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DOMESTICAÇÃO E ESTRANGEIRIZAÇÃO EM DUAS TRADUÇÕES PARA O INGLÊS DE A PAIXÃO SEGUNDO G.H., DE CLARICE LISPECTOR

DOMESTICATION AND FOREIGNIZATION IN TWO ENGLISH TRANSLATIONS OF A PAIXÃO SEGUNDO G. H., BY CLARICE LISPECTOR

Resumo

O presente artigo propõe a comparação da tradução realizada por Ronald W. Sousa (LISPECTOR, 2010LISPECTOR, Clarice. The Passion According to G.H. Tradução de Ronald de Sousa. [1988] 7.ed. Minneapolis: Un. of Minnesota Press, 2010.) e da retradução de Idra Novey (LISPECTOR, 2012______. The Passion According to G.H. Tradução de Idra Novey. Nova York: New Directions Books, 2012.) de A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector, para o inglês, publicadas nos Estados Unidos, com o propósito de verificar quantitativamente a chamada “hipótese da retradução” de Berman (1990)______. La retraduction comme espace de la traduction. Palimpsestes, n. 4, Paris, Sorbonne Nouvelle, 1990, p. 1-9., segundo a qual a primeira tradução de uma obra literária é mais etnocêntrica e as retraduções menos etnocêntricas. Para tanto, utilizamos o Método das Modalidades de Tradução (MMT) de Francis H. Aubert (1998)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., derivado dos procedimentos técnicos da tradução de Jean-Paul Vinay e Jean Darbelnet publicados em 1958 (1995). A fundamentação teórica apresenta um percurso da retradução desde 1990 até nossos dias e os conceitos de “domesticação” e “estrangeirização” de Venuti (1992VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., 1995)______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008., levando em conta os aspectos éticos relacionados.

Palavras-chave
Retradução; Modalidades de Tradução; Domesticação/ Estrangeirização; Análise Quantitativa

Abstract

This article aims to compare the English translation realized by Ronald W. Sousa (LISPECTOR, 2010LISPECTOR, Clarice. The Passion According to G.H. Tradução de Ronald de Sousa. [1988] 7.ed. Minneapolis: Un. of Minnesota Press, 2010.) with the retranslation by Idra Novey (LISPECTOR, 2012______. The Passion According to G.H. Tradução de Idra Novey. Nova York: New Directions Books, 2012.) of A Paixão Segundo G.H., by Clarice Lispector, published in the United States, in order to quantitatively verify Berman’s so called “retranslation hypothesis” (1990), whereby the first translation of a literary work is more ethnocentric than the retranslations. Therefore, we use Francis H. Aubert’s (1998)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128. Modalities of Translation Method (MMT), derived from Jean-Paul Vinay and Jean Darbelnet’s technical procedures published in 1958 (1995). The theoretical framework presents some ideas on retranslation, from the 1990s to the present, and Venuti’s (1992VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., 1995______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008.) concepts of domestication and foreignization, taking into account their ethical implications.

Keywords
Retranslation; Modalities of Translation; Domestication/ Foreignization; Quantitative Analysis

Introdução

De acordo com o sociolinguista Calvet (2007, p. 48)CALVET, Louis-Jean . La mondialisation au filtre des traductions. Hermès, n. 49, Paris, 2007, p.45-57., as línguas se relacionam em termos gravitacionais, sendo o inglês a língua hipercentral, em torno da qual gravitam uma dezena de línguas supercentrais. Em torno dessas línguas supercentrais gravitam de 100 a 200 línguas centrais, que por sua vez são gravitadas por 4 a 5 mil línguas periféricas, entre as quais está o português.

Historicamente, esse quadro se estabelece, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial com o desenvolvimento da hegemonia dos Estados Unidos, o crescimento de sua tendência ao monolinguismo e o aumento do uso do inglês como língua franca e hipercentral. Consequentemente, houve uma diminuição, nesse país, de seu interesse pela literatura estrangeira. Além disso, segundo Venuti (1992)VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., as traduções literárias realizadas seguiam, em sua maioria, uma estratégia de fluência. No início dos anos 1990, Venuti (1992, p. 5-6)VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992. apresenta estatísticas a esse respeito nos Estados Unidos e no Reino Unido1 1 Venuti usa as estatísticas anuais apresentadas por Chandler B. Grannis, em Publishers Weekly, Set. 1989, 1990, 1991. Para as estatísticas britânicas, usa o Whitaker’s Almanack dos anos 1986 a 1991 (3,5 % nos EUA e 2,5 % no Reino Unido). e, três anos depois, o autor acrescenta que, embora a produção editorial total em língua inglesa “tenha aumentado quatro vezes desde a década de 1950, o número de traduções quase não cresceu” (VENUTI, 2008______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008., p. 122 2 Exceto indicação contrária, todas as traduções são da nossa autoria. ); pelo contrário, podemos dizer que, proporcionalmente, diminuiu.

Nos anos 2000, do total dos livros de todos os gêneros publicados nos Estados Unidos apenas 3% são traduções3 3 Segundo Rochester.edu: The Three Percent, uma pesquisa de literatura internacional na Universidade de Rochester, 2005. , das quais a tradução de literatura representa apenas um número próximo de 0,7 %, sendo ainda menor o número de retraduções (2005)4 4 Berman define retradução: “Toute traduction faite après la première traduction d’une œuvre est donc une retraduction” [Toda tradução feita depois da primeira tradução de uma obra é uma retradução]. (BERMAN, 1990, p. 1). Neste artigo, consideramos retradução a tradução feita, depois de uma primeira tradução, para a mesma língua de chegada. . É dentro desses 0,7 %, portanto, que se enquadram a tradução e a retradução de A Paixão Segundo G.H. (doravante APSGH), de Clarice Lispector, obra literária escrita em português – língua periférica –, traduzida para o inglês – língua hipercentral.

A primeira tradução de APSGH para a língua inglesa, The Passion According to G.H., foi feita por Ronald W. Sousa, em 1988. Nascido na California, filho de pai imigrante dos Açores, possui um vasto currículo como escritor, tradutor, professor de espanhol, português e literatura comparada em várias universidades. Já a retradução homônima, de 2012, foi realizada por Idra Novey. Poeta, professora e tradutora, nasceu na Pensilvânia e aprendeu português “em parte para sentir como APSGH soava no original” (LISPECTOR, 2012______. The Passion According to G.H. Tradução de Idra Novey. Nova York: New Directions Books, 2012., p. 193), tendo vivido no Chile, no Brasil e, atualmente, em Nova York.

