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Gestão do conhecimento e do capital intelectual: mapeamento da produção acadêmica brasileira de 1997 a 2011 nos encontros da ANPAD

Knowledge management and intellectual capital: mapping Brazilian academic production from 1997 to 2011 at the ANPAD meetings

Resumos

O presente estudo tem como objetivo demarcar a produção científica brasileira em Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual, entre 1997 e 2011, tendo por foco trabalhos apresentados nos Encontros Anuais da ANPAD - ENANPAD. Tendo como ponto de partida os ENANPAD, foram levantados 9.027 artigos. A operacionalização possibilitou identificar: os artigos relacionados à Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual; os temas que os pesquisadores estão abordando; os métodos de pesquisa predominantes em cada trabalho; os autores dos artigos e filiação acadêmica; e os tipos de referências utilizadas nos trabalhos. Em seguida, as informações coletadas foram tratadas quantitativa e qualitativamente, sendo para isso utilizado o modelo de reversibilidade. A pesquisa permitiu identificar 272 artigos relacionados à Gestão do Conhecimento (GC) e Capital Intelectual (CI), com publicação concentrada nos últimos quatro anos, levando a inferir que essas publicações são recentes. Quanto aos autores, percebe-se que os trabalhos em parceria (mais de 80% do total dos trabalhos) prevalecem sobre as publicações individuais. Acredita-se que esse mapeamento contribuirá de forma efetiva para visualização dos atores e do corpo de conhecimento, estimulando o debate sobre a produção científica em GC e CI no Brasil.

Gestão do conhecimento; Capital intelectual; Ativos intangíveis


The present study describes Brazilian scientific production in Knowledge Management and Intellectual Capital in the years 1997-2011, based on the papers presented at the Annual Meeting of ANPAD - ENANPAD. Taking ENANPAD as a starting point, 9,027 articles were collected. Papers related to Knowledge Management and Intellectual Capital were identified; issues that researchers are addressing; research methods prevailing in each study; authors of articles and academic affiliation, and the types of references used in the work. Then, this information was treated quantitatively and qualitatively using the reversibility method. The search identified 272 articles related to Knowledge Management (KM) and intellectual capital (IC), with publications concentrated in the last four years, thus recent. As for the authors, most were done in collaboration (more than 80% of total number of works) than individual research. It is believed that this mapping contributes effectively to displaying the actors and the body of knowledge, stimulating debate on the scientific production in KM and IC in Brazil.

Knowledge management; Intellectual capital; Intangible assets


ARTIGOS

Gestão do conhecimento e do capital intelectual: mapeamento da produção acadêmica brasileira de 1997 a 2011 nos encontros da ANPAD

Knowledge management and intellectual capital: mapping Brazilian academic production from 1997 to 2011 at the ANPAD meetings

Roberto Pinto de AraujoI; Antônio Paulo MottinII; José Francisco de Carvalho RezendeIII

IMestre em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Professor Assistente da Universidade Veiga de Almeida - UVA, Rio de Janeiro/RJ/Brasil. Endereço: Av. Gal. Felicíssimo Cardoso, 500, Barra da Tijuca. Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20745-200. E-mail: betopint@gmail.com

IIMestre em Ciências Contábeis pela UERJ. Professor Auxiliar da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Rio de Janeiro/RJ/Brasil. E-mail: apmottin@yahoo.com.br

IIIDoutor em Ciências da Administração pela UFRJ. Professor Adjunto da UNIGRANRIO, Rio de Janeiro/RJ/Brasil. E-mail: rezende.jose@unigranrio.br

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo demarcar a produção científica brasileira em Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual, entre 1997 e 2011, tendo por foco trabalhos apresentados nos Encontros Anuais da ANPAD - ENANPAD. Tendo como ponto de partida os ENANPAD, foram levantados 9.027 artigos. A operacionalização possibilitou identificar: os artigos relacionados à Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual; os temas que os pesquisadores estão abordando; os métodos de pesquisa predominantes em cada trabalho; os autores dos artigos e filiação acadêmica; e os tipos de referências utilizadas nos trabalhos. Em seguida, as informações coletadas foram tratadas quantitativa e qualitativamente, sendo para isso utilizado o modelo de reversibilidade. A pesquisa permitiu identificar 272 artigos relacionados à Gestão do Conhecimento (GC) e Capital Intelectual (CI), com publicação concentrada nos últimos quatro anos, levando a inferir que essas publicações são recentes. Quanto aos autores, percebe-se que os trabalhos em parceria (mais de 80% do total dos trabalhos) prevalecem sobre as publicações individuais. Acredita-se que esse mapeamento contribuirá de forma efetiva para visualização dos atores e do corpo de conhecimento, estimulando o debate sobre a produção científica em GC e CI no Brasil.

Palavras-chave: Gestão do conhecimento. Capital intelectual. Ativos intangíveis.

ABSTRACT

The present study describes Brazilian scientific production in Knowledge Management and Intellectual Capital in the years 1997-2011, based on the papers presented at the Annual Meeting of ANPAD - ENANPAD. Taking ENANPAD as a starting point, 9,027 articles were collected. Papers related to Knowledge Management and Intellectual Capital were identified; issues that researchers are addressing; research methods prevailing in each study; authors of articles and academic affiliation, and the types of references used in the work. Then, this information was treated quantitatively and qualitatively using the reversibility method. The search identified 272 articles related to Knowledge Management (KM) and intellectual capital (IC), with publications concentrated in the last four years, thus recent. As for the authors, most were done in collaboration (more than 80% of total number of works) than individual research. It is believed that this mapping contributes effectively to displaying the actors and the body of knowledge, stimulating debate on the scientific production in KM and IC in Brazil.

