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O dispositivo de oficinas de corpo e a questão da recalcitrância

The device of body workshops and the question of recalcitrance

Resumo

Em nosso texto apresentaremos as oficinas de sensibilização realizadas no Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Federal Fluminense (SPA-UFF), no segundo semestre de 2014 e primeiro semestre de 2015. Nosso trabalho visa construir um dispositivo em que corpos e subjetividades são efetuados pelos afetos gerados e geridos no mesmo. A recalcitrância atravessa a produção deste texto e das oficinas, pois, ao trazer à cena a construção das mesmas, nos vimos envolvidos tanto numa preocupação em construir as oficinas a partir de nosso campo teórico-metodológico, quanto em um comprometimento de compor, com os participantes, estas oficinas. Nossa pergunta era: como gerar uma disponibilidade afetiva sem cair na docilidade? Optamos então por apresentar a questão seguindo tais passos: teórico, metodológico, de elaboração das oficinas e de execução das mesmas. Nossa aposta em considerar os afetos nos fez perceber a possibilidade de criar dispositivos em que haja disponibilidade sem docilidade, pois consideramos também o que é trazido pelos participantes.

Palavras-chave:
recalcitrância; corpo; subjetividade; dispositivo

Abstract

In our text we will present the workshops about sensitiveness that performed in the Service of Applied Psychology of the Fluminense Federal University (SPA-UFF), in the second semester of 2014 and first semester of 2015. Our work intents to build a device in which body and subjectivity are effectuated by affection generated and managed in that device. The recalcitrance guides the production of this text and its workshops, because by bringing to the scene their construction, we see ourselves concerned about building the workshops based on our theoretical-methodological field, as well as making a commitment to composing these workshops with the participants. Our question is: how to generate a affective availability without becoming docile? Therefore, we chose to present the question following these steps: theoretical, methodological, elaboration of the workshops and their execution. Our bet in considering the affections made us realize the possibility of creating devices in which there is availability without docility, because we also considered what is brought by the participants.

Keywords:
recalcitrance; body; subjectivity; device

Uma chegada possível: pegando o fio da meada

Assim como a expressão “fio da meada” nos remete ao trabalho de encontrar o ponto inicial da fabricação de um tecido, nosso trabalho de escrita também se apresenta no desafio de construir um caminho coerente em meio a tantas experiências vivenciadas em nossa pesquisa. Optamos então em apresentá-la a partir de um problema que nos saltou aos olhos: a diferença entre disponibilidade e docilidade. Para cumprir tal tarefa apresentaremos as oficinas de sensibilização realizadas no SPA-UFF, no segundo semestre de 2014 e primeiro semestre de 2015, que são o foco de nossa pesquisa de campo. A proposta destas oficinas, abertas ao público, é trazer para estes espaços de construção de dispositivos a própria proposta de PesquisarCom (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.), na qual sujeitos, corpos e afetos são construídos em conjunto. Nossa intervenção propicia a articulação entre os pressupostos teóricos e metodológicos da psicologia e nossa inserção nas oficinas de sensibilização, capacitando-nos a construir uma relação entre corpo e subjetividade que nos faça compreender a nossa “herança psicológica”. Vinciane Despret (1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.) é quem nos ajuda a pensar a herança como um problema e não como algo a ser recebido passivamente. Por outro lado, intervimos no campo para que, junto com os participantes advindos da Universidade e fora dela, possamos elaborar uma nova maneira de se pensar a construção dos sujeitos levando em consideração também a produção de um corpo que se afeta. Neste sentido, traçamos nossa intervenção considerando que o corpo é produzido de maneira múltipla (MOL, 2002MOL, A. The body multiple: ontology in medical practice. Duham: Duke University Press, 2002.) em que instâncias, ditas “não mentais”, também participam da construção deste sujeito.

As oficinas de sensibilização nos proporcionam o acompanhamento dos participantes envolvidos numa construção do corpo, que nos faz pensar nossa própria inserção profissional sob uma perspectiva completamente nova. Por outro lado, o campo escolhido nos permite a construção de dispositivos de experimentação corporal que abarcam não apenas aqueles que possam procurar o Serviço de Psicologia Aplicada, mas o público em geral. Nosso trabalho, portanto, ajuda a produzir novas reflexões e novas maneiras de ser ao possibilitar aos participantes a construção de si que abarque também a construção dos seus corpos.

Neste trabalho, apresentaremos alguns pressupostos teóricos que balizam nossa pesquisa e ajudam a localizar o campo teórico no qual estamos imersos, trazendo os principais conceitos em jogo em nosso trabalho. Em seguida, será apresentada nossa proposta metodológica e também os enfrentamentos a que tal metodologia nos convocou na prática. Mais adiante, discutiremos os desafios encontrados no próprio manejo das oficinas, portanto, neste momento, serão discutidas as questões relacionadas aos pesquisadores, em como estes puderam também experimentar novas formas de relacionar corpos e subjetividades no dispositivo das oficinas e como, desta maneira, um corpo de pesquisador também pôde ser construído a partir não apenas das oficinas, mas também no dispositivo das supervisões de equipe. Vale lembrar que, na parte sobre o tornar-se pesquisador serão apresentadas quatro oficinas em que, duas ocorreram no segundo semestre de 2014 e duas no primeiro semestre de 2015. Na parte sobre a recalcitrância, falaremos apenas de uma oficina que ocorreu no primeiro semestre de 2015.

Dando continuidade ao trabalho, falaremos sobre uma questão importante que surgiu no dispositivo das oficinas, no momento em que elas ocorriam. Estamos falando de recalcitrância e da tensão que se apresentou em nosso campo de pesquisa entre docilidade e disponibilidade. Tal questão surge antes do estabelecimento do campo de pesquisa e baliza este texto, pois, a recalcitrância é um conceito fundamental para pensarmos o dispositivo das oficinas. Na construção do dispositivo tínhamos como pressuposto o fato de que os participantes são parte integrante não apenas por participarem das oficinas, mas também por trazerem seus corpos, seus afetos e sua disponibilidade. A questão que nos fez pensar foi justamente o desafio de coordenar e atuar no dispositivo buscando não transformar esta disponibilidade em docilidade.

