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Fitomassa, distribuição de raízes e aporte de nitrogênio e fósforo por leguminosas cultivadas em aléias em solo de baixa fertilidade (1)

Phytomass, Root Distribution and Input of Nitrogen and Phosforus by Leguminous in Alley Cropping in Low Fertility Soil

Resumo

O cultivo de leguminosas, para utilização como adubo verde, vem sendo uma promissora alternativa à adubação tradicional. Duas espécies nativas (Clitoria fairchildiana e Inga edulis) e duas exóticas (Leucaena leucocephala e Cajanus cajan) foram cultivadas em um Argissolo Vermelho Amarelo, em consócio com arroz. Foi avaliado o estabelecimento das leguminosas, as características do sistema radicular, a produção de fitomassa e o fornecimento de nutrientes. Foram observadas diferenças significativas no estabelecimento das leguminosas. A Clitoria fairchildiana produziu a maior massa seca (12,4 t ha-1). As quatro espécies apresentaram baixa densidade de raízes na camada de 0-60 cm de profundidade (18,9%), indicando baixo potencial de competição com a cultura consorciada.

Palavras chaves:
adubo verde; cultivo em aléias; sistema agroflorestal

Abstract

Cropping leguminous for use as green manure is a promising alternative to the traditional fertilization. Two native species (Clitoria fairchildiana and Inga edulis) and two exotic (Leucaena leucocephala and Cajanus cajan) were cultivated in an Argisol, with rice in a alley cropping system. It was evaluated the establishment of the leguminous, the characteristics of this root system, biomass production and supply of N and P. Significant differences were observed in the establishment of the leguminous. Clitoria fairchildiana produced the largest dry mass (12.4 t ha-1). The four species presented low density of roots in the 0-60 cm soil layer (18.9%), indicating a low potential for competition with the intercropped culture.

Key words:
green manure; alley cropping; agroforestry system

Introdução

O uso de leguminosas arbóreas ou arbustivas como adubo verde e cobertura morta para uma cultura consorciada, tem sido avaliado em diferentes condições edafo-climáticas. Esse sistema agroflorestal denominado “cultivo em aléias” é indicado como uma alternativa viável e de baixo custo para a agricultura itinerante praticada em países em desenvolvimento (Alegre & Rao, 1996ALEGRE, J.C.; RAO, M.R. Soil and water conservation by contour hedging in the humid tropics of Peru. Agriculture Ecosystems Environment., V.57, p.17-25, 1996.). Resultados promissores com o cultivo em aléias vêm sendo obtidos em regiões de solos férteis na Nigéria, Quênia, Etiópia e Austrália (Xu et al., 1993XU, Z.H.; MYERS, R.J.K.; SAFFIGNA, P.G. Nitrogen fertilizer in leucaena alley cropping. II. Residual value of nitrogen fertilizer and leucaena residues. Fertility Research., V. 3, p.1-8, 1993.; Akinnifesi et al, 1999AKINNIFESI, F.K.; KANG, B.T.; LADIPO, D.O, Structural root form and fine root distribution of some woody species evaluated for agroforestry systems. Agroforestry Systems, V.42, p. 121-138, 1999.; Lupwayi et al., 1999LUPWAYI, N.Z.; HAQUE, I.; SAKA, A.R.; SIAW, D.E.K.A. Leucaena hedgerow intercropping and cattle manure application in the Ethiopian higlands. II. Maize yields and nutrient uptake. Biology Fertility Soils,V.28, p. 196-203, 1999.). Entretanto, em solos ácidos os resultados são contraditórios. De acordo com Szott et al. (1991), esse sistema quando testado em solo ácido apresenta baixo potencial de ciclagem de nutrientes e não permite a sustentabilidade de produção da cultura consorciada. Portanto, o insucesso de experimentos com o sistema de cultivo em aléias resulta em grande parte da utilização de espécies arbóreas inadequadas para solos com características adversas (Szott et al., 1991SZOTT, L.T.; PALM, C.A.; SANCHEZ, P.A. Agroforestry in acid soils of humid tropics. Advances in Agronomy, V. 45, p.275-301, 1991.; Alegre & Cassel, 1996ALEGRE, J.C.; CASSEL, D.K. Dynamics of soil properties under alternative systems to slash-andburn. Agriculture Ecosystems Environment., V.58, p.39-48, 1996.).

