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INFLUÊNCIAS DA ARGENTINA NO ADVENTO DO PROFISSIONALISMO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DA REVISTA EL GRÁFICO E DO JORNAL DOS SPORTS (1930-1933)

ARGENTINA’S INFLUENCE ON THE ADVENT OF BRAZILIAN PROFESSIONALISM: AN ANALYSIS OF EL GRÁFICO MAGAZINE AND JORNAL DOS SPORTS (1930-1933)

INFLUENCIAS DE ARGENTINA EN LA INSTAURACIÓN DEL PROFESIONALISMO BRASILEÑO: UN ANÁLISIS DE LA REVISTA EL GRÁFICO Y DEL JORNAL DOS SPORTS (1930-1933)

Resumo

O presente artigo objetivou analisar as influências, no contexto brasileiro, da instauração do regime profissional no futebol argentino, entre os anos de 1930 e 1933. Para isso, foram analisadas reportagens de dois importantes periódicos publicados nos dois países: El Gráfico (Argentina) e Jornal dos Sports (Brasil). Pode-se concluir que as ideias e ações colocadas em prática no país vizinho, que culminou no profissionalismo do futebol em 1931, seriam amplamente divulgadas no Brasil como um exemplo a ser seguido, como uma receita de sucesso para o futebol local. Esse aparato discursivo, recheado de dados quantitativos, pode ser considerado uma face importante da adoção do profissionalismo no Brasil, no ano de 1933.

Palavras-chave:
Futebol; História; Artigo de Jornal; Discurso

Abstract

This article aimed to analyze the influences, in the Brazilian context, of the establishment of the professional regime in Argentine soccer, between 1930 and 1933. In this way, reports from two important periodicals published in both countries were analyzed: El Gráfico (Argentina) and Jornal dos Sports (Brazil). It can be concluded that the ideas and actions put into practice in the neighboring country, which culminated in professional soccer in 1931, would be widely publicized in Brazil as an example to be followed, as a recipe for success for local soccer. This discursive apparatus, filled with quantitative data, can be considered an important face of the adoption of professionalism in Brazil, in the year 1933.

Keywords:
Soccer; History; Newspaper Article; Speech

Resumen

El objetivo de este artículo fue analizar las influencias, en el contexto brasileño, de la instauración del régimen profesional en el fútbol argentino, entre 1930 y 1933. Para ello, se analizaron reportajes de dos importantes periódicos publicados en esos países: El Gráfico (Argentina) y Jornal dos Sports (Brasil). Se puede concluir que las ideas y acciones puestas en práctica en el país vecino, que culminaron en la profesionalización del fútbol en 1931, serían ampliamente divulgadas en Brasil como ejemplo a seguir, como receta de éxito para el fútbol local. Este aparato discursivo, lleno de datos cuantitativos, puede considerarse como un factor importante de la adopción del profesionalismo en Brasil, en el año 1933.

Palabras clave:
Fútbol; Historia; Artículo de Periódico; Discurso

1 INTRODUÇÃO1 1 O artigo é um desdobramento da tese defendida pela primeira autora: O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

No Brasil, a oficialização do regime profissional no futebol aconteceu especialmente nas décadas de 1930 e 1940. O Rio de Janeiro, então capital federal, é considerada a localidade que primeiro experimentou a implantação do profissionalismo em solo nacional, em janeiro de 1933, seguida de São Paulo, no mês de março do mesmo ano (CALDAS, 1990CALDAS, Waldenyr. Pontapé inicial: uma memória do futebol brasileiro (1894-1933). São Paulo: Ibrasa, 1990.; DRUMOND, 2015DRUMOND, Maurício. O “dissídio esportivo” e o processo de profissionalização do futebol no Rio de Janeiro (1933-1937). In: GOMES, Eduardo de Souza; PINHEIRO, Caio Lucas Morais (org.). Olhares para a profissionalização do futebol: análises plurais. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015. p. 73-91.; GUTERMAN, 2009GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.; NEGREIROS, 1998NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. A nação entra em campo: o futebol nos anos 30 e 40. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998.; PEREIRA, 2000PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro,1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.; SALLES, 2004SALLES, José Geraldo do Carmo. Entre a paixão e o interesse: o amadorismo e o profissionalismo no futebol brasileiro. Tese (Doutorado em Educação Física) - Programa de pós-graduação em Educação Física. Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2004.; SANTOS, 2010SANTOS, João Manuel Casquinha Malaia. Revolução Vascaína: a profissionalização do futebol e a inserção socioeconômica de negros e portugueses na cidade do Rio de Janeiro (1915-1934). Tese (Doutorado em História) - Pós-graduação em História Econômica, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010.; YAMANDU; GÓIS JÚNIOR, 2012YAMANDU, Walter; GÓIS JÚNIOR, Edivaldo. Profissionalismo “marrom” no futebol e a imprensa paulista (1920-1930). Recorde, v. 5, n. 2, p. 1-13, jun./dez. 2012.). Outra cidade do sudeste do país, Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, também oficializou o regime em 1933, no mês de maio, (LAGE, 2013LAGE, Marcus Vinícius Costa. Deixem em paz os nossos cracks: análise sociológica da profissionalização do futebol belo-horizontino: a regulamentação e os significados sociais. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Programa de pós-graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte, 2013.,2020; MOURA, 2010MOURA, Rodrigo Caldeira Bagni. O amadorismo, o profissionalismo, os sururus e outras tramas: o futebol em Belo Horizonte nas décadas de 1920 e 1930. Dissertação (Mestrado em Lazer) - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.; SOUTTO MAYOR, 2017SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.,2021) e, segundo Damo (2007DAMO, Arlei Sander. Do dom à profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, Anpocs, 2007.), tal empreitada foi acompanhada posteriormente pelos principais clubes do Rio Grande do Sul, no ano de 1937. O autor ressalta que nos demais estados as datas são imprecisas, “mas não antes de 1933” (DAMO, 2007DAMO, Arlei Sander. Do dom à profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, Anpocs, 2007., p.74).