Em nota à sua tradução, intitulada “Era uma vez, dentro de um quarto”, diz Sousa:

APSGH tem vários usos de linguagem não tradicionais, constituída por segmentos não totalmente arrumados linearmente, repetitivos, com adições e eliminações […] idas e voltas e com cada movimento vem a reelaboração de temas já estabelecidos de modos radicalmente diferentes. O texto também tem: inconsistências de pontuação; justaposição de frases coloquiais, frases poéticas e frases completamente não portuguesas; criação de alusões fictícias; reuso de termos aparentemente importantes com significado levemente diferente, parecendo evitar a criação de uma terminologia consistente […] violação de gramática e sintaxe tradicional […]. (LISPECTOR, 2010LISPECTOR, Clarice. The Passion According to G.H. Tradução de Ronald de Sousa. [1988] 7.ed. Minneapolis: Un. of Minnesota Press, 2010., p.viii)

Pelas particularidades da linguagem de Lispector, Sousa (LISPECTOR, 2010LISPECTOR, Clarice. The Passion According to G.H. Tradução de Ronald de Sousa. [1988] 7.ed. Minneapolis: Un. of Minnesota Press, 2010., p. ix) assume que “procurou tornar o texto mais convencional que o original”. E, como resultado, a tradução “perdeu algo da ambiguidade e idiossincrasia que é parte do original”, deixando transparecer uma postura mais domesticadora5. Já Novey (LISPECTOR, 2012______. The Passion According to G.H. Tradução de Idra Novey. Nova York: New Directions Books, 2012., p. 192) se perguntava: “Quando priorizar a música, quando o sentido nesse livro?” Benjamin Moser (2011, p. 2)MOSER, Benjamin. Brazil’s Clarice Lispector gets a second chance in English. Publishing Perspectives, 2011. Disponível em: http://publishingperspectives.com/2011/12/brazil-claire-lispector-second-chance-in-english/#.VpP166ar9OE . Acesso em: 2013.
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, o editor da retradução, disse que “queria que os tradutores soassem como Clarice” até quando eles, “mesmo inconscientemente, tentassem suavizá-la”. Ao que tudo indica, Novey, que revela, a nosso ver, um olhar mais estrangeirizador, deixou-se “pastorear”, como diria o próprio Moser, procurando aproximar-se da autora de APSGH:

Cada autor que traduzi tornou-se uma espécie de visitante, alterando o que eu esperava encontrar – ou perder – na minha sala de visitas, o que eu colocava lá – ou tirava – de minha própria escrita. Mas a voz de nenhum outro autor teve um efeito tão profundo em mim como a dessa escritora brasileira Clarice Lispector. Enquanto traduzia seu romance A Paixão Segundo G.H., descobri que ela passou a morar em minha vida com tal intensidade que era impossível esquecer sua respiração alterando as frases mesmo quando estava sentada comendo com reais visitas em minha casa. […] Às vezes, eu ouvia minha própria voz como se estivesse vindo através da sala e tendo que fazer um esforço para voltar ao meu self desabitado. (NOVEY, 2014______. Clarice: the visitor. The cahiers series, Londres, n.23, 2014, p.1-40., p. 5)

Moser (2011)MOSER, Benjamin. Brazil’s Clarice Lispector gets a second chance in English. Publishing Perspectives, 2011. Disponível em: http://publishingperspectives.com/2011/12/brazil-claire-lispector-second-chance-in-english/#.VpP166ar9OE . Acesso em: 2013.
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, que teve o mérito de organizar e editar as traduções de obras consideradas “difíceis” de Clarice Lispector, em 2012, e de tentar respeitar o que considerava ser a estrangeiridade da autora em questão, comentou em Brazil’s Clarice Lispector Gets a Second Chance in English sobre “a conhecida dificuldade de um autor ser traduzido para o inglês e, mais rara ainda, a oportunidade de ser traduzido duas vezes” (MOSER, 2011MOSER, Benjamin. Brazil’s Clarice Lispector gets a second chance in English. Publishing Perspectives, 2011. Disponível em: http://publishingperspectives.com/2011/12/brazil-claire-lispector-second-chance-in-english/#.VpP166ar9OE . Acesso em: 2013.
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)6 6 […] it’s rare enough to get one chance to be translated into English. It’s even rarer – almost unherad of – to get two. . A retórica de Lispector é tão estranha e inesperada que às vezes pode ser díficil de ler. Assim, nas traduções, esse fato poderia ser atribuído aos tradutores: tanto porque algumas partes, estranhas em português, permaneceram estranhas em inglês, quanto porque outras vezes o que não era estranho em português tornou-se estranho em inglês e, outras vezes, partes estranhas em português foram domesticadas em inglês. Johnson (2012)JOHNSON, Brad. Too foreign. The New Inquiry, 2012. Disponível em: http://thenewinquiry.com/essays/too-foreign. Acesso em: 10/05/2013.
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, em resenha, por ocasião da publicação da retradução de APSGH, ao comparar as duas traduções, questiona: “Estamos lendo Lispector ou meramente seus tradutores? Somos capazes de atingir seu estilo quando sua língua é estranha para nós?” (JOHNSON, 2012JOHNSON, Brad. Too foreign. The New Inquiry, 2012. Disponível em: http://thenewinquiry.com/essays/too-foreign. Acesso em: 10/05/2013.
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)7 7 Too foreign: Are we reading Lispector at all, or merely her translators? Are we capable of accessing her style when her language is foreign to us? .

Considerando o exposto, o presente artigo aborda a comparação da tradução, feita por Sousa (LISPECTOR, 2010LISPECTOR, Clarice. The Passion According to G.H. Tradução de Ronald de Sousa. [1988] 7.ed. Minneapolis: Un. of Minnesota Press, 2010.) e da retradução, feita por Novey (LISPECTOR, 2012______. The Passion According to G.H. Tradução de Idra Novey. Nova York: New Directions Books, 2012.), de APSGH com o propósito de verificar experimental e quantitativamente do ponto de vista linguístico a “hipótese da retradução” de Berman (1990)______. La retraduction comme espace de la traduction. Palimpsestes, n. 4, Paris, Sorbonne Nouvelle, 1990, p. 1-9., segundo a qual a primeira tradução de uma obra é mais etnocêntrica e as retraduções menos etnocêntricas. Para tanto, utilizaremos o Método das Modalidades de Tradução (MMT) de Francis H. Aubert (1984AUBERT, Francis H. et al. Descrição e Quantificação de Dados em Tradutologia. Tradução e Comunicação, n. 4, São Paulo, 1984, p. 71-82., 1998)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., derivado dos procedimentos técnicos da tradução de Jean-Paul Vinay e Jean Darbelnet (1995)VINAY, Jean-Paul; DARBELNET, Jean. Comparative stylistics of French and English: a methodology for translation [1958]. Amsterdã, Filadélfia: John Benjamins, 1995., e os conceitos de domesticação e estrangeirização de Venuti (1995 p. 16-20)VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., levando em conta os aspectos éticos relacionados. A nosso conhecimento, não há precedentes do trabalho que ora se realiza para a verificação quantitativa da referida hipótese.