As leguminosas arbóreas interagem com a cultura consorciada via sistema radicular e via dossel. Como esse sistema de cultivo visa tirar o máximo proveito dos atributos de espécies arbóreas, convêm que as espécies selecionadas apresentem características favoráveis em ambos os estratos (Ferraz Jr. et al., 1997FERRAZ JR, A.S.L.; SOUZA, S.R; FERNANDES, M.S Ciclagem de nutrientes em sistema de cultivo em aléias. Pesquisa em Foco, V. 32, n.5, p.7-29, 1997.). Em relação ao sistema radicular, as árvores devem apresentar alto potencial de nodulação e fixação biológica de N2; serem portadoras de raízes profundas e pouco extensas nas camadas superiores (0 a 30 cm), com arquitetura que resulte em baixa competição com a cultura consorciada (Akinnifesi et al., 1999AKINNIFESI, F.K.; KANG, B.T.; LADIPO, D.O, Structural root form and fine root distribution of some woody species evaluated for agroforestry systems. Agroforestry Systems, V.42, p. 121-138, 1999.). Quanto à parte aérea, espera-se elevada produção de fitomassa e velocidade de rebrota, associada a elevados teores de nutrientes nos ramos e maior qualidade dos resíduos orgânicos (baixos teores de polifenóis e ligninas e baixa relação C/N) (Sanginga et al., 1995SANGINGA, N.; VANLAUWE, B.; DANSO, S.K.A. Management of biological N2 fixation in alley cropping systems: estimation and contribution to N balance. Plant and Soil, V. 174, p. 119-141, 1995.; Vanlauwe et al., 1996VANLAUWE, B.; NWOKE, O.C.; SANGINGA, N.; MERCKX, R. Impact of residue quality on the C and N mineralization of leaf and root residues of three agroforestry species. Plant and Soil, V. 182, p. 221-231, 1996.). Esta seleção deve envolver genótipos comprovadamente eficientes e adaptados às condições edafo-climáticas locais.

Nesse sentido, realizou-se um experimento visando comparar, em condições de cultivo em solo de baixa fertilidade natural no Estado do Maranhão, quatro espécies de leguminosas, sendo duas exóticas - leucena (Leucaena leucocephala) e guandu (Cajanus cajan) e duas espécies nativas - ingá (Inga edulis) e sombreiro (Clitoria fairchildiana). Foram analisadas a facilidade de estabelecimento, características do sistema radicular, produção de fitomassa e teores e aporte de N e P por meio dos ramos.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no campus da Universidade Estadual do Maranhão, em São Luís, Maranhão, nordeste do Brasil (2º 31’ Sul e 44º 16’ a Oeste). Na área experimental predominava um Argissolo Vermelho Amarelo, textura arenosa média, de baixa fertilidade (Tabela 1). No ano anterior à instalação do experimento a área recebeu 2 t . ha-1 de calcário dolomítico com PRNT de 65%. Sementes de L. leucocephala, I. edulis, C. fairchildiana e C. cajan foram cultivadas em sulcos de 5 cm e adubadas com 60 kg ha-1 de P. (superfosfato triplo) e 40 kg. ha-1 de K (cloreto de potássio). Utilizou-se espaçamento de 0,5 x 0,5 m em linhas duplas alternadas, espaçadas em distâncias de 4 m. Cada parcela foi composta de três conjuntos de linhas duplas de leguminosas com dimensões de 14 x 14 m. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com cinco tratamentos (controle; aléias de C. fairchildiana; aléias de I. edulis; aléias de L. leucocephala; aléias de C. cajan) e cinco repetições.

No primeiro ano efetuou-se a poda dos ramos de leguminosas a 1,5 m de altura. A partir do segundo ano, cultivou-se arroz entre os conjuntos de linhas duplas das leguminosas. A produção de grãos de arroz não foi afetada pelo cultivo em aléias ficando em torno de 3.000 kg ha-1, tanto para cultura solteira quanto para o cultivo consorciado. Foram realizados quatro podas/ano, rebaixando-se as copas das leguminosas para 0,5 m de altura. Para efeito de cálculo da fitomassa produzida, a primeira e última linha de leguminosas de cada parcela foram eliminadas e os ramos podados descartados.