A existência de uma conjunção global, representada por uma quantidade extensa de países que experimentaram a prática do futebol e que foram impactados por novas formas organizacionais do esporte é um fator de grande relevância para se compreender o que se sucedeu no Brasil. À Inglaterra, país considerado o berço do futebol amador pela bibliografia esportiva especializada, é também destinado o protagonismo na implantação do futebol profissional, no final do século XIX (FRANCO JÚNIOR, 2007; IWANCZUK, 1992IWANCZUK, Jorge. Historia del fútbol amateur en la Argentina. Buenos Aires: Autores Editores, 1992.; REYNA, 2008REYNA, Francisco D. La difusión y apropiación del fútbol en el proceso de modernización en Córdoba (1900-1943): actores, prácticas, representaciones e identidades sociales. Tesis (Doctorado en Historia) - Facultad de Filosofia y Humanidades, Universidad Nacional de Córdoba, 2008.; WAHL, 1997WAHL, Alfred. Historia del Fútbol, del juego al deporte. Barcelona: Ediciones B.S.A, 1997.). Damo (2007DAMO, Arlei Sander. Do dom à profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, Anpocs, 2007., p.74) destaca a influência britânica no que ele denomina de “diáspora esportiva” e sinaliza que esse processo “arrastou consigo os germes do conflito entre amadorismo e profissionalismo”.

De acordo com Claussen (2014CLAUSSEN, Detlev. Béla Guttman. Uma lenda do futebol do século XX. São Paulo: Estação Liberdade, 2014.), a Áustria se tornou o primeiro país da Europa Continental a criar uma liga profissional, na temporada de 1924/1925. Reyna (2008REYNA, Francisco D. La difusión y apropiación del fútbol en el proceso de modernización en Córdoba (1900-1943): actores, prácticas, representaciones e identidades sociales. Tesis (Doctorado en Historia) - Facultad de Filosofia y Humanidades, Universidad Nacional de Córdoba, 2008.) cita o ano de 1926 como marco para o caso espanhol; 1927, para o caso de Tchecoslováquia e Hungria; 1929, para o caso italiano; e 1931, para os casos de Argentina e Uruguai. Alabarces (2018ALABARCES, Pablo Alejandro. Historia mínima del fútbol en América Latina. Ciudad de México: El Colegio de México, 2018.) situa o ano de 1935 para o Paraguai e observa que, no resto do continente americano, o profissionalismo apenas chegou recentemente, a partir de 1950, com a exceção do México, em 1943, e da Colômbia, em 1948.

A crescente popularização do futebol resultante do aumento do interesse do público pelo jogo; o surgimento das identidades clubísticas (DAMO, 2007DAMO, Arlei Sander. Do dom à profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, Anpocs, 2007.); a paulatina e notável presença do futebol nos impressos (especializados ou não); a emergência e consolidação do amadorismo marrom e, com isso, o progressivo abandono dos princípios formativos iniciais do amadorismo pouco condizentes com o incipiente mercado da bola; o reconhecimento crescente de dirigentes e jogadores acerca do potencial lucrativo do futebol; e, por fim, o êxodo de jogadores para o velho continente são fatores usualmente mencionados para justificar a adoção do regime profissional em várias regiões do Brasil (DRUMOND, 2015DRUMOND, Maurício. O “dissídio esportivo” e o processo de profissionalização do futebol no Rio de Janeiro (1933-1937). In: GOMES, Eduardo de Souza; PINHEIRO, Caio Lucas Morais (org.). Olhares para a profissionalização do futebol: análises plurais. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015. p. 73-91.; LAGE, 2013LAGE, Marcus Vinícius Costa. Deixem em paz os nossos cracks: análise sociológica da profissionalização do futebol belo-horizontino: a regulamentação e os significados sociais. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Programa de pós-graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte, 2013.; LIMA, 2015LIMA, Rodrigo Carrapatoso de. Aves de arribação - o processo de ‘importação’ de jogadores na cidade do Recife: conquistando glórias a preço de ouro (1915-1920). In: GOMES, Eduardo de Souza; PINHEIRO, Caio Lucas Morais (org.). Olhares para a profissionalização do futebol: análises plurais. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015. p. 217-231.; MOURA, 2010MOURA, Rodrigo Caldeira Bagni. O amadorismo, o profissionalismo, os sururus e outras tramas: o futebol em Belo Horizonte nas décadas de 1920 e 1930. Dissertação (Mestrado em Lazer) - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.; PEREIRA, 2000PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro,1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.; SOUTTO MAYOR, 2017SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.; SOUZA, CAPRARO, 2015SOUZA, Jhonatan Uewerton; CAPRARO, André Mendes. “Mercadorias postas em leilão”: tensões sociais no prematuro processo de reconhecimento do profissionalismo no futebol paranaense. In: GOMES, Eduardo de Souza; PINHEIRO, Caio Lucas Morais (org.). Olhares para a profissionalização do futebol: análises plurais. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015. p. 235-263.).

Entretanto, pouca atenção tem sido destinada a outras vias de influência, como é o caso da experiência argentina, que antecedeu a brasileira cerca de dois anos. A possibilidade do êxodo de jogadores para o país vizinho em busca das vantagens financeiras do profissionalismo legalizado foi uma das preocupações concretas dos clubes brasileiros. Esse fato é constituinte de um fluxo mundial de transferências de jogadores que, em síntese, pode ser descrito da seguinte forma (para esta situação específica): muitos jogadores argentinos migraram para times europeus (que já haviam se profissionalizado)2 2 Em várias edições da revista El Grafico podem-se constatar os incômodos acerca do êxodo de jogadores argentinos para a Itália. Como exemplo tem-se a reportagem: La revolución de los jugadores porteños de fútbol. El Gráfico, 25 de abr. 1931, n.615, p.16-17. ; para suprir estes desfalques, alguns clubes do país vizinho iniciaram investidas em atletas brasileiros.

Como exemplo dessa movimentação, Alabarces (2018ALABARCES, Pablo Alejandro. Historia mínima del fútbol en América Latina. Ciudad de México: El Colegio de México, 2018.) destaca que, em 1925, Julio Libonatti, jogador argentino do Newell’s Old Boys de Rosário, foi transferido ao Torino italiano, sem ter passado pelo futebol portenho; havia jogado para a seleção argentina, e depois o fez para a italiana; foi, assim, o primeiro latino-americano transferido à Europa, e o primeiro jogador a atuar em duas seleções nacionais. Entre os “italianos” ganhadores da Copa de 1934 estavam os argentinos Luis Monti, Raimundo Orsi, Enrique Guaita, Atilio Demaría e o brasileiro Anphiloquio Guarisi Marques. En 1931, oito jogadores brasileiros jogavam para a Lazio; no torneio italiano de 1939-1940 jogavam 19 argentinos e 11 uruguaios.