Segundo Latour (1997LATOUR, B. Des sujets recalcitrants. La Recherce, Paris, v. 301, p. 88-90, 1997.), é Isabelle Stengers quem melhor desenvolveu este conceito de recalcitrância. Em Cosmopolitiques VII, Stengers (1997) nos apresenta o que ela denomina de “maldição da tolerância”, que para nós, modernos, nos marca. Seríamos civilizados justamente porque toleramos as outras culturas. Veja bem, não nos confundimos com elas - que ainda estão repletas de crenças, que ainda não desencantaram o mundo - somos modernos justamente porque carregamos o fardo do desencantamento. “Nós”, modernos, sabemos, conhecemos e desvendamos um mundo de relações causais, livre de preconceitos. Para Stengers (1997), este fardo não passa de certo orgulho em carregar este desencanto, de ser aquele que efetivamente conseguiu descobrir a natureza, sem preconceitos. Sua “maldição da tolerância” implica então em uma maneira de fazer nas ciências humanas aquilo que já se faz nas ciências exatas: construir dispositivos que sejam, ao mesmo tempo, interessantes - que se façam interessar por aqueles a que ele interroga - e passíveis de serem questionados - e até mesmo rejeitados pelos investigados. Como exemplo, podemos trazer o fato de que os objetos não necessariamente respondem ao dispositivo ao qual são convocados. Como nos diz Stengers, os laboratórios de ciências exatas explodem, os de ciências humanas não. Daí a questão da recalcitrância e o desafio de construir dispositivos que possam cumprir às exigências postas acima: de ser interessante e ao mesmo tempo, passíveis de ser questionados. Este é o problema central que permeará nosso texto e guiará nossa escrita.

Por último, avaliamos nosso percurso e buscamos pensar os caminhos e possibilidades de se construir corpos e subjetividades tendo como ponto central a construção dos afetos. Além disso, mantemos nossa aposta num dispositivo que convida os participantes a estar junto, e, ao mesmo tempo, lhes dá a possibilidade de desviar, de usar o dispositivo de uma maneira interessante.

O território que ocupamos: os conceitos que compõem nossa jornada

Mesmo que a Psicologia, em suas reflexões sobre a subjetividade, tenha privilegiado a constituição desta levando em conta as relações do sujeito com o mundo, de alguma maneira, tal relação sempre se apresenta numa contraposição, como se sujeito e mundo fossem ontologicamente distintos. Tal herança (cartesiana) também constitui nossos corpos como algo que deve ser estudado apenas em seu funcionamento biológico, como se este se encontrasse na ordem da natureza, distinta da ordem do pensamento - ou mesmo dos afetos. Tais afetos, que já nascem híbridos, por ocorrerem nas regiões fronteiriças entre corpo e subjetividade, são postos como problemáticos, como algo “sofrido” pelo sujeito, como passividade (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.). Porém, o que nos interessa em nossa pesquisa é justamente este caráter híbrido dos afetos, sua necessidade de ser produzido no corpo, mas que, ao mesmo tempo não se reduz a um corpo biologicizado. Os afetos encontram seu espaço de potência quando produzem subjetividade, quando agem e fazem agir a partir dos encontros entre corpos, como efeitos de superfície (DELEUZE, 2000DELEUZE, G. Lógica do sentido. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.). Subjetividade, portanto, é algo que se fabrica também a partir das relações que estabelecemos com as coisas, objetos e animais, pois esta fabricação não se encontra restrita à nossa interioridade e nem se esgota nela. Neste sentido, estamos misturados às coisas e as coisas estão misturadas a nós (SERRES, 2001SERRES, M. Os cinco sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil , 2001.).

Em nossa pesquisa, trata-se de pensar então um corpo afetado, efetuado por suas relações com o mundo (LATOUR, 2007LATOUR, B. Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a ciência. In: NUNES, J.; ROQUE, R. (Org.). Objectos impuros: experiências em estudos sobre a ciência. Porto: Afrontamento, 2007. p. 40-61.), ponto nevrálgico de negociações entre interioridade e exterioridade. O corpo também é construído, ao mesmo tempo em que construímos nossa subjetividade (MONTEIRO, 2009MONTEIRO, A. C. L. As tramas da realidade: considerações sobre o corpo em Michel Serres. 2009. Tese (Doutorado) − Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/11811 >. Acesso em: 13 out. 2016.
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). E este corpo não possui meramente um lugar de “sede” dos processos mentais, mas se apresenta como o principal negociador daquilo que será compreendido como pertencendo ao corpo (“eu” interno) e daquilo que será posto do lado de fora (“mundo” externo) (LATOUR, 2007), o corpo é então ativo e age pelos encontros e afetos que lhe chegam e lhe constituem.

A importância de construir outra relação entre subjetividade e corpo foi o que impulsionou primeiramente nossos estudos teóricos acerca do tema, uma vez que o corpo também deveria ser pensado como negociação e como processo. Michel Serres foi um grande aliado na constituição deste território de pensamento principalmente porque, ao contrário da tradição moderna, também não distingue, nem mesmo em sua escrita, os campos tão bem separados na modernidade, que são: as ciências, a filosofia, a religião e a arte. Em seus textos, mistura, num mesmo parágrafo, por exemplo, o Banquete de Platão e a Santa Ceia cristã (SERRES, 2001SERRES, M. Os cinco sentidos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil , 2001.). Deste modo, Serres também nos traz uma visão do corpo que não passa pela separação deste de uma “imaterialidade” representada pelo Cogito cartesiano. Ao contrário, para Serres, a atividade do corpo está intimamente relacionada a uma atividade do pensamento, à consciência, ou ao que podemos denominar de subjetividade (SERRES, 2004). Aliás, para ele, nomear as coisas é construí-las, assim, no momento em que nomeamos nossa interioridade de subjetividade, também estamos construindo este personagem conceitual (SERRES, 1997). Mais interessante ainda é que a proposta de Serres (2004) nos mostra que, quanto mais adquirimos habilidades corporais, quanto mais encontros realizados com o mundo, mais nos tornamos aptos a pensar. Portanto, o pensamento não se encontra em contraposição ao corpo, nem mesmo à produção de subjetividade, o que ocorre é uma mútua construção do corpo e do mundo, ao mesmo tempo em que nomeamos o que acontece “dentro de nós”, como parte do sujeito e o que acontece “fora de nós” como parte do mundo. Neste jogo, o corpo encontra-se como peça fundamental a partir da qual as negociações ocorrem. Tendo como ponto de partida as reflexões deste autor, podemos afirmar que o que ocorre inicialmente são misturas, conexões, deslocamentos que, ao adquirirem estabilidade, produzem as diferenciações que conhecemos como campos distintos.