Os movimentos tradutórios e a hipótese da retradução

Desde a publicação do renomado artigo de Berman, “La retraduction comme espace de la traduction”, no quarto número da revista Palimpsestes, em 1990, multiplicou-se a discussão sobre o tema da retradução. Entretanto, a maior parte dos trabalhos publicados a respeito, uns em favor da proposta bermaniana, outros contra, não avaliou a hipótese de modo empírico. Apesar de pouco analisado quantitativamente, o fenômeno da retradução tem sido muito valorizado e descrito. Tahir-Gürçağlar (2009, p. 233)TAHIR-GÜRÇAĞLAR, Şehnaz. Retranslation. In:. BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriela. (Org.). Routledge Encyclopedia of Translation Studies. 2. ed. Nova York: Routledge, 2009. p.233-236. considera que “a retradução, no campo da literatura, geralmente, é vista como um fenômeno positivo, que leva à diversidade e à ampliação das interpretações já disponíveis do texto de partida”. Após catorze anos, Palimpsestes publica mais um número dedicado à retradução e nele Annie Brisset (2004, p. 39)BRISSET, Annie. Retraduire ou le corps changeant de la connaissance. Palimpsestes, n.15, Paris, Sorbonne Nouvelle, 2004, p.39-67. destaca o original e a criatividade do tradutor no processo de (re)traduzir, em seu artigo “Retraduire ou le corps changeant de la connaissance”, dizendo: “entre a tradução e a retradução, o texto original serve de árbitro e de referência”, e reafirma a importância da retradução, não somente para levar o leitor mais próximo do autor, mas para penetrar no processo “traduzinte”. Nos Estados Unidos, Deane-Cox (2014, p. 1)DEANECOX, Sharon, Retranslation, Translation, Literature and Reinterpretation. London, New York: Bloomsbury, 2014. p. 207. 8 8 Retranslation is very much a temporal phenomenon […] marked as it is by a mercurial inconstancy with regard to frequency, behaviour and motivations. afirma que “a retradução é principalmente um fenômeno temporal” e que, além disso, é “marcada por uma inconstância mercurial em relação à frequência, aos comportamentos e às motivações”, acrescentando à sua reflexão fatores socioculturais. Na França, Monti (2011)MONTI, Enrico. La retraduction, un état des lieux. In: MONTI, Enrico; Schnyder, (Org.) Autour de la retraduction. Paris: éd. Orizons, 2011. p. 9-29. considera que “a retradução, embora cada vez mais importante no espaço literário europeu, é pouco estudada no nível teórico” (MONTI, 2011MONTI, Enrico. La retraduction, un état des lieux. In: MONTI, Enrico; Schnyder, (Org.) Autour de la retraduction. Paris: éd. Orizons, 2011. p. 9-29., p. 9). Dentro do tema, Paloposki e Koskinen (2001)PALOPOSKI, Outi; KOSKINEN, Kaisa. A thousand and one translations. Revisiting retranslation. Claims, Changes and Challenges in Translation Studies. EST Congress, Copenhagen, 2001, p. 27-38. perguntam até que ponto a “hipótese da retradução” se apoiaria em evidência empírica e sugerem mais estudos nesse sentido, apoiando ou contrariando a hipótese. Aí se insere a pertinência do presente trabalho de base linguístico-quantitativa, uma vez que procuramos verificar se, em nosso corpus, a “hipótese da retradução” se confirmaria, contribuindo, assim, para complementar, por evidências empíricas, os estudos qualitativos já realizados e para sugerir estudos posteriores a partir de outras abordagens.

Embora as estratégias de tradução tenham sido desde sempre discutidas, foi principalmente no Romantismo Alemão que os estudiosos priorizaram a importância cultural da tradução nesse quesito. Dentre eles destaca-se Schleiermacher (2001)SCHLEIERMACHER, Friedrich. Sobre os diferentes métodos de tradução [1813]. In: Clássicos da Teoria da Tradução v. 1. HEIDERMANN, Werner (Org).Tradução de Margarete Von Mühlen Poll. Florianópolis: Antologia Bilingue. Florianópolis: UFSC. 2001. p. 26-87. que, em sua célebre conferência de 1813, “Über die verschiedenen Methoden des Übersetzens” [“Sobre os diferentes métodos de tradução”], diz (p. 28) que “cada pessoa é dominada pela língua que fala, ela e todo o seu pensamento são produto dela” e afirma que o contato com o diferente é enriquecedor, pois, “ao entrar em contato com outra língua […] o pensamento se enriquece”, contrapondo, em consequência, a Dolmetschen (interpretação) à Übersetzung (tradução no sentido interlinguístico) e chegando, finalmente, aos dois métodos de traduzir: “ou o tradutor deixa o escritor em paz e leva o leitor até ele, ou deixa o leitor em paz e leva o autor até ele” (SCHLEIERMACHER, [1813] 2001SCHLEIERMACHER, Friedrich. Sobre os diferentes métodos de tradução [1813]. In: Clássicos da Teoria da Tradução v. 1. HEIDERMANN, Werner (Org).Tradução de Margarete Von Mühlen Poll. Florianópolis: Antologia Bilingue. Florianópolis: UFSC. 2001. p. 26-87., p. 27). Esses dois métodos foram resgatados contemporaneamente (década 1990) por Berman e Venuti, nessa ordem segundo Snell-Hornby (2006, p. 145-146)SNELL-HORNBY, Mary. The turns of Translation Studies: new paradigms or shifting viewpoints? Amsterdam, Philadelphia: John Benjamins, 2006., para quem os trabalhos de Berman são “intermediários” entre as ideias de Schleiermacher e de Venuti, na medida em que este último põe novamente em foco e desenvolve de forma contundente o tema dos dois modos de tradução para concebê-la como o espaço da diferença.

Berman (2002)______. A prova do estrangeiro. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002. considera a tradução literal a estratégia mais apropriada para traduzir um texto literário, pois somente ela permitiria a manifestação da estrangeiridade da obra na tradução. Julgando antiética a tradução etnocêntrica, considera “insatisfatória”9 9 Berman usa o adjetivo “mauvaise”, que traduzimos por “insatisfatória”. a tradução que “opera uma negação sistemática da estranheza da obra estrangeira” (BERMAN, 2002______. A prova do estrangeiro. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002., p.18). Entre o etnocentrismo e o literalismo, porém, há, segundo o autor, uma linha divisória que não se identifica facilmente e na qual “pode estar o terrível da diferença, mas também sua maravilha; o estrangeiro apareceu sempre assim: demônio ou deusa” (BERMAN, 2002______. A prova do estrangeiro. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002., p. 277). É nesse espaço que se operaria a tradução:

A tradução se situa justamente nessa região obscura e perigosa, na qual a estranheza desmedida da obra estrangeira e sua língua corre o risco de se abater com toda a sua força sobre o texto do tradutor e sua língua, arruinando assim a sua empresa [...]. Mas se esse perigo não for enfrentado, corre-se o risco de cair imediatamente em outro perigo: o de matar a dimensão do estrangeiro. A tarefa do tradutor consiste em enfrentar esse duplo perigo e, de uma certa maneira, em traçar ele próprio, sem nenhuma consideração pelo leitor, a linha divisória. (BERMAN, 2002______. A prova do estrangeiro. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru: EDUSC, 2002., p. 278)

A nosso ver, é nessa “linha divisória” e nessa região “obscura e perigosa” que toma corpo a hipótese da retradução10 10 A hipótese não se verifica necessariamente para a tradução de literatura para crianças e para o teatro (ver Aaltonen, 2003, p. 141 e Desmidt, 2009, p. 669). de Berman cujos conceitos, baseados numa ética da alteridade, de tradução à la lettre e de tradução etnocêntrica encontram eco nos conceitos político-ideológicos de foreignization (estrangeirização) e domestication (domesticação) de Venuti (2008)______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008..