Como componente importante desse movimento, destacamos uma abordagem discursiva, propagada de forma corrente sobre as ações empreendidas, sobretudo em Buenos Aires, que veiculava a experiência do regime profissional argentino como vantajosa. As possibilidades de ganhos financeiros, as supostas melhorias estruturais do futebol e a “moralização” do esporte (com a devida separação entre amadores e profissionais) foram pontos recorrentemente abordados.

Diante desse cenário, expomos neste artigo uma análise sobre influências da experiência argentina na adoção do profissionalismo brasileiro, por meio da publicação de reportagens nos periódicos Jornal dos Sports (Brasil) e El Gráfico (Argentina). O Jornal dos Sports, fundado em 1931, foi escolhido por ter se constituído como um dos principais jornais esportivos em circulação no Brasil no período em questão (COUTO, 2017COUTO, André Alexandre Guimarães. O Jornal dos Sports e sua trajetória: uma breve história a partir de seus cronistas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 40., 2017, Curitiba. Anais […]. Curitiba: INTERCOM, 04 a 09 set. 2017. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-2039-1.pdf. Acesso em: 14 mar; 2022.
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). Pelo mesmo motivo, procedeu-se a utilização de El Gráfico, fundada em 1919 e considerada a revista esportiva de maior influência na Argentina (ARCHETTI, 2003ARCHETTI, Eduardo. Masculinidades: fútbol, tango y polo en la Argentina. Buenos Aires: Antropofagia, 2003.), com importante papel no contexto sul-americano (CAMPOMAR, 2014CAMPOMAR, Andreas. Golazo. De los aztecas a la Copa del Mundo: la historia completa del fútbol en América Latina. Buenos Aires: Deldragón, 2014.).

Sobre o impresso brasileiro, vale destacar algumas características que, em certa medida, justificam a sua recorrência ao contexto argentino. Fundado por um importante administrador de jornais, Argemiro Bulcão (COUTO, 2010COUTO, André Alexandre Guimarães. Uma arena de notícias: a fundação do Jornal dos Sports e seus primeiros editoriais. In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH-RIO, 14., 2010. [Anais…]. Rio de Janeiro: Associação Nacional de História, 19 a 23 jul. 2010. Disponível em: http://encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276705454_ARQUIVO_TextoAnpuh2010.pdf.
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), o Jornal dos Sports teve influências de grupos ligados a Arnaldo Guinle (importante dirigente do Fluminense), fato que contribuiu para a manutenção de um posicionamento favorável à profissionalização do esporte, não apenas por considerar esse processo benéfico (GOMES, 2017GOMES, Eduardo de Souza. A chegada do profissionalismo: imprensa e dirigentes de futebol no Rio de Janeiro (1933) e na Colômbia (1948). Esporte e Sociedade, ano 12, n. 29, p. 1-22, mar. 2017.), “[…] mas também por manter assim a difusão do grupo liderado por Guinle, que buscava se recuperar no cenário do futebol carioca após o dissídio se consolidar […]” (GOMES, 2017, p.12). Ainda, segundo Couto (2010COUTO, André Alexandre Guimarães. Uma arena de notícias: a fundação do Jornal dos Sports e seus primeiros editoriais. In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH-RIO, 14., 2010. [Anais…]. Rio de Janeiro: Associação Nacional de História, 19 a 23 jul. 2010. Disponível em: http://encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276705454_ARQUIVO_TextoAnpuh2010.pdf.
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), vale ressaltar que o impresso já nasceu com a ideia de ser amplamente difundido e comercializado, o que, de certa forma, justifica o seu custo acessível (COUTO, 2010). Algo semelhante pode ser inferido em relação a El Gráfico, tendo em vista as considerações de Archetti (2003ARCHETTI, Eduardo. Masculinidades: fútbol, tango y polo en la Argentina. Buenos Aires: Antropofagia, 2003.) e Campomar (2014CAMPOMAR, Andreas. Golazo. De los aztecas a la Copa del Mundo: la historia completa del fútbol en América Latina. Buenos Aires: Deldragón, 2014.) sobre seu alcance no continente.

Foram selecionadas e analisadas reportagens publicadas entre os anos de 1930 e 1933. O marco inicial corresponde apenas à situação argentina e antecede em alguns meses a adoção do regime profissional nesse país, possibilitando, com isso, uma compreensão mais ampliada dos debates em torno da questão. Já o marco final considera o momento de adoção do profissionalismo no Brasil. As fontes do Jornal dos Sports foram consultadas em formato digitalizado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (Brasil); já as fontes da revista El Gráfico foram consultadas em formato impresso na Biblioteca Nacional da Argentina, em Buenos Aires.

2 A REVOLUÇÃO DOS JOGADORES E A PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NA ARGENTINA

O processo de implantação do profissionalismo na Argentina difere das cidades brasileiras no que tange aos propulsores do movimento. No caso brasileiro, os dirigentes dos clubes podem ser considerados os maiores protagonistas da regulamentação do novo regime, enquanto no país vizinho tal empreitada teve especial participação dos jogadores.

Um fato relevante consistiu na reivindicação do passe livre, situação que gerava conflitos entre atletas e dirigentes ainda no período amadorista. Os jogadores defendiam o direito de se transferirem dos clubes sem multas e encargos, enquanto os dirigentes e a Asociación Amateur Argentina de Football (A.A.A.F) promulgavam normativas que forçavam a vinculação do atleta ao clube. Frydenberg (2011FRYDENBERG, Julio. Historia social del fútbol: del amateurismo a la profesionalización. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2011.) destaca mudanças sofridas na regulamentação do passe dos jogadores no ano de 1929, com a incorporação de penas severas àqueles que mudassem de clube sem o consentimento da entidade para a qual jogavam. Como resultado dos embates entre dirigentes, A.A.A.F. e jogadores, estes últimos decretaram uma greve no começo do ano de 1931, recusando-se a participar das partidas oficiais até que conseguissem o direito ao passe livre.