Keywords: Knowledge management. Intellectual capital. Intangible assets.

Introdução

As organizações que sobreviveram às inflexões determinadas pelas mudanças ambientais, intensificadas a partir da última década, precisam acompanhar as transformações contínuas na estrutura produtiva e nas relações de produção, além de absorver padrões instáveis e complexos relacionados com novas configurações de negócio centradas no conhecimento existente e potencial, em tecnologia de informação e ativos intangíveis.

Seguindo essa necessidade, talvez tendência, algumas universidades, instituições e pesquisadores brasileiros têm destinado atenção à economia, à organização e ao trabalhador do conhecimento. Tais estudos têm permitido maior compreensão sobre a importância de três pontos fundamentais: (i) as transformações que estão ocorrendo na sociedade atual e que estão levando a humanidade da era industrial para a era do conhecimento; (ii) os fatores decisivos que estão provocando essas transformações; e (iii) a evolução para a era do conhecimento.

Grande parte da literatura relata que a constituição da Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual como domínio científico se deu simultaneamente ao crescimento vertiginoso da Internet e da globalização da economia, o que tem provocado uma série de questões que merecem estudos e pesquisas aprofundados, de natureza acadêmica, como é o caso da Gestão do Conhecimento, da Sustentabilidade, da Gestão do Capital Intelectual nas Organizações, do Empreendedorismo, do Desempenho Institucional e da Inovação Tecnológica.

O objetivo principal deste artigo é apresentar um panorama preliminar da produção científica em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual, tendo como demarcação os Encontros Anuais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração - ENANPAD, relativos aos anos de 1997 a 2011. Para lidar com a extrema diversidade de artigos, procurou-se (i) identificar os artigos relacionados à Gestão do Conhecimento e ao Capital Intelectual; (ii) investigar e descrever os temas que os pesquisadores estão abordando; (iii) identificar e relacionar os métodos de pesquisa predominantes em cada trabalho; (iv) realizar uma análise geral sobre os autores dos artigos; e, finalmente, (v) examinar e classificar as referências utilizadas nos trabalhos.

A Gestão, o Conhecimento e o Capital Intelectual

A evolução histórica da economia e da gestão empresarial em nível mundial passa por profundas transformações que envolvem, inclusive, a estrutura social. A mudança para o trabalho baseado no conhecimento representa enormes desafios sociais, mesmo para os países desenvolvidos, e faz emergir uma sociedade baseada no capital humano (CRAWFORD, 1994).

A sociedade do conhecimento, como vem sendo considerada por autores do campo econômico-empresarial (DRUCKER, 1998; CRAWFORD, 1994; SENGE, 1998), e dos trabalhadores do conhecimento, não é tradicional; representa uma ruptura de conceitos arraigados na esfera social e na estrutura produtiva, empresarial e tecnológica. Instituições como sociedade, comunidade e família, até então consideradas conservadoras (DRUCKER, 1998), procuram manter a estabilidade e evitar ou, pelo menos, desacelerar as mudanças. Luta em vão! Pois elas, também, sofreram mudanças a partir do conhecimento adquirido.

A organização moderna, caracterizada como desestabilizadora, precisa estar flexibilizada para o abandono sistemático de tudo aquilo que é estabelecido, costumeiro, conhecido e confortável, quer se trate de um produto, um serviço ou um processo, um conjunto de aptidões, relações humanas e sociais ou a própria organização. Os papéis da estrutura e da gestão são colocar o conhecimento para trabalhar em ferramentas, produtos e processos, na concepção do trabalho, no próprio conhecimento que, por natureza, muda rapidamente.

O conhecimento, como a capacidade de aplicar a informação a um trabalho ou a um resultado específico, é uma habilidade encontrada somente nos seres humanos. "Somente os seres humanos são capazes de aplicar desta forma a informação através de seu cérebro ou de suas habilidosas mãos" (CRAWFORD, 1994, p. 21).

Gestão do conhecimento e os modos de conversão

A Gestão do Conhecimento (GC) é um fator ou elemento crítico para o sucesso de uma organização, e, por isso, tem sido tão intensamente estudada em administração (VERKASALO; LAPPALAINEN, 1998). Apresenta domínio multidisciplinar e, na administração, mantém forte ligação com mudanças, melhores práticas, reengenharia de processos de negócios e benchmarking (LIEBOWITZ, 1999). Com a presença de tais características, pode-se dizer que a GC não se formata apenas por uma perspectiva ou escola de pensamento focalizando sua estruturação.

Segundo Verkasalo e Lappalainen (1998), as várias abordagens ou perspectivas de GC podem ser agrupadas em três escolas, conforme o princípio teórico predominante, que, embora inter-relacionadas, contém características bem particulares: (i) a escola da criação do conhecimento (knowledge creation), tendo em Nonaka e Takeuchi (1997) seus principais expoentes e focalizando mais intensamente os mecanismos de criação de novos conhecimentos; (ii) a escola das competências essenciais (core competence), com a contribuição de Leonard (1995), tendo um foco mais voltado em desenvolver os recursos e o aprendizado coletivo que diferenciam a organização; e (iii) a escola das bases de conhecimentos (knowledge base), com inúmeros autores envolvidos, relacionada ao emprego de tecnologias como a inteligência artificial e sistemas especialistas em bases de conhecimentos.