Por outro lado, mesmo que as questões trazidas por Michel Serres abram um caminho para se repensar as relações entre subjetividade e corpo, estas não são suficientes para produzir um estranhamento que nos coloque em posição de atuar a partir destas questões. Para isso, as pesquisas realizadas por Vinciane Despret nos mostram que é necessário um posicionamento que ofereça a possibilidade de transformação no mundo ao qual estamos habituados a viver. Em outras palavras, a pesquisa torna-se uma maneira de intervir no mundo a partir de uma prática que não reproduza as formas habituais de compreensão tanto da subjetividade quanto do corpo. Despret utiliza-se de algumas ferramentas que, ora são puramente epistemológicas, tais como os estudos acerca da produção dos sujeitos nos laboratórios de psicologia experimental e a reflexão sobre os estudos realizados por aqueles que ela denomina de etnopsicólogos (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.); ora buscam intervir no próprio funcionamento das coisas, que podemos denominar de abordagens práticas, como a entrevista aos criadores de gado bovino e suíno (DESPRET, 2007). Desta forma, a autora nos mostra que tanto numa reflexão epistemológica quanto na prática, nas intervenções, o que ocorre são sempre modos de fazer proliferar versões do mundo (DESPRET, 1999). Ela nos coloca a questão de que a nossa produção é sempre um posicionamento, é sempre falar de um determinado lugar. Isso implica em pensar que, mesmo quando estamos falando em relação à subjetividade, não devemos nos privar desta localização (HARAWAY, 1995HARAWAY, D. Saberes Localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, v. 5, p. 07-41, 1995.), ou seja, ao compreendermos a subjetividade como algo que faz parte de um sujeito, estamos, ao mesmo tempo, fazendo com que esta versão da subjetividade ganhe legitimidade e seja reforçada.

Segundo Despret (1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.), ao mesmo tempo em que nos compreendemos como um produto desta subjetividade interiorizada, nós a fazemos proliferar a partir de nossas práticas. Na medida em que somos capazes de compreender que estas formas não estão dadas - como acontece quando nos deparamos com outras culturas - podemos construir outras relações subjetivas. Como exemplo, é possível pensar o luto não apenas como uma questão a ser resolvida internamente, mas como uma maneira de re-suscitar os mortos como possibilidade de construção de relações não interiorizadas. Em outras palavras, podemos “dar lugar aos mortos” nas relações ao invés de enterrá-los em nossa subjetividade (DESPRET, 2011DESPRET, V. Acabando com o luto, pensando com os mortos. Fractal: Revista de Psicologia , Niterói, v. 23, n. 1, p. 73-92, jan./abr. 2011d. d). Em seus textos a autora nos apresenta uma prática em psicologia que não abre mão de considerar um número maior possível de atores. Estes estudos têm como ponto de partida não apenas a fabricação da subjetividade, mas também a importância de compreendê-la como algo que é compartilhado numa determinada cultura e num determinado tempo. É exatamente por isso que cabe a nós multiplicar as versões possíveis deste mundo ao invés de apenas acatar uma única versão. Sua proposta ontológica nos indica que quanto mais somos capazes de agregar atores, de distribuir as relações, mais somos capazes de articular possíveis subjetividades.

A partir desses estudos, o passo seguinte é construir um campo de pesquisa que tenha essa proposta teórica como balizador. Em 2014, buscamos a construção de um campo de pesquisa que nos possibilitasse atuar através de oficinas de sensibilização, a construção deste corpo que se afeta. Esta proposta buscou respeitar duas questões importantes que norteiam nosso trabalho: primeiro, com a implementação das oficinas, fomos capazes de PesquisarCom, uma vez que todas as ações que foram feitas nestas oficinas foram negociadas com os participantes, estes tiveram total capacidade de agir e intervir em nossas práticas. Em segundo lugar, nossa proposta visou deslocar o olhar que comumente se tem do psicólogo como aquele que “conserta as pessoas” para a construção de uma prática que buscou potencializar as relações e a vida dos sujeitos. Assim, ao invés de buscar a normatização, pensamos numa forma de atuação que apostasse nas potências do próprio sujeito.

Portanto, pudemos pensar a construção de um corpo que se afeta e é afetado pelo mundo. Podemos construir um corpo que se afeta como movimentos corporais, com objetos, com montagens de cenas, com o toque, com palavras. Para isso, precisamos o tempo todo negociar com os participantes, entrar em contato com suas formas de existir e de agir, construir uma narrativa conjunta com estas pessoas. Trabalhar os afetos, os corpos, as subjetividades, enfim, a construção do sujeito, deve ser uma aposta que traga em seu bojo a participação ativa daqueles que se engajam conosco em nossas oficinas e que se disponibilizam a construir novos mundos conosco.

Dito por outras palavras, apostamos que ter um corpo não significa estar limitado às fronteiras corporais, mas que o corpo se apresenta como esta região fronteiriça, na qual somos capazes de negociar nossas relações com o mundo e, ao mesmo tempo, construir nossa interioridade, que pode ser tão maior quanto mais efetivamos sua existência. Assim, a proposta de nossas oficinas também consiste em repensar essa construção de subjetividade tendo como ponto de partida a construção de um corpo que não se apresenta como base ou sustentáculo material para a emergência de um sujeito que se diferencia do mundo, mas, ao contrário, de pensar como somos capazes de nos diferenciar na medida em que construímos, a cada instante, uma relação entre corpo e subjetividade que necessita ser reafirmada, testada, construída.

O caminho percorrido: a construção de uma oficina de sensibilização corporal

Em primeiro lugar, é necessário afirmar que a pesquisa não é apenas o prolongamento de nossas teorias, mas também é a capacidade de reinventar e retraduzir nossas práticas (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.). Fazer pesquisa é intervir no campo ao qual propomos nossa inserção (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.). Neste primeiro pressuposto, apontamos para o posicionamento do pesquisador: este não é neutro, ao contrário, sua inserção no campo já é, por si mesma, uma questão a ser discutida com os pesquisados (DESPRET, 2011b). O caminho para tal inserção segue algumas regras que serão esclarecidas a seguir:

Em primeiro lugar, convocamos o trabalho de Latour (1994LATOUR, B. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 1994.) que nos aponta a primeira regra metodológica a seguir: devemos levar em conta todos os atores que se apresentam para nós, atentos a tudo aquilo que produz “agência” (LATOUR, 2007LATOUR, B. Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a ciência. In: NUNES, J.; ROQUE, R. (Org.). Objectos impuros: experiências em estudos sobre a ciência. Porto: Afrontamento, 2007. p. 40-61.). Qualquer coisa que possa ser conectada e que produza efeitos diferenciados daqueles que são produzidos sem estes agentes, são passíveis de investigação e devem ser considerados na produção do campo de pesquisa. Não há privilégio de forma, de material ou de lugar ocupado pelos mesmos a priori, o que não significa que não existam diferenças entre os atores. É justamente pelas diferenças que é possível construir o espaço de pesquisa que leva em conta as múltiplas possibilidades de encontro e afecção.

