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“PROVINCIA DEL GRAN PARÁ EN EL IMPERIO DEL BRASIL”, DE MANUEL IJURRA: RELATO DE VIAGEM DO SÉCULO XIX TRADUZIDO E ANOTADO

AN ANNOTATED TRANSLATION OF MANUEL IJURRA’S NINETEENTH CENTURY TRAVEL REPORT “PROVINCIA DEL GRAN PARÁ EN EL IMPERIO DEL BRASIL”

Resumo

O peruano Don Manuel Fuentes Ijurra, de ascendência indígena, foi um viajante e escritor de grande importância para a compreensão da história do Peru e do Brasil nos territórios fronteiriços. Como homem rico, letrado e visionário, publicou o relato de viagem Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: Vía de Amazonas, em 1849. Para a presente pesquisa com base no capítulo “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil”, buscamos contextualizar tanto o escritor quanto a sua obra no ambiente intelectual e histórico da época, principalmente recorrendo à Ricardo Palma (2022), que escreveu um conto sobre Ijurra em Tradiciones Peruanas, e à Euclides da Cunha (2019), que mencionou o supracitado relato de viagem em sua obra À margem da história. Quanto à tradução, notas e comentários realizados do capítulo, “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil”, no par linguístico ES-POR, nos apoiamos em Chirif (2016), Santos, Medeiros & Costa (2022), e outros, para discorrer sobre as escolhas tradutórias de topônimos e elementos da fauna, além de palavras e expressões culturais indígenas e peninsulares concernentes ao século XIX.

Palavras-chave
Estudos da Tradução; Tradução comentada; Manuel Ijurra; Relato de viagem

Abstract

Don Manuel Fuentes Ijurra was an indigenous-descent Peruvian traveler and writer of great importance for understanding the history of the border regions between Peru and Brazil. Wealthy, literate and visionary, he published in 1849 the travel report Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: Vía de Amazonas [Travel to the Mountains of Maynas, Chachapoyas and Pará, through the Amazon River]. The present research, based on the chapter “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil” [The Grão-Pará Province in the Brazilian Empire], seeks to contextualize both the writer and his work in the intellectual and historical environment of his time, mainly drawing on Ricardo Palma (2022), who included a short story about Ijurra in his Tradiciones Peruanas [Peruvian Traditions], and Euclides da Cunha (2019), who mentioned Ijurra’s travel report in À margem da história [At the Margins of History]. As for our translation of the aforementioned chapter into Portuguese, as well as for our notes and comments, we draw on Chirif (2016), Santos, Medeiros & Costa (2022), and others, to discuss the translation choices of toponyms and fauna, as well as indigenous and peninsular words and cultural expressions concerning the 19th century.

Keywords
Translation Studies; Commented translation; Manuel Ijurra; Travel report

Introdução

O que não é uma viagem? A viagem coincide com a vida, nem mais, nem menos: o que é esta, além de uma passagem do nascimento à morte? O deslocamento no espaço é o indício mais óbvio, primeiro, da mudança. Nesse sentido, viagem e relato implicam-se mutuamente

(Todorov, 2006Todorov, Tzvetan. A viagem e seu relato. Tradução de Lea Mara Valezi Staut. Revista de Letras, 46(1), p. 231-244, 2006., p. 231, grifo do autor).

O relato de viagem intitulado “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil”, que faz parte da obra Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: Vía de Amazonas (Ijurra, 2007Ijurra, Manuel. Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007.), escolhido por nós para traduzir, anotar e tecer comentários pertence às letras sul-americanas. O narrador não é estrangeiro, e sim um autêntico peruano de ascendência indígena e com grandes poderes políticos, financeiros e comerciais, o influente Don Manuel Fuentes Ijurras. No entanto as informações levantadas sobre o nosso narrador são bem limitadas. O que realmente sabemos é que seus pais, D. Manuel Ijurra e Dona Lorenza Sanches, eram ricos fazendeiros e donos de minas de prata em Cerro de Pasco e pertenciam à alta sociedade peruana. Em seu testamento, Ijurra declarou um filho legítimo, chamado Belizario Ijurra, nascido em Chachapoyas, e para que tivesse uma boa educação, o filho foi conduzido aos Estados Unidos, para a cidade de Nova York, sob a tutela de D. Pedro P. L. de Moreto, após a morte do pai (Oviedo, 1861Oviedo, Juan. Colección de Leyes, Decretos y Ordenes publicadas en el Perú. Lima: Felipe Bailly Editor, 1861.).

Manuel Ijura era um homem letrado e conhecedor não somente de línguas europeias, como também, possivelmente, de línguas indígenas (Quéchua e Nheengatu), além de ter conhecimento e experiência na área do garimpo e da mineração, segundo Santos, Medeiros & Costa (2022)Santos, Tatiana de Lima Pedrosa; Medeiros, Samuel Luzeiro Lucena de & Costa, Walter. “Exploration of the Valley of the Amazon (cap. Xiv) (1853)”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 197-211, 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91662
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.

