempo para a realização da AF e manutenção da aptidão física, incrementando-se simultaneamente hábitos de vida saudáveis. Estes projetos são fundamentais na população portuguesa, tendencialmente sedentária e com níveis de AF considerados insuficientes, e quando se pretende aumentar para 70% a percentagem de adolescentes que pratica AF três ou mais vezes por semana (PROGRAMA NACIONAL PARA A PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA, 2016PROGRAMA NACIONAL PARA A PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA. Direção Geral da Saúde, Lisboa, Portugal, [2016]. Available at: Available at: https://www.dgs.pt/pns-e-programas/programas-de-saude-prioritarios/atividade-fisica.aspx . Accessed on: July 14, 2017.
https://www.dgs.pt/pns-e-programas/progr...
). Experiências e aprendizagens desportivas positivas, genuínas e regulares, que envolvem os fatores intrínsecos da prática da Educação Física e das atividades desportivas de enriquecimento curricular podem implicar resultados positivos na alteração dos hábitos desportivos e saudáveis para toda a vida (REQUENA AZCUE; LEIXA ARRIBAS, 2017REQUENA AZCUE, Ivan; LEIXA ARRIBAS, Teresa. Regular physical activity and sport habits through cooperative learning. A Case Study, Sportis. Scientific Technical Journal of School Sport, Physical Education and Psychomotricity , v. 3, no. 2, p. 404-416, 2017, DOI: 10.17979/sportis.2017.3.2.1848
https://doi.org/10.17979/sportis.2017.3....
) e no desenvolvimento de competências sociais e organizacionais dos jovens alunos (COSTA; MESQUITA, OLIVEIRA, 2018COSTA, Luciane Arantes da; MESQUITA, Isabel; OLIVEIRA, Amauri Bassoli de; SOUZA, Vânia Matias de. O esporte na Educação Física Escolar: um conteúdo com potencial emancipador. Movimento, v. 24, no. 4, p. 1077-1096, 2018. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.77060.
https://doi.org/https://doi.org/10.22456...
).