Em segundo lugar, nossa proposta implica numa tomada do campo como algo que possui uma dinâmica própria. Isto significa que os atores envolvidos se encontram em processo e articulam-se de maneira singular. Pesquisar significa atuar junto e possibilitar novas relações e vínculos (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.). Neste sentido, trabalhamos com o conceito de dispositivo tal como este se apresenta no trabalho de Despret (2011DESPRET, V. Acabando com o luto, pensando com os mortos. Fractal: Revista de Psicologia , Niterói, v. 23, n. 1, p. 73-92, jan./abr. 2011d. c): aquilo que estabelece as relações entre pesquisador e pesquisado no campo da pesquisa e, portanto, faz surgir hierarquias, jogos de poder, mal-entendidos e forças que são próprios daquele espaço específico. Neste sentido, nosso trabalho também implica em levar em consideração tais movimentos e dinâmica e não simplesmente negar-lhes a existência. Em nosso caso, o processo que é desencadeado pelas oficinas de sensibilização deve ser pensado como algo que produz efeitos que estão para além de uma compreensão puramente corporal, ou puramente subjetiva e que, nesta maneira, faz emergir afetos até então ausentes em outros dispositivos diferentes deste da pesquisa. Daí a importância de construirmos com os participantes a narrativa da pesquisa, de sermos sensíveis ao que se apresenta no campo e a manejar nosso trabalho compreendendo que estamos lidando com afetos e corpos em produção e não apenas com sujeitos prontos que oferecem ao nosso trabalho “o que eles já são”. Por isso, o cuidado com o dispositivo deve ser fundamental, pois construímos sujeitos, não descobrimos.

Em terceiro lugar, a construção de narrativas conjuntas requer uma participação ativa daqueles que frequentam as oficinas. Neste sentido, os materiais e técnicas utilizados serão também discutidos com os participantes, para que possamos pensar juntos o que efetivamente produz efeito e como este efeito é produzido (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.). Tanto a escrita quanto as vivências realizadas nas oficinas vão requerer de nós um trabalho conjunto.

Os alunos pesquisadores foram responsáveis tanto pela execução das oficinas, quanto pela elaboração dos diários de campo, nos quais foram relatadas as experiências vivenciadas por eles. Cada oficina foi realizada no período de aproximadamente quatro meses. Foram realizados encontros semanais com duas horas de duração que contaram com 15 participantes em média, incluindo os coordenadores. Nenhum aluno foi a campo sozinho, pois os relatos não foram elaborados como um instrumento objetivo, mas levaram em consideração também as impressões e afecções daquele que escreve. Assim, o compartilhamento destes relatórios com outros pesquisadores, foi essencial para a troca de experiências e impressões. Esta proposta se justifica na medida em que compreendemos que a linguagem descritiva possui limitações no que tange à questão das impressões vividas nas relações que se estabelecem no campo. Buscamos, portanto, uma narratividade que se encontra compartilhada pelos membros da pesquisa, que é discutida entre tais membros para que possamos agregar mais elementos do que quando estamos apenas descrevendo, isoladamente, uma cena que presenciamos, que é sempre feita de um ponto de vista. A discussão sobre os diários de campo contrapõem experiências e impressões diferenciadas, o que enriquece nosso contato com o campo. E esta proposta tem funcionado adequadamente em nossa inserção.

Nossa metodologia se estabelece, deste modo, numa proposta que visa fugir do realismo euro-americano (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.), uma vez que não considera o mundo como uma realidade já dada, definida e precisa, que espera ser descoberta e que haveria uma única maneira de se alcançar tal realidade. Apostamos então numa realidade que se constrói a cada momento em que nos inserimos nela e dela participamos ativamente. Dito isto, estamos sempre implicados nesta construção de mundo e somos também responsáveis por aquilo que fazemos emergir, fazendo com que nossa postura diante do campo ganhe dimensão ético-política, uma vez que o que colocamos em nossa pesquisa e o que deixamos de fora é sempre uma questão de negociação e não da emergência da verdade.

A criação de uma sensibilidade: a construção do corpo pesquisador

Nesta parte de nosso texto, como dissemos anteriormente, iremos focar na questão da supervisão das oficinas. Tal questão não pode ser vista de maneira simplista, uma vez que, em nossa aposta metodológica, buscamos sensibilizar corpos e subjetividades. A questão que se apresenta então é esta: como construir um corpo sensível imerso nas oficinas? Afetar e ser afetado é parte fundamental de nossa pesquisa (MONTEIRO, 2009MONTEIRO, A. C. L. As tramas da realidade: considerações sobre o corpo em Michel Serres. 2009. Tese (Doutorado) − Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/11811 >. Acesso em: 13 out. 2016.
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), nos conduz em nossos estudos. Construir uma oficina de sensibilização é nossa aposta para ver emergir corpos e subjetividades mais atentos à sua própria produção. Deste modo, nós, enquanto pesquisadores, também participamos da construção dos afetos, também somos afetados, também construímos nossos corpos e subjetividades. Como manejar as oficinas se somos partes integrantes destas relações? Como construir uma maneira de agir e ser afetado mesmo tendo uma posição diferenciada neste dispositivo? Nos dois semestres descritos aqui pudemos trabalhar a questão do manejo em pesquisa de maneiras diferentes. Nas primeiras oficinas, que aconteceram às segundas-feiras, de 10:00 às 12:00, às quartas-feiras de 16:00 às 18:00 e, posteriormente foi aberta mais uma às quintas-feiras de 10:00 às 12:00, durante os meses de setembro a dezembro de 2014, organizamos a oficina de maneira que houvesse um coordenador que participava de todas as oficinas daquele dia. A este chamávamos de coordenadores fixos. Cada oficina tinha então um coordenador fixo para cada dia: um para segunda, um para quarta e um para quinta. Estes contavam com dois outros participantes que se revezavam. Assim, cada oficina tinha, em média, cinco coordenadores, o coordenador fixo participava de todas as oficinas e os outros coordenadores ser revezam, de dois em dois. Nesta dinâmica, cada coordenador não fixo só participava de duas oficinas seguidas e voltaria a participar depois que terminasse o rodízio. Por exemplo, os coordenadores “x” e “y” começariam junto com o coordenador fixo; na segunda oficina, o coordenador “x” não participaria, o coordenador “y”, que participou da primeira oficina participaria, junto como o coordenador “z”; na terceira oficina, o coordenador “z” participaria junto com um coordenador “a”; na quarta oficina o coordenador “a” participaria com “x”, e assim, sucessivamente.