As mais válidas informações do nosso narrador foram encontradas no relato de viagem do tenente da marinha norte-americana William Lewis Herndon, Exploration of the Valley of the Amazon [Exploração do Vale do Amazonas]1 1 Tradução de Tatiana de Lima Pedrosa Santos, Samuel Luzeiro Lucena de Medeiros e Walter Carlos Costa publicada no periódico Cadernos de Tradução (cf. Santos, Medeiros & Costa, 2022). , de 1853, quando Ijurra decide acompanhar Herndon em sua expedição. Ao escrever sobre Ijurra, Herndon pontua algumas características da personalidade do nosso escritor.

Ijurra tem todas as qualidades necessárias para uma luta bem-sucedida com o mundo, exceto duas – paciência e discernimento. Ele é corajoso, resistente, inteligente e infatigável. A praia fluvial e um cobertor são tudo o que lhe é necessário para uma cama; e acredito que ele poderia viver de café e charutos. Mas sua falta de moderação e discrição estraga todos os planos de prosperidade. Ele gastou uma fortuna nobre, cavada por seu pai na Mina del Rey, em Cerro de Pasco, nos problemas políticos de seu país. Foi nomeado Governador da grande e importante província de Mainas, mas, interferindo nas eleições, foi expulso. Ele então se juntou a um grupo com o objetivo de lavar as areias do Santiago em busca de ouro, mas as brigas com seus companheiros acabaram com isso. Com trabalho infinito recolheu então uma imensa carga de casca de árvore peruana; mas, recusando oitenta mil dólares por ela no Pará, levou-a para a Inglaterra, onde foi declarada sem valor; e ele perdeu os frutos de seu empreendimento e indústria

(Santos, Medeiros & Costa, 2022Santos, Tatiana de Lima Pedrosa; Medeiros, Samuel Luzeiro Lucena de & Costa, Walter. “Exploration of the Valley of the Amazon (cap. Xiv) (1853)”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 197-211, 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91662
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, p. 222).

A partir desse relato, reconhecemos em Ijurra uma personalidade destemida e impulsiva, sem preocupação com as consequências de suas ações, pois tinha possibilidade de transitar na política, no comércio e até na exploração dos recursos da floresta porque dispunha de contato direto com os indígenas. A fortuna que herdou dos pais lhe permitiu fazer o que quisesse. Herndon continua seu relato e acrescenta mais informações sobre a pessoa de Don Manuel Ijurra:

Ele me deu infinita preocupação e certa apreensão na gestão dos índios; mas nunca esquecerei a energia incansável, a vivacidade dos espíritos e a lealdade fiel que alegraram minha jornada solitária e tornaram o pequeno peruano tão querido para mim quanto um irmão

(Santos, Medeiros & Costa, 2022Santos, Tatiana de Lima Pedrosa; Medeiros, Samuel Luzeiro Lucena de & Costa, Walter. “Exploration of the Valley of the Amazon (cap. Xiv) (1853)”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 197-211, 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91662
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
, p. 222-223).

Além do relato de viagem de William Herndon, também encontramos na obra de Ricardo Palma (2022)Palma, Ricardo. “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. 2022. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/tradiciones-peruanas-cuarta-serie--0/html/01559f44-82b2-11df-acc7-002185ce6064_13.html#I_60_. Acesso em 26 set. 2023.
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, Tradiciones Peruanas, um conto sobre Ijurra, intitulado “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. Nesse conto, Ricardo Palma (2022)Palma, Ricardo. “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. 2022. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/tradiciones-peruanas-cuarta-serie--0/html/01559f44-82b2-11df-acc7-002185ce6064_13.html#I_60_. Acesso em 26 set. 2023.
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descreve Manuel Ijura como um jovem rico, o mais rico do Peru no final do século XVIII, esbanjador, pomposo, galante, vaidoso, e... feio, muito feio. Segundo o conto histórico, Ijurra faleceu na pobreza, pois havia gastado toda sua fortuna em jogos, mas essa é uma informac

Ijurra era de un feo subido de punto, tenía más fealdad que la que a un solo cristiano cumple y compete, realzada con su desgreño en el vestir. En cambio era rumboso y gastador, siempre que sus larguezas dieran campo para que de él se hablara. Así cuando delante de testigos, sobre todo si éstos eran del sexo que se viste por la cabeza, le pedían una peseta de limosna, motín Ijurra mano al bolsillo y daba algunas onzas de oro diciendo: “Socórrase, hermano, y perdone la pequeñez”. Por el contrario, si una viuda vergonzante u otro necesitado ocurría a él en secreto, pidiéndole una caridad, contestaba Ijurra: “Yo no doy de comer a ociosos ni a pelanduscas: trabaje el bausán, que buenos lomos tiene, o vaya la buscona al tambo y a los portales”. No quiero hablar de las conquistas amorosas que hizo Ijurra, gracias a su caudal, porque este tema podría llevarme lejos

(Palma, 2022Palma, Ricardo. “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. 2022. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/tradiciones-peruanas-cuarta-serie--0/html/01559f44-82b2-11df-acc7-002185ce6064_13.html#I_60_. Acesso em 26 set. 2023.
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, s. p.).

