Acessibilidade / Reportar erro

Concepções, práticas e desafios na formação do professor: examinando o caso do ensino superior de Administração no Brasil

Resumos

O principal propósito deste artigo é investigar o processo de formação do professor em Administração no Brasil e, mais particularmente, as concepções, as práticas e os desafios que envolvem tal formação. A pesquisa, de natureza qualitativa, sustenta-se na análise de discurso oriundo de entrevistas semi-estruturadas realizadas junto aos representantes de entidades responsáveis pelo fomento e regulação do ensino superior de Administração no Brasil. Os resultados da pesquisa indicam significativa carência de políticas de formação do professor no ensino de Administração no Brasil, tanto por parte do governo quanto por parte das organizações de ensino superior em Administração. No entanto, também verificamos algumas iniciativas fecundas relacionadas à formação do professor em Administração que decorrem de parcerias interinstitucionais. Concepções e práticas da formação do professor convergem ao favorecer uma visão tradicional da aprendizagem como transferência hierárquica do conhecimento explícito. Convergem, também, ao ignorar a dimensão sócio-prática da aprendizagem em ações e programas formalmente institucionalizados.


This paper aims to examine management faculty development in Brazil and associated conceptions, practices, and challenges in an attempt to contribute to the debate and stimulate the improvement of the quality and excellence of this process. This is a qualitative study based on the discourse analysis of five semi-structured interviews conducted with representatives from four organizations which regulate and promote management higher education in Brazil. Regarding current faculty development practices, we verified that they are nearly inexistent both from the government and the higher education institutions in management. Nevertheless, some fruitful initiatives come from interinstitutional partnership projects. Conceptions and practices of management faculty development converge in encouraging a traditional vision of learning as a hierarchical transference of explicit knowledge. These conceptions and practices also ignore the sociopractice dimension of learning motivated by institutionalized and formal polices and action.


ARTIGOS ARTICLES

Concepções, práticas e desafios na formação do professor: examinando o caso do ensino superior de Administração no Brasil* * Agradecemos os valiosos comentários de Mercya Carvalho e Sylvia Vergara que nos ajudaram a melhorar este texto. Agradecemos, também, a Tânia Fischer e Adriano Miranda pelo apoio na realização desta pesquisa. 1Essa demanda é, em parte, atribuída aos grandes benefícios sociais e econômicos que resultam da obtenção de um diploma superior no Brasil. Isso se evidencia nos altos diferenciais de renda que existem entre os detentores de diplomas de nível superior e o restante da população brasileira (Schwartzman, 2000). Segundo Schwartzman (2000), dados do World Education Indicators da OECD mostram que o rendimento relativo das pessoas com educação superior no Brasil é 3,59 vezes maior do que os de educação secundária completa. 2No que tange à exigência de titulação, o Decreto 2.207/97 determina que, no segundo ano de sua vigência, as instituições de ensino superior deverão contar com 15% de seus docentes titulados na pós-graduação strictu sensu, dos quais, no mínimo, 5% de doutores; no quinto ano de vigência, com 25%, sendo que, no mínimo, 10% de doutores; e no oitavo de existência, com um terço dos quais 15%, no mínimo, de doutores.

Jader C. de Souza-SilvaII; Eduardo DavelIII

IIProf. UNIFACS/BA e UEFS/BA

IIIProf. University of Quebec/Canada

RESUMO

O principal propósito deste artigo é investigar o processo de formação do professor em Administração no Brasil e, mais particularmente, as concepções, as práticas e os desafios que envolvem tal formação. A pesquisa, de natureza qualitativa, sustenta-se na análise de discurso oriundo de entrevistas semi-estruturadas realizadas junto aos representantes de entidades responsáveis pelo fomento e regulação do ensino superior de Administração no Brasil. Os resultados da pesquisa indicam significativa carência de políticas de formação do professor no ensino de Administração no Brasil, tanto por parte do governo quanto por parte das organizações de ensino superior em Administração. No entanto, também verificamos algumas iniciativas fecundas relacionadas à formação do professor em Administração que decorrem de parcerias interinstitucionais. Concepções e práticas da formação do professor convergem ao favorecer uma visão tradicional da aprendizagem como transferência hierárquica do conhecimento explícito. Convergem, também, ao ignorar a dimensão sócio-prática da aprendizagem em ações e programas formalmente institucionalizados.