Com a greve, os principais clubes viram-se obrigados a escalar jogadores reservas ou de outras categorias, amargando grande prejuízo nas rendas dos jogos, já que muitos dos torcedores deixaram de acompanhar as partidas nos estádios em razão da ausência dos jogadores afamados. A ideia da greve já era anunciada por El Gráfico meses antes da oficialização do profissionalismo, o que demonstra um contexto de grande agitação nos momentos predecessores ao advento do regime. Em realidade, os jogadores não principiaram a greve no intento de obterem a profissionalização no futebol, mas pode-se considerar que as ações empreendidas por eles acabaram impactando a posterior oficialização do regime (FRYDENBERG, 2011FRYDENBERG, Julio. Historia social del fútbol: del amateurismo a la profesionalización. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2011.). Em outras palavras, “o que reclamavam não era o profissionalismo, mas a liberdade de passe: não pediam por salários - ilegais - que já recebiam, mas pelo fim da escravidão que os atava a seu clube até que este decidisse liberar sua ficha” (ALABARCES, 2018ALABARCES, Pablo Alejandro. Historia mínima del fútbol en América Latina. Ciudad de México: El Colegio de México, 2018., p.174).

A greve dos jogadores argentinos foi citada inúmeras vezes em El Gráfico como “uma revolução”. Em um dos textos produzidos pelo colunista Chantecler3 3 Alfredo Rossi “Chantecler” era um importante cronista argentino, descrito pela revista El Gráfico como um paladino da crítica esportiva, um “educador essencialmente técnico na percepção do futebol pelas massas”. Disponível em: https://www.elgrafico.com.ar/articulo/1099/31197/1938-el-trampolin-invisible-por-chantecler. Acesso em: 25 ago. 2021. acerca dos conflitos entre dirigentes e jogadores, indagava-se: “Triunfarão os jogadores? Terá o assunto dos passes livres uma derivação para a rápida implantação do profissionalismo?” (CHANTECLER, 1931a, p.16-17). Para o cronista, apoiador entusiástico do novo regime, o futebol amador “nobre, cavalheiresco” e desinteressado” era já uma utopia, “nada mais do que um sonho irrealizável”, pois “o movimento das bilheterias e a mercantilização do jogo” havia absorvido “todos os lirismos […]” (CHANTECLER, 1931b, p.16-17).

O momento predecessor ao advento do regime profissional na Argentina foi marcado por inúmeras edições do impresso que denunciavam circunstâncias de violências nos estádios4 4 Em uma das reportagens, um dos jogos foi narrado como recheado de uma série de fatos delituosos, de escândalos comuns nos campos, de “baixos desdobramentos das paixões”. Nesse episódio um torcedor deu um tiro em outros torcedores e em um agente de polícia (El Gráfico. De sábado a sábado, 04 de dez.1930, n.586, p. 18, tradução dos autores). , subornos a juízes, descaso aos clubes considerados pequenos, desmandos e parcialidades nas decisões da A.A.A.F., e desrespeito aos atletas em se tratando dos contratos abusivos a que estavam aprisionados. Outro fato que causava incômodo era justamente o amadorismo marrom (pagamento ilegal a jogadores), já amplamente conhecido nos círculos esportivos argentinos e que a A.A.A.F parecia ignorar na opinião dos textos publicados. Nesse caso, clamava-se por uma definição do que seria àquele momento o futebol amador:

É imprescindivelmente necessário que a Confederação determine o que ela entende por amadorismo […]. E dizemos que convém que tal autoridade fale porque dirigentes e esportistas não sabem já quando e porque se perde a condição de verdadeiro amador, nem sabem quando e como se adquire a de profissional (DE SÁBADO…, 1930a, p.18).

Sobre esse assunto, o colunista Chantecler era taxativo ao propor a separação rígida entre o amadorismo puro e o profissionalismo franco, pois, para ele, a situação presente se convertia para o sacrifício da ordem e da disciplina. Em sua opinião, os jogadores que permanecessem amadores deveriam ter a mais absoluta liberdade de jogar pelo clube que desejassem, já os profissionais teriam contratos livremente estabelecidos.

[…] Daí minha campanha em favor do profissionalismo que, além do mais, nos trará aparelhado a disciplina e o melhoramento dos espetáculos e a clareza dos balanços falsos dos clubes de futebol. Com isto ele propicia também o realce do amadorismo, porque havendo esporte profissional se farão as separações correspondentes e ingressarão então na prática do futebol muitos universitários e gente de posição abastada que se havia afastado do jogo por não aparecer na situação suspeitosa (CHANTECLER, 1931c, p.16).

Nas palavras do colunista, observa-se uma preocupação que seria frequente não apenas nas publicações argentinas, mas nas reportagens veiculadas pelo impresso brasileiro Jornal dos Sports. No momento em que se percebia um avanço do falso amadorismo, o esporte perdia parte do status distintivo que formava o aparato cultural das classes mais abastadas. Em uma das publicações de El Gráfico, afirmava-se que o “futebol já não era mais futebol, era uma rinha de galos”. De acordo com o texto, o esporte não existia mais nos campos argentinos, o amadorismo havia passado para a história e tudo estava “morto”. E questionava: O que fazemos com o cadáver” (IMPRESIONES de Gilberto, 1930a, p.39)?

Outro dia presenciei três partidas nas quais não houve árbitros bombeiros, nem jogo brusco, nem atropelos, nem trombadas, nem torcedores parciais, nem nenhuma dessas cenas pitorescas que vemos nos campos um domingo sim e outro também. Foi no sábado. Por somente este dado compreenderão que as partidas que presenciei não foram do viril, do popular, do cavalheiresco esporte futebol, quintessência do amadorismo quimicamente puro, mas com soda. As partidas que vi eram de uma arena onde se jogam com uma bola pequena que se mandam daqui para lá e de lá para cá. Creio que se chama tênis (IMPRESIONES de Gilberto, 1930b, p.49).

Com a vulgarização do futebol, outros esportes fortaleceriam seu papel de distintivo, a exemplo dos esportes especializados. No caso argentino, o tênis seria um exemplo emblemático, o símbolo da aristocracia que procurava manter o exclusivismo de suas práticas. Situação semelhante aconteceria em solo brasileiro, em meio aos conflitos entre a permanência do amadorismo (ainda que mercantilizado) e a adoção do profissionalismo às claras.