Esse conto difama em vários sentidos a imagem de Manuel Ijurra para gerar humor no leitor. Talvez, pelo fato de Ijurra ser peruano e ter ascendência indígena, faz com que este não se enquadre nos padrões de traços físicos europeus, e por causa disso dê a Ricardo Palma a liberdade de chamá-lo de feio ao extremo, atitude racista.

Não foi possível saber mais sobre o nosso narrador, como sua data de nascimento, nem uma imagem sua, pintura ou desenho, infelizmente. O que mais nos chama a atenção é Ijurra ter sido reconhecido em seu tempo, se tornado personagem de Ricardo Palma, mesmo numa condição ridícula. Também foi destaque no relato de viagem de William Herndon, como já mencionado, e o mais inusitado, Euclides da Cunha (2019)Cunha, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Editora da Unesp, 2019. cita um excerto da obra de Ijurra em À margem da história, comentário apresentado mais adiante nesta pesquisa.

O capítulo que escolhemos para realizar a presente pesquisa e a tradução foi “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil”, que pertence à obra Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas, quando o autor fez uma viagem saindo de Lima, por via do rio Amazonas até chegar em Belém - Pará, para tomar o bergantim Windsor que ia à Europa, e tinha como destino final Liverpool, na Inglaterra, para em seguida retornar a sua cidade natal, entre os anos de 1841 a 1843. A obra foi publicada entre 26 de setembro de 1849 a 30 de janeiro de 1850, no diário oficial El Peruano, quando Ijurra entregava os manuscritos para a publicação no jornal, conforme Nanda Leonardini (2007)Leonardini, Nanda. “Estudio introductorio”. In: Ijurra, Manuel. (Ed.). Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007. p. 03-11. comenta no prólogo.

A mesma obra foi reimpressa em 1905, em um compêndio com vários relatos de viagem, no governo de Ramón Castilla, a qual foi consultada por Euclides da Cunha em À margem da história. E em 2007, o Seminário de História Rural Andina, da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, oferece mais uma edição, corrigida e anotada, incluindo não somente outro texto de Manuel Ijurra, Viajes (1850), como também litografias de alguns viajantes-artistas que estiveram na Amazônia nesse mesmo período: Alfred T. Agate, Léonce Marie Angrand e Paul Marcoy (Ijurra, 2007Ijurra, Manuel. Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007.). A edição de 2007 foi a utilizada por nós para a realização do processo tradutório da presente pesquisa.

O papel político de Manuel Ijurra no Peru

A presença de Don Manuel Fuentes Ijurra no projeto de nação do Peru, na primeira metade do século XIX, foi importante. Ele foi senador suplente pelo departamento de Junín, em 1832. Não é à toa que seus escritos são citados na obra de Euclides da Cunha, este que é um renomado escritor da literatura e do jornalismo brasileiro, além de observador crítico de práticas sociais, como nas obras Os sertões (1902) e À margem da história (1909).

Desde o início da república peruana sempre ficou evidente o projeto de expansão territorial e a necessidade de manter a presença ativa de peruanos na fronteira, principalmente com o Brasil. Durante o século XIX, o Peru realizou de forma mais intensa políticas para deter o avanço brasileiro, e entre essas ações estavam o incentivo de viajantes estrangeiros (franceses, norte-americanos, ingleses, entre outros) e de empresários peruanos, como o caso de Ijurra, com uma viagem que durou dois anos e um mês (ida e volta). Alguns desses viajantes apresentaram relatórios para o governo, outros publicaram relatos de viagem. O mais importante era conhecer o território fronteiriço entre Peru e Brasil, mas especificamente o território amazônico, região pouco conhecida pelas autoridades tanto brasileira como peruana. Como registra Ijurra (2007, p. 87)Ijurra, Manuel. Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007. quando ainda está em território peruano:

Los brasileros, prevalidos de nuestro descuido han usurpado ese territorio poco a poco, sin más títulos que ocupación: después han ido guarneciendo las plazas fijando toda su atención en guarnecer mejor al puerto de Tabatinga que es el primer pueblo del país cerca de Loreto.

Lo mismo puede ser que ocurra con Loreto, Moromorote, Peruate y Naton, porque en el primero había seis establecimientos brasileros de comercio; en el segundo dos, en el tercero tres, y en el cuarto uno: y todos pueden ser considerados como almacenes de depósito a que acuden los naturales de Mayna

(Ijurra, 2007Ijurra, Manuel. Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007., p. 87).