Para Verkasalo e Lappalainen (1998), das três escolas, a que mais proximidade ou adequação possui com a necessidade de se entender a GC é a teoria apresentada na escola da criação do conhecimento (knowledge creation) de Nonaka e Takeuchi (1997), na qual a gestão do conhecimento é enquadrada como um conjunto de conversões do conhecimento. Isso porque, conceitualmente, a conversão seria um processo essencialmente criador e disseminador de novos conhecimentos, o que é o foco principal dessa teoria; e, em termos empíricos, porque aqueles autores construiram e testaram sua teoria tendo como base inovações (novos produtos) executadas em casos de conversão do conhecimento consideradas exemplares e bem-sucedidas.

A maioria das definições dadas para Conhecimento converge com a característica de que este é formado por informação, que pode ser expressa, verbalizada e é, relativamente, estável ou estática, em completo relacionamento com um aspecto mais subjetivo e não palpável, que está na mente das pessoas e é, relativamente, instável ou dinâmico, e que envolve experiência, contexto, interpretação e reflexão (POLANYI, 1966; NONAKA; TAKEUCHI, 1997), surgindo, daí, uma tipologia básica.

O primeiro tipo é o formato explícito. O conhecimento é relativamente fácil de codificar, transferir e reutilizar, em papel ou meios eletrônicos, formalizado em textos, gráficos, tabelas, figuras, desenhos, esquemas, diagramas etc.

O segundo tipo, intrinsecamente relacionado ao primeiro, é o formato tácito, o conhecimento subjetivo, habilidades inerentes a uma pessoa, sistema de ideias, percepção e experiência, sendo difícil de ser formalizado, transferido ou explicado a outra pessoa, pois requer tempo e convivência.

As conversões de conhecimento entre esses dois formatos se constituem na essência da abordagem teórica da criação do conhecimento. Nonaka e Takeuchi (1997) detalham a conversão de conhecimentos entre os formatos tácito/explícito em quatro modos (Quadro 1), que podem ocorrer simultaneamente.


Para que a interação entre esses quatro modos de conversão de conhecimento seja otimizada, Nonaka e Takeuchi (1997) propõem as seguintes condições capacitadoras: intenção organizacional (metas); autonomia; flutuação ou "caos" criativo; redundância (superposição intencional); e variedade de requisitos (diversidade organizacional).

Os ciclos de conversão do conhecimento, passando várias vezes por esses quatro modos, formam uma espiral que serve para analisar e entender os mais diversos casos de criação e disseminação do conhecimento, sendo que cada caso terá suas particularidades.

O processo de gestão do conhecimento enfrenta desafios adicionais como: (i) a visão dos executivos sobre um estilo de empresa "máquina" processadora de informação (NONAKA; TAKEUCHI, 1997), em contraposição à ideia de empreendimento como organismo vivo e em permanente transformação (GEUS, 1999); (ii) os hiatos no compartilhamento e na transposição da informação em ação e desempenho (O'DELL; GRAYSON, 1998); (iii) a complexidade e a resistência à mudança no dia a dia das organizações e profissionais (CARR; GREGERSEN, 1999); (iv) o processo de educação formal e profissional dos gerentes, focado mais nos tangíveis do que na visualização da empresa, com base nas suas capacidades e nos conhecimentos necessários a elas (FIGUEIREDO, 2005); (v) distanciamento - e eventual desalinhamento - entre teorias e práticas afins à aprendizagem organizacional e suas implicações no desenvolvimento de competências profissionais e sua transformação em performance organizacional ao longo da cadeia de valor de uma empresa, cluster ou indústria (GARVIN, 1993; RUGGLES, 1997; DAVENPORT et al., 1998; ARGYRIS, 1998).

Os trabalhos do conhecimento enquanto capital intelectual

Uma das principais indagações que hoje se apresentam diz respeito a como algumas empresas, notadamente as da nova economia, podem obter uma valoração no mercado de ações muito acima do seu valor contábil. Como poderiam valer duas, cinco, dez vezes o valor dos seus ativos registrados no seu balanço patrimonial? Sveiby (1998), nesta perspectiva, questiona, "qual é a natureza desse valor adicional percebido pelo mercado, mas não registrado pela empresa"?

Resposta possível a tais perguntas seria a existência de valor nas empresas que não é contemplado nas demonstrações contábeis ou seria subestimado pela Contabilidade. Esse valor corresponderia aos ativos intangíveis ou capital intelectual. Andrade (1997, p. 6) explica que "os ativos intangíveis (conhecimento, patentes, marcas e a lealdade dos clientes) são fatores que diferenciam, em muito, uma empresa de outra. São ativos conquistados ao longo da vida da empresa, cuja parcela tangível é, normalmente, ínfima em relação ao valor total".

Hendriksen e Van Breda (1999) caracterizam os bens intangíveis como "bens que não podem ser tocados, porque não tem corpo". São considerados bens intangíveis as contas a receber, despesas pagas antecipadamente, direitos de autoria, marcas de comércio e de produtos, licenças, patentes, direitos de operação, entre outros.

Portanto, os ativos intangíveis são ativos usados na operação do negócio, mas que não têm substância física; todavia, tem significado potencial de geração de resultados. Martins (1972) cita que o goodwill é amplamente aceito como um ativo intangível que confere à empresa um potencial de geração de resultados acima do normal ou da média. Esse potencial está em atitudes que podem vir do mercado (condições monopolísticas), da administração (capacidade gerencial superior à média), de condições geográficas (localização privilegiada), enfim, do ambiente externo em que se insere a empresa e das características próprias do seu ambiente interno.