Toda a massa vegetal produzida foi pesada no campo e duas sub-amostras compostas de aproximadamente 500 g por parcela foram obtidas. O restante da fitomassa foi distribuído nas parcelas, entre as linhas duplas das leguminosas. As subamostras foram secas em estufa para a determinação da massa seca e, em seguida procedeu-se às determinações analíticas de nitrogênio e de fósforo, segundo Tedesco (1982)TEDESCO, M.J. Extração simultânea de N, P, K, Ca e Mg em tecido de planta por digestão H202 - H2SO4. UFRGS, Apostila, 1982. 23p..

Tabela 1
Características químicas do solo da área experimental.
Table 1
Chemical composition of the soil
Tabela 2
Percentagem de sobrevivência e diâmetro do tronco de leguminosas arbóreas avaliados no segundo ano após o plantio.
Table 2
Survive percentage and breath diameter of leguminous tree, at the second year after transplant

No terceiro ano foram feitas avaliações da taxa de sobrevivência das espécies por meio da contagem do número de plantas por parcela (número de covas plantadas e número de sementes germinadas por cova e o número de plantas que emergiram em cada cova), além das características das raízes das leguminosas, conforme descrito por Akinnifesi et al. (1999)AKINNIFESI, F.K.; KANG, B.T.; LADIPO, D.O, Structural root form and fine root distribution of some woody species evaluated for agroforestry systems. Agroforestry Systems, V.42, p. 121-138, 1999.. Na extremidade de cada parcela no segundo bloco, foram abertas trincheiras com 2 x 1 x 1,5 m iniciando-se na direção da 1a linha de leguminosas e estendendo-se até o centro da parcela. Para melhorar a visibilidade das raízes no perfil, as paredes da trincheira foram pulverizadas com água. Utilizou-se o método do mapeamento do perfil descrito por Bohm (1979)BOHM, W. Methods of studying root systems. In: Ecological Studies, ed. Springer -Verlag, Berlin, 1979. 215p.. Na parede do perfil colocou-se um quadro de 1 x 1 m subdividido em quadrantes de 10 x 10 cm. As raízes das árvores foram separadas em função dos diâmetros: <1 mm; 1-2 mm; 2-5 mm; 5-10 mm; 10-20 mm e > 20 mm, com auxílio de um paquímetro, sendo contadas em seguida.

Foram medidos também os diâmetros dos caules das árvores (a 5 cm de altura do solo) com auxílio de um paquímetro, no terceiro ano de cultivo.

Resultados e Discussão

Estabelecimento das leguminosas

O plantio de sementes diretamente no campo permitiu um bom estabelecimento das leguminosas Clitoria, Inga e Cajanus. A maior taxa de sobrevivência foi a da Clitoria (96,4 %) e a menor a da Leucaena (63,4 %) (Tabela 2). A alta mortalidade da Leucaena pode ser atribuída à maior suscetibilidade dessa espécie ao ataque de formigas cortadeiras e herbívoros.

Blair et al. (1990)BLAIR, G.; CATCHPOOLE, D.; HORNE, P. Forage tree legumes: their management and contribution to the nitrogen economy of wet and humid tropical enviroments. Advances in Agronomy, V. 44, p. 155-223, 1990. relatam problemas semelhantes com Leucaena em sistema de cultivo em aléias no estabelecimento dessa leguminosa.

Tabela 3
Distribuição relativa das raízes finas (ø < 2 mm) no perfil do solo e distribuição relativa das raízes por classe de diâmetro das quatro espécies de leguminosas, avaliadas no terceiro ano.
Table 3
Distribution of fine root (ø < 2 mm) in the soil profile and relative distribution of root in class of diameter of four leguminous at the third year.

A Clitoria e a Cajanus apresentaram os maiores diâmetros de caule e maior percentagem de sobrevivência (Tabela 2). A Inga embora seja uma espécie nativa apresentou desenvolvimento bastante lento.