O escritor peruano não perde nenhuma oportunidade de trazer em seu discurso a incômoda presença dos brasileiros no território peruano, quando comenta: “[...] son los monopolizadores absolutos del comercio de importación y de exportación” (Ijurra, 2007Ijurra, Manuel. Viaje a las montañas de Maynas, Chachapoyas y Pará: vía de Amazonas. Lima: Seminario de Historia Rural Andina, 2007., p. 88).

Em relação à obra póstuma de Euclides da Cunha, À margem da história, encontramos a referência a Manuel Ijurra:

Não comentemos o desquerer das autoridades peruanas. Era antigo. Desde 1811 o reportado D. Manuel Ijurra denunciava “los Brazileros más próximos al Perú que tienen la bárbara costumbre de armar expediciones militares con objeto de haccer correrías sobre los indios Maynas, atropelando muchas veces las autoridades...”; ou apresentava-os como “absolutos monopolizadores del comercio de importación o exportación”. Cinco anos depois, em ofício alarmante, o Subprefeito de Maynas solicitava providências urgentíssimas “al intuito de que los Brazileros moradores de Caballo-Cocha, salgan fuera de esta provincia, se buenamente no quieren, por la fuerza”; e pintava-os laivando-os dos mais denegridos estigmas. Por fim o Governador-Geral das Missões (1849) determinou se exigissem passaportes de todos os brasileiros que lá entrassem, gaguejando num castelhano emperrado esta razão curiosíssima: “que no se experimentaba provecho alguno en estos negociantes del Brazil; ni menos hay bayonetas con que poder conterlos; hacen lo que quieren metiendo-se por los rios, extraendo zarza, manteca, salado e otras espécies [...]”

(Cunha, 2019Cunha, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Editora da Unesp, 2019., p. 145, grifos do autor).

Euclides da Cunha utiliza este excerto em seu texto para justificar o disparate no discurso de Ijurra, pois no parágrafo anterior o escritor brasileiro justifica a presença brasileira no território peruano dando mérito a um brasileiro chamado “José Joaquim Ribeiro” (Cunha, 2019Cunha, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Editora da Unesp, 2019., p. 144), pela extração da goma elástica nos afluentes do rio Amazonas no território peruano, levando mais de 20 homens com a expertise da retirada do látex. Uma forma de ridicularizar o discurso do Governador-Geral da Missões no Peru, o tenente Doroteo Arévalo Villasis, quando este começou a exigir passaporte dos brasileiros, Euclides da Cunha (2019, p. 146)Cunha, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Editora da Unesp, 2019. comenta que o tenente justificou suas razões “[...] gaguejando num castelhano emperrado”. A briga pelo território fronteiriço é de ordem econômica, e se intensificou mais no período áureo da borracha.

Os excertos utilizados acima estão fora do capítulo escolhido para a tradução. Em toda a obra de Ijurra há diversas denúncias sobre o avanço brasileiro no território peruano, além disso, o nosso escritor destaca várias oportunidades financeiras com o uso de matéria prima advinda da floresta para o progresso do Peru.

Não sabemos a data exata de nascimento do nosso escritor, mas sabemos que nasceu no final do século XVIII, conforme mencionado no conto de Ricardo Palma (2022, s. p.)Palma, Ricardo. “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. 2022. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/tradiciones-peruanas-cuarta-serie--0/html/01559f44-82b2-11df-acc7-002185ce6064_13.html#I_60_. Acesso em 26 set. 2023.
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:

¿No saben ustedes quién fue Ijurra? ¡Pues es raro!>

Don Manuel Fuentes Ijurra era por los años de 1790 el mozo más rico del Perú, como que poseía en el Cerro de Pasco una mina de plata, que durante quince años le produjo mil doscientos marcos por cajó

(Palma, 2022Palma, Ricardo. “¡Ijurra! ¡No hay que apurar la burra!”. 2022. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/tradiciones-peruanas-cuarta-serie--0/html/01559f44-82b2-11df-acc7-002185ce6064_13.html#I_60_. Acesso em 26 set. 2023.
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, s. p.).

Segundo o pesquisador Eduardo Vázques Monge (2009)Monge, Eduardo Vásquez. “La inmigración alemana y austriaca al Perú en el siglo XIX”. Revista Investigaciones Sociales, 13(22), p. 85-100, 2009. DOI: https://doi.org/10.15381/is.v13i22.7240
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, Manuel Ijurra faleceu na cidade de Nova York (EUA) em março de 1855, e no seu testamento declara que todos os seus bens sejam encaminhados a seu filho Belizario Ijurra e seus tutores D. Pedro P. L. de Moreto e Guilhermo Luis Sterdin. Ou seja, essa informação não confirma que Ijurra havia morrido em plena pobreza.