Desse modo, observa-se que a teoria contábil pouco leva em conta, pelo menos em termos de mensuração, um dos ativos intangíveis significativos de uma organização, qual seja, o capital humano, ou o talento humano que a organização possui para inovar, aprimorar seus processos, negociar com seus clientes e, a partir da soma de todos esses itens, obter uma vantagem competitiva junto ao seu mercado.

Os ativos invisíveis são, normalmente, desenvolvidos pelas pessoas que trabalham na organização. Sveiby (1998, p. 10) explicita que "as pessoas em uma organização direcionam seus esforços basicamente em dois sentidos: para fora da empresa, trabalhando com os clientes, e para dentro, mantendo e construindo a organização". Ao dirigirem seus esforços para o meio externo os trabalhadores mantêm, em nome da empresa, um relacionamento com clientes e fornecedores que pode ser estratégico. Em última análise, são eles, os trabalhadores, o elo entre a empresa e o mercado. Sob o aspecto interno, os esforços criam a estrutura interna, composta por instâncias e procedimentos, ou seja, aquilo que na literatura gerencial convencionou-se chamar de organização (SVEIBY, 1988). Mesmo que os melhores indivíduos deixem a empresa, alguma parte do vínculo interno e externo será mantida.

Desde 1996, procura-se trazer à tona um corpo de conhecimento para a área de estudos sobre Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual, por exemplo, com a criação da McMaster World Congress on the Management of Intellectual Capital and Innovation. No âmbito dessa iniciativa, Serenko et al. (2009) identificaram 436 trabalhos apresentados e publicados entre 1996 e 2008, sendo que estudos de caso correspondem à abordagem de pesquisa mais frequente, seguidos pelo desenvolvimento de frameworks e revisões de literatura. Surveys e utilização de dados secundários seriam as principais metodologias empregadas, com a utilização de entrevistas, experimentos e estudos de campo ainda pouco adotados para o desenvolvimento do corpo de conhecimento nas áreas de Gestão do Conhecimento e Gestão do Capital Intelectual.

Booker et al. (2008) discutem a relevância da pesquisa sobre Gestão do Conhecimento (GC) e Capital Intelectual (CI) identificando, empiricamente, por meio de entrevistas oito implicações para explicar o atual estágio do campo de estudo e do corpo de conhecimento acumulado: (i) são verificadas lacunas entre teoria e prática envolvendo GC e CI; (ii) os praticantes de GC e CI atribuem utilidade ao corpo de conhecimento teórico já desenvolvido para a área; (iii) os artigos acadêmicos sobre GC e IC não estão em formatos diretamente inteligíveis aos praticantes; (iv) canais indiretos de disseminação de conteúdos sobre GC e IC são de extrema importância para fixação e multiplicação de ideias (eventos e publicações jornalísticas, por exemplo); (v) existe um "mercado do conhecimento" fundamental para prover intermediação (não científica) entre acadêmicos e praticantes em GC e IC; (vi) há um sentimento claro de que serão necessárias mais pesquisas para estudar processos de distribuição de conhecimento; (vii) para os praticantes, a publicação em periódicos conceituados em indexados é menos importante para o consumo de teoria sobre GC e IC do que as propostas de um artigo facilmente acessível; (viii) a presença de guias para implementação (enfoque normativo) e sistemas de mensuração de impacto são enfoques que facilitariam aos praticantes a absorção de conceitos desenvolvidos por pesquisadores.

A mensuração dos ativos do conhecimento

É evidente que muitas dessas novas variáveis, importantes para a obtenção da vantagem competitiva nesse novo modelo de gestão empresarial, são de difícil mensuração. A mensuração torna-se importante, dentro de uma estrutura organizacional, para que seja possível avaliar os resultados atingidos dentro do que foi proposto e, até mesmo, para que se possa comparar a organização frente ao mercado em que ela atua, seus concorrentes, a satisfação de seus clientes, seus retornos decorrentes do capital nela investido, entre outros.

Terra (2000) discute a dificuldade de identificar e atribuir valor aos ativos intangíveis com base em métodos contábeis tradicionais, destacando que o lado intelectual de uma organização, os intangíveis - processos de trabalho, conhecimentos e habilidades dos funcionários, relações da empresa com clientes, fornecedores, comunidade, etc. - não são refletidos de maneira alguma nas demonstrações societárias.

Uma das razões para a dificuldade de mensuração dos ativos intangíveis é que, segundo Terra (2000), os ativos físicos dispõem de referências e padrões estabelecidos para comparação, já os ativos intangíveis, de cada empresa, são únicos -abrindo-se, aqui, uma interessante conexão estratégica com a Resource Based View (BARNEY, 1986). A RBV propõe que a vantagem competitiva sustentável deriva dos recursos exclusivos que uma organização dispõe de maneira diferenciada e não do posicionamento adotado, salientando-se o caráter de valor, raridade, impossibilidade de reprodução e organização para uso.

Eccles (2000, p. 35) cita que, na década de 1980, "muitos executivos presenciaram a deterioração dos poderosos indicadores financeiros de suas empresas, em decorrência de declínios não-percebidos na qualidade dos produtos e serviços ou no nível de satisfação dos clientes, ou ainda porque a concorrência global corroeu sua participação de mercado". Torna-se evidente que esse novo modelo de gestão implica adicionar aos seus indicadores financeiros, indicadores de desempenho que visualizem as estruturas interna e externa da organização que ainda não são contempladas pelos indicadores tradicionais.