Venuti abordou o tema das estratégias contextualizando-o principalmente à questão das traduções para a língua inglesa e considerando que a estratégia de fluência em tradução, ao promover a imposição de valores, crenças e representações culturais, decreta um imperialismo anglófono.

À estratégia de fluência, que aproxima o autor do leitor, fazendo uma redução etnocêntrica do texto estrangeiro aos valores da cultura receptora e aniquilando sua alteridade, Venuti (2008, p. 20)______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008. denomina de tradução domesticante ou domesticadora. Nesse sentido, domesticar pode ser entendido como submeter e dominar. Já a estratégia que leva o leitor ao autor, respeitando as diferenças culturais, é chamada por Venuti de estrangeirização. Para ele, esta estratégia tem consequências políticas e ideológicas: sendo uma forma de resistência é, também, uma escolha ética (2008, p. 20), mesmo que “a maioria dos editores, críticos, leitores e até tradutores considere boa a tradução que pode ser fluentemente lida, dando a impressão de que se trata do original” (VENUTI, 1992VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., p. 4).

Kruger (2016)KRUGER, Haidee. Fluency/resistancy and domestication/foreignization: a cognitive perspective. Target – International Journal of Translation Studies, Amsterdam, v. 28-1, 2016, p.4-41. resume as ideias de Venuti e diz que os termos “domesticação” e “estrangeirização” não estabelecem uma oposição binária pura que se sobreponha às estratégias discursivas “fluente” e “resistente”. O primeiro conjunto de termos indica atitudes éticas, tanto pela escolha de um texto para tradução como pela estratégia usada, já o segundo conjunto de termos indica, basicamente, aspectos discursivos das estratégias em relação ao processo cognitivo do leitor. Os dois conjuntos domesticação/ estrangeirização e fluência/resistência11 11 Note-se que “resistência”, mantido em respeito à tradução já consagrada no Brasil, não dá conta do valor neológico do termo resistancy de Venuti (2010). Tal reflexão, no entanto, não será aqui desenvolvida. operam em dois níveis ontológicos distintos. Para essa autora, os conceitos “domesticação” e “estrangeirização” funcionam no mesmo nível ontológico, que se articula em duas expressões: “atitudes fundamentalmente éticas” e “efeitos éticos”, sendo que estes últimos se referem à escolha do texto para tradução e à estratégia pretendida para traduzi-lo. O outro conjunto de conceitos, “fluência” e “resistência”, funciona em um nível mais elevado, das carecterísticas textuais e do processo cognitivo do leitor. Nesse nível, as estratégias são informadas por atitudes éticas e levam a efeitos éticos (KRUGER, 2016KRUGER, Haidee. Fluency/resistancy and domestication/foreignization: a cognitive perspective. Target – International Journal of Translation Studies, Amsterdam, v. 28-1, 2016, p.4-41. p. 24).

Uma das maiores pensadoras dos estudos da tradução, interessada no contexto pós-colonial, em tradução resistente e em questões políticas, Maria Tymoczko (2000, p. 34)TYMOCZKO, Maria. Translation and Political Engagement: Activism, Social Change and the Role of Translation in Geopolitical Shifts. The Translator, v. 6:1, 2000, p. 23-47. Em http://dx.doi.org/10.1080/13556509.2000.10799054. Acesso em 01/05/2016
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, critica Venuti pelo uso de uma “terminologia não unificada, que lhe permite especular e alterar a base de sua argumentação como lhe convém, sem se comprometer com as particularidades”. Entretanto, essa autora considera funcional a definição de Venuti segundo a qual “uma tradução resistente pode ser caracterizada tanto pela estratégia discursiva adotada como pela escolha do texto” (TYMOCZKO, 2000TYMOCZKO, Maria. Translation and Political Engagement: Activism, Social Change and the Role of Translation in Geopolitical Shifts. The Translator, v. 6:1, 2000, p. 23-47. Em http://dx.doi.org/10.1080/13556509.2000.10799054. Acesso em 01/05/2016
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, p. 36). Entretanto, Tymoczko ainda conclui que “nenhuma abordagem ou estratégia é suficiente – seja literal ou livre, ‘domesticante’ ou ‘estrangeirizante’” (TYMOCZKO, 2000TYMOCZKO, Maria. Translation and Political Engagement: Activism, Social Change and the Role of Translation in Geopolitical Shifts. The Translator, v. 6:1, 2000, p. 23-47. Em http://dx.doi.org/10.1080/13556509.2000.10799054. Acesso em 01/05/2016
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, p. 42).

Outros teóricos da tradução também consideram que os binários não persistem e que o melhor deles tende a ser invalidado, assim como a polaridade fluente/resistente ou domesticante/estrangeirizante de Venuti. Em tempos mais atuais, e de acordo com Sun (2012)SUN, Sanjun. Strategies of Translation, 2012. Disponível em: www.sanjun.org/TranslationStrategies.html. Acesso em 15/12/2013.
www.sanjun.org/TranslationStrategies.htm...
, o termo “estratégias de tradução” tem sido empregado como sinônimo de técnicas, métodos e abordagens, determinados por múltiplos fatores culturais, econômicos e políticos, referindo-se tanto às descrições dos resultados como aos procedimentos. As diversas polaridades descritas, embora tenham muito em comum, apontam para perspectivas relacionadas à função, ao tipo de texto ou à motivação. Entretanto, Sun (2012)SUN, Sanjun. Strategies of Translation, 2012. Disponível em: www.sanjun.org/TranslationStrategies.html. Acesso em 15/12/2013.
www.sanjun.org/TranslationStrategies.htm...
considera que podemos dividir as estratégias em duas grandes categorias: tradução literal versus tradução livre, embora as encontremos sob diferentes denominações. No entanto, como versus indica oposição, Hatim e Munday (2004, p. 229-230)HATIM, Basil : MUNDAY, Jeremy. Translation: an advanced resource book. Routledge, 2004. concluem que “as dicotomias forma-estilo, conteúdo-sentido e tradução literal-tradução livre não devem ser consideradas polos opostos, mas uma gradação”. Assim consideradas, as estratégias incluem os vários possíveis procedimentos tradutórios, que podem, então, ser dispostos em forma de escala.