No que toca à categoria de projetos associados ao Desenvolvimento Socioafetivo dos indivíduos (A3 e C6) verificou-se que os principais propósitos apresentados convergiram para o combate ao insucesso escolar e indisciplina, promovendo em simultâneo a oportunidade de potenciar novas experiências em outras modalidades, como é o exemplo referenciado da Capoeira. Salientando o projeto C6, notou-se uma preocupação em manter os alunos afastados dos comportamentos desviantes, ao lhes proporcionar oportunidades de participação desportiva de acordo com a sua motivação. Assim, e pelo que consta na literatura (WOODS et al., 2010WOODS, Catherine; MOYNA, Niall; QUINLAN, Aoileann; TANNEHILL Deborah; WALSH, Julia. The Children’s Sport Participation and Physical Activity Study (CSPPA). Dublin: School of Health and Human Performance. University and the Irish Sports Council, 2010.; PARK; CHIU; WON, 2017PARK, Sanghyun; CHIU, Weisheng; WON, Doyeon. Effects of physical education, extracurricular sports activities, and leisure satisfaction on adolescent aggressive behavior: A latent growth modeling approach. Plos One, v. 12, no. 4, e0174674, 2017. DOI: 10.1371/journal.pone.0174674.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
), a oferta de AF e desporto variada nos projetos implementados nas escolas é recomendada, uma vez que leva a um maior leque de experiências desportivas e pode incorrer numa melhoria da motivação para a prática de AF por parte dos alunos e na diminuição dos comportamentos de risco. São diversos os estudos que aproximam o seu foco de existência para o desenvolvimento socioafetivo, como por exemplo o programa Sport Hartford Boys (FULLER et al., 2013FULLER, Rhema; PERCY, Vernon; BRUENING, Jennifer; COTRUFO, Raymond. Positive Youth Development: Minority Male Participation in a Sport-Based Afterschool Program in an Urban Environment. Exercise and Sport, v. 84, no. 4, p. 469-482, 2013. DOI: 10.1080/02701367.2013.839025.
https://doi.org/10.1080/02701367.2013.83...
), aplicado a rapazes residentes de bairros sociais problemáticos, que objetivaram potenciar nos indivíduos o crescimento psicossocial saudável, ou através da combinação da AF, do desporto e da nutrição, com uma forte componente social, tentaram contornar comportamentos de risco, aumentando a autoestima e o sentido de responsabilidade social e pessoal (BAILEY, 2017BAILEY, Richard. Sport, physical activity and educational achievement - towards an explanatory model. Sport and Society, v. 20, no. 7, p. 768-788, 2017. DOI: 10.1080/17430437.2016.1207756.
https://doi.org/10.1080/17430437.2016.12...
; BRUENING; DOVER; CLARK, 2009BRUENING, Jennifer; DOVER, Kydani; CLARK, Brianna. Preadolescent Female Development Through Sport and Physical Activity. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 80, no. 1, p. 87-101, 2009. DOI: 10.1080/02701367.2009.10599533#.VlMTGPnhDIU.
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; SANCHEZ-ALCARAZ MARTINEZ; VALERO VALENZUELA; DIAZ SUAREZ, 2016SANCHEZ-ALCARAZ MARTINEZ, Bernardino; VALERO VALENZUELA, Alfonso; DIAZ SUAREZ, Arturo. Personal and Social Responsibility Model through Sport as methodological proposal for adolescents education in values. Espiral-Cuadernos del Profesorado, v. 9, no. 18, p. 16-26, 2016.). Já no que se refere à avaliação dos resultados destes projetos seria expetável encontrarmos indicadores e formas de avaliação das transformações nas competências pessoais e sociais dos jovens. Não foi isso que se verificou. A maioria dos projetos não apresenta métodos nem indicadores objetivos que sirvam para avaliar os impactos dos mesmos junto dos jovens e dos efeitos numa perspectiva de médio-longo prazo. Esta é uma das evidências que deve merecer maior atenção em futuras investigações.

No que respeita ao público-alvo que cada projeto abrange, verificou-se que no caso particular dos clubes escolares, poderá ser uma mais valia alargarem a sua extensão, não só às pessoas integrantes da comunidade escolar como também às de fora, sendo que esta poderá acarretar uma dupla vantagem. Por um lado, beneficia os jovens que pertencem à escola, e por outro, em caso de mudança de ciclo de estudos e de estabelecimento de ensino, por parte dos indivíduos integrantes do clube, há possibilidade de se manterem fidelizados ao clube no qual se formaram e se apresentam em processo de desenvolvimento na sua prática desportiva. Esta é mais uma das características e vantagens dos projetos associados aos clubes escolares.

Nos restantes projetos, restritos à comunidade escolar (Saúde e Desenvolvimento Socioafetivo), considera-se que estes apresentam-se como oportunidades de promoção e fomentação pelo gosto da prática da AF em contexto escolar, para que o grupo-alvo integrante prolongue tais hábitos e estilos de vida saudáveis, fora do ciclo escolar e ao longo de toda a vida.

Quanto às atividades ou modalidades praticadas pelos projetos A1, A3, B5 e C6 estas são de caráter gratuito uma vez que se incluem no contexto escolar de serviço público. Já no que se refere aos projetos ligados aos clubes escolares, onde se encontram os atletas inscritos nas modalidades das respectivas associações e federações, existe um sistema de comparticipação das despesas, não obstante o apoio das subvenções públicas regionais.

Na globalidade dos projetos, um dos critérios de avaliação mais referenciado pelos entrevistados é o cumprimento dos objetivos definidos inicialmente e a coerência dos projetos (se efetivamente são cumpridos os objetivos delineados) como pontos tidos em conta para a avaliação dos mesmos. Assim, um dos parâmetros a ter em conta é o número de participantes, tal como referenciado pelos CE (A2, B4 e D7) que afirmam este parâmetro como prioridade. A partir das vivências físicas e desportivas proporcionadas pelos projetos, surge o número de atividades dinamizadas como um outro critério igualmente relevante.