A data de 11 de maio de 1931 é demarcada pela revista El Gráfico como momento em que a liga de profissionais é criada na Argentina, após uma reunião entre dirigentes de clubes de Buenos Aires. Uma das reportagens destacava o contexto em questão: “por uma parte, os jogadores em greve; por outra, reuniões secretas de representantes de clubes poderosos […]. Na essência do conflito posto existe mais que uma luta entre dirigentes, mas uma questão econômica” (CHANTECLER, 1931b, p. 16-17). O texto destacava um cenário turbulento, marcado por disputas de interesses e de poder e pela escolha dos clubes que participariam da divisão profissional. O subtítulo da reportagem anunciava um processo ainda complicado: “A criação da Liga Argentina de Futebol significa um ensaio do profissionalismo que desejaríamos ver triunfar para o bem do esporte, ainda que não se deve escapar que sua vida não será fácil […]” (CHANTECLER, 1931b, p.16-17). Com a adoção do regime profissional, El Gráfico publicara em uma de suas capas uma imagem bastante representativa da mudança que se operava (FIGURA 1).

Figura 1
Capa da revista El Gráfico anunciando a adoção do profissionalismo na Argentina.

3 O PROFISSIONALISMO ARGENTINO NO JORNAL DOS SPORTS: “ESSE FACTO TERÁ GRANDE REPERCUSSÃO NO FOOTBALL SUL-AMERICANO, É INQUESTIONÁVEL”

O Jornal dos Sports mantinha em seu editorial frequentes reportagens sobre o processo de oficialização do profissionalismo na Argentina. Em uma delas a discussão se centrava na regulamentação do regime como forma de combater o “amadorismo disfarçado”, assim como defendia Chantecler em El Gráfico. O texto foi embasado no relato de Miguel dos Reis, descrito pelo jornal como “figura de invulgar e merecido prestígio nos sports e no jornalismo sul-americano”5 5 O texto assim apresenta Miguel A. dos Reis: “Durante muitos annos foi figura de destaque na Associação Argentina, cuja presidencia ocupou, foi representante do Brasil na Confederação Sul-Americana de Football, director da secção sportiva de grandes jornaes argentinos, como ‘La Nación’, ‘Ultima hora’ e ‘’El Diario’, director da succursal da Agencia Americana, em Buenos Aires, etc. .

Reis mencionava a existência do profissionalismo “já há varios annos”, faltando, no entanto, sua “implantação regular”. Assinalava que todos na A.A.A.F sabiam da remuneração dos jogadores e que não se podia negar que “as próprias associações diretivas não podiam resistir a certas distribuições de dinheiro e varios modos de estímulo que constituíam a negação do amadorismo” (REIS, 1931aREIS, Miguel A. Football profissional na Argentina. Jornal dos Sports, n.27, p. 2, 14 abr. 1931a., p.2)

Em outra reportagem do mesmo jornal, Reis abordou com mais detalhes sua opinião. Para ele, os conflitos existentes entre a A.A.A.F e os jogadores devido à solicitação da reimplantação do passe livre ofereceriam uma ótima oportunidade para se solucionar o problema do profissionalismo. O termo “reimplantação” foi utilizado pelo jornalista no intuito de se fazer referência aos primeiros momentos do amadorismo naquele país. Quando da existência do regime considerado “puro”, os jogadores poderiam escolher livremente o seu pertencimento a um clube ou outro, respeitando-se apenas os prazos necessários para se estabelecer a transferência. Naquele momento, como os jogadores se reuniam nas agremiações por vínculos afetivos e territoriais, não era prática comum a troca de camisa, situação que denotaria deslealdade. Com a crescente mercantilização do jogo e a ressignificação dos princípios originários do amadorismo - que teve como uma de suas consequências o aumento do trânsito de jogadores entre clubes em busca de melhores compensações - as regras para transferências se tornaram mais rígidas.

Não é somente uma suspeita da opinião publica nem uma descoberta do jornalismo. Os dirigentes o declaram à viva voz. Por sua parte, os jogadores não negam o que vêm recebendo nem tampouco o que pretendem […]. Não existe um só delegado que possa demonstrar que, na actualidade, o regimen de vida implantado para a organização e manutenção das ‘equipes’ do circulo superior, se mantem dentro das exigencias para o ‘verdadeiro amadorismo’ (REIS, 1931bREIS, Miguel A. O ‘passe livre’ de footballers argentinos precipita a questão do profissionalismo. Jornal dos Sports, n. 46, p. 2, 7 maio 1931b., p.2).

Em outra ocasião, Reis anunciava que a “marcha para a implantação do profissionalismo no football portenho já estava marcando rumos definitivos” (REIS, 1931cREIS, Miguel. A dos. O Profissionalismo em Buenos Aires é o amadorismo? Jornal dos Sports, n. 61, p. 3, 24 abr. 1931c., p.3). Esse fato era um problema na medida em que se percebia o amadorismo sendo relegado a um segundo plano. O jornalista indagara: “E o sport”? Para ele a principal função do esporte residia em sua prática amadora. Não pensar no amadorismo era “ser contra o sport”. Como sugestão, o cronista advogava que o regime profissional deveria ser utilizado para proteger e manter o amadorismo, salvando, assim, o próprio esporte e “reintegrando-o em suas naturais proporções” (REIS, 1931c, p.3). Estas estavam relacionadas aos aspectos educativos da prática esportiva, hermeticamente distanciados dos interesses mercadológicos que envolviam a profissão.

[…] Porque si os clubs que se comprometteram a implantar o profissionalismo na Associação não derem uma solução ao amadorismo, occorrerá que seguiremos tendo o ‘profissionalismo mascarado’, além do profissionalismo verdadeiro. […] é bom recordar que a implantação do profissionalismo impõe resolver a manutenção do amadorismo dentro de suas verdadeiras características e dentro de uma direção única (REIS, 1931cREIS, Miguel. A dos. O Profissionalismo em Buenos Aires é o amadorismo? Jornal dos Sports, n. 61, p. 3, 24 abr. 1931c., p.3).