Esta organização gerou alguns efeitos inesperados, dentre eles podemos citar certo relaxamento entre os coordenadores móveis em relação à elaboração das oficinas, e, ao mesmo tempo, uma desafetação que foi entendida por nós como um efeito da descontinuidade que dificultou a formação de vínculo com os participantes. Os afetos então estavam sendo gerados também pelas ausências dos coordenadores. Por outro lado, os coordenadores fixos estavam se sentindo sobrecarregados, até mesmo afetivamente, por ter que se responsabilizar pelo dispositivo. Esta responsabilização não aparecia como forma de cobrança, mas como aquilo que podemos compreender como sendo a necessidade de responder ao dispositivo. Tais coordenadores já estavam na pesquisa acerca de um ano, tinham mais leituras sobre o tema, estavam em períodos mais avançados na Universidade também, mas isso não se refletiu em leveza ou em algum tipo de segurança em relação à construção do dispositivo. Com isso percebemos que a construção de corpos e subjetividades, no dispositivo das oficinas também geram efeitos importantes para os próprios pesquisadores e que, a maneira como distribuímos os sujeitos neste dispositivo, afeta completamente a maneira como os afetos ocorrem.

Percebemos o quanto era presente este lugar de poder ocupado pelos coordenadores fixos, mesmo que isso nunca tivesse sido dito, discutido ou imposto. Este lugar gerou assimetrias entre os coordenadores, algo que ocorreu sem que esperássemos. Mesmo que não tenha sido posta toda a responsabilidade das oficinas nestes coordenadores, na prática, foi isso o que aconteceu. Ao longo do desenvolvimento de nosso trabalho, os coordenadores fixos relataram acerca do incômodo que este lugar gerava neles. Sem que percebêssemos, este lugar produziu muitas questões na nossa forma de atuar. Dentre elas, podemos destacar a própria figura do pesquisador, pois, ele supostamente deteria o poder de comandar devido ao saber que lhe é imputado. Esta afirmação é tão marcante que, mesmo tentando desconstruí-la, ela ainda permanece por outros meios. Percebemos que tanto os participantes quanto os coordenadores, de alguma maneira, esperavam do coordenador fixo um lugar diferenciado, daquele que controlava o dispositivo. Isso nos fez pensar o quanto este arranjo produziu afetos diversos que não estavam previstos, mas que estiveram bem presentes. Percebemos de maneira bastante clara o quanto nossa proposta metodológica nos exige um cuidado ao lidar com os afetos e os arranjos que se apresentam no dispositivo. A nós é impossível negligenciar a emergência dos mais diversos afetos e a necessidade de estarmos sensíveis aos movimentos apresentados pelo grupo. Por isso, resolvemos acabar com esta figura do coordenador fixo e diluir tal responsabilidade por mais coordenadores.

Tendo isso em vista, mudamos a configuração das oficinas no semestre seguinte: todos seriam coordenadores fixos, distribuindo não apenas a responsabilidade de coordenar, mas distribuindo também os afetos, favorecendo tanto o vínculo com os pesquisados e o dispositivo, quanto possibilitando a partilha dos afetos e o manejo do dispositivo com todos os coordenadores. As segundas oficinas, denominadas no decorrer do texto como oficinas do segundo semestre, aconteceram às segundas-feiras, de 16:00 às 18:00, e às quartas-feiras, de 10:00 às 12:00, de abril a julho de 2015. No segundo semestre, quando nos deparamos novamente com a questão do manejo, nos demos conta de que as novas oficinas nos demandavam outras relações e um cuidado constante com o que estávamos propondo. Este cuidado se sustenta no fato de que, mesmo que as atividades sejam as mesmas - o que raramente aconteceu - o que elas produzem é inédito, pois leva em consideração o arranjo sempre móvel de cada encontro. Consequentemente a nossa coordenação não é dada e depende de nossa atenção às múltiplas articulações possíveis no campo. Dentre tais articulações temos ainda o fato de que as oficinas também se influenciam mutuamente. Assim, a concomitância de duas oficinas faz com que, inevitavelmente, elas sejam postas em relação. Não se trata de uma simples comparação, mas de uma forma de articulação que leva em conta os “corposafetos” dos coordenadores entre si, nas supervisões. O fato de participar de uma oficina e não de outra constrói arranjos diferenciados entre os coordenadores, o que torna possível um posicionamento diverso e uma rica discussão sobre os lugares ocupados e os arranjos efetuados nas oficinas. Destacamos também o fato de que, nestas segundas oficinas, os coordenadores, em sua maioria, estavam tendo o contato com estas pela segunda vez, o que também gerou mais segurança nos mesmos. Pudemos perceber como o corpo do coordenador foi sendo construído no decorrer do trabalho, não que houvesse uma repetição das oficinas, mas os coordenadores também foram adquirindo um novo corpo, mais sensível aos encontros e à maneira de construir dispositivos em que o cuidado com os afetos que emergem no dispositivo está presente.

Construir um corpo de coordenador não é algo banal, uma vez que, como dissemos, também estamos presentes com nossos corpos e subjetividades no dispositivo das oficinas. É relevante destacar o fato de que, mesmo estando no lugar de coordenador, o que implica uma preparação anterior, longas discussões sobre as ferramentas utilizadas nas oficinas e todo o trabalho de escrever os diários de campo (que será melhor apresentado a seguir), estes não escapam aos afetos surgidos nas oficinas. O manejo das mesmas exige dos coordenadores uma sensibilidade muito grande em relação aos participantes e seus afetos, mas também ao que o próprio lugar que o coordenador ocupa neste dispositivo.

Neste sentido destacamos a necessidade de coordenar em conjunto. Isto possibilita uma relação de diálogo, de sensibilidade e de confiança, o que significa que, mesmo que por vezes a sensibilidade possa vir a paralisar com a coordenação distribuída, outros coordenadores podem protagonizar o manejo. Assim como eles, éramos também sensibilizados, nossos corpos e subjetividades compunham aquele dispositivo e novos afetos estavam presentes o tempo todo. Portanto, a questão era menos exercer uma neutralidade (que também se apresenta como uma forma de afetação e não a ausência dela) e mais partilhar e manejar, com todos os atores presentes nas oficinas, os afetos que emergiam ali. Esse maior entrosamento advindo do coordenar em conjunto também torna possível uma maior atenção com o tempo de execução das atividades e das discussões posteriores. Os coordenadores se tornam mais sensíveis, não apenas ao tempo do grupo e a percepção do tempo deles próprios e entre si, como também a como o grupo recebe e reage a cada atividade, construindo constantemente este lugar sempre fluido da coordenação.