Além disso, Manuel Ijurra e Cosme Damian Schuts firmaram um acordo com o Governo do Peru para transportar 13 mil colonos alemães para o Baixo Amazonas, criando uma colônia alemã na Amazônia peruana. Assim está registrado em seu testamento.

[...] declaro que tengo un contrato con el Supremo Gobierno Peruano, fecha 4 de Junio de 1853, para transportar 13,000 colonos a los valles del rio Amazonas (a donde tengo terrenos de mi propiedad) según consta por decreto del Supremo Gobierno de la misma fecha

(Oviedo, 1861Oviedo, Juan. Colección de Leyes, Decretos y Ordenes publicadas en el Perú. Lima: Felipe Bailly Editor, 1861., p. 268).

No capítulo “Provincia del gran Pará en el Imperio del Brasil”, que escolhemos para traduzir e comentar a tradução, Ijurra nos oferece uma história do Brasil, naquele território, de valor inestimável. Nos traz informações dos conflitos fronteiriços, da Cabanagem2 2 A Cabanagem ou a Guerra dos Cabanos foi um movimento de revolta na antiga província do Grão-Pará (no atual Pará, Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima), ocorrido nos anos de 1835 a 1840. , do povoamento das vilas e cidades, das relações comerciais, do contato com os povos originários e, além de tudo, nos oferece uma descrição da beleza da floresta amazônica, com imagens e exposições poéticas.

Comentários da tradução do capítulo “Provincia del Gran Pará en el Imperio del Brasil”

O capítulo escolhido por nós para traduzir, anotar e comentar trouxe alguns desafios tradutórios, não somente em relação ao léxico próprio da região sobre a fauna, como também os topônimos, o que exigiu de nós muita pesquisa, não somente em dicionários especializados, mas também em documentos históricos e pesquisa na área da História, principalmente por causa de fatos históricos de grande relevância que aconteceram nesse período.

Para melhor visualizar o nosso processo tradutório e as escolhas de análise, dispomos os textos em duas colunas, o texto fonte em língua espanhola no lado esquerdo e a tradução para o português no lado direito da página.

Este capítulo, “Provincia del Gran Pará en el Imperio del Brasil”, é um recorte da História do Brasil, um período com muitas revoltas durante a Regência, do Império brasileiro, que no caso do Grão-Pará foi a guerra dos Cabanos. De acordo com Vicente Salles (2004, p. 33, grifo do autor)Salles, Vicente. O negro na formação da sociedade paraense. Belém: Paka-Tatu, 2004.:

A Cabanagem, revolução popular que abalou, durante alguns anos, a vida social e econômica da Amazônia, foi um dos movimentos mais profundos, mais sérios e mais característicos da fase da Regência. Um de seus aspectos mais importantes é precisamente a análise da intervenção das classes populares dos campos e das cidades nos destinos políticos da província do Grão-Pará com o fim especial de modificar o status quo

(Salles, 2004Salles, Vicente. O negro na formação da sociedade paraense. Belém: Paka-Tatu, 2004., p. 33, grifo do autor).

O nosso viajante-escritor faz questão de atualizar seus leitores a respeito dos recentes acontecimentos que estavam ocorrendo no Grão-Pará, como afirma no início do seu relato de viagem:

Quadro 1
Revolta com o governo imperial

As informações sobre as revoltas que estavam acontecendo pelo Brasil ressoaram nos países hispano-falantes da América do Sul, como podemos perceber no discurso de Ijurra. Neste excerto, é notória a afirmação de que a população começou a se revoltar com o governo imperial por causa de maus tratos que o povo vinha sofrendo, mantendo a população em miséria total, principalmente negros e indígenas. Já em outras passagens do texto o discurso muda completamente, Ijurra chama os cabanos de assassinos, ladrões, criminosos, saqueadores, vândalos, etc. Como no excerto:

Quadro 2
Palavras de Ijurra

Para Jobim (1957, p. 156, grifo do autor)Jobim, Anísio. O Amazonas: sua história. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957., “[...] se os Cabanos promoveram profundas iniquidades, derramaram muito sangue, não lhes ficaram devendo em crueldade os bicudos3 3 (N.T.) Designação dada aos portugueses no tempo da Independência (cf. Bicudo, 2023). e os comandantes das forças, que os combatiam, os quais se davam à abjeção de colecionar enfiadas de orelhas humanas”. Assim também observa Domingos Antônio Raiol (1865)Raiol, Domingos Antônio. Motins políticos ou história dos principais acontecimentos da Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835. Rio de Janeiro: Typographia do Imperial Instituto Artístico, 1865., autor da mais importante obra no período sobre a Cabanagem, ao mencionar os negros livres e escravizados como cabanos:

Todas as medidas, que estão ao alcance da Junta Provisória, se tem tomado; sentimos não poder afirmar, que a tranquilidade esteja inteiramente restabelecida, porque ainda temos a temer principalmente a gente de cor, pois que muitos negros e mulatos foram vistos no saque de envolta com os soldados, e os infelizes que se mataram a bordo do navio, entre outras vozes sediciosas deram vivas ao Rei Congo, o que faz supor alguma combinação de soldados e negros

(Raiol, 1865Raiol, Domingos Antônio. Motins políticos ou história dos principais acontecimentos da Província do Pará desde o ano de 1821 até 1835. Rio de Janeiro: Typographia do Imperial Instituto Artístico, 1865., p. 325, grifos do autor).