Numa escala, uma tradução mais fluente parece ser mais confortável para o leitor, ao passo que uma tradução mais estranha pode trazer-lhe certo incômodo. A essas duas situações podemos associar, respectivamente, o “princípio do prazer” (FREUD, 1911FREUD, Sigismund. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. v. 14. Tradução de Gladston Parente. São Paulo: Editora Delta S.A, 1911.), pelo qual se busca uma gratificação sem considerar as consequências, e o “princípio da realidade”, que se caracteriza pelo adiamento ou renúncia da gratificação em função da imposição da realidade, conceitos desenvolvidos por Freud (1911)FREUD, Sigismund. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. v. 14. Tradução de Gladston Parente. São Paulo: Editora Delta S.A, 1911.. Como disse Aratangy (2015, p. 16)ARATANGY, Lidia, R. Drogas: o que a escola tem com isso? São Paulo: Editora Melhoramentos, 2015., “é difícil renunciar a uma gratificação imediata em nome da promessa de um prazer distante, ainda que este possa trazer satisfações mais intensas e duradouras”. De um lado, o princípio do prazer vincula-se ao movimento domesticador, que gera, para os leitores da tradução, uma leitura mais palatável, de prazer imediato. Entretanto, embora aparentemente mais agradável, esse movimento, ao deixar de lado a estrangeiridade, pode acabar por subjugar o texto. De outro lado, o princípio da realidade solidariza-se com o movimento estrangeirizador, que engendra, para os leitores, uma leitura menos palatável no contexto imediato, em que a gratificação da recepção é adiada e não subordinada culturalmente às forças hegemônicas. Por esses motivos, sugere que:

[...] na medida que a tradução estrangeirizante procura restringir a violência etnocêntrica da tradução, ela é altamente desejada, uma intervenção cultural estratégica no estado atual da cena mundial, lançada contra a hegemonia das nações falantes de inglês e contra as trocas culturais desiguais nas quais envolvem seus outros globais. (VENUTI, 2008______. The translator’s invisibility: a history of translation. [1995] 2.ed. Londres, Nova York: Routledge, 2008., p. 20; grifos nossos12 12 […] insofar as foreignizing translation seeks to restrain the ethnocentric violence of translation, it is highly desirable today, a strategic cultural intervention in the current state of world affairs, pitched against the hegemonic English-language nations and the unequal cultural exchanges in which they engage their global others. )

E, principalmente no contexto estadunidense das traduções para a língua inglesa, Venuti considera que:

[...] uma estratégia de fluência faz um trabalho de aculturação que domestica o texto estrangeiro, tornando-o inteligível e até familiar ao leitor(a) da língua de chegada, dando-lhe uma vivência narcísica de reconhecimento de sua própria cultura no outro cultural, decretando um imperialismo que estende o domínio da transparência com outros discursos ideológicos sobre uma cultura diferente. Além disso, como a fluência leva a traduções eminentemente legíveis e, portanto, consumíveis no mercado editorial, auxilia para que se tornem mercadoria de consumo13 13 “Commoditation [sic]” no original. e contribui para a hegemonia cultural e econômica dos editores da língua de chegada. (VENUTI, 1992VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., p. 5; grifo nosso14 14 (a) fluent strategy performs a labor of acculturation which domesticates the foreign text, making it intelligible and even familiar to the target-language reader, providing him or her with he narcissistic experience of recognizing his or her own culture in a cultural other, enacting an imperialism that extends the dominion of transparency with other ideological discourses over a different culture. Moreover, since fluency leads to translations that are eminently readable and therefore consumable on the book market, it assists in their coommodification and contributes to the cultural and economic hegemony of targe-language publishers. )

Venuti mostra como, pela domesticação, a tradução se submete à cultura de chegada e, assim, considera importante privilegiar a estrangeirização numa contraposição à postura colonizadora de países hegemônicos que traduzem de acordo com seus interesses: “a estrangerização deveria ser introduzida em um contexto cultural ‘monolingual agressivo’ como o anglo-americano, que tem uma legislação que define a tradução como sub-produto de um original, cujos direitos pertencem ao autor” (VENUTI, 1995VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992., p. 15; grifo nosso).

Fugindo da binaridade, a perspectiva que adotamos é a de observar a tendência na orientação dos movimentos da tradução e da retradução, nas estratégias adotadas pelos tradutores e, assim, testar quantitativamente a hipótese bermaniana, uma vez que

Uma das decisões que o tradutor de literatura tem que tomar […] é qual o tipo de estratégia de tradução ele deseja seguir, isto é, se vai traduzir de um modo mais estrangeirizante ou domesticante. Mesmo tendo tomado essa decisão, nenhuma das duas estratégias pode ser seguida de modo puro e consistente, pois todas as traduções literárias, por sua própria natureza, inevitavelmente, contêm uma mistura de diferentes substituições que são ora estrangeirizantes ora domesticantes. 15 15 One of the decisions a literary translator has to make before getting to work is what overall translation strategy he or she wishes to follow, i.e. whether to translate in a more foreignizing or domesticating way. And even after having made this decision neither of the two strategies can be followed in a pure and consistent way, as all literary translations, by the very nature of translation, inevitably contain a mix of different translation shifts that are either foreignizing or domesticating. (VAN POUCKE, 2012VAN POUCKE, Piet. Domestication and foreignization is Translation Studies. TransUD-arbeiten zur Theorie und Praxis des Ubersetzens und Dolmetschens 46 (Measuring foreignization in literary translation: an attempt to operationalize the concept of foreignization). Berlim: Frank & Timme, 2012. p.139-157., p. 139)

Desse modo, observamos o espaço periférico em que ambas se introduzem nos Estados Unidos, seus espaços ontológicos e a linha divisória que compreende a linguagem da autora e de seus tradutores para examinar, sem valorações, suas linhas mestras estratégicas subjacentes.

A apropriação e a alteridade dos espaços: as modalidades de tradução

Segundo Godard (2001, p. 54)GODARD, Barbara. L’éthique du traduire: Antoine Berman et la “virage éthique” en traduction. TTR: traduction, terminologie, rédaction, Montreal: Canadá, v.14, n.2, 2001, p.49-82., a visão ética de Berman é uma reflexão crítica que vê a tradução como um modo de autoconhecimento que consiste em reconhecer e receber o outro como outro. Para a autora, que caracteriza esse momento como uma “Virada Ética” em tradução, esse reconhecimento da alteridade constitui o fundamento de todas as mudanças e de todo “intercâmbio social livre” e, portanto, preconiza que a tradução é o “modelo” de todo processo interlinguístico, intercultural, interliterário e interdisciplinar.

Nesse sentido, não se pode deixar de lembrar a influência de Hélène Cixous na divulgação da obra de Lispector, principalmente com os livros Vive l’orange e L’heure de Clarice Lispector. Em sua leitura idiossincrática, Cixous, segundo Carrera (1990, p. 85)CARRERA, Elena. The Reception of Clarice Lispector via Hélène Cixous: Reading from the Whale’s Belly, in Brazilian Feminisms, ed. Solange Ribeiro and Judith Still. University of Nottingham Press, 1999. p.85-100., “teve o efeito de levantar a questão se é ou não possível ler e ser lido pelo outro como outro, de um modo não apropriativo”, ou seja, não etnocêntrico. No caso deste trabalho, fizemos um estudo piloto para verificar, quantitativamente, as tendências de leitura, ou seja, se o tradutor e a retradutora apropriam predominantemente a alteridade de modo a anulá-la ou a alienam de forma preponderante de modo a legitimá-la.