Um dos parâmetros tidos em conta na avaliação dos projetos socioafetivos representa a diminuição dos comportamentos desvio/risco do público-alvo e também por atingir os objetivos pré-definidos. Relativamente aos projetos direcionados para a Saúde, um deles (A1) também refere que não é avaliado e o outro utiliza essencialmente a avaliação dos grupos considerados de risco e o cumprimento dos objetivos iniciais. Na realidade, no nosso estudo não encontramos as formas e os indicadores de avaliação dos resultados dos projetos, para além do simples número de participantes que envolve. A qualidade dos projetos e os impactos sociais e educativos deveria ser avaliada por meios consistentes e científicos que demonstrem alterações qualitativas nos hábitos e nas competências desportivas, pessoais e sociais dos jovens que aderem a estes projetos.

Tal como referenciado pelos entrevistados, a avaliação contribui para uma melhoria ou continuidade dos projetos, pois, tal como acentua Azevedo et al. (2011AZEVEDO, Rui; FERNANDES, Eduardo; LOURENÇO, Horácio, BARBOSA, João; SILVA, José; COSTA, Luís; NUNES, Paulo. Projetos educativos: elaboração, monitorização e avaliação - Guião de apoio. 2011. Lisboa, Agência Nacional para a Qualificação, I.P. Available at: Available at: http://www.anespo.pt/sgc/Assets/Plugins/DocsUploader/UPLOADS/6fed9b172eca58c099b732cbecbdb718.pdf . Accessed on: Dec. 23, 2019.
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) a avaliação deve ser encarada como um meio condutor de promoção de boas práticas pedagógicas, da melhoria de resultados e de um aperfeiçoamento contínuo do serviço prestado à comunidade escolar (p.71). É perceptível que os resultados/critérios da avaliação que mais contribuem para melhorar os projetos são essencialmente a formação, o número de sócios, o número de atividades e o número de alunos para os clubes escolares. No entanto, analisando os indicadores de avaliação dos resultados dos projetos e os fatores de sucesso, não encontramos valores que sejam precisos, claros e quantificáveis. Assim, se um projeto de enriquecimento curricular apresenta como objetivo o combate ao sucesso escolar ou a prevenção dos comportamentos de risco, nos resultados de avaliação era expetável que houvesse critérios objetivos associados aos propósitos principais das atividades do projeto. Se analisarmos as respostas dadas pelos inquiridos no estudo relativamente aos indicadores de sucesso projetos, apurou-se essencialmente que os critérios mais referenciados são os recursos humanos, incluindo, portanto, o número de participantes e a qualidade dos responsáveis e o cumprimento dos objetivos iniciais. Para além do aumento da quantidade dos praticantes é importante que se avalie os efeitos qualitativos nos comportamentos e na aptidão física dos participantes, bem como a sua satisfação e efeito para a vida (ARRIBAS et. al., 2015ARRIBAS, Teresa; ARÉVALO, Carlos; HERNANDO, Monguillot; SOBRINO, Gabriel; VIEIRA, Braz. Indicadores de calidad para los centros escolares promotores de actividad física y deportiva. Apunts, v. 120, p. 27-35, Apr./Jun. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.5672/apunts.2014-0983.es.(2015/2).120.04.
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; COOKE-DAVIES, 2002COOKE-DAVIES, Terry. The “real” success factors on projects. International Journal of Project Management, v. 20, no. 3, p. 185-190, 2002. DOI: https://doi.org/10.1016/S0263-7863(01)00067-9.
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). A melhoria das capacidades e habilidades dos participantes, os benefícios para o público-alvo e a satisfação e lealdade do cliente (SHENHAR; DVIR, 2007SHENHAR, Aaron; DVIR, Dov. Reinventing project management: The diamond approach to successful growth and innovation. Boston: Harvard Business School, 2007.) são aspectos que deveriam ser tidos em conta nos indicadores de avaliação dos projetos.