Ijurra, em seu relato de viagem, descreve os acontecimentos da Cabanagem na região por onde passava, no Alto Solimões, hoje onde se situa atual cidade São Paulo de Olivença, no estado do Amazonas. Há uma preocupação do nosso narrador em comentar sobre a cabanagem, trazendo os detalhes das ações tanto dos cabanos quanto do império e/ou da elite portuguesa radicada no Grão-Pará. Não deixa de mencionar que os cabanos eram constituídos de negros e indígenas. Os documentos oficiais da época corroboram o texto de Manuel Ijurra.

Quadro 3
Os cabanos

Outro dado que trouxemos para discussão é a referência de um dos mapas citado por Ijurra em seu relato. É o mapa do Brasil, de autoria do cartógrafo inglês John Arrowsmith (1790-1873), em 1844. Segue o mapa (detalhe da região norte):

Figura 1
Parte do mapa do Brasil

Na sequência, segue a passagem em que o narrador menciona o mapa de Arrowsmith:

Quadro 4
Mapa de Arrowsmith

Outra escolha de análise da tradução são as palavras pertencentes a nomes de alguns animais da Amazônia. Trouxemos as palavras charapa, piuris e paiche.

Quadro 5
A palavra charapa

Segundo Chirif (2016)Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. Lima: Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., a palavra charapa é da língua Aguaruna, do povo indígena que vive no Peru Amazônico. No Brasil, o animal é conhecido como tartaruga-da-Amazônia ou como jurará-açu (do tupi antigo), um quelônio que vive na água doce. O dicionário digital Aulete, além de “jurará”, nos fornece uma variante: “jururá”, “s. f. || (Bras.) espécie de tartaruga (Emys amazonica, Spix.), outrossim jurard” (cf. Jururá, 2023Jururá. 2023. Aulete digital – Lexikon Editora Digital. Disponível em: https://aulete.com.br/jurur%C3%A1. Acesso em 26 set. 2023.
https://aulete.com.br/jurur%C3%A1...
).

O outro animal mencionado é uma ave, o piuris, também chamado no Peru de paujil, e que conhecemos no Brasil como “mutum”. A escolha deste termo já foi tratada por nós, anteriormente, no artigo “Desafios tradutórios em um relato de viagem do século XVI, de Toribio de Ortiguera” (Cesco & Nascimento, 2022Cesco, Andréa & Nascimento, Lilian Cristina Barata Pereira. “Desafios Tradutórios em um Relato de Viagem do Século XVI, de Toribio de Ortiguera”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 15-41, 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e90689
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
), quando traduzimos o capítulo 43 de Jornada do Rio Marañón, publicado em Guerini, Torres & Fernandes (2022)Guerini, Andréia; Torres, Marie Helene Catherine & Fernandes, José Guilherme. “Traduzindo a Amazônia II”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91851
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
.

Quadro 6
A palavra piuris

E por fim, trouxemos a palavra paiche, que é o maior peixe de escamas de água doce do mundo, conhecido no Brasil como pirarucu, que é uma palavra de origem tupi “piro+urutu (peixe vermelho)”5 5 (N.T.) s. m. || (Bras.) peixe osteoglossídeo do Amazonas (Arapaima gigas), espécie importante pelo grande desenvolvimento que adquire e por servir à nutrição de grande parte da população amazônica (cf. Pirarucu, 2023). . Chirif (2016, p. 204)Chirif, Alberto. Diccionario Amazónico. Voces del castellano en la selva peruana. Lima: Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica, 2016., em seu Diccionario Amazónico, escreve um longo verbete a respeito desse peixe: “[...] su carne es muy apreciada y de alto precio en el mercado, razón por la cual ha sido sometido a capturas excesivas que en un momento pusieron en riesgo su supervivencia. Hoy está protegido mediante vedas y en áreas naturales protegidas”. No excerto abaixo, Ijurra escreve o nome do peixe conhecido no Brasil “pirarucu”, mas em seguida identifica-o com o nome conhecido em Maynas, ou em toda a Amazônia peruana, paiche.