Para tanto, utilizamos a proposta de Aubert (1998)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., que reformulou e desenvolveu os procedimentos técnicos de Vinay e Darbelnet (1995)VINAY, Jean-Paul; DARBELNET, Jean. Comparative stylistics of French and English: a methodology for translation [1958]. Amsterdã, Filadélfia: John Benjamins, 1995., publicados em 1958, que denominamos Método das Modalidades de Tradução (doravante MMT). O MMT propõe-se a medir e quantificar o grau de diferenciação linguística entre o texto original e a tradução e o quanto cada palavra se aproxima ou se afasta do original. O MMT pode ser usado para comparar traduções de textos diferentes, assim como para comparar várias traduções de um mesmo texto. Aubert (1998, p. 105)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128. propõe uma escala de catorze modalidades, indo das mais literais (modalidades diretas) às menos literais (modalidades oblíquas) (ver Figura 1 e Quadro 1).

Figura 1
Gradação das Modalidades de Tradução16 16 Gradação e explicação dadas em classe pelo Prof. Dr. Francis H. Aubert, na disciplina “Refrações Linguísticas e Discursivas na Literatura Brasileira Traduzida” (2013).
Quadro 1
Classificação usada no MMT 17 17 As modulações, tanto quanto as transposições, podem ser obrigatórias (por exigência da língua) ou opcionais (AUBERT, 1998, p. 108).

As modalidades Palavra-por-palavra (Ppp), Transposição e Explicitação são associadas à estratégia estrangeirizante (mais literalidade), enquanto que Implicitação, Modulação e Adaptação são associadas às traduções domesticadoras (mais equivalência).

Cada palavra da tradução é comparada com o original e classificada em modalidades. Em seguida, soma-se a incidência das modalidades de mesmo número, obtendo-se a Frequência Absoluta (FA). É também calculada a sua porcentagem, isto é, a Frequência Relativa (FR), em relação ao total de palavras da amostra. Como queremos comparar duas traduções, repetimos o procedimento com a retradução. O resultado é semelhante ao que aparece no exemplo na Tabela 1:

Tabela 1
Resultados Frequência Absoluta (FA) e Frequência Relativa (FR) (exemplo)

Podemos observar, na Tabela 1, na primeira linha da primeira coluna, que a palavra do original, “a” (preposição) foi traduzida por Sousa (RS) por to e classificada como palavra-por-palavra ou tradução literal (4). Na retradução, Idra Novey (IN) também a traduziu por to e foi classificada como tradução literal (4). Na segunda linha, a palavra “possíveis” (adjetivo) foi traduzida por RS como potential, ou seja, “possível” dentro de um ideal esperado, o que a qualifica como a modalidade híbrida transposição (5) + modulação (8); na contagem final, segundo o modelo, nos casos de modalidades híbridas, é considerada a modalidade mais distante do grau zero, ou seja, neste caso, a modulação (8). Já IN optou por possible, classificada também como transposição (5). Na terceira linha, “leitores” foi traduzida por ambos os tradutores como readers, tradução literal. Na sexta linha, “é” foi traduzida por is pelos dois tradutores, mas as classificações são diferentes porque em cada tradução ocupam posições sintáticas distintas: (RS) This is a book just like any other book; (IN): This book is like any other book.

Na sétima linha, a palavra “como” foi traduzida por RS como just like. Se considerarmos que a palavra “just” pode ter o sentido de “exatamente” e estar se referindo a like como “exatamente como”, introduziu-se uma cláusula de comparação. Neste caso, quando formos analisar a tradução da palavra “qualquer” (a décima linha da tabela), consideramos a tradução de RS um erro, porque “qualquer livro” não é “livro qualquer”, em português. Aqui coloca-se um problema sutil de interpretação, intrínseco à língua: a diferença entre “livro qualquer” e “qualquer livro”. O adjetivo “qualquer” após o substantivo lhe dá uma conotação um tanto pejorativa: um livro comum. Portanto, em inglês, uma tradução possível seria: ordinary book ou common book. Na tradução de Sousa, a presença de just like traduzindo o comparativo “como” em vez de apenas like modifica any other, dando-lhe o sentido de regularmente, mais próximo de ordinary, o que não ocorre na tradução de Novey.

Entretanto, se just like for interpretado como only ou merely e se referir ao livro – it is just a book –, se aproximaria mais do sentido do original e seria classificado como modulação (fonte: Oxford Advanced Learner’s Dictionary for Current English, 1984, Oxford University Press).

Na oitava linha, o artigo indefinido “um” em português aparece na tradução (RS) como a, entretanto, na retradução (IN) ele não aparece, portanto, foi implicitado, pois na construção da frase em inglês o artigo não é necessário, permanecendo o sentido indefinido para book.

Tradução: This is a book just like any other book. Retradução: This book is like any other book. (o artigo está implícito em any other).

A unidade textual escolhida por Aubert (1998, p. 104)______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128. para realizar as classificações é a palavra, que precisa ser situada no contexto do sintagma, da oração e do contexto mais amplo em que ocorre, para ser classificada de acordo com uma modalidade. Se a unidade fosse um sintagma ou uma oração, poderíamos, segundo o próprio autor, lembrando considerações de Catford (1965 apudAubert, 1998______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., p. 103), correr o risco de errar, pois nenhum nível de sintaxe corresponde sempre à unidade traduzida, flutuando conforme a complexidade estilística, as estratégias descritivas, uma maior ou menor experiência ou a habilidade do tradutor, entre outros.

Porém, “cada palavra (unidade léxica) tem […] algo que é individual, que a torna diferente de qualquer outra. A propriedade individual mais importante da palavra é justamente seu sentido léxico” (ZGUSTA, 1971, p. 67 apudBAKER, 1991BAKER, Mona. In other words. Ed. Routledge, London, New York, 1991., p. 11-12). Para Baker, o sentido também pode ser interpretado a partir de unidades menores que a palavra, como prefixos ou sufixos. Essa autora, buscando o apoio da linguística moderna como base para o ensino da tradução, parte do nível mais simples, crescendo em complexidade em cada capítulo, indo desde a equivalência no nível da palavra até chegar à equivalência pragmática, passando pela equivalência gramatical e textual.

Embora a escolha da palavra como unidade de análise pareça ser, em princípio, questionável, o MMT propõe que ela seja examinada em todas as suas singularidades, ou seja, desde o nível morfológico até o pragmático, o que torna complexa a sua classificação.

Por essa unidade, o MMT permite medir e quantificar o grau de diferenciação linguística entre texto original e tradução, ou seja, o quanto cada palavra se aproxima ou se afasta do original, podendo ser usado para comparar traduções de textos diferentes, assim como para comparar várias traduções de um mesmo texto, caso deste estudo. Ao final das classificações, calcula-se “quantos % do texto original reaparecem no texto traduzido, sob forma de determinada modalidade” (AUBERT, 1998______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., p. 103).

Dado que a “hipótese da retradução” de Berman sugere que a tradução é mais domesticante do que uma retradução, os objetivos do nosso projeto implicam em testar se houve mudança de classificação das palavras da obra nos dois instantes considerados: tradução e retradução. Isto é, deseja-se verificar se a proporção de palavras classificadas como domesticantes na tradução é superior à proporção de palavras classificadas desta mesma maneira na retradução.