Todas estas questões foram possíveis de serem trabalhadas nas supervisões porque, além das conversas semanais em equipe, também eram elaborados diários de campo, pois a escrita posterior do que tinha acontecido nas oficinas se apresentou como um instrumento importante para o trabalho (FAVRET-SAADA, 2005FAVRET-SAADA, J. Ser afetado. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 13, p. 155-161, 2005.). As supervisões sempre eram pautadas na escrita destes diários e na troca de impressões e experiências entre os coordenadores do mesmo grupo e de grupos diferentes. As discussões eram muito ricas e geravam momentos em que, na própria supervisão, nos sentíamos também inseridos num dispositivo, afetando e sendo afetados pelo que estávamos construindo. As diferenças que surgiam eram discutidas para que esta diversidade fosse levada em conta, ao mesmo tempo em que percebíamos a construção também de um espaço comum, propiciado pelas discussões. Os diários de campo propiciaram a nós um momento de cuidarmos uns dos outros, de estarmos atentos ao que era sentido por cada coordenador e de propiciar um espaço em que cada um pudesse ser ouvido e que também pudesse partilhar suas impressões e sentimentos. Por isso os momentos da escrita do diário de campo e da supervisão foram de fundamental importância para a reflexão e compreensão da pesquisa e para que os pesquisadores também construíssem este corpo de pesquisador em conjunto com toda a equipe.

Corpos afetados pela pesquisa: o dispositivo das oficinas

Esta parte do texto não está totalmente desvinculada da anterior, uma vez que a questão da coordenação se relaciona com o problema a seguir. O que move nossa escrita neste ponto é a tensão constante entre docilidade e disponibilidade. Portanto, o ponto a ser pensado aqui é: até que ponto nossos participantes foram disponíveis ao trabalho proposto? Tal disponibilidade sempre esbarra no que denominamos de recalcitrância, ou seja, na capacidade de resistir ao que é proposto (DESPRET, 2004DESPRET, V. The body we care for: figures of anthropo-zoogenesis. Body and Society, [S.l.], v. 10, n. 2-3, p. 111-134, 2004b. b; LATOUR, 1997LATOUR, B. Des sujets recalcitrants. La Recherce, Paris, v. 301, p. 88-90, 1997.). Este impasse se apresenta na medida em que, ao estudar os dispositivos experimentais, percebemos que estes são construídos para incentivar a docilidade dos sujeitos (DESPRET, 2004b). Neste sentido, tal docilidade compromete o próprio experimento, uma vez, que se sustenta na autoridade do pesquisador. Os desejos, expectativas, afetos dos sujeitos - mesmo que presentes - são desconsiderados por se apresentarem como algo que interfere na pesquisa. Desta forma, os sujeitos são tomados como ingênuos, construindo uma maneira dócil de se apresentar no dispositivo experimental. Porém, acreditamos que apresentar-se indiferente ao dispositivo não faz dele algo “mais científico”, transforma o experimento num lugar de produção de sujeitos desafetados. O que não nos interessa, pois buscamos produzir interesse no dispositivo e não indiferença ou passividade.

No caso de nossa pesquisa, não nos interessamos em produzir sujeitos desafetados, até porque afirmamos a produção conjunta de corpos e subjetividades e não podemos (nem queremos) desconsiderar os afetos. Este é nosso ponto de partida. Perguntávamos sempre: queremos produzir sujeitos que afetam e são afetados pelo dispositivo, então, como evitar a docilidade e a passividade que o dispositivo carrega? A questão torna-se mais sutil, pois, sabemos que o nosso trabalho não se assemelha aos dispositivos experimentais: não estamos de jaleco branco, não produzimos nosso conhecimento num laboratório, partilhamos nossas propostas com os participantes, convidamos os mesmos a interferir nas oficinas. Mas, isso é suficiente? Ainda estamos na Universidade, ainda ocupamos o lugar de saber, ainda estamos fazendo uma pesquisa. Como lidar com esta assimetria que atravessa as pesquisas de campo em nosso trabalho?

Como dito acima, a produção de um corpo de pesquisador também requer o manejo dos afetos que surgem nas oficinas. Os pesquisadores precisam lidar não apenas com o planejamento e a execução das atividades, mas também com os afetos que emergem a partir dos encontros produzidos naquele espaço, Muitas vezes nos perguntamos sobre os efeitos que esperávamos de nosso planejamento e das surpresas que o campo nos trouxe. Portanto, não se trata de impor nossas propostas, mas de criar um corpo sensível para as interações que se dão no campo. Sabemos o quanto é difícil escrever tais palavras sem dar a impressão de que “qualquer coisa serve”, ou que “deixamos fluir” para não pressionar os sujeitos a se submeterem ao dispositivo. Mas, não é disso que se trata, o que está em jogo é uma proposta sensível de interação em que os sentidos vão se produzindo na medida em que nos disponibilizamos ao trabalho.

Sabemos que, para sermos afetados deve haver uma disponibilidade para estar nas oficinas, para construir um corpo mais sensível. Os participantes são o tempo todo convidados a atuar conosco na experimentação conjunta de afetos. Apostamos numa construção afetiva que é também ativa, em que os sujeitos participam da construção de seus próprios afetos e, consequentemente, de seus corpos e subjetividades. Em nossas oficinas buscamos exercitar a sensibilidade do corpo agenciando atores heterogêneos e esperamos que nossos participantes estejam disponíveis a tal sensibilização e aos encontros propostos. Ao mesmo tempo, esperamos que esta disponibilidade não se reverta numa espécie de docilidade em que a autoridade dos pesquisadores fale mais alto do que a possibilidade de dizer não, de resistir, de recalcitrar. A atividade dos sujeitos é uma das apostas mais importantes de nosso trabalho, uma vez que não consideramos os afetos como algo passivo e a-político (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.), nossos afetos também produzem mundo, nos fazem interagir e nos dão um lugar no mundo em que vivemos. Por exemplo, a distinção entre homens e mulheres também passa por aquela entre razão e emoção. Em nossa cultura aprendemos, desde muito cedo, que mulheres são mais “emocionais” e homens são mais “racionais”. A construção de nossa cultura está enraizada nesta distinção (DESPRET, 2011a) o que nos faz pensar que as emoções ocupam também um papel político nas relações que estabelecemos com o mundo e com os outros.

Em nossas oficinas buscamos problematizar este lugar das emoções, compreendemos que mesmo a razão é também um dos afetos que permeiam o mundo e que o produz (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.). Ser mais racional não nos faz “mais centrados”, nos faz exercitar um afeto e uma maneira de se relacionar com o mundo, em detrimento de outras. A razão não é, como afirmava Descartes (1994DESCARTES, R. As paixões da alma. In: DESCARTES, R. Obras Escolhidas/Descartes. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. p. 295-404.), a atividade própria do homem, que o faz ascender de seu corpo. A razão também está no corpo e o faz agir. Do mesmo modo, as emoções não são uma passividade exercida do corpo ao pensamento, mas sim um leque de possibilidades de relacionar-se. Razão e emoção não são opostas, são maneiras de se construir um corpo afetado, seja de um modo, seja de outro. Em nossas oficinas, trabalhamos as emoções como este modo de construir os espaços de afetação. Desta forma, todos os atores envolvidos na construção das oficinas são ativos, produzem efeito, o que nos ajuda a colocar o problema da disponibilidade em outros termos.