Quadro 7
A palavra paiche

Com relação aos topônimos, achamos interessante como Ijurra escreveu os nomes de duas etnias indígenas, essas que têm línguas pertencentes ao tronco tupi, que viveram no Peru, na região Amazônica. São as palavras Cocorillas e Cocomas. Acreditamos ser um erro de digitação, pois essas etnias eram famosas por serem mãos de obra na floresta. De acordo com Nascimento (2021, p. 362)Nascimento, Lilian Cristina Barata Pereira. “Amazônia em tradução: as línguas indígenas se fazem presentes no romance Belén”. In: Antunes, Leonardo; Palavro, Bruno (Orgs.). Tradução em diálogo: deslocamentos, fronteiras e poéticas plurais. Porto Alegre: Class, 2021. p. 354-374., “[...] o tronco linguístico tupi também influencia o espanhol amazônico nas línguas kukama, kukamiria, omagua e yurimagua”.

Quadro 8
As palavras Cocorillas e Cocomas

Ainda, no que se refere aos topônimos, acabamos decidindo inserir 26 notas de rodapé explicativas, por acreditarmos que o texto traduzido é de suma importância para pesquisadores de diversas áreas e especialidades que irão consultá-lo.

Para nomes de etnias, povoados e vilas, como “Joanes”, “Pombal” e “Óbidos”, usamos como fonte de pesquisa não apenas o Dicionário Etno-Histórico da Amazônia Colonial, de Antonio Porro (2007)Porro, Antonio. Dicionario Etno-Histórico da Amazônia Colonial. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 2007., como também, para “aldeia de Murá”, por exemplo, consultamos a página virtual do Instituto Socioambiental, Povos Indígenas no Brasil7 7 A página pode ser consultada em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mura. (cf. Mura, 2023Mura. 2023. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mura. Acesso em 26 set. 2023.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:M...
).

Outros documentos disponíveis virtualmente também foram consultados para fornecer informações mais detalhadas a respeito da localização de alguns lugares, assim como para atualizar nomes de cidades e de rios, como Vila da Barra (atual Manaus), Vila de Egas (atual cidade de Tefé), e Grande Rio (atual rio Solimões), entre outros.

Para a pesquisa de outros vocábulos, envolvendo, por exemplo, embarcações (“goleta”, “montaria”), consultamos documentos e dicionários especializados, além de imagens disponibilizadas virtualmente.

No entanto, o termo que nos trouxe mais desafio na tradução foi a palavra pluma, está relacionada ao artesanato das redes feitas para deitar – hamacas de plumas –, muito utilizadas pelos povos originários até hoje, pois, a princípio pensamos tratar-se de “penas”, o que não parecia fazer sentido, já que as redes precisam sustentar grandes pesos.

Quadro 9
A palavra pluma

O que nos chama atenção é o fato das redes não serem tecidas, pelos povos indígenas, com plumas de pássaros, mas com fibra vegetal, que são cordas feitas com fibra de tucum ou fios de tucum, entre outras. Segundo o dicionário português Aulete, na quarta entrada da palavra “pluma”, apresenta: “4. Náut. Nome de diversos cabos no navio, como os que suportam a barlavento as antenas e a verga da cábrea, os que vão para diante e para trás nas cabrilhas, etc.”9 9 (N.T.) Aulete digital (cf. Pluma, 2023a). . O dicionário da Real Academia Española (digital) apresenta a mesma palavra na entrada onze: “Mástil de una grúa”10 10 (N.T.) RAE digital (cf. Pluma, 2023c). , ou seja, não está diretamente ligado ao cabo, mas ao mastro, e traz como inferência o mastro náutico. E no dicionário brasileiro Aurélio, temos na quarta entrada da palavra: “[Náutica] Cabo usado em embarcações que apoiam lateralmente a antena, saia de chaminé”11 11 (N.T.) Aurélio digital (cf. Pluma, 2023b). .

A leitura que fazemos é que, possivelmente Ijurra usou a palavra pluma, em seu texto, para fazer uma analogia, ou seja, o “cabo” (utilizado na embarcação à vela) e a “corda” (para tecer a rede), pois para tecer a rede, a corda, feita com vários fios vegetais, precisa ser muito forte para aguentar a massa de uma pessoa.

Considerações finais

O texto de Manuel Ijurra nos trouxe importantes informações de fatos históricos da principal revolução popular no Grão-Pará, chamada de Cabanagem ou a Revolta dos Cabanos, que tem suas sementes quando esta província ainda nem havia aderido à Independência do Brasil, em agosto de 1823. A cabanagem foi a única revolta em que a população conseguiu o poder político numa província brasileira, na capital Belém, no ano de 1835. Entretanto, o movimento foi várias vezes traído por líderes políticos da elite paraense, ao tentar barganhar com o Império brasileiro e conter a revolta com a violência extrema, visando manter a estrutura social escravista na Amazônia.

O texto de Ijurra nos ajuda a alinhavar fatos históricos desse movimento que nasce nas bases populares de negros e indígenas (libertos e escravizados), ribeirinhos e periféricos, seja do ambiente urbano ou rural. Sua narrativa localiza acontecimentos no Amazonas e no Pará, nas pequenas e grandes vilas por onde desembarcava em suas paragens.