Seguindo a orientação do Centro de Estatística Aplicada da USP, analisamos seis segmentos/parágrafos aleatórios, colhidos em amostra sistemática18 18 Amostra sistemática: seleciona-se de forma aleatória um parágrafo e somam-se 122 à sua posição para se obter o segundo parágrafo; em sequência repetimos esse procedimento até selecionarmos seis parágrafos. (optamos pela amostra de texto contínuo em conglomerados de parágrafos sorteados, pois cada palavra está situada no contexto do sintagma, da oração e do contexto mais amplo), num total de 542 palavras, com média de 88,66 palavras por parágrafo.

Deve levar-se em consideração que existe uma flutuação em função de complexidade estilística, estratégias argumentativas e/ ou descritivas, maior ou menor habilidade do tradutor, etc. (CATFORD, apudAUBERT, 1998______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., p. 11).

Para obter as Frequências Absolutas (FA), somamos a incidência das várias modalidades da tradução e da retradução e, em seguida, calculamos as Frequências Relativas (FR) em relação a 542 (número de palavras da amostra). Finalmente, comparamos os resultados. As modalidades diretas, mais literais, foram consideradas estrangeirizantes, ao passo que as oblíquas, menos literais, foram consideradas domesticadoras (ver Figura 1, acima). Na tradução de Sousa, encontramos 18,63 % de traduções ditas domesticadoras, ao passo que na retradução de Novey apenas 9,41 % (aproximadamente metade). Em relação à estrangeirização, na retradução de Novey contamos 88,19 % dessas modalidades contra 76,20 % na primeira tradução, de Sousa, como se vê a seguir (Tabelas 2 e 3):

Tabela 2
Resultados Frequência Absoluta (FA) e Frequência Relativa (FR - %) da amostra
Tabela 3
Resultados 542 palavras (Frequências Relativas - %)

A partir desses resultados, foi possível construir um gráfico que mostra a tendência em estratégias de tradução dos tradutores. No eixo horizontal, estão as classificações do MMT e, no eixo vertical, as porcentagens obtidas

Gráfico 1
As Frequências Relativas (FR - %) das classificações nas duas traduções

No Gráfico I, podemos perceber dois picos: o primeiro representa as modalidades ditas diretas e o segundo as modalidades ditas indiretas ou oblíquas. A linha azul representa a primeira tradução e a linha vermelha, a retradução. Uma figura vale mais do que mil palavras: percebe-se, de imediato, que embora as duas traduções sejam altamente literais (primeiro pico), a retradução é menos domesticante do que a tradução (segundo pico), o que confirma a “hipótese da retradução” para esse corpus. Note-se, além disso, que as frequências próximas a zero no Gráfico I não interferem na verificação da hipótese (ver também Fig. 1).

Considerações finais

Como vimos, no espaço periférico que lhe é ofertado, o português gravita em torno do inglês, porém obras literárias brasileiras, apesar da hegemonia dos Estados Unidos, conseguem adentrar suas fronteiras, caso de A Paixão Segundo G.H., que, por força de agentes literários como professores universitários, editores e pesquisadores, não só foi traduzida como também foi retraduzida para a língua inglesa. Em ambas as empresas, porém, houve alto grau de literalidade, contrariamente ao que se esperava ao levar-se em conta a relação desigual em termos de centralidade entre o inglês dos Estados Unidos e o português brasileiro. Essa literalidade acentuada poderia, num primeiro tempo, ser atribuída à própria estranheza da escritura do original; entretanto, como apontamos anteriormente, essa estranheza ora aparece, ora desaparece na tradução.

Para entender um pouco mais de seu processo tradutório, trocamos vários e-mails com o tradutor Ronald de Sousa a respeito da tradução de APSGH. Reproduzimos aqui partes de um deles19 19 SOUSA, Ronald de. [mensagem pessoal]. Recebida por <julietaw@yahoo.com> em 16/03/2016. :

Ao traduzir senti – e sempre sinto – uma certa responsabilidade para uma “trasladação cultural”, para assim dizer. Nunca imaginei uma segunda tradução. A minha tinha que comunicar culturalmente com gente de fala inglesa porque seria a única versão do original a ser traduzida para essa linguagem/cultura. Isso dito, porém, pergunto-me

1) Eu não teria sentido a mesma responsabilidade se a minha tradução tivesse sido a segunda? Francamente, acho que sim. Primeiro porque costumo-me a ter esses escrúpulos no que faço e segundo porque meus interesses sempre têmse concentrado na questão da recepção de textos literários.

Isso dito, tenho que esclarecer que considero a tradução da PSGH a menos “literal” (no uso tradicional da palavra para a teorização da tradução) de todas as traduções que fiz. Tomei muitas, muitas liberdades com o original, achando tanto que iam “comunicar” bem dentro do contexto que eu estava criando como que funcionariam bem no inglês. Ponto fulcral: não vejo a “poetização” e a comunicação/ domesticação como (necessariamente) contraditórias.

2) Outro fator talvez aplicável. Ao que parece, a tradutora da segunda versão iniciou o projecto por “amor” do texto original. Eu, pelo contrário, aceitei traduzir a PSGH como parte do que foi, com efeito, um acordo de negócios. Naquele momento eu estava querendo lançar a série “Emergent Literatures” dentro da Prensa da U de Minnesota em face de uma oposição política. Resultou condição do resultante acordo que eu tinha que participar ativamente na produção de títulos para a série e que tinham que ser “rentáveis”. Devo confessar que antes de iniciar a tradução (a minha primeira de um romance), desconhecia por completo a PSGH. Não sou especialista de matérias brasileiras, nunca estive no Brasil (até hoje), etc. Isto dito, conhecia sim a obra de Julia Kristeva, comunicava com ela através de terceiras partes e eu e meus co-partidários na luta política escolhemos o título apenas com base nesses critérios.

3) Outro fator (marginal para os propósitos presentes) é que – evidentemente – não falo o português do Brasil. O meu português é o de meu pai e os pais dele, imigrantes dos Açores para os EU. Sempre receava que o meu entendimento de expressões brasileiras através de uma lente portuguesa tivesse viciado a tradução da PSGH

Em nosso estudo de caso, em que a lógica linguístico-quantitativa da teoria se vê nas análises, ao comparar as duas traduções de APSGH para verificar a validade da hipótese de Berman, nos deparamos com a peculiaridade do texto clariciano e com a maneira pela qual suas traduções podem soar estranhas ao leitor anglófono, causando dificuldades de leitura que podem ser artificialmente atribuídas à autora, ou inversamente, aos tradutores.

É mais provável, então, que a alta literalidade nos resultados de ambas as traduções esteja ligada a um movimento ético de resistência dos tradutores e/ou dos agentes envolvidos na tradução da obra, o que poderá ser verificado em estudos posteriores.

Retomando o gráfico, percebe-se, no segundo pico, que representa as modalidades mais domesticadoras, que a linha azul, ou a primeira tradução, é mais do que o dobro em altura em relação à linha vermelha, que representa a retradução.