Os efeitos produzidos nas oficinas então são formas de se produzir um determinado mundo e não outro, o que significa dizer que não há uma única maneira de experimentar os afetos gerados ali. Apostamos numa construção coletiva de corpos e subjetividades que são cambiantes e, ao mesmo tempo, carregam a potência de gerar novos posicionamentos de modo muito mais ativo. Os sujeitos em nossos dispositivos são convidados a exercer suas potências afetivas não apenas naquele lugar, mas também exercitar potências afetivas que transbordem em outros espaços de vida. Isso significa que há uma aposta de que, aquilo que construímos no dispositivo, é uma dentre muitas possibilidades de agenciar a realidade. Tendo tal proposta em vista, nos permitimos atuar considerando que, mesmo que haja alguma espécie de docilidade advinda dos participantes, esta será diluída entre os diversos elementos que compõem a experiência de estar ali, naquele espaço, com aqueles atores.

Esta proposta se apresentou em nossas oficinas em diversos momentos. Gostaríamos de trazer aqui apenas um deles. Éramos, o tempo todo, convocados a experimentar, junto com os participantes, os limites de nossos próprios corpos, como dissemos anteriormente. E em alguns momentos nos sentimos incomodados com a extrema disponibilidade de um grupo das oficinas que era composto por estudantes de psicologia (estes também podiam participar, o que gerou muitas discussões em nossas supervisões que serão desenvolvidas em outro trabalho). Parecia-nos que o interesse pelas mesmas era puramente “acadêmico”, como o aprendizado de determinada prática. Este afeto nos causou muita surpresa e uma espécie de incômodo em relação à presença destes participantes. As oficinas ganharam cores de aprendizado e puseram-nos, mais fortemente o impasse entre docilidade e disponibilidade. O que chegava até nós era que ali as relações de poder se davam na possibilidade de ser “ensinada” uma técnica corporal para o trabalho em Psicologia, o que não era a nossa proposta.

Curiosamente, quando pedimos para este grupo apresentar suas expectativas, logo no início do trabalho, apareceu de uma das participantes esta mesma questão, posta exatamente com estas palavras: a diferença entre ser dócil e de estar disponível. Havia uma preocupação muito grande em relação ao perigo de coagir os participantes a fazer aquilo que estava sendo proposto, sem gerar um espaço para a recalcitrância. Sentimos que esta preocupação - que sempre se apresentava nas supervisões como uma preocupação da coordenação - foi deslocada dos coordenadores para uma das participantes logo no início desta oficina e que permeou a construção dos afetos de todos que ali estavam presentes.

Esta oficina foi marcada por um incômodo que se expressou nas seguintes frases que apareceram na supervisão: “O que estou fazendo aqui?” e “O que está sendo para as pessoas?”. A partir de tais questionamentos, pudemos elaborar uma oficina em que apostamos na fabricação de uma caixa que encarnasse este incômodo. Esta oficina consistiu em retomar as expectativas do início, para colocar na caixa do incômodo o que fosse o avesso destas expectativas, ou seja, o indesejado. Esta proposta teve como objetivo dar corpo ao incômodo em algum lugar que não fosse pessoalizado nem nos participantes e nem nos coordenadores. Um dos participantes nos disse que não havia incômodo algum, porém pegou uma folha de papel e escreveu inúmeras palavras relacionando-as com setas, depois ele mesmo percebeu a contradição entre o não incômodo e aquela escrita catártica. Mais uma vez pensamos na tensão entre a docilidade - que se apresentou em suas palavras, e a recalcitrância - que acabou aparecendo em seu agenciamento com a folha de papel.

A partir deste momento, a oficina tomou um rumo inesperado, pois, a questão da ausência tornou-se presente, como uma forma de recalcitrância ainda não percebida pela equipe. Numa oficina posterior, apostamos numa atividade que fez emergir, através das experiências corporais, um efeito de esvaziamento. Os coordenadores se deram conta, neste momento, que as ausências estavam permeando estas oficinas desde o início, como exemplo podemos citar o fato de que a lista de presença só foi feita no primeiro dia. Percebemos que dois dos três coordenadores não estavam fazendo o diário de campo. Além disso, na supervisão posterior a esta oficina citada, apenas um coordenador participou. Neste momento tomamos a decisão de suspender a oficina seguinte. Apostamos literalmente na ausência para chamar atenção àquelas que já vinham ocorrendo desde o princípio dessas oficinas, e várias questões emergiram tanto em relação à coordenação quanto em relação aos participantes. Ficou muito evidente que a disponibilidade dos participantes se aproximava muito perigosamente da docilidade, fazendo com que a recalcitrância emergisse muito mais no manejo dos coordenadores do que no espaço das oficinas.

Então, a própria ausência da oficina se caracterizou como uma oficina da ausência, pois surtiu efeitos. Outra participante nos disse que tinha se afetado muito com a oficina anterior e isto a fez resistir a estar presente na próxima oficina. Quando esta oficina foi “cancelada”, ela sentiu-se aliviada, o que mostra que este incômodo reverberou e ainda precisava ser cuidado, a recalcitrância pôde então ser distribuída. A partir da oficina-ausência e da leitura do diário de campo de um dos coordenadores, percebemos que o jogo entre docilidade e disponibilidade estava sempre presente e se distribuía de maneiras muito assimétricas. Um efeito interessante foi o fato de que este afeto da docilidade gerou sim, recalcitrância, mas uma recalcitrância deslocada, presente muito mais no manejo das oficinas do que propriamente em seu espaço de acontecimento.