A questão central para Reis, assim como em El Gráfico, era a separação entre o que se entendia como verdadeiro amadorismo e o profissionalismo, o que implicaria a regulamentação do regime profissional e no consequente abandono de sua versão mascarada. Nesse caso, o retorno ao passe livre preconizado pelos jogadores deveria estar atrelado à garantia de que o esporte amador pudesse regressar “aos seus anteriores methodos e exigencias”. Caso contrário, seriam favorecidos o “engano e o abuso […], estimulando a degenerescencia das regulamentações e prostituindo a vida intima do football, com todos os seus males derivados” (REIS, 1931cREIS, Miguel. A dos. O Profissionalismo em Buenos Aires é o amadorismo? Jornal dos Sports, n. 61, p. 3, 24 abr. 1931c., p.3). Embora o jornalista reconhecesse as dificuldades de tal empreitada, em razão do “caminho emprehendido ha alguns annos no qual marcharam em franco consorcio instituições e jogadores”, sugeria:

[…] Para dar o ‘passe livre’ seria necessário garantir aos clubs que entre elles nenhum applicaria as praticas do profissionalismo para tirarem reciprocamente os jogadores mais aptos, seguindo assim a marcha de offerecimentos que estimula essas trocas de footballers. Haveria que chegar a obter tal depuração das práticas em uso para que não só possuíssemos então verdadeiros jogadores amadores e sim também instituições zelosas dos respectivos princípios […] (REIS, 1931bREIS, Miguel A. O ‘passe livre’ de footballers argentinos precipita a questão do profissionalismo. Jornal dos Sports, n. 46, p. 2, 7 maio 1931b., p.2).

Assim, a adoção do regime profissional na Argentina foi permeada por diversas especulações reproduzidas no Jornal dos Sports, que se desdobrou, por um lado, em noticiar indagações acerca da real concretização da mudança e seus possíveis percalços e, por outro (a maior parte), em propagandear positivamente a nova experiência.

[…] o grupo de delegados de clubs de football que iniciou os trabalhos para a implantação do profissionalismo com a selecção de determinadas instituições, de accordo com sua capacidade sportiva e economica, voltou a se reunir, segundo se lê nos jornais portenhos. Nessa reunião ficaram resolvidos alguns pontos principaes da questão, devendo dentro de em pouco, serem publicadas as bases para a implantação do profissionalismo, que estão dispostos a praticar, sem a tutella de nenhuma empresa commercial existente ou a crear-se […].(REIS, 1931bREIS, Miguel A. O ‘passe livre’ de footballers argentinos precipita a questão do profissionalismo. Jornal dos Sports, n. 46, p. 2, 7 maio 1931b., p.2).

Poucos dias após a publicação desta reportagem, o Jornal dos Sports noticiava a fundação da Associação Argentina de Football Profissional (FOI FUNDADA…, 1931, p.2). Dias depois da adoção do regime na Argentina, o impresso anunciava a definição das categorias para os profissionais e os honorários para os juízes. Parte dos apelos dos cronistas Miguel Reis e Chantecler sobre a divisão entre jogadores amadores e profissionais foi observada neste primeiro intento regulamentador.

[…] a Liga Argentina de Football […] esclareceu a situação que preoccupava os directores dos clubs filiados, com relação à cathegoria correspondente aos jogadores. O comitê provisório resolveu estabelecer duas secções: uma profissional e outra amadora. Os profissionais estão comprehendidos entre os jogadores das 1ª e 2ª divisões. A segunda viria substituir o intermedio de reserva que possuem os clubs filiados à Associação Amateurs e, na cathegoria de amadores figurarão os jogadores de 3ª, 4ª e 5ª divisões e veteranos. Foram, tambem, resolvidos outros pontos, entre elles, da fixação dos honorarios dos juízes que actuarem em partidas do campeonato, que serão de 40 pesos para os matches da 1ª divisão, 20 pesos para os que actuarem em jogos da 2ª divisão e 10 para os das outras categorias […] (O PROFISSIONALISMO NO FUTEBOL…, 1931b, p.2).

O Jornal dos Sports continuaria retratando o cenário argentino por muitas edições, o que demonstrava a importância das ações realizadas naquele contexto para as discussões já empreendidas acerca da profissionalização do futebol brasileiro. A oficialização do profissionalismo e a consequente separação entre amadores e profissionais eram mencionadas como exemplos a serem perseguidos pelos outros países sul-americanos, no intuito de evitar a “situação insustentável de amadorismo mascarado, de profissionalismo clandestino” (A QUESTÃO…,1931, p.2). Mencionava-se o contexto brasileiro e uruguaio como promotores do “escandaloso regime”, formados por defensores que “mais se esforçavam para o seu prestígio do que o do gremio” (A QUESTÃO…, 1931, p.2).

Definiu-se decisivamente o football argentino, scindindo-se. Em um lado, ficaram os falsos amadores, ora declarados profissionaes, de outro lado estão os que fazem questão de manter seu título de amadores. As duas classes estão perfeitamente limitadas, separadas rigorosamente. Esse facto terá grande repercussão no football sul-americano, é inquestionável. Os melhores footballers argentinos, todas as suas grandes figuras, optaram pelo profissionalismo. Encarando a situação sob outro aspecto, não é de presumir que ella venha influir decisivamente para alterar esse regimen escandaloso existente entre nós e principalmente no Uruguay, onde são às dezenas os jogadores tidos como amadores, principescamente pagos pelos clubs? Não virá a servir-nos o exemplo, definindo-se aqui de modo positivo, os verdadeiros amadores e os profissionaes declarados? Antes de considerarmos a implantação do profissionalismo como um facto merecedor de censuras, devemos tel-o como um elemento de moralização, visto como se acabarão os profissionaes clandestinos (A QUESTÃO…, 1931, p.2).

De modo geral, os textos publicados no Jornal dos Sports utilizavam a experiência argentina como um exemplo de sucesso. A veiculação frequente dos benefícios do profissionalismo em solo argentino, comumente expressa por estatísticas de rentabilidade das partidas, pode ser considerada parte importante dos mecanismos discursivos de convencimento do leitor acerca da necessidade de se realizar a mesma experiência no Brasil. Os exemplos são enfáticos no que tange às benesses do regime profissional, mencionado como uma fonte diversificada de receitas.

Os clubs que constituem a novel Liga Argentina de football, que adheriram ao profissionalismo, estão satisfeitos com o resultado da implantação do profissionalismo, pois a concorrencia dos matches de domingo foi considerável, obtendo elles, grandes receitas […] (OS IMPLANTADORES…, 1931, p.4).