Glautier e Underdown apud Beuren (1998, p. 7) afirmam que "a mensuração tem sido definida como a atribuição de números a objetos de acordo com regras, especificando o objeto a ser medido, a escala a ser usada e as dimensões da unidade". Esse modelo de mensuração tem sido a base dos indicadores financeiros, disponíveis hoje a qualquer empresa.

Segundo Eccles (2000, p. 32), "no âmago da revolução situa-se uma decisão radical: deixar de considerar os números financeiros a base para a mensuração do desempenho e tratá-los como apenas um entre uma gama mais ampla de indicadores".

Embora seja visível a utilização de novos indicadores que demonstrem o desempenho organizacional, não adianta adotar novos indicadores sem a sua devida mensuração. Eccles (2000, p. 33) destaca que "o que é mensurado merece atenção, sobretudo quando as recompensas estão vinculadas aos indicadores". Explica que o mero enxerto de novos indicadores nos velhos sistemas de avaliação do desempenho produz poucos resultados. Explicita que os métodos para o desenvolvimento de novos indicadores precisam evoluir com o aumento do nível de conhecimento da empresa.

Sveiby (1998) adverte que, para empresas com grandes investimentos em ativos intangíveis, os lucros não são uma boa medida de comparação, propondo que seriam mais úteis indicadores retratando a margem de lucro atrelada a um percentual de vendas ou, então, o lucro como percentual do valor agregado. Frente à oscilação das margens de lucro quando comparados os diversos setores econômicos, Sveiby (1998) considera preferível expressar a margem de lucro em relação ao valor agregado.

Assim, é evidente que a dificuldade não está em criar medidas intangíveis, mas em interpretar os resultados oriundos de tais medidas. Terra (2000, p. 164) acrescenta que "a criação de valor na Era do Conhecimento, embora não totalmente independente de transações financeiras, se expressa muito mais na qualidade do que na quantidade dos inputs, processos e resultados obtidos".

Algumas considerações já foram feitas, mas é necessário um maior estudo dessa nova forma de gerir tais ativos. É certo que, assim como cada indivíduo é único, é necessário particularizar cada caso, pois cada empresa terá que se adequar a sua realidade e descobrir a melhor maneira de medir seus ativos intangíveis.

Procedimentos Metodológicos

Para classificar a pesquisa, tomou-se como base a taxionomia apresentada por Vergara (2003), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, a pesquisa tem natureza exploratória e descritiva. Exploratória porque aprofunda a compreensão da Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual no Brasil, cujos estudos sobre tais assuntos são, ainda, incipientes. O estudo é, também, descritivo por se propor a identificar, descrever e analisar a produção científica em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual, detalhando as temáticas envolvidas, os métodos de pesquisa predominantes, a filiação acadêmica dos pesquisadores e os tipos de referências mais utilizadas.

Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, por se tratar de um estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado. Tendo como unidade de pesquisa bibliométrica o trabalho aceito pelo comitê científico, foram coletados dados primários nos anais dos Encontros Anuais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração - ENANPAD. A escolha desse universo foi intencional, e se justificou pelo motivo de o peculiar Encontro ser hoje o maior evento da comunidade científica e acadêmica de gestão de organizações no Brasil e, ainda, por ser o evento brasileiro melhor qualificado (evento científico internacional A) pelo Sistema QUALIS (CAPES).

Para a consecução do objetivo proposto, as técnicas de pesquisa utilizadas são a bibliometria e a análise de conteúdo. A bibliometria, para Macias-Chapula (1998, p. 134), "é o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação registrada". Já a análise de conteúdo, utilizada para o mapeamento dos artigos, é definida por Bardin (2004) como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter indicadores que permitam a geração de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens.

A amostra foi definida pelo critério de acessibilidade (VERGARA, 2003), sendo composta pelos anais dos últimos quinze anos, ou seja, uma análise de 1997 a 2011. A extensão do estudo foi determinada por saturação, visto que, ao retornarmos no tempo, a frequência de artigos aceitos para o Encontro se esvai a partir de 1997.

A opção por pesquisar material apresentado nos Encontros, e não aqueles publicados em periódicos, levou em conta o notório afunilamento que dificulta a disseminação de conhecimento científico no Brasil. São muitos os possíveis motivos a serem debatidos acerca do "gargalo", porém, as implicações principais são as perdas de entendimento e de formação de massa crítica nos diversos temas que deixam de ser veiculados.

O tratamento de dados foi estruturado em cinco momentos. O primeiro consistiu em uma análise geral dos anais do ENANPAD (9.027 artigos levantados), independente da divisão acadêmica ou área temática, uma vez que a área específica para o tema Gestão do Conhecimento somente foi criada a partir de 2007 (ADI-B: Gestão da Informação e do Conhecimento). Partiu-se de uma busca com as expressões "Gestão do Conhecimento", "Gestão de Conhecimento", "Knowledge Management", "Capital Intelectual", "Ativo Intangível", "Intellectual Capital" e "Intangible Asset" junto aos CD-ROM dos anais. Após identificar os artigos relacionados, estes foram agrupados por ano e divisão acadêmica. A partir daí, foi realizada a leitura completa de cada artigo, a fim de buscar maior segurança quanto à classificação proposta e quanto à seleção das informações.