Distribuição vertical das raízes das árvores

Observou-se um maior número de raízes nas parcelas com Leucaena (429 raízes m-2), enquanto que a parcela com Inga apresentou poucas raízes (117 raízes m-2) (Tabela 3). Embora a Leucaena não seja uma espécie de boa adaptação a solos ácidos (Kang et al., 1990KANG, B.T.; REYNOLDS, L.; ATTA-KRAH, A.N. Alley farming. Advances in Agronomy, V. 43, p.315-359, 1990.), a aplicação de calcário, antes da instalação do experimento, pode ter favorecido o crescimento das raízes dessa espécie. Alta densidade de raízes de L. leucocephala tem sido relatada na literatura (Rao et al., 1999RAO, M.R.; MAFONGOYA, P.L.; KWESIGA, F.R.; MAGHEMBE, J.A. Nutrient cycling in agroforestry systems of the semi-arid tropics of Africa. Annals of Arid Zone, V. 38, n. 3, p. 275-307, 1999.).

Na camada de 0 a 30 cm de profundidade a abundância relativa de raízes variou de 9,96 % para a C. fairchildiana a 30,88 % para a Leucaena (Tabela 3). Na média, estes resultados são inferiores àqueles observados por Akinnifesi et al. (1999)AKINNIFESI, F.K.; KANG, B.T.; LADIPO, D.O, Structural root form and fine root distribution of some woody species evaluated for agroforestry systems. Agroforestry Systems, V.42, p. 121-138, 1999., que obtiveram abundância relativa de raízes de 13 espécies de leguminosas arbóreas e arbustivas variando de 26,1 a 76, 7 % na camada de 0 a 30 cm de um Alfisol na Nigéria. Schroth & Zech (1995)SCHROTH, G.; ZECH, W. Root length dynamics in agroforestry with Gliricidia sepium as compared to sole cropping in the semi-deciduous rainforest zone of West Africa. Plant and Soil, V. 170, p.297-306, 1995. verificaram que as raízes de Gliricidia sepium contribuíram com 27 % da fitomassa de raízes nos primeiros 10 cm e 33 % até os 50 cm de profundidade. Considerando-se a profundidade de 0-60 cm do perfil do solo, onde se concentra a maior proporção de raízes das culturas anuais consorciadas em sistema de cultivo em aléias (Akinnifesi, 1999), as densidades de raízes observadas neste experimento foram da seguinte ordem: Leucaena (20,1%), Inga (20,5%), Clitoria (42,3%) e Cajanus (68,4%). Esses valores são próximos àqueles observados por Schroth & Zech (1995)SCHROTH, G.; ZECH, W. Root length dynamics in agroforestry with Gliricidia sepium as compared to sole cropping in the semi-deciduous rainforest zone of West Africa. Plant and Soil, V. 170, p.297-306, 1995. em aléias de Gliricidia sepium durante a estação chuvosa e inferiores aqueles observados por Akinnifesi et al. (1999); esses autores relatam densidades de raízes, de 13 espécies arbóreas e arbustivas, superiores a 40%, na camada de 0-60 cm.

A alta densidade de raízes da espécie Cajanus (68,4 %) na camada de 0-60 cm observadas neste experimento, pode ser atribuída à alta adição de fitomassa através da poda dos ramos, o que deve ter favorecido o aumento da disponibilidade de nutrientes e das condições físicas do solo, propícias ao crescimento do sistema radicular (Lehmann & Zech, 1998LEHMANN, J.; ZECH, W. Fine root turnover of irrigated hedgerow intercropping in Northern kenya. Plant and Soil, V. 198, p. 19-31, 1998.), ou ainda em função desta planta bianual ter atingindo o ápice de crescimento. As baixas densidades de raízes de Inga, Clitoria e Leucaena na camada de 0-60 cm sugerem um menor potencial de competição dessas espécies com a cultura anual consorciada, nos dois primeiros anos do estabelecimento do cultivo em aléias.