Revisitar bases teóricas, documentos oficiais e narrativas de intelectuais de vários momentos da História, nos ajuda a visibilizar o papel do oprimido, este que vivia à margem da sociedade, principalmente quando a História, colonial e imperial, foi sempre contada pelos vencedores. Nosso papel como pesquisadoras dos Estudos da Tradução vai além de somente traduzir no par linguístico de nossa expertise (ES-POR), quando também revisitamos e resgatamos este lugar do passado tantas vezes esquecido por mulheres e homens do nosso país. A memória histórica é um recurso que nos ajuda a compreender o presente e evitar repetir atrocidades do passado.

Manuel Ijurra é um escritor voraz do castelhano, narra e descreve os detalhes de fatos e de lugares, com grande domínio das letras. Nossa tarefa é compreender não somente a estrutura de pensamento do nosso autor, mas as escolhas de palavras que fez, por exemplo do universo náutico, militar e/ou regional da Amazônia em seu texto. Essas tarefas foram as que nos conduziram para os desafios tradutórios. Estes que são nossos mais caros tesouros de pesquisa acadêmica nos Estudos da Tradução.

  • 1
    Tradução de Tatiana de Lima Pedrosa Santos, Samuel Luzeiro Lucena de Medeiros e Walter Carlos Costa publicada no periódico Cadernos de Tradução (cf. Santos, Medeiros & Costa, 2022Santos, Tatiana de Lima Pedrosa; Medeiros, Samuel Luzeiro Lucena de & Costa, Walter. “Exploration of the Valley of the Amazon (cap. Xiv) (1853)”. Cadernos de Tradução, 42(esp.1), p. 197-211, 2022. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e91662
    https://doi.org/10.5007/2175-7968.2022.e...
    ).
  • 2
    A Cabanagem ou a Guerra dos Cabanos foi um movimento de revolta na antiga província do Grão-Pará (no atual Pará, Amazonas, Amapá, Rondônia e Roraima), ocorrido nos anos de 1835 a 1840.
  • 3
    (N.T.) Designação dada aos portugueses no tempo da Independência (cf. Bicudo, 2023Bicudo. 2023. Aulete digital – Lexikon Editora Digital. Disponível em: https://aulete.com.br/bicudo. Acesso em 26 set. 2023.
    https://aulete.com.br/bicudo...
    ).
  • 4
    (N.T.) Embarcação espanhola pequena, de dois mastros com a gávea à proa (cf. Goleta, 2023Goleta. 2023. Aulete digital – Lexikon Editora Digital. Disponível em: https://aulete.com.br/goleta. Acesso em 26 set. 2023.
    https://aulete.com.br/goleta...
    ).
  • 5
    (N.T.) s. m. || (Bras.) peixe osteoglossídeo do Amazonas (Arapaima gigas), espécie importante pelo grande desenvolvimento que adquire e por servir à nutrição de grande parte da população amazônica (cf. Pirarucu, 2023Pirarucu. 2023. Aulete digital – Lexikon Editora Digital. Disponível em: https://aulete.com.br/pirarucu. Acesso em 26 set. 2023.
    https://aulete.com.br/pirarucu...
    ).
  • 6
    (N.T.) Segundo o Nuevo Tesoro Lexicográfico de la Lengua Extranjera, Academia Usual (1843, p. 440-441), trata-se de um “peixe que chega, às vezes, até a longitude de vinte e cinco pés, mas que nos mares da Espanha cresce menos. Tem o corpo cilíndrico - sem escamas e coberto de uma pele esbranquiçada que puxa ao verde -, duro e muito áspero. Seus olhos são pequenos e a boca, cujo lábio inferior é muito menor que o superior, é grande e cheia de muitos e fortes dentes”.
  • 7
    A página pode ser consultada em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mura.
  • 8
    (N.T.) Cada duro equivalia a cinco pesetas na Espanha.
  • 9
    (N.T.) Aulete digital (cf. Pluma, 2023aPluma. 2023a. Aulete digital – Lexikon Editora Digital. Disponível em: https://aulete.com.br/pluma. Acesso em 26 set. 2023.
    https://aulete.com.br/pluma...
    ).
  • 10
    (N.T.) RAE digital (cf. Pluma, 2023cPluma. 2023c. Real Academia Española. Disponível em: https://dle.rae.es/pluma. Acesso em 26 set. 2023.
    https://dle.rae.es/pluma...
    ).
  • 11
    (N.T.) Aurélio digital (cf. Pluma, 2023bPluma. 2023b. Dicionário Online de Português. Disponível em: https://www.dicio.com.br/pluma/. Acesso em 26 set. 2023.
    https://www.dicio.com.br/pluma/...
    ).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Set 2023
  • Aceito
    16 Out 2023
  • Publicado
    Out 2023
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