ABSTRACT

This paper aims to examine management faculty development in Brazil and associated conceptions, practices, and challenges in an attempt to contribute to the debate and stimulate the improvement of the quality and excellence of this process. This is a qualitative study based on the discourse analysis of five semi-structured interviews conducted with representatives from four organizations which regulate and promote management higher education in Brazil. Regarding current faculty development practices, we verified that they are nearly inexistent both from the government and the higher education institutions in management. Nevertheless, some fruitful initiatives come from interinstitutional partnership projects. Conceptions and practices of management faculty development converge in encouraging a traditional vision of learning as a hierarchical transference of explicit knowledge. These conceptions and practices also ignore the sociopractice dimension of learning motivated by institutionalized and formal polices and action.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • ALCAPADINI, R. e BRESLER, R. McDonaldização do ensino. Carta Capital, v.6, n.122, p.20-24, 2000.
  • ALVESSON, M. Management of knowledge-intensive companies Berlin, New York: Walter de Gruyter, 1995.
  • ALVESSON, M. Knowledge work: ambiguity, image and identity. Human Relations, v.54, n.7, p.863-886, 2001.
  • ALVESSON, M. e KARREMAN, D. Varieties of discourse: on the study of organizations through discourse analysis. Human Relations, v.53, n.9, p.11251149, 2000.
  • ANTONACOPOULOU, E. P. The paradoxical nature of the relationship between training and learning. Journal of Management Studies, v.38, n.3, p.327-350, 2001.
  • BOAVENTURA, E. M. Universidade e multiversidade Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986.
  • BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional Brasília, DF: Congresso Nacional, p.1-24, 1996.
  • BROWN, J. S. e DUGUID, P. Organizational learning and communities of practice: toward a unified view of working, learning and innovation. Organization Science, v.2, n.1, p.40-57, 1991.
  • CASTELLS, M. A sociedade em rede São Paulo: Paz e Terra, 1999.
  • CHILD, J. e MCGRATH, R. G. Organizations unfettered: organizational form in an information intensive economy. Academy of Management Journal, v.44, n.6, p.1135-1148, 2001.
  • CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Administração Resolução n. 1, de 2 de Fevereiro de 2004. Publicado no DOU no 43, de 04.03.2004, Seção 1, página 11.
  • CONSTANTINO, L. e GÓIS, A. Número de faculdades privadas cresce 45%. Folha de São Paulo São Paulo 2003.
  • CUNHA, M. P. The best place to be: managing control and employee loyalty in a knowledge-intensive company. Journal of Applied Behavioural Science, v.38, n.4, p.481-495, 2002.
  • CUNLIFFE, A. E. Reflexive dialogical practice in management learning. Management Learning, v.33, n.1, p.35-61, 2002.
  • EASTERBY-SMITH, M., CROSSAN, M. e NICOLINI, D. Organizational learning: debates past, present and future. Journal of Management Studies, v.37, n.6, p.783-796, 2000.
  • ESTRELA, M. T. A formação contínua entre teoria e prática. In: N. S. C. Ferreira (Ed.). Formação continuada e gestão da educação São Paulo: Cortez, 2003.
  • FÁVERO, M. L. A universidade brasileira em busca de sua identidade Petrópolis: Vozes, 1977.
  • FIELD, J. Lifelong learning and the new educational order Stoke on Trent: Trentham Books, 2000.
  • GHERARDI, S. Where learning is: metaphors and situated learning in a planning group. Human Relations, v.53, n.8, p.1057-1080, 2000.
  • GHERARDI, S. From organizational learning to pratice-based knowing. Human Relations, v.54, n.1, p.131-139, 2001.
  • GHERARDI, S., NICOLINI, D. e ODELLA, F. Toward a social understanding of how people learn in organizations: the notion of situated curriculum. Management Learning v.29, n.3, p.273-297, 1998.
  • GIBB, A. A. Small firms' training and competitiveness: building upon the small business as a learning organization. International Small Business Journal, v.15, n.13, p.13-29, 1997.
  • GRUGULIS, I., DUNDON, T. e WILKINSON, A. Cultural control and the "cultural manager": employment practices in a consultancy. Work, Employment & Society, v.14, n.1, p.97-116, 2000.
  • INEP/MEC. Cursos de Administração autorizados pelo MEC p.Disponível em:<http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp>. Acesso em: 15 de setembro de 2002.