Dado que o texto analisado possui 730 parágrafos, o Centro de Estatítica Aplicada da Universidade de São Paulo calculou o tamanho amostral de seis parágrafos (n = 6, obtido pela estimação que considera 99 % para o poder do teste e 1 % para o nível de significância) e, posteriormente, considerou “o efeito de versão estatisticamente significante (valor-p < 0,001), confirmando a hipótese da retradução de Berman” (WIDMAN, 2016WIDMAN, Julieta. A “hipótese da retradução” pelas modalidades tradutórias, nas traduções para a língua inglesa de A Paixão Segundo G.H. (Dissertação de Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 2016. 120 p., p. 119), ou seja, “as primeiras traduções são mais domesticantes do que as retraduções”.

Tendo em vista que a “validação cruzada” é uma técnica para avaliar a capacidade de generalização de um modelo, a partir de um conjunto de dados, em um possível desenvolvimento futuro poderia estimar-se qual o desempenho do método, seja utilizando o mesmo corpus com outro modelo de análise quantitativa, como o de Van Poucke (2012)VAN POUCKE, Piet. Domestication and foreignization is Translation Studies. TransUD-arbeiten zur Theorie und Praxis des Ubersetzens und Dolmetschens 46 (Measuring foreignization in literary translation: an attempt to operationalize the concept of foreignization). Berlim: Frank & Timme, 2012. p.139-157., seja aplicando o MMT em outro corpus.

Por outro lado, o presente estudo apresenta potencialidades também qualitativas, podendo ser complementado por análises que tenham como objeto a relação entre as estratégias dos tradutores e as implicações éticas que possam correlacionar o perfil linguístico-textual identificado e os fatores de contexto e de cultura, para tentar conpreendê-lo e explicá-lo.

  • 1
    Venuti usa as estatísticas anuais apresentadas por Chandler B. Grannis, em Publishers Weekly, Set. 1989, 1990, 1991. Para as estatísticas britânicas, usa o Whitaker’s Almanack dos anos 1986 a 1991 (3,5 % nos EUA e 2,5 % no Reino Unido).
  • 2
    Exceto indicação contrária, todas as traduções são da nossa autoria.
  • 3
    Segundo Rochester.edu: The Three Percent, uma pesquisa de literatura internacional na Universidade de Rochester, 2005.
  • 4
    Berman define retradução: “Toute traduction faite après la première traduction d’une œuvre est donc une retraduction” [Toda tradução feita depois da primeira tradução de uma obra é uma retradução]. (BERMAN, 1990______. La retraduction comme espace de la traduction. Palimpsestes, n. 4, Paris, Sorbonne Nouvelle, 1990, p. 1-9., p. 1). Neste artigo, consideramos retradução a tradução feita, depois de uma primeira tradução, para a mesma língua de chegada.
  • 5
    Domesticadora, no sentido dado por Venuti (1992)VENUTI, Lawrence. Rethinking translation: discourse, subjectivity, ideology. Londres, Nova York: Routledge, 1992..
  • 6
    […] it’s rare enough to get one chance to be translated into English. It’s even rarer – almost unherad of – to get two.
  • 7
    Too foreign: Are we reading Lispector at all, or merely her translators? Are we capable of accessing her style when her language is foreign to us?
  • 8
    Retranslation is very much a temporal phenomenon […] marked as it is by a mercurial inconstancy with regard to frequency, behaviour and motivations.
  • 9
    Berman usa o adjetivo “mauvaise”, que traduzimos por “insatisfatória”.
  • 10
    A hipótese não se verifica necessariamente para a tradução de literatura para crianças e para o teatro (ver Aaltonen, 2003AALTONEN, Sirkku, Retranslation In The Finnish Theatre. Cadernos de Tradução, v. 1, n. 11, Florianópolis, 2003, p. 141-159., p. 141 e Desmidt, 2009DESMIDT, Isabelle. (Re)translation Revisited. Meta: journal des traducteurs, Montreal, v. 54, 2009, p.669-683., p. 669).
  • 11
    Note-se que “resistência”, mantido em respeito à tradução já consagrada no Brasil, não dá conta do valor neológico do termo resistancy de Venuti (2010)______. Translation as Cultural Politics: regimes of domestication in English. In Baker, M. (Ed.) Critical Readings in Translation Studies. London, Nova York: Routledge, 2010. P. 65-79.. Tal reflexão, no entanto, não será aqui desenvolvida.
  • 12
    […] insofar as foreignizing translation seeks to restrain the ethnocentric violence of translation, it is highly desirable today, a strategic cultural intervention in the current state of world affairs, pitched against the hegemonic English-language nations and the unequal cultural exchanges in which they engage their global others.
  • 13
    “Commoditation [sic]” no original.
  • 14
    (a) fluent strategy performs a labor of acculturation which domesticates the foreign text, making it intelligible and even familiar to the target-language reader, providing him or her with he narcissistic experience of recognizing his or her own culture in a cultural other, enacting an imperialism that extends the dominion of transparency with other ideological discourses over a different culture. Moreover, since fluency leads to translations that are eminently readable and therefore consumable on the book market, it assists in their coommodification and contributes to the cultural and economic hegemony of targe-language publishers.
  • 15
    One of the decisions a literary translator has to make before getting to work is what overall translation strategy he or she wishes to follow, i.e. whether to translate in a more foreignizing or domesticating way. And even after having made this decision neither of the two strategies can be followed in a pure and consistent way, as all literary translations, by the very nature of translation, inevitably contain a mix of different translation shifts that are either foreignizing or domesticating.
  • 16
    Gradação e explicação dadas em classe pelo Prof. Dr. Francis H. Aubert, na disciplina “Refrações Linguísticas e Discursivas na Literatura Brasileira Traduzida” (2013).
  • 17
    As modulações, tanto quanto as transposições, podem ser obrigatórias (por exigência da língua) ou opcionais (AUBERT, 1998______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128., p. 108).
  • 18
    Amostra sistemática: seleciona-se de forma aleatória um parágrafo e somam-se 122 à sua posição para se obter o segundo parágrafo; em sequência repetimos esse procedimento até selecionarmos seis parágrafos.
  • 19
    SOUSA, Ronald de. [mensagem pessoal]. Recebida por <julietaw@yahoo.com> em 16/03/2016.

Referências

  • AALTONEN, Sirkku, Retranslation In The Finnish Theatre. Cadernos de Tradução, v. 1, n. 11, Florianópolis, 2003, p. 141-159.
  • ARATANGY, Lidia, R. Drogas: o que a escola tem com isso? São Paulo: Editora Melhoramentos, 2015.
  • AUBERT, Francis H. et al. Descrição e Quantificação de Dados em Tradutologia. Tradução e Comunicação, n. 4, São Paulo, 1984, p. 71-82.
  • ______. Modalidades de Tradução: teoria e resultados. TradTerm, 5 (1), São Paulo, CITRAT - FFLCH/USP, 1998. p. 99-128.
  • BAKER, Mona. In other words. Ed. Routledge, London, New York, 1991.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2017

Histórico

  • Recebido
    23 Jun 2016
  • Aceito
    12 Out 2016
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