No segundo momento, tratou-se de investigar e descrever os temas que os pesquisadores estão abordando em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual. Essas inferências tinham como objetivo conduzir a articulação entre Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual, temas abordados nessa direção e divisões acadêmicas do ENANPAD.

O terceiro momento consistiu em identificar e relacionar os métodos utilizados pelos autores em cada trabalho. Para facilitar esse procedimento, elaborou-se uma matriz com base nos descritores de Cooper e Schindler (2003), que foi preenchida com a análise de cada artigo. Vale ressaltar que não é objetivo deste estudo analisar a qualidade dos artigos.

No quarto momento, foi realizada análise geral sobre os autores dos artigos. Após relacionar todos os autores, foram feitas as analogias: número de autores por artigo; autores que mais publicaram no período analisado; e filiação acadêmica dos autores.

O quinto e último momento do tratamento de dados consistiu em examinar e classificar as referências utilizadas nos trabalhos, as quais foram categorizadas quanto a livros, dissertações e teses, periódicos, anais de eventos, sites da internet, outros, e, ainda, se literatura nacional ou internacional. Por fim, identificaram-se os autores mais utilizados nas referências dos artigos.

Os dados foram tratados quantitativa e qualitativamente, sendo para isso utilizado o modelo de reversibilidade apresentado por Gomes e Souza (2003). A escolha desse modelo se justifica pela possibilidade de unir as duas abordagens de pesquisa em um mesmo plano de investigação, sem prejuízo para elas. Como os próprios autores afirmam, "quantidades e qualidades estabelecem uma relação de sinédoque caracterizada pela reversibilidade" (GOMES; SOUZA, 2003, p. 8).

O procedimento para a análise das informações estabeleceu primeiro o confronto dos dados, tanto quantitativos como qualitativos, para examinar o que é ou não objeto deste estudo. Esse procedimento é chamado triangulação intramétodo (JICK apud ZANELLI, 2002).

Apresentação e Análise dos Resultados

Artigos selecionados

A operacionalização dos trabalhos apresentados em quinze Encontros da ANPAD, entre 1997 e 2011, permitiu identificar um total de 272 trabalhos relacionados à Gestão do Conhecimento e ao Capital Intelectual.

A primeira análise remete a um crescimento dos trabalhos publicados no ENANPAD relacionados tanto a temática Gestão do Conhecimento quanto a Capital Intelectual. Como observado na Figura 1, embora o período de 1997/1998 apresente seis artigos selecionados, em 1997, a ANPAD aprovou apenas um artigo (em Gestão do Conhecimento), número que se elevou gradualmente, alcançando o valor médio em 2003.


Nos últimos quatro anos, a quantidade de artigos em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual publicados anualmente quase que dobrou (vinte e seis e dezesseis, respectivamente, em 2011), referente ao valor médio do período em análise. Imagina-se que esse crescimento expressivo no número de publicações possa justificar a criação, em 2007, por parte da ANPAD, de uma área temática específica (ADI-B) para Gestão da Informação e do Conhecimento. De 1997 a 2011, a produção total de trabalhos apresentados totalizou 185 artigos sobre Gestão do Conhecimento e 87 sobre Capital Intelectual.

Quanto aos temas abordados nos artigos

Tema, segundo preconizam Barros e Lehfeld (2000), deve ser relevante e ter quadro metodológico que possibilite o seu desenvolvimento, com áreas que ainda possam ser exploradas, despertando interesse tanto pela importância do seu estudo com relação a um contexto maior, e ainda sendo considerado como tema novo e precioso. Num âmbito maior, um artigo se relaciona com outros textos e, por meio dessa relação, conecta-se com um "ramo de conhecimento específico" em alguma área da pesquisa científica (AMSTERDAMSKA; LEYDESDORFF, 1989, p. 453).

Essas inferências objetivam conduzir a articulação entre Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual, temas abordados nessa direção e divisões acadêmicas do ENANPAD. Portanto, para fins do presente estudo, o mais relevante, neste momento, são quais assuntos os pesquisadores estão abordando em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual.

A composição temática dos trabalhos selecionados pode ser observada nas Tabelas 1 e 2, nas quais se verifica que, em termos da Gestão do Conhecimento, aproximadamente 71% dos trabalhos tratam da Administração da Informação (30%), Estudos Organizacionais (15%), Estratégia em Organizações (12%), Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação (8%) e Administração de Ciência e Tecnologia (6%). As menores incidências estão em áreas mais generalistas, como Administração Estratégica, Operações, Logística e Serviços, e Recursos Humanos; cada uma com 0,6%, aproximadamente.

Em termos de Capital Intelectual, aproximadamente, 75% dos trabalhos tratam da Contabilidade e Controle Gerencial/Contabilidade (33%), Finanças e Contabilidade/Finanças (18%), Administração da Informação (7%), Estratégia em Organizações (7%) e Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação (7%). As menores incidências, como anteriormente observado, estão em áreas mais generalistas, como Administração Estratégica, Gestão de Agronegócios, Gestão e Relações no Trabalho, Marketing, Organizações e Estratégia e Organizações/Teoria das Organizações, com aproximadamente 1,5% cada uma.