  • KERR, C. The uses of the university Cambridge: Harvard University Press, 1982.
  • KERR, C. Higher education cannot escape history: issues for the twenty-first century. Albany: State University of New York Press, 1994.
  • KREUZ, M., MONTEIRO, L. e ANDRADE, R. O. B. D. Carta ao Ministro da Educação sobre a Expansão dos Cursos de Administração do Brasil Conselho Federal de Administração. Brasília: 24 de maio de 2004, p.Disponível em:<http://www.craes.org.br/jornal.asp>. Acesso em: 25 de agosto de 2004.
  • KUNDA, G. Engineering culture: control and commitment in a high-tech corporation. Philadelphia: Temple University Press, 1992.
  • LAVE, J. e WENGER, E. Situated learning. Legitimate peripheral participation Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
  • MENEGHEL, S. M. A Crise da Universidade Moderna no Brasil (Tese de Doutorado). UNICAMP, Campinas, 2001.
  • NEWMAN, J. H. The idea of a university New York: Longman, 1899.
  • NEWMAN, J. H. On the scope and nature of the university education London: Everyman's Library, 1965.
  • NICOLINI, D., GHERARDI, S. e YANOW, D. Toward a practice-based view of knowing and learning in organizations. In: D. Nicolini, S. Gherardi e D. Yanow (Ed.). Knowing in organizing: a practice-based approach. New York: M.E Sharper, 2003.
  • OLUBUMMO, A. e FERGUSON, J. The emergent university London: Longmans, 1960.
  • PHILIPS, N. e HARDY, C. Discourse analysis: investigating processes of social construction. London: Sage Publications, 2002.
  • PIMENTA, S. G. e ANASTASIOU, L. D. G. C. Docência no ensino superior São Paulo: Cortez, 2002.
  • PRINTY, S. M. Communities of practice: participation patterns and professional impact for high school mathematics and science teachers. (Thesis of Doctorate). The Ohio State University, Columbus, 2002.
  • RASHDALL, H. The universities of Europe in the middle ages Oxford: Clarendon Press, 1936.
  • RÖHRS, H. The classical german concept of the university and its influence on higher education in the United States New York: Lang, 1995.
  • SCHWARTZMAN, S. A Revolução silenciosa do ensino superior. In: E. R. Durham e H. Sampaio (Ed.). O ensino superior em transformação São Paulo: Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior (NUPES/USP), 2000.
  • SEELEY, R. S. K. The function of the university. London: Oxford University Press, 1948.
  • SIQUEIRA, D. S. P. Administração - Há Vagas: expansão do ensino superior privado na Região Metropolitana de Salvador (1994 - 2000). (Mestrado). Mestrado em Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001.
  • SOUZA-SILVA, J. C. Administração de instituições de ensino superior nos moldes de gestão familiar. Gestão em Debate, v.4, n.1, p.80-91, 2001.
  • TEIXEIRA, A. Uma perspectiva da educação superior no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.50, n.111, p.21-82, 1968.
  • TEMPEST, S. Intergenerational learning. Management Learning, v.34, n.2, p.181200, 2003.
  • TOURAINE, A. O silêncio da universidade BBEP, v.60, n.133, 1974.
  • WENGER, E. Communities of practice: learning, meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
  • *
    Agradecemos os valiosos comentários de Mercya Carvalho e Sylvia Vergara que nos ajudaram a melhorar este texto. Agradecemos, também, a Tânia Fischer e Adriano Miranda pelo apoio na realização desta pesquisa.
    1Essa demanda é, em parte, atribuída aos grandes benefícios sociais e econômicos que resultam da obtenção de um diploma superior no Brasil. Isso se evidencia nos altos diferenciais de renda que existem entre os detentores de diplomas de nível superior e o restante da população brasileira (Schwartzman, 2000). Segundo Schwartzman (2000), dados do World Education Indicators da OECD mostram que o rendimento relativo das pessoas com educação superior no Brasil é 3,59 vezes maior do que os de educação secundária completa.
    2No que tange à exigência de titulação, o Decreto 2.207/97 determina que, no segundo ano de sua vigência, as instituições de ensino superior deverão contar com 15% de seus docentes titulados na pós-graduação strictu sensu, dos quais, no mínimo, 5% de doutores; no quinto ano de vigência, com 25%, sendo que, no mínimo, 10% de doutores; e no oitavo de existência, com um terço dos quais 15%, no mínimo, de doutores.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2005
    Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
    E-mail: revistaoes@ufba.br