A renda dos jogos passou a ser questão central, prerrogativa de sucesso ou fracasso. Com os holofotes midiáticos e os investimentos financeiros direcionados ao profissionalismo, que foi aderido pelos principais clubes argentinos e pelos jogadores de maior renome, as disputas amadoras sofreram com a perda de público e de renda. Uma reportagem do Jornal dos Sports assim se manifestou em um dos subtítulos de uma manchete: “As rendas dos jogos entre amadores são ridículas” (O PROFISSIONALISMO PEGOU…, 1931, p.4).

O profissionalismo está victorioso na Argentina. O publico quase não frequenta os campos onde se realizam jogos entre amadores. Para que os nossos leitores possam aquilatar da desproporção de rendas nos jogos de amadores e profissionaes, basta dizer que em nove encontros de profissionaes verificou-se uma renda de $48:896.50 pesos, ou seja: 205:000$000. Em 19 encontros de amadores, a renda foi de $3:319.20 pesos, ou seja, em nossa moeda, 13.939$800. Como se verifica, a desproporção de rendas é fantástica (O PROFISSIONALISMO PEGOU…, 1931a, p.4).

Outro texto evidenciou a relação entre os regimes, assegurando que a implantação do profissionalismo havia criado uma “situação interessante” (O FOOTBALL…, 1931, p.6). Com a fundação da “Liga de Profissionaes”, afirmou-se que “todos os clubs grandes de Buenos Aires a ella se filiaram, abandonando a Associação Amateurs, que ficou visivelmente enfraquecida”. A problemática criada em torno do público frequente aos estádios e da arrecadação foi novamente posta em cena: “Sem bons campos, sem os grandes clubs que possuem as figuras populares, a Associação Amateurs já não está contando com o apoio do publico”. A reportagem concluiu que os jogos da liga amadora estavam despertando pouco interesse, “ao passo que as partidas da Liga de Profissionaes têm atthraido enormes assistencias” (O FOOTBALL…, 1931, p.6).

Dentre os clubes que se profissionalizaram em Buenos Aires podem ser destacados o Boca Juniors, o River Plate, o San Lorenzo, o Vélez Sarsfield, o Racing e o Independiente. Pouco menos de dois meses após a implantação do regime, realizada em maio de 1931, o Jornal dos Sports anunciava a fundação da Liga Rosarina de Football Profissional que, como o próprio nome descrevia, referia-se à regulamentação do regime na província de Rosário. Referindo-se ao fato como a “irradiação do profissionalismo na Argentina”, o periódico destacava as equipes participantes: “Rosario Central, Newell Old Boys, Tiro Federal, Central Cordoba, Belgrano, Nacional, Provincial, Gymnasia y Esgrima, União e Colón” (A IRRADIAÇÃO…, 1931, p.4).

Outras reportagens dariam destaque às rendas dos jogos de profissionais no país vizinho, como no seguinte exemplo: “Para julgar-se o admirável prestigio do profissionalismo em Buenos Aires, basta dizer-se que os jogos da Liga Profissional, no primeiro turno, produziram nada menos de 712.466,63 pesos, ou seja, cerca de 2.730 contos da nossa moeda” (O PRESTIGIO…, 1931, p.2). O texto ainda exaltava que a “criação do profissionalismo veio dar maior impulso ao denominado jogo bretão […]. Contrastando com o que se verifica entre nós, o prestigio do football está aumentando extraordinariamente na Argentina” (O PRESTIGIO…, 1931, p.2). Observa-se, novamente, a comparação com o Brasil, com destaque ao progresso alcançado pela Argentina ao aderir ao regime profissional.

Em outra reportagem com conteúdo semelhante, a existência de uma estratégia de convencimento é mais explícita, presente na própria manchete: “Argumento em favor do profissionalismo no football: uma estatística eloquente” (ARGUMENTO EM FAVOR…, 1931, p.2).

Para os pessimistas, relativamente às vantagens do profissionalismo, recommendamos este pratinho: A Associação Amateurs de Buenos Aires arrecadou, no decurso da presente temporada, até agora, a quantia de 9.000 pesos, resultado bruto de ingressos nos seus campos de football. A Liga de Profissionaes, entretanto, no mesmo lapso de tempo, conseguiu realizar uma receita que passa de 1.000.000, leram bem? Um milhão de pesos. Menos, portanto, de um por cento! É ou não eloquente? (ARGUMENTO EM FAVOR…, 1931, p.2).

No ano de 1932, as referências ao futebol portenho continuavam fortes. Uma das reportagens do Jornal dos Sports exaltou os valores das transferências de jogadores, relacionando com o aumento da qualidade dos times: “Lá, estão pagando por transferências de jogadores verdadeiras fortunas. […] Os teams argentinos passarão a ser verdadeiras constelações, tantas e taes são as estrelas de 1ª grandeza que os compõem” (A COTAÇÃO…, 1932, p. 1). Além das transferências, destacava-se o salário dos jogadores: “verdadeiros subsídios de chefe de Estado, [que] fazem do football uma profissão rendosíssima” (A COTAÇÃO…, 1932, p.1).

Outro texto do impresso brasileiro mencionava a realização de uma reunião entre dirigentes esportivos para a criação de uma Federação Brasileira de Profissionais do Futebol, com consulta à FIFA e sem vínculo com a amadora CBD. Após tentativas de camuflar o encontro, a reportagem relata que um dirigente de um “velho clube da Liga” havia procurado um jornalista para que ele, “valendo-se dos conhecimentos que tem no Prata, fosse o intermediário nas negociações para uma ‘tournée’ a Buenos Aires com a Liga Argentina de Profissionaes. Queria este club as primícias de tal empreitada” (USANDO MÁSCARAS…, 1932, p.4). Sem mencionar o nome do clube, o texto se encerrava alegando ser essa uma “prova concludente de que na Liga já se tratava do profissionalismo” (USANDO MÁSCARAS…, 1932, p.4).

A utilização de dados quantitativos continuava sendo uma importante estratégia discursiva do jornal. Em outra reportagem, destacava-se o aumento das receitas do futebol profissional argentino: “Como se sabe, em 1931, o total das receitas foi de $82.662,20. Pois bem, de janeiro a março, as rendas subiram a $152.613,00 pesos!” (O INTERESSE…, 1932, p.4). Em outro texto, publicado no mês seguinte, destacava o quantitativo de assistentes e a arrecadação dos jogos.