Quanto aos métodos de pesquisa predominante nos artigos

Os métodos de pesquisa utilizados pelos autores dos artigos sobre Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual, no âmbito dos ENANPAD, foram caracterizados de acordo com Cooper e Schindler (2003), conforme Tabela 3. Segundo aqueles autores, existem várias definições de planejamento de pesquisa e nenhuma delas engloba todos os aspectos importantes; de forma geral, esse tipo de planejamento especifica os métodos e procedimentos para coleta, mensuração e análise de dados.

Como pode ser observado, quase todos os artigos analisados são de investigação exploratória, visando aprofundar a compreensão da Gestão do Conhecimento e assuntos correlatos. Essa realidade indica uma possível mudança no comportamento dos pesquisadores, uma vez que Cooper e Schindler (2003, p. 131) admitem que os "pesquisadores e administradores dão menos importância à exploração do que deveriam".

Quanto aos autores dos trabalhos publicados nos Anais do ENANPAD

Quanto à autoria dos trabalhos publicados, foi considerado o número de autores por artigo (Tabela 4), os autores que mais publicaram no período analisado (1997 a 2011) e as instituições representadas (Tabela 5).

É importante, ainda, ressaltar que todos os autores que publicaram mais de um artigo no período analisado estão vinculados a algum Programa de Pós-Graduação em Administração, Ciências Contábeis ou Engenharia da Produção. É razoável supor que o número de trabalhos, assim como a participação de outros programas de pós-graduação possam aumentar nos próximos anos, uma vez que as pesquisas em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual são relativamente novas no Brasil, enquanto algumas produções acadêmicas de mestres e doutores (alguns, ainda, como alunos de Pós-Graduação) estão em fase de maturação e não foram submetidas ao ENANPAD.

Do total de 55 instituições que estão pesquisando a Gestão do Conhecimento, 45% são da região sudeste e 29% da região sul do Brasil. Nos três estados representantes da região sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), são destaques a Universidade Mackenzie representada por 17 autores, a Universidade de São Paulo (USP) por 16 autores, a Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) por 12, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) por 10, e a Fundação Getulio Vargas (FGV-RIO), a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA) por seis em cada uma. Na região sul, as mais representadas foram a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com 21 pesquisadores, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com 12, a Universidade Regional de Blumenau (FURB) com cinco, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) com sete, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), cinco, e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com quatro. No nordeste, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de Fortaleza (UNIFOR) são representadas por cinco autores cada. Na região centro-oeste, a Universidade de Brasília (UNB) representada por três autores e a FGV-DF e a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD/MS) por dois autores. E, na região norte, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a Universidade Federal de Rondônia (UFRO) por dois autores. As demais instituições tiveram apenas um a dois representantes.

Das 34 instituições que abordaram Capital Intelectual, 47,88% são da região sudeste e 25,47% da região sul do Brasil. Nos três estados representantes da região sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), destaca-se a Universidade Mackenzie, representada por 12 autores, a Universidade de São Paulo (USP) por 11 autores, a Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) por cinco, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) por cinco, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) por quatro autores, e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) por dois. Na região sul, as mais representadas foram a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por dez pesquisadores, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) por seis, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) por quatro, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) por três, e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) por dois pesquisadores. No nordeste, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por seis autores, a Universidade de Fortaleza (UNIFOR), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal de Sergipe (UFSE) por três autores, e a Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) representadas por dois autores em cada uma. Na região centro-oeste, a Universidade de Brasília (UNB) por quatro autores e a Universidade Federal de Goiás (UFGO) por três autores. E, na região norte, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) por um autor. As demais instituições tiveram apenas um representante.

Quanto às fontes e referências utilizadas

Para verificar quais os tipos de referências utilizadas nos trabalhos analisados, estas foram classificadas segundo as categorias: (i) livros, (ii) dissertações e teses, (iii) periódicos, (iv) anais de eventos, (v) sites da Internet e (vi) outros. Em seguida, foram identificadas e separadas em nacional e internacional (Tabela 6).

Uma questão que pode ser destacada da Tabela 6 diz respeito ao pouco acesso dos autores brasileiros, para efeito de referencial teórico, às dissertações e teses e aos anais de eventos internacionais. Uma vez que as formulações iniciais contidas em trabalhos de primeira e segunda ordem (dissertações e apresentações em eventos) caracterizariam com maior nitidez o momento e o estado da arte, a utilização mais intensiva de materiais internacionais de terceira e quarta ordem (respectivamente periódicos e livros) poderia estar afastando os pesquisadores brasileiros de discussões sobre a formulação de novas teorias e adoção de novas práticas.

A Tabela 7 apresenta os autores mais referenciados nos artigos publicados no ENANPAD no período de 1997 a 2011.

De uma forma geral, a leitura da Tabela 7 reforça o senso comum sobre a importância dos trabalhos de Nonaka e Takeuchi como autores seminais em relação à Gestão do Conhecimento e de Karl Sveiby para a Gestão do Capital Intelectual. Nota-se, também, pelo número de citações apontadas e pela extensão da obra ao longo do tempo, o papel exercido por Peter Drucker como fonte de inspiração para ambos os temas cobertos pelo estudo bibliométrico ora apresentado. O referenciamento intensivo a Drucker poderia ser interpretado como indício de que os estudos sobre Gestão do Conhecimento e Gestão do Capital Intelectual, muito mais do que modismos, seriam essência da Administração e papéis relevantes na atividade gerencial contemporânea.