Tabela 4
Produção de massa seca dos ramos de quatro leguminosas arbóreas utilizadas em sistema de cultivo em aléias, total de quatro cortes.
Table 4
Dry weight of branchs from four leguminous tree used in the alley cropping system after four cutting
Tabela 5
Teores de N e P dos ramos de quatro leguminosas arbóreas e N e P adicionados através da poda dos ramos das leguminosas utilizadas em sistemas de cultivo em aléias durante quatro anos.
Table 5
N and P concentration in the branchs of leguminous tree and N and P added after cut the branchs in the alley cropping system during four years

Distribuição das raízes das leguminosas de acordo como o diâmetro.

A maior parte das raízes das quatro espécies de leguminosas testadas pode ser classificada como finas (diâmetro inferior a 2 mm). A contribuição dessas raízes foi a seguinte: Clitoria (83,21%), Leucaena (89,45%) Cajanus (70,57%) e Inga (86,04%) (Tabela 3). Esses valores são condizentes com aqueles observados em outros trabalhos. Akinnifesi et al. (1999) e Friday et al., (2001)FRIDAY, J.B.; FOWNES, J.H. A simulation model for hedgerow light interception and growth. Agricultural and Forest Meteorology, V. 108, p. 29-43, 2001 observaram percentagens de raízes finas variando de 43,1% em Tetrapleura tetraptera a 99,9 % em Triplochiton scleroxylon, sendo que a maioria das outras 11 espécies testadas apresentou percentagem de raízes finas superior a 90 %. No presente estudo, a maior proporção de raízes superiores a 2 mm de diâmetro foi observada em Cajanus cajan, o que pode ter ocorrido em função dessa espécie se encontrar no final do ciclo vegetativo.

Produção de Fitomassa e Ciclagem de Nitrogênio e Fósforo

As leguminosas apresentaram grande variabilidade na produção de fitomassa no decorrer de quatro anos. A Cajanus por ser uma leguminosa bianual atingiu o ponto de corte logo no primeiro ano de plantio, e apresentou maior produtividade de matéria seca, sendo essa produção superior àquela relatada por Schroth et al. (1992)SCHROTH, G.; ZECH, W.; HEIMANN, G. Mulch decomposition under agroforestry conditions in a subhumid tropical savanna processes and influence of perennial plants. Plant and Soil, V. 147, p.1-11, 1992.. O declínio de produção no ano terceiro ano é explicado pelo final do ciclo dessa espécie. O baixo desempenho da Cajanus no quarto ano (Tabela 4), pode ser atribuído ao replantio realizado no final do período chuvoso do terceiro ano.

Clitoria e Leucaena apresentaram comportamentos semelhantes, pois tiveram baixa produção de fitomassa no primeiro ano, mas atingiram altas produtividades, principalmente no terceiro e quarto anos, sendo que a Clitoria superou a Leucaena em todos os anos. Isso reflete a melhor adaptação dessa espécie às condições edafo-climáticas experimentais, considerando ser esta uma espécie nativa do Maranhão (Tabela 4).

Tem sido relatada na literatura produção de fitomassa seca e ramos de Leucaena em torno de 6 a 8 t.ha-1.ano-1 (Akinnifesi, 1999; Mafra et al., 1998MAFRA, A. L.; MIKLOS, A.A.; VOCURCA, H.L.; HARKALY, A.H.; MENDOZA, E. Produção de fitomassa e atributos químicos do solo sob cultivo em aléias e sob vegetação nativa de cerrado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, V.22, p.43-48, 1998.). Em relação a Clitoria, praticamente não existem trabalhos disponíveis na literatura sobre a produção de fitomassa em sistema de cultivo em aléias.. Os altos valores obtidos, principalmente no terceiro e quarto anos, nas condições deste experimento, sugerem um grande potencial dessa leguminosa para utilização em sistemas agroflorestais.

O Inga apresentou a menor produção de matéria seca dos ramos entre as leguminosas (Tabela 4). A produção de fitomassa foi muito baixa principalmente nos dois primeiros anos. A partir do terceiro ano a produtividade alcançou aproximadamente 3 t ha-1 ano-1. Alegre & Rao (1996)ALEGRE, J.C.; RAO, M.R. Soil and water conservation by contour hedging in the humid tropics of Peru. Agriculture Ecosystems Environment., V.57, p.17-25, 1996. e Szott et al. (1991) trabalhando com essa espécie em solos ácidos da Amazônia peruana, obtiveram produtividade de matéria seca em torno de 2 a 4 t ha-1 ano-1. Embora a leguminosa Ingá também seja nativa do Maranhão, o crescimento dessa planta foi bastante inferior àquele observado para a Clitoria (Tabela 4). Isto provavelmente ocorreu devido ao Inga ser mais exigente quanto à disponibilidade de água no solo, o que não ocorreu nas condições deste experimento.