É extraordinário o enthusiasmo existente na Argentina pelo football, sobretudo pelas partidas entre clubs de profissionais, justamente os que possuem os melhores jogadores do paiz. Em um jornal de Buenos Aires lemos uma estatística sobre o que é o football em Buenos Aires, que aqui vamos reproduzir: Em seis datas do Campeonato da liga de Profissionaes, foram apurados de rendas, um total de 299.528.20 pesos, isto é, 1.200 contos na nossa moeda. Nessas seis datas compareceram aos campos 800.000 espectadores e foram marcados 203 goals. Temos, por data, uma média de 49.921.36 pesos, 34 goals e 188.333 assistentes. O número de 188.333 assistentes a jogos de football só de uma liga é coisa que não vemos por aqui (O GRANDE…, 1932, p.4).

Em outra edição, o impresso desacreditava os argumentos dos que supunham ou aparentavam supor que o profissionalismo não produziria aumento de rendas. Finalizava com a assertiva: “Dispomos de dados positivos. Não são palavras. São factos categóricos” (O PROFISSIONALISMO EM BUENOS AIRES…, 1932, p.2).

Já no segundo semestre de 1932, o Jornal dos Sports anunciou os “elementos para a organização do profissionalismo” (ELEMENTOS…, 1932, p.1), o que demonstra que a ideia vinha sendo amadurecida. Duas medidas sinalizadas pelos dirigentes chamam a atenção: o estudo de vários estatutos estrangeiros, com menção ao da Argentina, do Uruguai, da França e da Inglaterra; e a ida de um quadro argentino ao Rio de Janeiro para disputar com um quadro carioca: “Será uma partida de sensação, que há de despertar extraordinário interesse” (ELEMENTOS…, 1932, p.1).

O conjunto de reportagens aqui destacado demonstra a via de influência representada pela experiência argentina, especialmente a bonaerense. Produto de um emaranhado de situações envolvendo diversos interesses, que sinalizavam para o nascente mercado que galgava significativa importância, representado sobretudo pelas rendas dos jogos e pelos valores de transferências de jogadores, as reportagens sobre o profissionalismo argentino, publicadas por um dos principais jornais esportivos brasileiros, formaram um aparato discursivo que contribuiu para o desfecho do futebol nacional. Em janeiro de 1933, o profissionalismo é oficializado no Rio de Janeiro, com a criação da Liga Carioca de Football. A então capital nacional foi a primeira localidade brasileira que se tem registro da regulamentação.

Os atrativos da diversão de outrora tornada profissão relegou o amadorismo, tão defendido nas reportagens como a face pura do esporte, à decadência, o que sinaliza as distâncias entre os discursos em prol de seu fortalecimento com a adoção do profissionalismo e a realidade vivenciada pelas equipes amadoras. Esse fato aconteceu nos dois países, evidenciando a força do mercado esportivo que emergia, firmado exatamente pelas características que manchavam moralmente o amadorismo: o foco na competição e no resultado, o aguçamento das rivalidades e o lucro.

4 CONCLUSÃO

O artigo teve como objetivo analisar as influências, no contexto futebolístico brasileiro, da veiculação de reportagens sobre a profissionalização do futebol na Argentina, por meio dos impressos Jornal dos Sports (Brasil) e El Gráfico (Argentina).

Após análise do corpus documental, pode-se concluir que houve uma expressiva reverberação de reportagens sobre o futebol argentino no Jornal dos Sports, nos anos de 1931 e 1932. Um forte aparato discursivo envolvendo as vantagens da adoção do regime profissional no país vizinho foi mobilizado no intuito de convencer o leitor brasileiro de que a ação seria vantajosa para o futebol nacional.

A primeira cidade brasileira de que se tem notícias sobre a regulamentação é o Rio de Janeiro, no princípio de 1933. Essa ação é comumente atribuída pela literatura acadêmica à popularização do esporte e ao êxodo de jogadores, mas pouca atenção tem sido dada a outras vias de influência, como é o caso da veiculação midiática da experiência argentina. Nesse sentido é que o presente trabalho pretende contribuir com os estudos históricos do futebol, especialmente em relação ao processo de profissionalização.

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  • YAMANDU, Walter; GÓIS JÚNIOR, Edivaldo. Profissionalismo “marrom” no futebol e a imprensa paulista (1920-1930). Recorde, v. 5, n. 2, p. 1-13, jun./dez. 2012.
  • 1
    O artigo é um desdobramento da tese defendida pela primeira autora: O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
  • 2
    Em várias edições da revista El Grafico podem-se constatar os incômodos acerca do êxodo de jogadores argentinos para a Itália. Como exemplo tem-se a reportagem: La revolución de los jugadores porteños de fútbol. El Gráfico, 25 de abr. 1931, n.615, p.16-17.
  • 3
    Alfredo Rossi “Chantecler” era um importante cronista argentino, descrito pela revista El Gráfico como um paladino da crítica esportiva, um “educador essencialmente técnico na percepção do futebol pelas massas”. Disponível em: https://www.elgrafico.com.ar/articulo/1099/31197/1938-el-trampolin-invisible-por-chantecler. Acesso em: 25 ago. 2021.
  • 4
    Em uma das reportagens, um dos jogos foi narrado como recheado de uma série de fatos delituosos, de escândalos comuns nos campos, de “baixos desdobramentos das paixões”. Nesse episódio um torcedor deu um tiro em outros torcedores e em um agente de polícia (El Gráfico. De sábado a sábado, 04 de dez.1930, n.586, p. 18, tradução dos autores).
  • 5
    O texto assim apresenta Miguel A. dos Reis: “Durante muitos annos foi figura de destaque na Associação Argentina, cuja presidencia ocupou, foi representante do Brasil na Confederação Sul-Americana de Football, director da secção sportiva de grandes jornaes argentinos, como ‘La Nación’, ‘Ultima hora’ e ‘’El Diario’, director da succursal da Agencia Americana, em Buenos Aires, etc.
  • FINANCIAMENTO

    Esse trabalho é fruto de pesquisa de doutorado realizada com o financiamento do PDSE/Capes, número de processo: 99999.010626/2014-00.

Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Ivone Job*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Set 2021
  • Aceito
    24 Fev 2022
  • Publicado
    01 Abr 2022
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