Considerações Finais

O mapeamento da produção acadêmica em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual ora realizado permite algumas considerações de relevo. Os 272 artigos identificadosi i A listagem completa contendo ano de apresentação, código, título e autores poderá ser solicitada por e-mail. no período de 15 anos, por exemplo, confirmam um crescimento expressivo na quantidade de trabalhos desenvolvidos em Gestão do Conhecimento e Capital intelectual, o que parece justificar o interesse da ANPAD em criar uma área temática específica (ADI-B) a partir de 2007.

Existe uma concentração de natureza exploratória e descritiva nas pesquisas que objetivam aprofundar a compreensão da Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual e assuntos correlatos. Essa realidade pode indicar uma possível mudança no comportamento dos autores, uma vez que os pesquisadores costumam dar menos importância à exploração do que deveriam.

Quanto à análise da autoria dos trabalhos publicados, fica evidenciado que as publicações em parceria (mais de 80% do total dos trabalhos) prevalecem sobre as publicações individuais. Isso pode indicar que mais pessoas têm estudado temas em comum na área de Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual. Em alguns casos, esses autores parceiros são de instituições diferentes, indicando uma tendência ao intercâmbio acadêmico.

Do ponto de vista de tipos de fontes e autores referenciados, constatou-se que os livros se sobrepõem à participação das demais fontes, em que se destaca o peso das obras traduzidas na composição da amostra de livros nacionais. Entre os autores referenciados observou-se o predomínio de autores estrangeiros sobre os nacionais, que se encontram concentrados em três principais autores.

Acredita-se que as informações apresentadas por esta pesquisa contribuirão, efetivamente, para visualizar e entender como tem caminhado as pesquisas e publicações acadêmicas sobre Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual no Brasil.

Uma possibilidade imediata de evolução dessa linha de estudo seria, a partir da base de artigos estudada, a construção de redes sociais afins aos temas, buscando mapear os principais atores e papéis exercidos na disseminação de conceitos e práticas. Além dessa, a realização de pesquisas para teste e verificação das implicações antevistas por Booker et al. (2008) no cenário brasileiro de difusão de teorias e práticas sobre Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual.

Em vista da constatação de uso mais intensivo de fontes de referencial teórico de terceira e quarta ordem, periódicos e livros, considera-se a participação em redes de pesquisa internacional como providência relevante para maior inserção dos estudos brasileiros na formulação e proposição de teorias sobre Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual. Alternativamente, organizar no país eventos acadêmicos internacionais dedicados ao tema, para, com a presença de gatekeepers, estruturar uma agenda brasileira de pesquisa que possibilite integração local e articulação internacional.

Aparentemente, permanecemos sem soluções, discutidas e contextualizadas à realidade brasileira, sobre como gerar valor a partir de conversões de conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) e como reconhecer, evidenciar e mensurar esse valor (SVEIBY, 1998) para agentes internos e externos às organizações.

O passo antevisto como necessário e de desfecho dessa linha de pesquisa consistiria no aprofundamento das implicações epistemológicas e ontológicas dos estudos brasileiros sobre Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual:

• as abordagens sobre Gestão do Conhecimento parecem pressupor a capacidade de interferir objetiva e intencionalmente nos limites e na distinção de aspectos cognoscíveis e incognoscíveis às organizações;

• as práticas de Gestão do Conhecimento visam à obtenção de conhecimento organizacional certo e seguro, mesmo sob a égide de um modelo mental a priori sobre as práticas gerenciais;

• quais as possibilidades de distinção legítima entre conhecimento teórico e conhecimento técnico, com implicações para os componentes do Capital Intelectual e o valor de uma organização;

• que critérios de evidenciação legitimam os componentes do Capital Intelectual como fontes e fluxos de valor nas organizações;

• até que ponto um autor, isoladamente, poderá abranger em número suficiente de perspectivas para retratar esse novo campo de entendimento de uma dita nova realidade organizacional;

• o contexto, na condição de formador de uma realidade, obriga à constituição de conhecimentos organizacionais localizados ou de aplicação genérica;

• o trabalhador, como agente sociocultural, interfere positiva ou negativamente na construção e disseminação do conhecimento organizacional;

• em que modalidades de conversão de Conhecimento operam as organizações brasileiras e como elas interferem na formação de Capital Intelectual e Valor;

• o Conhecimento, enquanto Capital Intelectual, e este, enquanto Valor, são passíveis de representação quantitativa monetária ou em alguma outra dimensão de análise.

Para tanto, caberiam explorações adicionais em profundidade sobre o conteúdo - suposições e conjecturas - dos autores e trabalhos visitados por ocasião desse estudo bibliométrico. Longe de haver uma produção sobre os temas excessivamente concentrada em poucos autores, as estatísticas apontam para um grupo de referência no país, porém, disperso e aparentemente não interagindo por meio de pesquisas comuns.

O método utilizado neste estudo apresentou certas limitações. Entre elas destacam-se: (i) a necessidade de abrir interlocuções com os autores dos artigos analisados; (ii) a necessidade de analisar a efetividade dos artigos ou dos métodos utilizados do ponto de vista da implicação acadêmica e gerencial; e (iii) realizar cruzamento com publicações de outros eventos e periódicos. Mesmo diante das limitações referenciadas, todavia, considerou-se o método utilizado como suficiente para alcançar o objetivo de apresentar um panorama preliminar da produção científica em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual no Brasil.

Artigo recebido em 01/02/2011

Última versão recebida em 08/05/2012

Artigo aprovado em 24/05/2012

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      01 Fev 2011
    • Aceito
      24 Maio 2012
    • Revisado
      08 Maio 2012
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