5 CONCLUSÕES

A análise dos projetos de enriquecimento curricular ligado à AF e ao desporto permitiram identificar três grandes categorias: atividades desportivas direcionadas para a prática desportiva regular e competitiva para jovens em idades escolares como meio de desenvolvimento do desporto escolar e de introdução de uma estrutura autônoma (clubes escolares); atividades orientadas para o exercício físico, o bem-estar e o desenvolvimento da aptidão física dos jovens; as atividades físicas e desportivas orientadas para a prevenção de comportamentos desvio e melhoria das competências sócia afetivas.

O sucesso dos projetos de enriquecimento curricular parece estar associado à capacidade e às competências dos recursos humanos e dos professores envolvidos na orientação das atividades, mas estes projetos não integram indicadores ligados às qualidades ou competências pedagógicas, ou de organização dos professores, como um meio de avaliação do suceso dos mesmos.

Quanto mais aberto e flexível são os projetos, maior é a possibilidade destes integrarem grupos alvo diferenciados e de proporcionar uma oportunidade de participação e de continuação no setor federado, especialmente após a mudança do aluno de escola ou de ciclo. Esta evidência foi identificada nos projetos que se caracterizam por uma estrutura organizacional de CE. Igualmente, a autonomia pedagógica e organizacional de que goza a escola e os professores de Educação Física, são verdadeiras oportunidades para a criação e desenvolvimento de projetos de oferta complementar ao desporto escolar. Conclui-se ainda que os projetos associados ao clubes escolares -os que envolvem a participação dos jovens alunos no desporto federado -apresentam uma estratégia mais consistente face ao fato de terem uma duração e resultados de vários anos ao invés dos restantes projetos que têm ciclos de vida coincidentes com o ano letivo. Assim, dificilmente se conseguirá resultados de médio-longo prazo se não houver estabilidade dos recursos humanos e medidas estratégicas capazes de gerar impactos nas competências e habilidades dos alunos em ciclos plurianuais.

No estudo não encontramos uma ligação estreita e coerente entre os objetivos e a missão para as quais foram definidos e os resultados de avaliação referidos. Embora os parâmetros e os indicadores de avaliação dos resultados dos projetos estejam definidos (por exemplo, qualidade dos recursos humanos) não parece haver uma ligação clara, coerente e objetiva entre os resultados dos projetos e a missão para o qual foram criados. Efetivamente, a avaliação dos resultados dos projetos foi um assunto muito delicado e para os quais apresentamos algumas considerações. Algumas respostas na entrevista foram evasivas e alguns documentos de relatório não foram explícitos quanto aos impactos que os projetos proporcionam junto dos diversos grupos alvo. Este é um aspeto que deveria merecer uma reflexão por parte de quem tem a responsabilidade legal e institucional de aprovar e avaliar os projetos de enriquecimento curricular tendo por base os indicadores de sucesso educativo e desportivo. Outra reflexão que fica por estudar é saber esclarecer a ligação destes projetos à Educação Física Curricular e ao desporto escolar, por forma a complementar e valorizar o currículo de aprendizagens dos alunos, de forma estruturante e consistente.

Finalmente, não obstante termos alcançado 7 projetos de enriquecimento curricular, correspondendo a 4 escolas, não deixa de ser limitativo o fato de o grupo ser reduzido, e como tal não podemos generalizar ao total das escolas. São necessários mais estudos que procurem aprofundar e avaliar os impactos deste tipo de projetos no desenvolvimento das aptidões dos jovens alunos e em cada uma das etapas da formação desportiva e educativa

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2019
  • Aceito
    12 Fev 2020
  • Publicado
    27 Set 2020
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