Em relação aos teores de N e P os ramos do Inga apresentaram valores significativamente inferiores comparados às demais espécies. As espécies Cajanus, Clitoria e Leucaena praticamente não diferiram quanto aos teores de N e P, sendo que a Cajanus apresentou nos ramos teores de P superiores às demais espécies nos anos 1, 2 e 3 (Tabela 5). Isto pode ser explicado pela maior eficiência de extração de P por essa leguminosa. Segundo Ae et al. (1990AE, N.; ARIHARA, J.; OKADA, K.; YSOHIHARA, T.; JOHNANSEN, C. Phosphorus uptake by pigeon pea and its role in cropping systems of the Indian subcontinent. Science, V. 248, p.477-480, 1990.), as raízes de Cajanus exsudam ácidos que hidrolisam formas não disponíveis de fósforo, ligadas às frações de óxidos de ferro e alumínio. Uma vez que praticamente não ocorreram variações significativas nos teores de N dos ramos das leguminosas testadas (Tabela 5), as grandes diferenças observadas em relação ao N adicionado ao sistema pode ser atribuído à velocidade diferencial de crescimento e produção de fitomassa das plantas. Isto é particularmente visível em Cajanus e Clitoria (Tabela 4). Na primeira, a produção de massa vegetal decai a partir do segundo ano (1997), enquanto que para Clitoria ocorre um aumento contínuo de produção de fitomassa ao longo dos quatro anos.

A quantidade de nutrientes adicionada com a poda dos ramos das leguminosas Cajanus, Clitoria e Leucaena foi maior a partir do terceiro ano (Tabela 5). Essas quantidades adicionadas estão de acordo com as observadas por Alegre & Rao, 1996ALEGRE, J.C.; RAO, M.R. Soil and water conservation by contour hedging in the humid tropics of Peru. Agriculture Ecosystems Environment., V.57, p.17-25, 1996. e Mafra et al., 1998MAFRA, A. L.; MIKLOS, A.A.; VOCURCA, H.L.; HARKALY, A.H.; MENDOZA, E. Produção de fitomassa e atributos químicos do solo sob cultivo em aléias e sob vegetação nativa de cerrado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, V.22, p.43-48, 1998., utilizando leguminosas da mesma espécie. A quantidade de N e P fornecida por essas três leguminosas, potencialmente poderia suprir a necessidade desses nutrientes para culturas de baixa demanda como o arroz de sequeiro (Szott et al., 1991SZOTT, L.T.; PALM, C.A.; SANCHEZ, P.A. Agroforestry in acid soils of humid tropics. Advances in Agronomy, V. 45, p.275-301, 1991.), no entanto também deve se considerada a qualidade do material vegetal, o que implicará na velocidade de liberação desses nutrientes.

Conclusões

A leguminosa Clitoria fairchildiana mostrou-se a mais apropriada ao sistema de cultivo em aléias, por apresentar rápido estabelecimento, baixa competição do sistema radicular com raízes de culturas anuais e altos aportes de fitomassa e nitrogênio. Por outro lado, a Inga edulis seria a menos indicada, por apresentar baixa produção de fitomassa e conferir baixa adição de N e P. Portanto, em solo de baixa fertilidade natural as leguminosas contribuem principalmente com aporte de N ao sistema, com apenas pequena quantidade de P ciclado. Entretanto, os resultados apresentados se referem apenas ao estabelecimento e comportamento inicial de um cultivo em aléias avaliado por quatro anos, e as conclusões são preliminares, sendo necessário um acompanhamento por maior período para recomendações mais precisas.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES pelo suporte financeiro que permitiu o desenvolvimento deste trabalho.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2006

Histórico

  • Recebido
    11 Jul 2005
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