Os coordenadores sentiram-se incomodados com o excesso de “sims” apresentado pelos participantes, talvez pelo fato apontado acima: a vontade de aprender uma “técnica corporal” para atuar como Psicólogos. Com isso nos demos conta do quanto o “sim” muitas vezes impede a fluidez das oficinas enquanto o “não” leva a uma construção conjunta, pois o “sim” pode configurar-se como uma ausência enquanto o “não” nos remete a um corpo que está presente, por não estar docilizado. Estes afetos geraram um efeito bastante interessante. Elaboramos então uma oficina muito arriscada na qual desafiamos os participantes a recalcitrarem. Esta oficina se configurou como uma “não proposta” dos coordenadores na expectativa de que os participantes se tornassem rebeldes, que dissessem o tão esperado “não”. Os coordenadores esperaram durante quarenta minutos que os participantes reagissem de alguma maneira ao silêncio quase ensurdecedor que se instaurou, e ao “não fazer nada”. Um dos participantes, percebendo isso, reagiu sem ação, de forma a provocar os coordenadores a ficarem incomodados com aquele silêncio e aquela angústia. Ele disse que achava que aquela oficina era um tipo de jogo em que “venceria” quem ficasse mais tempo em silêncio, como na brincadeira do “sério” em que vence quem não ri. Quando este silêncio foi quebrado discutiu-se sobre a disponibilidade deles, sobre o que tinha levado cada um a fazer a oficina, sobre o papel da coordenação e de participante, sobre a confiança em relação às propostas dos coordenadores. E neste momento foi decidido que os participantes elaborariam a oficina seguinte, que seria a última.

Portanto, os participantes desta oficina tiveram uma relação com a recalcitrância que permitiu a eles um posicionamento ativo frente aquilo que estava sendo colocado. O silêncio aqui foi posto em outro lugar, gerou uma suspensão da atividade, uma forma de se construir um tipo de resistência que veio em forma de sentimentos de rebeldia. Foi a partir desta resistência e de nossas apostas, muitas vezes bastante arriscadas, que pudemos construir uma oficina que não ignorou este tipo de recalcitrância às avessas. É importante destacar que isso foi possível somente porque era aquela oficina específica, com aqueles participantes - inclusive por serem da Psicologia da UFF - que tais questões puderam ser trabalhadas dessa maneira. Neste sentido, pudemos construir possibilidades afetivas em que a tensão entre docilidade e disponibilidade fosse trabalhada naquele dispositivo com aqueles atores presentes. Tornar-se sensível à construção do dispositivo das oficinas foi uma experiência fundamental para compreendermos nosso trabalho e para mantermos nossa aposta em nossas oficinas pra continuar construindo corpos e subjetividades potentes.

Um desfecho sem fecho: a afirmação de uma aposta no corpo

Como nos propomos inicialmente, apresentamos nosso trabalho de pesquisa a partir de quatro momentos distintos: o aporte teórico-conceitual, o traçado metodológico, o lugar do coordenador e a questão da recalcitrância presente no dispositivo criado por nós. A partir desta escrita, transformamos nossas oficinas mais uma vez: damos a ela um corpo de sentidos feito por palavras. Sabemos que estas não são suficientes para apresentar a riqueza de afetos gerados, mas apostamos na escrita como uma forma de deslocamento que faz proliferar outras versões de mundo (DESPRET, 1999DESPRET, V. Ces émotions qui nous fabriquent: ethnopsychologie de l’authenticité. Paris: Institut d’édition Sanofi-Synthelabo, 1999.), também potentes. A escrita deste texto é também uma escrita política, uma vez que aposta na produção de um contágio, de uma nova afetação para fazer proliferar espaços potentes de construção de corpos e subjetividades, consequentemente, a produção de novos mundos.

Dessa maneira, é possível dizer que, em todos os momentos em que estivemos inseridos, seja no campo, seja no dispositivo da supervisão, procuramos desenvolver um posicionamento crítico em relação à nossa própria prática, questionando sempre esse nosso lugar de ator-pesquisador, que influencia e é influenciado a todo momento.

Tudo isso nos levou sempre a questionar, também, o papel do próprio psicólogo que, ao nosso ver, deve possibilitar a emergência de modos diferentes de ser no mundo, e não um mero especialista, intérprete e ditador de existências estabelecidas a priori. Em outras palavras, se acreditamos que em nossas pesquisas fazemos emergir novos arranjos de conceitos e de conhecimentos (MORAES, 2010MORAES, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In. MORAES, M.; KASTRUP, V. (Org.). Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 26-51.), então trata-se de uma aposta ético-política possibilitar a emergência de subjetividades distribuídas.

É verdade que nos deparamos com impasses em nosso percurso, a exemplo de dificuldades envolvendo nossa própria coordenação, porém até as mesmas nos permitiram fortalecer nossa convicção de que o campo deve ser também um lugar de resistências, que permita recalcitrâncias, para que nossa produção não seja empobrecida por imposições e autoritarismos. Estes escondem toda potencialidade que nasce no encontro e na disponibilidade de todos os envolvidos no dispositivo, sendo que o que pretendemos com nossa prática é possibilitar a emergência de subjetividades incorporadas, ora individuais, ora distribuídas. Portanto acreditamos que, não colocando em risco nossos pressupostos, cairíamos na cilada de buscar apenas comprovar algo pré-existente e estabelecido, já dado, e jamais poderíamos nos surpreender com o campo. Isso iria fortemente de encontro aos nossos objetivos mais caros, uma vez que não buscamos dispositivos autorreferentes (STENGERS, 1990STENGERS, I. Quem tem Medo da Ciência? Ciências e Poderes. São Paulo: Siciliano, 1990.).

Nossa intenção não é a repetição de um método ou a afirmação cega de nossa aposta teórica, é a possibilidade de construir mundos em que caibam mais e mais afetos, distribuídos de maneira cada vez mais coletiva. Deste modo, o uso de uma de nossas experiências deve ser lido também como uma forma de afetação e não como uma “maneira de condução”. As possibilidades são múltiplas, como dissemos, os arranjos variam de acordo com os atores que são postos em cena nas oficinas. Não há previsibilidade, mas há rigor. O rigor encontra-se nesta própria aposta de gerar espaços coletivos de afetação, de distribuição de subjetividade. Portanto, seguimos nosso trabalho, no qual os impasses se apresentam, como as questões postas acima, e que nos exige sempre reposicionamentos e muito trabalho coletivo. Não buscamos respostas para problemas já postos, como nos ensina Deleuze (2006DELEUZE, G. Diferença e repetição. 2. ed. São Paulo: Graal, 2006.), atuamos em campos problemáticos que nos exigem a cada momento rearranjos e mudanças de posição. Com isso, apostamos na construção de um conhecimento que passe pelo corpo, pelos afetos e que ocorre de maneira sempre coletiva porque não pressupõe elementos dados, mundos fechados. Por isso, escolhemos apresentar um desfecho, brincando com a palavra des-fecho, porque nosso término é apenas um recorte feito para dar sentido à parte de nosso trabalho. Sabendo que este é apenas um recorte, oferecemos a possibilidade aos leitores de puxar outros fios e de construir novas propostas de pensar a relação entre corpo e subjetividade que componham um mundo mais amplo e diverso.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2017

Histórico

  • Recebido
    10 Jan 2017
  • Aceito
    01 Abr 2017
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